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História 1845 - 1845 não é o ano, e sim, o número de mortes.


Escrita por: 52hertz

Notas do Autor


Sabe qual é a diferença entre o cubo mágico e o Spirit? Nenhuma, porque eu sou teimosa e não desisto de nenhum. q

* Vou avisar desde o princípio, não apoio nenhum tipo de agressão, tanto física quanto verbal então, céus, é claro que eu não acho que matar criancinhas é correto!! *

! Mas eu gosto de escrever sobre, então, estejam avisados. ¡

A história será narrada pela protagonista, B, que talvez faça parte de outros projetos futuramente. Ela já é maior de idade.

Sem mais avisos, boa leitura.

Capítulo 1 - 1845 não é o ano, e sim, o número de mortes.


— Então, B, vai me contar aquela história que você ia falar antes? — Meu namorado acariciou minhas costas desnudas enquanto, sentada ao seu lado, eu descansava a cabeça na palma da minha mão, com o cabelo loiro caindo bagunçado sobre meu rosto.

— Dan, isso... É realmente importante pra você?

Eu me arrepiei. Não pela carícia, mas pelas lembranças dolorosas daquela história.

— É só que você me deixou curioso. Mas se não quiser contar não vou insistir.

Pensei em dizer "certo, prefiro não contar", mas eu precisava encarar os fatos. Precisava superar.

Suspirei e, em seguida, puxei o máximo de ar para dentro dos meus pulmões, para depois soltar de forma brusca.

— Okay. Eu conto.

. . .

1974, numa cidade do interior

Eu tinha em torno de seis anos. Usava sempre marias chiquinhas, gostava de balançar a cabeça para vê-las pular de um lado para o outro. Minha mãe achava adorável e meu pai divertia-se vendo a princesinha abobalhada dele rindo por uma coisa tão simples.

Naquele ano, em específico, iria ocorrer um festival na cidade. Era interior, então, coisas assim eram raras de acontecer. Óbvio que eu corri até minha mãe, com as marias chiquinhas agitadas, puxando a barra de seu vestido azul e pedindo, implorando para ir ao tal festival.

Big Bird's Farm.

"Ora, mas é claro!" Minha mãe disse. Eu era tão comportada, tão ingênua. O que tem demais em me deixar ir à um festival?

Uma semana depois, chegou o dia do evento. Eu estava extremamente animada, tanto que coloquei minha jardineira com florzinhas bordadas – roupa que eu só utilizava em situações especiais - e, como de costume, minha mãe fez minhas marias chiquinhas.

A viagem foi longa, mas tranquila. Estava tão ansiosa que nem vi o tempo passando. Brinquei durante todo o trajeto e, depois que papai estacionou o carro, tivemos que andar mais um bocado até o local certo.

Ao chegar no terreno vasto onde ocorreria o festival, logo encontrei Donnie e Will, e corri para os dois, deixando meus pais socializando com outros adultos. E, caramba, que alegria! Pude explorar tudo rapidamente com meus dois amigos do colégio. Fomos até perto da floresta, que era densa demais e certamente nos deixaria perdidos. Havia um lago próximo (na verdade, uma mistura de lama com plantas, mas nós chamamos de lago) que resolvemos deixar quieto e voltar para onde todos estavam.

O dia estava lindo, a grama estava verdinha e, perto das cercas, haviam duas lonas: uma média e outra bem pequena; ambas parecendo a estrutura de um circo. Provavelmente a área onde lancharíamos ou alguma outra coisa.

Os pais não tardaram a nos deixar nas mãos cuidadosas da equipe confiável do Big Bird's Farm e irem embora. Imediatamente, começaram as atividades.

Os recreadores interagiam com as crianças e faziam brincadeiras cada vez mais divertidas.

Brincamos a manhã e a tarde inteira, até começarmos a ficar cansados. Nesse tempo, conheci Mildred e Lay: irmãs gêmeas que tinham medo de insetos.

Elas foram as primeiras a perceber o quão estranho as coisas estavam começando a ficar.

. . .

Não chegamos a entrar em nenhuma das lonas e já estávamos morrendo de fome. Donnie virou para um dos recreadores e perguntou se não iríamos comer. O homem o ignorou e continuou conversando com outras crianças.

Estavam todos famintos e sem energia, e quando os recreadores perceberam, começaram a trocar olhares entre si. As gêmeas ruivas viram e me cutucaram, apontando com a cabeça para os homens e mulheres uniformizados que começavam a se dispersar, advertindo as crianças para ficarmos aqui e não sairmos.

Eles então entraram em uma das tendas e outros dois se dirigiram à menor delas, que tinha a porta selada.

Eles cortaram as fitas, espiaram pelas frestas da porta de lona e correram para a outra tenda, que estava sendo desmontada com velocidade.

As crianças estavam de pé, conversando e indagando, confusas. Cinco minutos e todos os funcionários estavam num caminhão, prontos para... fugir? Acho que o transporte estava escondido dentro da tenda, mas eu não entendia porquê.

Todos pararam de conversar quando um pássaro saiu da tenda menor. Grande. Amarelo. Claramente uma fantasia mas, eu tremi. O pavor me consumiu em doses cavalares, principalmente quando ele correu até nós.

Parecia estar possuído, ou sei lá. Ele andava se sacudindo e todos se dispersaram num piscar de olhos, correndo e gritando amedrontados.

As crianças eram rápidas, mas Big Bird era mais.

Só que... Era uma brincadeira, não?

Mesmo com medo, desacelerei, querendo descobrir a intenção da pessoa fantasiada de Big Bird.

Ele puxou minha maria chiquinha.

Ele forçou meu tronco para baixo e a minha cabeça para cima.

Eu ia morrer.

Ele me encarava com aqueles olhos sem vida, provavelmente de plástico, mas eu sabia. Sabia que o que queria me matar não estava na fantasia em si. Estava dentro.

Chorei e gritei como nunca.

Donnie e Will voltaram e me puxaram, então pude voltar a correr, mas eles... Todas as outras crianças...

Não quis ficar para ver, mas os gritos me disseram tudo que eu precisava para correr ainda mais rápido. Segui rumo à floresta sem pensar duas vezes.

Me joguei no lago, em meio a lama, afim de me esconder. Ainda conseguia ouvir gritos e choros e, assustadoramente, cabeças sendo arrancadas de troncos pequeninos; pelo menos era isso que eu imaginava, já que o pássaro tinha tentado fazer isso comigo.

A cabeça de Mildred foi jogada próxima à mim. Talvez fosse Lay. Eu não sabia, estava em pânico. Mas a cabeça da minha amiga só serviu para confirmar minha teoria: ele estava matando todas as crianças.

. . .

A noite chegou e eu ainda estava imóvel em meu esconderijo. O intervalo de tempo entre cabeças sendo arrancadas tinha aumentado. Mas ainda podia-se ouvir um ou outro grito.

O frio me fez tremer ainda mais do que meu medo. Acho que um sapo chegou a pular nas minhas costas. Apesar de odiar sapos, não me mexi.

Na minha contagem de criança, devo ter ficado daquele jeito por seis horas. Só sei que, depois de amanhecer, eu ainda esperei.

Mas, e então? O que eu faria? Não sabia voltar para casa, não sabia se tinha algum adulto por perto, céus, não sabia nem de fato se o Big Bird havia ido embora.

Saí de meu esconderijo. A cabeça de Mildred à minha esquerda e uma mata nojenta à minha direita. Eu ainda chorava como um bebê recém-nascido.

Voltei para o local do festival. A lona destruída, corpos longe de suas cabeças. Sangue por toda a grama. Nenhum sinal do grande pássaro amarelo.

Entrei em pânico novamente. Me ajoelhei no chão, em meio à todos aqueles corpos e comecei a soluçar, até uma mão grande pousar sobre meu ombro.

— Ei, ei, venha. Vou tirar você daqui. — Não contestei. Naquela idade, encontrar com um sequestrador ou um pedófilo era o menor dos medos mas, felizmente, o homem em questão era um policial, que estava indo resolver uma questão na cidade vizinha quando viu a grama suja de vermelho e resolveu parar.

Disse para ele que morava em Lakewood Creek, que minha mãe havia me trazido de carro junto com meu pai.

Como o cavalheiro que se mostrou ser, não me fez nenhuma pergunta sobre o incidente sem estarmos na presença dos meus pais. Durante o caminho, tentou me acalmar, me fazer esquecer, perguntando sobre qual era minha cor preferida e se eu gostava de brincar de boneca. Ele me contou que tinha um filho, da minha idade, que era muito inteligente e estudioso.

Só consegui perceber o quão bom isso foi para mim quando cresci. Enfim tomei consciência de que ele queria me poupar das memórias recentes daquele massacre tão desumano.

. . .

— ... Anos depois, descobrimos que esse festival não ocorria em cidades grandes, que era anual e, ao todo, 1845 crianças haviam morrido até conseguirem parar com o show de horrores.

— Nossa, B... Eu... Me desculpa, eu não fazia ideia. — Eu estava com raiva mas, que culpa ele tinha? Só estava curioso.

— Dan, me prometa uma coisa. — À essa altura, eu já estava vestida e em pé, o encarando fixamente.

Me sentia mais fria do que nunca, mais ferida também. Como se, mesmo sem a intenção, meu namorado tivesse esfregado limão na minha ferida mais profunda.

— Claro, prometo.

— Nunca mais me pergunte sobre o festival. Se tiver mais alguma dúvida sobre isso, a hora é agora.

Ele pensou por um bom tempo antes de abrir a boca.

— Acha que os outros poderiam ter sobrevivido como você?

Respirei fundo. Lembrei dos olhos que apareceram nos buracos da fantasia. Determinados. Famintos.

Eles nunca tiveram chance.


Notas Finais


Aqui vão algumas explicações!

I. Já viram o It correr? Então. Big Bird corria igual.

II. Os funcionários ignoraram os pedidos por comida das crianças porque queriam deixá-las o mais exaustas possível, afim de torná-las presas mais fáceis.

III. Nem me pergunta, não faço ideia do que estava por dentro da fantasia de pássaro. Isso vai da sua imaginação.

IV. Esse número tá certo? Nunca fui boa com algarismos romanos, mas enfim, o festival continuou por longos anos. Como acabou? Quem descobriu? Talvez eu faça uma short fic pra isso.

Obrigada por ler!


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