“Sou mestre na arte de falar em silêncio. Toda a minha vida falei calando-me e vivi em mim mesmo tragédias inteiras sem pronunciar uma palavra. ” — Dostoiévski, Fiódor.
Na noite de 07 de Agosto de 1763 por camponeses franceses, em Alto Loire, a Bête du Gévaudan foi avistada pela primeira vez. A fera atacou os 7 homens e apenas um 1 sobreviveu. Um ano depois o reino da França tomou providências, pagando uma quantia significante de dinheiro para para garantir a segurança dos cidadãos de Gévaudan. Mas de nada adiantou... Os caçadores começaram numa busca possessiva pela besta mas não deu resultados, só resultou mais mortes ainda. Crianças não estavam mais seguras nem dentro de suas casas, o povo inteiro vivia com medo e de luto pelas pessoas que foram mortas por esse monstro.
Em novembro de 1764 apareceu um jovem chamado Antonie que disse ter capturado a besta, o governo pagou muito bem ele pela gentileza dele de se por em risco para o bem das pessoas, mas pelos relatos de como era a fera, o que ele capturou não era mais e nada menos do que mais um lobo-cinzento comum, o que causou fúria nas pessoas por serem iludidas.
Em 1765 foi mais um ano de terror, as pessoas começaram a se mudar numa viajem só de ida, não queriam mais viver aquele pesadelo, estavam com medo de criarem seus filhos num lugar assombrado como Gévaudan, porque o futuro das crianças não seriam garantidos.
Apenas em 1766 a fera desapareceu, misteriosamente não houve mais mortes, será que ela havia sido capturada finalmente? A besta foi dada como morta, mas as pessoas continuavam vivendo com medo, as janelas fechadas o dia todo, a lua cheia que todos odiavam! Diziam ser uma maldição a lua, porque reza a lenda que bruxas e lobos veneravam e sentiam prazer insaciável na lua cheia. As pessoas viviam colocando cabras na frente de suas casas como um ritual, uma espécie de troca, "antes a vida desse animal do que a minha", era assim, mesmo a fera não sendo mais avistada.
Em maio de 1767, perto da montanha de Margeride um menino de sete anos foi encontrado morto, com a garganta estraçalhada e alguns órgãos como o fígado para fora, havia cortes de garras pelo corpo inteiro, e então todos sabiam que a besta nunca havia ido embora.
—
— Eles esperam que eu faça o quê? Entenda que eu ajudo as pessoas, não faço milagres. — Eu disse desprovido de paciência, aquele papo de eu ser o melhor caçador só para eu cair na deles e aceitar o emprego já era velho de mais.
— Mas senhor, é uma oportunidade única de servir para o rei de Gévaudan, você tem certeza que deseja recusar essa ofe-
— Sim! Senhor, diga ao seu rei que eu tenho certeza que não quero participar disso. Eu já tenho o meu reino para prestar serviço. — Entreguei a folha do contrato com a assinatura em branco, o homem em minha frente pegou a folha deprimido.
— Senhor, eu peço por favor... Humildemente eu peço que você assine o contrato, o nosso povo já sofreu o bastante na mão desse monstro, todos nós pagamos caro por isso, só queremos viver de novo... — Ele tirou o chapéu e abaixou a cabeça.
— Qual é a quantia que vocês tem para me oferecer caso eu conseguir matar a besta? — Perguntei, eu estou morto de cansaço mas se bem que dinheiro a mais é bem vindo.
— 1,600 Euros senhor, é o que o rei tem para oferecer. E aliás, você terá uma ajudante. — Meu sorriso se desfez.
— Uma ajudante? Isso é um insulto para mim! Mandar uma mulher me ajudar, me poupe. — Falei áspero, mulheres só servem para cuidar dos filhos, não para caçar um monstro.
— Me perdoe senhor, ela mesmo se convidou para isso. Ela é a filha do rei de Gévaudan, vários amigos dela morreram por causa da fera e ela está muito deprimida, ela também perdeu o irmão, ele seria o próximo herdeiro do trono porque se casaria ano que vem. — A voz do homem estava fraca, parecia tão gasto de deprimido, já era de meia idade, deveria estar cansado do trabalho de mensageiro.
— Mas se ela está triste pela morte do irmão deveria estar de luto, não querendo sair por ai para matar uma fera. Ela é esquizofrênica? — Disse, era o óbvio a ser dizer, mulheres são fracas em todos os sentidos, ela vai ser morta de primeira.
— Caso você não aceitar, ela irá sozinha caçar esse monstro senhor, acha certo? Ela pode morrer. — Bufei, ela vai morrer mesmo se eu ir junto, será que ele não sabe? E depois ainda dizem que eu sou machista! — E também ela meio está sendo chamada de bruxa, porque ela jurou ter visto o irmão dela depois da morte dele e ter falado com ele.
— Ela não é uma bruxa, ela está louca! Isso é história para criança dormir. — Li detalhamente a carta de pedido do rei, fico até com dó de ver o pedido dele, estava implorando.
— Senhor, mas ela jurou ter visto o irmão e ter falado com ele depois que ele morreu. E ela falou que, ele estava em forma de...
— Lobo?! Ela viu o irmão morto em forma de lobo, ele reencarnou como lobo? Ela falou com um lobo? Ah, no que eu estou me envolvendo? — Li o relato que havia na carta... Ah, é bem pior do que parecia ser, muito pior...
— Sim meu senhor, o reino está necessitando de sua ajuda, se ela morrer não terá mais herdeiros e a luta da família dela terá sido em vão. — Suspirei me aconchegando na cadeira. Quantas pessoas já morreram sem terem sido lembradas e qual é a diferença, só por ela ser uma princesa ela tem que ter a morte lembrada?
— Tudo bem, tudo bem... Eu aceito, vou assinar. — Molhei a pena no tinteiro e suavemente escrevi meu nome no final da folha, Jean Chastel.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.