História A Escolha de Ana Maria - Piloto

Eu nunca me senti tão humilhada.

Em todos esses anos de programa, eu já fui atropelada pro um carro que deveria dirigir de forma automática e cai de uma cadeira de três pernas. Sempre conseguir sair dessas situações dando a voltar por cima — resultado anos trabalhando ao vivo. Mas não naquela tarde.

Minha maquiagem estava toda borrada, meu nariz e meus olhos vermelhos enquanto eu o secava com um lenço que carregava na minha bolsa. Estava dentro de um taxi indo direção ao aeroporto para voltar ao Rio enquanto lembrava de tudo que havia acontecido nos minutos anteriores.

— Mas meu, vem cá bicho, essa guerreira aqui já fez de tudo e agora mais um livro aqui pra vocês, ó, lançamento, meu. Ela vai dominar o mundo! É ou não é fala a verdade? — Faustão perguntou para a plateia com seu jeito brincalhão.

Eu fui convidada para estar ali para lançar meu novo livro de receitas. Mas estava ficando vermelha como um pimentão com a quantidade de elogios que Faustão jogava pra cima de mim. Não estava acostumada com uma plateia tão grande me olhando, ainda mais quando estava ao lado do amor da minha vida.

— E aí, — Fausto continuou antes que eu tivesse a chance de falar — falta mais alguma coisa pra você fazer ou não?

Eu segurei o microfone com força e coloquei perto da minha boca. A plateia estava em silencio e eu podia ouvir minha respiração pelos alto-falantes. Tomei coragem e falei:

— Falta. — Encarei no fundo de seus olhos. Ele tinha belos olhos amendoados. — Falta você. Eu te amo Faustão. Eu tentei esconder por todos esses anos, mas eu te amo.

Eu olhei para ele, que pareceu ficar pálido imediatamente. A plateia ficou boquiaberta mas não fez barulho algum — assim como Fausto.

Foi quando percebi que tinha algo errado. Ele simplesmente não tinha palavras. Isso nunca acontecia com ele. Tudo parecia acontecer em câmera lenta. Olhei para seu produtor que acenava para que ele continuasse, mas Fausto permanecia em silêncio.

— Errr, — Fausto se virou pra mim, ainda parecia tentar encontrar palavras — desculpa, meu. — Falou longe do microfone, apenas para mim.

Deixei meu microfone cair no chão. Não conseguia mais pensar direito. Cambaleei de volta para a saída do programa. Antes mesmo de sair completamente do estúdio, ouvi ele fazendo piadinhas sobre o que tinha acontecido, como se não tivesse significado nada para ele.

Desci do taxi assim que cheguei no aeroporto cobrindo meu rosto. Naquele momento o Brasil inteiro deveria estar falando de mim e eu não queria se incomodada. Andei rápido até o portão de embarque, mas com minha bolsa em frente ao meu rosto. Por engano, acabei chegando no portão de desembarque.

Fiquei assustada com a quantidade de gente que rodeava a porta de saída. Além de milhares de jovens com faixas e presentes, um mar de paparazzis prestava atenção em qualquer pessoa que passava por ali. Pensei que deveria ser algum timezinho de futebol que estava pra chegar.

Para que ninguém me reconhecesse, tentei deixar o local o mais rápido que pude. Vi que uma gritaria havia começado naquele exato momento. Será que haviam me descoberto?

Tentei andar mais rápido quando uma mão grande e firme me segurou pelos braços. Me virei instantaneamente e me assustei quando percebi que era ele — Harry Styles. Minha boca se entreabriu de espanto enquanto Harry colocava sua mão quente sobre minha nuca. Sem que eu percebesse, ele pressionou seus lábios macios contra os meus, movendo sua língua num ritmo suave e constante pela minha boca. Me senti arrepiada quando ele puxou meu corpo para perto do dele.

Eu ainda não estava entendendo o que tinha acontecido. Os flashes estouravam ao redor, em meio a gritaria. Eu não podia ver nada. O chapéu de Harry caiu de sua cabeça enquanto ele a movia para sentir cada pedaço de minha boca.

Nossa história começara há quase um ano, quando a One Direction veio ao Brasil pela primeira vez. Eu já era directioner desde que a banda havia começado. Ninguém sabia, mas meu quarto era cheio de fotos do Harry. Na reunião do Mais Você, joguei na mesa que seria legal trazer os meninas para tomar um café da manhã comigo antes do show e vibrei quando os produtores apoiaram a ideia. E então eles aceitaram. Harry ficou de charminho comigo durante o programa todo — era possível sentir a tensão até para quem estava em casa.

Sim, ele era mais novo que eu. Mas ele não ligava. Eu não ligava. E nós dois éramos as únicas pessoas que deveríamos nos importar com isso.

O problema era que ele vivia viajando. Já eu, precisava ficar no Rio de segunda a sexta para poder fazer o meu programa ao vivo. No começo eu viajava para onde quer que ele estivesse nos finais de semana. Em todas as suas folgas eles vinha me visitar — já chegou a passar quase uma semana em minha casa sem ser descoberto pelos paparazzis.

Mas nos últimos tempos estava difícil de nos vermos. Eu já estava cansada de viajar todo fim de semana e não poderia cobrar nada do meu Harry, que estava em turnê. Ficamos nos conversando apenas por webcam, até o contato se tornar apenas via mensagens. Mesmo que tivesse apaixonada, parecia que ele não estava mais interessado. Então minha paixão por Fausto começou a reacender de uma maneira que nunca imaginei que fosse acontecer.

Eu lembro de ter dito na mensagem que mandei a Harry no dia anterior que se ele realmente me amasse iria largar a banda e vir para o Brasil para se casar comigo. Fiquei assustada quando li a notícia que a banda daria uma pausa, durante o voo para São Paulo naquela manhã mesmo. Será que é por minha causa?, pensei. Não consegui contato com ele em momento algum para saber o que tinha acontecido.

Agora sei porque ele ainda não havia respondido — estava num avião, vindo da Inglaterra para cumprir a promessa de se casar comigo, depois de ter largado seu maior sonho, sua carreira, só por mim.

— Harry, — precisei afastar meus lábios dos dele, ainda sedentos, — eu preciso te contar uma coisa que acabou de acontecer.

Os flashes não paravam. Precisávamos primeiro ir para um lugar mais calmo. Antes que eu pudesse tomar qualquer atitude, vi um vulto partindo para cima de Harry e o derrubando no chão. Seus músculos amorteceram a queda.

Era Faustão. 

Ele tinha abandonado o programa antes mesmo de terminar para vir atrás de mim.

— Eu também te amo, Ana. — Faustão disse. — Eu não sabia o que dizer porque também sempre te amei, bicho. Eu não sou bom com essas coisas, meu. — Suas bochechas estavam rosadas. As mesmas bochechas que tinham feito com que eu me apaixonasse agora estavam rosadas por causa de mim! Eu não podia acreditar!

— Mais Faus...

Foi a vez a de Harry revidar, socando a barriga de Faustão que se contraiu de dor. Eu pude ver as veias saltadas nos braços tatuados de Harry. Ele havia ouvido o que Fausto disse para mim e estava morrendo de ciúmes.

— Vamos sair daqui meu amor. Vamos para a sua casa. — Harry disse com seu sotaque fofo, passando o dedo indicador pelas minhas têmporas. — Eu vou te fazer a mulher mais feliz do mundo.

Então ele colocou minha cabeça sobre seu peito. Minha bochecha tocou sua pele pela fresta aberta de sua camisa branca e eu pude sentir o calor de seu peito macio. De repente eu me sentia tão segura. Me sentia tão realizada. Poderia viver naquele momento para sempre.

Indo contra a tentação, me desvencilhei dele e fui ver se estava tudo bem com Faustão. Coloquei a mão sobre sua barriga e a acariciei, para que a dor passasse. Harry era uma garoto lindo e que me despertava uma paixão descontrolada — mas por mais atraída que me sentisse por ele, meu coração também pertencia a Fausto.

— Você está bem?

— Estou sim, só fiquei um pouco embaçado. Ô looouco.

Harry olhou para mim com o cenho franzido. Ele não estava entendendo nada. Nunca havia falado nada em nossas conversas sobre minha paixão por Faustão.

— Escuta Harry. Você precisa ir embora. Eu não posso fazer isso com você, — disse. Meus olhos começaram a se encher de lágrimas, borrando a linha preta do meu delineador. — Hoje revelei na frente do Brasil todo que era apaixonada pelo Faustão. Eu não posso deixar você passar por tudo isso.

— Mas eu larguei tudo por você, — Harry disse. Sua boca formou um bico enquanto ele tentava controlar o choro. Mas foi em vão, uma lágrima vigorosa escorreu pelo rosto e desceu até o queixo. Aquilo me cortou o coração.

— Eu sei! Eu sei! — Coloquei as duas mãos sobre a cabeça. Os flashes estavam começando a me deixar zonza, eu precisava sair dali o quanto antes. — Fausto, você partiu o meu coração hoje mas eu não consigo te odiar. Harry, você não soube cultivar o nosso amor e ele foi se apagando. Você ter largado tudo para vir aqui e esse beijo que me fez estremecer reacendeu essa chama. Mas eu não posso escolher entre vocês dois. Não agora. Vão pra casa, por favor.

Em batidas rápidas, meu salto ecoou pelo chão do aeroporto enquanto me afastava dos dois e de toda aquela confusão. Mesmo morrendo de vontade, decidi não olhar para trás. Só queria que ninguém mais se machucasse.

Não fui para o portão de embarque. Peguei outro taxi e fui em direção a um hotel. Durante o caminho liguei para Louro José. Ele teria que comandar o programa no dia seguinte no meu lugar. Precisava ficar longe de tudo e de todos e então decidi ficar num hotel por alguns dias.

O que eu não sabia era que Harry se hospedaria no quarto logo ao lado do meu. 

E pior — ele estava acompanhado.