Eles acham que já se passou. Não, eles crêem que já passou. O tempo em que a carnificina tinha forma e aparência única: físico diabólico com grandes asas, semblante em constante fúria e agressão, além de claro, a icônica e tenebrosa espada vermelho-sangue.
Mas, silenciado de tudo e colocado na pior das prisões, tanto física quanto psicológica: sua própria arma.
Arrastado pela luz de mil sois, não teve escapatória.
Mas não era o fim! Sua existência profanada e cruel teria seus direitos novamente, nem que tivesse de destruir tudo em seu caminho; e esse era o seu almejo.
E agora... Agora? Como nas últimas vezes, alguém tolo e desesperado o suficiente segurou o cabo da lâmina e não teve tempo de reagir quando arrastado para a maldita prisão de escuridão que era a lâmina de sangue.
Em pé novamente mas... Tão deformado... Tão insignificante e nojento. Sempre tinha essa sensação quando quebrava suas correntes; ódio. Ódio por não poder mostrar ao mundo sua gloriosa luz que acabaria facilmente com qualquer oposição. Ah, ele era tão puro, tão soberano... Qualquer anjo teria inveja tamanha sua pureza soberana.
Olhando para seu corpo, só conseguia ver um demônio, uma veste de carne que mesmo em sua melhor forma não era digna de sua grandeza. "Darkin" era como eles nomearam o antes Deus-Guerreiro Ascendente. Ou como Aatrox gostava: Solnato, um filho do sol, que agora fora abandonado por seu pai.
- A vingança apocalíptica acontecerá!
Ele gritou para que todos os mortais presenciassem seu massacre. Todos eles com as mesmas fardas e armaduras. Tão insignificantes que chegava a ser engraçado... Ou repugnante. Para os demais, aquilo era Noxus, mas para a Lâmina Darkin eram apenas corpos rebeldes que de acordo com sua vontade, seriam empilhados.
Mais uma vida ceifada quando a espada desceu e atravessou o peito junto da armadura, como se nem existissem. E Aatrox se alimentou da existência saborosa daquele mortal que não teria outra serventia para si.
E ele continuou seu massacre em irá e diversão, como uma criança em um playground ele ria da cara de seus inimigos ao dilacerar toda uma floresta caçando suas presas, dirigindo-se para o topo do poder.
Cada morte, cada energia vital que constituía alguém era sugado de si pela lâmina de maneira fúnebre. Aatrox os abençoava, dando lhes um holocausto em homenagem a si mesmo.
E quando o fedor da morte, acompanhado da poeira chegou a maior parte do exército noxiano, eles perceberam que existia algo ali. Algo mais antigo e diabólico que seu ato de guerra nesse instante. E ele estava crescendo.
Uma vez fora do labirinto que eram aquelas árvores, ele se revelou majestoso, mais poderoso do que normalmente conseguia chegar. Seu tamanho superava facilmente o das árvores e seu poder emanava soberbo, fazendo cada soldado bravo rezar por piedade. E ele riu ao olhar tantos homens em posição de defesa. Uma risada alta e em clara zombaria.
- Venham cortejar a morte, me enfrentem corajosos guerreiros. Eu sou Aatrox! o aniquilador de mundos.
E ele viu duas figuras atravessarem os soldados, eram seus comandantes e um deles lhe chamou atenção, não o que montava um lagarto, o de armadura pesada e semblante marcado pela guerra. Ele sorriu ao ver um receptáculo que lhe prometia muito poder e essência.
E os dois avançaram com seu exército logo atrás, mostrando seus gritos de guerra em um urro que acordaria uma nação inteira. Mas para o Deus-Guerreiro corrompido, não passava da sinfonia do desespero; crianças chorando em sincronia após perderem seus pais.
A Espada Darkin ceifou a vida dos mais fracos de maneira rápida; o mínimo corte levava boa parte de sua essência vital e alimentava Aatrox, o mínimo corte o alimentava e o engrandecia. Violência tornou-se seu entreterimento naquele fim de tarde macabro e cheio de cadáveres ao chão. Os soldados de capacete viam sua espada e sabiam do fim próximo.
- Rezem criaturas imundas! Vocês estão em frente a um Darkin! Venham! Lutem! Morram!
Ele balbuciava em meio a seu banquete de corpos e sangue, seu deleite, mais saboroso do que qualquer prazer mortal.
E ele matou um por um até sobrar apenas dois, o esquilo encima do lagarto e o comandante com machado.
- Você demonstra nobreza e coragem, Darius. Agora aprenderá o que é desespero.
Ele sorriu em frente a Mão de Noxus, brandindo sua espada contra o homem. Inutilmente, projéteis tentaram o perfurar, esforços vis de uma criatura patética. Aatrox cerrou seus olhos em chamas na direção do maldito barulhento.
- Você é uma piada ou o quê, sua criatura barulhenta? Vou matar você e sua montaria!
Ambos reagiram mal e um embate começou. A Lâmina Darkin batia no chão e gerava grandes tremores que por pouco não elevavam a criatura e seu animal para os céus.
Novamente ela tentou usar aquela arma de cano para o atingir a distância; Aatrox riu baixo. Ele estava de zombaria? Em irá, bateu no chão com força, criando Correntes Infernais que arrastaram o bicho. Em um Avanço Umbral, a montaria foi perfurada e cortada ao meio.
Seu corpo colidiu com o chão e derrubou o esquilo. Aatrox era infinitamente maior que ele; mesmo assim viu-se contente ao ver que ainda existiam guerreiros que mesmo em frente a morte iminente, avançavam usando suas armas. Nesse caso era apenas uma piada, um rato levando sua alabarda em direção ao abraço da morte.
Sem drama, a espada esmagou a criatura barulhenta e o sangue foi jorrado para todos os lados. O sorriso de Aatrox foi notório, aquele era melhor que os outros, mesmo que não passasse de um rato gritante.
Ao se virar, não teve tempo de desviar de sua sentença. O machado desceu perfeitamente em seu crânio quando Darius realizou a Guilhotina de Noxus. Fazendo o impossível, a Mão de Noxus abriu uma fenda na cabeça do Darkin e o fez cair por terra.
E ele lamentou a morte de cada companheiro seu; todos eles morreram bravamente, sem recuar ou exitar em momento algum. O pior, era ser o sobrevivente. Kled sequer poderia ter um enterro digno, visto que não sobrou nada de si para por em um túmulo. As memórias dessa batalha iriam o atormentar para todo o sempre.
Ou não.
As asas abriram-se novamente, eclodindo das sombras como as brasas de um vulcão no ápice do calor do magma, Darius sentiu a presença atrás de si em uma feição de horror.
Em Pose do Arauto da Morte, o Aniquilador de Mundos espalhava seu terror para toda a existência. Agora, voando, suas asas remetiam o som dos abismos infernais em uma sinfonia quase silenciada pelo vento forte.
Girando, a Lâmina Darkin colidiu uma última vez com o solo, ou melhor, com Darius, vindo diretamente de cima. O impacto varreu o cenário com uma explosão em formato esférico.
E nada além de Aatrox e um corpo dividido ao meio sobrou. E ele riu, sabendo que esse era um dos melhores massacres que já teria feito.
O silêncio que ele tanto prezava estava finalmente instalado no ar. O único movimento era o pulsar da magia emanada da Espada Viva que ele segurava.
Aatrox virou sua cabeça para cima, observando o céu a qual estava acima de si. Negro e escuro; triste. No fim do massacre, ele viu-se desolado. Novamente sem foco ou razão, apenas... Existindo e lembrando-se da sua maldita prisão que era essa vida; algo rispidamente maior que a escuridão de sua espada.
Já não tinha mais carnes mortais para alvejar, sem sangue para servir como manto e sem desespero para servir como abrigo de seu sofrimento. Afinal de contas, ele tinha salvação? Quem salvaria Aatrox de si mesmo?
Sua imortalidade, a fonte da escuridão presente em si, mais escura do que qualquer sombra existente. Desesperado, quais seriam suas ações em meio a loucura?
Enquanto a vida existir.... Enquanto o tempo tiver sentido, ele não terá um fim. Por isso, estava crente que gerando o oblívio de todo tipo de existência, chegaria ao seu próprio oblívio; e não interessa o que viesse pela frente, ele iria aniquilar.
De um Ascendente detentor da luz e da razão, para um Demônio que trilhava um caminho transpassado em matança... Mortes, apenas isso, infelizmente não a sua.
Esse corpo que já estava se desgastando, nada mais era do que um inferno doloroso e que ardia como uma ferida gélida.
Aatrox, o Aniquilador de Mundos percorreria o mundo de maneira incansável e desesperada. Somando todo esse desespero com a frustração, não existia outro caminho além da destruição.
E essa era sua verdadeira queda.
Nada maligno no mundo se comparava com um Darkin, nada cruel nesse mundo se comparava a Aatrox.
Ele não queria destruir Runeterra, trazer seu tão sonhado apocalipse, era apenas sua medida desesperada para chegar no seu maior desejo: O seu próprio fim.
E ele viu-se mais próximo desse desejo quando escutou os reforços do exército massacrado se aproximando... Carnificina era sua única diversão, e ele a aproveitaria bem antes de não existir mais nada nesse mundo; inclusive ele mesmo.
- Eu vou extinguir a luz e criar a escuridão eterna!
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