1. Spirit Fanfics >
  2. A Família Madrigal >
  3. Depois da partida: dos oruguitas.

História A Família Madrigal - Depois da partida: dos oruguitas.


Escrita por: janine15

Notas do Autor


Eu sinto que nunca vou conseguir estar à altura das emoções que estes personagens estão sentindo. Estão todos tão cansados e machucados... Vcs já deram uma olhada neste site?:

https://doutorjairo.uol.com.br/leia/o-que-encanto-da-disney-nos-ensina-sobre-saude-mental/#:~:text=Pessoas%20diagnosticadas%20com%20transtorno%20do,vamos%20falar%2C%20para%20evitar%20spoiler.

Entre outras pesquisas que eu fiz, eu acho que ele resume bem o que o filme quis passar.


Um breve aviso: estou, aos poucos, editando os capítulos de TODAS as minhas fics, inclusive esta. Ok? Se quiserem reler e adivinhar o que está mudado, fiquem à vontade.


Aproveitem o capítulo, espero que gostem!

Capítulo 10 - Depois da partida: dos oruguitas.


Duas lagartixas, apaixonadas

Passam suas noites e madrugadas cheias de fome

Continuam caminhando e navegando em um mundo que muda e continua mudando

...

São inseparáveis e o tempo continua mudando

...

Ai, lagartixas, não esperem mais

Vocês precisam se distanciar para crescer

Continuarão seguindo em frente

Vem milagres, vem crisálidas

É preciso partir e construir seu próprio futuro.

 

(...)

 

Alguém tem luz que oriente um caminho novo?

...

O meu coração não vou deixar virar cimento

Quero me orgulhar de tudo que eu deixei pro tempo

Quero só gostar do tempo que eu passo comigo

Pra ficar comigo.

 

(...)

 

Acontece que Mirabel estava assustada. Não sabia o porquê, nem como, mas ela estava passando por coisas estranhas que iam além do que ela já sabia, aparentemente. Ela ainda não sabia o que isto significava, mas sabia que visões que lhe provaram não serem simples alucinações não era algo normal, mesmo para um Madrigal. Ia além das visões também. Eram os sentimentos que acompanhavam isso. Como se fossem reflexos do que realmente eram, mas ainda a abalavam e Mirabel só podia adivinhar como sua Abuela tinha se sentido.

Ela viu, no entanto.

Enquanto Abuela lhe contava a história, Mirabel via os detalhes, como se ela também estivesse lá.

Estando no mesmo lugar onde tudo aconteceu, não sabia que tinha corrido tanto. Ela realmente foi longe, não é? (Ela tentou não sentir a forte culpa por abandonar sua família quando eles mais precisavam, sendo apenas coberto pela certeza de que não faria diferença sua presença lá, na melhor das hipóteses. Na pior, ela apenas teria por escrito o quão sua presença era indesejável, já que ela tinha sido a responsével por sua ruína, afinal.)

Era quase como se ela carregasse seu coração na mão e, inevitavelmente, ela sugasse para si tudo o que não era dela, mas estava perto o suficiente para ela sentir e adotar. Apenas sentir o gosto. Experimentar algo que ia além da dor, do luto. Era como um coração se sentia após ser quebrado em pedaços diversos pequenos demais para tentar juntar novamente depois? Ela podia acreditar que sim. Doeu. A fez chorar. Apertou sua garganta que a impediu de respirar. E não era dela. Não era nem a metade do que Abuela sentiu quando era apenas uma mãe com trigêmeos recém-nascidos.

 

"Foi aqui neste rio que recebemos nosso milagre..."

 

'Onde o Abuelo Pedro... ' Mirabel não conseguiu terminar este pensamento, pois a resposta já estava chegando em ricos detalhes.

 

Alma Madrigal se agarrou ao pensamento de que suas vidas seriam diferentes. De que ela mesma seria uma mulher diferente.

'Isabella... ela se parecia com Isabella.' Percebeu Mirabel enquanto a via caminhar pelas ruas de uma cidade à noite. Era ligeiramente parecido com Encanto, mas parecia mais... bem, menos mágico.

Ela viu Alma receber uma vela acesa de alguém. Ela sorriu com gentileza. Ela era gentil, ela era boa. Ela se sentia viva na época. O que ela quis ver, Mirabel não sabia ao certo, concentrada na mulher que subiu em um poste para ver melhor. Uma multidão pacífica que transmitia calor morno e paz. Assim como a própria Alma. Assim como o homem que ela viu tendo a mesma idéia que ela quando o avistou segurando uma vela ao mesmo tempo em que se segurava em outro poste não muito longe, do outro lado da rua.

Ele a viu também.

Ele sorriu para ela. Tímido, mas interessado. Ele acenou para ela e os dois riram quando ela se desequilibrou, quase caindo. Mirabel sorriu com a preocupação que ele mostrou pela jovem que tinha acabado de ver. Seu coração se aquecendo quando eles saíram para comer perto da fonte, após ele aceitar seu convite. Eles conversavam sobre tudo e sobre nada, e era tão precioso que os dois já carregavam em seus corações a certeza de que não poderiam continuar suas vidas sem aquela pessoa ao seu lado.

Lágrimas vieram aos seus olhos com a pureza de seu sentimentos um pelo outro. Como eles se sentiam completos quando sentiam a presença um do outro. Os dias e as noites em que os dois, apaixonados, confessavam segredos e presentes valiosos que nenhum dinheiro poderia comprar. Eles simplesmente conheceram e confiaram um no outro. Foi puro e sincero. Um tesouro de uma vida. De modo que, pela primeira vez em suas vidas, se sentiram completos e prometeram a si mesmos que, por mais que o mundo mudasse drasticamente, estaria tudo bem, pois eles tinham um ao outro.

Eles sempre teriam um ao outro.

Certo?

O casamento veio, assim como a pura felicidade que era ser capaz, mesmo com todas as dificuldades, de viver juntos, de expor ao mundo que eles haviam se encontrado e se amado com tudo de si. Que eles haviam tido a chance de construir uma família com a pessoa que eles nasceram para conhecer e amar.

Almas gêmeas.

Mirabel não sabia que eles eram reais até presencear acontecer diante de seus olhos.

Apenas uma pequena chama quando se conheceram. Uma esperança em um quarto frio e escuro. Evoluindo para uma fogueira viva que aquecia todo o quarto ao mesmo tempo em que iluminava todo passo que davam, à medida que se conheciam e se entregavam, foi inevitável. 

Mirabel pensou em sua família. Foi assim com seus pais e sua tia Pépa e seu tio Félix? Ela supôs que sim, podia ver algumas referências que indicavam. Cansada de ouvir a história de seus pais quando criança, ela sempre foi romântica e tinha esperança de que conheceria seu alguém também no futuro. Lembra-se de dormir abraçada com Camillo quando seu tio Félix, com todo o seu orgulho de ser um tolo apaixonado por sua esposa,  lhes contava a história de como ele se apaixonou perdidamente pela jovem sensível e explosiva que ela era, pelos olhos grandes que davam pesadelos às crianças e lhe fazia rir até seu estômago doer, pelos cachos ruivos que ela tinha vergonha, pois não se parecia com sua mãe, nem lembrava ao seu pai como os leves cachos de sua irmã calma fazia. Mirabel abraçou Camillo quando ele a segurou perto o suficiente para que eles nem precisassem dos lençóis para se aquecer. Ela sempre amou que, por mais brincalhão que ele fosse, Camillo havia puxado este lado de seu pai, sendo tão carinhoso, atencioso e um caso perdido quando se tratava de romances.

Foi mais uma perda que ela sentiu quando eles se afastaram com o passar dos anos.

Ela presenciou o início da vida de casados de Alma e Pedro. Não foi fácil, assim como qualquer vida de recém-casados era. Eles tinham uma casa humilde, mais que o suficiente. Ele trabalhava para sustentar a casa e Alma costurava para ajudar nas despesas. Cozinhava e limpava, e Pedro, mesmo exausto pelo dia cansativo de trabalhar fora, insistia que ela descanssasse, se oferecendo para lavar suas roupas sujas mesmo que nem fizesse idéia de onde começar. Ela o ensinou.

Era uma parceria. Ambos lado a lado, não apenas o romance, mas o respeito, a amizade, a consideração. Mesmo nas raras brigas, havia respeito e carinho. Era o amor verdadeiro.

Então veio o dia mais feliz de suas vidas.

O dia em que ela lhe fez uma surpresa e ele quase desmaiou de felicidade ao descobrir que seria pai. Quando ele a carregou e a girou pelo quarto enquanto ambos riam apenas para ele se assustar com um pensamento e temer machucar sua esposa e seu futuro bebê.

Como ele odiou ter que passar o dia inteiro fora de casa em seu trabalho e não poder cuidar de sua esposa como ela merecia. Fazendo questão de comprar pães, bolos e comidas prontas para que ela não precisasse cozinhar tanto.

"Estou grávida, não inválida." Foi apenas o começo de suas reclamações de meses de oscilações de humor. Alma podia ir de extremamente feliz  que não machucaria uma mosca a uma assassina a sangue frio em questão de segundos, e Pedro sabia que não deveria estar rindo tanto quando sua esposa chorava por ter, sem querer, matado uma formiga que estava debaixo de seu prato e ela não tinha visto.

Bom, pelo menos ela não sentia desejos estranhos por alimentos não comestíveis, nem o obrigava a levantar de sua cama no meio da noite para buscar alguma coisa para ela. Ele ainda tinha que trabalhar, afinal.

Pedro não conseguiu não se preocupar, porém, quando sua barriga começou a crescer mais rápido e maior que o normal, deixando Alma exausta a maior parte do tempo. Pés inchados que ele massageava quando ela encontrava uma posição confortável para descansar. Seu peito inchou de amor pela mulher que não fazia idéia o quanto ela o fazia feliz em apenas sentar em uma cadeira de balanço e ler um livro de poemas para ele.

Mas Mirabel soube e até ela sentiu algo rachar ao já saber como sua história terminaria.

Foram trigêmeos. Duas meninas e um menino. Horas intermináveis em que a parteira orientava sua esposa que gritava de dores alucinantes. Pedro ao seu lado, o homem nunca tinha se sentido tão inútil. Horas se passando, o dia amanhecia e sons de choro infantil se misturavam com os gritos angustiados de sua esposa. Então, ele viu as ajudantes da parteira levarem os bebês, alegando que tinham que banhá-los e aquecê-los, então os traria de volta. Pedro queriam vê-los, carregá-los em seus braços, por mais medo que tivesse de machucá-los, mas ainda havia mais a caminho.

E assim três nasceram. Depois de mais de um dia de dor e medo. Então, finalmente, Alma pôde descansar. Pedro emocionado, limpou sua esposa com a mesma delicadeza e cuidado que as parteiras limparam seus bebês. A mulher tinha desmaiado, mas ele tentou se manter calmo com a garantia que recebeu de que era normal. Ele também, supôs que sim, considerando que ele mesmo poderia desmaiar a qualquer segundo e não tinha nenhum esforço a não ser se manter acordado por sua esposa e filhos.

Ele chorou. Seus bebês em seus braços. As mulheres que tinham os banhado lhe disseram em qual ordem haviam nascido, mas toda a sua concentração estava nas três preciosidades em seus braços. Tão pequenos e frágeis, Pedro sabia que sua vida estava completa com apenas Alma ao seu lado, mas percebeu que poderia ser muito melhor com estes três seres em seus braços.

Não se importou por estar chorando mais que os bebês no momento, apenas se preocupando em não fazer barulho para não acordá-los de seu precioso sono, assim como sua esposa que dormia pacificamente na cama tão limpa quanto possível. Ele riu em meio às lágrimas. Apesar de gêmeos, ele pôde ver óbvios traços que os diferenciavam. O menino, aquele que ele havia concordado com sua esposa que se chamaria Bruno, tinha uma pele morena e a mulher que o entregou lhe dissera que seus olhos eram verdes. Então foi esta cor que seu pai o cobriu quando o colocou no berço. Então as duas meninas. Pedro sabia que uma se chamaria Julieta. Teria que conversar com Alma mais tarde para escolher outro nome para sua outra garotinha.

Ele viu que uma era quase igual a Bruno, pele morena e cabelos escuros. Ele a cobriu com um tom claro de azul que o lembrava ao rio. Um pensamento o ocorreu e ele sabia que aquela cor combinaria perfeitamente com ela do mesmo jeito que o verde abraçou Bruno. Então, veio a terceira. Diferente de seus irmãos. Tão linda e preciosa quanto eles. Ela tinha pele clara e tufos ruivos que saíam de sua delicada cabecinha que cabia em sua mão facilmente. Ela combinou com amarelo. Pedro os amou. Os conhecia a poucos minutos, mas já sabia do fundo do coração que não havia nada que não faria por eles. Sua família. Ele faria qualquer coisa por sua felicidade. Por eles. Sacrificar sua própria vida, se fosse preciso.

 

E foi preciso.

 

Colonizadores. A vila já tinha ouvido falar sobre eles. Invadindo outras longe cidades e tirando tudo o que eles tinha, material ou não. Sem escolhas, sem empatia, sem piedade. Eles tiveram que fugir.

Seus bebês tinham pouco mais de uma semana de vida. Alma os amamentava quando eles perceberam o inevitável. Alma segurou seus filhos com sua vida e Pedro segurou suas quatro pessoas mais importantes do mundo, sua razão de viver, em seus braços.

E então eles partiram com vizinhos em busca de um lugar para viver.

Alma estava cansada de segurar três bebês em seus braços e caminhar por horas ininterruptas do mesmo modo em que Pedro estava cansado de carregar o que eles puderam levar, caminhando ao seu lado, e se encontrando na responsabilidade de guiar a multidão pela trilha que apenas ele via pela floresta.

Alma sempre lhe questionou como haviam coisas que ele fazia e sabia que não eram simples e não pareciam haver explicações. Ele também não sabia como, mas nunca se sentiu tão grato por isso enquanto guiava a sua família que ele sabia que estariam salvos. Mesmo nunca tendo visto aquele caminho antes. Não era fé cega também. Ele sabia e não tinha palavras para explicar como sabia. Não importava, pois Alma o seguiu sem hesitar.

Até que ele percebeu, tarde demais, que não haviam sido rápidos o suficientes.

Os que estavam no final foram os primeiros a gritar. Então Pedro instruiu que corressem. Alma tropeçava de cansaço, segurando seus filhos que, por algum milagre, continuavam silenciosos e pacíficos em seus braços. Não demoraria muito para eles começarem a acordar e chorar, ela sabia. Não demoraria muito para os homens em seus cavalos treinados os encontrarem também. Ele sabia.

Ambos sabiam.

Era tarde demais.

Crianças se perderam de seus pais no desespero de pessoas correndo por suas vidas. Idosos que não conseguiam alcançar a velocidade que precisavam. Famílias se abraçando com força, pois os cavalos eram mais rápidos que suas pernas cansadas, limitadas e não treinadas.

Pedro tomou uma decisão.

Beijou sua esposa com todo o amor que ele sentia por ela, não era o suficiente. Sentiu seus lábios finos entre os seus. Familiares e desesperados, assustados e confusos. Não era o suficiente. 'Eu te amo' não era o suficiente. 'Me perdoe, mas não poderei ir com vocês.' não era o suficiente. 'Vivam por mim, sejam felizes por mim.' não seria o suficiente. 'Mi amor, até a eternidade.' 

E assim seria.

Até a eternidade. Por mais longa ou curta que ela fosse.

Doeu quando ele teve que separar seus lábios. Doeu quando ele olhou naqueles olhos que lhe traziam luz. Doeu quando ele deslizou suas mãos por suas bochechas, descendo por seu pescoço, seus braços, mãos, até alcançar seus três tesouros. Aqueles que ele não teria a chance de ver crescer. Aqueles que ele podia apenas orar que trouxessem tanta alegria à sua mãe quanto trouxe para ele enquanto tiveram tempo juntos, do mesmo jeito que também encontrassem a felicidade eles mesmos. Que crescessem, vivessem, amassem e sentissem o prazer que era ser amados em troca.

Beijou Julieta, sua filha mais velha, vestia azul. Beijou Pepa, sua segunda criança a nascer, a que vestia amarelo. Beijou Bruno, o caçula, seu menino, o que vestia verde.

Sabia que sentiria sua coragem vacilar no momento em que olhasse nos olhos de Alma mais uma vez, mas seu coração implorou. Ele precisava. Ele tinha que ter aquela imagem em sua mente em seus últimos momentos.

E foi o que ele viu.

Quando tiros ressoaram em seus ouvidos. Quando balas quentes e imperdoáveis ricochetearam em sua pele, perfurando a carne que se escondia através. Quando ele ouviu o grito e choro de seu amor, ia além da dor, da perda. Foi o fim. Foi a borboleta que renasceu em sua centelha. Foi a magia que veio dele.

Mirabel viu.

Pedro não sabia. Ele morreu sem saber. Quem e o quê ele era. Ele sentia sem saber e pôs sua fé nisso. Ele se foi e levou o mal com ele. Ou, pelo menos, o mal que ele conhecia.

Pedro se foi.

Abuelo...

 

A aliança ainda estava em seu dedo.

Quando muros de montanhas cresceram em volta dos sobreviventes. Quando a floresta os acolheu, os escondeu, quando uma mansão nasceu da terra e das árvores, moldando-se para Alma e seus filhos, com uma cama e três berços que eram idênticos ao que eles haviam encomendado.

As pessoas se acomodaram na mansão, mas ficou óbvio que eles teriam que construir suas próprias casas para morar quando a magia sinalizou. Quando a casa envolveu Alma e os trigêmeos, mas não tiveram a mesma delicadeza com os outros, por mais receptiva e generosa que a casa fosse.

Seus bebês estavam em seus braços.

Julieta, Pepa e Bruno.

A vela que iluminou e esquentou o quarto brilhava em magia. Desenhos de borboleta. Renascimento.

Renascimento.

Foi então que Alma vestiu o preto, entrou em luto. Foi então que ela levantou a cabeça, sua armadura a cobrindo com o frio do inverno que ela sentiria a partir de agora.

Ela seguiu em frente ao mesmo tempo que sempre olhou para trás.

Então, veio outro sinal do milagre do sacrifício, e seus filhos herdaram dons que ninguém sabia de onde tinham vindo. Apenas Pedro, no segundo em que morreu. E Mirabel, que viu, sentiu, em detalhes, enquanto Abuela lhe contava a história que mal descia por sua garganta.

 

Doeu contar. Pela primeira vez, Mirabel viu sua Abuela chorar. Abertamente. A mulher idosa não tinha forças para parar, sequer enxugar os caminhos que suas lágrimas faziam. Mirabel não pôde deixar de comparar o que ela via na sua frente e o que ela tinha visto em sua visão. Tão parecidas e tão diferentes, era uma vida de distância, mas ainda doía tanto...

"Por muito tempo eu falhei em ser a Matriarca, a ponte que conecta a todos nós, já estava na hora de alguém chegar e me substituir." Sua voz estava quebrada. Combinava com sua aparência naquele momento.

Mirabel não se reconheceria no futuro. Era algo que ela não conhecia misturado com o que ela já sabia. Familiar com o novo. Ela quis abraçar sua mãe, seu tio Bruno, sua tia Pepa. Quis tê-los ao seu lado naquele momento. Ela quis ver mais. Quis saber como tinha sido suas infâncias. Como eles tinham se apoiado quanto possível quanto tinham que aprender a lidar com seus dons que apenas cresciam quanto mais eles tentavam controlá-los. Pepa e Bruno. Mirabel sentiu por eles. Sua mãe, Julieta, que Mirabel conhecia o suficiente e sabia o quão arrasada ela ficava por não coseguir curar a dor de alguém, por mais invisível que fosse.

"... Eu sei."

Houve um momento de silêncio até que suas palavras foram digeridas.

Alma olhou para sua neta. Como uma prova do porquê sua voz havia falhado e saído mais grossa nestas duas palavras, ela viu a garota de óculos de lentes arranhadas derramar as lágrimas que ela tanto lutou para segurar. O que lhe causou arrepio, porém, foi o que ela viu naqueles olhos grandes e expressivos. Olhos que ela nunca se deu o trabalho de notar até que lhe fosse conveniente. Uma alma que ela não reconheceu até que socou sua própria existência com um golpe forte o suficiente para impedi-la de superar.

Mirabel a olhou com verdade e isso doeu.

Ela viu sua neta limpar o rastro molhado em seu rosto com raiva e quase parecia que ela queria se machucar.

"Eu sempre soube... Todos nós sempre soubemos que não foi fácil. Que não é fácil. Eu sabia. De alguma forma, eu sempre soube. Por isso nunca te culpei. Eu te olhava e via o luto e doía. Doía em mim. Então eu tentava fazê-la sorrir, eu tentava ajudar para ser útil porque eu queria ser notada, queria receber o valor que minhas irmãs e primos tinham, mas eu também queria que minha abuela sorrisse. Para mim e para ela." Ela retirou os óculos. Dedos pressionando com mais força que o necessário seus olhos, coçando como se pudesse arrancá-los e finalmente parar. As lágrimas começando a distorcer sua visão e as lentes não estavam ajudando. Era pior que seus olhos estivessem começando a arder neste momento. Foi difícil respirar, foi difícil continuar, foi difícil parar, foi difícil... só... doeu. Mas ela continuou mesmo assim. "Até que um dia deixou de ser sobre uma abuela infeliz para ser sobre a neta insignificante."

Foi como uma pedra espancar sua garganta e ela quis rir do quão boa foi aquela dor. Ela queria mais.

"Mirabel..."

"O quê? O que pretende me dizer agora, Abuela?" Talvez ela não tenha dado espaço para uma resposta. Não importa, ela não estava em condições de ouvir no momento. "Porque eu sei que a vida não lhe foi gentil. Eu sei que seu coração carrega dor o suficiente para uma vida, mas isso não justifica tudo o que a senhora nos fez passar, tudo o que a senhora me fez passar!" Respire fundo. Não falhe agora. Já chegou tão longe, faça-se ser ouvida. "Tio Bruno se escondeu do mundo nos últimos dez anos, vivendo em isolamento porque todo mundo evita até o seu nome. Isso não é justo, ele é tão bom! Tia Pepa está com medo o tempo todo, com medo de si mesma, com medo de perder o controle, e qual é o problema de fazer chover, deixa chover, é bom aproveitar a chuva de vez em quando. Luíza pensa que sem o seu poder ela não é importante, sendo que ela não percebe o quão valiosa ela é por ser tão boa e linda, ela é filha, é irmã e uma ótima pessoa, por que ela não nota isso? Isabella se reprimiu tanto a vida toda que até o seu poder foi afetado por isso, ela nem sabe quem ela é, do que ela é capaz, quem ela pode ser. Todos eles sempre prontos para sacrificar em nome da família, como a senhora nunca viu isso?!"

Casita se fora. Casita estava morta. Ela precisava de sua amiga. Precisava que Casita estivesse bem ao mesmo tempo em que implorava a companhia da amiga. Todos precisavam de apoio, ela sabia. Mas ela também precisava de apoio! Ela precisava... precisava...

'Eu não consigo respirar.'

"Eles..." Mais lágrimas alagaram seus olhos quando a realidade a atingiu, sua garganta fechando em soluços. "Todos eles foram traumatizados de alguma forma." Seu coração poderia estar se partindo por eles agora. Principalmente por saber que não havia nada em seu alcance para ajudá-los nisso. "E isso inclui a senhora também, eu sei. A senhora está tão machucada quanto eles. Mas ainda assim, eu não consigo olhar nos seus olhos e... e deixar de sentir raiva porque tudo poderia ter sido diferente apenas com um pouco mais de cuidado e empatia. Tudo poderia ter sido evitado, poderíamos estar bem, poderíamos ser melhores... mas não somos."

 


Notas Finais


Tanta demora para este capítulo!!! Espero que a demora tenha valido a pena.

Até o próximo capítulo!! XOXO


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...