No fim das contas quem acabou nos braços de quem foi eu nos dele, já que ele me puxou quase que a força pra um abraço.
Algumas horas de viagem a frente eu estive dormindo e acordei bem a tempo da aeronave pousar na pista particular de Stratford. Do lado de fora não tinha uma lamborghini preta como de costume, e sim o Leonard, padrasto de Grace e motorista do Justin. Meu namorado ao meu lado me puxava de encontro ao carro, onde nossas pilhas de malas já foram colocadas dentro da Land Rover preta.
Mais duas iguais estavam à frente e atrás do carro onde entrávamos cheios de seguranças.
Pela janela eu olhava o sol nascer aos poucos através da avenida do aeroporto e da pista particular. Minha cabeça estava deitada sobre o ombro de Justin e entre olhar pra vista eu olhava para o seu rosto, que encarava a céu a fora com um olhar perdido, triste. Pensei que não falaria a ele falsas promessas, mas queria desesperadamente tirar essa expressão de seu rosto.
— Vai ficar tudo bem. - ele apertou minha mão que segurava a sua e fechou os olhos. Com certeza eu o faria dormir por pelo menos cinco horas quando chegássemos em casa. Ele tinha coisas demais sobre os ombros.
Pelo o que me foi dito, Poly era uma garota de treze anos com leucemia, por quem Justin atribuía tudo o que fazia e faz. Era triste a situação, e se o pior viesse eu estaria ao lado. Mas agora eu queria que ele tivesse uma boa imagem da irmã em mente.
— Como ela é? - perguntei e ele logo abriu um sorriso pequeno.
— Ela é muito chata. - ele ainda estava virado pra paisagem e o sol subia cada vez mais. Seria um dia quente. — Tudo o que eu gosto ela não gosta, e faz questão de dizer que o gosto dela é melhor que o meu.
Eu olhava pro seu rosto ouvindo atentamente cada palavra, e vendo o quanto ele se iluminava a falar da irmã. Acabei de descobrir que meu namorado era uma caixinha de coisas que eu queria conhecer.
— As vezes eu consigo ser mais infantil que ela. - eu sorri imaginando a cena de um cara de vinte e tantos anos nas costas discutindo bobagens com uma menina de treze. — Vocês duas iam se dar bem.
— Mesmo? - perguntei e ele abriu um novo sorriso direcionado a mim.
— Mesmo. As duas são as duas insuportáveis da minha vida. - revirei os olhos e ele deu risada. Aquele era o meu som favorito em todo o mundo.
Assim que o carro parou em frente à porta da mansão, funcionários da casa que eu nunca vi antes se aproximaram pra tirar as malas mesmo antes de sairmos. Deviam ser os demais empregados que ocupavam as outras vinte e duas portas da casa dos fundos, que mesmo eu morrendo lá não tinha os visto ainda.
Justin deu algumas orientações pra eles e antes que eu já entrasse na casa ele me segurou pela mão, me acompanhando.
— Vou passar na minha sala e já vou subir. - depositou um beijo na minha testa e foi se afastando, me deixando plantada perto das escadas, confusa.
— Mais o meu quarto não é lá em cima. - disse e o ouvi dar uma risadinha. — Justin?
— Eu já vou subir, linda.
Foi tudo o que disse antes de sumir na sala a dentro. Segui rumo até o quarto dele ainda sem entender a reação dele, e assim que entrei no quarto me deparei com três mulheres baixinhas prestes a saírem.
— A senhora gostaria de desfazer suas malas ou prefere que nós façamos? - a de cabelos bem curtos e castanhos claros disse olhando pra mim e eu encarava o closet do quarto. Eu estava completamente sem reação.
— Eu desfaço... - disse e as três mulheres saíram da suíte de luxo, fechando as portas.
Andei lentamente até o cômodo e estiquei o braço pro interruptor de luz, ascendendo as luzes uma por uma do espaço comprido e luxuoso. A minha esquerda, várias roupas e mais ao fundo sapatos do Justin, e a direita, uma fileira enorme com roupas minhas e sapatos. O que era estranho, eu não tinha tudo aquilo por mais que meu guarda roupa estivesse transbordando. Andei por todo o lado com roupas femininas passando a mão pelas mesmas, e vi que muitas - quase todas - estavam com etiqueta. Eram todas novas, prontinhas e esperando para serem usadas.
— Eu espero ter acertado no seu estilo de roupa. - a voz de Justin preencheu o cômodo e eu olhei pra ele, ainda incapaz de ter alguma reação. — É difícil quando a sua namorada se veste como tivesse quinze mais também como se tivesse vinte e cinco.
— O que significa tudo Isso? - perguntei meio afobada e ele foi se aproximando de mim, com um sorriso nos lábios.
— O que você acha? - congelei um tempo sendo tomada por ele pela cintura.
— Eu acho que você colocou o meu guarda roupa longe demais do meu quarto. - disse e me dirvertia cada vez mais com a cara de impaciência dele.
— O seu quarto agora é aqui. Comigo.
— Quem decidiu isso? - disse e revirando os olhos ele afogou o rosto no meu pescoço.
— Eu decidi.
— Mais eu não quero ficar aqui. - passei os braços ao redor do seu pescoço e ele olhou pro meu rosto.
— Então vamos ficar os dois no seu quarto. - eu sorri e ele me roubou um selinho. — Quero te levar pra conhecer a Poly. - fiquei sem reação por alguns segundos, olhando pro seu rosto. — Saímos em uma hora.
Justin me soltou dando as costas e entrando no banheiro da suíte, me deixando sozinha com as centenas de peças de roupas novas. Talvez eu nem chegasse a usar tudo isso, mas só a intenção dele era a melhor surpresa.
Eu terminei de me vestir e me olhando no espelho eu ri ironicamente pelo nariz. O jeans preto surrado, a regata cinza, a jaqueta de couro e o par de Vans pretos. Foram com essas roupas que eu entrei pela primeira vez nessa casa, com essas roupas que fiquei pela primeira vez frente a frente com Justin. Fazia quase dois meses e ainda não me caiu a ficha de quanto tão rápido as coisas Foram, mas ainda assim perfeitas. Mesmo com seus altos e baixos.
Justin estava a quase cem anos dentro do banheiro, e quando eu decidi ir apressar a princesa passei por uma parte do closet que me chamou a atenção. Em uma das prateleiras do meu lado tinha uma parte só para bolsas, e entre várias ali uma vermelha com pedrinhas da mesma cor me chamou a atenção. Dei mais uma olhada na porta do banheiro e ele ainda permanecia ali dentro. Abri a pequena bolsa e me deparei com o meu celular, as armas que estavam comigo na festa e as chaves.
Meu telefone tinha carregado durante toda a viagem, e assim que tirei ele e as chaves da bolsa o mesmo começou a tocar. Era Jessica.
— Já está com saudades? - disse assim que atendi e sorri o observando o chaveiro em mãos.
— Não imagina o quanto! É muito perigoso deixar você sozinha com uma infinidade de maquiagens!
— Então você sabia o que ele pretendia fazer? - olhei para o fundo do cômodo onde ele tomava banho no banheiro super espaçoso.
— É claro que sim. Você acha que ele seria capaz de comprar todas essas roupas maravilhosas sozinho?
— Ele te pediu ajuda?
Eu andava distraída pelo closet até a saída dele, olhando a infinidade de roupas novas de vários modelos. Quando me dei por mim, eu estava descendo as escadas da casa pra ir até o quintal dos fundos. Rodando as chaves no dedo indicador.
— Pediu. Por incrível que pareça Justin pediu ajuda a alguém. Sabe, Sie, você não imagina o quanto somos gratos pela mudança que você fez.
— Mudança?
— Sim. Olha, antes de você nós só conhecíamos o Justin sério e exigente. Era muito raro ver ele sorrindo ou coisa do tipo. Talvez seja exagero mais parecia que ele não tinha vida. Vivia em função do tráfico pra...
— Cuidar da Poly? - eu estava parada em frente ao relógio de pêndulo perto da sala de Justin.
Eu olhava o meu reflexo no vidro e sentia a nostalgia da primeira vez em que estive aqui. O dia estava igual. Fazia sol, mas ventava. Minhas roupas eram as mesmas e por incrível que pareça pra situação, eu tinha o mesmo lápis de olho nos olhos e as unhas com o esmalte preto descascando.
Como se fosse a primeira vez da última vez.
— Ele te falou sobre ela?
— Ele vai me levar pra conhecer ela agora.
Voltei a andar em direção a varanda que dava acesso ao quintal da casa. Quando passei em frente à sala de Justin. As duas portas estavam abertas, e estranhei a mesa dele estar virada pro outro lado, com sua parte da frente pra parede. Eu ia entrar, até Justin me chamar e eu perceber que ele descia as escadas.
— Sienna?
— Eu te ligo depois, Jess. - desliguei a ligação e coloquei as mãos pra trás do corpo.
Espera. Eu tô me mesmo tentando esconder as chaves e o meu celular?
— Pronta? - ele se aproximou abrindo um sorriso mostrando os dentes branquinhos. Ele conseguia sempre estar um pecado. Conseguia sempre causar pequenas sensações que se não controladas viraram enormes sensaçõe.
— Pronta. - sorri de volta e antes que ele segurasse minha mão, guardei rapidamente o par de chaves no bolso da calça.
Talvez eu escondesse coisas demais dele, mas todas essas coisas que eu guardava só pra mim sempre me diziam que era assim que elas deviam ficar. Em segredo. Em segredos grandes demais.
O hospital Santo Almado da Boa Graça era especializado em cuidados infantis. Por fora ele era todo em uma construção de um concreto alaranjado e janelas de vidro azuladas. Nem tínhamos entrado e eu já podia notar o quão sofisticado ele era. Nunca estive no lugar, mas ja ouvi muito falar dele. Cada burburinho entre as enfermeiras, os médicos atenciosos e carinhosos com as crianças e os casos tristes sem salvação pras pequenas pessoinhas dali.
Conheci uma mulher que era faxineira desse hospital, que mesmo não cuidando das crianças como queria, tinha no seu coração gigante um cantinho pra cada uma delas. Uma mulher que sempre dava doces escondido pras crianças pra fazer seus momentos finais de vida mais doces e menos amargos pelo gosto dos remédios. Elena Marie Davis, minha mãe e faxineira do hospital, foi essa mulher.
— Era esse, não era? - Justin perguntou do meu lado e eu concordei olhando pela janela a entrada onde paramos na frente. Eu mordia o lábio com força pra não chorar e deixar a situação constrangedora. — Se você quiser...
— Eu quero conhecer ela. - Me virei pra ele abrindo um sorriso forçado.
As lágrimas não iam escorrer até ele as secar ao pé dps meus olhos com os polegares, e depositar um beijo na minha testa. Nada seria tão tranquilizador naquele momento como o silêncio. Mais um beijo na bochecha e um aperto de mão. Isso foi o bastante pra mim socar esses sentimentos reprimidos pro fundo de mim mesma outra vez e respirar fundo.
Justin saiu do carro, e quando eu terminei de me soltar do cinto ele já estava do outro lado da porta a abrindo.
De mãos dadas entramos no hospital e um arrepio gelado percorreu pelo meu corpo inteiro. Eu devia estar louca. Tipo, muito louca mesmo. Eu podia sentir a presença dela nesse lugar. Por um breve momento, eu podia imaginar ela com seu uniforme azul escuro e redinha no cabelo esfregando esse chão e os mais dez andares a cima. Era como se a cada corredor que viravamos eu pudesse dar de cara com ela, igual na nossa casa. Cada vez que eu saia do meu quarto eu podia imaginar a voz dela falando comigo só de perceber que ia chegar perto de onde ela estivesse.
Por um momento, eu queria tudo isso de volta. Pra todo o resto da minha vida eu queria essas coisas de volta.
Eu agarrava a mão dele com força e ele não parecia se importar, já que segurava a minha da mesma forma.
Silêncio.
Conforto.
Entramos dentro de um elevador e antes das portas se fecharem vi uma faxineira passar no corredor empurrando um carrinho com vassouras e esfregões. Meu peito doeu. Apertou tao forte que eu quase disse ai.
Respira, Sienna.
Olhei meu namorado de canto de olho pra que ele não percebesse minha cara de angústia e sofrimento interno. Ele olhava a luz da cabine subir a cada andar que passávamos. Ansioso, e ainda triste. Perfeito, o mais novo casal depressivo.
Ele já esteve muito por você. Agora é sua vez de estar por ele.
Passávamos pelo quarto andar rumo ao sexto quando encostei minha cabeça em seu ombro, e soquei mais fundo ainda todas aquelas emoções idiotas.
Cada andar por onde passávamos tinha plaquinhas mostrando o que cada um era. O quinto era a maternidade, e o sexto onde as portas pararam eram os quartos de repouso, já que o sétimo a UTI e ala cirúrgica. Saimos da cabine ainda de mãos dadas, e depois de virar alguns corredores paramos em frente uma porta branca, mas com a placa do nome do quarto toda decorada em canetas coloridas e adesivos diversos, tendo o nome Poly no centro. Justin parecia hesitar um pouco ao virar a maçaneta, então eu coloquei minha mão sobre a sua e ele olhou pra mim, abrindo um sorriso pequeno.
A porta foi aberta e um quarto decorado com objetos coloridos eram o que chamavam a atenção logo de cara. Entre pôsteres e quadros personalizados de uma típica menina de treze anos, com desenhos e cantores famosos, no meio do cômodo tinha uma cama hospitalar, que também não fugia da decoração de adesivos. E sobre a cama, uma menina de cabelos curtos estava sentada encostada em vários travesseiros, onde uma mulher que deduzi ser sua mãe os arrumava em suas costas. Quando a menina olhou pras duas pessoas que entravam no quarto, não sei de quem o choque foi maior. O meu ou o dela.
— Nossa. - Poly foi rápida em dizer enquanto nós duas nos encarávamos.
O motivo dela me encarar daquela forma eu não sabia, mas o meu era evidente. Ela era a cara de Justin, completamente tudo, menos os olhos que eram bem mais claros e os cabelos castanhos da mãe. A mulher que antes tinha me olhado rapidamente de cara feia tinha mudado de expressão assim que olhou pra mim outra vez, com mais atenção. As duas me olhavam com a mesma cara. Acho que agora eu já entendia aquela cara, era a cara que algumas — muitas — pessoas faziam ao olhar pra mim pela primeira vez.
— Pattie, Poly. Essa é a Sienna a minha namorada. Sienna, essa é a minha mãe Patricia e a minha irmã Poly. - Justin disse com a mão esquerda na minha cintura. Ele tinha um certo nervosismo.
— É um prazer conhecê-las. - disse abrindo um sorriso tímido. Geralmente eu não tinha vergonha. Mas dessa vez era uma situação muito diferente de tudo o que eu já tinha vivido. Conhecer a família de um namorado.
— O prazer é todo nosso, querida. - Pattie disse e quando eu jurava que um silêncio constrangedor ia dominar um local, Poly interviu.
— Você é modelo? - eu dei risada e Justin também riu junto. De tanto que me perguntavam isso, eu acabaria virando modelo de verdade.
POV. Justin
O médico responsável pela Poly entrou no quarto chamdnoa mim e a minha mãe pra conversar do lado de fora do quarto. Eu odiava essas conversas particulares, sempre eram más notícias.
— O que é dessa vez? - perguntei ja sem paciência e recebi o olhar reprovador da minha mãe. A essa altura do campeonato eu esperava que ela já entendesse o meu lado. Era cansativo notícias ruins.
— Nada de grave. O gesso poderá ser removido em até quinze dias sem deixar grandes contusões na perna e...
— Gesso? - franzi o cenho e o doutor Prinsley assentiu com a cabeça.
— Poly quebrou a perna, Justin. Se você tivesse tempo o bastante pra nós ouvir saberia que não foi nada grave. - minha mãe disse de cara feia e braços cruzados.
— Então por quê ela tá no quarto dela?
Depois de anos tendo que correr pro hospital tendo o risco de nao dar tempo, acabei cedendo a idéia de alugar um quarto pra ela. Poly achava um máximo ter o próprio quarto no hospital, já eu odiava.
— Ela quis ficar pra esperar você. Mas não fazíamos idéia de que você ia trazer a garota. - pronto. Acordou a fera.
— Com licença. - o Dr. saiu nos deixando sozinhos no corredor e eu me virei pra ela, suspirando.
— Ela não é como as outras garotas mãe.
— Mesmo? E como você sabe disso em tão pouco tempo? Dois meses Justin! E você já diz amar essa menina! Sabe quanto tempo eu levei pra...
— Pra perceber que sentia alguma coisa pelo meu pai? Três anos, Pattie. Você sempre diz isso. Sempre toca na ferida que é o meu pai na sua vida! Mais eu e ela não somos vocês, é diferente!
Minhas brigas com a minha mãe conseguiam ser bem frequentes, e todas elas envolviam o passado e a minha ausência na vida dela e da minha irmã. Eu sabia que sentiam a minha falta, mas antes o conforto e a proteção delas do que abraços.
— Diferente como? Ela tá grávida por acaso? Eu não ficaria surpresa pela quantidade de coitadas que você se envolve! - a cada palavra meu arrependimento de vir no dia que ela estava aqui crescia mais.
— É diferente ao ponto de eu trazer ela pra conhecer a Poly. - Eu me mantinha bem sério, porque eu queria que ela visse que a coisa dessa vez era séria. — Ela tem uma coisa diferente mãe. Ela desperta coisas nas pessoas.
— E que coisas são essas? Me convença. - seus braços ainda estavam cruzados igual sua cara de brava.
Em dois meses eu ainda não tinha conseguido palavras pra descrever exatamente essa coisa forte que Sienna despertava em mim. E foi então que eu olhei pela janela do quarto e olhei pras duas garotas ali dentro. Sienna tinha se sentado na cadeira do outro lado da cama e terminava de assinar no gesso na perna da minha irmã. Ela disse alguma coisa e Poly riu. Mais riu com vontade, com sinceridade.
— Aquele tipo de coisa. - apontei pro quarto e Pattie se virou. No mesmo segundo seus braços se soltaram e notei seu corpo relaxar.
Poly sempre tinha um sorriso no rosto e adorava fazer comentários irônicos sobre tudo e principalmente sobre a sua situação. Coisas como: "Depois que eu morrer você nem ouse mexer no meu celular" e "No casamento do Justin eu faço questão de sair da cova pra ver esse milagre". Era um tipo de humor que só ela via graça, uma graça falsa. Mas agora ela estava rindo de verdade por algum motivo menos mórbido, que a minha namorada causou.
POV. Sienna
Justin e sua mãe saíram do quarto, e antes que eu falasse qualquer coisa Assim que me virei pra Poly ela tinha uma caneta preta em mãos, a estendendo pra mim.
— Assina meu gesso? - pediu com um sorriso no rosto e eu retribui, me aproximando dela e sentando na cadeira ao lado da cama.
O gesso em sua perna estava quase todo assinado por diversos nomes de garotos e garotas. Escrevi o meu nome em um espaço em branco e enquanto isso notei seus olhos sobre mim.
— Como você conseguiu? - ela perguntou e eu a olhei, franzindo o cenho. — Como conseguiu fazer ele se apaixonar?
— Eu não sei. - dei de ombros e fui fazendo desenhos em torno do meu nome no gesso. — Pra falar a verdade eu não faço ideia de como aconteceu tão rápido. - eu estava sorrindo, por mais engraçado que fosse eu estava confusa.
Em que momento ficamos realmente juntos? Em que momento tivemos a certeza de tudo?
— Ele é doido. - ela disse sorrindo e eu concordei.
— Ele é bipolar. Ele me deixava doida sabia? - eu disse e ela deu uma risadinha. — Era meio "vem eu quero você" mas também "não, nao chega perto de mim eu sou doido". - Disse imitando a voz dele e fazendo uma cena como se ele me afastasse e me aproximasse, usando um ursinho de pelúcia no pé da cama. Poly começou a rir com vontade, me fazendo acompanha-lá no ato.
— Eu não acredito que fiquei viva pra conhecer o milagre. - ela secou as lágrimas nos olhos de tanto rir e eu continuei observando a cópia de Justin.
— O milagre? - perguntei e apoiei o rosto na mão sobre a cama.
— É. Ou salvação. Minha mãe já achava que era lenda urbana o cabeçudo se endireitar na vida, quem dirá arrumar uma garota fixa. - Poly falava e eu a ouvia com atenção. — Mais eu fico feliz que isso tenha acontecido a tempo de eu ver.
— Você fala como se...
— Como se eu fosse morrer? - ela olhou pra mim e os olhos castanhos clarinhos brilhavam pelas lágrimas. — Eu vou morrer, todos tentam esconder mas eu sei a verdade. Eu sinto.
Enrolando a barra da blusa azul no dedo, ela fazia biquinho pra segurar o choro. Eu podia ver a força que ela tinha e era algo surreal pra alguém tão nova. Com só treze anos ela tinha tudo o que eu deveria ter com dezenove.
Era outro daqueles momentos que eu queria dizer que ia ficar tudo bem, mas eu não podia, porque eu não sabia.
— Então você gosta da One Direction também? - disse desesperadamente atrás de outro assunto. Secando as lágrimas com a barra da blusa, ela olhou pro pôster gigante atrás da cama que eu também olhava.
— É, gosto desde de dois mil e treze. - ela sorriu pequeno e eu fiz uma falsa cara de metida.
— Eu gosto desde dois mil e doze. - ela riu da minha cara é vendo que tava dando certo, continuei. — E espero que você fique longe do Liam, ele já é meu.
— Pode ficar depois que eu usufruir de todo aquele corpinho. - eu fiquei chocada com aquelas palavras. Ela podia ter treze, mas em cinco minutos eu já vibqie ela tinha mentalidade de vinte.
Justin e Patricia voltaram ao quarto depois de um tempo, conerversaram entre si alguma coisa que eu não prestei atenção já que Poly me mostrava um álbum de fotos de todos os shows que ela já foi, que pra sua sorte foram em momentos em que sua saúde estava estável. Ao todo ela já foi em nove shows, conheço sete países e até já teve um namorado. Coisa que Justin não sabia e de todo o tempo em que estivemos conversando foi só nessa parte em que ele prestou atenção.
— Você não tem nem pelo no sovaco e foi ter um namorado?! - ele estava em pé e andando de um lado pro outro do quarto.
— Você vai fazer um buraco no chão. - Pattie disse distraída enquanto arrumava algumas roupas da filha em uma bolsa.
— Eu vou fazer um buraco na cara desse moleque! Qual o nome dele?!
— Zé Droguinha. - Poly disse me fazendo rir de até cobrir o rosto.
— Eu tô falando sério Poly! - Justin estava realmente nervoso, morrendo de ciúme da irmã. Era a coisa mais fofa que já o vi fazer.
— Qual o problema Justin? Eu não vi problema nenhum. Eu conheci os pais dele na época e a mãe dele é uma querida. Ele era um amorzinho e sempre me dava uma trufa. - Pattie se sentou na beirada da cama do outro lado. Estava formado o trio a favor da Poly.
— O problema é que..... É que....
— É que você aprendeu a ter ciúmes e não tem controle nenhum sobre isso. - eu disse e as duas mulheres ao meu lado tiram. Foi um alívio ver a mãe dele rir sobre alguma coisa que me envolvia, eu podia jurar que ela tinha me odiado.
— É que já tá tarde. E nós vamos embora.
— Agora? - Poly e eu dissemos juntas e a cara feia dele já respondia a pergunta.
— Mais eu nem mostrei as suas fotos humilhantes de quando você era criança. - ela disse de bico e eu a olhei, já estando de pé.
— Você tem fotos dele criança? - O sorriso em meu rosto era largo.
— Era a coisinha mais fofa e rosa da mamãe! - Patricia disse com a mão sobre o peito cheia de lembranças. — Você tem que nos visitar em nossa casa. Tenho uma cômoda só com fotos dele bebê pelado na...
— Tchau mãe, tchau Poly. - Justin abriu a porta do quarto e estendeu o braço pra que eu pudesse sair. Rindo da atitude dele, nos três irmos e nos despedimos com beijos na bochecha.
— Eu vou ver você de novo Sienna? - Poly perguntou quando eu já me encaminhava até a porta. Fiquei muito feliz por ela ter gostado de mim.
— Claro. Eu volto em breve pra gente tirar o Justin do sério juntas. - sorri e ela também, sendo abraçada pela mãe que fazia o mesmo.
Eu já tinha saído do quarto quando a ouvi chamar Justin mais uma vez. Achei que fosse ideia deixá-los um pouco em família e disse a ele que ia esperar na sala de espera mais frente. Quando cheguei, tirei o celular do bolso depois de horas. Já era cinco da tarde e parecia que estávamos ali dentro por apenas alguns minutos. Estar com aquela garota tinha sido maravilhoso, e por algumas horas matei minha vontade reprimida de ter uma irmã. Eu com certeza voltaria a vê-la.
Eu tinha várias mensagens pendentes, mas preferi abrir só as de Jessica no topo da caixa de entrada.
"Chegamos em caasaaa! ♡"
"Quando vocês voltam?"
"Temos uma festa incrível pra essa noite! Cheguem logo antes da casa ser destruída! ♡ "
Depois de algumas horas, tinha mais outras.
"Comentei com os meninos sobre você ter passado mal ontem. Ainda está com os mesmos sintomas?"
"Sie?"
"Amiga, como está a sua menstruação?"
O que?
Essa última tinha me deixado curiosa e principalmente confusa, então decidi responder logo. Mas antes, eu pensei:
Minha menstruação? Normal, desce todo dia quinze.
POV. Justin
— Vai me falar o nome do pirralho? - Disse assim que cruzei os braços. Podia parecer brincadeira, mas eu realmente fiquei puto com esse segredinho.
— Ai qual é. - Poly revidou os olhos e me fazendo rir, ela fez a mesma cara que eu estava.
— O que você quer?
— Cuida dela. - ela disse e antes que eu falasse mais alguma coisa, acrescentou — Ela é muito legal, Justin, sério.
— Eu vou cuidar. - sorri vendo o quanto minha irmã gostou da minha namorada. Assim como a minha mãe. Isso era muito importante pra mim. Cheguei perto das suas mulheres da minha vida e dei um beijo na bochecha de cada uma.
— É bom que cuide mesmo. - agora foi a vez da minha mãe. — É uma boa menina. - Pattie sorria e me olhava nos olhos. Pela primeira vez eu tinha sua aprovação. — Vocês dois me daram lindos netos.
— Lindos monstrinhos. - Poly juntou as mãos em esperança e eu revirei os olhos.
— Não vamos ter filhos. - sai de perto e me despedi mais uma vez delas, saindo do quarto logo depois.
Quando cheguei na sala de espera Sienna me aguardava olhando pela grande janela de vidro. Logo já estávamos fora do hospital e dentro do meu carro á caminho de casa, e quando há chegávamos em frente à grande mansão, as batidas da música super alta já nos recebia esquinas antes.
— Ah não. - disse passando a mão no rosto ao notar a infinidade de carros parados tanto dentro quanto fora do grande jardim da frente.
Eu já devia estar acostumado, todo ano era assim. Mais hoje especificamente eu queria entrar em casa, me jogar na minha cama e dormir por três dias direto. Já Sienna que eu pensava que ia me acompanhar na hibernação olhava os carros de luxo espalhados com os olhos brilhando, como se fosse noite de Natal. Com certeza ela não ia ficar comigo.
— Vocês conhecem toda essa gente?
— Nem a metade. - parei meu carro na minha vaga de sempre, lugar onde tinha uma placa bem clara com o nome pra nenhum otário ocupar meu espaço.
Sienna parecia criança prestes a ser solta em parquinho quando saiu do carro, mas segurei ela pra que quando eu entrasse todos vissem que ela estava comigo, e não era pra nenhum outro otário mexer. E em uma casa cheia de traficantes e gangsters era importante mostrar que o Rei agora tinha uma Rainha. Que nela ninguém mais tocava.
E assim que entramos assim foi. Todos olharam pra mim e pra garota que eu segurava pela cintura. Percebi ela se encolher ao ter olhares tortos de diversas putas alheias ali no hall, mas não a deixei se intimidar e a puxei entre as pessoas atrás dos nossos amigos. Notei ter pelo menos dois seguranças em alas proibidas como as escadas até os quartos, minha sala e chegando na sala de estar, vibpelas janelas ter segurancas por todos os caminhos que dava a casa de funcionários. Eles não mereciam ser perturbados por um bando de drogados alcoólatras.
Na sala de estar encontrei os nerds Logan e Simon jogando vídeo game em pé, enquanto várias pessoas os assistia. Na pequena sacada que dava até ate o quintal completamente tomado por gente, vi Jess e Kellan conversando, e sem que eu percebesse Sienna tinha sido tirada de minhas mãos por Jessica, que sumiu com ela multidão a fora.
POV. Sienna
— Tá me levando pra onde? - perguntei depois de ser arrancada de Justin. Percebi irmos de volta ao hall, especificamente pra pequena sala em baixo das escadas, onde Jess teve passagem de um segurança pra entrar na sala de Justin. — O que viemos fazer aqui?
— Você viu minhas mensagens? - ela estava meio afoita, olhando pra mim com os olhos arregalados.
— Vi. O quê que tem?
— Vai me responder ou não? - ela cruzou os braços em impaciência e eu voltei a ficar confusa.
— Tá na normal, ué. - disse e ela arqueou as sonbrancelhas e os ombros, como se quisesse que eu falasse mais. Revirei os olhos e suspirei. — Desce todo dia quinze, Jess.
— E já desceu?
— Não, só tinha quinze. Jessica eu não tô entendo onde você quer...
— Sienna, você sabe que dia é hoje?
Eu pensei num pouco e disse:
— Sexta-feira?
— Sie, hoje é dia dezenove.
Ficamos em silêncio um tempo olhando uma pra outra com cara de tacho.
— E daí? - falei meio baixo e me assustei quando ela desvincilhou os braços batendo as palmas das mãos no corpo vestido por uma saia justa preta e blusinha com brilhos verde escuro.
— E daí? Sienna você sabe o que uma menstruação atrasada pode significar? O que a sua menstruação atrasada pode significar junto aos seus enjoos repentinos?
— Não é nada demais Jessica. Os enjoos já pararam e toda menstruação atrasa alguns dias. - meu regular vibrou no bolso da jaqueta preta e o tirei dali, vendo a mais nova mensagem do número privado, que junto das anteriores já eram quatro mensagens não lidas.
"Foi um prazer te ver minha filha. Você estava linda."
"Espero que meu amigo tenha te entregado minha encomenda."
"Já está em casa? Aproveitando a baderna do chiqueiro sujo de mentiras do seu namorado?"
"O que acha de ter verdades reveladas agora?"
— Você acha que não é nada demais, mas eu acho que você está grávida. - parei de ler assim que ouvi essas palavras de Jessica.
— Você... você acha que eu o que? - eu estava em choque, meu corpo tinha gelado e eu buscava na minha mente algum momento em que ocorreu um deslize. Nada. — Impossível.
— Ah, mesmo? - ela cruzou os braços e ergueu o queixo.
— Sim, mesmo. Só transamos duas vezes até agora, e as duas foram com proteção. - eu tinha tanta certeza do que falava. Nem tinha pensado direito ao meio do desespero.
— Até mesmo aquele dia?
— Que dia? - perguntei voltando a ter o corpo gelado pela possibilidade.
— Lembra de quando estávamos na piscina do hotel, Sie? - assenti desesperada pra ela falar o que sabia mais do que eu mesma sabia, ou lembrava. — Lembra do que você me contou naquela manhã? Que vocês dois estavam brigando mais uma vez, e que quando você estava tomando banho...
— Ele entrou no banheiro. - senti minhas pernas ficarem fracas e sentei no sofá ao nosso lado.
Entre as diversas brigas pela falta de atenção de Justin teve uma que nos acertamos de uma forma meio inusitada. Tínhamos gritado coisas que não queríamos, principalmente ele. E justamente quando eu já tinha me conformado que não rolaria nada aquela semana, rolou. Duas vezes. Uma no chuveiro e outra na cama, na tentativa mais do que desesperada dele de pedir perdão rolou, e não faço a menor idéia se usamos camisinha.
Minha boca tinha ficado seca, o coração acelerado e sentia os olhos ficarem úmidos.
Eu podia mesmo estar grávida de Justin?
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