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História A Luz de Mirkwood - O propósito de Legolas


Escrita por: Homefiction

Capítulo 2 - O propósito de Legolas


Os elfos silvestres que habitavam as árvores Mirkwood  sob as ordens do rei Thranduil estavam patrulhando na manhã seguinte em busca dos rumores. Eles ouviam a todo o momento as vozes perturbadas da floresta.

Alguma criatura estranha aos pássaros e árvores e pedras havia caminhado por Mirkwood noite passada, a floresta falava assustada com os elfos. Falavam sobre o cheiro de sangue humano e reclamavam dos gritos que incomodaram sua paz.

A patrulha de elfos se dividiu. Um grupo seguiu os rastros deixados pela criatura até os perder de vista quando chegaram ao Sul, dali por diante não estavam autorizados a continuar.

O outro grupo seguiu por entre as galerias formadas pelos altos troncos antigos, sendo levados pelo clamor e agitação da floresta. Finalmente eles chegaram a uma pequena clareira. Lá encontraram o que restou da carcaça se uma criança humana.

 

***~*~***

 

Havia um pequeno vilarejo humano que habitava as margens de Mirkwood. Lá viviam da agricultura e caça, mas dificilmente se arriscavam a caminhar por entre as vielas daquela perigosa floresta, pois muitos eram os temores que ali habitavam.

Os humanos haviam evitado qualquer contato com quaisquer dos seres vizinhos durante muito tempo. Mas há alguns anos violentas mortes retiravam a paz e sossego daquela gente.

Uma misteriosa criatura já havia matado aproximadamente cinquenta crianças, mas a forma era como um fantasma, que aparecia na névoa da noite e tal qual assim sumia.

Alguns homens já a havia seguido até sua sombra sumir pelos estranhos caminhos de Mirkwood e eles não se arriscavam segui-la.

Por vezes haviam enviado mensagens aos elfos que viviam ao norte da floresta num pedido desesperado de ajuda. Os elfos silvestres habitavam Mirkwood há milhares de anos, se alguém poderia ajudar a capturar essa criatura seriam eles. No entanto, o rei élfico, Thranduil mantinha seu povo afastado de qualquer outra raça, fosse élfica ou não. Não era seu costume fazer alianças e muito menos se envolver em assuntos que não diziam respeito a seu povo.

No entanto, não era possível que algo tão alarmante se passasse naquela floresta que as árvores não ficassem sabendo, e elas por sua vez informavam aos elfos, que há muito haviam firmado uma boa relação de coexistência com elas. Não era raro para as patrulhas de elfos silvestres encontrarem restos humanos abandonados enquanto vasculhavam a floresta ao Sul de seu palácio.

 

***~*~***

 

Os aldeões estavam reunidos em uma busca tensa pela criança desaparecida há dois dias. Muitos ali já haviam passado pela mesma angústia de dias de buscas só para encontrar os corpos de seus filhos mutilados ou apenas a carcaça.

– Já são três dias desde que o menino Amorel desapareceu.  – uma camponesa de idade avançada praguejou sem esperança. – Sabemos que o menino já não vive mais.

– Cale-se! Sua velha maldita! – o irmão de Amorel, a criança desaparecida, gritou com a senhora. Ele sabia que era tarde para seu irmãozinho, mas não queria admitir. Encontrar o cadáver do menino ia destroçar o coração de seu velho pai. Aquela criança era sua vida, era sua alegria... Como iam seguir adiante sem o doce menino?

– Vamos intensificar as buscas até o entardecer, e se for preciso entraremos a fundo em Mirkwood. – o líder do grupo comandou. – Mulheres retornem para a vila e mantenham as crianças seguras em suas tendas. Homens venham comigo! – Arthur, era um homem alto e corpulento, a pele enegrecida do sol e da sujeira da lida lhe dava um aspecto rude. – Enquanto a você Minel, contenha-se. Seu pai vai precisar de sua força... – ele falou calmamente pressionando o ombro do rapaz que era irmão da criança que eles buscavam.

 

As buscas seguiram até o entardecer. Quando finalmente seguiram pela floresta viram o corpo do infante em uma ampla clareira enrolado em uma capa élfica.

Os elfos haviam limpado o corpo tanto quanto possível na intenção de amenizar o sofrimento dos familiares da criança.

Naquela noite levaram o corpo para casa e a vila chorou mais um filho perdido. Naquela noite eles iam chorar sua perda e guardar seu luto, mas logo que o dia retornasse eles rumariam para o norte adentrando as matas da floresta.

Se os elfos encontraram o menino eles também deviam ter encontrado aquele demônio que sugava a vida humana no escuro da noite.

 

***~*~***

 

Thranduil suspirou cansado após um dia exaustivo. Havia estudado todos os relatórios enviados pelas patrulhas e se reunido com seus assessores para definir alguns assuntos bem desgastantes.  O primeiro, e muito delicado tópico, era o racionamento de alimento que dividia as opiniões de população e assessores.

O reino atravessava um momento difícil. O crescimento descontrolado das aranhas impediam os elfos de caminhar com tranquilidade e os ataques eram constantes e quase sempre com vítimas fatais. As colheitas e caças também estavam ameaçadas, e os estoques de alimentos estavam se escasseando.  A situação era preocupante, pois com um esquema de racionamento de alimentos a qualidade de vida dos elfo cairia bastante. E não sabiam quanto tempo aguentariam sem ter que fazer mão dos tesouros reais. Uma boa opção seria fechar acordos com demais reinos élficos, quem sabe até reinos humanos?

Outro assunto bastante discutido foi o reforço das patrulhas e aumento de efetivo nas fronteiras do reino, pois não só cresciam os ninhos de aranhas, mas também a ameaça de orcs que caminhavam pela floresta indo para o Sul.

O reino élfico de Mirkwood não podia se dar ao luxo de colocar guerreiros nas fronteiras em excesso e acabar desguarnecendo a defesa do palácio. Logo uma solução estava longe de ser encontrada.

Outra questão bem discutida era as relações de Mirkwood na comunidade élfica. Thranduil havia feito um excelente trabalho protegendo seu povo quando eles rumaram no passada para o norte, em contrapartida, o reino élfico de Mirkwood ficou conhecido como um reino de elfos guerreiros, isolados e desconfiados vivendo às suas próprias maneiras e costumes.
Mas enfrentar o crescimento das trevas sozinho seria uma prova bem complicada, mesmo para o valente povo de Thranduil.

Alguns dos assessores eram ferrenhos defensores que alianças tinham que ser feitas, com reinos humanos e élficos. Estava ai o ponto mais crucial e violento do debate: Legolas Greenleaf, o príncipe herdeiro de Mirkwood. Muitos viam Legolas como a solução para esses problemas. O príncipe fora desde muito cedo prometido em casamento a um dos generais de Lothlórien, um importante reino élfico. Promover esse vínculo imediatamente era exigido por muitos elfos, mas existiam algumas questões. Uma era que Legolas ainda não atingira a maioridade e por isso não poderia se casar. Outra e bem mais grave, era o fato de o príncipe não se animar com o casamento preferindo usar seu tempo para se tornar um guerreiro ao invés de se preparar para ser um príncipe consorte de um general importante.

 

Agora sozinho na sala do trono o rei amargava uma incômoda dor de cabeça. Ele suspirou mais uma vez tentando relaxar após um gole de hidromel. Ele estava preocupado com o rumo dos acontecimentos e sobre as evoluções das trevas que lia nos relatórios das patrulhas.

Havia os rumores que sombras se moviam pela floresta indo em direção Dol Guldur, local evitado pelos elfos de Mirkwood. Muitas árvores vinham murmurando sobre os seres negros que andavam por derramar sangue inocente no chão de suas raízes, indo e voltando para o Sul. Thranduil sabia que se esses rumores fossem verdadeiros, ele teria que enviar os mensageiros para os reinos élficos de expressão política informando sobre as estranhas movimentações. No entanto, o rei, tinha ou queria ter, plena convicção de que tudo não passava de boatos.  Se negando a acreditar que alguma inteligência estava movendo e organizando esses seres das trevas.

 

As portas ricamente talhadas com desenhos élficos históricos que davam acesso a sala do trono de Thranduil se abriram ruidosamente e após alguma confusão o elfo de cabelos loiros platinados entrou furiosamente.

– Ada. Eu preciso lhe falar. – disse o elfo recém-chegado. Seus olhos azuis estavam carregados de frustração.

– Majestade! – um dos guardas entrou apressado logo atrás do príncipe. – Eu sinto muito. O senhor não queria ser incomodado, mas o príncipe Legolas se torna incontido quando quer alguma coisa, eu não pude evitar.  – se desculpou o soldado.

– E nesse caso o príncipe precisa falar com o rei. Se você puder nos dar licença. – Legolas disse ironicamente com uma postura de impaciência.

– Legolas.  – Thranduil suspirou estudando seu filho. – O que você quer?  – ele disse dispensando o guarda com um gesto de mão. Sabia bem que Legolas não seria rápido e nem sutil, não eram qualidades de seu filho quando queria discutir um de seus pontos de vista. Olhando para o jovem a sua frente pensou como há pouco tempo ele era só elfling tão doce, agora havia se tornando esse elfo determinado.

– Estou proibido de caminhar em liberdade. Seus guardas apreenderam minhas armas e seus cocheiros trancafiaram meu cavalo. Sou um prisioneiro dentro de minha própria casa? – disse Legolas com sua voz suave, mas levemente alterada.

– Legolas, eu conheço sua vontade de servir Mirkwood como um guerreiro. Sei também de suas estupendas habilidades. – disse o elfo mais velho cuidadosamente. – Mas estamos passando por momentos delicados, meu filho. Você é de mais valia nas artes diplomáticas... – Legolas ia protestar, mas seu pai ergueu a mão num gesto de quem não queria ser interrompido. – Em conselho decidimos que é hora de seu casamento acontecer.  

– Mas as artes da guerra caminham junto com a diplomacia. Eu posso ainda ser um guerreiro e me casar...

– Lothlórien é muito tradicional. Eles precisam de um consorte para seu general e não outro general, Legolas. Você conhece os termos do contrato.  – disse o rei tornando-se cansado com a persistência do filho. Ele sabia que Legolas era um exímio guerreiro, talvez o melhor que eles possuíam em Mirkwood. Sabia também que ele tinha potencial para assumir o posto de capitão da guarda real, e no futuro assumir o trono. E daria um ótimo rei, pois tinha força e habilidade. Bem como tinha um grande coração e sabia ouvir, qualidades essas que muitas vezes faltavam a Thranduil. – O que Mirkwood precisa de você nesse momento é que cumpra as suas obrigações como um príncipe.

– Minhas obrigações o senhor diz. – Legolas se ressentia desse acordo firmado quando ele era ainda um bebê. – Mas foi o senhor quem firmou esse tratado.

– É sua responsabilidade servir seu povo e seu rei. – afirmou o rei. – Você é noivo de Rúmil. Vai se casar com ele, será um consorte honrado e lhe dará herdeiros. É o que se espera de você.  

– Eu não sou uma donzela! – Legolas odiava essa sua condição que o tornava diferente dos machos de sua raça.

– Você não é. Mas é um príncipe e tem obrigações. – Thranduil massageou a testa sabendo que essa troca de palavras não os ia levar a nada.

– Ada, não faz qualquer sentido retirar minhas armas isso é tudo que eu mais amo na vida. – o jovem falou retornando a origem da questão. – E como pensa que vou acompanhar os soldados na próxima patrulha desarmado?

– Você não vai mais patrulhar! – estava chegando ao limite da paciência com Legolas. – Nosso reino está passando por grandes problemas e não me sinto motivado a ter essa conversa com você pela centésima vez!

O príncipe sentiu como se tivesse levado uma bofetada. Como assim? O que queria dizer? Ele não ia mais para a floresta junto com os amigos e soldados do reino? – Sempre achei que o senhor era um rei justo, mas tudo que importa é a sua vontade. – a mágoa brilhou nos olhos azuis do príncipe junto com as lágrimas, mas ele não as deixou cair.

– Chega! – Thranduil perdeu seu temperamento de vez. Ele estava farto. Seu filho queria ser independente, era certo que ele era um ótimo guerreiro e quase adulto, mas o rei já havia perdido demais em sua longa vida e Legolas era o que lhe restava. E realmente ele tinha outros planos para seu filho único. Havia um fato importante sobre o príncipe.

– Onde está sua diplomacia quando não lhe é conveniente!? – gritou Legolas.

E Thranduil pareceu petrificado. Estava seu filho gritando consigo? – Legolas! Agora você passou de todos os limites. – o rei disse baixo, mas muito chateado. – Eu sou seu rei e exijo respeito. Eu já fui muito tolerante com você todos esses anos. – ergueu-se o rei. Era um elfo belíssimo, mas sua postura sempre altiva intimidava. – Você servirá ao seu propósito como príncipe de Mirkwood. – sentenciou. Seus olhos de tons azuis faiscando perigosamente.

Legolas ficou mudo com revolta. Aquele ali era seu rei, mas era seu pai também, só que para Thranduil o reino sempre fora posto em primeiro lugar e ele faria o que achasse melhor para a glória de Mirkwood, mesmo que isso significasse passar por cima dos sentimentos de seu filho.

 

O jovem príncipe era um elfo especial. Era sem dúvida a criatura mais justa daquele reino. Sua beleza era conhecida das árvores e dos ventos. Seus cabelos loiros brilhavam como os raios de Sol pela manhã, sua pele era marfim cremoso e seu corpo esguio levemente tonificado com músculos ágeis. Sua voz era suave e melodiosa, e os olhos grandes de um azul celestial nunca visto em outro elfo. Já os lábios eram de um vermelho natural.  O rosto masculino de uma beleza angelical compunha um conjunto perfeito de aparência etérea.

Fora sua beleza física Legolas tinha um grande coração pronto a amar e respeitar todas as formas de vida. E em épocas tão infrutíferas, o príncipe havia nascido com uma rara condição. Rara, mas muito admirada e festejada pelos senhores élficos antigos. Ele podia gerar uma criança dentro de si.

Não se sabia muito sobre essa condição, por isso acreditava-se em um dom divino entregue pelo Valar de tempos em tempo aos primeiros nascidos.
Em todos os povos élficos existentes atualmente na Terra Média, o único elfo masculino com essa capacidade conhecido era Legolas.

Logo que soubera dessa dádiva de seu filho, Thranduil reuniu o conselho dos senhores élfico para dar as notícias, e por ocasião optou por selar o acordo de casamento com Lothlórien.

Por esse acordo estava definido que Legolas deveria estar completamente intocado e inocente dos assuntos da carne quando fosse desposado, após completar a idade élfica adulta de 500 anos. Sua conduta devia ser impecável e servil. E ele devia ser um consorte carinhoso e submisso, bem como dar pelo menos dois herdeiros homens fortes e saudáveis a seu marido.
Porem o príncipe era tudo menos submisso e servil. Legolas tinha um gênio difícil, por vezes arrogante e mimado, teimoso como só ele era, tinha problemas em cumprir ordens e um talento nato para atrair problemas.  Nada entendia de ser um consorte dedicado, preferindo estar cercado de soldados se aventurando nos perigos da floresta.

 

– Será que o senhor e seu conselho não percebem que não me encaixo nessa posição? – o jovem príncipe estava magoado. Como seu pai poderia ser tão obtuso?

– Mas é claro que percebemos. Você não tem a atitude que um príncipe precisa ter, pelo contrário, mais parece um elfo sem berço. Sua falta de decoro me incomoda bastante, nem parece meu filho. – desabafou o rei querendo dar um basta na conversa, afinal o casamento não estava em discussão. Era um fato.

– E eu preferia não ser um príncipe e muito menos seu filho!? – disse Legolas.

– Tão pouco você não é o filho que eu desejava. – Thranduil falou cansado. Estava farto dessas brigas.

– Você me culpa pela morte dela. – disse Legolas agora com lágrimas escorrendo pelo rosto.

– Chega Legolas! Eu não quero mais ouvir suas lamúrias infantis – Thranduil disse ferozmente. – Você vai seguir seu propósito por Mirkwood! E Agora suma da minha frente! – completou furioso.

– Então esse é meu propósito? Ser nada menos que uma prostituta de Lothlórien!? – dando as costas ao rei Legolas deixou a sala do trono.

– Volte aqui! – Thranduil gritou sem ser atendido pelo filho. Legolas estava rebelde demais. Como ele ousava tratar seu pai e rei de forma tão desrespeitosa? Ele nunca agira assim antes.

***~*~***

 

Legolas havia deixado seu pai falando sozinho. Sabia que dessa vez havia passado dos limites. Nunca antes erguera a voz dessa forma para Thranduil, mas agora estava no limite de seu autocontrole. Ele empurrou as portas com raiva só para esbarrar com um estranho grupo encabeçado por um dos assessores de seu pai, um elfo que Legolas desprezava com toda sua força.

Kethemar lhe sorriu falsamente. Ele odiou Legolas desde o dia de seu nascimento fatídico e esse sentimento só cresceu nesses quase 500 anos.

O Kethemar era um dos mais jovens assessores do rei, e um defensor nato de que o príncipe precisava de limites urgentemente. Ele e o grupo de homens quase foram derrubados pela fúria de Legolas ao passar pelas portas.

– Pelo Valar. Por onde andam os bons modos de um príncipe?  – o conselheiro falou debochadamente.  Seu olhar mostrava o quanto desaprovava a rebeldia do jovem. Eles se encararam com ódio por um breve momento. Os homens olhavam de um para o outro sem entender o que conversavam, pois falavam em sua língua nativa.

– Saía do meu caminho. Sei que envenena meu pai contra mim. – Legolas o acusou.

– Alguém tem que lhe impor algum limite, meu príncipe arrogante. – o outro rosnou, mas sempre com o sorrido desagradável no rosto. – Oh, Legolas, Legolas... Sempre o mesmo elfling mimando. Pergunto-me quando você vai crescer. Está na hora de aceitar seu destino...

– Eu me recuso a aceitar essa loucura. – cortou o loiro chateado.

– É evidente, pois não pensa no reino e muito menos em seu pai. Seu egoísmo e arrogância lhe tornam imaturo demais. – agora Kethemar mudou rosnou em ódio profundo e seus olhos  amendoados se esbulharam num brilho que assustou o príncipe. – Sua recusa absurda de cumprir o fardo que o Valar lhe deu me faz doente toda vez que coloco meus olhos em você, Greenleaf.

– Você me odeia. – Legolas recuou um pouco sentindo o ódio direcionado a si.

– Eu acredito que você não merece ser um príncipe de Mirkwood, não merece o dom que tem e muito menos ser filho de alguém tão digno quanto Thranduil. – falou com tamanho desprezo.

Legolas respirou fundo. A relação entre ele e aquele assessor de seu pai sempre fora a pior possível.

E Kethemar o odiava. Sempre Legolas! Ele era o mais belo, o mais desejado, tudo era dele ou para ele. Todas as atenções sempre vinham para ele. Até os pássaros e árvores nos bosques cantavam sua beleza. Como odiava essa predileção que o mundo tinha por aquele elfo loiro.

O príncipe ergueu o queixo com superioridade e lhe dando um último olhar gelado se retirou graciosamente.

– Porque não morre comido pelas aranhas, Legolas Greenleaf? – ele praguejou para si.

– Quem era ele!? – o homem perguntou com interesse. Nunca havia posto os olhos em elfo tão belo como esse loiro que acabara de partir.

– Príncipe Legolas Thranduillion. O príncipe de Mirkwood.  – o elfo gemeu com desgosto. – Agora vamos! Meu rei é um senhor élfico muito ocupado. – ele escoltou o grupo para ver o rei.

 

 Na sala do trono o rei se viu surpreso. – Kethemar. Qual o significado disso? – Thranduil estava chateado quando seu assessor entrou com o grupo de homens.

– Eles invadiram a floresta hoje mais cedo, majestade. Dizendo que só iam embora se tivessem uma audiência em vossa presença. Ameaçamos os trancar em nossos calabouços se não saíssem, mas ainda assim não arredaram pé de nosso território. Só os trouxe porque entendi a urgência desse encontro. – falou Kethemar submisso.

– Pois bem. – o rei apaziguou. – Paz, meu amigo. Tive um encontro absurdo com Legolas que me perturbou severamente. – explicou por fim o rei em tom cansado.

– Vosso filho há muito lhe perdeu o respeito e eu bem lhe aviso há séculos que ele precisa de limites. Mas... – o servo iniciou, porem o rei ergueu a mão indicando que parasse.

– Legolas é assunto meu e lhe asseguro que darei um jeito. Agora tratemos de ter com esses homens.  – o rei falou dando atenção aos três homens de pé diante dele.

 

***~*~***

 

Legolas estava trêmulo quando chegou à sacada do palácio. Ele respirou fundo algumas vezes, a brisa do anoitecer soprou seus cabelos loiros. Estava tão infeliz. Logo completaria a maioridade e seria obrigado a casar com um elfo que não conhecia. Perdido em seus próprios pensamentos ele não notou que era observado.

Três jovens humanos aguardavam o retorno dos demais. Um deles era Minel, filho de Lumir e irmão de Amorel. Ele olhou para cima quando a brisa correu pelos vales da floresta e o que viu o fez esquecer-se de respirar. Foi como se o tempo parasse e tudo a sua volta congelasse, tamanho foi o seu encantamento. Nunca em toda sua vida havia posto os olhos em alguém tão bonito. No entanto, ali estava aquela criatura etérea diante de si.
Os demais humanos acompanharam seu olhar e suspiraram em surpresa vendo aquele elfo loiro parado a contemplar a vista.

 

Na sacada um dos guardas se aproximou do príncipe. – Alteza? – ele chamou baixo tocando delicadamente o ombro magro. – Está tudo bem? – seu rosto tomou uma expressão preocupada. O príncipe estava chorando

– Não.  – Legolas respondeu num sussurro e lágrimas cristalinas derramavam de seus olhos.

– Alteza... – o guarda sentiu o coração apertar. – Oh, meu príncipe. – ele não soube o que falar.

– Deixe-me, por favor, Lenduthril.  – Legolas manteve o tom triste e sussurrado enquanto tentou caminhar para longe do soldado. Porem esse tomou se braço com urgência.

– Sinto muito, meu príncipe. Mas vossa alteza não pode deixar o interior do palácio. Seu pai deu ordens.

Legolas recuou e se encolheu afastando do toque possessivo. – Não vou longe, só até a minha árvore. Por favor! – era isso então? Havia se tornado um prisioneiro às paredes de pedra e madeira do palácio?

Por favor? O príncipe Legolas Greenleaf em toda sua glória e beleza estava tristemente implorando a um guarda para tomar um pouco de ar no pátio? As coisas estavam erradas, pensou o elfo chamado Lenduthril. Não seria ele a impedir tão belo ser de caminhar livremente pela floresta que era seu lar. Não lhe parecia correto colocar mais angústia naqueles olhos azuis e assentiu com a cabeça levemente retornando a seu posto.

 

Já Minel viu quando o elfo se afastou e se antecipou atrás dele ignorando os pedidos de seus amigos para que não seguisse a criatura élfica posto que não se metesse em problemas, mas ele simplesmente ignorou.

 

Legolas caminhou pouco, o que ele chamava de sua árvore era um imenso Cipreste com mais de nove mil anos de idade que em tempos emprestara seus galhos grossos como pontes para muitos cômodos do palácio. Tal árvore se encantara com o pequeno príncipe desde a primeira vez que o viu e cantava aos ventos que desde seus longos anos sobre aquela terra jamais havia visto tamanha graça e beleza e de pronto acolheu o elfling em sua mais alta estima.  Por seguinte, o elfo se sentia extremamente protegido estando nos galhos daquele velho Cipreste, indo até lá quando precisava ficar sozinho.
Ali ele se sentou tristemente entre as raízes permitindo que as lágrimas caíssem livremente.

 

Minel se aproximou cuidadosamente, mas o elfo já o havia notado. – Quem é você? – perguntou Legolas surpreso.

– Sou Minel. Vim com os humanos ver o rei Thranduil. – falou o homem jovem.

– Humanos? Você é um humano? – Legolas o estudou interessado reparando como sua pele era bronzeada num contraste com os olhos claros, os cabelos grossos e escuros caíam levemente pelo rosto. A barba que dava um tom másculo. O corpo era musculoso e coberto de cabelos. Legolas decidiu que ele era definitivamente bonito, de uma forma diferente dos elfos, mas bonito.

– Sou. E você? O que é? – o humano também o olhava interessado.

– Eu? – o loiro piscou limpando as lágrimas. – Eu sou um elfo. – disse simplesmente.

– Oh! – Minel sorriu sem jeito. – É que eu não vi muitos elfos em minha vida, na verdade, é a primeira vez que converso com um.  E você é diferente dos outros. – falou como um bobo.

– Diferente? – Legolas ergueu uma sobrancelha. – Não me pareço com um elfo? – perguntou confuso.

Minel se atrapalhou com as palavras de tão nervoso. Sua garganta estava seca e seu coração palpitava. Nunca se sentira assim. – Oh! Sim. Parece... É que... Eu nunca vi um tão bonito... – e a surpresa o tomou de assalto quando ouviu o som do riso melodioso de Legolas e seu coração se encheu de encanto e ternura.

– Pois, sim humano. Acaba de dizer que não viu muitos elfos de perto. – disse o elfo sorrindo.

Minel também sorriu. Ao longo de muitos anos ouvira os mais velhos descrevendo os elfos como criaturas orgulhosas e frias, no entanto, cá estava ele achando fácil o contanto com tal raça justa. Ao menos aquele elfo loiro era doce e amistoso.

– Uma criatura como você não devia chorar. – o humano se viu dizendo tolamente.

Legolas piscou sem entender. –Todos os elfos tem a capacidade de chorar. Humanos não?

Minel sorriu. – Sim. Humanos choram quando estão tristes.

– Elfos também. – Legolas falou e uma expressão de pesar tomou seu rosto, mas a surpresa de ser tocado tão suavemente o tirou desse transe. O humano havia se aproximado e tocado seu rosto de uma forma tão carinhosa que o elfo suspirou cerrando os belos olhos, sentindo-se confortado por aquele ato simples, mas há tanto ele necessitava.

 

***~*~***

 



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