Era dia 01 de Fevereiro, uma quinta-feira. As pessoas eram acordadas com os sons dos pássaros que voavam juntos aos montes.
Aquele dia era conhecido entre os alunos como, “volta às aulas”, odiado por muitos.
As ruas se enchiam de carros, em meio ao trânsito, os jovens desciam de seus veículos e corriam em direção ao Colégio. Os grandes portões se estendiam até o final do quarteirão, aquele era o padrão de elite do Colégio São Luís. A área do campus era ocupada por dois grandes prédios de 5 andares, possuíam ginásios poliesportivas e piscinas olímpicas. Considerada a melhor instituição de ensino do Brasil.
Dentre a multidão de alunos que se formava na entrada do colégio, um garoto se destacava. Sua aparência indicava ter 15 anos, mas sua altura de longos 1,95 metros, o faziam parecer mais velho.
O garoto caminhava sobre a calçada chutando latas e sacos de lixo que ali estavam, enquanto resmungava para si mesmo.
- Tsc! Que tipo de colégio obriga os alunos a acordarem 05:50 da manhã!?
Logo atrás dele, uma garota corria.
- ME ESPERA RAFAEEEL...
A garota de cabelos loiros, cumpridos e ondulados corria de forma desengonçada, por ter apenas 1,68 metros de altura, seus passos não conseguiam acompanhar o amigo.
- Vêm logo Gabriela, a gente ainda vai ter que subir cinco lances de escada! – disse Rafael, esfregando as mãos em seus olhos.
Do outro lado do quarteirão, um jovem garoto caminhava solitariamente. Sua única companhia eram os fones de ouvido que ficavam escondidos entre seus cabelos loiros. Com 1,64 metros, carregava uma grande mochila, que aparentava ser grande de mais para ele.
Conforme se aproximava do colégio, um garoto dentro de um círculo de amigos o chamou.
- Junte-se a nós Leonardo.
Como estava com fones de ouvido não o ouviu, mas se juntou ao garotos. Tirou um dos fones para poder acompanhar a conversa.
- Estávamos falando sobre o que fizemos nessas férias. O que fez?
- Nada de mais, apenas um curso de WordPress Avançado. – Respondeu Leonardo, observando a multidão a sua volta – E você Carlos?
- Ahhh meu pai me enviou para fazer intercâmbio na França...
- França? Nada mal.
- Até seria, se eu já não tivesse ido para lá umas 10 vezes.
Antes que pudessem terminar o bate-papo de reencontro, o sinal tocou, indicando que os alunos deveriam ir para suas salas.
Em meio aquele amontoado de alunos que andavam como zumbis em direção às salas de aula, o olhar vago de dois jovens se cruzou, os olhos negros de Rafael eram afiados e ágeis, como uma Raposa, já os olhos azuis de Leonardo, eram tranquilos e astutos, como uma Lebre. Para ambos aquele olhar que durou segundos, havia parado o tempo. Logo em seguida ambos seguiram para corredores opostos.
Quando os relógios marcavam 06:10 da manhã, todos os alunos já estavam em suas respectivas salas. Rafael e Gabriela eram novos no colégio e por serem amigos de infância, foram colocados na mesma sala. Por sua altura, optou por sentar na última carteira ao lado da janela, já sua amiga não teve muita escolha e acabou sentando na primeira carteira do meio.
Estavam no 1° ano do Ensino Médio, turma "C".
- João, você não vai sentar atrás não! Pode pegando suas coisas e vir direto para a primeira fileira. - Ordenava o professor, já fazendo o mapeamento.
- Ah professor, eu prometo que esse ano eu vou me comportar...
Não demorou muito para Rafael se estender sobre a mesa e tirar um cochilo.
Do outro lado do corredor, estava a turma "A", a sala de elite, composta pelos melhores alunos do 1° ano. As turmas servem para separar os melhores dos piores alunos.
Leonardo se sentava na terceira fileira, no centro da sala. Os cálculos na lousa, indicavam ser aula de matemática. Leonardo por sua vez, estava quieto com os fones de ouvido enquanto tentava ler um livro de biologia.
Não importa o quanto tentasse, não conseguia se concentrar, sua cabeça cheia de pensamentos só o fazia visualizar o garoto que havia trocado olhares na entrada.
“Nunca o vi por aqui, deve ser novo...” – pensou Leonardo, enquanto fechava o livro.
09:20 o sinal toca, dessa vez indicando estar na hora do recreio. Os corredores vazios, logo são lotados pelos alunos que correm em direção ao pátio.
- Você dormiu nas três primeiras aulas e hoje é O PRIMEIRO DIA DE AULA! – gritava Gabriela, brigando com Rafael.
- Mas é claro, estava cansado... – respondeu Rafael sem a menor preocupação.
Chegando ao pátio, Gabriela foi para a lanchonete e pediu para que Rafael a esperasse, entediado decidiu dar uma volta para conhecer a estrutura do colégio.
Rafael nunca havia estudado em um colégio tão grande e quando percebeu já estava em uma área bem isolada, aproveitou para ver como era o ginásio poliesportivo.
Quando se preparava para abrir as portas pesadas de ferro do ginásio, uma pequeno reflexo o fez olhar para trás, seu corpo se arrepiou inteiro ao ver que no topo de uma escada, Leonardo o observava.
- Aquele garoto de novo!? – sussurrou Rafael. - EEEEEI!!!
Leonardo não respondeu, apenas virou-se e continuou caminhando até entrar dentro de uma sala, um tanto discreta.
Rafael curioso, correu em direção ao garoto que nem conhecia, pulava a escada de dois em dois degraus. Quando percebeu já estava em frente a porta, abriu a porta com delicadeza, como se estivesse abrindo um cofre.
A sala era enorme, possuía várias estantes repletas dos mais diversos livros, alguns de ficção e muitos didáticos. Logo Rafael se tocou de que estava na biblioteca.
- Eu gosto daqui, raramente outras pessoas vem até a biblioteca. – disse Leonardo, sentado no canto de uma das mesas enquanto desfrutava a leitura de um livro.
Rafael sem fazer cerimônias se aproximou de Leonardo.
- O que está lendo? – Perguntou Rafael, puxando o livro para sua direção, sem nem ao menos pedir – Isso é o livro de Biologia do Terceiro Colegial?
- Sim...
- Caralho que coisa de nerd... – falou Rafael sem pensar, quando se deu conta de que disse em voz alta, suas bochechas ficaram avermelhadas – quero dizer, não tem nada de errado em ser nerd, né?
Rafael tentava se retratar, mas quanto mais falava, mais se enrolava. Leonardo que até o momento estava sério, deixou escapar uma leve risada. Quando perceberam estavam rindo enquanto se olhavam. Aquele silêncio tão íntimo foi rompido com o segundo sinal, eram 09:40, estava na hora de voltar à aula.
Na sala da turma 1°C, Gabriela esperava zangada por Rafael.
- Onde é que o senhor estava, hein?
- Tinha dado uma volta para conhecer o colégio...
- Uma ova. Deveria ter me esperado, hunf! – Gabriela falava com a cabeça baixa – até porque sou sua única amiga aqui.
Rafael sabia que não adiantaria nada retrucar com ela, já a conhecia muito bem. Colocou a mão sobre a pequena amiga, fazendo um leve cafuné.
Os alunos em volta, sem saber o que estava acontecendo começaram a sussurrar entre eles, “São namorados?”, “Que inveja desse cara!”, “Formam um casal tão fofo...”.
Na turma 1°A, todos os alunos já estavam sentados, esperando pelo próximo professor. Leonardo sorria olhando para o nada. Carlos que sentava ao seu lado, percebeu que o amigo estava diferente.
- Estava na biblioteca estudando? – Perguntou Carlos, tentando puxar assunto.
- Hãn? Ah, sim. Só me sinto a vontade lá. – respondeu Leonardo tentando conter o sorriso.
- Você é mesmo incrível háhá! É por isso que não consigo tirar notas tão boas quanto às suas.
- Carlos, você é tão esperto quanto eu, perde para mim por muito pouco sem precisar estudar tanto. Irá me superar logo.
Leonardo sorria para Carlos, que surpreendido pelo doce e carismático sorriso, fica levemente corado. Virou-se rapidamente para frente, tentando esconder a vergonha.
As horas foram passando, tanto Leonardo quanto Rafael, não conseguiam pensar em outra coisa além do ocorrido na biblioteca. Logo quando mais nenhum aluno suportava encher a cabeça de conhecimento, o último sinal tocou, indicando que estava na hora de irem para casa.
Novamente os portões de entrada ficaram cheios, os carros dos pais dos alunos lotavam a rua. Leonardo chegou à saída rapidamente, mas algo o fez esperar.
Enquanto ficava ali parado, esperando o tempo passar, acabou escutando a conversa de duas garotas do 1°C.
- Logo quando entra um garoto bonito na sala, ele já tem namorada. É muita injustiça.
- Nem me diga. Apesar de serem até fofinhos juntos.
O sorriso que carismático logo desapareceu, sobrando apenas aquela expressão séria de antes. Cansado de esperar, Leonardo seguiu seu caminho.
Segundos depois Rafael chega aos portões, olhou em volta como se procurasse alguém, até ver Leonardo caminhando solitariamente pelo quarteirão. Rafael ficou parado esperando, tinha certeza que algo faria com que o garoto de cabelos dourados olhasse para trás, mas não ocorreu, Leonardo virou a esquina saindo do seu raio de visão.
- Até amanhã... – sussurrou Rafael, para si mesmo, enquanto caminhava em direção à sua casa acompanhado de sua amiga.
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