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História A Rosa e o Punhal (fanfic Lady Dimitrescu e Donna) - CAPÍTULO I - Longe de Casa


Escrita por: Soran_Sommer

Notas do Autor


Olá, pessoas!

Esta fic escrevi depois de ficar eras procurando histórias da Lady D. com a Donna. Não encontrei praticamente NADA, nem em Português, nem Inglês. Eu shippo demais as duas, principalmente pelos contrastes e peculiaridades das duas. Acho que seriam um casalzão da poha. Não sou fã de incesto, que fique bem claro. No contexto da minha história, a Miranda e os 4 Lordes não tem vínculo familiar (nem sanguíneo nem afetivo), então ninguém se vê, até segundas ordens, como "irmãos". Portanto, não há nenhum empecilho, nesse sentido, em parear Alcina com a Donna. Alcina e as filhas mantem-se canon, com relação afetiva mãe x filhas.

Observações: 1. Esta história foi construída à partir de uma bendita capa de CD de jazz com o título "Miss D. & the Pallboys". Fiquei alucinada em imaginar a Alcina Dimitrescu como cantora de jazz antes da mutação; 2. A história se iniciará em 1920 e poucos, logo, toda a ambientação, contextualização e linguagem procurei manter fiel à época. Haverá uma evolução cronológica dos fatos, até chegarmos nos dias atuais, 2021, portanto, a linguagem/ambientação/contextualização evoluirão conjuntamente.

Um agradecimento especial à minha querida @arwen_nyah, uma das minhas escritoras favoritas (chequem a maravilhosa história dela da Lady Dimitrescu chamada Belas Criaturas! Vale muito à pena a leitura). Ela me incentivou a escrever, me ajudou com ideias, fez minha capa e me ajudou numa porção de coisas. Gratidão eterna à você, querida! <3

Esta é minha primeira vez escrevendo fanfic, então sejam bonzinh@s, pleaseeee hehe

Se gostarem, por favor FAVORITEM e COMENTEM. Isso vai me motivar bastante e ajudar a melhorar. Procurarei postar os capítulos 1x por semana. E sim, são capítulos longos, hehe.

Grata por lerem até aqui e boa leitura! <3

Capítulo 1 - CAPÍTULO I - Longe de Casa


Fanfic / Fanfiction A Rosa e o Punhal (fanfic Lady Dimitrescu e Donna) - CAPÍTULO I - Longe de Casa

CAPÍTULO I – Longe de Casa

Nova Orleans, Estados Unidos da América, 1924.

“Cuidado com esse baú! Apenas um item do seu interior vale mais do que um ano de salário de qualquer um de vocês!” – Exclamou a mulher, bufando impaciente com a falta de atenção dos carregadores.

Grande parte de seu incômodo e irritação vinha do cansaço, pois afinal havia acabado de fazer uma viagem de trem de mais de 10h, sem paradas.

“Não se preocupe, querida! O show de hoje será perfeito, como todos os outros! Os fãs estão em polvorosa para enfim verem de perto Miss D. e seus Pallboys!” – Se manifestou o homem alto e esguio, beirando seus 30 e poucos anos, enquanto se aproximava, sabendo da real preocupação por trás do humor instável da mulher. 

“Você é a grande Alcina Dimitrescu, não se esqueça disso.” – Disse plantando um beijo em seu pescoço, enquanto enlaçava sua cintura por trás, sentindo a mulher relaxar em seus braços gradualmente.

“Você é um sedutor sem remédio, James! Sabe precisamente as palavras corretas para acalmar meu ânimo.” – Falou sorrindo enquanto se virava para olhá-lo. “Não sei o que eu faria sem você.” 

“Bem, a boa notícia é que nunca precisará saber como seria ficar sem mim, pois eu não vou a lugar algum, Milady” – Respondeu em tom brincalhão, dando ênfase à última palavra, em clara referência à origem nobre da noiva. Virou Alcina para que ficasse de frente para ele e depositou beijos lentos em seus lábios, pescoço e colo, os quais foram bem recebidos pela mulher, que suspirou em resposta.

“Que tal nos instalarmos imediatamente no hotel, querida? Dessa feita damos continuidade ao que começamos...” – Sorriu de maneira lasciva, percebendo o desejo crescente nos olhos de sua prometida, a qual tão-somente lhe acenou afirmativamente com a cabeça, sem romper o contato visual.

“E hoje, minha doce Alcina, tenho uma surpresa que certamente será deveras agradável.”

“O que é?” – perguntou curiosa.

“Não posso contar, senão não seria surpresa, não é mesmo? Mas garanto que estará à altura das mais exigentes expectativas. Depois do show... depois do show.”

O show daquela noite seria o maior da carreira de Alcina até então, por isso tamanha ansiedade para que tudo corresse de forma impecável. Ela estava mais do que ciente de como a mídia funcionava; um mero deslize poderia desmoronar até a mais sólida das carreiras, principalmente no ramo musical, portanto nada mais sensato que manter-se às graças dos tabloides.

Com apenas 20 anos de idade já era considerada uma das maiores lendas do jazz Americano, acumulando uma série de hits de sucesso e fãs apaixonados; possuidora de uma beleza clássica, exuberante e exótica, além de uma postura graciosa ao mesmo tempo que imponente, Alcina era detentora de um magnetismo capaz de conquistar o mais desafiador dos críticos. Sedutora nata, tinha por seu maior vício o flerte, além de adorar debates calorosos sobre os temas mais variados possíveis, de preferência os polêmicos. Detestava a rotina, a bajulação barata, o comum e o mesquinho. Intensa e curiosa, era amante das aventuras e emoções arrebatadoras. Se havia uma só palavra para a representar seria esta: intensidade.

Ao contrário do que muitos acreditavam, não era nativamente Norte Americana, tendo nascido em uma pequena vila medieval nas montanhas dos Cárpatos, próximo à Bucareste, na Romênia. Descendente de uma antiquíssima família nobre de origem Romena e Húngara, foi criada trilíngue, em Inglês e nos idiomas nativos de seus ancestrais, com o intuito de que conseguisse se comunicar habilmente caso precisasse, em algum momento futuro, administrar o negócio de seus antepassados. Filha única de Ferenk Dimitrescu e Nicoletta Dimitrescu, se mudou para Nova Orleans com seus pais em 1910, por decisão de Ferenk, devido a uma promessa de possível cura para sua esposa, a qual era acometida por uma gravíssima doença sanguínea hereditária. Para o infortúnio da família, Nicoletta morreu pouco tempo após pisarem em terras Americanas, deixando Alcina órfã de mãe com apenas seis anos de idade. Foi criada sob o pulso firme de seu pai, um importante e rígido homem de negócios, e sua governanta, a maquiavélica e controladora Úrsula. 

O principal meio de subsistência da família, além da negociação imobiliária, era a vinícola anexa Castelo Dimitrescu, uma construção familiar do século XVI, situada na região mais fria e inóspita da Romênia: as montanhas dos Cárpatos. Eram conhecidos mundialmente por seus saborosos vinhos, sendo o Sanguis Virginis notoriamente o mais aclamado dentre as safras; parte de seu sucesso era devido aos mistérios que envolviam e envolvem até hoje sua fabricação, não se sabendo ao certo qual o “ingrediente secreto” misturado junto ao seu mosto. Lendas locais espalharam o credo de que a família Dimitrescu não possuía nenhum traço de humanidade, com um extenso histórico de nobres arrogantes, sádicos e torturadores na genealogia; chegou-se até a afirmar que o tal ingrediente seria sangue de virgens locais, obtido após incessantes sessões de brutalidade dentro das paredes do lúgubre e antigo Castelo.

O peso da fama era um fardo difícil de administrar, aliado à imensa carga e responsabilidade de ser de uma família nobre tão proeminente como os Dimitrescu; sendo filha única e, na ausência de um filho varão, seu pai a criou de forma rígida e autoritária, a preparando desde pequena para entender sobre a natureza dos negócios, finanças, administração, política, e outros temas que eram exclusivos da parcela masculina da sociedade. Por sua natureza curiosa e inquieta, Alcina adorava ler, conhecer e entender, devorando todas as informações que o pai e os livros lhe forneciam; gostava de poder conhecer assuntos de “ambos os mundos”; acreditava que era felizarda e agraciada, superior a outras ladies como ela, aliás, não era incomum pegar-se a pensar se havia realmente outras mulheres como ela ou se era a única de “sua espécie”.

Em razão da peculiaridade de sua natureza era extremamente difícil de se relacionar, especialmente entre seus iguais aristocratas, os quais pareciam defender ferrenhamente os papeis, características e funções de cada sexo, como se divinamente predestinados; a apreciavam e respeitavam em razão do seu pomposo nome e beleza, porém, quando se aventurava em temas distintos daqueles reservados “a damas”, como pintura, bordado, piano ou amenidades do lar, não pareciam ser tão condescendentes. Recorda-se que, certa vez, em meio a uma reunião de chá e carteado, quase escandalizou os presentes quando pôs-se a defender a igualdade de gênero na sociedade, principalmente em profissões.

Foi nesse episódio específico que conheceu James. Lembra-se muito bem como o rapaz bem apessoado se destacou entre a multidão lhe defendendo prontamente contra os ataques vis das “rapinas” ao seu redor. Desde então sentiu que poderia sempre contar com quem seria futuramente seu fiel escudeiro, amigo, noivo, amante, e também agente musical. James não era de família nobre, nem endinheirado, porém conhecia muitas pessoas, das mais comuns às mais influentes. Buscava marcar presença em eventos da alta sociedade, principalmente as reuniões de carteado e os bailes, onde surgia sempre impecável. Era um moço de seus quase 30 anos, alto, esbelto, que mostrava cuidar muito bem de sua aparência; tinha cabelos loiro-escuros bem assentados com brilhantina, bigode volumoso, de terno alinhado, gravata borboleta, sapatos pretos lustrosos, chapéu coco e sempre carregando um relógio de prata antigo no bolso de seu colete de cetim; muito educado, com boas maneiras e de linguajar rebuscado, não era raro ser confundido com alguém da nobreza. 

 

*Flashback *

 

O intervalo do carteado enfim chegou, ao que Alcina pôs-se de pé e se dirigiu à sacada do casarão colonial onde se encontrava. Estava tão absorta em seus pensamentos que não notou que James a seguia.

“Enfim o suplício chegou ao fim!” – Pensou consigo, revirando os olhos.

“Nada como o alívio após uma maçante sessão de tortura, não é mesmo?” – Falou divertidamente o jovem.

“Deveras! Creio que não suportaria mais um minuto sequer dentro daquele salão. Aliás, muito grata por ter se levantado a meu favor. É a primeira vez que fazem isso por mim.”

“Fiz o que qualquer cavalheiro em meu lugar faria. Não podia deixar aquelas aves de rapina se aproveitarem de tão formosa donzela. Além do mais, compactuo de grande parcela de sua fala sobre equiparação de gêneros. Me chamo James. James Theodore Smith. E a sua graça, se me permite saber?”

“Alcina Dimitrescu.” – Respondeu com um sorriso, prontamente correspondido.

“O que me diz se a convidar para um café? Desta feita podemos continuar nossa promissora conversa em um local mais agradável.” – Propôs, mantendo sempre o contato visual.

“Creio ser uma ótima ideia, porém recuso educadamente o café. Que tal algo mais, digamos, encorpado, como um drink, por exemplo?” – Replicou desafiadora.

“Formosa, interessante e ousada! A Senhorita é deveras um mar de surpresas. Feliz aquele que conseguir adentrar em suas águas e desvendar seus mistérios...” – Disse galanteador e intrigado. “Pois bem, aceito! Vamos?”

“Sim, apenas deixe-me apanhar meu sobretudo e minha echarpe”.

James ofereceu o braço à donzela, que prontamente o aceitou, a conduzindo para fora do casarão. Após breves instantes se despedindo dos presentes, com sorrisos dissimulados, etiqueta, gestual e postura impecáveis, chegaram na saída. O jovem abriu a porta de seu Ford T preto, ajudando Alcina a subir no carro.

“Belo veículo.” – Elogiou.

“Pressinto que o conceito tido por ‘belo’ foi reformulado após conhecê-la, Milady. A Senhorita Condessa está acima dele, indubitavelmente; aquilo que é considerado belo transforma-se em ordinário e empalidece diante da sua presença.”

James observou satisfeito o efeito certeiro de seu galanteio na jovem, a qual desviou o olhar do seu, abaixando a cabeça e corando intensamente as maçãs do rosto. Passou horas, dias, antes de enfim se apresentar oficialmente à Condessa Dimitrescu; a analisou atentamente, parecendo querer absorver cada detalhe de sua persona, assim como um pintor examina e memoriza os elementos da natureza morta à sua frente para enfim retratá-la posteriormente em sua tela em branco, com exatidão. Ele sabia que Alcina era diferente das outras mulheres nobres que havia conhecido em sua curta, mas intensa existência; a bajulação barata não obteria nenhum resultado sobre ela, a não ser enfado e irritação, e consequentemente, causaria distanciamento entre ambos, o que ele não desejava de nenhuma maneira. 

Sendo uma aristocrata, naturalmente que o ego era seu tendão de Aquiles, nisso igual às outras, todavia para chegar até seu ponto fraco e conquistar a Condessa teria que ser extremamente cauteloso e preciso. Alcina era uma mulher de altos padrões, então James deveria utilizar os recursos que fizessem jus a seu patamar. Apostador nato, nada mais satisfatório que um bom desafio, de preferência daqueles de quase impossível resolução, e esse se materializava em sua frente, em Dimitrescu. James iria decifrá-la, conhecê-la à fundo, fazê-la se apaixonar perdidamente por ele e aí, enfim, teria vencido o jogo e obtido seu tão desejado prêmio.

Conduziu o passeio falando sobre amenidades, a fim de que rompesse o silêncio que se instalara abruptamente na jovem mulher, logo após seu elogio certeiro. Após certo tempo, Alcina voltou ao seu estado espirituoso de sempre, interagindo e rindo de suas anedotas.

Foi nesse clima leve e descontraído que chegaram a seu destino, uma espécie de pub com decoração Irlandesa, onde a maioria dos frequentadores eram rapazes brancos boêmios; alguns desses inclusive já se encontravam com o humor alterado, longe de estarem sóbrios, em plenas seis da tarde.

James lançou uma olhadela para a Condessa, com o intuito de garantir que ela não havia se escandalizado com o ambiente e a bebedeira, e se tranquilizou ao perceber que sua expressão ou entusiasmo não mudaram em nada.

Alguns drinks depois, Dry Martini com azeitona para Alcina e Whisky on the Rocks para James, Smith contou que era de origem Irlandesa, tendo ficado órfão ainda pequeno e que fora criado pelo tio, um notável caça-talentos do mundo do entretenimento; aprendeu o ofício do tio desde cedo, resolvendo seguir a mesma ocupação quando crescesse.

A jovem Condessa, por sua vez, sentindo-se muito à vontade para abrir sua vida a ele e querendo retribuir a confiança que o rapaz depositara nela, lhe confidenciou sobre como havia sido difícil sua infância sem a mãe, a criação rígida por parte do pai, a governanta impassível e inflexível, as férias quase que anuais nas quais ia visitar sua terra natal, a Romênia. Também lhe contou que desde pequena era encantada por música e que participava recentemente de uma pequena banda de jazz com quatro integrantes além dela, chamada The Whistlebowers, na qual era a cantora. James pediu para ver o ensaio e Alcina disse que o levaria no próximo, se ele prometesse ficar em silêncio no canto da sala, pois seus companheiros podiam ficar um tanto quanto “rabugentos” com a ideia de receberem visitas em seus momentos de “imersão criativa”.

Na semana seguinte, como combinado, James foi até o local do ensaio, uma espécie de galpão nos subúrbios de Nova Orleans. Lhe espantou que alguém do porte e classe de Alcina frequentasse um lugar como aqueles e mais ainda que se sentisse à vontade entre pessoas comuns e marginalizadas pela sociedade; certamente seria mais natural e aceitável que alguém do contexto social dele frequentasse esse tipo de ambiente e não uma Condessa. 

Os musicistas, em sua grande maioria, eram homens boêmios de parco poder aquisitivo, vistos naqueles tempos como gente baixa, libertina, subversiva e de gostos duvidosos; o jazz, em específico, havia surgido em comunidades Norte-Americanas negras, onde as pessoas “de cor” podiam manifestar seus desgostos, lutas e críticas sociais através da música; todavia, por ser um ritmo melodioso, cadenciado e agradável aos ouvidos, rapidamente caiu no gosto dos brancos. Não levou muito tempo até que grupos formados estritamente por brancos surgisse, por sua vez falando sobre temas diversos e mais “leves”, sobretudo amor e coração partido – afinal quem nunca amou ou teve seu coração ferido por um término de relacionamento, independentemente da cor de sua pele?

Bateu de leve na porta, sem resposta. Resolveu bater mais forte dessa vez, sendo interrompido por um negro corpulento de quase dois metros de altura, que abriu a porta abruptamente e o olhou com a expressão de poucos amigos. 

“Boa tarde, meu bom homem! Por acaso é aqui o local de ensaio dos Whistleblowers? Fui convidado pela graciosa Lady Dimitrescu para assistir ao seu ensaio no dia de hoje.”

“Aqui não tem ensaio algum e não sou um bom homem, muito menos seu. Que tal o Senhor Almofadinha aqui virar meia volta e sair daqui antes que eu perca a paciência e o faça engolir essa cara sonsa goela abaixo, huh?” – Rosmund soltou quase em um rosnado e bateu a porta na cara de James.

O rapaz sentiu seu rosto quente pela recente carga de adrenalina e bateu novamente na porta, resoluto. Não sairia dali assim facilmente, ele não era do tipo que desistia rápido e estava ali a convite; se Alcina estava ali dentro, então ele entraria. Pouco tempo depois ouviu uma conversa indistinta, seguida de passos. Uma figura abriu finalmente a porta e o jovem sorriu aliviado ao perceber que se tratava de Alcina.

“Boa tarde, querido James! Desculpe o Rosmund. Ele não tem muita paciência com desconhecidos. Venha, entre e sinta-se à vontade!” – Disse educadamente, abrindo espaço para que o jovem passasse.

“Tudo bem, minha cara. Tudo não passou de um mal entendido.” – Respondeu calmamente, não deixando transparecer o nervosismo em sua voz, causado pelo ocorrido. Deixou que Alcina guiasse o caminho, a seguindo logo atrás. Lançou um sorrisinho cínico para Rosmund, que ficara plantado próximo à porta como um poste, e percebeu que o homem rosnou em resposta, virando o rosto em seguida.

Reparou no recinto conforme andava; era um galpão não muito largo, mas com o teto bastante alto, que parecia feito de uma espécie de metal e pintado de vermelho; não notou a presença de janelas, apenas poucas claraboias dispostas quase no teto da edificação; quase não havia mobília ou itens no local, a não ser um sofá verde-musgo desbotado, – no qual dois homens estavam sentados e riam sonoramente, intercalando goladas em suas cervejas - uma pequena geladeira de canto e um cabideiro de madeira escura para depositar casacos e chapéus. No centro do galpão, mais ao fundo, encontravam-se os instrumentos musicais da banda: um piano preto-brilhante de cauda, um violoncelo com o tampo de madeira escura fosca, um saxofone dourado e um trompete prateado.

Findado o tour, Alcina fez um sinal para o homem que estava ao piano e para o violoncelista virem até eles; os dois que estavam sentados no sofá também se aproximaram, nunca largando suas cervejas.

“Querido, deixe-me apresentar os melhores músicos que já pisaram em Nova Orleans!” – Disse arrancando sorrisos encabulados de seus colegas.

“O notável Senhor ao piano é Mr. Albert Cook, conhecido como os dedos mais hábeis do Sul dos Estados Unidos!” – Apresentou o primeiro homem gesticulando exageradamente em sua direção, de propósito, o que fez os demais rirem. 

“Não é para tanto, minha cara!” – Sorriu divertidamente, deixando seus dentes amarelados à mostra sob o fino bigode escuro. “Pode me chamar de Al se quiser.” – Complementou o homem de 40 e poucos anos, fazendo um aceno com seu chapéu.

“O homem misterioso que conduz o violoncelo é Mr. Henry Jenkins, também conhecido como Hank.” – Falou se referindo a um ruivo, baixinho, entroncado e com um colete que não fechava no último botão por conta de sua barriga saliente.

“Não há nada de misterioso em minha pessoa, mas é bom para os negócios vender esse tipo de imagem. Muito prazer.” – Disse enquanto acendia um cigarro.

“O boêmio irremediável por trás do trompete é Arthur Campbell, carinhosamente chamado por todos de Artie. Ele é o caçula e mascote da banda.” – Apontou para o rapaz pálido, sardento, esguio, com seus cabelos loiros desengrenados, camisa branca aberta no peito e suspensórios.

“Ei! Não sou mais tão novo assim! Logo completo 18 anos e vocês verão quem é o novato.” – Respondeu com um pouco de birra, provocando risadas instantâneas nos outros.

“O responsável pelo saxofone é Donald White. O homem tem tanta alma que consegue fazer seu saxofone chorar de comoção enquanto arranca as melodias românticas de seu bocal.” – Lançou um sorriso sincero para Donald enquanto os demais concordavam com a cabeça sobre o que havia sido dito. Apesar de White ser um sobrenome Inglês, Donald passaria tranquilamente por Italiano, por conta de seus cabelos e olhos castanhos profundos, rosto fino e comprido e nariz aquilino. 

“É verdade, esse cara é um gênio!” – Reafirmou Hank, dando uma última golada em sua cerveja.

“Muito agradecido, meus queridos camaradas! Fico grato em saber que consigo tocar vossos corações!” – Exclamou fazendo uma reverência exagerada para os amigos. 

“Queria possuir a mesma habilidade para tocar no bolso dos clientes.” – Finalizou rindo sonoramente. “Seja bem-vindo ao quartel general dos Whistleblowers! Os amigos de nossa bela Alcina são nossos amigos!” – Deu um abraço caloroso em James, que retribuiu um pouco sem jeito; acostumado com acenos, gestual e impessoalidade dos ricos, havia esquecido como era o bom e velho calor humano dos mais humildes.

“Agora, por fim, mas não menos importante: o cavalheiro de alta estatura e postura ameaçadora que o recebeu na porta se chama Jerome Rosmund. Ele é fundamental para a existência dos Whistleblowers, pois é nosso compositor e o cérebro nos bastidores. Inclusive a ideia inicial em formar a banda foi dele”. – A Condessa o apresentou com notável carinho na voz.

Smith levou um tempo para aceitar que o brutamontes ranzinza que batera a porta na sua cara fosse o mesmo que compunha músicas sensíveis falando sobre temas profundos do coração. Foi tirado de sua reflexão quando ouviu a voz do homem em questão. 

“Ei, lamento se dei a impressão de querer arrancar sua cabeça fora do corpo, mas não tenho boas memórias com gente do seu tipo. Donald pode ser exagerado, mas ele estava certo em uma coisa: se nossa Miss D. confia em você, não há porquê eu não confiar. Ela é a melhor pessoa aqui entre nós em julgamentos de caráter, então confio nela.” – A expressão de Jerome pareceu suavizar e ele ofereceu a mão para cumprimentar James, que foi aceita.

“Tudo bem, Sr. Rosmund. Não há nenhum sentimento ferido ou ressentimento de minha parte. Me alegro que possamos nos conhecer da maneira apropriada.” – Disse de forma cortês. 

“Sem Senhor, apenas Rosmund. Não há necessidade para tanta formalidade aqui, afinal não passamos de um bando de boêmios suburbanos, com exceção da nossa Lady Dimitrescu, que é a fineza em pessoa.” – Remendou Rosmund.

“Ah, não existe elegância no mundo que sobreviva após quatro doses de Dry Martini, meu caro...” – Riu sonoramente, sendo seguida pelos amigos de banda.

“Por isso é que lhe amamos tanto! Em Alcina temos o melhor dos dois mundos!” – Se pronunciou Artie, enlaçando o braço na cintura da Condessa e acompanhando seu riso.

Mesmo sabendo que não havia firmado nenhum compromisso com Alcina e que o jovem não agia com segundas intenções, Smith não gostou nada da demonstração de afeto por parte de Artie, franzindo o cenho instantaneamente por conta dos ciúmes emergente que não conseguiu evitar.

Acostumada a ler nas entrelinhas e captar pequenos detalhes, Alcina notou o retorno da rigidez na postura de James e resolveu quebrar a tensão que se instaurara abruptamente.

“Bem, já que todos estão devidamente apresentados, que tal mostrarmos ao Senhor Smith que sua vinda não foi em vão? James, querido, há cerveja na geladeira, se quiser, e o sofá é todo seu.” – Dimitrescu finalizou dando um beijo no rosto do jovem, o qual desarmou sua postura de defesa e andou até o frigobar para pegar uma garrafa de cerveja.

“O abridor está pendurado ao lado do frigobar num barbante, caso não consiga abrir com os dentes.” – Brincou Hank, se posicionando atrás do violoncelo.

James sorriu de lado, balançando a cabeça com o comentário, retornando para se sentar no velho sofá e assistir à apresentação. Toda a rigidez que sentira pareceu esvaecer e estava começando a sentir-se à vontade, como se estivesse na sala de estar de um conhecido. Sorriu ao perceber como Alcina era querida pelos colegas, que a tratavam como irmãos. Desde o início sabia que a Condessa era diferente do padrão das mulheres que conhecera e isso muito lhe agradava; a moça era inteligente, articulada, alegre, desinibida, quente, acolhedora e era detentora de um carisma magnético. Certamente isso lhe abriria muitas portas no mundo do entretenimento, conforme já abria com os magnatas da alta sociedade, mas no ramo musical uma rede correta de contatos era primordial para progredir. James sentiu mais vontade ainda de vê-la em ação e comprovar se ela tinha tanto talento em um palco quanto aparentava.

Os Whistleblowers deram início ao ensaio, após Al gritar “três, quatro...” e marcar o ritmo base no piano. Na sequência foi a vez do violoncelo, sax e trompete acompanharem, entrando um por vez e encontrando seu lugar junto à melodia; a voz de Alcina foi a última adição à música, iniciando de uma forma lenta e rouca e se expandindo gradualmente entre o som dos instrumentos, formando uma harmonia perfeita. Todos eram muito talentosos e habilidosos, não havia dúvidas, mas a cereja do bolo era indiscutivelmente Alcina; sua voz era maravilhosa, não somente pela qualidade do timbre, mas porque era profunda, impetuosa, melodiosa, sensual e cheia de sentimento, assim como a dona.

James estava prostrado no sofá, estarrecido e encantado com tudo que via e ouvia, tanto que até se esqueceu de tomar a cerveja que segurava; olhava fixo para a banda, totalmente focado, com medo de que, se piscasse, deixaria escapar algo sublime. 

Depois de executarem cerca de dez músicas, resolveram fazer uma pausa. Alcina foi até o jovem no sofá, enquanto os outros se dirigiram até o frigobar para se servirem de mais algumas bebidas.

“E então, o que achou? Seja sincero, nada menos ou mais que isso, por favor. Um adendo: essas dez primeiras músicas que ouviu são todas autorais, poesia e letras de Jerome e melodias por nossa conta. Tencionamos intercalar dez nossas e dez covers nas apresentações e, futuramente, diminuirmos cada vez mais os covers, adicionando mais autorais; não pretendemos excluí-los por completo, pois bem sabe que as pessoas adoram um clássico.” – Explicou empolgada.

“Minha cara, o que eu vejo à minha frente nada mais é que o mais puro talento! Vocês são como diamantes brutos, de altíssima valia! Se já produzem um som de tamanha qualidade sendo amadores, imaginem o que fariam como alguma lapidação! Com meu auxílio e contatos certamente alcançariam o estrelato em pouquíssimo tempo!” – Falou animado.

“Está seguro, James? Não está dizendo isso apenas cordialmente ou para massagear meu ego?” – Perguntou Alcina, sentando-se ao lado do rapaz.

“Certamente que não! Tão-somente exteriorizo o que ouço e vejo diante de mim. Vocês têm real talento, basta a devida produção e promoção. Confie em mim, minha querida! Deixe-me cuidar de vocês, de você...” – Disse segurando uma das mãos de Alcina, enquanto a outra acariciava seu rosto. Ficou contente ao notar que a mulher cerrou os olhos sob seu toque, como se para se concentrar em senti-lo melhor.

“Confio plenamente em você, James. Desde que nos conhecemos você me inspira segurança, ternura, cuidado... transparece se importar genuinamente com meu bem-estar, como ninguém antes o fez. Eu...”

James não deixou Alcina completar a frase. Capturou seus lábios de um jeito suave, com o cuidado de quem manipula algo de extremo valor. Moveu sua boca calmamente sobre a da donzela, sentindo-a estremecer com o contato. Decidiu por bem não aprofundar mais o beijo, pois além de não ser o local adequado, também não queria assustá-la, afinal esse foi o primeiro beijo que trocaram.

Quando afastou seus lábios dos de Alcina, notou que ela continuou de olhos fechados por mais alguns instantes, até que os abriu e o encarou, com uma expressão serena e apaixonada.

“James... eu...”

“Deixe estar, minha doce donzela, não precisa dizer nada. Vamos seguir e veremos o que nos proporciona o horizonte. O destino é incerto, porém estou seguro de que a quero cada vez mais próxima a mim. Você é muito especial, Alcina. É uma joia rara.” – Falou para a mulher em tom baixo e rouco, quase num sussurro, para que só os dois pudessem ouvir.

Foram interrompidos por um pigarro.

“Detestamos ser um empecilho aos pombinhos, porém hora de voltar ao ensaio, Milady. O dever nos chama.” – Donald se manifestou.

“Depois seguimos, não há pressa. Vá lá e continue a me hipnotizar, meu bem.”

Alcina corou um pouco e sorriu boba, soltando a mão do rapaz e voltando para seu lugar entre os músicos.

Depois de 45 minutos sem mais intervalos o ensaio chegou ao fim. Todos permaneceram no recinto, com exceção de Al, que se despediu e saiu apressadamente para encontrar a família. Foi do conhecimento de James que Al era o único comprometido dentre os membros da banda, tendo esposa e dois filhos pequenos. Os outros homens convidaram James e Alcina para irem a um bar não muito distante dali, com o intuito de comerem algo e tomarem “uns tragos”, ao que James recusou educadamente, pois já tinha outros planos para a noite.

“Tenciono levar esta formosa Lady para jantar, se assim for de seu agrado. Tenho assuntos a tratar com ela.” – Justificou.

“Não era do conhecimento desta Senhorita tais planos, entretanto ela aceita o convite.” – Respondeu Alcina divertidamente.

Despediram-se dos musicistas com apertos de mão e abraços calorosos, e Smith sorriu e agradeceu quando lhe disseram que ele seria bem-vindo ali sempre que desejasse voltar. Se dirigiram até o Ford T e ele estendeu a mão para auxiliar a jovem a subir no veículo.

“Estou grato e aliviado por ele continuar aqui.” – Disse brincando, se referindo ao carro, e riu quando recebeu um leve tapinha no braço em resposta.

“Oh, mas que exagerado! Saiba que esta vizinhança é humilde, porém pacífica. Há mais segurança aqui que em muitos lugares frequentados pela nobreza”. – Defendeu o lugar como se fosse sua casa.

“Pois agora que a Senhorita mencionou, recordo-me de um que se enquadra exatamente nesse quesito... Um casarão amarelo cheio de aves de rapina caçadoras de dotes, para ser mais específico.”

Os dois jovens gargalharam com o comentário irônico de James, enquanto este manobrava o veículo e os conduzia rumo ao destino que tinha planejado. Quando descobriu que Alcina era de origem Romena, prontamente fez uma nota mental para se lembrar de encontrar um restaurante Eslavo e levá-la lá; seguramente isso a agradaria, pois nada melhor que a comida típica para nos transportar de volta às origens e nos proporcionar um gostinho de lar.

Dirigiu cerca de 45 minutos até chegarem no Restaurante Dragostea, decorado com as típicas cores da Romênia: azul, amarelo e vermelho; O cheiro inebriante da Ciorbă podia ser sentido desde a rua e parecia convidar quem estava do lado de fora para entrar. Alcina fechou os olhos por um instante e sorriu saudosamente quando ouviu a música tradicional de sua terra soando desde o interior do restaurante.   

“Amor.”

“O quê?”

Dragostea em Romeno significa ‘amor’.” – Respondeu rindo da expressão confusa do rapaz.

“Ah, sim. Como vê, meu conhecimento de Romeno é nulo. Terá de me ensinar.”

“Certamente, com prazer.” – Sorriu.

Adentraram no restaurante e foram recebidos por um homem já beirando seus 60 anos, de cabelos e bigode cheios e grisalhos, olhos estreitos e fundos, que demonstrava estar muito animado por estarem ali.

Noapte bună! Sejam bem-vindos ao Restaurante Dragostea, um pedacinho da Romênia em terras distantes. Me chamo Dragomir e serei seu humilde servo esta noite.” – Disse carregado de sotaque e com um vigor que quase fez James dar um pulo por conta da voz forte.

“Boa noite e obrigado.” – Respondeu o rapaz, procurando se localizar.

“Grata, Dragomir! Noapte bună significa ‘boa noite’, querido.” – Explicou.

“Mesa para dois?”

“Sim, por favor! Gostaríamos de um lugar próximo à banda, a fim de apreciarmos melhor a música.” – Alcina pediu de forma polida. 

“Certamente! Seus desejos esta noite são uma ordem! Urmați-mă!” 

Alcina e James seguiram o garçom, que os guiava por entre as mesas espremidas e decoradas com toalhas coloridas nos tons típicos Romenos, vez ou outra fazendo pequenas danças e gracejos, enquanto equilibrava a bandeja de prata em sua mão.   

“Aqui estamos! O que desejam comer?” – O garçom perguntou direcionado a James.

“Creio que a escolha ficará por conta da Senhorita. Meu conhecimento acerca de comida Eslava é tão parco quanto falar Grego.” – Sorriu amarelo, sem jeito por se sentir ignorante.

“Bem, tendo em vista que restou a mim tamanha responsabilidade, terei de escolher sabiamente.” – Alcina gracejou. “Por favor, traga-nos uma Ciorbă com pão e queijo Telemea para a entrada; para o prato principal um Mititei com carne ao ponto.”

“Não entendi absolutamente nada do que você pediu, para parece delicioso, Milady.” – James brincou.

“Não se preocupe, Senhor. Garanto que ficará satisfeito com as escolhas da Senhorita. E para beber, o que gostariam?”

“Possuem Sanguis Virginis em sua carta de vinhos?” – A Condessa perguntou.

“Ah! O melhor vinho tinto maturado de toda a Romênia! É muito difícil conseguirmos importá-lo nos dias de hoje, mas temos ainda alguns exemplares. Excelente gosto, muito refinado.” – Elogiou Alcina, que retribuiu com um sorriso.

“Sei com propriedade, meu caro Dragomir. Conheço bem a vinícola de minha família, desde o cultivo da uva no vinhedo até o engarrafamento. É um processo árduo e meticuloso para que o resultado seja entregue com primor.”

“Espere... por um acaso a Senhorita é a Condessa Alcina Dimitrescu?” – Perguntou incrédulo.

“Perspicaz.”

“Oh, mas que honra! É um imenso deleite conhecê-la, Condessa! Sua família é deveras importante para nossa terra e a representa muito bem em solos estrangeiros. Tratei uma Ţuică para os Senhores, por conta da casa!” – Saiu apressado em direção à cozinha, tão feliz como se houvesse ganho na loteria.

O jantar se desenrolou tranquilamente. De quando em quando algum casal levantava das suas mesas e dançava alegremente ao som da música típica Romena tocando ao fundo, com seu ritmo festivo e acelerado. Depois de beberem toda a garrafa de Sanguis Virginis, o qual era um vinho mais encorpado e com teor alcoólico mais elevado que os comuns, ambos já se encontravam mais alegres e soltos, efeito característico do álcool no sistema.

Movido pela coragem que a bebida proporciona e contagiado pelo ambiente, James levantou de supetão e estendeu sua mão à mulher a sua frente, fazendo uma cortesia exagerada.

“Me concederia a honra dessa dança, Condessa?” – Falou sorrindo e fingindo formalidade, como se estivessem em um baile de gala e não em uma cantina.

“Certamente, cavalheiro.” – Devolveu a cortesia e quando se levantou sentiu-se tonta e avoada. Alcina já estava no limiar da sobriedade.

James riu e a segurou, a guiando até a “pista de dança”, onde os demais rodopiavam e se moviam em passadas rápidas e desengonçadas. Logo os dois já seguiam também o mesmo ritmo dos colegas de baile, volta e meia gargalhando e se desculpando por esbarrarem em algum outro casal. Alcina estava realizada; podia repetir essa noite tantas vezes fosse que nunca se enjoaria; Cada vez mais se agradava da companhia do belo rapaz e não queria que isso cessasse; desejava conhecê-lo mais e viver coisas novas com ele; ansiava por mais experiências e sabia de certa forma dentro de si que James as proporcionaria e que não seria de seu feitio julgá-la por algum gosto excêntrico ou prática incomum que porventura possuísse; pelo contrário, James lhe inspirava confiança, liberdade e a deixava com mais vontade ainda de ousar. A Condessa estava se apaixonando.

Depois de dançarem um número incontável de músicas, principalmente dado a seu estado ébrio, resolveram sentar-se e descansar; sentiam o suor escorrendo em suas testas e costas, mas não se importavam, pois estavam tomados pela empolgação do momento.

O jovem retirou um lenço de linho do bolso de seu colete, oferecendo para que Alcina se secasse, logo em seguida o tomando de sua mão e secando a si próprio. Ponderou por um instante e concluiu ser a hora de falar o que queria desde que conhecera a dama; não sabia ao certo como ela iria reagir, mas se nada falasse nunca teria certeza.

“Minha querida, creio ser este o momento hábil para lhe dizer algo... Bem, são dois temas, na verdade, um mais relevante para mim do que o outro, porém ambos com sua devida importância.” – Iniciou seu discurso, captando a atenção de Alcina, que o fitava curiosa.

“Pois bem, à princípio vamos ao mais difícil. Por mais que ensaiemos um discurso previamente, na hora da prática esse se desenvolve totalmente diferente... Bem, creio que irei direto ao ponto, será melhor.” – Falou atrapalhado, deixando a Lady ainda mais confusa.

“Querido, sabe que terá meu apoio independente de qual seja o tema, não sabe? Pode confiar em mim.” – Pousou sua mão sobre a do moço, que pareceu relaxar um pouco.

“Alcina, creio que estou apaixonado por você! Sei que é um tanto quanto recente e parece apressado, mas o que sinto só cresce, cada vez mais. Você é diferente de todas as mulheres que já conheci e não quero deixar tamanha joia preciosa escapar de mim; quando estamos juntos sinto ser a coisa certa e não quero que acabe nunca... sei que você sente o mesmo que eu, consigo notar pela maneira que me olha e reage à minha presença.” - Pegou a mão da Condessa e a segurou entre as suas, olhando bem fundo em seus olhos. “Alcina, quero que seja minha prometida!”

Alcina sorriu de felicidade e sentiu seus olhos marejarem.

“Deveras, James, eu sinto o mesmo! Estava refletindo sobre isso desde que nos conhecemos, sobre o impacto que sua presença provocava em meu âmago e cheguei à conclusão de que estou apaixonada por você. Consigo vislumbrar perfeitamente um futuro ao seu lado e anseio por isso...  Eu aceito, querido!”

James sorriu satisfeito, levou a mão de Alcina até seus lábios e plantou um beijo casto, depois se inclinou até ela e a beijou, como que selando seu compromisso com o ato.   

Acenou para Dragomir e pediu que trouxesse uma garrafa de champanhe, para celebrarem o noivado. O garçom os felicitou e se dirigiu até a cozinha, cochichando algo para os músicos no meio do caminho.

“A banda Dragostea felicita o casal James e Alcina e faz votos de amor, alegria e prosperidade!”

Começaram a tocar uma marchinha nupcial em homenagem ao casal, a qual foi acompanhada pelas palmas dos demais presentes.

Dragomir retornou com o champanhe em uma das mãos e um prato de algo que parecia ser um doce na outra.

“Nada como um Papanaşi para adoçar os futuros caminhos do casal. Com os cumprimentos da casa!” – Colocou o prato com a sobremesa em cima da mesa. “Agora, se me permitem...” – Não esperou resposta e estourou o champanhe imediatamente, cuja rolha voou longe e caiu dentro do prato da mesa à frente, arrancando uma gargalhada do casal.

Seguiram em clima de celebração até que James viu em seu relógio de bolso que já era próximo das 23h. Saíram do restaurante, antes sendo cumprimentados conforme passavam pelas mesas. Dragomir já os aguardava na porta de saída, e os felicitou alegremente mais uma vez, os convidando para voltarem em breve ao local, pois iriam acrescentar uma nova atração “imperdível”: dança típica; o casal riu e prometeu que certamente retornariam.

James deixou a prometida na entrada da mansão em que morava e não se deteve de reparar na propriedade; Alcina vivia em uma construção gigantesca no coração da cidade, a qual era dotada de um misto de arquitetura Vitoriana e colonial. Apesar de querer prolongar a noite, que havia sido maravilhosa e produtiva, acharam por bem se separarem brevemente, visto que provavelmente Úrsula estaria de tocaia os observando para contar no dia seguinte ao pai de Alcina; Ferenk era um cavalheiro à moda antiga, correto e responsável, que prezava pela ordem e respeito, e aquilo não eram horas para uma moça de família estar na rua, especialmente uma donzela.

Se despediram com um beijo breve e um sorriso. James esperou até que a noiva entrasse em casa e, quando viu a luz amarelada esvaecer, partiu.

Achou prudente não visitar Alcina no dia seguinte, para evitar qualquer atrito com o pai dela; ouvira falar muito sobre Ferenk Dimitrescu nas rodas de fofoca que frequentava, pois, aristocratas ou não nada como algumas doses de álcool para fazer as verdades (e as informações) saírem. Sabia que o magnata superprotegia sua única filha e herdeira, não permitindo nenhum pretendente se aproximar da moça, com receio de que caçadores de fortuna se aproveitassem dela e dilapidassem os bens valiosos da família.

Segunda-feira, dois dias após receber o sim de Alcina, foi o dia escolhido por James para visita-la novamente e, se gozasse a ventura de encontrar seu pai em casa, seria a oportunidade de pedir a mão da filha formalmente a Ferenk. Chegou na residência dos Dimitrescu munido de um buquê de rosas vermelhas colhidas frescas e um embrulho colorido contendo Papanaşi, que comprara mais cedo no Dragostea, já que descobrira ser o doce favorito da noiva. Bateu na grande porta de madeira e aguardou um pouco, até que foi atendido pela governanta, Úrsula, com a simpatia de um defunto.

“Vim ver a Senhorita Alcina. Sou James.”

“Sim, já sei. Entre.” – Respondeu seca.

Ao entrar, reparou que a mansão era repleta de itens antigos, desde a tapeçaria até a mobília; parecia mais um antiquário que uma casa propriamente dita. A governanta o guiou sem trocar nenhuma palavra com o jovem, que estava mais interessado em observar tudo a sua volta. Após passarem por uma infinidade de corredores que pareciam todos iguais para o rapaz, enfim chegaram na sala de estar; era gigantesca, suntuosa, ricamente ornada com pinturas à óleo antigas, armaduras medievais, tapeçarias extravagantes, no centro uma mesa de pinho extensa com dois castiçais, no canto direito uma mesinha provavelmente para carteado ou chá, e, no fundo da sala, um grande relógio de pêndulo que ditava ruidosamente o ritmo do tempo. James acreditou que a sala serviria perfeitamente como um salão de baile, se assim desejassem, haja vista que o tamanho era equivalente.

“Espere aqui, a Condessa já desce.” – Resmungou se virando e deixando o jovem sozinho.

Smith revirou os olhos e resolveu ir até a janela fumar um cigarro; ela era grande e alta, então o cheiro da fumaça se dissiparia rapidamente.

Minutos depois Alcina apareceu, trajando um vestido azul royal deslumbrante, que destacava as curvas de seu corpo e decote, porém sem parecer vulgar. James a examinou de cima a baixo e ofertou um sorriso galanteador à prometida, que retribuiu com seus lábios vermelhos bem delineados.

“Muito tempo à minha espera?” – Falou se aproximando.

“Quase nada. Fui entretido pela companhia agradável da Miss Simpatia.” – Respondeu puxando Alcina para perto, que gargalhou com seu comentário.

“Deveras, Úrsula não é conhecida por ser exatamente a mais doce e sutil das criaturas. Aliás, se ela souber que fumou dentro de casa, virará uma gárgula.”

“Bem, creio não faltar muito para isso...” – Riu e recebeu um tapinha de Alcina em seu peito, que também ria, meneando a cabeça como se dissesse que ele não tinha remédio.

“Pois bem, querido, sentemo-nos. Já pedi a Úrsula que preparasse um chá com broas de milho e para você, um café. Acertei?”

“Na mosca!” – Respondeu dando um beijo em Alcina, que correspondeu de imediato.

“E o Conde Ferenk?”

“Papai saiu bem cedo para resolver um trâmite de um imóvel recém adquirido. Disse que voltaria pelas 14h, mas aqui estamos e nada dele.”

“Hum... Gostaria de ter uma palavra com ele ainda hoje, se possível.”

“Posso saber sobre o que seria?” – Perguntou curiosa.

“Claro! Quero oficializar nossa união.” – Acariciou a mão da jovem, que enrubesceu e sorriu de contentamento com o que escutou.

“Minha cara, recorda-se que mencionei no restaurante que queria tratar sobre alguns temas? Por conta dos eventos daquela noite não pude abordá-los por completo, então gostaria de retomá-los.”

“Sim. Sou toda ouvidos.”

“É relativo à banda. Sugiro que o nome seja alterado para Miss D. & os Pallboys. Você é sem sombra de dúvidas a alma daquele grupo, como todos seus colegas bem apontaram verbalmente no ensaio, logo, nada mais acertado que destacá-la no título.”

“Não sei, James... Somos um grupo, uma equipe. Considero cada um deles como os irmãos que nunca tive. Não acho justo que me destaque e eles fiquem em segundo plano.”

“Entendo perfeitamente sua fala, todavia lhe digo com a visão técnica de produtor que o diferencial está em você, não neles. Os músicos, apesar de habilidosos, podem ser substituídos por outros de igual ou superior destreza, agora você... Você é uma joia rara e possui brilho próprio que encanta e cativa os que tem o prazer de ouvi-la e vê-la. Não se prenda a nada nem ninguém, deixe-se voar! Permita-me auxiliá-la em seu voo e lhe prometo que galgará lugares longínquos, inimagináveis. Apenas confie em mim.” – Disse depositando um beijo em sua mão, a acariciando em seguida, em nenhum momento tirando seus olhos dos de Alcina.

“Eu confio plenamente, querido. Está certo, façamos como recomendou.”

“Senhorita, seu pai acaba de regressar.” – Foram interrompidos por Úrsula, que apareceu tão sorrateira quanto uma serpente, sem nenhum dos dois terem percebido sua presença.

“Obrigada, Úrsula. Diga a ele que o estamos aguardando na sala de estar.”

“Sim, Condessa.” – Se retirou mais rápido do que chegou.

“Não era de meu conhecimento que a doce Senhora era discípula de Houdini.” – James deixou escapar em tom zombeteiro, rindo com o próprio comentário.

“James!” – Exclamou, segurando o riso.

“Boa tarde, filha. Ah, boa tarde Senhor Smith, se não estou enganado.” – A voz firme de Ferenk ressoou detrás de James, que se levantou apressadamente e sem jeito para cumprimentá-lo.

“Err... boa tarde, Conde Dimitrescu. É uma honra conhecê-lo!” – Estendeu a mão.

“Então é você o responsável pela mudança súbita de humor da minha filha.” – Aceitou o cumprimento e verbalizou, não aparentando nenhuma animação na voz.

“Bem, Senhor, não sei a que se refere especificamente, mas espero que seja algo positivo.” – Retrucou com insegurança, dando um sorriso amarelo.

“Reparei que Alcina se encontra aérea, nada focada e irritadiça ultimamente, além de sorrir sem razão aparente, principalmente desde a última semana. Pelo que me recordo dos meus tempos de juventude, tais características se adequam ao conceito de paixonite.” – Concluiu analítico.

Alcina não se manifestou e permaneceu em silêncio durante toda a interação entre James e Ferenk. Ela parecia apreensiva, pois conhecia seu pai como ninguém e sabia que, pelo tom de voz áspero, não estava nada contente em ter aquela conversa com o jovem; temia que o Conde negasse o pedido de noivado e que James desistisse da ideia; tal pensamento fez com que um arrepio de nervosismo percorresse sua espinha, sentindo também suas mãos gelarem.   

“Senhor Conde, gostaria de ter uma palavra com o Senhor em privado, se possível.” – Arriscou.

“Pois bem, jovem. Espero que seja breve, pois tenho assuntos importantes a resolver.” – Falou com certa rispidez e fez um gesto apontando que o seguisse.

 Atravessaram uma biblioteca de tamanho considerável mesmo para uma mansão, outros cômodos que se encontravam fechados e subiram alguns lances de escada até chegarem ao escritório de Ferenk, ao final de um extenso corredor.

A decoração se parecia com a que encontrara na sala de estar e o resto da residência, repleta de objetos antigos e de aparência valiosa; a mobília era toda escura, majoritariamente de mogno, e continha papeis ou livros espalhados por suas superfícies; havia cabeças de animais empalhados por todo o aposento, o que conferia um ar assustador e incômodo ao lugar, mas nada se equiparava ao imenso tapete de pele de urso pardo no centro, cuja cabeça havia sido empalhada com uma expressão feroz de ataque, contrastando com seu olhar amedrontado. Mesmo convivendo há tanto tempo com os endinheirados, James ainda não havia se habituado completamente com alguns dos gostos exóticos e peculiares da nobreza; o fascínio por matança e necessidade quase primitiva de exibir a carcaça como troféu visível era indubitavelmente um deles.

Ferenk se sentou comodamente em sua poltrona de couro de encosto alto, o que lhe conferia um ar de realeza e ameaçador; acendeu um charuto caro e tragou algumas vezes, ignorando o jovem em pé à sua frente; fez então um sinal com a mão para que se sentasse, parecendo concentrado no conteúdo do papel que jazia em sua mesa.  James se sentia como um plebeu diante de seu Senhor, prestes a receber sua sentença de morte.

Instantes depois o aristocrata quebrou o silêncio, como se tivesse saído de seu transe e somente agora houvesse notado a presença do rapaz.

“Agradou-lhe meus troféus de caça, rapaz? Precisa ver minha coleção de armas.” – Disse olhando James fixamente, soando como se quisesse intimidá-lo.

   “Não sou dado a esportes de grande adrenalina como a caça, Senhor, porém respeito a quem tal feito agrada.” – Respondeu tentando não transparecer seu nervosismo. Sabia que homens da estirpe do Conde prezavam pela coragem, firmeza e demonstrações de virilidade à moda antiga; ouvira certa vez que Ferenk Dimitrescu era ferrenho entusiasta da honra e da sua defesa mediante o duelo e que ele não era o único; contava com diversos apoiadores da alta sociedade, os quais também viam a si mesmos como “guerreiros modernos”, todos protetores dos antigos costumes.

“Hum...” – Murmurou tragando novamente seu charuto. “Devo presumir então que o cavalheiro goste de jogos de azar, apostas, ou outras formas subversivas de... entretenimento. Estou certo? – Expirou a densa fumaça, que enevoava o ambiente com seu tom acinzentado.

“Senhor, creio que...” – James tentou responder, mas foi interrompido pelo Conde.

“Não há necessidade de responder. Não lhe ofereço uma bebida, pois sua visita é breve. O que gostaria de tratar?” – Soltou abruptamente, demonstrando impaciência.

“Sendo direto e, com todo o respeito, vim pedir a mão de sua filha Alcina. Estamos apaixonados e garanto que não possuo nada além das melhores intenções para com ela.” – Enfim declarou.

“Ora, ora... e pretendia que eu aceitasse facilmente? Que entregasse minha única filha a qualquer um que aparecesse evocando boas intenções num discursinho barato? Conheço muito bem os da sua laia... sem berço, sem passado, sem classe, travestidos de uma falsa aparência de nobreza. Vocês não passam de aves de rapina em busca de uma jovem ingênua para ludibriar e arrancar sua fortuna, porém não me enganam! Você não foi o primeiro e nem será o último a aparecer, mas enquanto eu estiver aqui continuarei os repelindo, como moscas inoportunas. Não desejo mais vê-lo na minha frente, muito menos perto de minha filha, entendeu bem? Recorda-se da coleção de armas que recém mencionei? Não evitarei de utilizá-las se necessário for. Agora, se tudo está esclarecido, saia da minha propriedade!” – Vociferou, largando o charuto no cinzeiro e lançando um olhar mortífero a James. Se Ferenk parecia ameaçador antes, agora era a própria personificação da morte. O rapaz congelou quando o homem de seus um metro e noventa de altura e corpo robusto levantou-se, significando claramente que a “conversa” havia terminado; notou os lábios do Conde contorcidos e tendo espasmos de raiva por debaixo do espesso bigode grisalho e que seus punhos estavam cerrados, em um clássico sinal de defesa.

Sem outras opções, o jovem não viu outra alternativa senão respeitar a vontade do pai de Alcina e deixar para reverem o tema em uma nova visita menos turbulenta e com os ânimos mais favoráveis. James não se deixaria abater pelo homem mais velho, independentemente de sua ameaça ou status superior; se manteria firme em seu propósito, até que esse fosse alcançado. Tinha paciência e saberia usá-la a seu favor.

“Uma lástima que pense tão pouco acerca de minha pessoa, Senhor Conde, porém farei mudá-lo de opinião. Tenha uma excelente tarde e até a próxima vista!” – James se levantou, vestiu as luvas de couro que estavam sobre seu colo e se dirigiu à saída, a todo momento demonstrando calma e educação, apesar de estar fervilhando de ódio por dentro.

“Não haverá próxima vez, seu enganadorzinho de araque! Suma já da minha vista!” – Rugiu, falando tão alto que provavelmente fora ouvido até no piso inferior.

James desceu rapidamente as escadas encontrando Alcina no término delas, com o semblante tomado por preocupação.

“O que aconteceu, James? Ouvimos meu pai gritando aqui de baixo.” – Perguntou consternada, com Úrsula ao seu lado.

“Digamos que seu pai tenha uma opinião firme e equivocada a meu respeito. Ele é contra nosso enlace.” – Confessou suspirando e pôde notar a governanta sorrir de canto.

“Papai pode ser um tanto quanto obstinado e amedrontador quando quer, mas é um homem extremamente correto e sábio. Deixe-me falar com ele. Ele tem de ver a sensatez...”

“Minha querida, não quero que se meta em apuros por minha causa. Deixe estar. Quando as águas se tranquilizarem falarei com Lorde Ferenk novamente. Não faltarão oportunidades. Só quero que creia em mim, que quero o melhor para nós. Almejo fortemente um futuro com você e não abrirei mão disso. Agora, por bem, me vou. Nos veremos em breve, minha doce Alcina.” – Concluiu depositando um beijo em sua mão e marchou em retirada da mansão Dimitrescu, repetindo para si que aquilo não era um adeus, mas apenas um “até logo”; estava resoluto: acharia um caminho para conquistar a confiança do Conde e, após cair em sua graça, desposaria sua filha.

 

*fim do Flashback*

 

Alcina se espreguiçou profundamente na cama do quarto do hotel, notou que James dormia um sono pesado ao seu lado, pegou o relógio de bolso que estava sobre o criado-mudo e olhou as horas; já eram três e meia da tarde e o show estava marcado para as oito da noite, logo não havia mais tempo para descanso. Despertou seu noivo gentilmente, se debruçando sobre seu peito nu e depositando um beijo suave em seus lábios. “Hora de acordar, meu amor.” – Disse carinhosamente, enquanto acariciava de leve seu cabelo loiro. 

“Que horas são?” – Respondeu sonolento, bocejando.

“Passado três e meia. Temos que ir.”

“Hum, mas antes venha aqui...” – Terminou a frase puxando Alcina para perto de si. O contato de seus corpos nus fez a mulher suspirar, sentindo todos os pelos do seu corpo se arrepiarem e o bico dos seios enrijecerem. James, por sua vez, suspirou e sentiu que seu membro ficou rígido. Posicionou a noiva sob seu corpo e a beijou com vontade, o que fez com que ela abrisse mais as pernas para acomodá-lo melhor entre elas; começou a tocar seus seios possessivamente, nunca parando de beijá-la com vigor. Ele adorava os seios volumosos e pesados de Alcina, eram apetitosos; senti-los com suas mãos, apertá-los e colocá-los em sua boca era um deleite. Resolveu provocá-la e também se estimular um pouco, roçando sua glande no clitóris da mulher, que gemia cada vez mais com as investidas.

“Quero você dentro de mim, James”. – Pediu, cheia de desejo.

“Seu desejo é uma ordem, Milady”. – Respondeu. 

Desceu sua mão e tocou a entrada da mulher. Sentindo que estava lubrificada o suficiente, a penetrou com força, soltando um som gutural ao sentir o contato do seu membro dentro dela. Adorava como Alcina era estreita, molhada e quente. E principalmente se deleitava como a mulher habitualmente tão poderosa, altiva e mandona se desfazia sob seus toques, ficando toda manhosa e quase mansa. Manteve um padrão de estocadas vigorosas e lentas, até que percebeu a íris da Condessa ficar mais escura e sentiu suas paredes começarem a contrair em torno dele. Alcina arranhava suas costas de maneira ritmada, até que James notou que a mulher cravou as unhas profundamente em sua carne; esse era um sinal clássico da noiva de que estava chegando a seu ápice. Como um amante atencioso e compreendendo o recado, aumentou a velocidade das penetrações, até que sentiu que ele próprio não aguentaria mais. Gemeu guturalmente quando gozou dentro de Alcina e ouviu quando a mulher gemeu agudo quase junto com ele, sentindo-a contrair em espasmos e, em seguida, aliviando a pressão das unhas em suas costas.

James saiu de cima da noiva, exausto pelo esforço que fizera, e voltou a deitar em seu lado da cama. Alcina deitou a cabeça no peito do prometido por um breve momento e ficou ouvindo as batidas aceleradas do coração aos poucos se acalmarem e adotarem um padrão uniforme.

“Hora de irmos.” – James interrompeu o momento de calmaria, após olhar em seu relógio e se dar conta de que já eram quatro e quinze da tarde.

 Se levantaram, comeram algumas frutas disponibilizadas pelo hotel, que estavam depositadas sobre a mesa da sala adjacente ao quarto, tomaram uma ducha rápida e se aprontaram para sair, com a agilidade de quem era habituado a se arrumar e a sair várias vezes por dia.

Chegando na porta observaram por um momento a avenida movimentada, cheia de pessoas andando apressadas, correndo, gritando, carros buzinando e quase colidindo, brigando por uma vaga para estacionar, enquanto charretes imprudentes desviavam de pedestres desavisados no meio da rua; homens limpando o suor de suas testas enquanto aguardavam o vendedor lhes entregar um pacote com comida de rua; um grupo de crianças barulhentas se acotovelando em frente a uma tenda de doces coloridos, indecisas por qual escolher; uma mulher que tropeçou num buraco da rua, derrubou seus pacotes de compras e foi ajudada por um cavalheiro; um rapaz que pisou numa poça d’água e molhou suas botinas e calça social, xingando em seguida. Essa era a Nova Orleans que Alcina tanto conhecia e que aprendera desde jovem a amar; apesar de não ter nascido ali, se sentia mais pertencente àquela cidade caótica e estridente do que à sua terra natal, a Romênia.

A cidade inteira estava abarrotada de gente, devido ao fato que era o mês de festivais musicais, tanto de blues quanto de jazz e Nova Orleans era a capital Norte-Americana da música; além dos nativos locais, havia a adição de pessoas da região e turistas de todas as partes dos EUA. Não havia como escapar das multidões, fosse nas calçadas fosse nas estradas e rodovias.

Por sorte se hospedaram na badalada Avenida St. Charles, a mesma onde estava localizado o famoso Teatro Orpheum, no qual Alcina e a banda se apresentariam naquela noite. 

Poucos minutos depois chegaram ao teatro, cuja fachada colorida e poluída com imagens e letreiros luminosos se erguia imponente diante deles.

Alcina sorriu abertamente, orgulhosa por ver sua foto estampada fora a fora nas laterais do edifício, bem como nos cartazes da entrada, ao lado da bilheteria.

Adentrou no recinto junto a James, o qual se dirigiu à frente até os trabalhadores que montavam os painéis paisagísticos para o show; o espetáculo seria único e ousado, utilizando um sistema de roldanas, cordas, cabos de aço e engrenagens para içar e deslocar as paisagens, todas elaboradas sob encomenda, pintadas e montadas à mão, peça por peça; a cada ato, ou seja, a cada momentum de passagem entre as músicas, haveria a justaposição entre paisagem e iluminação, a fim de conduzir o espectador à dimensão exata que a música evocava; James vistoriou diversas vezes as instalações e aplicou testes dos elementos de palco junto aos operadores, os quais seriam os responsáveis pela correta execução do equipamento durante a apresentação.

Enquanto isso Alcina foi até o camarim checar seu figurino e confirmar se todas as peças de roupa, calçados e adereços que escolhera para aquele show em particular estavam nas conformidades; a cantora teria apenas breves instantes para se trocar entre as passagens de músicas, logo era de extrema importância as peças estarem devidamente ordenadas. Dimitrescu, por natureza, era inimiga nata dos fracassos e falhas; sempre dera tudo de si àquilo que lhe importava. Naquela noite, em especial, não admitiria nenhum erro e não buscava menos que a perfeição.

Sentou-se no banquinho redondo azul defronte da penteadeira. Examinou sua aparência refletida no amplo espelho envolto por pequenas lâmpadas bulbosas, as quais emitiam um misto de luzes quentes e frias. Era deveras uma bela mulher, de fisionomia forte e delicada contrastantes, com seus cabelos castanho-escuros encaracolados nas extremidades, olhos azuis grandes e profundos, maçãs do rosto e maxilar definidos e seus lábios finos bem delineados, sempre tingidos de carmesim, sua marca pessoal; se considerava mais bonita quando maquiada, não havia dúvidas, mas também gostava de se olhar com a cara limpa; necessitava entrar em contato consigo vez ou outra e achava que dessa forma era mais fácil de se conectar. Às vezes se encarava por minutos à fio no espelho, esperando que seu “alter ego” refletido subitamente criasse vida e lhe respondesse acerca dos anseios de sua alma. Conheciam-na por forte, independente, decidida, capaz, porém não sabiam das inquietudes que se passavam em seu interior; parte de Alcina ainda continuava sendo uma menina, que cresceu sem mãe e que desejava reencontrá-la com todas suas forças, recuperarem o tempo que a morte lhes roubou. Nunca teve em Úrsula uma figura materna em quem pudesse apoiar-se, ou uma confidente a quem compartilharia seus segredos e angústias. Não, longe disso. A governanta tão-somente cuidou de mantê-la “em ordem” com rigor e rigidez, nunca verbalizando uma palavra de ânimo e encorajamento; se assemelhava mais a um capataz que a uma cuidadora. Ferenk tampouco lhe fornecera o esteio necessário que um pai deve prover aos filhos; encontrando-se na maior parte do tempo ausente, delegava a criação de Alcina a Úrsula, confiando cegamente na mulher mais velha para que a filha aprendesse os modos, etiqueta e conhecimentos necessários de uma dama. Tudo na vida de Alcina, desde que sua mãe morreu, se resumia em saber portar-se diante da alta sociedade como uma Lady e a cobrança de não envergonhar o nome da família Dimitrescu. Seu pai temia inegavelmente que isso um dia aconteceria, devido ao temperamento genioso e impulsivo da filha – que por mais que fosse constantemente educada e moldada conforme seu genitor queria - era algo inerente à sua personalidade e não podia ser domado, portanto, um dia, viria à tona em algum escândalo. Ele só esperava não estar mais vivo quando isso ocorresse.

Cerca de meia hora depois, a maquiadora e figurinista chegaram juntas e se encaminharam diretamente ao camarim para aprontar Alcina. Alguns minutos depois foi a vez de seus parceiros de banda aparecerem, cujas presenças foram notadas instantaneamente por todos, dado à entrada ruidosa e espalhafatosa dos homens; se posicionaram no palco e aproveitaram para passar o som e ensaiar um último par de vezes até que chegasse a hora de se apresentarem.

Às 19h30, meia hora antes de iniciar o show, as portas do Orpheum se abriram a fim de receber e acomodar os convidados, cada um deslocando-se até seu lugar marcado; James continuava circulando metodicamente pelas dependências do teatro, certificando de que tudo estava no devido lugar; lançou um breve olhar para a plateia, que já estava quase totalmente preenchida quinze minutos depois da abertura das portas, e sorriu largamente ao perceber que a grande maioria se apresentava elegantemente vestida; era habituado a ver uma plateia mista em termos de condição social em espetáculos musicais, principalmente os de jazz ou blues, mas naquela noite regozijou-se em constatar que a predominância era dos mais abonados. Isso significava grandes chances de alavancar ainda mais a carreira de Alcina, com uma infinidade de contatos importantes ali à disposição; James certamente aproveitaria suas presenças após o espetáculo findar.

Por fim chegou a hora. 

Alcina aguardava no corredor do camarim, pronta para sair assim que o instrumental iniciasse e recebesse um sinal de luz nos bastidores; mesmo já tendo uma boa experiência, não podia evitar o frio na barriga que lhe acometia sempre antes de subir ao palco; era um misto de expetativa, ansiedade, medo, alegria, excitação, realização pessoal, todos se retorcendo e brigando dentro de si por dominância e poderem manifestar-se; adorava a corrente de adrenalina que explodia e tomava conta de seu corpo quando se envolvia em alguma atividade de emoções intensas e cantar era, sem sombra de dúvidas, a maior delas; lhe trazia um prazer indescritível e uma alegria imensa, que pareciam desconectá-la de qualquer problema ou dificuldade. Não havia futuro, nem regras ou restrições, somente o aqui e o agora e isso era maravilhoso!

Foi tirada de seus pensamentos quando a luz vermelha do holofote piscou duas vezes. Era o sinal. Respirou fundo e caminhou a passos largos rumo ao palco, em seu figurino pomposo, salto alto e maquiagem carregada. Podia ouvir, conforme aproximava-se, a gama de vozes indistintas que se misturavam com o som dos instrumentos e sentiu uma nova carga de adrenalina passar por seu corpo; seu coração parecia que iria saltar da boca, tamanha a força com que martelava em seu peito.

Quando enfim chegou a seu destino, foi ovacionada pela plateia, a qual levantou-se uniformemente a fim de aplaudi-la; sentiu-se tão emocionada que cria que não conseguiria conter o choro; acenou animadamente e enviou beijos no ar para todos, aproveitando para respirar fundo e se recompor para sua performance; toda vez que estava nos palcos sentia-se dando um mergulho e a plateia era tanto espectadora quanto coparticipante do ato; era uma sensação única, intensa, transcendental, de troca mútua, que se tornara vital para Alcina, assim como o ópio para o adicto.

Executaram alguns covers com maestria, porém o público foi ao delírio quando a cantora retirou o microfone do pedestal e se debruçou parcialmente sobre o piano de Al, cantando I Can’t Get Enough of You, uma música autoral do grupo que estourou no ano anterior, assim que foi lançada. Alcina passou os olhos em cada rosto da plateia, querendo ver a reação que causavam; todos fitavam a banda fixa e silenciosamente, como que hipnotizados. Saltou-lhe aos olhos uma mulher morena e charmosa de olhos verdes, a qual a fitava com intenção e com um sorriso nos lábios, como se a conhecesse de outrora, cuja idade girava em torno dos 30 e poucos anos; trocou olhares intensos com a morena por alguns instantes e se virou para interagir com os colegas do grupo.

O show encerrou exatamente às 21h45. A plateia novamente levantou-se massivamente e ovacionou os músicos intercalando “bravo”, palmas ritmadas e assovios animados. Certamente aquele fora o melhor show de Miss D. & os Pallboys até agora e haveria repercussões positivas nos tabloides no dia seguinte.

Alcina ganhou um generoso buquê de rosas vermelhas e brancas, uma honraria simbólica promovida pelo TeatroOrpheum às estrelas da música que abrilhantavam seu palco.

Nos bastidores James cumprimentou a banda e beijou calorosamente a noiva, a parabenizando pelo notável sucesso. Informou aos homens que havia preparado previamente algo especial para a prometida e pediu licença para deixá-los, com uma piscadela, todos entendendo o recado. Voltou-se novamente a Alcina e segurou sua mão.

“Agora, meu amor, celebremos! Aqui está a surpresa que lhe havia prometido mais cedo.” – Falou com um sorriso malicioso nos lábios, gesticulando para a morena parada atrás de Alcina.

A Condessa girou a fim de poder olhar o que ou a quem James se referia e constatou que se tratava da mesma mulher com quem trocara olhares durante o show; ela sorria de canto e lhe lançou um olhar lascivo que fez com que Alcina corasse pela intensidade.

“Minha querida, quero que conheça Kieza Goldschmidt, a melhor bailarina do Sul dos Estados Unidos e também uma ótima maquiadora profissional.”

“Muito prazer. Eu sou...”

“Alcina Dimitrescu, a melhor cantora dos Estados Unidos da América e sem dúvidas a que possui os olhos mais belos. O prazer é todo meu.” – Disse em claro tom de flerte, não permitindo que a cantora concluísse a frase, obtendo um sorriso em resposta pelo elogio.

“Que curioso nome o seu... creio nunca ter ouvido algo semelhante, ao menos não que me recorde.” – Falou com curiosidade.

“É Etíope e Alemão. Meu pai, Goldschmidt, se apaixonou perdidamente por minha mãe, numa de suas viagens à Etiópia, e decidiu por desposá-la imediatamente, mesmo sem falarem sequer uma palavra no idioma do outro.” – Riu divertidamente e Alcina reparou nos dentes alvos e alinhados na boca carnuda e convidativa da mulher. “Bem, depois de certo tempo morando na Alemanha, resolveram mudar-se para os EUA, onde ele tinha negócios e, alguns meses depois, voilà! Eu nasci. À propósito, Kieza, em Etíope, significa ‘aquela que chega’. Acredito que meu nome me represente, pois faço questão de ser sempre notada onde chego.” – Remendou olhando sedutoramente para a boca de Alcina.

“Err...” – Pigarreou. “Que tal irmos jantar e continuarmos a agradável conversa no restaurante?” – Sugeriu James com um sorriso nos lábios, tendo percebido rapidamente o interesse que havia entre ambas.

Entraram no Ford T e se dirigiram até um restaurante Italiano situado a cerca de meia hora do hotel em que James e Alcina estavam hospedados.

Após alguns drinks e risadas, Alcina descobriu Kieza possuía 32 anos e que o noivo a conhecera há cerca de quatro anos, numa audição de bailarinos, na qual fora convidado como um dos jurados. Ele se surpreendeu com a simpatia e qualidade da dança da moça, tanto que ofereceu agenciá-la; a dançarina aceitou quase de imediato; James a inseriu em alguns corpos de baile menores e aos poucos conseguiu alcançar grupos mais famosos, tendo em vista sua grande habilidade; o ápice de sua carreira se deu no ano anterior, com o convite do Ballet Bolshoi para que participasse do seu corpo de bailarinos; Kieza ficou certamente abalada e emocionada com a notícia, porém decidiu permanecer nos EUA, levando em conta a doença degenerativa de seu pai; a dança era sua paixão, mas a família era seu bem mais valioso e sempre viria em primeiro lugar, ainda mais no momento delicado em que precisavam dela; Kieza era também muito talentosa na maquiagem e fez dela sua fonte de renda secundária, a fim de contribuir com o tratamento do pai. 

A história da mulher comoveu Alcina, que percebeu vários pontos em comum entre suas vidas e personalidades; achou nobre e louvável a atitude altruísta da dançarina e, num impulso, propôs que Kieza a auxiliasse durante os shows, sendo sua maquiadora pessoal e ajudante, ao que a moça ponderou por alguns instantes e aceitou a oferta.

A atitude não surpreendeu James; a essa altura já estava acostumado com a impulsividade da noiva, que a dominava principalmente quando estava vulnerável e emotiva.

No limiar entre a noite e o dia seguinte partiram do restaurante. James conduzia na frente, enquanto sua noiva e a morena seguiam no banco de trás. Vez ou outra olhava no retrovisor para se inteirar da conversa animada e risos que ambas compartilhavam e via que Kieza se lançava sobre Alcina sempre que havia oportunidade, segurando em suas mãos, ajeitando uma mecha de cabelo atrás de sua orelha, repousando a mão levemente sobre sua coxa ou encarando intensamente seus lábios; também notou que os avanços não eram repelidos pela Condessa, pelo contrário; ela parecia relaxada e aparentava gostar do toque da mulher mais velha. Smith sorriu satisfeito com o que viu, visto que sua intenção, desde o início, era levar a morena para a cama deles e isso estava próximo de acontecer; queria expandir os horizontes da noiva, promover-lhe novas experiências e fazê-la conhecer o grande leque de prazeres que a vida tinha a oferecer; desde cedo percebera as inclinações de Alcina, os olhares de relance para outras mulheres, que rapidamente disfarçava, e isso não lhe escandalizava, pelo contrário, considerava excitante e diferente e queria mais é que ela concretizasse seus desejos. 

Chegaram no hotel e James convidou Kieza para acompanhá-los até a suíte presidencial, para que compartilhassem mais alguns drinks; como esperado, a morena aceitou e os seguiu até o quarto.

James ligou a vitrola e pôs um disco de blues lento e sensual, enchendo três copos com Whisky e gelo; os três se sentaram no sofá de couro preto da sala anexa ao quarto, Kieza no meio, entre o casal; conversaram mais algumas amenidades, até que sentiram a bebida descer cadenciadamente conforme o ritmo da música, lhes inebriando os sentidos e desatando os desejos, como dizem, o pudor se esvaindo sob a impertinência do álcool. 

A atmosfera era de pura sensualidade e a tensão entre eles era palpável; James resolveu “fazer as honras” e tomou a iniciativa, virando o queixo de Kieza com uma das mãos e lhe beijando de língua, enquanto a outra segurava a parte interna da coxa esquerda; Alcina observava a cena com um misto de confusão e desejo, não sabendo ao certo como agir; percebendo que a noiva estava paralisada, James removeu a mão da coxa de Kieza e tomou a mão de Alcina, a guiando até a coxa da morena; ao sentir que a cantora continuava acariciando sua coxa por conta própria, Kieza deixou escapar um leve gemido, o que surtiu efeito imediato em Alcina e a deixou molhada; a dançarina se livrou do beijo de James e se virou para encarar Alcina; uma pôde perceber nos olhos da outra a pupila dilatada e a luxúria queimando como brasa viva; mordeu seu lábio inferior, segurou a Condessa pela nuca e a puxou para um beijo faminto, como se esperasse por aquilo há muito tempo; ambas gemeram com o contato de suas línguas e Kieza se aventurou pelo corpo de Alcina, subindo com a mão livre até o seio da mais nova, o apertando com vontade; a cantora gemeu novamente e continuou acariciando a coxa da outra, porém com mais pressão; usou a outra mão para imitar o gesto da morena, deslizando sua mão quente desde a coxa esquerda até os seios, os tocando, apertando, explorando; se deliciava ao perceber os efeitos que causava na voluptuosa morena, que se aproximava cada vez mais dela, como se quisesse fundir seus corpos; sentir os mamilos rijos de Kieza sob suas mãos foi uma sensação totalmente nova e satisfatória; estava ciente que era um sinal de pura excitação, pois sentia ocorrendo o mesmo em si, mas sentir a outra em suas mãos e saber que era a causadora daquela reação, era uma experiência inebriante para Alcina. James observava tudo extasiado, seu membro rígido e latejando dentro da calça; decidiu desabotoá-la e ter algum alívio diante do tesão que se apoderava; colocou o órgão para fora e começou a tocá-lo verticalmente, em um movimento ritmado, nunca desviando o olhar das duas mulheres.

Um bom tempo depois de se provocarem, Kieza perguntou a Alcina onde ficava a cama, ao que a mais nova entendeu rapidamente a mensagem e as guiou até o quarto, entrelaçando suas mãos; James permaneceu na sala, pois decidira não se interpor entre as duas. Queria que aquela experiência fosse focada em Alcina e que ela aproveitasse ao máximo.

A morena removeu vagarosamente os vestidos de ambas, com o auxílio de Alcina, intercalando beijos molhados e leves chupões no pescoço e linha dos ombros da Condessa, a qual sentia seu corpo se arrepiar e um calor crescente entre as pernas; quando Kieza se livrou da última peça que cobria sua nudez, Alcina pôde admirá-la por completo; a morena era consideravelmente mais baixa que ela, mas possuía um corpo bronzeado torneado maravilhoso, todo proporcional e cheio de curvas voluptuosas; os seios eram menores que os seus, porém firmes e empinados, com os mamilos protuberantes, o que Alcina recém descobrira que adorava, tinha vontade de colocá-los em sua boca; seguindo seu pensamento, se inclinou até a mais velha e abocanhou seus seios esfomeada, contudo, com zelo para não perder a delicadeza e não a machucar; a outra arfou com o contato, cerrou os olhos e puxou a Condessa mais para perto, enredando os dedos em seus cabelos macios; permitiu que a mais nova explorasse seu corpo e tivesse seu tempo com ela. Queria fazê-la gozar novos prazeres e que soubesse o deleite tremendo que era estar com outra mulher. Conduziu Alcina até a cama, a deitando, e engatinhando por cima dela; separou suas coxas grossas e se posicionou no meio delas, tocando com delicadeza cada centímetro do seu corpo com as costas das mãos, e se divertindo com as expressões no rosto de sua amante, que parecia totalmente entregue às suas vontades.

“Você é linda, Alcina. Parece uma musa esculpida pelos deuses. Eu quero você.” – Se inclinou até o ouvido da Condessa, com a voz rouca e embargada pelo prazer. Alcina fechou os olhos e partiu os lábios soltando um sibilo, em resposta ao toque do hálito quente da morena em seu lóbulo sensível e pelo efeito massivo das palavras em todo seu ser; sentiu um fluxo molhado tocar sua entrada e seu centro se contraiu involuntariamente; abriu um pouco mais as pernas para acomodar melhor a outra e por querer mais contato entre seus corpos; precisava dela e a desejava irracionalmente, não sabia até então que era possível sentir o que estava sentindo com outra mulher; foi uma grata surpresa e sorriu com o pensamento.

Kieza seguiu sua missão diligentemente, ora a beijando com volúpia na boca, ora roçando seus lábios nos pontos sensíveis do pescoço, passando a língua molhada e soprando logo em seguida, o que fazia Alcina gemer e se contorcer debaixo do seu corpo quente; quando percebeu que a amante movia seus quadris contra ela e a sentindo completamente molhada para ela, decidiu descer sobre seu corpo e dar atenção onde a Condessa a necessitava mais; beijou, lambeu e sorveu o néctar da mais nova com avidez, alternando a velocidade e pressão dos lábios, gemendo em conjunto com Alcina com a sensação; estava totalmente molhada, assim como a outra, mas seu foco era em lhe dar prazer; inseriu um dedo na entrada da cantora, como que para provar o terreno, e na sequência penetrou-lhe com mais um dedo, que deslizou sem dificuldade alguma; Alcina movia os quadris mais intensamente e, quando seu corpo e os dedos de Kieza encontraram o mesmo ritmo, sentiu suas paredes internas contraírem com força e uma corrente elétrica passar por todo o corpo; gemeu alto quando atingiu o clímax, sua respiração descompassada e o colo subindo e descendo rapidamente; abriu os olhos e encarou a morena, que lhe sorria satisfeita, e sorriu de volta.

“Você é deliciosa, Alcina. Uma iguaria requintada.”

Vencidas pelo cansaço do dia altamente agitado junto à sonolência causada pelo álcool, adormeceram nos braços uma da outra.

James pegou no sono tempos depois no mesmo sofá em que permanecera, um pouco desconfortável pela posição, mas satisfeito de que seu plano dera certo; dormiu com um sorriso no rosto, imaginando as delícias futuras que lhe aguardavam por ter aberto aquela nova porta para a noiva.


Notas Finais


Ufa! Intro longa, mas necessária. Deu um bom trabalhinho para descrever e colocar tudo no lugar xD

Se alguém tiver alguma dúvida é só perguntar! Espero que tenham gostado! Beijão!


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