— POV Alice —
Observei o Dr.Angus Bumby sorrir e se sentar aos pés do divã, olhando para uma prancheta que se encontrava em suas mãos e anotando alguma coisa.
— Bom dia, Alice.- sorriu, levantando a cabeça para me olhar. – Como se sente?
— Bem. – respondi simplesmente.
— Não teve mais nenhuma alucinação? Nada que ache que precisa me falar, algo que lhe fez sentir medo? – perguntou, observando-me cautelosamente.
Encarei-o, ponderando a questão. Eu deveria lhe falar sobre a criança deformada que havia visto ontem. Deveria.
— Não, ultimamente está tudo normal. – respondi, forçando um sorriso no canto dos lábios.
Ele avaliou-me em silêncio, franzindo o cenho. Já estava me sentindo um pouco desconfortável quando ele finalmente sorriu e voltou a fazer anotações na prancheta.
Eu deveria ter lhe contado. Eu devo. Afinal, Angus é o único dos vários médicos que já tive até hoje, que foi digno de ganhar minha confiança. Então por quê não consegui contar?
— Ótimo. – disse de repente, tirando-me de meus próprios devaneios.
— Ótimo. – concordei.
Novamente ficamos em silêncio, enquanto ele me observava com um sorriso de canto.
— Alice, - começou, chamando minha atenção para si. – Podemos começar com a seção de hoje?
Suspirei, assentindo. Ótimo, mais uma vez terei de me submeter à isto, como em todos os dias dos dois meses que passei aqui.
Ele assentiu, se levantando e o segui até chegarmos a sua sala e adentrarmos na mesma. Caminhei até a poltrona que já conhecia muito bem e me sentei nela, esperando que Dr.Angus viesse até mim e se sentasse na cadeira ao meu lado. Ele apertou um dos botões da poltrona, fazendo-me ficar deitada ao seu lado.
— Tudo bem, vamos começar. Está pronta?
Assenti, encarando o pequeno objeto em sua mão, da qual ele usava para fazer as seções.
— Olhe para o pequeno ponto preto no centro.
Obedeci. Logo o objeto começou a girar e em poucos minutos já estava me sentindo sonolenta demais para continuar encarando o pequeno ponto. Senti a forte tontura já familiar e um puxão em meu corpo, fazendo-me ficar com falta de ar e cair com um baque no chão. Suspirei antes de abrir os olhos lentamente e observar o local ao meu redor.
— Alice, diga-me o que vê. – escutei a voz do Dr.Bumby ao longe.
Respirei fundo, olhando para minhas roupas. Eu estava usando um vestido azul de mangas curtas com um avental branco, meia calça listrada nas cores preto e branco, e botas pretas. Havia um colar pendurado em meu pescoço, da qual não reconheci o símbolo. Voltei a observar o local ao meu redor. Tão familiar e ao mesmo tempo tão estranho.
— Estou no jardim das flores. – comecei, observando as flores cantarem ao meu redor, enquanto mexiam-se alegremente. Abaixei-me ao que uma borboleta em formato de pão passou por cima de mim, para logo sobrevoar pelas tulipas. – Elas estão cantando.
— Estão felizes?
Uma margarida cutucou-me o braço ao que passei por ela.
— Sim. – respondi, sorrindo ao que reconheci a música.
“Tudo pode se aprender entre as flores, sobre tudo aquelas importantes, quem aspira o aroma dessas flores...”
Estava sentada sob uma pedra cantarolando a música ao que ouvi um barulho ensurdecedor vindo do céu. As flores pararam com a cantoria de imediato e um calor insuportável se fez presente.
— Alice, o que está acontecendo? – escutei ao longe a voz preocupada do Dr.Bumby, mas não lhe dei atenção.
Fiquei olhando desesperadamente para o céu, até que observei ao longe algo se aproximando. Havia uma fumaça negra adornando-lhe e mesmo sem intenção, dei dois passos para trás.
Em poucos minutos pude distinguir o que era. Um trem se aproximava rapidamente do jardim das flores. Ele estava voando e seu interior parecia pegar fogo.
As flores ao meu redor começaram a gritar e se desintegrar ao que o trem passou e tive que me atirar para o lado antes que o mesmo me atropelasse. O calor estava mais que insuportável, eu já estava sentindo minha pele queimar rapidamente.
Corri o mais longe que pude do calor e me escondi atrás de um arbusto, passando a observar o que acontecia ali. Estava olhando para o resto das flores que sobraram caídas ao chão, quando um movimento vindo do trem chamou minha atenção.
Uma forma negra saía de lá de dentro, uma gosma preta pingava de seu corpo. Era pequeno, mas ainda sim parecia perigoso.
— Alice, o que está acontecendo? – Dr.Bumby tornou a perguntar.
— Ahn, há um bicho gosmento e estranho saindo do trem. – respondi.
O bicho mexia-se freneticamente para os lados, como se procurasse algo.
— Trem? Que trem? – perguntou-me Dr.Bumby.
— O trem infernal. – respondi, não entendendo o fato de saber o nome.
Arregalei os olhos ao notar que o bicho farejava o ar e se aproximava cada vez mais de onde eu estava.
— Alice, tem alguma coisa aí?
Reprimi um grito ao que o bicho começara a correr em minha direção. Corri sem direção alguma, eu só queria fugir dali o mais rápido possível. Escutei gritos esquisitos vindos de trás de mim e olhei para trás, sem parar de correr. Havia mais uns quinze bichos iguais ao outro, saindo do trem e correndo atrás de mim.
“Não fuja, Alice. Eles só querem ajudar.”
Arregalei os olhos ao escutar a voz de uma mulher. Eles só querem ajudar...
Parei de correr e olhei para trás, esperando que os bichos chegassem até mim.
Eles só querem ajudar...
Um deles parou na minha frente. A gosma escorrendo por seu corpo, o rosto igual ao de uma boneca...
Dei um passo em sua direção e me assustei ao que ele gritou e partiu para cima de mim, dando-me tapas que queimavam minha pele. Comecei a gritar desesperadamente, tentando me livrar daquele ser esquisito, mas cada vez me sentia mais fraca, a dor estava se tornando insuportável.
— ALICE! – escutei ao longe, mas a escuridão já tomava conta de mim.
Eles só querem ajudar...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.