José Miguel não pode evitar. Ouvir aquilo da boca de Ivana e ver os dois juntos ali, abraçados mexeu com ele. Não sabia explicar o porque, o que estava se passando com ele?
Sentia alguma coisa que não sabia explicar, uma mistura de raiva, com indignação, estava tão indignado que teve que respirar fundo e esculpir um sorriso forçado em seus lábios para que eles não se dessem conta do que ele estava realmente sentindo, o que não era do seu feitio, porque ele era uma pessoa muito transparente:
- Tem razão Ivana todos temos o direito de recomeçar. Mesmo que não entendo porque justamente você tenha escolhido esse homem, - deixou escapar de seus lábios, pois não poderia esconder que para ele Alonso não era o melhor pretendente para Ivana, e continuou - mas está certo. Espero que vocês sejam muito felizes. Você tem todo direito de refazer a sua vida e desejo o melhor para você.
Em resposta Alonso dá um sorriso forcado e agarra ainda mais firme e perto a cintura de Ivana.
Ivana engole em seco e assente:
- Obrigada por suas palavras José Miguel...
José Miguel abaixa a cabeça e lembra que trouxe algo com ele:
- ah, isso aqui. - ele pega uma sacola com uma caixinha dourada - São chocolates. Ouvi dizer que chocolates produzem uma substância que nos faz sentir felizes. E pensei que pudesse ser bom para você. Toma.
Ivana desfaz o abraço com Alonso e olha para suas mãos e fica movida com o que ele disse. Ela sorri, de uma maneira tão pura, e feliz, e pega a caixinha dourada com um pequeno laço vermelho de suas mãos.
- Não sei se você pode ficar comendo essas coisas Ivana. Aqui eles não regulam o que vocês comem? - Diz Alonso com ciúmes nada discretos.
- Não se preocupe Ivana, jamais de daria isso se soubesse que te faria mal. Conversei com seu médico, e ele abriu essa exceção, disse até que seria bom para você. - responde José Miguel.
Ivana sorriu em quanto segurava a caixinha. Parecia uma criança:
- Muito obrigada José Miguel. - ela se aproximou dele e agarrou rapidamente o seu pescoço lhe dando um abraço com bastante entusiasmo. José Miguel surpreso com seu abraço acabou sorrindo involuntariamente e envolveu levemente os braços em sua cintura.
A sentiu tão frágil, tão indefesa, que não tinha vontade de solta-la. Não sabia o porquê, mas era como se em uma fração de segundos o momento se congelasse, e ele a sentisse como nunca antes, o calor do seu corpo, o seu perfume que era tão familiar pois tantas vezes ela lhe havia o abraçado, mas ele nunca havia parado para enxerga-la dessa maneira. Mas logo alguns segundos depois ele saiu de seu devaneio ja que Ivana desfez o abraço se afastando, com aquele lindo sorriso em seus lábios.
Alonso ferveu de ciúmes depois de presenciar a cena, sentiu que havia um clima diferente entre eles, e logo abraçou Ivana por trás com os dois braços envolvidos em sua cintura. E ela um pouco constrangida por José Miguel estar ali e ver aquilo, porém ao mesmo tempo, satisfeita por supostamente provocar ciúmes nele.
José Miguel observou a cena mas logo desviou o olhar, para o seu relógio de pulso como se estivesse olhando as horas. Mas a verdade era que novamente voltou a sentir aquele sentimento de raiva que havia sentido antes de Ivana abraça-lo e fizesse ele esquecer completamente do resto do mundo.
Via Alonso encostando nela, a segurando como se ela fosse propriedade dele, como se estivesse dizendo a José Miguel que ela era sua, como se estivesse marcando seu território.
Mas José Miguel não tinha por que ficar por baixo, se lembrou que iria se casar com Valentina, o que por alguns segundos lhe deu motivos para se repreender a si mesmo, afinal não devia sentir ciúmes de Ivana se estava apaixonado, se amava Valentina como a tanto tempo afirmou a si mesmo que a amava.
E Ivana, ao deixar que Alonso lhe abraçasse na frente de José Miguel, queria demonstrar que saber do matrimônio deles não a afetava porque ela estava feliz com Alonso, mesmo que isso fosse mentira. José Miguel desvia o olhar ainda um pouco incomodado, coça a cabeça e diz:
- Bom, agora eu tenho que ir. Espero que você se recupere Ivana. Vai dar tudo certo. Logo estará em casa com sua família, com sua mãe que sente tanto a sua falta.
Ela sorri e diz:
- Obrigada José Miguel.
- Até que outro dia.
- Até José Miguel. - ela diz, e ele acena e se vai.
Quando ele dá as costas e se afasta, Ivana desfaz o sorriso, se solta dos braços de Alonso e fica olhando para José Miguel até que ele enfim desapareça de sua visão.
Sentia vontade de chorar ao ver que ele estava indo embora. A vontade era de correr até ele e abraça-lo. Era inevitável sentir-se triste por ver sua partida, deixou que uma lágrima caísse de seus olhos e escorresse até às sua bochecha.
Alonso se aproxima dela, e apoia a mão em seu ombro.
- Você realmente o ama, não é?
Ivana não responde, apenas fecha os olhos e abaixa sua cabeça.
- Eu sei que deve ser difícil para você. Eu entendo. - diz ele afagando seu ombro.
Ela abre os olhos, engole em seco, e olha para a mão de Alonso repousada em seu ombro dizendo:
- Obrigada por não desmentir quando eu disse que eu e voce estávamos juntos.
- Eu entendi que você fez para não se sentir inferior na frente dele.
- Não queria te usar pra isso. Mas foi o que me ocorreu na hora...
Alonso ri e diz:
- por mim pode me usar quantas vezes quiser.
Ivana acaba rindo e balançando a cabeça negativamente, finalmente se vira pra ele olhando em seus olhos. Ele vê as lágrimas que ela havia derramado a anteriormente e enxuga gentilmente com sua mão direita. Ela sorri levemente e segura sua mão que estava em seu rosto dizendo:
- Sabe Alonso... Apesar de ter sentimentos diferentes por José Miguel, eu tenho um apreço especial por você, e por mais que eu negasse, eu precisava disso, da sua companhia.
Alonso ergue uma sobrancelha e diz:
- Isso quer dizer que...
- Que podemos ser amigos... - ela diz antes que ele dissesse algo equivocado.
Ele da de ombros ergue as duas sobrancelhas e solta um suspiro dizendo:
- já que não tem outro remédio. Mas vou deixar esse tempo para que você pense bem. Vou vir te visitar sempre que puder. Quero que veja que não está sozinha. - ele ergue sua outra mão segurando seu rosto com as duas mãos dessa vez e a acaricia.
Ivana permite que ele a acaricie sem protestos, ainda não entendia o porquê de tudo aquilo, mas talvez ainda no fundo ela sentisse algo por ele e pensava em dar uma chance, ou talvez ela só estivesse carente de afeto. Alonso diz:
- agora tenho que ir, o Santiaguinho ja está quase terminando a aula e eu preciso buscar ele. Você vai ficar bem?
Ela assente e diz:
- Tenho que ficar.
Então ele que mantinha as mãos em seu rosto a puxou pra perto depositando um beijo carinhoso em sua testa.
- Tchau Ivana. Qualquer hora eu volto para te ver. - ele se afasta com um sorriso leve nos lábios e se vai.
Ivana olhava pra ele ainda confusa com tudo o que aconteceu. Não sabia se poderia confiar nele, mas de certa forma gostava da sua companhia. Ela se sentia tão sozinha ali.
Se sentou no banco do jardim e ficou pensando em tudo o que havia acontecido naquele dia. Olhou a caixinha de chocolates que ainda estava segurando e sorriu. Foi muito gentil José Miguel pensar em seu bem estar e lhe dar aqueles chocolates. Ela amava chocolates, mas evitava comer doces porque gostava de manter a forma. Mas aqueles ela com certeza comeria e muito feliz por sinal.
Primeiro pensou em provar um, talvez dois. Mas então quando percebeu, o tempo passou e ela havia comido todos os chocolates e nem havia se dado conta. Imediatamente se arrependeu, pois aquilo poderia lhe fazer mal, mas quando parou para pensar e ela se sentia bem, com o humor até melhor. Então se manteve sentada no banco apenas ouvindo o som dos pássaros, sentindo a brisa leve que tocava seu rosto e se permitiu fechar os olhos e respirar profundamente.
Ela estava distraída quando derrepente alguém segura o seu braço. Ivana da um pulo pelo susto e se depara com uma mulher, com os cabelos bem bagunçados, deveria ter aparentemente mais de 40 anos, usava as mesmas vestes que ela. Era certamente uma paciente da clínica.
Ivana se solta do braço da mulher:
- O que é isso? - diz assustada.
A mulher ri roendo as unhas e diz:
- Era seu namorado? Aquele bonitão? - ela olha pra Ivana de uma maneira um pouco estranha, mas ao mesmo tempo engraçada.
Ivana franze a testa e diz:
- Não. É um amigo.
- E o outro bonitão que te deu o presente? É seu namorado?
Ivana responde:
- esse tão pouco. Mas, você estava me espiando? - diz incomodada.
- Eu queria que um bonitão como um deles viessem me ver. Você é sortuda. - a mulher se senta ao lado dela e da um empurrãozinho de leve no ombro de Ivana.
E Ivana arregala os olhos, se levanta do banco e se afasta.
- Senhorita Dorantes - Diz a Enfermeira Dolores finalmente voltando - vejo que fez uma nova amizade. - diz a enfermeira segurando uma prancheta em suas mãos.
Ivana olha pra ela com a testa franzida:
- amizade? Nao, essa mulher só apareceu do nada perguntando se um dos rapazes que vieram me ver era meu namorado. Acabei de conhecê-la.
- Essa é a Olga. Está internada aqui há alguns anos. Ela é muito romântica e apaixonada. Ama assistir filmes, novelas. Não é Olga? - diz a enfermeira sorrindo para a paciente.
- Sim, sim. Novelas - ela ri - eu amo novelas. - a mulher diz e anda pelo jardim se afastando delas.
- Porque não vira amiga dela? - disse a enfermeira. - para terem uma companhia durante a saída dos pacientes para o jardim.
- ah... - Ivana olha para a mulher que caminhava se afastando delas, e a fitava com um olhar de indiferença. - eu prefiro ficar sozinha. Ter paz, meditar um pouco.
- Você quem sabe. - diz a enfermeira - Olga é uma boa companhia. Percebe isso quando aprende a compreende-la.
- Não sei se vou ter paciência pra aturar mais uma louca. Já não basta eu mesma...
A enfermeira ri balançando a cabeça negativamente e diz:
- Sabe, assim como você, todos os pacientes aqui tem alguma história. - a enfermeira olha para as pessoas no Jardim e Ivana faz o mesmo. - No seu caso é diferente, porque o tempo que você tem de lucidez é maior do que os deles. Tem alguns que há muito tempo estão fora da realidade. Tá vendo aquele Senhor alí? - a enfermeira aponta para um senhor de mais ou menos sessenta anos - Ele "enlouqueceu", por assim dizer, depois que a família dele morreu em um acidente de carro. E ele estava dirigindo, mas foi o único sobrevivente.
- Nossa. - diz Ivana claramente pouco interessada na história.
- Sabe quanto tempo faz isso?
- Quanto?
- Há mais de trinta e cinco anos. - diz a enfermeira e Ivana olha pra ela com a testa franzida parecendo surpresa.
- Trinta e cinco anos??
- Sim. Ele se culpou durante muito tempo. Por isso. E foi internado pelos parentes já faz uns trinta anos. Ele nunca mais foi o mesmo. E aquele outro Senhor alí. - Aponta para um outro homem, de aparentemente 70 anos. - Ele ficou assim em quanto servia ao exército. Dizem que lá é muita pressão psicológica, e como naquela época deveriam ter pouco apoio psicólogico, ele acabou enlouquecendo. Quase morreu em uma explosão provocada por ele mesmo. Ele quis de suicidar. - disse apontando para o homem.
Ivana arregala os olhos. Parecia pensativa. E antes que Dolores continuasse contando mais histórias ela perguntou:
- Então quer dizer que... O que eu tenho, posso ficar com isso pra sempre? E vou ficar presa aqui pra sempre?
- Não. Claro que não. O que eu estou dizendo, é justamente para mostrar que para algumas pessoas a recuperação é praticamente impossível. Já para você, não é tanto assim. Ainda pode ter esperanças. É jovem, saudável. Aquele senhor enlouqueceu pelo trauma, pela culpa que sentiu. Aquele outro por razões psicológicas não tratadas a tempo. Mas pra você ainda há uma grande chance Ivana. No entanto você tem que lutar contra essa enfermidade. Com vontade, com desejo de se recuperar de verdade.
Dolores apoia a mão em seu ombro. Mais uma vez Ivana parecia pensativa. Se sentia deslocada naquele lugar, sabia que tinha problemas, mas ainda não havia aceitado esse fato.
- Sabe Ivana, é o que eu digo. O primeiro passo para a sua melhora, é a aceitação. Aceitar que você tem esse problema, que ele é real. O segundo passo, ter que aprender a conviver com ele. Permita que te tratemos, se empenhe em querer melhorar. E mais uma coisa, aceite o apoio de sua família. Não sabe quantos pacientes gostariam de ser apoiados como você é. E pelo que eu percebo você não parece gostar muito das visitas.
- É que eu não quero que eles fiquem me olhando, como se eu fosse uma louca, uma pobre coitada que está com o parafuso solto... - diz cruzando os braços aborrecida.
- Eu imagino que é assim que você pense. Mas não, eles te olham com amor. Com desejo de que você se recupere logo para que possa ir para casa e viver uma vida normal. - acredite em mim.
Ivana engole em seco, e diz:
- mas eu nem sei se vou pra casa. É muito provável que eu vá para a cadeia e... Minha vida se transforme em um inferno maior do que já está sendo...
- Bom, ao que tudo indica, as chances de você ir presa são mínimas. Talvez cumpra algum tipo de serviço comunitário. Para cumprir sua pena em liberdade. Mas vai depender de você, se você se recuperar, vai responder em liberdade, se não, voltará pra cá.
Ivana tinha pavor em ficar presa na cadeia, de fato na clínica ela tinha mais liberdade, porém não queria ficar ali pra sempre. Ela responde:
- Talvez tenha razão. Eu só preciso pensar bem... Mas uma coisa eu nao entendo. Se eu estou
- Tudo bem Ivana, vamos para dentro está na hora do seu banho e seus medicamentos. Logo também será a hora da janta.
Ivana balança a cabeça em sinal positivo. Dolores sorri e diz:
- Verá que todo esse pesadelo, logo logo vai acabar. Mas depende mais de você do que de mim, ou do seu médico, ou dos seus medicamentos, ele apenas ajudam a ter um certo controle mas você tem que querer de verdade. Chegou a hora de você ser forte. - Olga segura mais firme o seu ombro.
Ivana sorri fraco e diz:
- Prometo pensar tudo o que você me dice. Obrigada Lola.
- De nada minha querida.
As duas caminham para dentro do consultório. E Ivana diz:
- ah, Lola. Só uma coisa... Eu gostaria muito de fazer uma ligação. É importante.
Dolores olha para o relógio de pulso e diz:
- Já são quase seis horas da tarde Ivana. As ligações são permitidas apenas até às cinco.
- Sim, eu sei. Mas é realmente muito importante. Porfavor Lolinha. - Ivana insiste Quase fazendo beicinho.
Dolores solta um suspiro, ri e balança a cabeça negativamente. E diz:
- Está bem. Vou ver o que posso fazer.
As duas entram e Dolores deixa que Ivana use o telefone de uma das salas de consulta que estava vazia. Então Ivana disca um número. E logo espera que atendam. Demorou um pouco até que atenderam.
- Alo? - Disse a outra pessoa na linha.
- Mamãe? - disse Ivana reconhecendo depressa a voz de sua mãe.
- Ivana?? - Isabel pergunta - Filha!
- Olá mamãe. Eu não pensei que você fosse atender o telefone aí da casa no mexico.
- Filha! Que bom que ligou! Como está? E como conseguiu me ligar? Aconteceu alguma coisa??? O que houve filha? - pergunta preocupada.
- Quantas perguntas Dona Isabel... - diz ironicamente - Eu estou bem mamãe. Não aconteceu nada.
- Ah isso me deixa aliviada filha. Mas é que você nunca liga pra mim. Por isso me preocupei. Mas, você sabia que eu estava no México? Como soube?
- Me contaram mamãe. Não importa que foi. Eu só queria te dizer umas coisas.
- Filha, está me deixando preocupada...
Ivana que caminhava pelo quarto, finalmente se senta na cama e diz:
- É que... - engole em seco.
- O que filha? O que quer me dizer?
- Eu sei que não tenho sido uma boa filha. Que a Senhora merecia uma filha melhor, que fosse normal e que não tivesse a cabeça cheia de confusões como a minha está.
Izabel franze a testa, não esperava que sua filha dissesse aquilo e responde:
- Não, não filha! Não fale assim, eu te amo do jeito que você é. E juntas vamos vencer toda essa situação. - diz Isabel passando confiança para a sua filha.
Ivana não contém as lágrimas.
- Obrigada mamãe. Eu sei que não costumo dizer muito isso mas, - sente um nó se formar na sua garganta, não sabia se conseguiria dizer aquela palavra que a tanto tempo ela queria dizer, até que em um momento de coragem ela finalmente disse - eu te amo.
Isabel sorriu, ela raramente escutava isso da sua filha. Talvez tenha escutado algumas vezes, porém mais quando Ivana era criança.
- Mamãe? Esta aí? - Pergunta Ivana por não escutar sua mãe lhe responder.
- Sim! Sim filha, claro, desculpe só fiquei emocionada ao escutar você dizer isso. Não sabe o quanto essas palavras me fazem feliz. Você é a coisa mais importante na minha vida, e a pessoa que eu mais amo e me importo filha, nunca se esqueça disso.
- Eu sei mamãe. Desculpe tardar em perceber isso.
- Ah filha, o importante é que você saiba, que não está sozinha que tem uma mãe ao seu lado que te ama e que faria tudo por você.
A enfermeira aparece na porta, e faz um sinal para Ivana de que ela teria que terminar logo a chamada antes que alguém visse. Ivana assente e diz:
- Mamãe agora eu vou ter que desligar, já deu a hora de falar no telefone.
- Tudo bem filha, foi muito bom falar com você, e logo estarei indo te ver.
- Está bem mamãe. Sinto sua falta.
- Eu também filha! Você não sabe o quanto!
- Bom, agora tenho que ir.
- Tchau filha, que Deus te abençoe sempre!
- Tchau mamãe.
Elas se despedem. Ivana se sentia aliviada em dizer isso a sua mãe, que a amava. Fazia tanto tempo que ela sentia vontade em falar isso, mas não conseguia. Talvez demorou até que ela percebesse que a sua mãe era a pessoa mais importante para ela, a única em que ela poderia confiar completamente.
José Miguel sempre teve razão quanto a isso. Ivana era muito dura com a mãe dela. Talvez ainda seus problemas da infância fossem os responsáveis. Não que a culpa fosse de Isabel, mas foram as consequências de tudo de ruim que aconteceu.
O médico de Ivana, Dr Leonardo Gomez, estava saindo do seu expediente na clínica. Em quanto assinava alguns papéis na recepção viu a enfermeira Dolores, e falou com ela:
- Lola,
- Boa noite como vai Doutor Gomez? - respondeu a senhora enfermeira.
- Muito bem Lola, obrigada. E como está a paciente Dorantes depois da permissão para sair para o jardim?
- Tenho percebido que ela está melhor. Mais calma. Creio que os medicamentos tem acalmado ela, ela também não tem tido alucinações.
- Isso é realmente muito bom. Espero que ela não precise ficar dependente desses remédios. Que consiga ter autocontrole. Afinal não é uma doença fácil.
Lola olha para ele, meio receosa de perguntar, mas diz:
- Doutor, será que ainda não é muito cedo para dar um diagnóstico desse? Será que talvez as alucinações dela mão sejam surtos momentâneos?
- Olha Lola, não posso mentir, todos os índices apontam que ela tem sim esquizofrenia. E alguns outros transtornos, isso não dá para negar.
Lola mantém um olhar meio triste e diz:
- Coitada. Eu tinha acabado de lhe dar palavras de esperança, que ela tinha chances de sair daqui.
- Nunca faça isso. Não podemos dar falsas esperanças aos pacientes.
- É eu sei. Mas é que quando ela está em seu momento de lucidez parece tão normal.
- Sim eu sei. Mas a qualquer momento ela pode voltar a ter um ataque, principalmente quando o efeito do remédio passar. Então temos que ter cuidado com ela.
- Está certo Doutor.
O médico, que já tinha anos de experiência, parou para refletir muito sobre Ivana. Era triste ver uma mulher tão linda, jovem e cheia de vida em seus 33 anos passar por isso. Ivana tinha muitas marcas do passado que ainda não foram reveladas a ninguém.
Feridas antigas, mas que apesar do tempo não haviam se cicatrizado. Ela sofreu muito em sua infância, coisas que ninguém, ainda mais sendo uma criança deveria passar. Ele desconfiava de muitas causas para que ela fosse uma pessoa tão traumatizada.
Era muito claro que o seu EU de hoje refletia coisas que aconteceram na sua infância. E ele estava disposto a descobrir o que havia acontecido com ela nesse misterioso e obscuro passado...
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