Quem diria hein? Eu, a menina tímida, inocente e taxada como incapaz de viver longe da barra da saia da mãe esta há mais de seis meses morando em outro país.
São seis meses longe de tudo. Longe de casa, da minha família, dos meus amigos, dele... Não vou negar, mentir que não sofri ou que não senti a falta dele. É claro que sim! As primeiras semanas foram as piores, eu chorava trancada no quarto, não queria ver ninguém e me sentia a pior mulher de todas. Sem contar que emagreci e minha fisionomia já não era mais a mesma.
Mas o mais torturante era quando meu celular tocava e ninguém falava nada, isso aconteceu por diversas vezes e na maioria delas foram a noite. A única coisa que eu ouvia era a respiração da pessoa do outro lado da linha, e apesar de doentio/torturante, eu ficava ouvindo até pegar no sono. Sem esquecer do que aconteceu dias antes da minha viajem. Uma certa noite eu dormia em meu quarto e senti perfeitamente um corpo perto do meu e alguns carinhos pelo rosto, o problema foi que eu não conseguia acordar de jeito nenhum, e quando isso aconteceu a única coisa que vi foi a janela da sacada aberta e o seu perfume isalado no ambiente.
Até hoje não sei se foi um delírio meu ou aquilo realmente aconteceu.
Eu sentia tanta falta daquele perfume...
****
Paulo Castagnoli P.O.V
Campo Largo-PR, 20h02 da noite.
Eu tinha vacilado, vacilado pra caralho! E nada que eu fizesse iria trazer ela de volta. Já são seis meses desde então, seis meses que não sou mais o mesmo e sofro por não ter a mulher que eu tanto amo comigo.
Mas eu esperaria pelo perdão dela o tempo que fosse.
Flashback On
Depois de tanto pensar eu cheguei na conclusão que precisava conversar com ela, ou pelo menos pedir perdão por todas as vezes que vacilei e não dei o devido valor que ela merecia.
. Não adianta ser rei, ter grana, ser esperto, sem minha dama seria incompleto.
Eu não podia perde-la. Não queria. Só o pensamento de não poder tocar mais nela me enlouquecia.
Peguei o carro do meu pai e fui até sua casa, mesmo sabendo que todos daquela casa me odiavam, inclusive o Ricardo que não fala mais comigo.
- Paulo, quanto tempo! - Falou um dos seguranças do condomínio.
- Pois é, fiquei um tempo sem aparecer por aqui... Sabe se tem alguém em casa? Preciso falar com a Maria.
- Você não soube?
- Do que? - perguntei confuso.
- Foi a família toda morar em São Paulo, eles se mudaram faz uns dois dias, e a Maria foi pra Londres. Ela deixou isso pra você.
Eles conseguiram... Eles tiraram a minha menina de mim. Esse foi o dia que eu chorei pela primeira vez por uma mulher
Flashback Of.
Eu estava sentado na cama do meu antigo quarto, em minhas mãos tinha o bilhete que ela pediu que me entregasse caso eu procurasse por ela.
"Você não foi capaz de reconhecer tudo o que eu fiz. Você fez questão de jogar fora todo o amor que eu te dei. Você teve tudo pra me prender a você, mas escolheu me deixar ir. E eu fui."
Esse bilhete por mais simples e doloroso que fosse, de alguma forma eu me sentia mais perto dela. Dobrei o papel e guardei novamente na carteira.
Ahh se esse quarto falasse... Foi nele que eu tive os melhores momentos da minha vida. Eu ainda consigo fechar os olhos e lembrar perfeitamente dela usando minha camisa como pijama e dormindo agarrada em mim.
- Filho, você está tão estranho...- Minha mãe perguntou ao entrar no quarto.
- Isso tem a ver com a viajem da Maria?
- Eu to bem mãe, relaxa.
- Uma mãe reconhece quando um filho não tá bem, e eu lembro de você ficar trancado no quarto quando soube que ela foi embora.
- Mãe, ela tá estudando em uma das melhores escolas do mundo, em um lugar incrível, a única coisa que eu preciso fazer agora é torcer por ela.
- Você tem razão... Mas tem algo que queira me contar? - Ela perguntou.
- Não, você não entenderia.
Ninguém iria entender... Nem eu mesmo entendo.
*****
Paulo P.O.V Of
Londres, 00h46 da noite.
Eu tinha um grande problema, ser muito curiosa e trouxa. Quando terminei com Paulo coloquei tudo que ele havia me dado em uma caixa pra colocar fora, mas não consegui e deixei no fundo do meu closet, antes de viajar coloquei a carta dele na mala e a trouxe comigo.
No momento eu estava com ela em mãos em dúvida se lia ela ou não.
Rasguei o envelope com as mãos trêmulas e tirei o papel de dentro dele.
''Oi meu amor, você deve tá me odiando agora, não é? Eu te entendo e acredite, eu também me odeio. Me odeio por machucar tanto uma menina tão incrível e maravilhosa como você.
Você deve estar se perguntando o porque de tudo isso está acontecendo, porque eu te magooei... Em primeiro lugar eu quero deixar claro que eu sempre te amei, sempre fui apaixonado por você. No começo achei que fosse besteira, que era só uma paixãozinha adolescente, mas aí a gente foi crescendo, foi se envolvendo cada vez mais e era inevitável eu não pensar em você antes de dormir, ou querer te acordar com uma mensagem de bom dia. Mas acontece que eu nunca levei jeito pra isso, nunca soube como demonstrar o que estava sentindo por você, e pra chamar sua atenção acabava pisando na bola na tentativa de você me notar. Me notar além do seu melhor amigo.
Você acha que era fácil pra mim deitar do seu lado pra gente assistir um filme e não poder te encher de beijos? Não era fácil, meu amor... Mas vou te contar um segredo: Eu já te roubei vários beijos enquanto dormia. Qual é? Eu não resistia a essa sua boca maravilhosa!
Cada dia que se passa eu me apaixono mais por você. Cada detalhe do seu corpo, seu cheiro, sua voz, teu olhar... Você é mais que perfeita! Sei lá, o que você tem... só sei que isso me faz tão bem!
São 2h58 e eu to aqui te escrevendo, na cama aonde a gente tanto se amou... E chorando por saber que vou ter que me afastar de você. E acredite, eu não queria que fosse assim, mas como seu pai me disse: Você não merece ter alguém como eu do seu lado.
Pois é, princesa, seu pai nos afastou outra vez... Lembra do que dia que ele pediu pra que eu fosse ao escritório dele? Ele me fez uma proposta... O trato era ele pagar a minha dívida e em troca eu teria que sumir da sua vida, ou então fazer algo que te afastasse de mim. Eu fui fraco, amor... Me desculpa... Era a sua vida e a da minha família que estava em risco.
Espero que um dia me perdoe e volte pros meus braços, aqui é o seu lugar.
Eu te amo além da vida!"
Eu não sabia o que pensar, em minha cabeça tinha várias perguntas sem respostas e eu estava mais confusa do que nunca.
Como eles tiveram a coragem de ter feito isso comigo?
Fazia mais de 15 minutos que havia lido a carta e continuava com ela nas mãos sem saber o que fazer. Uma parte de mim dizia que eu deveria ligar, a outra que ele era um filho da puta e eu deveria deixar isso pra trás.
Tocou uma, duas, três... Na quarta quando estava pronta pra desistir meu corpo todo se arrepiou ao ouvir sua voz.
- Alô? - Ele atendeu com uma voz serena.- Alô? - repetiu e eu soltei um gemido por conta do choro.- Meu amor... É você? Por favor, se for, não desliga! Eu preciso ouvir sua voz!
- Gu...
- Minha linda... - Ele falou baixo.- Que saudade! Tá tudo bem contigo? - Ele perguntou, mas eu demorei a responder.
- Sim... Eu to bem. E você?
- Agora eu to ótimo! Que surpresa você me ligando. Tento te ligar todos os dias, mas você não me atende.
- Eu troquei de número quando vim pra cá, poucas pessoas tem.
- Ahhh sim.... Porquê ligou? Aconteceu alguma coisa e eu não to sabendo?
Idiota! Trouxa! Como você é burra Maria Clara!
- Eu... Desculpa, não deveria ter ligado.
- Não desliga, por favor! Não é nada disso que você tá pensando. Eu só fiquei muito surpreso com a sua ligação, você me surpreendeu. Não desliga! Por favor!
- Eu to aqui...
- Isso é tão errado!
- O quê? - perguntei confusa.
- Você aí... Do outro lado do mundo! Era pra estar aqui comigo.
- Você pediu pra que eu fosse embora.
- Não era pra me ouvir! - Ele falou e eu suspirei.- As coisas estão tão difíceis desde que você se foi...Eu nunca pensei que pudesse sentir tanto a falta de alguém como sinto a sua. Sinto saudade do seu carinho, do seu abraço, do seu cheiro, do seu beijo... Saudade de você. Eu mudei tanto, meu amor. Não sou mais aquele cara grosso, egoísta e arrogante, eu to me tornando alguém melhor por você, to tentando de todas as formas fazer diferente dessa vez. Até me mudei pra São Paulo, sabia? Pois é, eu moro há menos de 15 minutos da sua casa, voltei a estudar e estou atrás de emprego.
- Você precisa mudar por você, pra ser alguém melhor pra si mesmo, e não por alguém.
- Mas não é por um alguém qualquer, é por você. Por nós!
- Não existe um "nós", Paulo. Acho que na verdade nunca existiu.
- Eu preciso te dizer tantas coisas...
- Dizer o que? Se justificar sobre as merdas que você fez? Eu acabei de ler a carta, e quer saber? Eu não sei mais em quem devo acreditar!
- Você leu? Seu irmão disse que tinha colocado fora.
- Sim! Acabei de ler, to com ela aqui e cheia de perguntas sem respostas. Eu não consigo entender... Como você foi capaz de me machucar por dinheiro?
- Amor...
- Não me chama de amor! Você mentiu pra mim!
- Foi pro seu bem! Eu não era uma boa companhia pra você, foi o melhor a fazer.
- Me machucar era a coisa certa a fazer, Paulo Augusto? Só se foi pra ti! Você me humilhou, me traiu! Tem noção de como sofri? De como foi difícil pra mim?
- Não sou assim amor, não contigo, tu sabe disso. Eu fui fiel a você, fui fiel ao nosso amor. Foi só uma maré ruim, eu não tive escolhas. Perdoa meus erros e não desiste de mim.
- Agora já é um pouco tarde pra arrependimento e pedidos de perdão.
- Nunca é tarde, a não ser que... - Ele disse sem completar e suspirou.- Você conheceu outra pessoa?
- Não... Eu não consigo. - respondi.
- Eu também não consigo, nenhuma delas tem o seu cheiro... Sinto a sua falta.
- Não sente.
- Por que está dizendo isso? - Ele perguntou.
- Porque você só "sente a minha falta" quando ninguém mais sente a sua.
- Eu sinto a sua falta todos os dias, eu não aguento mais de saudade, amor. Eu te amo tanto, não faz assim.
- Não mente mais pra mim. - pedi.
- Nunca menti sobre meus sentimentos por você, eu sempre te amei.
- E sobre a minha primeira vez? - perguntei desconfiada.
- Foi a noite mais incrível e inesquecível da minha vida.
- Se der tudo certo, no final do mês eu vou pro Brasil. - falei mudando de assunto.
- Sério? Que notícia boa, meu amor!
- Sim, vou ter duas semanas de férias no colégio.
- Tem chances da sua vinda ser definitiva?
- Não, eu quero continuar estudando aqui. Quero acabar o colégio, e entrar em uma faculdade.
- E a gente? - ele perguntou esperançoso.
- Paulo, acabou. Você mentiu pra mim.
- Eu não tive escolhas, fiz tudo pensando no seu bem e no da minha família.
- Já tá decidido! Assim como você tomou suas decisões, eu escolhi as minhas. Eu só volto pro Brasil pra visitar, minha vida agora é aqui.
- Lalinha... - Ele sussurrou baixo. Droga! Ele estava chorando.
- Você está chorando? - Perguntei, mas ele não respondeu.
- Quantos anos pra eu te ter de volta?
- Seis, talvez sete.- respondi.
- Eu te espero.
- Você precisa viver a sua vida, não pode parar por mim.
- Você é a minha vida.
- Eu preciso desligar, já tá tarde e amanhã eu tenho aula logo cedo.
- Fica mais um pouco? Não desliga...
- Eu preciso.
- E eu preciso de você!
- Para, por favor!
- Para você! Caralho, eu não aguento mais ficar longe de ti! Esquece o passado e vem viver o presente comigo. Eu vou te fazer feliz, vou te amar da maneira certa dessa vez.
- Eu to sendo feliz aqui, só te liguei pra saber da verdade. Manda um beijo pra sua família e diz que estou com saudades. Se cuida!
Tu tu tu...
"Destinos diferentes, vontades parecidas, ela pensa no futuro, ele quer viver a vida."
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