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História Apaziguar (MS x MG) - Você Finge Que Me Odeia Mas No Fundo Paga Pau


Escrita por: Nikkiyan

Notas do Autor


Oi minha gentee! 😘 Desculpem o meu atraso colossal de novo! Vcs vão ficar meio brabos comigo, mas de novo o capitulo tava ficando muito grande então tive que dividir mais uma vez! Então esta ainda não é o último cap! Vai ter mais um que já tem mais de 7mil palavras escritas! Então tenham só mais um cadim de paciência 🙈

Ah, queria deixar dito aqui que, quem leu os capítulos anteriores recentemente devem ter notado que a Piauí aparece como homem, mas é que eu lancei o cap 3, eu ainda não tinha criado a personagem e nem tinha ideia de como ela seria e nem se seria mesmo homem, por isso só peço pra ignorarem, uma hora eu corrijo aquilo! Mas a Piauí é mulher, viu!

Bom, o capitulo tá grande, com 16mil palavras, então não vou enrolar muito aqui! Uma boa leitura pra vocês!

Capítulo 4 - Você Finge Que Me Odeia Mas No Fundo Paga Pau


Mato Grosso do Sul

 

 

Eu estava bem puto com essa situação, era incrível como uma coisinha só já me tirava do sério fácil. Eu fiquei transtornado do Pará ter conseguido tão fácil fazer o meu tempo no touro mecânico e sem cair! Só queria superá-lo de alguma forma...!

 

E agora, eu olhava o mineiro que parecia perdido. O Paraná o empurrou pra mais perto e eu só o encarei, meio apreensivo. Bem, foda-se, eu não tava pensando muito na hora, só queria ganhar do Pará!

 

– Matin, tem certeza disso? O Acre falou... – O Mineiro ia tentar falar algum motivo pra não ir, mas eu já logo o cortei.

 

– Foda-se! Não viu que o Pará nem caiu? Foi pelo peso! Se tiver nós dois, vai ficar mais pesado e não vamo cair, para de ter medo! – Falei já dando abertura pro Minas subir no touro.

 

– M-mas vamo juntos igual dois cara numa moto mesmo? 

 

– É, caralho!! 

 

A galera ao redor tudo gritando "MINAS, MINAS, MINAS" torcendo pra ele ir. Pelo visto tavam achando que a gente ia cair bem feio agora, pois não só a Rondônia, outros estados também pegaram o celular pra nos filmar... Será que isso tava deixando o Minas nervoso? 

 

Não, Minas não tem problema com platéia, e nem problema com desafios físicos que exigiam força... Por que ele tava tão nervoso assim?!

 

Sinceramente, antes do Pará resolver montar, eu tava esperando que o mineiro fosse sozinho... Eu queria ver o tempo dele, afinal ele é um rival que também é da roça e lida com gado. Fora a força dele que já se mostrou superior à minha... É, eu aceitei isso.

 

Mas agora eu queria tirar aquela postura de "fodão" do Pará. Só porque o cara é bonitão, alto e fortão, fica se achando! Me irritava bastante! Se eu tiver que me aliar com o mineiro só pra derrubar esse lazarento, eu me alio! 

 

– Ah, tá, fazer o quê... – Ele acabou aceitando sem precisar falar mais e subiu no colchão inflável, logo montando no touro com postura de quem tá acostumado. Ótimo! Com ele, eu não teria preocupação de escapar fácil da corda. – Pera, eu fico na frente? – Ele perguntou confuso.

 

– É claro! O Matinho que quer ser o fodão, o fodão é o que fica onde não dá pra se segurar bem, ou seja, atrás. – Paraná reforçou com uma plenitude na expressão de quem tava doido pra ver nós dois caindo desse brinquedo suspeito construído pelo Acre. 

 

Aff... Eu não sei como vai ser isso. Tô indo tudo na base do "seja o que Deus quiser". Todos os estados estavam ali em volta com a atenção total em cima da gente, fora a capital argentina, que olhava tudo de forma curiosa enquanto comentava coisas com Brasília. 

 

– Tem problema eu ir atrás? – Perguntei pro mineiro meio sem paciência enquanto subi no colchão inflável indo até o touro.

 

– N-não! Não, de jeito maneira! Bora, Matin! – Ele respirou fundo e enrolou bem a corda do touro no punho, dando umas puxadas pra ver se tava bem preso. Agora ele parecia mais confiante.

 

Eu logo subi na traseira. O touro tinha uma espécie de cela grande muito bem colada nas costas, que a borda era levemente levantada. Ali era o único lugar que o de trás conseguia se segurar. Eu ia virar tipo o garupa de uma moto. Eu e o Minas seríamos mesmo dois caras num touro. 

 

– Pronto...! – Falei me acomodando melhor. Óbvio que não fiquei colado no mineiro, deixei um espaço... seguro entre a gente... 

 

Puta merda, agora que eu tava vendo melhor a nossa situação... isso tava meio... baitola. 

 

– Irmão, se perder o equilíbrio, se segura no Minas!! – Ela gritou pra mim como um aviso. Ai, caralho, só agora depois de já ter subido aqui que eu tô vendo a situação sugestiva que eu e o mineiro estávamos prestes a passar... pelo menos pra mim ia ser meio complicado... Já tive uns pensamentos meio esquisitos pelo mineiro quando ele tava cantando Skank. Imagina agora... que o quadril dele tava quase colado no meu... Argh! Agora não é hora, corpo! Foca só em se equilibrar!

 

– Prontos? – O Acre perguntou já com o dedo no botão.

 

O mineiro e eu assentimos. 

 

– Vou apertar, no 3... 2... 1! Foi! – E assim, o pequeno nortista deu o Start, a regulagem tava no "normal", mas mesmo assim o touro já deu um baita tranco que eu quase bati a cara na cabeça do mineiro, mas eu inclinei um pouco pra trás apertando firme os dedos na borda da cela. 

 

Puts, era foda segurar nessa bagacera aqui! 

 

Assim que passamos o primeiro tranco sem cair, a galera ao redor tudo começou a gritar. Outros já tavam rindo, provavelmente imaginando a gente se esborrachando no chão daqui a pouco... ou vendo a situação de baitola que eu e Minas nos enfiamos sem querer...

 

– VAI, MATINHO!! 

 

– SEGURA, MINAS! 

 

– VAI, VAI, EQUILIBRA PRA ESQUERDA, PRA ESQUERDA!!

 

– SEGURA NO MINAS, MATO!!! 

 

Num dos trancos pra frente, Minas acabou descolando a bunda do touro e tombou pra frente, mas como ele tava com a mão bem presa na corda, ele não caiu fora. Ele foi pra frente igual o Ceará. 

 

– Aaahh MATIN!!! – Ele pareceu pedir por socorro, provavelmente tava escorregando mais a cada movimento brusco do touro. Eu, por ato reflexo, tirei uma das mãos da cela, agarrei o cós da calça dele e o puxei de volta pro lugar. 

 

Ainda bem que a calça dele não abaixou.

 

Mas, por eu ter soltado uma mão da cela, eu também acabei ficando com o corpo mais solto em cima do bicho e escorreguei pra frente mei de esgueio, dando uma puta encaixada no quadril do mineiro. 

 

Daí foi só desgraça, porque no susto eu acabei soltando a outra mão e tive que segurar na cintura do Mineiro (porque era a única coisa disponível ali!), que continuava deitado de bruços sobre o touro segurando com as duas mãos firme pra não cair!

 

Pior que justo na hora, o touro começou a ir pra frente e pra trás e isso fazia eu ficar... sarrando no mineiro sem querer.

 

Isso tudo só levou uns segundos, mas parecia que a gente tava ali há uns 3 dias! Os 8 segundos não acabavam nunca. Se bem que eu tava querendo de início era fazer uns 10, que é pra mostrar que eu era brabo mesmo.

 

Mas encoxar o mineiro desse jeito tava me desconcentrando, então eu acabei vacilando, e pelo visto ele também, porque nós dois nos soltamos do touro e caímos juntos, pela glória de deus, dentro da área do colchão inflável! Mas foi quase fora.

 

– OOOHHHHHHHHHH – Geral gritou mas ao mesmo tempo tavam rindo e assobiando muito. Eu já até sei porquê...

 

– Caramba!! 9.38 segundos!! – Acre falou mostrando o cronômetro em sua mão. A galera gritou, aplaudiu e assobiou! – Nem eu consegui ficar esse tempo sendo um garupa!

 

– Sério?! – Minas se colocou sentado, aparentemente impressionado e logo sorriu comemorando o recorde. Seu rosto tava vermelho... provavelmente da movimentação brusca, isso deixava mesmo a gente desnorteado. 

 

A gente ouviu o trio do terror gritando as coisas que eu já tava esperando deles: "AE MATO, FOI BOLA DENTRO TOTAL!!" "MINAS, VAI PRECISAR DE CADEIRA DE RODAS?! KKKKKKKK" "AÍ AINDA NÃO É MEIA NOITE NÃO PRA ROLAR ESSAS POUCA VERGONHA!" "QUE PENTADA VIOLENTA!"

 

– Cês tão doido, sô?! – Minas fez uma voz indignada, mas que ao mesmo tempo aceitava a brincadeira, mesmo que encabulado. 

 

Óbvio que dois homens se encoxando no touro mecânico sem querer era engraçado pra caralho pra quem via de fora. Eu é que não pensei nisso antes de ir, mas já que fomos, tanto eu quanto o mineiro só aceitamos que vamo ficar ouvindo sobre isso por um bom tempo! 

 

Eu até que abri um sorriso mínimo, pelo menos essa humilhação toda valeu pra eu tirar a postura de fodão do Pará, que estava batendo palma para nós dois.

 

– Éegua, Mato, tu e o Minas são brabo mesmo! – O paraense falou de forma bem plena e eu apenas ajeitei o chapéu dando um sorriso vitorioso. 

 

Eu estava ajoelhado até o momento ainda dentro do colchão inflável, mas senti que algo tava esquisito, até eu olhar pra baixo e ver que tinha... um volume na minha calça...?! 

 

O quê?! CARALHO!?

 

Eu apenas mordi o lábio inferior e tentei disfarçar, por sorte eu tava dentro do inflável que tinha uma parede margeando o touro. Talvez ninguém tenha notado... Mas o Minas tava aqui comigo e justamente agora ele resolveu virar pra mim e falar alguma merda qualquer aí que eu nem tava prestando atenção direito na hora.

 

– M-matin!! A gente arrebentou, né?! – Ele estendeu o punho pra mim, esperando o toque de "parceiros de time". Eu, suando frio, apenas engoli seco, me fiz de besta e correspondi seu toque.

 

A voz do mineiro saía com um toque de timidez no meio da alegria costumeira... Será que ele... Há quanto tempo eu tô com a barraca armada?! Será que ele sentiu?! Eu tava completamente encaixado no quadril dele, com certeza ele sentiu! Ou será que não...? 

 

Eu nem percebi que hora que ficou duro! É tipo aquelas ereções matinais que o homem tem de vez em quando... a gente nem percebe! O pau resolve dar uma espreguiçada do nada! 

 

Mas que porra! Eu dei umas respiradas fundas pra me acalmar e fazer abaixar o mais rápido possível, tava meia-bomba, mas se eu pensasse muito no motivo, ele poderia ficar mais rígido em dois palito... Não que eu soubesse o motivo!! 

 

Taquei o foda-se, disfarçadamente dei uma ajeitada no "amigo" pro lado e puxei mais tecido da calça pro lugar pra acobertar tudo! Por sorte eu usava calça larga, e não essas calça justa colada na coxa que o Goiás usa. Calça de baitola! 

 

– Matin, tudo bem?  – O mineiro perguntou, provavelmente confuso ao ver minha afobação.

 

– Eu tô com calor! Só isso! – E assim, me coloquei em pé e desci do colchão inflável logo, sem olhar o mineiro, andando em direção ao fundo do grupo que rodeava o brinquedo. Eu precisava mudar o foco um pouco. Passei pelo Pará, dando um toque de mano no braço dele, que deu um olhar de deboche pra mim, sorrindo.

 

Por mais que o grandão do Norte me irritasse, admito que ele era um rival e tanto pra competições que exigiam habilidades físicas. Eu sei que eu sou o emocionado que quer ganhar de todo mundo, mas até que ele entrava na minha e competia comigo às vezes... 

 

– Outra hora eu vou tentar ser o garupa também, Mato. Só falta eu decidir quem eu ponho na minha frente. – O Pará falou. 

 

– Hunf, e quem cê escolheria? – Perguntei cruzando os braços, como quem não quer nada. O nortista deu uma olhada ao redor, pensativo. 

 

– Pra caber comigo ali, tem que ser alguém pequeno... não ia pedir pra nenhuma das meninas porque, né... Deu pra ver o que acontece quando se vai de garupa com alguém... – Pela primeira vez eu vi o Pará sendo malicioso e ainda deu um toquinho no meu ombro que me deixou constrangido. Mas eu não respondi nada! – Ia ser... desrespeitoso com elas... Então... Acho que eu iria com o Ceará.

 

– Ah, e com o cabeçudo cê vai então, é? Baitola... – Comentei dando uma cuspida no chão. E olhando de canto, vi que ele coçou a nuca, levemente envergonhado. – Heheheh, ainda mais que o Ceará não para quieto! É com isso que cê quer ganhar de mim? O Minas monta muito melhor! 

 

– Ceará é brincalhão. E pensei nele justamente por isso... ia aumentar a dificuldade pra mim ainda mais, então mesmo se eu fizer o mesmo tempo que você, eu ganharia pela dificuldade. – O tom calmo do Pará me empurecia muito.

 

– Ah, tomar no teu cu, Pará! Para de inventar regrinha a mais! – Pelo visto eu e ele ia ficar aqui o dia todo com esse papo se deixassem... ou eu ia brigar sozinho, porque o Pará entra na minha só um pouco, mas depois cansa e vai fazer outra coisa...

 

– Então eu vou com o Minas pras condições ficarem iguais. Que tal? – Ele falou calmo e levemente inclinado pra mim. Quase como uma provocação...

 

– NÃO!! – Mordi o lábio logo depois que percebi que a resposta saiu sem pensar.

 

Pará me olhava com os braços cruzados, sorrindo e sem um pingo de surpresa por eu ter levantado a voz do nada. Quem se surpreendeu fui eu e logo me recompus.

 

– Q-quer dizer, foda-se! Cê faz o que cê quiser! – Falei desviando o olhar e ele riu, ao mesmo tempo olhei pro arredor. – Cadê o mineiro...?

 

Vi o dito cujo montando no touro novamente, só que sozinho, amarrou a corda em volta do punho e virou pra mim com um olhar bravo, mas um sorriso confiante.

 

– Eu que sou seu rival, Matin! Agora é a minha vez de fazer os 8 segundos. Sozinho! – Ele gritou de lá pra todo mundo ouvir e confesso que isso me fez parar só pra olhá-lo. – Vai, Acre! 

 

O do dino então deu o Start e o touro novamente ergueu e começou a fazer aqueles movimentos bruscos que chegavam até a assustar quem tava vendo de fora. 

 

Minas fez a postura clássica de peão de rodeio, apenas uma mão segurando na corda do touro e a outra mão pra cima. Provavelmente pra Deus já puxar ele, caso fosse preciso. 

 

Por estar mais leve agora, sem ter eu junto, assim que perdeu o equilíbrio, ele foi lançado pra mais longe, pra fora da área do colchão! Foi pro lado oposto de onde eu e o Pará estávamos, o que me fez dar um passinho pra frente em reflexo de tentar pegá-lo... mesmo que inutilmente.

 

Mas quem o pegou foi o Potiguar, que também era um cara bem alto e peitudo, porém não tão grande quanto o paraense. Ele conseguiu amortecer o impacto do mineiro, mas deu uma cambaleada pra trás, já que o Minas era mais troncudinho. Todos os outros nordestinos que tavam ali foram saindo da frente pra não serem pisados sem querer.

 

– EITA SÔ! – O mineiro exclamou todo descabelado. – Qual foi o meu tempo? 

 

– 8.12 segundos! Aí siim, Minas!! – Acre falou aplaudindo e todos os estados ao redor seguiram o embalo. Até eu aplaudi, confesso... mas foi só um pouco, logo eu parei.

 

Minas ergueu as mãos em gesto de vitória! Até deu uma abraço no Norte, no calor do momento... já que ele ainda tava no colo dele... vai ficar aí pra sempre? 

 

Do nada então, veio voltando de lá do salão as duas meninas, a loira do Sul e a ruiva do Nordeste, que pelo visto tinham saído daqui e quase ninguém percebeu! 

 

– PERAÍ! – Paraíba, de forma escandalosa, chegou até o Acre, chamando a atenção de todos. – Eu vou de novo! 

 

– Té doidé?! Minina, vá deitar! Já perdeu, já deu PT de dia, o almojanta nem saiu ainda... Vai ser mó presepada!  – Ceará falou, mas foi interrompido pela própria.

 

– Ah, tu dê licença, inocente! Agora que tá valendo de verdade, porque eu tô sóbria! – Paraíba disse dando uns tapinhas na cabeça grande do cearense antes de subir no inflável.

 

Todo mundo ficou atento, curioso só pra ver no que ia dar. Ou seja, tava todo mundo querendo ver ela se esborrachando no chão, porque eu vi vários pegando o celular pra filmar de novo. 

 

Minas já veio vindo pra mais perto de mim. Não parou do meu lado, mas ficou perto pra ver melhor o desempenho da paraibana agora. Ela parecia bem mais sadia do que uns momentos atrás...

 

– Ai, essa menina não toma jeito... – Bahia botou a mão na cintura, olhando a cena com cara de quem já tava de saco cheio de chamar atenção da "criança" teimosa. 

 

– PARAÍBA, SE GANHAR ESSE, EU TE FAÇO UM BOLO DE ROLO! – Pernambuco gritou, mas pela cara dele, acho que já esperava que ela não iria conseguir. 

 

– VAI PARAÍBA!! Representa bem os nordestinos aí, hein muié!! – A Piauí, que não tinha feito escândalo até agora, por incrível que pareça, se empolgou. – Se passar vergonha, vai apanhar de todos os nordestinos, viu!! – Eita, aí sim eu gostei. Tem que ter um incentivo bruto desses se não, as mula não anda! Eu gostava bastante do jeitão da Piauí, ela poderia ser muito atentada igual o meio irmão cearense, mas ela não era tão irritante como ele. 

 

– Mas se ganhar, cada um vai fazer um doce pra você!! – Sergipe era mais como o Minas, incentiva falando coisas mais... amor, coisas boas, energia positiva, felicidade... Aff. Ou seja, coisa de fresco que me deixa enjoado! 

 

– Não, não promete essas coisa não, galado, vai que ela consegue! – Potiguar falou pro Sergipe dando-lhe um tapa na bunda pra baixar a bola. 

 

– Queisso, doido?! – O surfista falou indignado, massageando a própria bunda. – Mão grande e pesada essa sua... 

 

Rio Grande do Norte nada respondeu, apenas ficou erguendo as sobrancelhas pro loirinho de um jeito meio estranho... Eu, hein!

 

– Aí, conecta essa sua energia renovada com o touro que vai dar bom, pai. – Maranhão falou, noiado como sempre, pra incentivar a doida paraibana.

 

– Ela parece mais disposta agora, não parece? – Alagoas comentou, passando o dedo no queixo, observando como Paraíba montava o touro de forma totalmente diferente da última vez. Tava bem mais firme e confiante.

 

– Claro, a guria tá renovada, acho que agora ninguém para ela...! – Catarina comentou ao lado da alagoana, rindo, mas ao mesmo tempo parecia preocupada com a impulsividade da ruiva. 

 

– Tu tava com ela?! – Bahia perguntou. 

 

– É, mas foi só pra segurar o cabelo e dar um enxaguante bucal pra ela. Ela ficou nova em folha depois de... Hã... por tudo pra fora! – A loira sulista explicou, deixando Bahia um cadin mais tranquila. 

 

Aliás, eu pensei, "segurar o cabelo" pra quê?! A paraibana já anda com o cabelo preso! 

 

Se ela fizer um tempo melhor que eu ou o Pará, eu vou ficar nervoso!

 

Ela enrolou bem a corda no punho e fez a postura do peão igualzin do mineiro. Puta que pariu...?

 

– Acho bom já prepararem todos esses doces pra mim então!! Pode mandar, Acre! – Ela deu o sinal verde. 

 

O indígenazinho, com cara de quem tava doido pra saber o final disso, apertou o Start. E lá foi aquela desgraça jurássica, que a gente tava chamando de "touro", começar a fazer aqueles movimentos bruscos já no arranque!

 

O empenho da Paraíba foi totalmente diferente de antes! Da primeira vez, ela parecia um furão dopado amarrado no touro pelos pés! Tava tão mole que parecia que não tinha osso!

 

Agora, ela tava com postura e expressão firme que até me deixou preocupado... de ter que ir lá de novo tentar bater um tempo bem maior pra eu não perder a moral que acabei de conseguir. 

 

Por mais que ela acabasse descolando a bunda do touro, ela recuperava e se ajeitava no lugar todas as vezes sem problema. Eu acho que o único perigo que tinha ali era ela estar fazendo isso de saia. Uma saia que ia até um pouco abaixo do joelho, mas ainda assim era uma saia. 

 

Ela parecia não estar nem aí se alguém visse sua calcinha... se bem que, vou falar, pra mim eu acho que ela usa é cueca boxer. 

 

– 8 segundos! – Acre gritou, mas antes que ele tentasse desligar o touro, a Paraíba gritou.

 

– DEIXA! – Ela sorriu vendo que já alcançou os 8 e não quis parar. – EU FALEI QUE FAÇO 30!

 

– OHHHHHHHHHHHHHHHH – Geral gritou! E o que antes ninguém tava dando moral, agora ficaram bem empolgados pra ver até onde a Paraíba iria. O problema de montar não era apenas físico, mas o balanço forte constante deixava o cérebro bem tonto! Por isso que peão que cai do touro tá sempre meio grogue e com reflexo lento na hora. 

 

Tá, agora a ruivinha tava mostrando que era braba mesmo. 

 

– VAI PARAÍBA!!! – Os nordestinos e a Catarina começaram a gritar bem alto torcendo, e Acre começou a contar alto olhando pro cronômetro.

 

– 15 SEGUNDOS!! 16!! 17!! 18!!...

 

E assim todo mundo, incluindo eu também e até o Buenos Aires e a Brasília, começamos a gritar os segundos junto com o Acre, o que acabou virando um coro bem alto! Todos atentos à ruiva sardenta. 

 

Ainda bem que nóis não tinha vizinho que reclama de barulho, porque agora tava todo mundo gritando. Aliás, os vizinho eram os próprios que estava aqui, então foda-se!

 

 

 

Brasil

 

 

 

Coloquei o último caldeirão bojudo de feijoada sobre o descanso de panela de ferro no balcão. Eu sei que eu teria que repor o estoque que ainda restava nos panelões da cozinha, maaas, no mínimo, o banquete tava bonito! Digno de tirar foto e mostrar pros outros países o que eles tão perdendo de bom!

 

Eu estava orgulhoso de mim mesmo. O balcão parecia um restaurante self-service tradicional rústico e sofisticado! 

 

Haviam três caldeirões bojudos de feijoada, feitos por mim; duas travessas grandes com couve picada e mais uma de salada tradicional, dois panelões enormes de arroz branco soltinho, todos feitos pela Bahia; uma travessa grande de farofa temperada da roça, feita pela Mato Grosso; seguido por várias pequenas tigelas cada uma com um molho ou tempero caseiro feito um por cada estado que quis contribuir pra dar um "tchan" no próprio prato e pra deixar pros outros experimentarem. Aí vai de cada um, né... tipo o Pará e o Amapá que trouxeram açaí! 

 

Depois disso tudo, a seguir estavam quatro jarros de sucos de maracujá, de laranja, de goiaba e de abacaxi todos batidos agora a pouco pelo Argentina, que se ofereceu pra tarefa. 

 

E mais tarde, eu traria as sobremesas que estão na cozinha ainda. Isso incluia um bolo de cenoura feito pelas irmãs Roraima e Rondônia, um bolo de fubá cremoso feito pelo Tocantins, esse tinha jeito pra sobremesas! Um bolo de rolo do Pernambuco, um manjar de côco com calda de ameixa feito pela Alagoas e por último, para a alegria de muitos, bastante brigadeiro feito pela pequenina Espírito Santo! Essa leva, o São Paulo que trouxe de carro mais cedo, a pequenininha não teria conseguido trazer esse monte de brigadeiro na moto! 

 

Enfim, um puta banquete que eu estava bastante orgulhoso!! Até saquei o celular do bolso e fui tirando foto do buffet de vários ângulos! Vou mandar no grupo dos Brics e no da panelinha da Copa que acabou se formando. Chupa essa, França! Culinária do Brasilzão aqui não tem pra ninguém, fi! 

 

– Ahh... Huele muy bien! – O loiro comentou de braços cruzados enquanto sentia o aroma maravilhoso da comida fresquinha e quente recém-servida!

 

– É sim! E valeu por bater os sucos pra mim! Isso era uma coisa que eu já tava esquecendo de fazer. 

 

– De nada, gatito... – Ele respondeu sorrindo da forma mais normal do mundo. Eu só virei pra ele com uma cara bem de besta.

 

– Hummm... me chamou de "gatito"? – Era a primeira vez que ele falava isso, por isso achei curioso.

 

– De nada, pajero! – Ele falou com um pouco mais de "ódio" na voz e fez bico, juntando as sobrancelhas. 

 

– Pra quê disfarçar assim? Só tem nós dois aqui no salão agora! 

 

– Pero tus estados están justo ahí... – Ele apontou pra saída do salão onde dava pra ouvir as vozes de todos eles gritando e assobiando. 

 

– Ah, ô gatito... cê nem pensou nisso há uns momentos atrás quando a gente deu uns pega atrás do balcão da cozinha depois que a Bahia saiu de lá... – Falei com um olhar nada inocente pro loirinho, que só desviou o olhar, fazendo cara de "aquilo foi só uma recaída, não vai rolar de novo!" 

 

– Hunf, cala boca, tonto...! – Ele respondeu dando um tapão no meu braço. Que, não vou mentir, doeu pra porra. Ele é forte...

 

– Bem, bora chamar o povo antes que a comida esfrie! – Assim tirei o avental e o deixei no encosto de uma das cadeiras e logo fomos eu e Argentina juntos até o pessoal que só pelo barulho, deu pra ver que tavam fazendo uma algazarra e tanto. 

 

Enquanto descíamos o gramado é que eu vi um touro mecânico ali! Caralho, e eu achando que eles tavam brincando de pular corda aqui fora! 

 

Em cima do touro mecânico, tava a ruivinha paraibana montada, e o touro se movia de uma forma meio... preocupante. Paraíba balançava muito forte pra lá e pra cá e não caía de forma alguma! 

 

– EI, PESSOAL!! – Gritei enquanto chegava bem perto deles, mas eles gritavam tão alto que não dava pra me ouvir. Ainda mais que o Acre tava falando... no MEU megafone?! Que horas que ele pegou isso?! 

 

– DEZENOVE!! VINTE!! VINTE E UM!! VINTE E DOIS!!... 

 

Eles tavam contando os segundos que a Paraíba tava no touro, pelo visto.

 

– AÔ, GENTEEEE!! – Gritei de novo agora, já colado na borda do círculo que eles formaram em volta do touro. 

 

– No vai funcionar... tiene que llamar atención de otra maneira. – Argentina cochichou pra mim de um jeito de quem passa por essas coisas com as próprias províncias. Bem, do jeito que ele me contou, parece que as províncias argentinas faziam tanta algazarra quanto meus estados aqui, mas ainda assim pareciam mais comportados que os meus.

 

Resolvi esperar a Paraíba cair então, mas a bichinha era porreta! Caramba, ela aguentou até dar 31 na contagem em coro! Trinta e um segundos! Depois disso ela deu uma vacilada no punho que a fez se soltar e voar pra frente, sendo pega pelo Pará que parecia já estar posicionado ali caso isso acontecesse. 

 

– 31.14 SEGUNDOS!!! – Acre gritou erguendo o cronômetro como se alguém conseguisse enxergar o número ali! Todos então gritaram eufóricos pela paraibana, gritaram como se tivesse sido gol meu na Copa!! Pará a colocou no chão e a própria ergueu os braços pro alto, comemorando o feito!

 

É, essa menina é braba. Não é à toa que joga de igual pra igual com os caras no futebol. 

 

Só que agora eles não paravam de gritar nem um pouco e parece que nem notaram minha presença aqui! 

 

– PESSOAL!! – Chamei de novo e nada! Me senti invisível. Virei pro Argentina, que apenas ergueu os ombros numa expressão de quem tava quase rindo. Puta que pariu, ser ignorado pelos meus estados na frente do Argentina? Eles vão me pagar por isso, vai todo mundo pro canto ajoelhar no milho!

 

Eu logo me enfezei e vi que o carioca, junto ao resto dos sudestinos, eram os mais próximos de mim. Como eu já tava sem paciência, toquei o ombro do Rio, que tomou um sustinho, pois também gritava com todos.

 

– Brasil? – Ele virou pra mim e eu falei bem perto de seu ouvido.

 

– Rio, chama a atenção de todos pra mim, por favor! – Falei e cruzei os braços, esperando. 

 

– Hehe, é pra já, chefia. 

 

O carioca então, rapidamente deu um passo pra trás e ergueu um pouco a camisa e dali do cós da bermuda, tirou um revólver, provavelmente uma glock 9mm, destravou ela, apontou pra cima e deu três tiros seguidos. 

 

Os disparos altos e estridentes fizeram todo mundo levar um susto e parar o que estavam fazendo pra se abaixarem. É, o reflexo pra tiro tava bem afiado em todo mundo aqui. A Paraibana se jogou no chão!

 

– Que diabéisso?! 

 

Todos viraram-se para nossa direção curiosos.

 

– AÊ, PATRÃO QUER FALAR, CARAI! – Rio gritou num puta vozeirão grosso e logo botou a arma de volta no cós da calça e me deu sinal de joinha. 

 

São Paulo até desviou o olhar, não sei porquê. 

 

– Pero que carajos...! – Argentina tinha tampado os ouvidos com as mãos e logo me olhou perplecto.

 

– É arma de Airsoft, relaxa! – Falei meio rindo, mas deu pra ver que ele não acreditou. Voltei minha atenção pra todos, que agora reclamavam umas coisas tipo "Que porra foi essa?!" "Oloco meu!!" "Ai, eu tô surdo!" "Qual foi, patrão?!" e segui falando. – Pessoal, atenção!

 

– Meu pau na sua mão!

 

– Aôu! Ceará!! – Fiz uma cara mais séria e ele ficou quieto, mas ainda ria. – Tô querendo avisar aqui que a feijoada tá pronta! Já tá servida, bora lá comer! Quero que façam fila indiana sem atropelar o coleguinha, viu!

 

Falei, quase como o dono de uma creche, batendo palma e tudo pra irem logo e eles todos comemoraram, nem parecia que comeram churrasco quase toda a parte da "manhã" de hoje. Que não era bem manhã, né. Agora era quase 4 da tarde, esse almojanta é que ia sustentar esses doido pelo resto do dia!

 

– Pera, pera, pera! – Rio chamou a atenção de todos rapidamente, que já estavam pra se arrancarem do lugar pra voltar pro salão.

 

– Que que foi, peste, nós tamo com fome! – Pernambuco resmungou e outros resmungaram atrás dele.

 

– Não, é que antes de comer, só acho que ia ser dahora ver o patrão no touro mecânico... – O carioca falou naquele tom meio gingado de quem tava com maldade no coração. 

 

– Qual foi?! – Eu mesmo arqueei a sobrancelha diante da proposta, pronto pra recusar, pois eu também estava com fome. 

 

– Oh... Yo quiero a ver esto! – A voz do loiro atrás de mim me chamou a atenção. Virei perplecto pra ele com uma cara de "poxa, me ajuda aqui, né véi?"

 

– Verdade, ia ser dahora! 

 

– Macho, eu é que não perco isso por nada!

 

– Bah, mas vocês são pentelho, hein. – O Gaúcho reclamou.

 

– VAI BRASIL!!

 

– VAI BRASIL!!!

 

E assim, um coro começou até se tornar unânime. Mesmo o próprio Argentina e até o Buenos Aires gritavam junto e batiam palma. Era quase um "parabéns pra você"!

 

– Cêis tão de zuera, né?

 

– No tienes que irse se tienes miedo. – Argentina falou de braços cruzados e uma cara de deboche que aí sim me fez subir um fogo de nervoso. Agora mexeu com meu ego.

 

Uni as sobrancelhas, dei uma ajeitada da minha camisa florida verde e amarelo, joguei meu cabelo pra trás e fui desfilando como o bonzão até o touro.

 

– Hunf. Acre, se esse troço tiver nível de velocidade, bota no último desde o início pra mim! – Falei firme e sem engasgar enquanto subia no inflável. 

 

– Ah S-sim, senhor! – O pequeno indígena concordou.

 

– Quem fez o melhor tempo até agora? – Perguntei agora por fim montando no touro. Por que ele tinha um logo do Jurassic Park?

 

– A Paraíba.

 

– Fui eu aqui, senhor! – A nordestina ruiva apontou a si mesma com o polegar com uma soberba transbordando. – Trinta e um segundos! 

 

– Eu faço trinta e dois então! – Falei sorrindo malandro e dando uma piscada de longe pro Argentina que vai engolir as palavras. – Pode soltar, Acre! – Falei sem tremer e como se fosse o fodão, e eu realmente era! O líder dessa porra toda era eu! 

 

Quando o acreano deu o Start, o touro deu um tranco muito forte pra frente que já me fez tombar de cabeça na testa do bicho. O que me segurou de já não cair pra fora foram os chifres! 

 

No que eu me levantei pra me sentar de volta na área da cela, o bicho me começa a girar mexendo pra cima e pra baixo. Puta merda, que movimentos eram esses?! Parecia que o touro ia explodir a qualquer momento!

 

No terceiro giro eu fui arremessado pra fora do ringue. Os estados que estavam na área que eu ia cair começaram a correr pra lá e pra cá com os braços erguidos pra me pegarem, todos gritando "peguei ele! peguei ele!", mas nenhum, nenhum mesmo me pegou e eu me espatifei no chão no meio deles. 

 

– CHEFE?! – Os que estavam ali gritaram em coro e logo formaram uma rodinha em volta de mim pra ver se eu estava vivo.

 

– Oxi, mas vocês falaram que pegaram ele! – Pernambuco comentou olhando torto pros outros ao redor. 

 

– Inclusive tu! – O carioca retrucou. 

 

– Meu Deus, alguém revive ele aí!!! – Acre falou aflito. 

 

– Bota ele sentado!! – O Sergipe sugeriu.

 

– Macho, tem que acordar ele deitado se não cai a pressão. – Ceará falou como se fosse um médico.

 

– Oxi quem te falou uma presepada dessa?! – Piauí questionou torto o cearense ao seu lado. 

 

– Confia! 

 

– Shhhhhh, abre espaço pra ele respirar! – Norte tomou a iniciativa de usar seu respeitoso tamanho pra fazer os outros afastarem um pouco. E eu levemente acordado, vendo tudo isso de forma turva, mas ouvindo perfeitamente.

 

Enquanto isso, eu tava retomando a visão, via cada rosto ali me olhando em círculo. Até que o vulto maior que parecia ser o Pará, agachou ao meu lado e me pegou nos braços. Norte se aproximou logo depois, se inclinando de leve pra ver minha situação.

 

– Tudo bem, chefia? – O Potiguar perguntou preocupado, me olhando de frente e dando uns tapinhas no meu rosto. 

 

– A gente errou o timing... – Pará tentou me colocar no chão em pé, mas sem me soltar, como se eu fosse o Morto Muito Louco, só faltou os óculos escuros. 

 

Enquanto isso, os outros estados me encaravam com olhares preocupados ou aflitos, tanto que não faziam um único barulho. 

 

Eu respirei fundo finalmente me recompondo e deixando de me apoiar no grandão da região Norte pra me virar pro pequeno indígena dono do monstro mecânico.

 

– Qual foi o meu tempo?

 

– Er... 5.34 segundos, até que foi bom, chefe! – Acre falou com um sorrisinho em graça. Puta que pariu, eu tava todo posudo antes, mas agora eu vi que é difícil pra porra ficar em cima daquilo.

 

– Aff... vou de novo então! – Falei confiante.

 

– NÃO, NÃO, NÃO!! – A maioria gritou em coro. Digo "maioria" porque sempre tem a galera do fundão que incentiva a continuar as ideias absurdas! 

 

Enquanto eu tirava a poeira e os fiapo de grama da minha roupa, o Argentina saiu de trás da rodinha dos estados e veio até bem na minha frente.

 

– Hunf... boludo. Mira cómo estás... – Ele me encarava com um sorrisinho sereno mas de quem tava rindo da minha performance. Ele passou a mão pelo meu rosto numa espécie de... carinho? Mas era um carinho meio bruto. – Mi turno ahora! – Ele falou e eu fiquei "hã?"

 

– Turno?! Como assim?

 

– Montaré el toro! – Ele só falou, deu uma batidinha no meu ombro e foi indo pro inflável. 

 

– SÉRIO?! – Perguntei, mas nem tentei impedir.

 

– Como tu dices: podipá! – Ele falou fazendo hang loose e confesso que isso fez meu coração dar uma palpitada.

 

– Dios mío, essa o resto das províncias vai ter que ver! – Buenos Aires puxou seu celular e mirou na direção de seu líder, primeira vez que eu vejo esse secretário empolgado por uma zoeira. 

 

Os estados então voltaram sua atenção toda ao loiro argentino que subia no colchão inflável e montava no touro sem dificuldades. 

 

Assim que ele se acomodou bem e enrolou firme a corda no punho, se virou para o Acre.

 

– Ok, cuando quieras, chico! Estoy listo! – Ele passou a mão nas madeixas loiras, jogando-as pra trás. – Puede poner al máximo!

 

O indígena deu uma atrapalhada sozinho ali, mas logo segurou firme o controle. É, eu sei que o Acre tava meio nervoso era mais  por estar diante de um outro país, outro líder daqui da América do Sul, e não queria fazer besteira nenhuma. Mas ele se manteve firme e logo falou.

 

– Ok, começando então em três... dois... um... Valendo!

 

Acre deu o Start e todos ao redor começaram a gritar, mesmo a própria capital dele, Buenos Aires, tava torcendo e assoviando quase como uma torcida organizada. 

 

No primeiro tranco, o loirinho se manteve no lugar, se assustou com o tranco anormal desse brinquedo assassino, mas se manteve. No segundo tranco também... No terceiro também, no quarto... Oxi, que porra é essa?! Ele tava indo bem pacarai?! 

 

O touro parou de dar tranco e começou a fazer movimento pra frente e pra trás! Esse foi o momento que ele quase caiu e teve que agarrar o touro. Mas ele não caiu! Caraca, ele era teimoso até nisso?!

 

A velocidade do bicho já tava no máximo, mas tive a impressão de que ficou muito pior agora. A cara do Arg tava de pura concentração, mas agora que o touro deu uma endoidada, ele fez um olhar afoito e de "eita porra!"

 

Foi então que num dos giros violentos que o bicho deu, Argentina voou pra fora do inflável. Foi tudo em questão de segundos, mas eu, por reflexo, saí correndo bem na direção onde ele ia cair. Nem vi nada, quem tava perto, se o Pará ou o Potiguar o pegariam antes. Eu apenas fui! 

 

E como o que se espera, eu peguei o Arg nos braços antes que ele se espatifasse no chão, como aconteceu comigo.

 

Esse súbito movimento pareceu até uma cena de ação dos filmes do EUA! Só faltou rolar uma explosão atrás! 

 

O coro dos meus estados acompanhou todo o processo na base dos gritos e sustos. Mas assim que eu peguei o argentino no ar, eles começaram a aplaudir e assobiar. Era quase a mesma agitação de fazer um gol na Copa. 

 

Argentina se encontrava um tanto surpreso me olhando, mas logo vi aquele seu sorrisinho sínico que eu já tava mais do que acostumado.

 

– Oh... como tu dices, boa pegada! – Ele falou meio surpreso e meio não querendo perder a pose de bonzåo que deu agora a pouco.

 

– Hehe... – Dei uma risadinha e logo me virei fitando cada um dali daquela roda, mais especificamente os estados que tentaram me pegar uns minutos atrás. – ÓIA!! É assim que pega alguém, viu seus posers!!! – Falei num tom de glória e ao mesmo tempo de sermão, pois eu ainda sentia minhas costas doendo com a queda anterior. 

 

– Olha só chefin, mostrou que bota ordem! – Tocantins comentou num tom que parecia deboche mas ele tava sendo sincero.

 

– Uhuuuullll! O Brasil é demais!!! – A capixaba gritou dando pulinhos.

 

– Eu ia fazer exatamente isso! Só errei o timing! – Pará falou erguendo as mãos em rendição.

 

– Mas não fez! – Amazonas deu um tapinha em sua nuca. 

 

– Carai patrão, arrebentô! – Rio falou ao fundo. 

 

– É, que bom que reconhece já que foi ideia sua! – Falei.

 

– Ei, senhor Argentina! – Acre chamou e eu virei com o Arg pra direção dele. – Você fez 8.23 segundos!! 

 

– O QUÊ?!!!! – Ok, agora eu fiquei indignado, como que ele foi melhor do que eu?! Conseguiu ficar os 8 ali em cima! Ah não, véi!! 

 

O coloquei no chão e o encarei de forma perplecta, não acreditando que ele tinha ganhado de mim em algo no meu próprio território!! Ele apenas colocou a mão na cintura e fez aquele pose soberba de vitória igualzinho ele fez na Copa assim que derrotou o França, com um sorrisinho cínico. 

 

– Oh, que penita, no? 

 

– Ah, seu abusadinho... – Fiz bico o encarando com as sobrancelhas unidas.

 

– Beijaaa!! – Pernambuco gritou do fundo. 

 

– Beija!! – Rio gritou também, o que fez eu e o argentino olharmos ao redor e acompanhar o coro que contaminava todo o círculo com os 27 brasileiros e mais Buenos Aires de novo, mas agora era uma torcida diferente.

 

De repente já tava todos mundo "BEIJA BEIJA BEIJA BEIJA BEIJA BEIJA...!!!"

 

Argentina e eu perdidos olhando tudo aquilo, voltamos a encontrar o olhar um do outro. Vi que de alguma forma, essa platéia o deixou levemente constrangido, pois suas bochechas ruborizaram rapidamente, e vê-lo assim fez meu coração palpitar mais uma vez. 

 

Mordi o lábio inferior... Os estados ainda não tinha presenciado eu e o Argentina dessa forma, e embora eu nunca tenha anunciado nada publicamente, eles sabiam bem o que rolava entre mim e o líder argentino. Tanto que o Pernambuco comentou comigo hoje mesmo, eu não tinha vergonha de falar. 

 

Sendo assim, movido pela torcida e o calor do momento, puxei Argentina pela cintura até seu corpo colar no meu, o que o pegou de surpresa, pois ele arregalou bem os olhos quando o fiz. 

 

Passei a mão em seus cabelos loirinhos e pousei em sua nuca, então aproximei o meu rosto uns 70% do espaço entre nós e parei. Esperei...

 

Parece que tudo ficou em câmera lenta. Eu estava de olhos fechados, mas tava sentindo o que ele sentia: sua respiração meio acelerada, seu coração batendo mais rápido e suas pernas que temiam um pouco agora. Ele sempre falou pra mantermos nossa relação o mais discreto possível na frente de nossos estados e províncias.

 

Mas... eu gosto de ser transparente com meus estados, mesmo com alguns de meus assuntos pessoais e este era o caso. É assim que eu construí minha relação com eles, pra sermos mesmo como uma grande família e nos sentirmos na liberdade de compartilhar coisas sem medo da bronca ou do sermão. E eu queria trazer o Argentina para esta família...

 

Mais rápido do que eu imaginava, senti os lábios do loirinho de encontro aos meus, até abri os olhos pra ver real isso acontecendo. 

 

Ele não curtia beijar na frente de outras pessoas e dei o espaço pra ele recusar se quisesse, mas ele avançou os outros 30%. 

 

Assim que beijamos, mais e mais gritaria ao redor, que agora virou um torcida organizada pior do que antes! Eles praticamente avançaram sobre nós e ficaram rodando em volta pulando gritando e assobiando. 

 

– Hehe, perdoa, eles são agitados, afobados e emocionados assim mesmo! – Falei no ouvido do Argentina em meio ao barulho, ele logo veio até o meu e respondeu.

 

– É isso que eu gostei neles. 

 

 

~*~

 

 

Minas Gerais

 

 

Brasil e Argentina foram erguidos um pelo Pará e outro pelo Potiguar e foram sendo levados de volta pra dentro do salão da Bahia. E nós, todo o resto dos estados, fomos indo atrás como se fosse uma micareta e eles fossem o caminhão-pipa! 

 

Confesso que aqueceu o peito ver o chefe, que sempre passa por tanto perrengue e estresse, estar tão feliz num relacionamento com alguém. 

 

Falo isso pois nunca tive certeza se ele se namoraria alguém algum dia. Isso de relacionamento firme mesmo! Os países são sempre muito ocupados e com muitas responsabilidades, por isso acabavam tendo pouco tempo pruns trem desse tipo! Fora que... quando países namoram, eles nunca moram juntos um com o outro, por serem líderes de seus respectivos territórios e não poderem deixar sua nação. No máximo, eles apenas mantém visitas frequentes. A sorte seria se morassem próximos, o que é justamente o caso, Brasil e Argentina eram vizinhos então se viam e dormiam na casa do outro com bastante frequência.

 

Antigamente, era mais difícil ter isso, no máximo os países tinham casinhos uns com os outros pra saciar suas vontades carnais. Mas hoje em dia até que os países tavam conseguindo fazer mais seus lazer e outras coisas e manter um namoro sério... E tinha países tipo o França, que não perdoava ninguém, era pistoleiro até com as capitais! Se os países tão saideiros assim, os estados e províncias do mundo então.. Nóooo... 

 

Pelo que eu via o que não faltava entre nós, brasileiros aqui, era flerte, vários.

 

Enquando caminhávamos pra dentro do salão, agitados e pulando de forma festiva, eu via Bahia e Pernambuco seguindo o fluxo na mesma vibe do restante e estavam de mãos dadas. Pernambuco, que, pelas fofocas da Piauí, era um dos galinhas que flertava com várias pessoas daqui, tal como Goiás fazia, agora tá aí firme e forte com a Baiana. E o deles era relacionamento sério mesmo! 

 

Sorri espontaneamente ao vê-los... o que eles tinham era tão legal... 

 

Logo virei meu olhar pro outro vizinho meu, só que de outra região, que caminhava sem pular ou fazer farra, por ser mais marrento e do contra...

 

Matin era alguém que eu convivia há muitos anos tal como todo mundo aqui, e por ser vizinho, o via com um pouco mais de frequência... E depois, não sei em que momento exatamente, comecei a olhá-lo de outra forma, como se parasse pra prestar atenção em mais coisas dele que não fosse apenas o seu jeito estourado... e isso só piorou ontem, quando tiramos a árvore da estrada juntos e ele acabou dormindo na minha casa... 

 

Matin tinha características que eu descobri sentir atração. Um brutamontes que no fundo é um coração mole que não sabe se expressar... Ah, eu adorava esse tipo e não tinha parado pra pensar nisso! 

 

Era só um detalhe, um estopim, um gatilho pra desencadear todo um sentimento que por enquanto está pequeno, mas crescendo constantemente no meu peito e estava me fazendo, mesmo que de leve, querer com ele o que Bahia e Pernambuco tinham, mas não posso me precipitar. Eu não sei o que o Matin pensa, então ainda manterei esse sentimento seguro só pra mim... e pro São Paulo, né. 

 

 

~*~

 

 

 

Finalmente, a feijoada! E mais um monte de trem bão pra acompanhar essa maravilha!! O Brasil caprichou desta vez, porque tava tudo disposto no balcão como se fosse um restaurante self-service rústico e dos caros! 

 

A gente fez uma fila indiana como o próprio patrão pediu, mas os atropelamentos e briguinhas sempre rolavam. Pude ouvir Amapá discutindo com Tocantins por esse supostamente ter furado fila na sua frente, só vendo Pará apartar a briga unilateral dos dois. Digo unilateral porque só o Amapá que xinga, Tocantins só fica rindo ou zoando mais. Esse menino vai morrer um dia.

 

– Vai logo, ô "bixcoito"!! – Sampa, que estava na minha frente, entrou na fila bem atrás do carioca e já ficou impaciente por isso. Era fome, certeza.

 

– Calminha aí, ô bolachinha, não sou eu não, Maranhão que tá na minha frente! – Rio respondeu, apontando o nordestino paz e amor que pegava a sua comida com toda a calma do mundo.

 

– Aff... não me chame de disso... – Sampa criticou mas não pareceu ter odiado o apelido. 

 

– Vou voltar pro "tchutchuca" então! – Disse Rio rindo.

 

– Argh, esse é o pior de todos!! – Sampa deu um soco na costela do carioca tão forte que o fez até se curvar. 

 

– Argh! Caralho... tu é agressivão, hein viado... – Disse com uma voz sofrida, pressionando sua costela com a mão que não segurava o prato. Dei um risinho de leve com a cena, era costumeiro pra nós do sudeste ver o Sampa batendo no carioca. Mas depois fiquei meio preocupado, pois o paulista o golpeou forte com um punho cheio de anéis grandes nos dedos... pobre Rio.

 

– Ai, anda logo, Maranhão, a gente tá com fome! – Dessa vez a voz veio de trás de mim e pertencia à nordestina mais porreta depois da Paraíba. 

 

– Oxi, pra quê esse desespero todo, pai? Relaxe... – O maranhense fazia sua calma quase que contagiosa. 

 

– Macho, até chegar nossa vez, já vai ser Ano Novo! 

 

– Argh, para de falar cuspindo nos outros, ô diabo!! Senti daqui essa chuva de baba! – Piauí empurrou o cearense atrás de si, só que talvez ela não tenha calculado bem a força, pois Ceará até perdeu o equilíbrio e saiu da fila indo em cima do Sergipe, que passava com o prato já feito de feijoada e estava a caminho das mesas. 

 

Nem deu tempo de pensar, Ceará trombou com tudo nas costas do surfista e os dois foram pro chão juntos, fez o maior barulhão! Mas antes que eles caíssem, o Potiguar, que por sorte estava passando ali do lado, conseguiu agarrar com a mão livre o prato das mãos do sergipano salvando assim a sua comida. 

 

Em compensação, Sergipe bateu de leve o queixo no chão que deixou uma marca. 

 

– Ih, foi mal aí, macho! – Ceará, meio rindo da situação, se apressou em levantar e ajudar o companheiro de região. Eu já estava pra sair da fila e ir ajudar também, mas Piauí, que ficou alita com a cena, já foi na minha frente e estendeu a mão pro loirinho surfista.

 

– Argh, poxa, Piauí, precisava empurrar o cara com a maior cabeça daqui logo em mim? – Disse o sergipano. 

 

– Eu não tinha te visto não doido! Tu surge do nada!!

 

– Qual foi?! É só da minha cabeça que vocês sabem falar? Eu tenho outra coisa bem grande aqui se tu for macho e quiser ver! – Ceará disse e logo pegando no baixo-ventre e fazendo um "AUH" igual o Michael Jackson. 

 

– Argh, por que tu é assim hein?! – Piauí deu outro empurrão no peito do cearense, mas não o suficiente pra fazê-lo cair. 

 

– E tu que saí empurrando os outro e nem enxergou um maluco que tem o cabelo igual da Ana Maria Braga! – Ceará refutou.

 

– É o quê?! – Sergipe questionou indignado enquanto a mão do maior nordestino pousava em seu ombro, lhe chamando a atenção.

 

– Ligue não, Gipe, pelo menos sua comida tá a salvo! – Norte estava pleno e com aquele ar de que não houve nada e tudo estava sob controle. Ele estendeu o prato pro loiro surfista, que olhou aquilo com brilho nos olhos.

 

– Ah, v-valeu, Norte...! – Disse subindo o olhar pro mais alto. Sorriu na hora.

 

– Vish... Olha esse queixo, boy... – Confesso que a voz grossa do potiguar era bem... agradável de ouvir. Que foi? Eu não sou o único que tem essa opinião não, uai! 

 

Ele segurou a parte inferior do rosto do sergipano, analisando o pequeno machucado que ficou ali. 

 

– Nossa, bateu bem o queixo, que perigo. – Falou vendo que saiu um pouquinho de sangue.

 

– Ah, tá tudo bem, nem tá doendo...! – Sergipe deu um riso nervoso. – Obrigado por salvar minha feijoada, o patrão ia me matar se eu tivesse derrubado tudo no chão...

 

– Toma cuidado, "Ana Maria Braga"... – Potiguar aderiu ao apelido dado pelo cearense, que começou a cair na gargalhada. 

 

– Não me chame assim não, ô "boy"! – Ele refutou já continuando seu caminho com o prato em mãos, mas logo deu uma outra tropeçada. Logo olhando pra baixo e vendo que a alça de seu chinelo tinha arrebentado. – Ah, cara...!

 

– Menino, se ficar parado aí a comida vai esfriar! – Bahia que agora também passava ali com o prato cheio, parou pra ver a situação do loiro nordestino. Ela quase sempre agia como uma mão pra todos os estados, mas com o Sergipe ela dava uma atenção especial. – E o que é isso, bixin?! Que houve com o seu queixo?! – Bahia segurou o rosto do surfista, olhando o machucado com preocupação. – Vou pegar um remédio pra passar aí! – Disse já logo o deixando e indo pra saída da frente do salão. 

 

– A culpa foi do Ceará! – Apontou o loiro.

 

– Oxi, te enxergue, macho, foi a cajuzinha aqui, ela que me empurrou! – Ceará disse apontando Piauí à sua frente. 

 

– Se você parasse quieto de vez em quando, talvez não torrasse a paciência dos outro né, "macho"! Parece que tá com formiga na bunda, oxi. – Ela disse dura.

 

– Ei, calma, galados, vocês tão é com fome, só comer que eu sei que vão ficar tudo calminho. – O Norte, com aquela voz imponente mas que punha certa tranquilidade falou, relaxando a Piauí e o Sergipe, que continuava frustrado pelo chinelo. 

 

– Macho, tu devia gravar uns ASMR. – Ceará falou rindo. Logo, o grandão do Nordeste chamou Sergipe pra sentar consigo numa das mesas e se ofereceu pra consertar a chinela do sergipano. 

 

São Paulo, que já estava se servindo de sua comida, se virou pra trás pra olhar a cena de rabo de olho pra depois se virar pra mim.

 

– A voz do Potiguar é agradável de ouvir, né...?

 

Tá vendo como não sou só eu que penso isso?!

 

~*~

 

Já nas mesas, finalmente nos esbaldando na feijoada do patrão Brasil, que estava uma delícia mesmo, sô!! Ói, não que eu teja reparando muito, mas geral fez uma montanha no prato mesmo tendo comido um monte de churrasco.

 

Sentei-me com São Paulo numa mesa do lado da que estavam vários dos nortistas: Pará, Amazonas, Roraima e Amapá. Este último sentou um pouco mais afastado dos outros e ainda falava "Quem sentar do meu lado vai apanhar!". É, ele era mei bravinho. 

 

Rio ia sentar com a gente, mas no meio do caminho, Ceará o chamou pra sentar junto dele, Pernambuco, Tocantins e Piauí. É, já tava montado a mesa que provavelmente ia fazer mais barulho daqui do salão. São Paulo só olhou de canto o carioca indo até os outros zoeiros e soltou um "tsc", dando de ombros.

 

Eu olhava pra ele e depois pro Rio e sentia uma tensão no ar. Quero dizer, não tanto do lado do Rio, mas o Sampa parecia com a energia meio carregada. E não é de agora, parece que é desde... hum, quando o Rio cantou Naldo no palco talvez...

 

Mas eu acabei não questionando na hora, causa que a feijoada do Brasil tava boa demais da conta! Nuss, não deu pra pensar em mais nada, só nas primeiras colheradas cê já ficava pensando só na feijoada. O sabor do tempero do caldo e mais as linguiças e pedaços de carne junto ao arroz temperado da Bahia e mais a farofa da Matinha deixava o prato uma obra prima de chef! 

 

Poucos minutos depois, surgiu a nossa pequenina capixaba, que se acomodou de frente pra mim e Sampa na mesa. Esta trouxe um copão de suco de maracujá junto de seu prato. 

 

– Iáa, o cheiro disso tá bom demais! – Disse ela já mandando ver no prato. – Ué, cadê o Rio? 

 

– Foi sentar lá com os zueros... – Sampa apontou com o polegar por cima do ombro, sem nem olhar pra grupo, ele tava com uma cara de tédio. 

 

– Eita... – A capixaba inclinou um pouco pra ver melhor. – Olha, não dou meia hora pra um deles estar dançando em cima da mesa! Meu palpite é entre o Ceará e o Tocantins.

 

– Eu aposto no Tocantins, o Cê já tomou muito esporro do Brasil hoje, ele deve tá maneirando agora. – Falei. 

 

– Ihh, qual foi a pior coisa que ele falou só hoje? – Sampa questionou.

 

– Acho que foi o "meu pau na sua mão" bem na hora que o paizão tava falando sério! Hahahaha! – A capixaba respondeu. 

 

– Uai, mas ele já falou coisa bem pior que isso e o Brasil não disse nada! – Comentei.

 

A Espírito Santo então deu uma acenada de mão nem um pouco discreta do nada que fez eu e o Sampa olharmos torto.

 

Logo surgiu o pequeno indígena dos olhos pintados com seu prato de feijoada em mãos. 

 

– Ooi, tudo bem sentar com vocês? – Ele falou receoso nos olhando com a sobrancelha arqueada. Eu logo sorri, o Acre era legal só que não costuma ficar com outro grupo que não fosse dos nortistas, então achei curioso. 

 

– Claro fio, senta aí! – Falei em tom caloroso, enquanto São Paulo respondeu de forma mais séria.

 

– Hunf, é um país livre. – Logo continuou a comer. Acre então se acomodou ao lado da Capixaba e virou pra ela. 

 

– Eu achei uma coisa que você tinha perguntado um tempinho atrás. – Ele falou, logo tirando pra frente uma bolsa tiracolo que ele estava usando mesmo agora na refeição. Eu e Sampa olhamos curiosos praquilo.

 

Logo ele puxou da bolsa um livro antigo, daqueles de capa dura que parece que saíu de um filme de época, e pelo que enxerguei no título, era sobre Folclore Brasileiro. A Capixaba sorriu com brilho nos olhos. 

 

– Uaaau!! Ah, eu tava mesmo querendo ver isso! – Disse logo pegando o livro e o abrindo, folheando rapidamente as páginas. 

 

– Hahaha, essa é a versão mais completa que tem literalmente todas as lendas brasileiras! Acho que até a loira do banheiro tu acha aí! 

 

– Que massa!! Já imaginou fazermos uma festa à fantasia nesse tema? Cada estado ir de um personagem diferente...

 

– Caraca, ia ser dahora damais!!

 

– Ei, a comida, vocês dois! Vai esfriar. – São Paulo falou.

 

A Capixaba fez bico e o Acre logo se recompôs e focou em seu prato, mandando ver na feijoada. 

 

– Como assim você não vai sentar com a gente, menino?! – Amazonas se pronunciou da mesa ao lado, claro, não num tom bravo, mas sim num de brincadeira.

 

– Eu não! Vocês esqueceram de mim hoje! Vou guardar isso por vinte anos! – Falou o menino e eu arqueei a sobrancelha.

 

– Como assim esqueceram docê? – Perguntei.

 

– Minas, eles vieram pra cá em dois carros e nenhum deles pensou em me trazer! – Acre esbravejou apontando o pessoal de sua região bem atrás de si. Os nortistas fizeram cara de indignação, exceto pelo Amapá, que parecia apenas achar graça da situação.

 

– A gente falou que foi sem querer! Eu achei que o Pará ia te trazer! – Falou a indígena dos cabelos mais longos do Brasil. 

 

– Égua já falei que eu achei que ele vinha contigo! Você que é vizinha dele! 

 

– E eu falei que eu achei que ele tava na sua casa! 

 

– Tá vendo, Minas?! E eles ainda nem tiveram coragem de entrar no meu terreno, eles mandaram a arara ir me avisar pra ir até o portão! 

 

– Ai, não foi bem assim! – Amazonas refutou.

 

– É que eles não tavam querendo encarar os dinossauros! – Amapá comentou debochado e recebeu um olhar de tédio do acreano. A Capixaba logo acariciou seus cabelos lisos e negros, chamando de volta a atenção do Acre. 

 

– Relaxa, eu te entendo... eu também sou esquecida... – Ela disse e eu já tava pra dar uma resposta, mas o Acre falou primeiro.

 

– O quê?! Você?! Esquecida?! Mas você é lin- Q-quer dizer, por quê?! – Ele exclamou indignado e se embananando um pouco nas palavras. O Sampa parece ter ficado mais atento depois dessa fala.

 

– Uai... – Esse "Uai" a Capixaba puxou de tanto conviver comigo, hehe! –  Tem gente que me chama de "Acre do Sudeste" até! 

 

– OXI??!!! – O dos olhos pintados esbravejou. – EU VIREI O PAR METRO PRO ESQUECIDO?! 

 

Deu pra ouvir a gargalhada que o Amapá deu enquanto comia sua refeição, logo tomando um tapão do Pará. Amazonas ficou tentando amenizar a situação dos dois nortistas e do surtinho do Acre, enquanto a Roraima apenas comia em silêncio observando tudo ao redor, não apenas o que acontecia em sua mesa.

 

Depois Acre se virou pra nossa pequena Capixaba de novo.

 

– Eu até entendo o meu caso... eu fui o único que quis entrar pra família por conta... O Amapá até me chama de "adotado" por isso! – Ele falou mostrando a língua pro amapaense. Que mostrou "o" dedo em resposta. – Mas se alguém chamar você de esquecida de novo, pode me falar! Vou mandar meus dinossauros acabarem com ele! – O acreano falou firme e isso tirou um sorriso largo da nossa pequena da coroa de flores. 

 

– Aww Acre... – Ela então largou os talheres, se inclinou e o abraçou apertado o indígena, apoiando rapidamente a cabeça sobre o ombro dele, coisa que o deixou bem surpreso, o fazendo dar um sorriso bobo.

 

– Awwww que bonitinhos os dois pitchucos! – Amazonas, de lá da mesa do lado, comentou toda cheia de fofura apoiando o rosto nas mãos. Mas é, não dava pra negar que foi bem fofo mesmo.

 

– Ei, a comida! – Sampa falou de novo chamando a atenção dos dois, que logo se ajeitaram em seus acentos voltando a atenção na feijoada.

 

– Uai, Sampa, por que tá tão ranzinza assim? – Perguntei num sussurro só pra ele, vendo a Capixaba e o Acre voltando a papear bastante sobre o livro de folclore. Eles tem se dado bem há um tempo já, não precisava ficar com essa ciumeira de irmão mais velho que ele e o Rio demonstravam sempre quando se tratava da Capixaba. 

 

Admito que eu também sou bem protetor com ela, mas não um exagero como os dois. Quando eles querem, eles intimidam mesmo! 

 

Mas o Acre é tão bonzim, um menino de ouro, eu diria. Sorri ao ver ele e a baixinha se dando tão bem.

 

– Nada não... – Ele desviou o olhar de volta pro prato dando uma relaxada nas sobrancelhas a cada garfada da feijoada que colocava na boca. É, a comida tava tão boa que fazia a gente esquecer de qualquer incômodo que tivéssemos sentindo. 

 

E falando na feijoada, logo o autor desse almojanta surgiu com o loiro argentino, feliz da vida vendo geral elogiando sua comida. Até eu e Sampa demos os parabéns assim que ele passou por nós, já a Capixaba elogiou de um jeito um pouco mais estabanado, que o fez fazer um carinho no topo da cabeça dela. Os dois se acomodaram junto com os nortistas. Provavelmente foi o grupo que o Argentina conversou menos até agora, o Brasil tava fazendo ele entrosar cada hora com um grupo diferente.

 

Foi aí que dei uma olhada ao redor. 

 

Na minha mesa ficou eu, São Paulo, a Espírito Santo e o Acre, por enquanto. 

 

Na mesa a qual o Rio foi chamado mais cedo estavam praticamente todos os brincalhões do país: Rio, Pernambuco, Ceará, Tocantins e a Piauí. Não é a toa que era a mesa mais barulhenta. Eles falavam alto e riam de algum causo que o outro contava com todo um esplendor teatral. Às vezes um ou outro levantava da cadeira pra fazer uma mímica bem ridícula pra explicar melhor a história que estavam contando. Não duvido o Goiás sentar ali já já, ele costuma ficar um pouco com os zoeiros em todas as festas que fazemos. 

 

Do outro lado do salão, foram juntadas duas mesas pra virar uma mega mesona e ali se acomodaram a maioria das meninas do país: Paraíba, Bahia, Alagoas, Mato Grosso, Santa Catarina, Brasília e Rondônia! Mesmo sendo em muitas e ainda fofocando, elas faziam menos barulho do que a outra mesa. 

 

Por fim, mais pro centro do salão estava a mesa com o restante: Paraná, Rio Grande do Sul e seu irmão Rio Grande do Norte, o Sergipe ao seu lado e o Maranhão por ser, bem dizer, o best do loiro. Vi que Goiás acabou indo se sentar com eles e começou a conversar bastante com o Maranhão e o Sergipe. Uai, achei que ele fosse sentar, junto da Matinha, aqui com a gente... Mas pelo que eu tava vendo, ela tava era adorando fofocar com as outras garotas, visto que ela praticamente só convivia com homens. Não dá pra contar muito com a Brasília, pois ela era a mais ocupada de nós e vivia junto com o Brasil a maior parte do tempo. Vi que a própria capital também estava curtindo papear com as menina tudo! 

 

Buenos Aires não estava com ela desta vez, ele apareceu aqui na nossa área e por incrível que pareça, ele não se acomodou junto de seu chefe Argentina e sim conosco, bem ao lado do Acre. 

 

– Perdão, posso me sentar com vocês? – Ele perguntou bem educadamente.

 

– Mai claro sô, cê tá bão? – Falei e o argentino acenou com a cabeça, sorrindo educado.

 

– É um país livre. – Sampa falou, mas com uma cara de quem se questionava porque o secretário escolheu aqui.

 

– Ai meu deus, a capital do Argentina veio sentar com a gente!

 

– Eu quero conhecer bem todos os estados, vi que não conversei muito com o pessoal desta mesa. Acredito que vamos estreitar mais nossas relações, visto que agora tem aquela união ali. – Explicou ele, apontando com a cabeça o casal de países na mesa atrás. Eu prestava atenção em sua fala, mas não tirava os olhos da coroa de folhas dele, não caía de jeito nenhum! 

 

– Caraca, seu português é perfeito! – Comentou o Acre.

 

– Obrigado! E aprecio muito o reconhecimento! Estive estudando bastante. – Explicou ele, quase falava sem sotaque, mas um momento ou outro dava pra notar que português não era sua língua nativa. – E agora cheguei ao ponto de até estar ensinando pro Argentina. 

 

– Humm, e como ele tá indo? – O paulista perguntou. 

 

– Ele aprendeu bastante, mas ele deve estar falando só espanhol agora por timidez. – Comentou a capital argentina, ajeitando os óculos antes de começar a comer. – Quer dizer, até que ele tem um portunhol muito bom, maas...

 

– Puedo escucharte, Buenos Aires. – Falou o loiro da outra mesa pouco antes de dar a primeira provada na feijoada feita pelo amado. Sua expressão logo amoleceu. – Dios mío... esto... está sabroso! Como tu dices... muito gostoso. – Argentina disse virado pro parceiro brasileiro, que estufou o peito e já ficou todo cheio de ego. 

 

– Mas é claro que ficou! O pai aqui manja muito! – Disse nosso patrão apontando a si mesmo com muito brilho e soberba, que transformou a expressão do loiro de sorriso abobado pra uma cara de tédio. 

 

– Sí y muy... humilde también!

 

– Hahahaha, cê sabe que eu tô zuando, corazón! – O chefe deu um abraço no loiro.

 

O argentino deu um soquinho no ombro do Brasil. Achei a cena bem fofa, a essência de "rivaizinhos" ainda era presente neles, mesmo já estando juntos. 

 

Olhei pro lado e vi que Sampa conversava bastante com Buenos Aires, um perguntando do trabalho do outro. O paulista gostava de falar sobre trabalho sempre que dava até no meio da folga, nunca vou entender isso. Paulista é meio doido, sô!

 

Acre e Capixaba continuavam papeando entre si e ora ou outra falavam coisas com o pessoal do Norte na mesa do lado, na verdade mais com a Amazonas e o Pará. Roraima e Amapá permaneciam a maior parte do tempo calados. Dos dois, o amapaense é que soltava uns comentários sarcásticos curtos de vez em quando. 

 

Foi então que eu me virei pra trás e vi acabando de sair do buffet com o prato cheio o Matin, que olhava ao redor aparentemente procurando a irmã. Bem, o prato dele tava uma generosa montanha, ele colocou bastante couve e farofa.

 

Eu nem pensei duas vezes, já ergui o braço e acenei pra ele animado.

 

– Matin!! Aqui! Senta aqui! – Falei abrindo um espacinho pra ele no banco ao meu lado. 

 

Ele fez uma careta, aparentemente pensando se era uma boa ideia ou não, mas logo deu de ombros e veio vindo. 

 

Pernambuco, que tinha levantado pra pegar mais bebida, pois estava com um copo vazio na mão, passou pelo cabeludo na hora e sussurrou alguma coisa que o deixou bem bravo. Matin esbravejou com ele na hora.

 

– Vai tomar no seu cu, Pernambuco! 

 

O pernambucano saiu gargalhando até o buffet. Não tenho ideia do que ele falou, mas fez o Matin dar uma ajeitada no chapéu pela aba da frente, e quando ele ajeita o chapéu daquele jeito, quer dizer que ficou... constrangido com algo.

 

– Nossa, cê nem disfarça mais, né mano... Olha o jeito que cê chama ele. – São Paulo falou sussurrando pra mim. Eu logo mordi o lábio e senti meu rosto esquentar um pouco. – Hunf... ficar vermelho vai te entregar mais ainda...

 

– Ocê pare de falar então, Sampaa! – Falei fazendo bico. Milésimos de segundos depois o sul-mato-grossense surgiu ali.

 

– Nossa, essa mesa tá uma mistura... – Comentou Matin vendo que tinha sudestino, nortista e argentino só aqui. E agora um centro-oestino! Ele então se acomodou do meu lado e já atacou a comida sem intervalos. 

 

– Oi Matinho! – A Capixaba o cumprimentou.

 

– E aí, quase campeão do touro mecânico! – Acre também.

 

– Hum... Aôba. – Matin de boca cheia respondeu ao cumprimento. Acho engraçadinho o povo se cumprimentando tudo de novo na mesa sendo que já se cumprimentaram quando chegaram na festa hoje cedo.

 

São Paulo apenas acenou de leve, logo deu uma olhada de rabo de olho pra trás. Notei que, de quando em quando, ele fitava a mesa dos zoeiros, certeza que ele tá meio incomodado do Rio não ter sentado com a gente e não quer admitir. É doido isso, ele xinga horrores o Rio e manda ficar longe, e quando o Rio realmente o faz, o Sampa fica... enciumadinho. 

 

Acho que qualquer um aqui conseguia ver o joguinho desses dois, principalmente por Rio não fazer questão de disfarçar.

 

O paulista ainda fala que eu que fico dando pinta. Eu escondia melhor do que ele! E o Sampa é besta também, depois de ver o Rio cantando no palco, deu pra notar que se ele quisesse, o carioca virava ele do avesso. Era só falar! Não sei pra quê fazer esse doce... Eu é que não podia fazer isso, não sabia o que o meu... crush pensava ainda...

 

Eu dava umas olhadas discretas no Matin comendo e logo desviava entrando na conversa da mesa... Acre então falou no touro mecânico e imediatamente me senti envergonhado de novo. Porque eu lembrei...

 

Na hora, a gente tá na adrenalina do brinquedo, e ainda tem a euforia de muita gente olhando, então tem detalhes que deixamos de lado no calor do momento... mas lembro bem que quando eu e o Matin távamos juntos no bicho, eu senti um... volume roçando em mim. 

 

Um volume que parecia ser aquela corda que sempre levava consigo enfiada dentro da calça. Minhas bochechas esquentaram de novo. Sentir o Matin daquele jeito, mesmo por cima das roupas, me deixou... com muito calor, tanto pela vergonha da situação com um monte de gente olhando, como por ter sido um contato meio provocante pra mim. Juro que se medissem minha temperatura naquele momento iam achar que eu tava com febre alta.

 

Dei uma olhadinha mei de esgueio mais abaixo no Matin e fiquei imaginando... será que naquele momento ele ficou excitado? Ou era o tamanho normal aquilo? Não dava pra saber... Quer dizer, eu não costumo ficar roçano a bunda no volume dos outro, então eu não tinha noção.

 

Talvez ele tenha ficado incomodado com a situação... 

 

Mas uai, se tivesse incomodado ele não teria sentado do meu lado agora... Ai diacho, eu não sei mai o que pensar desse trem. 

 

Virei o olhar pro Matin mais uma vez querendo muito iniciar qualquer conversa, mas por algum motivo, nada me vinha em mente... Eu não ia comentar sobre o touro mecânico pois poderia ser constrangedor... não sei o que ele achou, né! Tudo que eu notei é que ele não me olhou mais na cara depois disso. Ele olhava pra todos nos olhos, até mesmo pro Buenos Aires, que às vezes perguntava de curioso algo sobre a região Centro-Oeste do Brasil. Matin respondia de forma curta, monossilábico às vezes, mas olhava o argentino nos olhos. 

 

O mesmo valia também pro Pará, e o resto dos nortistas ali, que estava na outra mesa e mesmo assim, quando falava com o sul-mato-grossense recebia a resposta com o olhar deste. 

 

Ele não deve estar me olhando nos olhos porque sabe o quê eu senti naquela hora no touro... eu senti muito bem! Será mesmo que ele odiou tanto o que aconteceu e tava tentando fingir que nunca rolou? 

 

Por que ele sentou do meu lado então se tava evitando me olhar...? Bem, conhecendo ele, eu diria que ele tá tentando não mostrar fraqueza tanto pros outros, como pra si mesmo. Mostrar que tipo "ó, eu passei por essa situação vergonhosa e meio gay com esse mineiro, mas não tô nem aí, isso não me afeta nem um pouco, posso ficar perto dele de boa, ó"... É, algo assim. 

 

Só sei que... Nossa, o Matin comia que nem um animal. Nem garfo ele tava usando, ele pegou foi uma colher e a segurava como se fosse uma chave de fenda, e não com a "graciosidade" que o resto da mesa fazia. São Paulo e Acre davam uns olhar torto... e eu tava achando aquilo charmoso! 

 

Eu mordi o lábio ao dar a última garfada, limpando o prato da saborosa refeição típica brasileira. Tava ótima, outros foram terminando também e igualmente davam os parabéns ao Brasil que acertou em cheio em todos os temperos, no preparo da carne, na densidade do caldo e dos grãos de feijão.

 

Antes que eu tentasse mais algum outro assunto com Matin pra quebrar qualquer gelo que foi criado entre nós, Matinha acabou o chamando pra ir ali na mesa das meninas. 

 

Ele uniu as sobrancelhas, olhando torto a irmã e então se voltou pra nós da mesa. 

 

– Falou procês! – Ele pegou seu prato vazio e saiu dali rapidamente, indo até Mato Grosso, que imediatamente pediu pra ele se abaixar um pouco ali, e então ela passou a mão nos cabelos dele, falando algo tipo "Olha, passem a mão! Eu falei que era muito macio! Tá pau a pau com a Amazonas!" E então uma a uma se levantou e passou de leve as mãos nas mechas negras e lisas do sul-mato-grossense. A que teve a reação mais exagerada ali foi a Rondônia, que tinha pleno conhecimento do quão sedoso e bem cuidado eram os cabelos longos da colega de região. Todas então começaram a fazer perguntas sobre como Matin cuidava do cabelo e por aí foi o assunto, ele acabou até sentando um pouco com elas.

 

Não muito tempo depois, já chamaram a mais alta das mulheres brasileiras até ali pra compararem os cabelos. O próprio Matin passava a mão nos fios longos da Amazonas, olhando de forma impressionada e analítica. Os dois então começaram a conversar horrores ali sobre cabelo e hidratação junto das demais meninas. Por aí, o assunto foi! 

 

Eu apenas bufei e virei pra frente, fazendo bico. Não deu pra controlar, claro que eu fiquei brabo! Eu tava aqui ensaiando um monte de coisa que podia falar com ele e nada, e agora ele tá lá falando um monte com as meninas... 

 

– Eu tô falando que cê não tá sabendo mais disfarçar. – Comentou o Sampa apenas pra mim, dando um gole no suco logo em seguida. 

 

– É, que nem ocê com o Rio! – Falei e isso fez o Sampa engasgar com a bebida. Logo me levantei com o prato vazio indo levar pra cozinha. – Já acabou? – Perguntei, recolhendo não só o do paulista, como os pratos do Acre, da Capixaba e do Buenos Aires, que ainda conversavam um monte entre si e com a mesa dos nortistas. 

 

Eu sei que não era do meu feitio dar umas respostas assim, ainda mais pro Sampa. Mas eu realmente tava incomodado num ponto de me fazer perder um pouco a postura de gentil que eu sempre tenho. 

 

Daqui a pouco vou sentir um peso por ser meio seco, mas no momento...

 

Eu não fazia papel nenhum, eu sempre sou mesmo alegre e gentil com todos na sinceridade! Mas tem horas que não consigo... 

 

 

 

~*~

 

 

 

Depois que todos já haviam almoçado, vários repetido o prato, e a louça toda posta na pia da cozinha, cada panelinha ficou na sua própria mesa, papeando vários assuntos aleatórios. Os nordestinos começaram uma partida de truco com alguns dos nortistas e tava rolando até agora. Até o Acre e a Capixaba foram lá pra ver as partidas.

 

Brasil e Argentina sentavam em todas as mesas pro loiro entrosar bem com cada estado. Não sei porquê mas sinto que, logo mais, vai rolar algum encontro de nós, todos os estados brasileiros, com as províncias argentinas. 

 

No final eu fiquei com Sampa, Paraná, Gaúcho, Potiguar e Sergipe na mesma mesa. Eles haviam se acomodado aqui com a gente por ficar mais perto do palco. Eles queriam ver de perto as músicas ao vivo que voltaram a rolar na festa. 

 

Como era clima pós-refeição, agora só rolava umas músicas mais calminhas, daquelas boas só de ouvir sem dançar. 

 

Goiás e Maranhão estavam como dupla no palco agora. Goiás no violão e Maranhão cantando. E claro que era um bom e clássico reggae! O de cabelos cacheados tava mandando um Natiruts muito que bem cantado. 

 

 

...

 

Cresça, independente do que aconteça

Eu não quero que você esqueça

Que eu gosto muito de você

 

Chego, e sinto o gosto do teu beijo

É muito mais do que desejo

Me dá vontade de ficar

Seu olhar

É forte como água do mar

Vem me dar

Novo sentido prá viver

Encantar a noite

 

Quero ser feliz também

Navegar nas águas do teu mar

Desejar para tudo o que vem

Flores brancas

Paz e Iemanjá

 

 

...

 

 

Era a primeira vez que eu via o Goiás tocando reggae! Ele pegou bem o ritmo, ficou um acústico bem agradável que deixou o ambiente aconchegante e até um clima praiano. 

 

Lá fora o céu já estava escuro. O pôr-do-sol rolou rápido e alguns até tiraram fotos, pois o céu estava com uma coloração intensa de laranja, rosa e azul escuro lindos junto com algumas nuvens que surgiram ao longo do dia. Parecia uma pintura! Eu mesmo também tirei foto! 

 

Enquanto o reggae rolava, notei lá no canto do salão, num sofá mais isolado do restante do pessoal, estava ali Roraima sozinha sentada com a perna cruzada e tomando uma taça de vinho, aparentemente. Ela estava com sua expressão serena e séria de sempre. Fiquei um pouco sentido de ver ela ali sozinha, tão longe do resto dos estados. Eu acho que nem ouvi a voz dela hoje. 

 

Logo ergui o braço acenando e gritei pra ela. 

 

– Roraima! Senta aqui com a gente! – Falei sorrindo pra ela. Acredite, eu já bati muito papo com ela, então tenho grande carinho pela indígena de franja. Não queria que ela ficasse isolada. 

 

Depois de eu falar, Sergipe foi o segundo a chamar por ela. Ele fez uma cara surpresa, de quem não tinha percebido ela ali. Bem, não posso culpá-lo, em alguns momentos realmente a presença dela sumia. Além disso, notei que o surfista tava meio distraído hoje, não sei com o quê.

 

Mas mesmo com nosso chamamento, ela apenas balançou a cabeça negativamente. e continuou a beber seu vinho de braços cruzados.

 

Uni as sobrancelhas e pensei "se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé". Pedi uma licença pro pessoal da mesa, me levantei e fui na direção da nortista de cabelos medianos. 

 

Ela acompanhou a minha aproximação com o olhar, logo pousando a taça sobre a mesinha rústica na frente do sofá. 

 

– Oi, bão, Rô? – Cumprimentei acenando pra ela. 

 

– Oi, Minas. – Ela não mudou em nada sua expressão no rosto, mas a voz estava serena. – O que foi? Veio me tirar pra dançar que nem o Sergipe? – Ela arqueou uma sobrancelha perguntando. 

 

– Er... Não! Eu só vim sentar um cadim cocê! Ah... posso? 

 

– Claro, de você eu gosto. – Ela foi um pouco pro lado pois, apesar do sofá ser grande, ela tava sentada bem no centro. Me acomodei ao seu lado. 

 

– Uai, então cê gosta do Gipe, coitado?

 

– Hum... não foi o que eu quis dizer. Gosto dele também, eu só não quero ir lá pra pista dançar de novo. Já deu por hoje e pelo resto da vida.

 

– Ah... ele te puxou pra dançar mais cedo, né? Eu vi...! Uai, se não gosta, causa de quê que aceitou? – Perguntei rindo.

 

– Eu só fui porque a minha irmã estava enchendo o saco. – Ela colocou mais vinho na taça, ali rodeou um pouco o líquido antes de dar um gole. – Ela vive falando pra eu interagir mais com o pessoal quando fazemos essas reuniões que junta todos os estados... Mas eu não sou extrovertida como ela, gosto mais de ficar aqui no meu canto. 

 

– Não se sente deslocada? Ou solitária? – Perguntei.

 

– Não. – Ela respondeu meio que refletindo. – É, eu até prefiro. Eu gosto é de observar vocês interagindo entre si. – Ela deu outro gole no vinho. – Quer um pouco? – Ela ofereceu apontando a garrafa da bebida que tomava em cima da mesinha. 

 

– Hum... vinho agora?

 

– Preferia leite? – Ela arqueou a sobrancelha. Eu logo ri.

 

– Hahahaha é, mineiro adora um leitinho! – Falei. – Mas não, nessas festas eu tomo sempre o que tiver.

 

– Pode matar o resto dessa garrafa então. – Ela ofereceu. A garrafa era de vinho tinto bem escuro, feito pela Catarina. Então devia estar muito bom. 

 

Como era um restinho de vinho, tomei direto da garrafa mesmo, como um bebum. Virei todo o líquido, e como esperado, estava bom mesmo, com um sabor claro de que foi bem envelhecido num barril de carvalho. 

 

– Hummm num é que tá bom?

 

– Catarina caprichou nas bebidas de hoje. Certeza que foi por causa do Argentina. 

 

– Tá todo mundo querendo causar boa impressão. – Comentei colocando a garrafa de vidro sobre a mesa novamente, agora ouvindo que Maranhão começou a cantar outra música do Natiruts. 

 

 

... 

 

 

Beija-flor que trouxe meu amor

Voou e foi embora

Olha só como é lindo meu amor

Estou feliz agora

 

Beija-flor que trouxe meu amor

Voou e foi embora

Olha só como é lindo meu amor

Estou feliz agora

 

Veja só a névoa branca que sai de trás do bambuzal

Será que ela me faz bem ou será que me faz mal

Eu vou surfar no céu azul de nuvens doidas

Da capital do meu país

Pra ver se esqueço da pobreza e violência

Que deixa o meu povo infeliz

 

 

...

 

Vi que ela prestava atenção nos dois no palco. Ela não mudava nada sua expressão, mas mostrava interesse na música. Ela chegava até a mexer de leve a cabeça no ritmo do reggae. Era quase imperceptível, mas como eu tava bem do lado dela, consegui notar.

 

– Curte Natiruts? – Perguntei. 

 

– Gosto. – Ela respondeu simplesmente. – Por isso eu gosto que ele vai pro palco cantar. O Maranhão sempre manda essas músicas mais calmas. – Disse ela.

 

– Hehe, o Maranhão é um dos poucos estados que cê conversa mais, né? – Comentei. 

 

– É... Até algumas gírias eu acabei pegando dele. – Ela bebeu mais do vinho. – Você também é um dos poucos que eu converso bastante, Minas. – Ela disse e até que me deixou bem satisfeito. 

 

– Sério? Que honra! – Falei rindo e dando uma cotoveladinha nela. 

 

Pode não parecer, por ela ser muito séria e fria, mas Roraima gostava de fofocar, não da mesma forma e intensidade que a irmã Rondônia que só falta sair falando no megafone as fofocas que fica sabendo. Roraima fofocava com bem menos frequência e para pouquíssimas pessoas, pessoas que ela tinha confiança de que o que foi dito não sairia dali de jeito algum, uma delas era eu. 

 

Outras que eu sabia que eram de sua confiança era a Amazonas, a Alagoas, a Brasília, o Acre e acho que a Capixaba também. Nem na própria irmã ela confia! 

 

– Mas e então... vai mesmo ficar o resto da noite aqui sozinha? Posso te fazer companhia?

 

– Hum... Eu não acho que você vá querer ficar comigo o resto da noite não. – Ela disse terminando o vinho da taça. – Eu sei que você vai querer ficar mais um pouco com o Mato Grosso do Sul. 

 

Nesse momento eu puxei o ar e prendi de um jeito que saiu até um som sofrido da minha boca, olhei espantado pra roraimense, que apenas me encarou com cara que isso já era um assunto velho. 

 

– V-você...?! QUÊ?! Hã! – Eu até fiz um som que só quem é caipira entende, um som que quer dizer algo tipo "não é possivel". 

 

– Eu tô errada?

 

– C-como é que ocê...?! Er... o Matin... Ele... Eu??!

 

– Bicho, se ficou tão nervoso assim só de mencionar ele é porque tá rolando mesmo alguma coisa com vocês. – Ela falava de forma tão natural e segura que me deixava mais nervoso ainda. 

 

– M-mas como é que ocê..?! Causa de quê tá achando isso?! 

 

– Aw, Minas... Eu posso ficar mais no canto nas festas, mas tô observando tudo. – Ela falou e imediatamente senti um arrepio só de olhá-la nos olhos. Era como que os olhos dela fossem as câmeras do Big Brother! 

 

– Eita sô...! É que... eu não falei disso com mais ninguém... só o São Paulo sabe! 

 

– Mas você tá deixando cada vez mais óbvio. 

 

– Há quanto tempo cê notou isso?! Foi só hoje...?

 

– Hum... Não, foi desde aquele dia que vocês fizeram queda de braço a primeira vez, que o Pará também fez e deixou o Mato ganhar, vocês...

 

– Oxi?!! – Interrompo ela, pois fiquei embasbacado. – Desde o dia da queda de braço?! M-mas lá eu nem... Eu nem... Nem passou pela minha cabeça nada desses trem não. Lá eu tava normal! – Falei um pouco apavorado. 

 

– Não, não tava. – Ela falou muito certa disso. – 

No durante a queda de braço, vi seu olhar nele... era um olhar de quem tava começando a ver e se encantar com características de outra pessoa que antes você nem notava tanto. 

 

– Eh...?! C-cê jura?! – Agora eu fiquei besta, quer dizer que eu já comecei a olhar o Matin de outra forma desde aquele dia? Faz tempo aquilo! 

 

– Sim. É fácil decifrar as pessoas se você olhá-las de longe. – Disse ela. – Por exemplo... – Ela olhou ao redor, meio que procurando uma situação... 

 

Logo Maranhão terminou sua música e começou a falar no microfone. 

 

– E ae meus bons, curtiram esse sonzão? – Naquele jeito mole e tranquilão de falar, ele conversava com sua platéia, que não era todo mundo, pois alguns prestavam mais atenção no baralho que jogavam. 

 

Os que estavam na minha mesa eram os que mais interagiam. Mesmo o Sampa curtia o reggae que o maranhense cantava. 

 

– Arrasô, cara! – Sergipe elogiou.

 

– Boy, tu pode até cantar mais um. – Norte comentou. 

 

– Canta Raul agora! – Esse grito veio lá do meio do truco. Pelo tom, acho que foi o Pernambuco.

 

– Náh, agora vou passar a vez, pai! Quem vem cantar unzinho agora? – Era engraçado como Maranhão chamava todo mundo de "pai".

 

– Eu vou então! – Sergipe ergueu a mão, se voluntariando animado.

 

– Sobe aí então, meu bom! – Falou estendendo o microfone pro surfista nordestino, que ao ir até ele, tropeçou e já caiu no palco quase nos pés do Goiás. – Oxe, tudo bem aí? – Maranhão abaixou pra ajudar o amigo a levantar. O negro e o loirinho eram bem best friends, andavam bastante juntos, então Maranhão tinha bastante carinho pelo Gipe.

 

– Aí está o meu exemplo. – Roraima pronunciou, séria e no tom de sempre. 

 

– Quem? Sergipe?!

 

– Também, mas não é nele que quero que preste atenção... e sim no Norte. 

 

– O Potiguar? – Arqueei a sobrancelha, confuso. 

 

– É... ele parece estar muito vidrado no Sergipe, só pelo que eu vi hoje. Vai saber lá na região deles o quê que rola...

 

– Tá dizendo que o Potiguar...?

 

– Ele com certeza quer pegar o Sergipe. 

 

– Eita sô! – Falei surpreso. – Uai... Mas ele parece normal pra mim. 

 

– O Norte é o mais discreto de todos quando tá a fim de alguém. Olha que ele já ficou com outros estados um tempo atrás, ficou sabendo disso?

 

– Ele ficou?! Não, nunca soube!

 

– Bem, na verdade são só rumores. Pode ser que não tenha ficado, mas que já tentou, isso já! Tipo o Goiás com todas as meninas. – Explicou ela. 

 

– E cê sabe disso como?

 

– Em outras reuniões ele tenta xavecar outros estados... Nunca percebeu?

 

– Não, oloco...

 

– Humm... Deve ser porque ele é bem sutil nas investidas. Ele até já mandou um em tu que acho que nunca percebeu, né? 

 

– Ele já me cantou?! Hahaha não é pussivo, Rô! Eu teria percebido! 

 

– Não, não percebeu, porque as investidas dele são muito leves e vai gradativamente ficando mais explícito. Dá pra confundir com um "é só uma gentileza de um amigo". 

 

– Ah... Uai, mas e agora então? 

 

– Ele tinha parado de xavecar os estados por um tempo, mas hoje ele tá bem mais cara de pau com o Sergipe. Mas, meu pai, o surfistinha é lerdo, viu. Aquele jeitão que o Norte fez pra ajudar ele quando ele caiu na fila da feijoada e o tom de voz que usou, hunf, ele tá querendo muito o surfistinha. 

 

Eu fiquei embasbacado com a análise e agora eu mesmo fiquei prestando atenção pra ver se era verdade ou se era imaginação da Roraima. 

 

Vi Sergipe se levantando, ajeitando as roupas e se sentando no banquinho ao lado do Goiás. Coitado desse menino, ele já tava com um curativo no queixo que Bahia fez nele, mas continuava caindo. Maranhão então desceu do palco e se sentou do lado do Sampa. 

 

– F-foi mal, eu sou meio desastrado... hehehehe – Gipe riu sem graça. – Eu só não caio da prancha! 

 

– Minino, cê é azarado, hein! – Goiás comentou rindo. – Num é a toa que o povo comenta! E comentam que o Potiguar é o sortudo dos estados!

 

Realmente eu ouvia isso dos outros! Geral falava que o Sergipe era azarado, não apenas por cair muito; até aí, o Tocantins também caía toda hora; mas sim por ter azar demais em várias outras coisas, seja jogando baralho, seja apostando com os outros, ou mesmo um azar do tipo "estar no meio de um grupão e um passarinho carimbar justo ele"! 

 

Enquanto que o Rio Grande do Norte era o contrário, este era muito sortudo nos mesmos aspectos! Geralmente ele acertava numa aposta, ou quase sempre tava um tempo bom quando ele precisava sair, ou quando uma situação improvável acontecia de forma favorável pra ele sem querer. 

 

O maior exemplo disso foi justamente hoje na fila da feijoada, o Sergipe ter tido o azar de ser atingido pelo cearense e cair no chão chegando a machucar o queixo, e o Norte ter a cagada de passar ali na hora e salvar o prato do loiro da queda. Acho que nesse caso, o Potiguar foi uma sorte pro sergipano.

 

– O quê querem ouvir? – Perguntou o surfista. 

 

– Canta Xuxa! Tu já tem o cabelo igual o dela! – Maranhão sugeriu e logo caiu na gargalhada. 

 

– Nossa, engraçadão você!

 

– Ah não, ele não parece a Xuxa não, parece a Ana Maria Braga! – Ceará brotou ali só pra comentar isso. 

 

– Ah não, ele tem que cantar Pink! – Agora o Rio também surgiu ali junto, o que chamou a atenção do São Paulo. 

 

– Não, parô essa palhaçada aí de vocês! – Sergipe refutou os comentários com as bochechas infladas. 

 

– Vai aquela do Sol! – Sugeriu o potiguar no meio do falatório daquele povo. Todos então pararam pra fitá-lo, e pela cara do Ceará, parece que ele nem fazia ideia do que ele tava falando. 

 

– Ah, pode ser! – Mas o Sergipe pareceu entender na hora e já pegou no celular pra mostrar a melodia pro Goiás, mas assim que o sertanejo olhou o título da música ele já sacou.

 

– Ah, eu conheço essa! Relaxa que eu já sei tocar! – Assim, o goiano deu uma passada de mão no cabelo muito bem penteado com gel e começou a introdução. 

 

Logo eu mesmo reconheci a melodia. Era uma música do Vitor Kley que combinava com a voz do sergipano.

 

...

 

 

Ô, Sol

Vê se não esquece e me ilumina

Preciso de você aqui

Ô, Sol

Vê se enriquece a minha melanina

Só você me faz sorrir

 

E quando você vem

Tudo fica bem mais tranquilo

Ô, tranquilo

Que assim seja, amém

O seu brilho é o meu abrigo

Meu abrigo

 

E toda vez que você sai

O mundo se distrai

Quem fica, ficou

Quem foi, vai, vai

 

 

...

 

 

O loirinho cantou muito bem afinado e com um sorriso no rosto, interpretando bem a música e cantando como se tivesse totalmente envolvido da melodia. Especialmente no refrão. 

 

Até o pessoal do truco, que não paravam o jogo por nada, mas dava pra ver alguns cantando a letra junto enquanto descartavam.

 

– Olha lá a cara do Norte. – Falou a Roraima, dando um toque de cotovelo em mim. 

 

Confesso que eu não teria notado se ela não falasse nada por tava bem discreto. Mas olhando atentamente o nordestino mais alto e de bandana, dava pra ver que ele tava todo bobo vendo a cantoria do colega de região. Hora ou outra ele mordia o lábio, principalmente quando o Gipinho se entregava no refrão que até fechava os olhos pra cantar. 

 

– Eita ferro... E num é que cê tinha razão? 

 

– Então. – Ela falou, descruzando as pernas e cruzando-as novamente, mas agora invertendo a posição das pernas. – Sabe quando você cantou Skank hoje mais cedo?

 

– Hum? Sim, o que tem?

 

– O Mato Grosso do Sul tava te olhando do mesmo jeito que o Norte tá olhando pro Sergipe agora. – Ela falou simplesmente e eu de novo puxei a respiração e prendi fazendo um som de sufocamento em surpresa. 

 

– É O QUÊ?! – Eu falei tão alto que até alguns ali da mesa do Sampa olharam pra mim. Eu desviei o olhar na hora. 

 

– Calma, bicho, você não tinha notado isso não? – Ela perguntou num tom óbvio. – Olha que ele tava até bem mais explícito que o Norte.

 

– N-NÃO!! E-eu... Quero dizer... eu não notei nada não, uai! Cê tem certeza disso?

 

– Minas, tô começando a achar que você bloqueou a possibilidade do Mato te corresponder... por não tá enxergando é nada. 

 

– M-mas, é que...!! Hehe – Dei um riso de nervoso. – É que ele não parece ligar pra esse tipo de coisa... amor, romance, esses trem...

 

– Ah, bicho, se nem você mesmo notou que já tava dando umas olhadas diferentes no Mato no dia da queda de braço, imagina ele que é muito mais tapado ainda pra esse tipo de assunto. – Explicou a nortista. – Ele tá correspondendo você agora, mas não deve ter percebido ainda... o pode estar se descobrindo. 

 

Agora que ela falou isso senti meu coração acelerar. Virei-me pro Matin que agora estava sentado com os outros nordestinos e nortistas, jogando truco com eles. Ele com aquela marra toda em sua expressão, concentrado em suas cartas e no que rolava na pequena mesa no meio dos quatro jogadores. 

 

Será que ele... me correspondia mesmo?

 

Quer dizer que o que rolou no touro mecânico... ele ficou...? 

 

– Afe, eu perdi aquela porra! – De repente uma voz grossa e indignada surgiu quebrando minha linha de raciocínio.

 

O indígena mais marrento do Brasil apareceu ali pra mim e pra Roraima e se sentou no sofá também, ao lado da colega de região, logo apoiando os dois pés na mesinha, cruzando-os como um delinquente. 

 

Amapá apoiou os braços espalhados no topo do encosto do sofá, um de seus braços quase sobre os ombros de Roraima. Ela logo se virou expressiva pro outro nortista. 

 

– Apostou dinheiro?

 

– Nah, tavam apostando comida e favores! O Ceará apostou até o toba já quando ficou sem o que oferecer! Nessa jogada eu pulei fora. 

 

– Hunf. Muito machão você. – Comentou ela sarcástica. 

 

– E você ô mineiro, tá fazendo o quê aqui?! 

 

– Hã?! Uai, tava conversando com a Rô.

 

– Hunf... para de ser marica, vai lá jogar uma, quero ver se você ganha! 

 

– Ahh... Não tô muito a fim de jogar baralho hoje... 

 

– Deixa ele em paz, Amapá. – Roraima falou. 

 

– Hum, tem razão, é mais legal brincar com o Minas em desafios de força! 

 

– Ah, nisso eu vou! – Falei mais animado. 

 

– Se for desafio de luta eu acabo com você, eu sou bem mais rápido! – Comentou ele dando cutucões em meu braço por cima dos ombros da garota entre nós.

 

– Hunf, com certeza é. – Comentou Roraima entediada e com sarcasmo, acho que ela queria continuar a fofocar comigo, mas agora com o Amapá na área, ela tinha que se segurar.

 

Vimos que Sergipe terminou de cantar e já se levantava do banquinho pra descer do palco, mas antes que o fizesse, Rondônia correu até o pessoal da mesa e começou a falar bem alto.

 

– GENTE, GENTE!!! Tivemos uma ideia e a gente quer fazer!! – A nortista serelepe das mechas loiras parecia bem empolgada, falou apontando o pessoal do truco como se tivesse surgido uma das melhores ideias do mundo. Isso despertou a curiosidade minha, da Roraima e do Amapá. 

 

– Que que é? – O Potiguar e o Gaúcho perguntaram ao mesmo tempo. 

 

– Meu Deus, deve ser uma ideia horrível, já tô fora! – Paraná falou já erguendo as mãos em rendição, mostrando que não se juntaria à gentalha. 

 

– A gente tava comentando como seria se os marrentos do Brasil batalhassem entre si numa dança das cadeiras!! Aí a gente pensou "ué, tá todo mundo aqui mesmo! Por que não?" – Rondônia fazia gestinhos teatrais quando falava, dando maior ênfase em sua narrativa. – E aí?! Bora tentar um dança das cadeiras aqui e agora?! 

 

– Afe, eu concordo com o Paraná, que ideia ridícula. – Comentou São Paulo. Mas eu confesso que tava curioso pra ver isso acontecer. 

 

– TÁ COM MEDINHO, OTÁRIO?! – Amapá ao nosso lado, com as mãos atrás da cabeça e os pés bem relaxados em cima da mesa, provocou o emo paulista que só mandou um olhar feio pro nortista. Deu pra ver até um sorrisinho em seus lábios. 

 

– Ó como cê fala comigo hein, vou te levar pras ideia, véi! – Sampa deu até uma engrossada na voz e recebeu em resposta os dois dedos do meio do Amapá. 

 

– Eita porra...! – Rio pareceu abobado com o momento "machão das quebrada" que o Sampa tinha de vez em quando. – Mas peraê rapaziada, como assim? Vai ser uma disputa entre as cinco regiões? – O carioca se virou pra pequena nortista blogueirinha. 

 

– Verdade, né? Cada região tem o seu bravinho! Então sim, DISPUTA ENTRE REGIÕES!! – Ela anunciou empolgada. – Chega mais, todos os bravinhos!

 

– Hunf, no Sul não tem "bravinho" não, queridona. – Falou o Paraná com aquela carinha de sarcasmo que ele fazia sempre. Aliás, agora consegui enxergar que estava com a capivara Naná dormindo em seu colo esse tempo todo.

 

Na mesma hora o Gaúcho começou a rir e a Catarina que tava lá do outro lado da sala também caiu na gargalhada. 

 

– Que porra é essa daí?! – O paranaense questionou os dois colegas de região, indignado. Logo, o Gaúcho apoiou o cotovelo sobre a mesa e o queixo sobre a palma da mão, fazendo um olhar... "malicioso"? 

 

– Bah, guri, VOCÊ é o bravinho da nossa região! 

 

– É o quê?! Tá fumando pedra?! Eu sou o mais calmo! 

 

– AH TÁ! – Catarina de longe respondeu, fazendo o Gaúcho rir mais um pouco. 

 

– Olha, mano, eu tenho que concordar com eles, de vocês três, cê é o mais bravo, véi. – Falou Sampa dando um uns toquinhos no ombro do vizinho sulista. 

 

A cara de indignado do Paraná até que foi muito boa! Eu também tenho que concordar com eles. Ele pode não ser explicitamente estourado como o Matin ou o Amapá, mas se pisasse no seu calo, o bicho virava o próprio capeta. 

 

– Você notou o Paraná hoje com ciúme do Sul quando o Ceará tava cantando no palco? – Roraima sussurrou em meu ouvido, eu imediatamente arqueei a sobrancelha. 

 

– Eita... pior que eu vi sim! Mas eu num tinha certeza se era isso mesmo hehehehe. – Respondi sussurrando de volta. Realmente, Roraima era mesmo uma grande observadora, não deixava passar nada! Fico honrado de fazer parte do pequeno círculo de confiança dela pra poder saber das fofocas.

 

Logo vi o pessoal dando uma afastada nas mesas do salão. Pernambuco, Tocantins e Piauí vieram trazendo quatro cadeiras pro centro. Dos três, adivinha quem que carregou duas cadeiras de uma vez?

 

Isso mesmo, foi a Piauí.

 

Posicionando as cadeiras da Bahia em círculo, ou melhor, em quadrado, uma de costas pra outra, o Pernambuco já deu um grito de nordestino, que logo foi respondido em sequência por todos os outros oito, só pra chamar atenção. 

 

Olhei pro Brasil, Argentina e Buenos Aires, que estava novamente com a Brasilia, só pra ver a cara que eles tavam fazendo diante dessa farra. 

 

Patrão Brasil obviamente tava assobiando e querendo ver aonde esse trem ia dar! Argentina, como sempre, olhava atento a bagunça com cara daqueles tio que vê os sobrinhos arteiros fazendo arte e fica rindo tranquilo porque os filho não eram dele. 

 

Buenos Aires apenas ficava comentando dos trem tudo com a Brasília. Acredito que ela explicava como o pessoal daqui era sempre desse jeito mesmo e era normal.

 

Pernambuco então começou a falar, enquanto a patroa dele Bahia tava ali no canto só de olho com o que ia acontecer com as cadeira dela. 

 

– Chegue aí então Paraíba, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Amapá e Paraná sim!! – Disse dando certa ênfase no último, pra este não ficar de frescura.

 

Na hora virei-me pro amapaense ao nosso lado no sofá. Ele fez uma careta. 

 

– Afe, como assim eu?! O mais bravo da nossa região é o Pará!! – Falou o Amapá fulo. 

 

– Hunf, só com você. – Comentou Roraima. 

 

– Égua, que foi que você disse? – O paraense se pronunciou, se aproximando mais da área onde as cadeiras foram posicionadas. – Você que é o pinscher irritante da nossa região. – Falou se sentando numa das mesas bem perto das quatro cadeiras. – E eu quero só ver você nessa. – Pará falou num tom bem desafiador, um tom que ele não costuma usar com os outros, um tom de quem já tava impaciente faz tempo. 

 

– Seu cu, filha da puta! Vai você!

 

– Olha Amapá, não me obrigue a ir até aí dar um jeito nessa sua falta de educação. – Ameaçou o maior estado do Brasil com uma cara séria e calma, mas era um "calmo" que dava certo medo, ainda mais vindo de alguém do tamanho do Pará, que era uma geladeira. Eu até engoli seco na hora! 

 

– Vem então, seu puto! – Amapá provocou. Quando Pará ameaçou levantar, Roraima estendeu a mão em sua direção, mesmo de longe, em sinal de "pare", que fez o grandão interromper a ação. 

 

Eu também olhei curioso pra garota ao meu lado. Ela se virou pro amapaense e sussurrou alguma coisa em seu ouvido que não deu mesmo pra ouvir uma vogal sequer. 

 

Assim que ela terminou, Amapá olhou torto e meio surpreso pra ela. 

 

– Ô, você também é cheia das carta na manga, né ô Wandinha? – Assim, Amapá passou as mãos sobre os cabelos, ajeitando-os pra trás e se levantou, indo até o centro do salão, fulo da vida e com as mãos enfiadas nos bolsos da calça estampada, logo sentou numa das cadeiras. 

 

– Eita sô, que que cê falou pra ele? – Perguntei curioso pra RôRô.

 

– Desculpa, Minas, mas isso eu não vou poder revelar nem pra você. – Ela respondeu séria. 

 

Ah pronto, agora eu não vou dormir essa noite!

 

– Falou do Sampa agora a pouco e tava tirando o seu da reta pro desafio, seu frouxo?! – Matin apareceu no centro logo em seguida, provocando o indígena de undercut, e recebeu apenas um dedo do meio em resposta. 

 

– Aff, eu só vou fazer isso pra calar a boca desses idiotas. – O emo paulista se levantou e também foi até as cadeiras com as mãos afundadas nos bolsos do moletom vermelho. – Essa brincadeira é velocidade e não força. 

 

– Ah, por favor, isso aí é só conversa! – Paraíba chegou nas cadeiras agora quase fechando o círculo em torno delas. – Vocês todos tem coordenação de um gato morto! 

 

Por último, ajeitando o casaco verde, veio pra roda o paranaense após ter deixado Naná no colo do Gaúcho. 

 

– Vamo logo com isso, pode ser, daí?! – Falou impaciente. 

 

– Depois ainda fala que não é bravinho. – Comentou o Gaúcho rindo. 

 

– Só pra calar a boca de vocês, vou acabar com esses piá de merda tudo aqui! – Agora o Paraná foi firme e afrontoso, entrando mais na brincadeira. Ele nem ligava do fato de ele ser o mais baixo da roda.

 

– Uhuuu, fechou! Agora, cadê um celular com música aí? – Pernambuco perguntou olhando todos ao redor. Sergipe estava perto e mexendo em seu smartphone, teve o aparelho tomado da mão pelo do bigodinho. – Ah, serve esse! Valeu, Gipinho! – Falou, mandando um beijo no ar. 

 

– Oxe! Eu tava mexendo nele, seu fi duma rapariga!!! – Protestou o loiro. 

 

– Tá mizéra, tu tem música de quadrilha de festa junina aqui?! Hahahaha – Pernambuco caiu na gargalhada. – Vai ser essa mesma que eu vou usar! 

 

– E qual o problema, doido? Eu curto festa junina! 

 

– Perfeito!! Vai ficar muito bom na filmagem! – Rondônia comentou, já em pé numa das cadeiras com a câmera apontada pros bravinhos em torno das cadeiras. – Vocês cinco, se ajeitem direito nessa roda! 

 

Matin, Sampa, Amapá, Paraná e Paraíba fecharam o círculo mais bonitinho e se encararam como se tivesse na arena de gladiadores prontos pra se matarem. 

 

É, essa brincadeira de criança não ia acabar nada bem... 

 

[Continua...]


Notas Finais


E aeee?! Curtiram?? Eu sei que parece que a cena foi cortada do nada, mas é porque esse e o próximo eram mesmo pra ser um capitulo só, mas deixa esse suspense 🌞

Espero que tenham gostado, mesmo no final não tendo acontecido muita coisa nesse cap, mas teve bastante momentos de interação entre os personagens que é o que eu queria mostrar e no próximo tem mais! Com certeza desta vez eu não vou deixar vocês esperando muito! A próxima atualização vai ser bem mais rápida, juro!

Um grande beijo pra vcs que acompanham essa minha fic e que fazem parte desse fandom dos estados que foi criado sem querer, amo vcs e até o próximo! ❤️


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