Muitos considerariam meia noite de uma quinta feira uma boa hora para se estar descansando para o dia seguinte, mas não para Ray aparentemente.
E esse havia se tornado o tema em discussão de Henry e Charlotte.
— Por que será que o Ray nos chamou numa meia noite de quinta feira? — o garoto indagou em meio ao silêncio em que o local se encontrava.
— Eu não sei, mas se foi porque ele teve um pesadelo de novo, eu não vou cantar música de ninar p'ra ele dessa vez.
— Talvez seja uma emergência, vai que ele--
Um grito juntamente com o barulho de algo caindo pôde ser ouvido interrompendo a fala do garoto e de dentro do elevador Jasper saía, usando um pijama com a bandeira americana e bobs na cabeça. Era muito fofo e até cômico.
— Cheguei.
— Isso é uma emergência.— a garota riu apontando para o recém chegado.— por que tá usando esses bobs?
— Que foi? Achou que meu cabelo fosse naturalmente enrolado?— sorrindo de lado Jasper passou a mão nos cabelos presos.
— Erro comum, acredite.— Henry se aproximou do amigo pousando seu cotovelo no ombro do mesmo.
Em meio aos risos dos garotos, o ruído anunciando que alguém descia pela tubo foi escutado e de lá, um homem alto aparentando estar meio grogue, mas isso não vem ao caso, saía e rapidamente se unia aos outros com os braços abertos e um sorriso na cara. Preocupante.
— Oiiie.— a voz arrastada do mais velho chegava a ser ridícula, ainda mais quando acompanhada de sua descida de escadas exageradamente rápida.— Olá amigos, bem vindos, bem vindos todos.
Definitivamente algo estava muito errado, normalmente Ray cumprimentaria de uma maneira mais animada e não como se fosse uma princesa da Disney.
— Agora, eu quero apresentar a vocês alguém muito especial.— ao dizer isso o segundo tubo apitou e de lá saiu uma mulher alta vestida inteiramente de preto.
Ray voltou a subir os degraus para se aproximar da estranha.
— Quem é?— Charlotte sussurrou para os amigos.
— Eu não sei.— Henry olhava com as sobrancelhas arqueadas na direção de Ray.— nunca vi ela antes.
Quando Ray estava próximo o suficiente, ele iria beijar a mulher na boca, mas a mesma desviou e o beijo acabou sendo em sua bochecha. Aquilo não pareceu afetar o mais velho, já que o mesmo continuava com um sorriso de orelha a orelha.
— Pessoal, essa aqui é a Gwen.
Mesmo achando estranho toda a situação todos a cumprimentaram acenando com as mãos. Porém, logo Henry disfarçadamente puxou o chefe para o outro lado da caverna, longe de Gwen, que agora conversava com seus amigos.
— O que você pensa que 'tá fazendo?
— Por que?
— Ray você não pode chamar uma estranha p'ra dentro da caverna man.
— A Gwen não é nenhuma estranha.— Ray indicou com os braços na direção dela, como se parecesse ridículo o que o parceiro acabara de falar.
— Conhece ela há quanto tempo?
— Há quase três— seu grande corpo pendeu para a direção de Henry, pousando seu queixo no ombro do outro.— horas.
— Três horas?
— Ah lembrei de uma coisa!— O mais velho exclamou alto segurando os ombros de Henry— Tenho que contar que você é o Kid danger.
— O que? Não, não, não.
— Oh amor.— ignorando as reclamações do parceiro, Ray gritou atraindo a atenção de Gwen e dos outros.— Aposto que não vai adivinhar quem esse bobalhão é de verdade.
Pôde se ouvir reclamações vindas de Charlotte, Jasper e Henry, tentando impedir que o chefe desse com a língua nos dentes.
— Kiiiid daanger!— exclamou lentamente sorrindo.
Mais reclamações puderam ser ouvidas, mesmo que não surgisse muito efeito.
— Tá tudo bem, ela sabe até que eu sou o Capitão man.— aproximou mais da mulher, agora abraçando-a— E tem mais, nós dois vamos nos casar.
— O quê?!— Os três adolescentes exclamaram em uníssono.
Apesar dos rostos confusos Ray não disse mais nada sobre o assunto "casamento", ele parecia vidrado em cada ação de Gwen e sorrindo como um idiota.
Não demorou muito até que a porta do laboratório abriu-se revelando um Schwoz que se aproximava do grupo formado a sua frente.
— Oi, pessoal.— o inventor percebeu a presença de uma mulher estranha junto de Ray— O que está acontecendo?
— Ray vai se casar com uma mulher que ele conheceu três horas atrás.
— O queee?!— exclamou com seu sotaque tão característico e virando-se na direção de Jasper.— E por que o Jasper está com essas coisas na cabeça?
— Porque os cachos dele não são naturais.— desta vez quem respondeu foi Charlotte.
— O queee?!
***
A manhã havia chegado e juntamente com ela a hora de trabalhar, ou pelo menos era o que deveriam estar fazendo.
Após os eventos da madrugada, Henry não havia conseguido dormir de novo, pensando na razão do amigo querer se casar com aquela mulher. Sim, a mulher era bem bonita, mas não seria um motivo suficiente para Ray ficar hipnotizado por ela, seria?
Bom, no momento quem parecia sofrer pelos pensamentos de Kid danger era o chão, o garoto andava em círculos na loja intrigado, parecia não se importa muito com o desgaste que Jasper estava passando para regar a planta carnívora da loja, mesmo que o amigo estivesse ao seu lado praticamente.
— Henry você pode me dar uma ajudinha?— o menor chamou pelo amigo mesmo que ainda permanecesse encarando a planta.— Essa planta 'tá me intimidando.
Parando a sua caminhada, Henry analisou a cena. Jasper e a planta pareciam estar numa disputa de não piscar, algo inútil já que o vegetal não possuía as orbes, seu amigo segurava o regador no alto como se fosse uma arma. Henry teria que admitir, Jasper agia de uma forma super fofa, parecia uma criança com suas bochechas infladas, mas precisava manter o foco.
— Jasper, temos problemas maiores do que com a planta sedenta.— Henry suspirou cansado.— Tipo, por quê o Ray quer se casar com uma mulher que ele conheceu três horas atrás.
— Você sabe como ele é.— o menor deu de ombros.— E aliás, a Gwen é muito bonita, não ficaria surpreso se fosse por isso que ele quer se casar com ela.
— O Ray não faria algo assim, eu acho, tipo, ele sempre dá em cima da minha mãe quando pode, mas nunca passou disso.
— Isso é por que a sua mãe é casada, e mesmo assim o Ray continua cantando ela na frente do seu pai, imagina se ela fosse solteira.— largando o regador Jasper deu de ombros mais uma vez e cruzou os braços.
— Eww, não gosto nem de pensar.
***
— Eu te amo mais.— a voz de Ray era exageradamente melodiosa para aquela hora da manhã.— Não, eu te amo mais do que você me ama.
Uma cena patética a propósito, Ray se encontrava no sofá com o celular praticamente grudado na cara, tão animado com a ideia de falar com a mulher que fazia seu corpo deslizar no couro sintático do estofado. Ou seja, patético. Charlotte e Schwoz escutavam tudo e pareciam enojados.
—Fala sério, até eu tô ficando enjoada.— Charlotte apertava um parafuso da nova invenção do amigo quando a mesma apitou.— o que é isso?
— Nós podemos usar isso para descobrir o porquê do Ray se apaixonou por aquela mulher tão rápido.— Schwoz olhava para o chefe enojado.
— Mas, como isso--
— Shii!
Schwoz pôs o indicativo próximo aos lábios pedindo silêncio e andando calmamente á frente.
— Ray.
O menor chamou pelo amigo que virou-se ainda com o celular em mãos.
— Ray, dá um pulinho aqui.
Notando que poderia ser importante, Ray decidiu que deveria desligar para descobrir o porquê do chamado.
— A gente se vê daqui a pouquinho.— Ray voltou a falar no celular.— Não é nada importante, o Schwoz está me chamando, te amo.
Desligando a ligação o herói levantou e foi em direção aos amigos.
— Tá bom, Schwoz, o que você quer que eu vej--
Antes de terminar a frase, Ray foi atingido por um raio azul brilhante que saía da máquina do inventor e, isso fez com que seus olhos perdessem o foco e assim começasse a perder a consciência. Acabando por cambalear pela sala antes de desmaiar sobre o pequeno corpo da garota, que também caiu pelo peso do chefe.
***
— Qual é plantinha, me dê um sorriso bonito.— Jasper agora fazia um pequeno carinho na planta ainda temeroso de acabar perdendo os dedos, como resposta o vegetal cuspiu uma gosma verde em seu rosto.— Aah, qual é?!
Com a exclamação do amigo, Henry virou para encarar a cena preocupado.
— Ela cuspiu na minha cara!
Após um suspiro longo, o maior deu um pequeno sorriso da cara de nojo que Jasper fazia e foi em sua direção apanhando um lenço de papel.
— Vem cá, deixa que eu limpo. Nem sujou tanto, relaxa.— estavam tão próximos, Henry podia sentir os cílios do amigo em contato com sua mão quando limpava o treco verde, tinha algo que Henry não tinha percebido antes mas, os olhos de Jasper eram tão grandes, pareciam sugar o mundo ao redor de Henry.
Estavam tão imersos no momento que não repararam que o sino da loja tilintara anunciando a entrada de alguém. Esse alguém era Gwen.
— Oi, Henry— cumprimentou atraindo a atenção dos dois para si— E Jasper.
Os dois se separaram e ficaram de frente para a maior.
— Oi Gwen.— Jasper respondeu cabisbaixo, ou pelo menos, Henry achava que estava.
Adentrando mais na loja a mulher ostentava uma pequena tigela de comida e a pôs em cima de uma mesinha presente no local.
— Jasper, por que você não vai no banheiro?
Jasper piscou confuso.
— Porque eu tô sem vontade.— deu de ombros irritando o loiro pela resposta.
— Então se tranca no banheiro e usa seu celular p'ra ouvir sua playlist da Céline Dion.
Algo pareceu se iluminar para Jasper e o mesmo percebeu que o amigo queria conversar com a mulher e tratou de correr para dentro do elevador e ir até o andar de baixo.
— Então, Henry.— Gwen começou se aproximando do garoto e pousando sua mão no ombro do mesmo que se afastou do contato.— Ontem a noite, eu tive a impressão de que você não quer que eu case com seu amigo Ray.
Henry virou para encarar a mais velha e cruzou os braços.
— Que bom que teve essa impressão, porque essa impressão é justamente a que eu queria que fosse a sua impressão, conseguiu me entender?— perguntou se mantendo firme mesmo após se enrolar na fala.
— Você pode repetir?
— Não, infelizmente p'ra você, eu não repito as coisas tá?
O clima do ambiente começava a ficar tenso depois da resposta do garoto e Gwen percebeu isso. Passado um tempo, a mais velha abaixou seu olhar para o chão e fez um bico nós lábios que com certeza, era tão falso quanto a dona.
— Bom Henry, eu sinto muito que você não tenha gostado de mim.— a mulher começou com seu fingimento se dirigindo até a mesinha onde havia deixado sua tigela— É uma pena porque eu trouxe esses bolinhos p'ra você, como sinal de paz.
— Bolinhos?
***
De volta a caverna man, Ray agora estava deitado, inconsciente, no sofá em uma posição que qualquer um acharia desconfortável, usando uma aparelho de Schwoz semelhante a um capacete, mas este era conectado em outro aparelho.
— O que tá fazendo?— Charlotte indagou ofegante após o trabalho de pôr o herói no sofá.
— Estou conectando esse aparelho ao cérebro do Ray e vou converter os impulsos de memória cerebral dele em imagens com áudio de alta qualidade para que possamos ver as lembranças dele de ontem, quando ele conheceu a tal mulher.— o menor explicou com cada frase cheia de uma sotaque difícil de se entender, possuindo repulsa na sua fala.
—"Quando ele conheceu a tal mulher"— a garota caçoa imitando sua voz fanha.
Levantando do sofá Charlotte se dirigiu para o lado do pequeno homem, de frente para o monitor do aparelho.
Schwoz olhava atentamente para a tela onde podia ver a imagem de um cérebro contendo várias informações ao lado, logo depois puxando a alavanca para iniciar a máquina.
"— Ei, você aí!— a voz grave de Ray soou juntamente com a imagem de uma mulher de cócoras com algo em suas mãos, a mesma parecia ter sido pega no flagra.
— Eu?— a mulher ergueu-se fingindo inocência.
— O que está fazendo com essa coisa?
— Nada.
Em um ato completamente falso, a Gwen da imagem escondeu o objeto por detrás do corpo.
— Não é verdade, acho que você é uma criminosa.— Nesse instante Charlotte revirou os olhos, não saberia dizer se o herói estava brincando ou falando sério com sua afirmação.
A imagem agora era de Gwen movendo-se em direção a uma cesta e de lá tirando um cupcake.
— Você está com fome?
— Bom, p'ra falar a verdade eu estou faminto, mas não pense que isso vai te livrar da prisão.
O Ray das imagens levantou o braço em direção ao alimento e o levou para a boca, ou pelo menos Charlotte deduziu.
A imagem começou a ficar turva.
— Como se sente Capitão Man?
— Eu te amo.— para surpresa de todos essa foi a resposta do amigo.
— Ama mesmo e sempre amará"
— O bolinho!— a garota gritou espantando o homem baixinho.—Gwen fez alguma coisa com o bolinho, ela deve ter colocado algum produto químico ou algo assim, que fez com que o Ray caísse de amores por ela quando olhou para ela.
Ao terminar sua fala, a porta do laboratório abriu revelando um Jasper com fones de ouvido e cantando animado.
— Jasper?— Charlotte chamou sua atenção vendo-o tirar os fones.— Pensei que estava lá em cima, na loja, com o Henry.
— Eu estava, mas aí a Gwen chegou e o Henry queria conversar a sós com ela. — Retirou os fones dos ouvidos e passou a enrola-los em volta do celular.
— Gwen?! — Olhou para Schwoz, que lhe devolvia o olhar preocupado. — Temos que ir lá.
Sem dizer mais nada Charlotte agarrou o braço do Jasper confuso e o arrastou até o elevador as pressas, junto de Schwoz.
***
Ao chegarem no andar de cima se separaram com a cena, Gwen entregara o doce para o menino e o mesmo levava aos lábios dando uma grande mordida.
— Henry!!— Charlotte gritou correndo em direção aos dois— Não pode comer isso!
Henry a olhou sem entender porquê a amiga agia de tal forma.
— Cospe isso fora, Henry!— Agora a garota tirava o doce mastigado da boca do mesmo.
Nesse momento Gwen pareceu ficar irritada e puxou o braço de Henry para que ele ficasse próximo dela.
— Para com isso, deixa o menino comer o bolinho!
Em resposta Charlotte puxou o outro braço do loiro. As duas permaneceram nesse cabo de guerra com o corpo do garoto até que o mesmo cambaleou para trás tropeçando em uma mesinha e caindo no chão, como se não bastasse, devido ao impacto do corpo do garoto na mesa um objeto que estava sobre ele caiu na cabeça de Henry. Uma estatueta de bronze maciço e bem pesado, que fez Hart desmaiar no chão.
Pôde-se ouvir gritos abafados de todos.
— Alguém faça alguma coisa!— Charlotte olhou para trás, onde Jasper estava.— Você! você sabe fazer respiração boca a boca, não sabe?
— Sei, mas--
— Nada de "mas", vai até lá e faça com que ele acorde. AGORA! — A morena empurrou o amigo para que ele se apressasse.
Enquanto Jasper corria para socorrer o melhor amigo, Gwen foi rápida e tentou impedi-lo de realizar o ato.
— Você não pode beijar ele!— A mais velha tentou empurrar o menino para longe, sem sucesso.
— Eu sou o melhor amigo dele!— Falou se desvencilhando das mãos de Gwen.
Jasper sabia o que devia fazer. Aperta o nariz e sopre dentro da boca dele.
Ao fazer isso, Henry reagiu erguendo o corpo e tossindo muito, ainda tonto precisou ser amparado por Jasper e Schwoz.
— Henry.— Jasper chamou preocupado.— Como se sente?
Demorou um tempo até que Henry respondesse, mas Jasper podia jurar que viu um brilho nos olhos dele que antes não tinha.
— Eu me sinto bem.
Mais uma surpresa, Charlotte se aproximou dos dois temerosa.
— Bem? você não tá sentindo nada estranho?
— Não, eu só— começou a falar e virou para encarar Jasper novamente.— eu sinto um cheiro bom. Muito bom na verdade.
Ao falar isso o corpo de Henry se moveu de forma arrastada para perto de Jasper. O loiro encarava o amigo como se quisesse capitar todos os seus movimentos.
— Viu só o que você fez?— a mulher gritou apontando para Charlotte.
— O que eu fiz?
— É!
— Não fui que apareci aqui, do nada, com uma caixa cheia de bolinhos misteriosos.
Em meio a discussão das duas, Henry e Jasper pareciam presos em um mundo só deles, muito parecido com o momento que tiveram antes da "noiva" de Ray chegar. Mas ainda assim, foi uma surpresa para o menor quando Henry se aproximou tanto e o abraçou por trás e alisou seus cachos como se Jasper fosse um cachorrinho muito fofo.
— Seu cabelo tá uma gracinha sabia?— Era estranho, Henry agia como Ray.
— Obrigado mas, eu não acho que seja uma boa hora p'ra abraçar.
A fala foi completamente ignorada pelo maior, que continuava seu trabalho de apertar Jasper em seus braços e, nossa, aquele cheiro vindo do amigo era incrível.
Seu pensamento foi cortado quando Manchester passou apressado pela cortina fazendo barulho. Parecia procurar por algo e quando deu uma boa olhada na loja reparou que o que procurava estava alí. Gwen.
O homem se aproximou para cumprimentá-la dando um abraço seguido de um aperto firme na cintura dela.
— Acabei de ter um sonho lindo sobre o dia em que nos conhecemos.— E lá estava o sorriso idiota de novo.
— Olá, meu doce de coco.— a mulher respondeu fazendo o sorriso mais falso que já haviam visto.
— Ray, não!— Charlotte repreendeu o chefe que a olhos de esguelha— Você não a ama de verdade.
Tentando reforçar o que a garota disse, Schwoz se adiantou no meio do pseudo-casal, mas antes de sequer dizer uma sílaba, os dois se aproximaram mesmo com o menor entre eles, fazendo uma espécie de sanduíche de Schwoz.
— Ela te enrolou! — Charlotte gritou já sem paciência.
— É!— agora era a vez de Schwoz gritar, saindo do agarre que antes estava e agora apontando para onde Jasper e Henry estavam.— Ela tentou fazer isso com o Henry.
Ao ouvir o seu nome sendo pronunciado, Hart, ainda abraçado ao amigo, começou a prestar mais atenção na conversa.
— Só que o Henry deve ter se apaixonado pelo Jasper por engano.— Charlotte continuou.
— Opa, opa, calma aí!— Henry exclamou alto de onde estava, chegando a dar uma certa dor de cabeça em Jasper devido a proximidade— Alguém pode me explicar que história é essa?
Não que tivesse surtido efeito, já que a atenção ainda estava em Ray e no que o mesmo diria da situação toda.
— Aaah.— Ray exclamou virando-se de volta para Gwen.— Minha gata é tão esperta.
Só podia ser brincadeira.
— Querido, você pode pedir para essas pessoas irem embora p'ra que a gente fique sozinho?
Olhos de gato e bico falso. Não era possível que Ray fizesse os gostos da mulher.
— Beleza! Fora todo mundo.
Não era possível. Em meio a reclamações Raymund expulsou todos da loja agarrando em seus braços e os dirigindo a saída.
Já do lado de fora, Charlotte parecia poder matar qualquer um com as próprias mãos.
—UGH! Eu não tô acreditando que o Ray fez isso.
— Precisamos descobrir um jeito de trazer o Ray de volta.— O estrangeiro falou preocupado.
Apesar de tudo, Henry permanecera agarrado ao pescoço de Jasper o apertando com força. Em dados momentos, Hart tentava dar pequenos selos nos lábios do amigo, sem vitórias a maior parte das tentativas.
— O que acha de ir pra minha casa?— Henry, ainda fixado no menor, indagou esperando sua resposta positiva.
— É uma boa ideia.— Porém quem respondeu foi Charlotte, interrompendo a interação dos dois.
***
O caminho não era muito longo, mas se havia algo que atrasava era o fato de Henry estar agarrado a Jasper tal qual um filhote em sua mãe. Mesmo que não fosse do feitio do castanho, não foi surpresa para ninguém quando Jasper soltou-se dos braços do amigo de maneira exasperada e andou apressado a frente dos outros tentando evitar que o outro o abraçasse.
— Parece que você irritou ele.— Charlotte zombou do amigo ao vê-lo cabisbaixo.
Henry olhou-a irritado de canto de olho, mas logo após deu um suspiro melancólico.
— Eu não entendo. Por que eu não posso querer estar perto dele?
— Talvez ele só precise de espaço.— a garota pareceu pensar em algo.— Mas por que você quer tanto ficar agarrado à ele?
— Ele é meu melhor amigo.— Agora o garoto a olhava como se fosse uma pergunta óbvia.— E eu sou apegado aos meus amigos.
— A ponto de querer beijá-lo?! — Levantou a sobrancelha para o loiro, que corou com a indagação. — Não pense que eu não te vi tentando beijar ele.
— Bom... Eu só...
— Talvez seja um efeito da poção.
— Poção? — Novamente aquela palavra intrigava o loiro.
—Não é bem uma poção.— Agora quem respondia era Schwoz.— Gwen colocou alguma coisa naquele bolinho, eu não sei o que foi, mas está fazendo você agir de maneira estranha.
— Eu não me sinto estranho.
— Bom,— o homem cruzou os braços pensativo.— Talvez seja um outro efeito dessa coisa.
— Isso!— Charlotte exclamou alto animada.— Deve ter tido efeitos diferentes. Talvez o beijo de vocês provocou outro tipo de reação. Deve ser por isso que a Gwen nunca beijou o Ray, porque essa seria a reação que Ray teria com ela.
— Sim, você tem razão.— Schwoz estalou os dedos.— Eu preciso fazer alguns testes para descobrir o que essa coisa faz.
Sua caminhada não durou muito mais que cinco minutos e ao se aproximarem da porta Henry correu para perto de Jasper o abraçando novamente enquanto o amigo abria a porta.
Claro que não teve tanto êxito, já que ao abri-la Jasper correu pela residência afastando os braços de Henry.
Quando todos adentraram o local Schwoz se adiantou em subir as escadas até a área dos quartos.
— Onde você tá indo?— Charlotte interrompeu sua corrida.
— Estou indo até o quarto do Henry pegar o que preciso para minha pesquisa.
Deixando os adolescentes sozinhos ele continuou seu percurso. Agora um Jasper cansado se acomodava no sofá.
— Tudo bem.— o castanho suspirou cansado olhando para a amiga.— Me explica o porquê a Gwen usaria bolinhos adulterados p'ra fazer o Ray se apaixonar por ela.
Henry, que estava mais afastado dos dois, não pareceu gostar da interação dos mesmos, por esse motivo moveu seu corpo até próximo do sofá onde Jasper estava, onde ficou atrás do amigo.
— Porque, — a garota pôs as mãos no quadril— pensa bem, Jasper, com o Capitão Man e o Kid danger apaixonados demais para combaterem o crime, ninguém vai impedi-la de cometer os crimes que ela quer fazer.
— Bom, então temos que achar um jeito de..— sua fala foi interrompida pela boa sensação que sentia agora.
Jasper estava tenso. Henry percebeu isso ao deslizar suas mãos para os seus músculos, apertando seus pontos de tensão entre o pescoço e o ombro.
Os gemidos de satisfação que Jasper dava era o suficiente para deixar Henry animado, o mesmo agora olhava para a garota na sua frente com um olhar debochado que podia dizer "ganhei".
Teria continuado o que fazia se Schwoz não estivesse descendo as escadas de maneira extremamente barulhenta devido aos aparelhos que carregava em mãos.
— O que é isso?— foi a vez do loiro perguntar.
— Esse aparelho vai me ajudar a descobrir os efeitos daquela coisa que Henry comeu.— começou indo até o dono da casa e o puxando pelo braço para que se sentasse no sofá perto do castanho.— Henry preciso que abra a boca para que eu possa coletar os resíduos do bolinho que ainda estão na sua boca.
Com isso em mente, o loiro abriu a boca e permitiu que o homem coletasse o que fosse necessário. Após isso, Schwoz derramou o líquido na tela de sua máquina, não demorando muito até que letras começassem a aparecer.
— Bom, aqui diz que dentro do bolinho havia mesmo um tipo de poção.
— Eu sabia! Isso é igualzinho a Amortentia.— a garota bateu as mãos animada.
— Então quer dizer que no bolinho tinha uma poção do amor?!— Jasper indagou temeroso.
— Mais ou menos, diferente da poção de Harry Potter, essa daqui possuí dois efeitos diferentes um do outro. E um, após a ingestão da poção, a pessoa que tomou vai se apaixonar instantâneamente pela primeira pessoa que ver.— O homem direcionou o olhar a Jasper.— Na outra, caso a pessoa for beijada, os sentimentos repercutidos no beijo se unem formando um só, mas isso só ocorreria se as duas partes tivessem sentimentos mútuos um pelo outro tornando mais fácil a união, essa junção dá a pessoa a capacidade de sentir o cheiro muito forte da pessoa que a beijou, esse cheiro vai possuir capacidades calmantes, o que é muito bom, mas o problema é que nessa segunda opção, é permanente.
— O QUÊ?!— Jasper gritou.— Então quer dizer que ele vai ficar assim para sempre?
— Sim, mas isso é um bom sinal.— o homem disse com um sorriso forçado.— Agora você sabe que o Henry também gosta de você.
— Mas é por causa de uma poção idiota!
— Não. Você não entendeu?—Schwoz virou para Henry.— Ele não está agindo dessa forma por causa da poção, ele está assim porque ele quer, porque ele gosta de você de verdade.
Por um instante tudo pareceu parar. Jasper não sabia como reagir, seus sentimentos eram recíprocos. Já fazia um tempo desde que Jasper se via gostando mais da presença de Henry, ele só não sabia o porquê disso, mas aparentemente, Henry sentia o mesmo. Era muito para processar.
Voltou a realidade quando sentiu um mão pousar em sua coxa de uma maneira confortável. Era a mão do loiro, e o sorriso que o mesmo dirigiu a si dizia "eu estou aqui.". Os dois ficaram em uma espécie de transe, que não perceberam quando os outros dois se levantaram para ir embora.
— Ei, vocês dois!— Charlotte chamou— Precisamos ir p'ra caverna.
Nenhum dos dois discutiu e seguiram os amigos. Então o plano era o seguinte, Henry tinha que irritar Ray o máximo possível, isso faria o "amor" pela mulher se esvair. Não entendeu bem o motivo e nem porquê ele tinha que realizar a tarefa perigosa de irritar o chefe, mas obedeceu, talvez tivessem explicado antes, mas Henry estava preocupado em apreciar os olhos azulados de Jasper.
***
Quando já haviam chegado na Bugigangas todos estavam ansiosos, objetos poderiam ser quebrados, assim como os ossos de Henry durante essa briga.
— Alguém pode me explicar de novo o porquê que eu tenho que deixar o Ray tinindo de raiva?— Henry perguntou para ninguém em específico.
— Eu tenho uma teoria,— Schwoz começou sua fala— O produto que a Gwen usou para enfeitiçar o Ray causa uma falsa paixão forte nele, precisamos fazer com que o cérebro do Ray envie outro sentimento para o resto do corpo reagir.
— Mas por que tem que ser raiva? — Henry resmungou.— Eu não quero que o Ray me mate.
— Bom, todos concordam que você devia fazer isso.— Schwoz deu de ombros.
Suspirando Henry tomou a coragem que precisava e rumou com postura firme até o elevador sendo seguido pelos outros.
***
— Sabia que eu adoro ficar assim com você? — Ray dizia com a cabeça apoiada no colo da mulher enquanto recebia um carinho em seus cabelos.
— É eu sei.— Gwen sorriu em resposta, porém sua expressão mudou ao olhar para o relógio de parede do local. — Mas já são três horas e eu preciso ir.
A mulher falou empurrando Ray para que pudesse se levantar do sofá que estava.
— Vai sair?
— Sim, eu vou fazer um assalto e volto daqui a pouco. — agora Gwen subia os andares em direção ao quarto do homem.
— Ah tudo bem então.
Essa era a deixa que Henry precisava para por seu plano em prática.
— Então, Jasper. — Henry saiu do seu esconderijo chamando a atenção do chefe. Desde quando ele estava aí?— Você soube que vai ter um concurso de beleza só para homens em Swellview?
— Ah sim. — agora Jasper saia detrás do sofá, bem próximo de Ray. — Quem você acha que poderia vencer?
— Eu acho que seu pai poderia vencer, Henry. — Charlotte brotou junto de Schwoz agora.
— É verdade, seu pai é muito bonito.
Se tudo ocorresse bem, Ray se irritaria com a possibilidade de alguém, que não fosse ele próprio, pudesse vencer esse concurso de beleza, Henry iria zombar de sua idade e com isso o homem partiria para cima dele. Não tinha como dar errado.
— Espera aí, gente. — Ray disse se levantando do sofá chamando a atenção para si. — Tá na cara quem venceria esse concurso, né?— O homem sorriu de lado indicando com as mãos o seu corpo.
— Mesmo? Quem?— Charlotte perguntou.
— Como assim "quem?", Charlotte, é óbvio que sou eu. — Ray disse começando a ficar tenso.
Após sua fala todos riram em conjunto, mostrando o quanto o que havia dito era absurdo.
— Do quê estão rindo?
— De você! — ainda rindo Henry falou. — Sabe, você não teria como vencer, você é velho.
— Eu sou velho? — o rosto do homem era uma mistura de indignação e descrença, com um sorriso forçado para acompanhar.
— É, tipo, você deve ter mais de cinquenta.
— Cinquenta? — gritou incrédulo. — Acha que eu tenho mais do que meio século?
Ok. Agora Henry estava assustado. Ray se aproximou do garoto pousando suas mãos em ambos os seus ombros.
— Eu tenho trinta e cinco, Henry. Você sabe disso. — o herói largou o garoto do aperto e se afastou.
Henry olhou para os amigos, sua expressão dizia "o que eu faço agora?" e recebia olhares dizendo "eu não sei".
— Então, Ray. — Jasper chamou o moreno. — Cadê a Gwen?
— Ah, ela foi se arrumar p'ra fazer um assalto. — Ray respondeu ainda de costas para Henry.
— Hmmmmmmm. — Henry murmurou indo em direção ao sofá balançando sua cabeça negativamente.
— Que foi? — Ray perguntou virando para o garoto novamente.
— Nada, é só que, sei lá, ela não 'tá se arrumando demais p'ra um simples assalto? — o loiro começou com o deboche. — Como você sabe que ela não tá indo se encontrar com outro cara?
Ponto fraco tocado. Henry percebeu que estava conseguindo o que queria.
— Ela vai fazer um assalto!
— Será mesmo? Desculpa Ray, mas eu acho que isso é só uma desculpa fajuta p'ra se encontrar com alguém, e pelo visto esse cara deve ser bem bonito e jovem.
— O. Que. Foi. Que. Você. Disse? — Ray perguntou pausadamente com ódio nos olhos.
Henry não tinha certeza, mas cada vez mais que via o homem se aproximar enraivecido também podia ver seus olhos perdendo o foco. Devido a raiva? Henry não saberia dizer, mas seria a hora perfeita para o plano funcionar, já que Ray não parecia muito amigável quando agarrou uma arma de seu arsenal e a apontou para o menino danger.
Nesse instante, o grande corpo do homem cambaleou para trás, derrubando a arma no chão para logo em seguida, o homem cair no chão.
Todos correram para socorre-lo apreensivos. Teria funcionada? Henry esperava que sim, não iria arriscar sua vida de novo.
— O que aconteceu? — a voz de Ray estava diferente agora. Parecia mais normal.
— Você não se lembra de nada? — Schwoz perguntou preocupado.
— Não, quer dizer eu lembro, — o homem ainda aparentava tontura. — Lembro de sair atrás de bandidos, lembro que era uma mulher e eu lembro que ela me deu um bolinho.
— Isso, ela usou esse bolinho p'ra te enfeitiçar, Ray. — Charlotte falou dessa vez.
Levou um tempo até que o homem organizasse suas ideias na cabeça, mas ao fazer isso, sua raiva parecia ainda maior que antes. Porém Ray sabia que não era hora para isso, precisava prender aquela mulher, então, ouvindo o som de passos aumentando gradualmente, o herói fez com que os amigos se escondessem.
Quando Gwen saiu pela porta partiu em direção ao moreno de pé.
— Então, eu já estou indo fazer meu assalto. — A mulher começou a falar e logo depois deu uma voltinha na frente do homem, mostrando seu rabo de cavalo. — O que acha?
— Eu acho que ficou lindo. — Ray se aproximou mais para que pudesse abraçá-la. — Tão lindo que eu acho que vou ficar com ele p'ra mim.
Após sua fala Ray puxa o cabelo da mulher de sua cabeça com força arrancando-o deixando a mulher com uma expressão incrédula e de dor.
— Você está presa, Gwen.
Ray agarrou seus braços e os colocou para trás do corpo da mulher andando até o centro da caverna a segurando com uma única mão enquanto a outra, se encarregava da tarefa de pegar seus chicletes para estourá-los e se transformar no herói que levaria a mulher enraivecida para a penitenciária.
***
Ainda na caverna Man mesmo com todos os problemas resolvidos ainda havia algo incomodando a cabeça de Jasper. Seu amigo continuaria enfeitiçado porque, como Schwoz havia comentado, era permanente. E se Henry não se concentrasse nas missões por esse feitiço? E se Henry não estivesse confortável com essa situação? E se ele nem ao menos queria aquilo? Muitos problema na verdade. Charlotte pareceu percebeu os conflitos pelo qual o amigo passava e sentou ao seu lado.
Era estranho, normalmente Jasper se abriria com Henry, mas no momento o garoto estava em outra de suas missões com Ray, não que Jasper não gostasse da garota, ele gostava, só era estranho colocar tudo isso p'ra fora com ela.
— Não tem que se preocupar com isso. O Henry sabe se cuidar, não vai ser uma poção do amor que vai impedir ele de salvar o dia como sempre. — a garota disse colocando a mão no ombro do amigo em forma de apoio. — E aliás, você deveria estar feliz, afinal, o Henry é tão sua cadelinha quanto você é dele.
A garota levantou e seguiu caminho em direção ao elevador e não percebeu que sua fala havia feito o rosto de Jasper ficar rubro, se era de vergonha por Charlotte saber ou por ser verdade, o garoto não saberia dizer.
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