CAPITULO 6
A pressão da agua era absurda. Meu corpo é menor e muscularmente mais fraco do que o de minha irmã mais velha, então não aguentei a pressão por mais de 5 minutos e caí no pequeno lago que se formava em frente a cachoeira.
Meu corpo ardeu quando entrou em contato com a agua do lago abaixo de onde estávamos por culpa das pequenas lacerações causadas pela queda d’agua. Emergi da agua e gelei com o frio absurdo que fazia.
-Quando começou a nevar?
Batendo os dentes tentei nadar o mais rápido que conseguia para a margem, mas meus músculos começaram a ficarem dormentes e sentia câimbras horríveis, que doíam meu corpo e me impediam de me mover mais rápido.
Olhei ao redor, tentando localizar alguma margem próxima, e vi um corpo boiando na agua. É Saori Nee-San. Nadei o máximo que conseguia, mesmo quase congelando e não conseguindo me mover direito. Cheguei nela e virei seu rosto, que estava para baixo mergulhado na agua, e afastei seus cabelos que grudaram na face. Ela estava mais pálida que o normal e seus lábios estavam roxos.
Tentei não entrar em desespero, mas foi impossível deter as lagrimas que escorreram de meu rosto, me fazendo chorar mais pela queimação delas em minha pele fria. Dei batidinhas no rosto de minha irmã tentando acorda-la, mas parecia impossível na nossa condição.
Logo já não conseguia mover meus membros e tentei boiar meu corpo na superfície da agua, sempre segurando minha irmã com o corpo junto ao meu tentando nos aquecer, e manter minha respiração estável para não perder a consciência.
A cada respiração dificultosa eu podia ver o ar se condensando na minha frente, me fazia perceber que a temperatura descia cada vez mais e, junto a ela, o sol avançava levemente no céu. Meus pulmões queimavam e meus membros ardiam, incapazes de se mexer. As minha lagrimas congelaram na minha face e eu já não tinha mais resistência contra a força da agua.
A única garantia de que minha irmã estava viva era sua respiração total constantemente ativa, como Himejima Nii-San nos ensinou a usar até inconscientemente.
Não sei há quanto tempo estamos assim, mas minha visão começou a ficar turva e eu já não ouvia as coisas ao meu redor há bastante tempo. Meu coração pulsava em meus ouvidos, forte e lento, e meus membros estavam ainda mais rijos.
A agua balançou um pouco de repente e pude ver duas silhuetas: uma gigante que correu direto em minha irmã, e uma menor, mas ainda sim grande, que veio em meu encontro. Ambos nos levantaram em seus colos e eu já não tinha força nem para deixar meus olhos abertos. Eles pesam tanto.
Eles pareciam dizer algo desesperado para alguém na outra margem do lago, mas não pude entender nem uma virgula do que for que eles estivessem falando. Mal podia vê-los.
E, de repente, o mundo escureceu.
[...]
Algo quente estava me envolvendo e eu sentia uma fonte de calor especialmente próxima ao meu rosto me aquecendo ainda mais. Podia sentir que estava deitada em algo macio e algo afagava meus cabelos.
Minha audição estava voltando aos poucos e puder ouvir murmúrios de vozes conversando baixo. Puxei o ar aquecido e tentei abrir meus olhos, conseguindo logo em seguida, mesmo que fracamente. Olhei para cima e vi uma mulher de cabelos bicolores acariciando meus cabelos enquanto, pela sua expressão raivosa, parecia discutir em voz baixa com alguém à sua frente.
Logo pisquei algumas vezes e o mundo tomou foco. Eu estava dentro de casa novamente, mas não conhecia essa pessoa. Me mexi um pouco, tentando inutilmente me levantar, e a mulher se calou e me olhou surpresa quando sentiu meu movimento.
Tentei preparar um soco para dar nela, caso fosse inimiga, mas além de fraca eu senti sua essência. Ela não tinha a aura maldosa, apenas levemente irritadiça e bastante preocupada. Ela não era inimiga.
-como se sente querida? - Ela perguntou me olhando sem deixar de acariciar meus cabelos. Outra pessoa surgiu por trás dela e me olhou também. Essa era morena e, apesar do corpo ser claramente de uma mulher adulta, seu rosto continha traços infantis e fofos.
-Ela acordou? Oh! -Ela viu meus olhos abertos e suas bochechas coraram. Parecia pronta para gritar algo, quando a mulher bicolor tapou a boca dela com extrema ignorância e a forçou a olhar em seus olhos. Ela era assustadora.
-Cala a boca, Suma! - Disse ela gritando em voz baixa. A outra, Suma, tremeu e seus olhos se encheram de lagrimas. Ela começou a chorar baixo e parece que uma outra pessoa se atraiu pelo seu choro, logo entrando no quanto.
Eu o olhei e era um homem bastante alto, menor que Himejima-Nii, de cabelos brancos e uma roupa e maquiagem esquisitas. Ele é estranho, mas, pelo uniforme, parece ser dos exterminadores como Himejima-Nii.
-Makio, Suma o que vocês estão aprontando? - Ele falou com as duas que se acalmaram e me olharam em sequência, como se estivessem apontando. Ele finalmente me notou e fez cara de surpresa, apesar de eu sentir que ele já sabia que eu estava acordada. Cerrei meus olhos para ele e tentei fazer uma cara séria, que provavelmente não deu certo pelo barulho que ambas as mulheres fizeram.
-Aawwnn ela é tão fofa! ~- disse a tal da Suma e a outra, Makio, apertou minhas bochechas em um bico que me deixou mais irritada. Dei um tapa em sua mão e me sentei sem dificuldades. Olhei meu corpo e eu vestia um quimono diferente do que eu usei no treino. Meus cabelos soltos caíram em meu rosto e eu os joguei para trás, enquanto olhava ao redor procurando por minha irmã.
Depois do tapa na mão da Makio, eles três ficaram surpresos e sequer esboçaram reação até me ver tentando levantar e ambas mulheres pegarem meus braços gentilmente, me impedindo.
-Acalme-se. Sua irmã está bem. Está se recuperando já que ficou mais tempo inconsciente do que você. - Disse o homem se agachando na minha frente. Ele é bonito, mas parece extravagante pelas roupas esquisitas. Ele tem duas espadas enfaixadas nas costas, nunca conheci ninguém que usasse duas espadas. Eu aprendi a usar uma e minha Nee-San se sai melhor usando um bastão longo, maior que ela. Desfiz a expressão séria e a troquei por uma de preocupação. - Himejima-San está cuidando dela, junto à outra de minhas esposas, Hinatsuru. A propósito, sou Tengen, e essas são Suma e Makio. Ambas minhas esposas.
Já ouvi falar dele, mas nunca sequer conheci seu rosto. Esse é Uzui Tengen, o Pilar do som.
De repente ouvimos um estrondo e todos nos levantamos. As mulheres param de sorrir e empunham armas que nunca vi antes. Pareciam pequenas adagas prateadas, mas com um padrão completamente diferente. E Uzui-san desembainhou suas duas espadas e se posiciona em direção à porta. Ambos se posicionam em minha frente, me protegendo.
Apesar de fisicamente fraca, ainda posso usar minhas habilidades. Posiciono meus pés no chão e as palmas das mãos também e tento sentir ao meu redor.
De olhos fechados, meu subconsciente localiza 3 auras próximas a mim. É Uzui-san e suas esposas. Eles são como fumaça, sem forma especifica, mas sei que são eles. Do canto esquerdo, em direção a porta, há outras 3 auras. Uma pequena, uma enorme e familiar e uma estranha que crescia cada vez mais.
-O que é isso? - Perguntei para mim mesma e abri meus olhos. Os três a minha frente me olhavam um pouco chocados, em dúvida e receio. Não parei para analisar e já procurei minha espada pelo quarto a pegando quando localizei.
Voltei para trás deles e me posicionei. Em momento algum eles recuaram, apesar das mulheres estarem claramente assustadas com minha postura brusca.
-O que você sentiu? – Uzui-san me perguntou e eu o olhei. Ele parecia outra pessoa quando ficava sério. Apontei para a porta e ele assentiu. - Eu também senti. Você já tinha sentido essa presença antes?
A presença de que ele se referia era o que eu chamava de aura. E não, eu nunca senti algo tão assombroso antes. Neguei com a cabeça e ele voltou sua atenção para a porta e se posicionou melhor em nossa frente.
Todos armados e preparados. Ficamos parados aguardando o que quer que seja isso.
Nee-san esteja bem!
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