Uma dança.
Tudo tinha começado com uma dança.
A Malevolência em pessoa – O grande Inimigo do reino – O Vilão – Trystan, tinha abraçado a cintura de Evie e segurado sua mão enquanto a fazia girar em uma clareira à meia luz.
Poderia ser um sonho. Mas não era. Tinha realmente acontecido.
Ela o tinha tocado de verdade – dessa vez com a permissão dele. Tinha colocado a mão em seu ombro forte enquanto ele segurava firmemente a cintura de Evie, e sentido seu calor a cada rodopio que terminava em seus braços. Tinha olhado para ele até o pescoço doer pela diferença de altura – mesmo dançando na ponta dos pés.
Aquela poderia ser considerada sua noite favorita da vida, não fosse os gritos desesperados que se seguiram. Os corpos em decomposição e as mortes também não ajudaram muito, mas essas coisas faziam parte do trabalho, e Evie já estava quase acostumada. Aquilo poderia ter estragado a noite deles, mas então teve aquele beijo…
Lembrar do beijo fazia as entranhas dela tremerem. Deixava Evangeline Celia Sage com um frio no estômago e as pernas fracas.
Ele a tinha segurado pela cintura novamente, se inclinado sobre ela, provado seus lábios com a língua, provado a língua dela com a língua, e feito Evangeline imaginá-lo provando outra coisa daquela mesma forma.
Com suas mãos pequenas ela segurou o rosto do Vilão enquanto o beijava. Se estivesse chovendo seria como uma cena daqueles livros picantes que costumava ler, com um beijo ardente que revelaria o amor que ambos sentiam. Mas em vez da chuva havia uma multidão de pessoas olhando, incluindo o pai de Trystan, seus colegas de trabalho, e uma quantidade excessiva de Guardas Valentes.
Claro que nem mesmo as mortes, a captura de Arthur, e um guvre solto pelas mãos do traidor diminuiam a mágica daquela noite. Ela tinha dançado com o Vilão, ele a tinha beijado como se realmente a desejasse (mesmo que o plano fosse de Evie, ele tinha sido muito convincente), ele tinha matado um Guarda Valente para protegê-la (mesmo que em qualquer outra ocasião ele também adorasse matar os Guardas, naquela em específico foi por ela).
Claro que não começou com uma dança, Evangeline idiota, nem mesmo foi naquela noite.
Tinha começado muito antes daquele baile. Tudo começou no dia em que conheceu Trystan, ferido na floresta, e só tinha piorado nos meses que se seguiram, porque, como Tatiana uma vez dissera: o Vilão era a personificação do pecado.
E tentadoramente bonito.
Evangeline sorriu ao recordar-se.
A dança, o beijo, não era nada comparado à intimidade de um abraço, da confiança que demonstrou ao contar a Sage seu passado.
Um jovem abandonado. Quebrado. Traído.
Como eu.
Talvez fosse isso o que Trystan tinha visto em Evangeline naquela tarde na floresta. Talvez tivesse se reconhecido nela, mesmo atrás de toda aquela inocência.
— Inocência? — Trystan sorriu, revelando uma única – e adorável – covinha — Você não tem nada de inocente, furacãozinho.
— Somente ao seu lado, Vossa Malvadeza.
O Vilão sorriu quando ela fez uma mesura, fingindo uma reverência fingida, já que Evie realmente o reverenciava, com uma paixão que nunca tinha sentido por outra pessoa.
— Nem mesmo meus pensamentos mais maléficos se comparam ao que se passa nessa sua cabecinha, Sage.
Quando ergueu os olhos, Evangeline se deparou com a mão dele estendida, e com graciosidade encenada ela pousou a mão sobre a dele e deixou que a ajudasse a se erguer.
A luva de couro era macia. Ela já estava acostumada a vê-lo usando-as, e muitas vezes sonhava com o toque delas em seu corpo, como da vez em que ficaram presos naquele armário apertado, e o Vilão a segurou, impedindo que caísse. Ou mesmo quando tinham acabado de se conhecer, e ele segurou sua mão para que corressem pela floresta, fugindo dos Guardas Valentes.
Dessa vez Trystan não se afastou quando ela se aprumou, mas manteve a mão erguida, como se tencionasse exibi-la em um salão de baile.
— O que foi, Evie?
O simples nome dela dito pelos lábios do Vilão a fez se derreter por dentro, mas Evangeline teve o bom senso de manter a compostura.
Não fantasie com seu chefe sussurrando seu nome, Evangeline.
— Evangeline? — Trystan perguntou novamente, dessa vez muito mais baixo, encarando-a com seus olhos muito, muito negros.
Evie nunca tinha visto olhos tão negros quanto os dele, eram como poços profundos, como uma noite sem luar, como facas de obsidiana. Eram perigosos, do tipo que faziam os estagiários correrem e seus inimigos chorarem nas masmorras, mas para Evangeline eles eram bonitos, e estranhamente acolhedores.
As sobrancelhas espessas e igualmente negras se curvaram em uma interrogação, e Evie soube que ele estava falando com ela. Por quanto tempo? Isso ela não sabia.
— Evangeline Sage! Guarde suas fantasias para quando estiver dormindo. Ou ao menos para quando estiver sozinha.
Não havia rubor nas faces do Vilão. Não que fosse comum que Soberanos do Mal ficassem ruborizados, mas Trystan parecia ficar encabulado com frequência em sua presença, principalmente quando o assunto eram as fantasias de sua secretária – ou mesmo seu gosto peculiar para livros de conteúdos duvidosos.
O sorriso radiante de Sage murchou, sendo substituído por um muito mais fraco, quase pesaroso.
— E eu não estou?
As sobrancelhas do Vilão se ergueram novamente, e ele soltou o ar, como se estivesse cansado depois de um dia torturante, o que provavelmente era verdade.
— Você fala cada coisa, Sage.
Couro negro acariciou o rosto de Evie, o dedo indicador de Trystan contornou suas bochechas salientes e desceu para o queixo fino, prendendo-o com o polegar para aproximar o rosto do seu.
— Como eu faria isso se você estivesse sozinha?
Evie observou em câmera lenta aqueles lábios se aproximando, e seu coração bateu tão forte que teve certeza que o Vilão o ouviria, a acharia muito inocente, muito inexperiente.
Tristan não vai achar nada.
Tratou de afastar logo aquela voz, mesmo sendo sua.
Nem precisou de esforço, pois os lábios dele tocaram os dela e tudo desapareceu. Havia apenas Evie e Trystan, Vilão e assistente, e a língua dele perseguindo a sua com a mesma ferocidade que perseguia os estagiários no dia da debandada.
Seu beijo era tão bom quanto Evie se recordava, e ela foi tomada pela mesma sensação de leveza que teve durante o incidente do baile. Seu corpo respondia ao Vilão como nunca tinha feito por mais ninguém.
Coração acelerado. Pele sensível. Pelos eriçados. Pernas amolecidas. O mais estranho era a contração nos dedos dos pés, além do calor em uma área muito mais específica. Cada toque da língua de Trystan era uma tortura deliciosa.
Claro que sim, ele é puro pecado.
1,90m de puro, forte, e irresistível, pecado.
E com um peitoral incrível.
Completou em pensamento quando sua mão livre se apoiou no peito do Vilão para se equilibrar.
Trystan não interrompeu o beijo ao sentar-se e puxá-la para seu colo. A surpresa a fez esbarrar em uma pilha de papéis sobre a mesa, mas ela dispensou apenas uma olhada rápida aos documentos antes zelosamente organizados.
— Tão desastrada… — disse com um riso rouco, segurando mais forte sua cintura e trazendo-a para si, deitando-a em seu braço.
Os lábios não voltaram à sua boca, em vez disso desceram por seu queixo, por seu pescoço, e a sensação obrigou Evie a contrair as pernas e agarrar aqueles cabelos negros levemente compridos, de que ele tinha tanto orgulho.
Um gemido escapou de seus lábios, e mesmo sem vê-lo Evangeline sabia que o Vilão estava sorrindo, e não era aquele sorriso fofo com covinha.
De olhos bem fechados, a secretária se inclinou para trás, dando a ele todo o acesso que quisesse ao seu pescoço e colo desnudo sobre o decote. Foi recompensada com a boca quente descendo até a gola do vestido, com as mãos dele segurando seu traseiro e a puxando ainda mais para perto, com o volume óbvio sob o couro pressionando seu quadril.
— o escritório… — Evie começou a dizer, mas então se lembrou.
— Não tem ninguém aqui, Sage — O Vilão deu voz ao seu pensamento.
Não tem ninguém aqui…
Evangeline relaxou novamente, sentada de lado no colo do chefe, sorrindo ao puxar a fita de sua bata.
Os olhos do Vilão queimaram com um fogo negro ao observar o tecido ceder, revelando os ombros e a curva dos seios de Evangeline. As mãos que tocaram seus ombros eram quentes e ásperas, denunciando a ausência das luvas.
O toque dele era suave, preciso. Como se pequenas aranhas caminhassem sobre sua pele. Arrancando gemidos de prazer com a mesma facilidade como arrancava gemidos de dor de suas vítimas. Os sons ficaram mais agoniados quando os dedos de Trystan deslizaram sob o algodão, abaixando o tecido até que os seios de Evangeline estivessem ao seu alcance, livres ao frescor da sala magicamente refrigerada.
As maçãs do rosto do Vilão – já altas por natureza –, ficavam ainda mais proeminentes vistas daquele angulo, fazendo os olhos negros parecerem mais ameaçadores encarando Evie, ao levar a boca até um dos seios pequenos.
Muito pequenos para que ele me ache interessante.
Evie se censurou, mas o pensamento escapou ao sentir a língua acariciando o bico de seu seio, e involuntariamente ela apertou os cabelos dele quando Trystan o sugou, abocanhando grande parte de seu seio enquanto o outro descansava aninhado na outra mão do Vilão.
Não era a primeira vez que Evie fantasiava com aquilo.
Mas não achei que poderia ser tão bom.
Em seu desespero, Evangeline se pressionou mais contra ele, tentando sentir melhor aquilo que pressionava seu traseiro, mas eram muitas camadas de tecidos para que o contato fosse satisfatório, o que não a impedia de tentar descaradamente saciar sua curiosidade.
Tendo aprendido tudo o que sabia através dos livros, pareceu muito natural que a mão do Vilão procurasse a barra de seu vestido, subindo sobre a meia alta de lã, até encontrar a chemise mais justa por baixo de todo aquele tecido.
Como uma daquelas protagonistas, Evangeline afastou os joelhos para liberar o tecido preso entre suas pernas na queda, e foi agraciada com a mão quente do Vilão subindo por sua coxa, juntamente com um sorriso divertido, que a fez enrubescer mais do que todo o resto do que estavam fazendo.
Subitamente nervosa, Sage se perguntou se fizera algo estranho, deveria ter deixado que ele tomasse a iniciativa? O Vilão com toda a certeza tinha muito mais experiência naquilo tudo.
E pensar que um dia tinha dito que não queria ser uma de suas amigas íntimas. Tudo o que ela mais queria era ser uma amiga íntima. Ser uma amiga já seria mais do que poderia esperar, é claro, e ser íntima nesse ponto parecia recompensador.
Onde eu estava com a cabeça quando falei aquilo?
Ela não queria apenas ser uma Amiga Íntima, ela queria ser a Única amiga intima. Na verdade, queria ser mais do que isso.
Droga! A quanto tempo ele está me encarando?
— O que foi? — Evie deu de ombros, disfarçando o constrangimento, afinal, estava no colo do chefe, no escritório, com os seios expostos e gelados da saliva dele, as mãos do Vilão estavam acariciando suas coxas de uma maneira excitante e nada satisfatória, que a fazia desejar ainda mais seu toque. Qual o problema de dar uma ajudinha? — O vestido estava atrapalhando, então eu achei que seria mais fácil…
— Sage?
Ótimo, agora ele acha que eu sou do tipo tagarela. Quer dizer, eu sou tagarela, mas não na cama. Ou sou? Nunca fiz isso antes, mas acho que não falei tanto assim, embora tenha pensado em bastante coisa, parece estranho ficar conversando quando tem coisas melhores a fazer com a boca.
Tentando evitar mais constrangimentos, ou economizar palavras, tudo o que Evangeline disse foi:
— uhm?
O Vilão continuava encará-la com aquele olhar inescrutável. Seria dúvida? Talvez se a sobrancelha direita estivesse um pouquinho mais erguida. Divertimento? Mas então os lábios estariam curvados uns dois milímetros para cima. Arrependimento? Definitivamente não, ou sua mão não estaria fazendo cócegas no meu traseiro.
— Você quer parar e… — Trystan pigarreou — conversar sobre isso?
— Parar?
Em nenhuma das suas fantasias o chefe tinha sugerido parar, mas também em nenhuma delas ele tinha ido tão devagar.
— Eu não quero parar!
Mas antes que percebesse Evie já estava em pé, e agora ele a olhava com dúvida óbvia naqueles olhos negros, e Evie fez a coisa mais sensata que poderia pensar.
Talvez o sensato – para outra pessoa – fosse sair correndo da sala e afastar-se daquela Encarnação do Mal, que com certeza tinha más intenções. Para ela era exatamente o oposto.
Como se precisasse provar um ponto, Evangeline ergueu novamente as saias, atrapalhando-se com a quantidade de tecidos a sustentar enquanto desfazia o laço de sua peça íntima, provavelmente aquela mesma que ele tinha visto no varal de sua casa.
A roupa sem graça caiu no chão. Uma coisa de algodão cru, muito menor do que o esperado, e larga o suficiente para que ele pudesse deslizar a mão sob o tecido, nada requintado como as peças usadas pelas mulheres da nobreza, com as quais ele com certeza estava acostumado. Com um empurrãozinho do pé, Evie a enviou para baixo da cadeira do Vilão, longe de suas vistas.
— Pronto! — Disse com um sorriso, e apoiou as mãos nos ombros largos do Vilão para voltar ao seu colo, mas dessa vez sentou-se de frente para ele.
Os lábios do Vilão estavam afastados, em uma expressão que ela só via quando falava algo muito absurdo (normalmente envolvendo algo constrangedoramente pessoal, como seus livros de romance, ou sonhos sujos que tinha com ele, ou mesmo quando mencionava suas partes vulneráveis).
Somente então Evangeline percebeu a gafe que tinha cometido. Ela estava no colo do Vilão, sem sua roupa íntima – obviamente –, mas não pensou na logística necessária para livrar o homem de suas calças de couro muito, muito coladas.
O pensamento quase a fez rir, mas o olhar vidrado de Trystan a impediu, ainda mais porque foi acompanhado das mãos dele voltando a acariciá-la – uma na cintura, outra no rosto, subindo por sua bochecha, até se embrenhar nos cabelos atrás de sua orelha.
O toque a fez gemer novamente, mas o som foi abafado pela boca do Vilão, que tomou a sua com uma delicadeza surpreendente.
Eu poderia morar nesse momento.
A mão em sua cintura a puxou para mais perto, e Evie sentiu o volume sob o couro.
Deve ser muito grande para senti-lo assim nessa calça apertada.
Com certeza seu rosto tinha ganhado um novo tom de vermelho, apenas por imaginar as partes vulneráveis do Vilão, mas era um tópico tão comum nos livros, e tão palpável sob suas saias, que era impossível não pensar nele.
Não é hora para ter vergonha, Evangeline Sage. Você chegou longe demais para isso. E com certeza alguma marquesa dos seus livros já passou por uma situação dessa. Pense Evie. Pense!
Evangeline se empertigou enquanto o beijava, erguendo novamente as saias, dessa vez procurando-o sob as camadas de tecido. Encontrou com facilidade o couro grosso da calça do Vilão e – não com tanta facilidade assim – fez cada botão de osso deslizar de sua casa.
As sobrancelhas de Trystan se ergueram novamente quando ele parou de beijá-la, e Evie sorriu, pensando nas rugas precoces que ele teria se continuasse com essa mania.
— Está atrapalhando — Respondeu a pergunta não feita, ficando na ponta dos pés para aliviar o peso nas pernas dele, e dando tapinhas em seu quadril para que se levantasse.
O gesto impensado pareceu divertir o Vilão, que segurou as coxas de Sage e a ergueu consigo, dando espaço para que – desajeitadamente – a secretária descesse sua calça de couro, e – mais desajeitadamente ainda – a ceroula preta de linho.
— Tem certeza?
Em resposta ela o puxou para sua boca novamente.
Estavam a meio caminho da cadeira, mas Trystan não se sentou novamente, com um movimento firme ele a jogou para cima, e Evie gritou ao cair sentada na mesa do Vilão, onde partes dos documentos ainda estavam espalhados.
Sage sorriu, pensando se o relatório sob seu traseiro seria entregue a Beck, e o que ela acharia se soubesse por onde tinha andado.
O pensamento logo lhe escapou, porque o Vilão a puxou para a beirada da mesa, derrubando mais papéis, e se posicionou entre seus joelhos. Mãos subiram suas coxas, afastando o vestido, os olhos vidrados em cada centímetro de pele revelada.
A curiosidade a fez espiar sobre suas saias, mas tudo o que conseguiu ver foi uma faixa de pelos negros onde a camisa estava um pouco levantada, então o Vilão se aproximou mais, ficando pele contra pele no “vertice de suas pernas” – como tinha lido em um livro.
Se ele demorasse mais Evangeline com certeza perderia a coragem, então segurou-o pelo gibão e o puxou para baixo, para sua boca, erguendo os pés para apoiá-los na beirada da mesa. Poderia ter suplicado ao Vilão que continuasse, mas a língua dele invadiu sua boca ao mesmo tempo em que a pressionava em outro lugar, o que a fez afastar-se de seu beijo para arfar.
A língua de Trystan acariciou seus lábios enquanto ele se movia lentamente, e tudo o que ela conseguiu fazer foi gemer a cada investida, até que conseguiu novamente beijá-lo.
Os movimentos pareciam sincronizados, o ritmo do beijo parecia definir a velocidade com que o Vilão investia contra ela, e Evie o beijou com paixão, implorando silenciosamente que fosse mais rápido.
Um pensamento idiota passou pela mente de Evie, do dia em que se conheceram e das coisas que costumavam chama-lá.
Talvez agora eu possa acrescentar outro F à lista. Fodida.
A mão de Trystan pressionou a dela, e Evie percebeu que ainda segurava seu gibão, e imediatamente o soltou.
O Vilão se ergueu, afastando-se de sua boca, mas sorrindo ao abraçar as coxas de Evangeline por baixo dos joelhos e puxá-la para si enquanto se jogava contra ela. O impacto fez Evie gritar de surpresa, e o barulho quase abafou um rugido de prazer nos dentes cerrados do Vilão.
Aquele som acabou com qualquer resistência – se é que havia alguma – de Evangeline, que se permitiu encarar o Vilão com nada além de desejo. A forma como ele a olhava deixava Evie estranhamente relaxada. Seus olhos negros pareciam ter ganhado um brilho dourado, como um céu estrelado.
Os sentimentos do Vilão nunca ficaram tão óbvios, uma mistura de prazer, fúria e adoração, que fez Evangeline sorrir e se deitar sobre a mesa, flexionando os braços para agarrar-se a borda do tampo de madeira sob sua cabeça, gritando a cada estocada violenta que a inundava de prazer.
Se antes os beijos ditaram o ritmo, agora eram os gritos de Evangeline – mais desesperados e suplicantes a cada investida – que faziam o Vilão dar o máximo de si, até os gritos perderem o som e ela revirar os olhos em agonia, envolvendo-o com as pernas até que os espasmos diminuíssem com os movimentos de Trystan.
A pele bronzeada do Vilão brilhava com o suor, e a admiração com que a olhava era tão íntima quanto o prazer que tinham compartilhado.
— Isso foi… — Evie quebrou o silêncio, mas as palavras viraram um protesto quando ele se retirou. A sensação que se seguiu foi um estranho vazio, que pouco tinha a ver com o motivo de estar ensopada entre as pernas.
O Vilão ofereceu a mão para ajudá-la a se sentar, e a euforia aqueceu seu estômago. As mãos de Trystan abraçaram seu rosto corado, e ele a beijou com delicadeza, deixando-a recuperar o fôlego ao recolher a língua.
— O que você ia dizer, meu amor? — Trystan sussurrou, empurrando uma mecha de cabelos dela para trás da orelha.
Meu amor! Ele me chamou de Meu amor!
Evangeline surtou em silêncio. Claro que ela já sabia dos sentimentos dele. Trystan tinha deixado muito claro seu apreço na noite em que…
Não se lembre Evangeline. Não pense nisso.
Roupas! Nós ainda estamos de roupas.
O corpo do Vilão era um de seus temas preferidos para devaneios. Vivia se perguntando como ele era por baixo das roupas justas. Era óbvio que tinha o corpo bem definido e de proporções invejáveis, dava para saber pelas calças de couro, e pela facilidade como jogava corpos nos ombros e os arremessava pela janela. Mas ela queria vê-lo, não ficar apenas imaginando.
Evangeline pigarreou, fazendo o Vilão se afastar para olhá-la.
— Nós poderíamos… ir para o quarto, talvez? Para ficarmos mais à vontade?
Por um momento o chefe apenas a olhou, como se julgasse sua necessidade de “ficar à vontade”, então se afastou da mesa, estendendo a mão para Evie.
— Mais uma?
Talvez suas pernas não aguentassem a caminhada até o quarto. Com toda certeza seu coração não aguentaria, não quando sabia o que aconteceria lá. Tentando parecer confiante, Evie segurou a mão do Vilão e pulou da mesa.
Seu corpo se chocou contra o chão. Não o piso de pedra polida do escritório, mas o tapete grosso que revestia seu quarto, e a consciência a fez praguejar em voz alta.
— Que merda, Evangeline!
Justo quando eu teria a oportunidade de ver Trystan sem Nada!
Desenrolar-se do edredom deu algum trabalho, e ela esbravejou várias vezes antes de arremessar o acolchoado sobre a enorme cama de dossel, tão diferente da singela cama de solteira que tinha no antigo chalé.
O sol já estava nascendo, então era inútil voltar para a cama e tentar retomar aquele sonho, por mais que desejasse.
Três batidas firmes soaram na porta, assim que ela acabou de se arrumar para outro dia de trabalho. Evangeline olhou no enorme espelho, para garantir que sua aparência estivesse à altura do trabalho.
As calças de couro eram estranhamente confortáveis, e muito mais práticas do que as saias pesadas, para caminhar e subir as escadas infinitas do castelo, mas principalmente para montaria. A camisa preta parecia deixá-la ainda mais magra e com menos busto, quase como um rapaz, mas o uso do corset por cima dela acentuava suas modestas curvas. Os cabelos estavam trançados, para que não esvoaçassem – talvez um dia aprendesse aquele penteado que leu em um livro, que fazia parecer ter chifres, com certeza combinaria com seu novo cargo na empresa. Para finalizar tinha a maquiagem, que Beckytinha criticado no início, até que ela mesma a ensinou a usar; o preto ao redor dos olhos dava um ar de mistério maleficente, mas o batom vermelho era o que dava o toque final. O vermelho sangue a deixava poderosa, quase cruel, e Evie estalou os lábios para o reflexo no espelho.
— Senhora? — as batidas soaram novamente, e Evangeline Célia Sage, Senhora do Mal, Inimiga Jurada do Rei, Soberana da Morada do Massacre, a Vilã, mais conhecida apenas como Evil, revirou os olhos e abriu a porta.
— Sim, senhorita Erring?
A mulher pigarreou e empurrou os óculos com o nó do dedo indicador, avaliando-a das botas de montaria até os cabelos escuros.
Ignorando o olhar, Evie pegou a capa negra e a jogou sobre os ombros, completando o visual vilanesco. Ainda podia sentir o cheiro fresco de cravo, whisky e canela, impregnado na capa dele. Talvez esse fosse o motivo desses sonhos estarem se tornando muito frequentes.
— Vejo que conseguiu não borrar a maquiagem.
Nem mesmo sua recente promoção fez Rebecka parar de importuná-la, mas era bom para Evangeline ter alguma normalidade, principalmente quando os estagiários tinham começado a fugir da nova chefe.
Becky a encarou por mais um tempo, então pareceu se recordar do porque estava ali, em seus aposentos privados, e não aguardando em sua mesa no escritório.
— Sinto muito interromper seu descanso — Rebecka estendeu a ela um cálice de elixir de caldeirão, como uma oferta de trégua — Blade informou que Fofucho está pronto, está te esperando para colocar a sela.
A Vilã pegou o elixir da mão firme de sua assistente e inspirou profundamente seu vapor. Quente como o pecado. Doce como a vingança. Forte como… Evangeline sorriu, lembrando do sonho. Sim… era forte como seu amor por ele.
Ou seria sua obsessão?
— Vamos logo, Senhorita Erring, temos um Vilão a resgatar.
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