Boruto Uzumaki
“Os olhos negros da senhorita Uchiha repletos de dor. Seus gritos desesperados expelidos pelos lábios trêmulos que antes eu desejava tanto beijar. Clamando por mim. Tantas e tantas vezes. Me chamando toda necessitada do meu ser, verdadeiramente apavorada.
Foram as últimas lembranças que eu tive, antes de despertar no mundo dos desencarnados.
Completamente confuso, perdido e revoltado, após ter dormido por não sei quantos dias ou meses.
Acamado, me restabelecendo, lentamente. A paz do ambiente, as energias salutares que me envolviam, não se fizeram suficientes para aplacar a minha ânsia em entender o que se passava comigo.
Fora deveras difícil, em princípio, aceitar que eu, Boruto Hyuga Uzumaki, havia falecido por conta de um mísero golpe de esgrima desferido por Kawaki Kara.
Logo eu, o herdeiro do ducado de família. Um jovem com um futuro promissor e exímio praticante do esporte. Fui me permitir ser derrotado com tamanha facilidade por um adversário sem escrúpulo algum.
Não me parecia ser algo justo da providência divina. Sendo algo mais próximo de uma maldição coisa semelhante.
Todavia, a minha condição como um ser incorpóreo pouco importava, diante da dolorosa constatação que foi saber que eu havia deixado Sarada para trás. Sozinha, largada à mercê da própria sorte. Sem ninguém para protegê-la. Destinada a viver em comunhão com meu maior inimigo.
A minha amada, a dona dos meus pensamentos, que dominava meu coração desde quando éramos pequeninos. Havia permanecido no plano terreno, onde seria obrigada a casar-se com o meu algoz, Kawaki Kara. E estando morto, eu não seria capaz de interferir ou tampouco poder impedir aquela união fadada à infelicidade e sofrimentos da minha princesa.
Promessas de infância não cumpridas, um amor genuinamente verdadeiro não vivido em sua plenitude e uma dor dilacerante dentro do peito, que não parecia dar sinais de que iria me abandonar, torturavam-me a alma.
Eu estava destinado ao fracasso. Independentemente de estar vivo ou morto. E a minha sina parecia ser sempre a mesma.
Perder tudo o que amava para Kawaki e ser condenado à solidão.
– Você fez o que estava ao seu alcance… O restante, os desígnios do Senhor se encarregaram de cuidar. E muito embora o resultado final não foi o por nós almejado… era previsível, dada a ligação kármica existente entre vocês dois. Almas afins.
A voz masculina assustadora, ecoando feito um trovão e ao mesmo tempo transmitindo tranquilidade, me pegou de surpresa, de repente, naquele lugar de serenidade.
– Do-do que você tá falando, senhor…? E quem és tu?
Ergui os olhos na direção da figura do homem imponente de longos cabelos negros e olhos de mesma cor, me fazendo sorrir discretamente, dada a semelhança física com a rainha absolutista do meu coração, Sarada Uchiha.
– Quem sou pouco te importa, Boruto Hyuga Uzumaki. Concentre as tuas energias e a tua força vital no que realmente lhe é importante… Vez que receio que a tua cara metade, deixou o mundo dos vivos… e retornou para a pátria espiritual, necessitada do teu auxílio imediato.
Ele disse, sem sequer mover os lábios, sustentando uma expressão tediosa no rosto. Como se aquela conversa lhe fosse penosa.
– Perdão Tio das trevas… mas ainda não fui capaz de compreender…
Murmurei. ajeitando-me na cama de lençois brancos com perfume de algodão, numa espécie de leito de um hospital espiritual, sentindo a ansiedade crescer e um medo corroer-me as veias.
– Perfeitamente lerdo como um Uzumaki… Incrível! – resmungou sarcástico. – E não me chames de tio… Não sou teu parente consanguíneo. Tampouco somos íntimos. Para você, sou Itachi Uchiha.
– Pe-perdão… senhor das trevas… di-digo senhor Uchiha. – curvei o corpo de forma respeitosa, tratando de me desculpar sem delongas. Céus… um Uchiha!
O homem apenas revirou os olhos antes de prosseguir sem pressa alguma, na certa julgando-me uma outra vez.
– Por sentir a tua falta em demasia, Sarada perdeu a vontade de viver, entregando-se ao luto profundo, recusando-se a comer e adoecendo gravemente. Acarretando seu desencarne precoce de forma culposa.
Itachi fez uma breve pausa, e suspirou pesadamente. Indicando não apreciar ser o portador daquelas notícias. E aflito por querer saber mais sobre o que havia acontecido com a senhorita Uchiha, as palavras simplesmente fugiram pelos meus lábios de maneira atrapalhada.
– Ela faleceu? Então eu posso vê-la? Sarada está repousando na ala … na ala feminina deste mesmo hospital?
Impaciente com os meus modos um tanto impulsivos, o senhor trevoso bufou demonstrando seu desejo de querer prosseguir com a explicação sem qualquer interrupção.
– Infelizmente a alma de minha sobrinha não pôde ser trazida para este plano espiritual. Estando perdida nas esferas inferiores de carga vibratória diferente da nossa e …
– Co-como? O que isso significa senhor? “Perdida nas esferas inferiores”? – o cortei, sem querer, recebendo um olhar repressor que me apavorou, dando-me calafrios.
– Cala-se Uzumaki! És tão afobado quanto os teus iguais. Incrível! Deixe-me concluir, pois não nos resta muito tempo. – ele vociferou e eu me aquietei ciente da seriedade da situação da minha amada.
– Como lhe expliquei, o desencarne de Sarada procedeu de forma culposa… em virtude de uma livre escolha dela… sendo caracterizado como um suicídio involuntário. Tão logo, a alma de minha sobrinha padece em sofrimento nas esferas do submundo. E quanto mais tempo ficar por lá, menos ela se recordará de quem és verdadeiramente, perdendo sua essência vital para a escuridão.
Ouvir aquilo foi como sofrer o pior dos golpes de espada que eu poderia receber em meu coração. A pior das dores já sentidas. E movido por forças monstruosas que eu sequer sabia ser possuidor. Me levantei daquele leito em um rompante, pronto para seguir em busca da minha paixão.
– Pois então precisamos salvá-la imediatamente. Jamais permitirei que a senhorita Uchiha padeça de qualquer sofrimento.
Decretei resoluto, sentindo meu corpo fluídico reenergizado e meu ferimento totalmente curado, enquanto Itachi me observava com esboçar qualquer expressão. Parecendo quase entediado diante de minha presença.
– Ouça bem garoto Uzumaki. Você me acompanhará nesta missão de resgate à minha sobrinha, única e exclusivamente por conta da ligação kármica existente entre vocês. – ele suspirou desgostoso. – O forte laço que os une, a afinidade eterna é o que nos guiará feito um fio de energia vital até Sarada. E serás a tua luz interior, os teus sentimentos mais puros e genuínos que a farão abrir os olhos da alma e enxergar a realidade, escapando da escuridão. Tu necessitas aparar cada aresta do teu Assunto Pendente. E salvar, proteger e cuidar de Sarada és teu objetivo final.
– Certo! Certo! Eu compreendi… Serei o eterno protetor de minha amada. Disto tenho plena convicção. Sarada sempre serás por todas as vidas, minha prioridade. Vamos?
Fiz menção de deixar o local, todo afoito, porém o tio de Sarada me conteve, com um simples emanar de emoções através de energias. Um reles piscar de olhos, me paralisando por completo sem a necessidade de mover um músculo sequer de seu corpo.
“Uau! Este senhor era deveras poderoso.”
– Onde pensa que vais? Não sabes como chegar lá, tampouco como deves agir diante de espíritos malignos. És uma alma recém desencarnada sem qualquer tipo de experiência no submundo inferior. Eu permiti que tu me acompanhes, Boruto, todavia sou eu que liderarei este resgate e sou eu quem ditará as regras, garoto.
Itachi grunhiu, feito um animal feroz, prosseguindo em sequência, com uma explicação simplista que me deixou um tanto atordoado.
Contou-me, o senhor das trevas, que por muitas e muitas décadas a família Uchiha esteve envolvida em existências recheadas de ódio e guiados pela sede de vingança. Entrando e saindo das zonas inferiores, vagando na companhia de espíritos de baixo padrão vibratório, permitindo o cultivo de tais energias e sentimentos ruins.
E que Sarada infelizmente estava fadada a seguir este mesmo caminho tortuoso de dor e sofrimento, caso não abrisse os olhos verdadeiramente e enxergasse a luz do perdão divino. Concedendo o perdão à Kawaki Kara.
Perdão.
Apenas o perdão nos salvará de uma vida de provas e expiações.
E caso haja falhas e Sarada não encontre a luz, agora como mero espírito desencarnado. Numa nova existência terrena ela sofrerá as consequências.
Sendo o perdão o eterno Assunto Pendente.
(...)
E foram estas as últimas palavras de Itachi Uchiha, que ecoaram em minha mente como uma espécie de alerta preventivo, de intuição. De que tudo se repetiria uma outra vez, nesta vida.
Porra! Mil vezes porra!
Sarada se colocaria em risco e eu, como seu eterno companheiro em comunhão de almas. Seu braço direito e seu protetor, precisaria garantir que isso não acontecesse.
Essa danada definitivamente era a rainha do meu purgatório. E eu não reclamaria disso jamais, como um perfeito masoquista.
A Uchiha era minha. E eu, Boruto Uzumaki era todinho dela. Somente dela.
– “Ser a luz… de Sarada”
Resmunguei baixo, recordando das palavras de tia anjo, enquanto me ajeitava na cama do quarto, com o coração disparado. Após despertar no meio da madrugada, todo suado e assustado, por conta de um sonho estilo “pior pesadelo do mundo” com a presença de Itachi Uchiha.
Puta que pariu! Que sonho mais tenebroso! Uma lembrança da nossa encarnação passada em que deixamos a vida terrena ainda jovens.
Feito uma premonição do presente.
Ainda ofegante, com os pensamentos todos voltados para a minha morena, me sentei achando que iria sufocar, tamanha era a angústia sentida e o nó que se formara no meio da garganta.
Merda! Eu sabia que havia algo de muito errado desde o momento em que Sarada deixou o meu quarto toda enfezadinha, sem olhar pra trás, hoje mais cedo.
E essa droga de sonho com o tio dela só corroborou a minha tese.
Vestindo uma camiseta velha com o logo da Alpha Boys, uma das minhas bandas preferidas e o cheirinho delicioso da Uchiha impregnado no tecido. Eu desci rumo à cozinha em busca de um copo d'água bem gelada, a fim de diminuir a agonia sentida.
– Ohh… meu querido! Também não está conseguindo dormir?
Dona Hinata falou doce, assim que adentrei no recinto, me dando um susto da porra.
– Mãe! Credo… tá parecendo um fantasma desse jeito! – respondi no ato, ao encontrá-la usando uma longa camisola de seda branca, recostada na bancada da cozinha, com um livreto de orações nas mãos. – Tive um sonho ruim… com a Sarada. E não consigo mais dormir. – concluí.
– Ahh claro… a Sarada. Só podia ser essa menina… – ela murmurou como se fosse óbvio o motivo da minha insônia.
E era.
Eu não fazia questão de esconder de ninguém que a morena marrenta, toda linda, era a minha salvação e perdição ao mesmo tempo.
Intensa, marcante, simplesmente apaixonante, Sarada era e sempre seria a minha prioridade.
– Tô preocupado… com um pressentimento ruim dentro do peito… sabe, mãe. Me sentindo ameaçado… como se de repente alguém fosse me tirar o meu bem mais precioso…
Confessei meio envergonhado, meio ressabiado.
– Seu bem mais precioso? – e ela espertamente perguntou, apenas para confirmar o que já sabia.
As mães sempre sabem de tudo.
– Sim… Sarada Uchiha.
E ao contrário do que pensei que ela diria, Dona Hinata sorriu um daqueles sorrisos dela, cheios de ternura e calor materno.
– “O que é do homem… o bicho não come” Não há motivos para tal preocupação, Boruto.
Disse minha mãe, num tom divertido, me fazendo abrir um sorriso também, antes dela emendar.
– Se Sarada está destinada a ficar com você, nada muito menos ninguém, conseguirá impedi-los de viverem juntos. E eu acredito muito nessa possibilidade. – ela se aproximou e afagou meus cabelos como se eu fosse um pivetinho carente de atenção.
– É difícil pra mim acreditar em tudo o que você me contou, Boruto… Sobre como se conheceram e como se apaixonaram…mas…
Ergui uma das sobrancelhas e a fitei sorrindo levado.
– Mas?
– Mas eu confio em você, filho e sei que não é um mentiroso. Bem como, confio em Sarada. A filha da minha melhor amiga… que olha por todos nós lá de cima, na função de anjo da guarda. Sinto como se a relação de vocês estivesse escrita nas estrelas e de uma forma ou de outra, como almas gêmeas que são… você e Sarada iriam se encontrar e trilhar juntos, os caminhos terrenos.
– Ela é… Sarada é a minha metade, minha parceira de vida, minha companheira, mãe… que preciso cuidar bem direitinho e proteger de todo mal. – sorri ciente de que, o que eu dizia era a mais pura verdade.
Sarada Uchiha era minha melhor amiga e também o meu amor.
– Pois então faça isso, Boruto. Porque eu sinto uma tristeza tão grande quando ligo meus pensamentos a essa menina Uchiha. Pedi aos seus céus e até aos amigos da pátria espiritual para que olhassem por ela.
Minha mãe suspirou pesadamente fechando o semblante e eu engoli em seco.
– Sinto que algo de ruim vai acontecer com ela… e isso me machuca demais, pois sei que irá machucar você também, Boruto. Talvez de uma forma incurável.
Meu rosto empalideceu, meu estômago embrulhou e a minha boca secou ao ouvir aquilo. Comprovando que todos os meus medos procediam.
Alguma merda iria acontecer… Alguma merda bem grave envolvendo a minha princesa.
Como se fosse possuidora de algum super poder, o sexto sentido de Dona Hinata Hyuga Uzumaki nunca falhava e isso me apavorou ainda mais, somado ao sonho com Itachi.
– Fica tranquila mãe! Eu não vou desgrudar um minuto sequer da Sarada amanhã. E prometo que não deixarei nada acontecer com ela. Você tem a minha palavra.
Exibi o meu melhor sorriso confiante antes de depositar um beijo de boa noite no rosto dela e retornar para meu quarto, sem levar a maldita água gelada que havia ido buscar.
– Caramba Boruto seu asno! Tá com a cabeça no mundo da lua… ou será que é na Uchiha? – resmunguei falando comigo mesmo, ao me jogar de volta na cama, deitando de costas. – Na Uchiha né… seu safado. Ahh Sarada… Sarada…
Respirei fundo, enchendo os pulmões de ar, antes de fechar os olhos azuis e imaginar os negros e intensos da minha garota. Pegando no sono novamente com a imagem dela cravada na minha mente.
Minha anjo… sem asas. Minha demônia cheia de aura.
(...)
Conforme o prometido para a minha mãe, apesar do mal tempo, logo cedo eu peguei o carro emprestado da família, a fim de dirigir rumo ao apartamento do centro, onde Sarada estava morando provisoriamente.
– Boruto! Leve um guarda-chuva. Tá garoando lá fora, querido. – Dona Hinata gritou da cozinha e eu prontamente obedeci, saindo apressado.
Fiz todo o trajeto em menos de dez minutos. Guiando o mais rápido que pude, incapaz de conter a ânsia em ver a minha morena.
E assim que cheguei em frente ao edifício, tive que fazer um esforço gigantesco para me controlar e não explodir em raiva, ao visualizar o carro esportivo daquele otário estacionado ali.
Sem pensar duas vezes, saí do meu veículo e a passos duros me aproximei batendo com força no vidro da janela do motorista.
– Desce já daí ou eu te arranco desse carro! – falei entre dentes, quase rosnando e Code se encolheu apertando o volante com as mãos trêmulas, parecendo assustado.
Moleque besta.
– Mas tá chuviscando Boruto… – ele resmungou, todo fresquinho. Sem coragem de me encarar nos olhos, esse trouxa.
E abrindo o guarda-chuva que eu havia trazido, respondi cinicamente, me divertindo internamente com o seu temor.
– Não seja por isso… – estendi o objeto na direção do ruivo, como se eu fosse um perfeito cavalheiro. E confiando em mim erroneamente, Code deixou o perímetro seguro de seu carro, ficando frente a frente comigo na calçada.
Ahhh esse filho da puta! Talarico de merda!
Cerrei os punhos, o fuzilando com o olhar.
– Olá Boruto… Nã-não é nada disso o que você tá pensando não… – ele tentou se defender inutilmente, mas cego de ciúmes eu o empurrei contra a lataria do carro, encurralando-o.
– E você acha que eu sou trouxa? Mas que porra você ta fazendo aqui, na frente da casa da minha garota, Code?
– Mas eu e a Sarada… a gente…
– Não existe “você e a Sarada” caralho!
E sem esperar que Code finalizasse a frase, eu retruquei enfurecido, ao mesmo tempo em que minha mão direita acertou um soco “sem querer” no rosto dele, fazendo com que seu lábio inferior sangrasse.
– Que droga Boruto… você me machucou… – ele choramingou feito um bebê chorão e eu o segurei pela gola da camisa do uniforme, totalmente emputecido.
– E vou te machucar muito mais se você não se afastar da minha garota PORRA! Fique longe da Sarada seu escroto! Eu já tinha te avisado sobre isso ontem, Code…
O prendi contra a merda do carro importado dele. Porém soltando-o logo em seguida ao sentir meu coração acelerar, os pelinhos da minha nuca se eriçarem todos e meu sangue se aquecer feito brasa chamas, indicando a presença dela. Da rainha absolutista do meu ser.
Sarada Uchiha.
Precedida pelo pai e uma senhorinha que eu desconhecia quem era.
Exibindo meu melhor sorriso repleto de falsa confiança e verdadeiro deboche, me aproximei da minha morena, estendendo o braço que segurava o guarda-chuva na intenção de protegê-la dos respingos gelados da garoa. Sem desviar meu olhar dos olhos negros de Sarada que me fitavam cheios de irritação e certa admiração.
“Ahh vida… se você soubesse o quanto fica linda toda bravinha assim…Queria te encher de beijos… mas não posso… ainda”
Bufei contrariado, apressando-me em explicar o ocorrido para o pai dela.
Todavia, Sasuke Uchiha não facilitou para o meu lado, mesmo sentindo que indiretamente já éramos um tanto íntimos. Devido ao nosso convívio na época em que eu ainda era um ser incorpóreo, morando na mansão Uzumaki.
Embora eu tivesse me livrado de Code e fosse o mais gentil possível, recebendo o apoio incondicional da vizinha estranha, o pai de Sarada ainda parecia desconfiado das minhas intenções. Me medindo de cima abaixo.
“Tsch…Ele deveria estar é preocupado com a presença daquele ruivo imbecil…Isso sim! ”
Era o tipo de pensamento que não me deixava em paz, enquanto eu dirigia em absoluto silêncio ao lado da Uchiha. Puto da vida, verdadeiramente irritado por ter encontrado Code logo cedo, na porta da casa dela, a esperando.
– BO-RU-TO ! Dá pra você parar de fingir que eu não existo?! Mas que droga.
Sarada rosnou parecendo uma tigresa faminta.
Deliciosa.
Uma tentação todinha personificada em formato de mulher. E minha mulher! Todinha minha. E de mais ninguém.
– Mesmo que eu quisesse linda… jamais conseguiria fingir que você não existe, Sarada. – declarei com convicção, engolindo todo o meu ciúmes e apreensão sentidos. – Você é muito importante pra mim. Importante até demais.
E era verdade.
A marrentinha que eu havia conhecido ainda em espírito, sem poder tocar, sem poder beijar, tinha se tornado a minha possuidora. E eu era somente dela.
– O que significa isso? – a Uchiha perguntou astutamente ao notar uns ferimentos pequenininhos nos nós da minha mão, assim que eu entrelacei nossos dedos, dando um leve apertão.
– Ops… foi um acidente! – respondi sorrindo bem cínico, nem um pouco arrependido do que tinha acabado de fazer e Sarada me encarou cheia de fúria, me devorando com o olhar. Como se estivesse preocupada com aquele mané do Code.
“Porra! Era só o que me faltava… A minha garota toda preocupadinha com aquele talarico!”
E enfurecido, pouco me importando em esconder minhas emoções, estacionei o carro de qualquer jeito, soltei o cinto de segurança e tomei os lábios da Uchiha pra mim em um beijo quase violento. Todo necessitado, invadindo a boca dela com a língua e gemendo o nome de Sarada feito prece ao saborear o gostinho dela, que tanto se assemelhava ao melhor dos néctares.
– Sarada… Sarada… Sarada… – repeti sem desgrudar nossas bocas.
O peito dolorido e os maus pressentimentos me torturando a mente.
– Fica comigo? Por favor não me afaste de você, linda… Ou eu vou enlouquecer.
Supliquei sem o menor pingo de vergonha na cara ou amor próprio, com um medo real de perdê-la me corroendo por dentro feito veneno. Cogitar viver sem Sarada doía-me no âmago e me apavorava demais.
E diante dos meus protestos, surpreendentemente a Uchiha me atacou sedenta, pulando e sentando no meu colo, enroscando seu corpo gostoso no meu, do mesmo jeito que uma felina domina a sua presa.
– Amo você… – murmurei completamente rendido a ela. Adorando notar como a minha respiração quente a deixou toda arrepiada.
“Ahh minha morena… meu amor… Como eu queria te consumir por inteira…”
Entre beijos ardentes, carícias mútuas afoitas e trocas de olhares que representavam verdadeiras declarações de amor sem a necessidade de palavras, eu me uni em total comunhão com a minha Sarada, desejando nunca mais soltá-la.
Porém o banho de água fria veio mais rápido do que eu previa.
– Recebi a visita do seu tio ontem.
Sarada comentou de repente, quebrando o clima de luxúria entre a gente, voltando a sentar no banco do passageiro e me deixando com um grande vazio dentro do peito, além de um incômodo feito pedra, no meio das pernas.
Porra! Essa danada ainda iria me deixar maluco.
– Que tio Sarada? Como isso? Eu não tenho nenhum tio vivo. – resmunguei sem pensar direito e ela revirou os olhos lindamente, respondendo toda irônica.
– Eu vejo gente morta Boruto… ou já se esqueceu de como a gente se conheceu?
Soltei uma risada nasal, levando ambas as mãos até os cabelos com vontade de arrancar cada fio loiro existente, indagando na sequência o que meu tio morto poderia ter falado de tão importante para ter atrapalhado o nosso amasso gostoso e ter me deixado de pau duro chupando o dedo.
E parecendo querer me provocar de certa forma, Sarada deu de ombros, alegando que o Hyuga, meu único parente falecido que poderia ter ido visitá-la, estava preocupado com ela.
“Ótimo! Puta que pariu…”
Suspirei pesadamente, voltando a dirigir rumo ao Folha Verde, quando uma ideia um tanto infantil surgiu na minha mente.
Se a morena queria me provocar utilizando informações privilegiadas do além. Então eu também faria o mesmo. Afinal eu também conseguia ver gente morta.
– Tsch… ahh é? – sorri debochado. – Pois fique sabendo que também conheci um tio seu ontem a noite… num sonho bem interessante.
Soltei a bomba percebendo a Uchiha se remexer incomodada no banco do passageiro, relutando em dar o braço a torcer.
“Ahhh te peguei marrentinha! Assume logo que ficou curiosa em saber mais sobre o meu encontro com o seu titio das trevas…”
A fitei de soslaio e Sarada virou o rosto, numa tentativa falha de esconder sua irritação.
Háá! Ponto para mim, Boruto Uzumaki!
– Não vai perguntar o que seu tio veio me dizer?
Falei bem sarcástico mesmo. Sabendo estar agindo como um perfeito adolescente birrento. E não querendo sair por baixo, a Uchiha empinou o narizinho lindo dela e me respondeu na lata, gélida como um iceberg.
– Não… Se Itachi apareceu no SEU sonho, então creio que o assunto não me diz respeito.
“Ahhh mas eu vou adorar tirar essa sua marra toda, Sarada… na cama!”
A encarei rapidamente, meus olhos azuis semicerrados, enquanto estacionava o carro na frente do colégio sem dizer uma palavra sequer. Ponderando mentalmente se comentava ou não sobre as últimas palavras de Itachi.
Até que resolvi falar de uma forma simplista, na esperança de que isso de alguma forma pudesse manter Sarada fora de perigo.
“Sendo o perdão, o eterno Assunto Pendente.”
– Tudo o que ele me mostrou faz muito sentido realmente… O melhor pra mim… pra gente é perdoar o Kawaki. Para podermos viver em paz. Sem mais problemas. – disse e a morena bufou descontente, fazendo menção de descer do carro e fugir de mim.
Porém, mais rápido que um raio, saltei do banco do motorista, dei a volta no veículo e a envolvi com um dos meus braços a deixando bem coladinha ao meu corpo.
“Se Sarada estava pensando que se livraria de mim… tava muito enganada…”
– O que pensa que tá fazendo? – ela resmungou. Um biquinho fofo se formando em seus lábios apetitosos.
– Te conheço linda…tô só cuidando do que é meu. Sei que você tentaria fugir de mim na primeira oportunidade que tivesse.
Sorri satisfeito, caminhando pelo corredor principal do Folha Verde, com a Uchiha grudada ao meu lado.
(...)
O restante do dia passou voando. Em partes por conta do meu nervosismo misturado com uma ansiedade inexplicável que aumentava conforme o andar da hora.
Como se eu soubesse que uma merda muito grande estava prestes a acontecer. Uma coisa ruim. Assim como Itachi me alertou naquele sonho cabuloso.
E em partes também por conta da bajulação barata de alguns alunos que não me deixavam em paz, perguntando todo tipo de coisa indiscreta sobre o período em que estive em coma.
Sarada podia não perceber, mas mesmo um pouco distante dela, meus olhos azuis a buscavam a todo momento.
Vigilantes.
Preocupados.
Possessivos.
Odiando ver as interações dela, mesmo que mínimas e discretas com Code.
Eu ainda iria encher a cara desse filha da puta de porrada.
– Relaxa bro! Tua mina nunca deu bola pra aquele zé ruela de cabelo vermelho.
Shikadai comentou, ao notar meu olhar de fúria direcionado ao ruivo, sentando duas carteiras para trás
– Sei disso… confio de olhos fechados na Sarada. – exclamei levando o olhar desta vez, até a minha garota e sorri feito um bobo, ao ganhar um sorrisinho discreto dela. – Eu não confio, é nos outros ao redor dela.
– Boruto… não vai arranjar encrenca logo agora que voltou. – ele bocejou, parecendo com preguiça daquele assunto. – Olha… eu não sei como, nem quando você e a Uchiha se conheceram. Mas desde o primeiro dia de aula dela por aqui, Sarada sempre usou, essa sua mochila velha de couro. Como se ela estivesse agarrada a um pedacinho seu. – concluiu o Nara.
– Sério? Sério mesmo? – perguntei retoricamente. O coração pulsando quente, diante daquela informação.
Linda. Toda linda ela, a minha garota. A minha Sarada
– Sim seu idiota! Agora pare de babar na menina e vamos para o treino do time de lacrosse que o pessoal tá louco pra te rever, Boruto.
Suspirei longo, recolhendo as minhas coisas e avisei a Uchiha para me encontrar na arquibancada do campo.
Como eu estava impedido de praticar esportes por restrições médicas, tinha a intenção apenas de cumprimentar meus ex companheiros de time e depois assistir o treinamento ao lado da minha garota, sentado na arquibancada.
(...)
Não demorou muito para que Sarada aparecesse, apresentando um olhar vazio e uma expressão aflita, digitando freneticamente no celular, sem me dar muita atenção.
– Tá mandando mensagem pra quem, amor? – tentei ler o que tanto ela escrevia, mas espertamente a morena se esquivou, bloqueando a minha visão.
– Pra … ChoCho
A Uchiha respondeu hesitante, se levantando e fazendo menção de sair.
Seus olhos negros fugindo dos meus azuis, como se escondesse algo. Como se estivesse mentindo para mim. E isso doeu. Doeu pra caramba.
– Aonde você vai? – perguntei num fio de voz, me esforçando para não demonstrar o quanto estava sentido e Sarada respondeu qualquer coisa, claramente me enganando.
Merda!
– Mas tá chovendo vida… – tentei argumentar como forma de protesto, na esperança de fazê-la mudar de ideia.
Minha garganta queimando e meu coração doendo, numa sensação quase sufocante. Porém Sarada apenas respirou fundo, me ignorando por completo. Como se eu não valesse nada.
– Toma veste a minha jaqueta então… assim você fica quentinha e não pega um resfriado.
Coloquei a peça de roupa sobre os ombros dela, com vontade de abraçá-la e não soltá-la nunca mais. Sentindo um medo incontrolável de perdê-la para sempre.
– Sarada… “por favor não vai… fica comigo”
Falei a última parte apenas em pensamento. Só para mim…
Não querendo parecer um babaca possessivo. Ou um bobão, na frente da Uchiha.
Ao invés disso, escolhi dizer para ela:
– Se cuida tá… eu… eu te amo.
E então, a observei caminhar em direção ao prédio principal, pressentimento que estava deixando Sarada partir, sem ter a certeza de que ela iria voltar para mim.
Passado algum tempo, inquieto, suando frio, eu mal conseguia prestar atenção no que estava acontecendo dentro de campo com o time de lacrosse, quando Ouga surgiu na companhia de Code.
– Eai Borutinho. Soube que estava de volta ao Folha Verde e vim dar um abraço pessoalmente.
Disse a menina, toda melosa, já passando os braços ao redor do meu pescoço, enquanto Code se despedia dela alegando precisar fazer algo importante.
– Tá… tá bom! Me solta Ouga! – me desvencilhei da garota pegajosa procurando com o olhar o ruivo que já tinha sumido, ligeiramente.
Porra! Isso não era um bom sinal.
– Então, gato! Me conta… como você tem passado? Sabia que fiquei com saudades suas? Porém evitei de ir te visitar, em respeito a Sumire. – ela contou e eu revirei os olhos ao escutar aquele nome. – Mas agora que estamos sozinhos… bem que a gente podia dar uma escapadinha e ir se divertir lá no vestiário feminino… como antigamente. Somente eu e você…
Ouga sugeriu insinuante, ao apertar a minha coxa, subindo o toque com as unhas compridas perigosamente na direção da minha virilha. O que me fez dar um pulo. Odiando aquela situação constrangedora.
– Para porra! O que você tá fazendo?
Me afastei da atrevida, no mesmo momento em que a chuva aumentou.
– Que foi Boruto? Por que tá todo arisco assim? Você bem que gostava antes dos meus toques…Eu amava fazer você gemer… – ela se inclinou na minha direção, de forma ousada.
Todavia, meus pensamentos, meu coração e cada célula do meu corpo clamava pela Uchiha desesperadamente.
“Sarada… Sarada… Sarada…”
– Eu… eu tenho que ir. – falei já descendo os degraus da arquibancada, quase tropeçando nos próprios pés, sentindo um temor absurdo começar a me dominar.
– Eiii Boruto! Onde você vai?
Escutei Ouga perguntar, um pouco depois do som forte de um trovão que cortou o céu, deixando meu coração disparado e meu corpo todo trêmulo.
“Não, não nãooooo… Saradaaaaa”
– Eu vou atrás da minha garota… – gritei ao mesmo tempo em que saí correndo debaixo da tempestade. As lágrimas molhando o meu rosto em conjunto com as gotas de chuva.
Foi tudo muito rápido. Em menos de cinco minutos eu já estava no rooftop do prédio da diretoria, ofegante quase sem ar por ter subido as escadas depressa demais. Encontrando Code paralizado em um canto da laje, com um celular nas mãos, Sarada caída, semi inconsciente e Kawaki ajoelhado ao lado dela.
– Sass… Saradaaaaa…
Praticamente voei na direção da Uchiha, me jogando no chão e pegando o corpo mole dela, ajeitando sua cabeça no meu colo, passando a pontinha dos dedos em sua face gelada. Os lábios arroxeados e sujinhos de sangue.
“Ohhh meu Deus… Ohh meu Deus…não! Não!!”
– A-amor… abre os olhos… po-por favor… vamos! Não me deixe aqui sozinho! Por-por favor Sa-Sarada… Vamos! Volta pra mim linda…
Implorei chorando desesperadamente, sentindo a pulsação dela fraca demais. As gotas frias da chuva encharcando seu rosto empalidecido, quase sem vida.
– Foi um acidente… eu… eu … não queria machucá-la.
Kawaki se manifestou. A voz toda falhada, denotando o nervosismo.
– Ela veio pra… pra cima de mim… me socando… feito uma maluca… me acusando de ter matado a mãe dela… e… e… a única reação que eu tive foi pegar o canivete pra me… me defender…e…
Percebendo a presença da tia Sakura ao meu lado, emanando pelas mãos um tipo de energia de coloração esverdeada na direção do ferimento de Sarada. Eu a soltei brevemente. Colocando com todo cuidado do mundo o corpo da minha morena no chão e trocando um olhar cúmplice com a anjo da guarda, que me encarou com pesar. Instantes antes de eu partir com tudo, feito um alucinado para cima de Kawaki.
– Seu maldito! Filho da puta desgraçado! Você quase matou a minha garota! – acertei um soco com tudo no rosto do meu irmão o derrubando e caindo junto com ele.
– Não! Não…foi isso o que aconteceu! Foi … foi um acidente Boruto!
Ele repetiu a mesma frase anterior enquanto tentava se defender inutilmente dos meus golpes.
– Você já tirou a vida da tia Sakura naquela bosta de acidente… já tentou me matar botando fogo na nossa casa e agora tentou matar a minha Sarada! Seu monstro! Você não merece viver… você não merece o perdão!
Vociferei. Cego pelo ódio, rolando no chão junto de Kawaki com as mãos ao redor do pescoço dele, mal permitindo que ele conseguisse falar, ou tampouco respirar.
– De-desculpa… – ele resmungou e eu apertei ainda mais meus dedos em volta do pescoço dele, exigindo que confessasse tudo.
– Então fala porra! Seja homem e fala que você tentou me matar no dia do incêndio! Fala olhando nos meus olhos que você foi o responsável pelo acidente que matou a mãe da Sarada! – furioso, um tanto descontrolado, dei uma cotovelada nas costelas de Kawaki, fazendo-o tossir, antes de prosseguir. – E assuma na minha cara que você tentou matar a minha garota!
– Eu… eu… tá… tá… merda! Eu sou o culpado pela porcaria do acidente e pelo fogo na nossa casa! Mas eu juro, Boruto! Eu juro pra você que eu…que eu nunca quis tirar a sua vida… bem como eu nunca quis machucar a Sarada!
Kawaki contou com dificuldade. Porém louco de raiva eu não acreditei em uma palavra sequer dita por ele.
– MENTIROSO! Você nunca gostou de mim… sempre tentou roubar tudo o que era meu! E … e agora a Sarada! – voltei a apertar o pescoço dele, com sangue nos olhos.
– PARA! Solta ele Boruto… você vai matá-lo assim, cara! Não vale a pena… Para com isso! Eu já chamei a polícia…e filmei tudo o que o Kawaki falou!
Escutei de fundo a voz de Code, mas resolvi ignorar, apertando cada vez mais e mais as minhas mãos ao redor da garganta do meu irmão, que estranhamente não esboçava nenhuma reação de defesa. Como se tivesse desistido de lutar e aceitado seu destino final.
Até que de repente tudo ao meu redor ficou escuro, bem escuro e muito frio. Um frio congelante em conjunto com um cheiro insuportável de morte.
E então eu ouvi a voz dela.
Me chamando.
Bem baixinho, quase inaudível.
– Boruto… Boruto… não cometa o mesmo erro que eu cometi… perdoe ele… Perdoe o Kawaki! Somente o perdão te salvará…
A voz fraca, por um fio de Sarada se fez presente na minha mente acendendo uma luz de esperança no meu coração e me fazendo gritar seu nome feito o barulho de mil pássaros.
– SARADAAAAAAAAAA
Recuperando o juízo a pouco perdido, larguei Kawaki quase desmaiado e corri de volta para onde estava o corpo da minha garota, que ainda recebia os cuidados de fluidos magnéticos de tia Sakura.
– Ela… ela… vai ficar bem? – perguntei com medo da resposta que receberia de volta da anjo da guarda.
– O ferimento não foi letal, entretanto a alma dela está impregnada de obscuridade, dificultando seu retorno ao corpo físico. E receio que…
Tia Sakura espremeu os olhos, parecendo conter algumas lágrimas, me deixando ainda mais apavorado.
– O que? Receia o que? Me fala logo porra! – exigi já chorando desesperado, segurando uma das mãos de Sarada bem forte. Entrelaçando nossos dedos.
– Receio que… caso o espírito da minha filha não retorne logo… seu coração não aguentará por muito mais tempo e seu desencarne será inevitável.
– NÃOOOO! Isso…NÃO! Eu… Eu não vou permitir que Sarada morra! – gritei me debruçando por cima do corpo da Uchiha, unindo as nossas testas.
– Vida… volta pra mim… por-por favor. – murmurei beijando os lábios de Sarada rapidamente.
– Boruto?! Boruto… você tá falando com quem? Ficou maluco? Precisamos descer a Uchiha lá pra baixo… eu já chamei uma ambulância. E a polícia também deve tá chegando…
Code informou, mas preocupado demais com a situação da Sarada, eu nem dei bola para o que ele dizia.
– Tia… me diga … me diga … como eu posso ajudar? Como eu posso impedir Sarada de morrer?
Falei feito súplica, disposto a ir até o inferno se fosse preciso. Daria a minha alma em troca da dela.
– Busque-a Boruto e traga-a de volta! Concentre-se no forte laço que une você e a minha filha. Seja a luz que Sarada precisa para enxergar no meio da escuridão. Consiga que ela exerça o perdão e faça o mesmo… encerrando assim o Assunto Pendente de vocês.
Tia anjo me orientou e sem perder tempo, eu fechei os olhos e imaginei com todas as minhas forças. Com todos os meus melhores sentimentos a imagem dela…
Da rainha absoluta do meu coração.
Da garota por quem eu era fodidamente apaixonado, nesta vida e em todas as existências possíveis.
A dona dos olhos escuros desafiadores. Do sorriso mínimo presente nos lábios vermelhos. Da pele do rosto branquinha e leitosa emoldurada pelos fios de cabelos negros e brilhantes.
Linda. Toda linda ela.
A minha alma gêmea.
Sarada Uchiha.
E assim como aconteceu nas outras vezes, como num piscar de olhos. Lá estava eu, vagando por uma zona de vibração inferior, repleta de espíritos malignos, gritos de dor e cheiro de podridão.
– Saradaaaaa! Sarada? Amor?
Chamei por ela diversas vezes, até que consegui encontrá-la, deitada no chão sujo coberto de lama e insetos, toda encolhidinha, tremendo de frio e medo.
– Bo-Boruto? – ela balbuciou fraco, quase sem conseguir abrir os olhos.
– Sou eu, minha vida… eu tô aqui… eu tô aqui, amor! – me apressei em emanar calor suficiente para aquecê-la, enquanto a erguia no colo, com delicadeza.
– Mas… mas… o que você tá fazendo aqui, loirinho? Você morreu também?
Sarada perguntou confusa e eu a beijei demoradamente na testa. Um beijo doce. Desprovido de intenções e lotado de amor.
– Não linda… Eu não morri e você também não morreu! Estou aqui pra te buscar! Pra te levar de volta. – a abracei, encostando o queixo no topo da cabeça dela. – Nós vamos retornar para o plano terrestre e trilhar essa vida juntos. Lado a lado, como fomos destinados a viver.
Falei com convicção, a mantendo colada ao meu corpo, enquanto caminhava por aquele vale de sombras da morte.
– Eu perdi a minha chance Boruto… eu não perdoei… agora estou fadada a sofrer no submundo da escuridão.
A morena replicou dolorida, cortando meu coração, ao notar seus olhos brilhando por conta das lágrimas.
– Não, meu amor! Ainda há esperança pra nós dois. O Kawaki confessou os erros dele… agora temos só que fazer a nossa parte. – expliquei resumidamente, acariciando os cabelos úmidos dela.
– Perdoá-lo, você diz? Por ter matado a minha mãe? Por ter tentado te matar?
Sarada torceu os lábios contrariada, ao mesmo tempo em que eu senti uma forte pontada no peito, caindo de joelhos no chão, com ela ainda no meu colo.
– BORUTOOOOOO. – ouvi seu grito, cheio de aflição e pisquei algumas vezes recobrando minha fonte de energia vital.
– Tá… tá tudo bem… mas precisamos voltar logo, linda. Ou ficaremos presos aqui pra sempre. – a envolvi mais forte com meus braços e me forcei a levantar. – Vamos Sarada… você precisa perdoá-lo…Kawaki vai pagar por tudo o que fez. Eu te prometo isso, vida…
– Você já o perdoou né, Boruto? No fundo… você o perdoou faz tempo. Você sempre foi melhor que eu… Um garoto de ouro… um anjo…
Sarada ergueu a cabeça, levando o olhar até meus olhos azuis, tentando ler minhas reações e eu me esforcei para devolver um sorriso sincero.
Ciente de que não adiantaria mentir para ela, eu assenti positivamente com a cabeça, observando a Uchiha suspirar longamente, antes de se pronunciar.
– Não sei se consigo perdoar verdadeiramente… Não sou como você, Boruto. É tão difícil pra mim… e… Aaaiiii… – ela grunhiu, sentindo uma forte dor no peito, do mesmo tipo que eu senti e eu levei imediatamente uma das mãos até o seu rosto sentindo-o gélido.
Porra! Mil porra! Nosso tempo estava acabando…
– Kawaki… eu… eu… te perdoou..
(...)
Sarada Uchiha
O forte cheiro de flores me fez despertar espirrando absurdamente e xingando em pensamento o maldito ser humano que havia colocado aquele monte de pólen ao meu redor.
Todo mundo que me conhecia sabia o quanto eu era alérgica a flor. Revirei os olhos, sentando em uma cama de casal enorme. Tão grande que caberia umas cinco “Saradas” ali.
Piscando algumas vezes, varri o local rapidamente com os olhos, feito dois radares, buscando entender onde é que eu estava.
Não era a cama estilo futon do apartamento no centro da cidade. E definitivamente não era a cama aconchegante do quarto de Boruto, na mansão Uzumaki.
O cômodo era gigante. Muito bem decorado, numa paleta de cores que muito me agradava. Independente do vaso de lírios presente numa mesinha de canto, havia um cheiro gostoso amadeirado misturado com orvalho que reinava pelo local, me fazendo sentir inevitavelmente em casa.
Todavia eu não fazia ideia de que droga de lugar era aquele. Nem o porquê de eu estar ali.
Minha cabeça latejava levemente e minhas memórias eram um tanto confusas.
– Mas que droga! – resmunguei comigo mesma. Odiando me sentir assim.
E quando fui fazer menção de me levantar eu escutei o melhor dos sons.
Aquela risada divertida, contagiante e inconfundível que preenchia meu coração.
A risada costumeira de Boruto Uzumaki.
– Ahh já despertou linda… Que bom porque estávamos preparando o seu café da manhã especial.
O loiro entrou no quarto, todo lindo, exibindo um sorrisinho confiante e segurando uma bandeja lotada de coisas gostosas, fazendo meu estômago roncar, ignorando a parte de que ele havia falado no plural.
– Boruto… eu… hã…
Arqueei uma sobrancelha o fitando toda sem graça, com vergonha de perguntar: “mas que merda estava acontecendo?”
Todavia, parecendo ler meus pensamentos, o Uzumaki colocou a bandeja na mesinha e se aproximou de mim, depositando um beijo cheio de ternura em meus lábios. Me deixando com vontade de agarrá-lo e beijá-lo muito mais.
– Ohh vida… está tudo bem. Sua mãe explicou que isso poderia acontecer, vez ou outra. Assim como ocorreu comigo, seu cérebro as vezes suprime algumas memórias na intenção de te proteger. – ele sorriu. Um daqueles sorrisos lindos, que eu tanto amava ver, antes de complementar. -- Mas relaxa que ela me ensinou direitinho o que fazer.
– Minha mãe? Mas ela … ela morreu… como…
– Eu vejo gente morta, Sarada…
Boruto piscou um dos olhos azuis charmosamente, e emendou tocando a minha testa com a pontinha de dois dedos. – Assim como você também pode ver…
E com esse toque de Boruto, diversas imagens me invadiram em um turbilhão, como se eu assistisse a um filme dentro da minha própria cabeça, me fazendo recordar instantaneamente de tudo.
– Céus… céus! Eu quase … eu quase morri! E… e… o Kawaki foi preso? E … e eu moro aqui com você? Essa é a nossa casa?
Perguntei, mesmo já sabendo das respostas, observando o loiro confirmar com a cabeça e um gato surgir no quarto, pulando e se ajeitando ao pé da cama.
– E … e … a gente…a gente…
Feito uma boba emocionada, levei os olhos marejados até a minha mãe direita, encontrando por lá um lindo anel de noivado com uma pedrinha de esmeralda.
– Sim, amor… Eu meio que pedi a sua mão em casamento um dia depois que você saiu do hospital. E você aceitou... Seu Sasuke também. Bom... acho que ele não teve muito opção depois de tudo o que aconteceu...seu pai percebeu que você está mais segura comigo.
O loiro soltou uma risadinha convencida e eu revirei os olhos.
– Esse apartamento é a nossa casa provisória, até a gente se casar quanto acabar o ano letivo.
Ele falou, coçando a nuca todo envergonhado.
– Foi logo depois de você ter ficado uma semana internada para se recuperar do ferimento causado pelo canivete em seu pulmão direito. E no mesmo dia eu te dei o nosso filho – apontou para o gato preto que dormia tranquilo. – E esse anel com uma pedra que lembra os olhos da sua mãe, a minha sogrinha.
Boruto contou, meneando a cabeça para o lado, sorrindo triunfante e eu abri e fechei a boca sem saber o que dizer. As lembranças pipocando a milhão na minha mente, me fazendo sorrir e chorar ao mesmo tempo.
– Gostou do simbolismo? Confesso que o gatinho preto foi ideia do seu tio Itachi. Enquanto a coloração verde da pedra, foi ideia minha mesmo. Afinal sua mãe é a nossa anjo da guarda oficial. Então eu quis homenageá-la.– ele deu de ombros.
– Eu… eu amei, meu loirinho… e eu amo você…
E sem dizer mais nada, eu pulei no colo dele, enroscando minhas pernas em sua cintura, reivindicando sua boca para mim.
– Me beija Boruto… Me beija… agora!
– Com todo prazer Sarada…
Ele sugou meu lábio inferior e eu fechei os olhos, sentindo a língua dele me invadir numa explosão de sensações e sentimentos alucinantes, enquanto Boruto me beijava torridamente. Sua língua enroscando na minha em perfeita sintonia.
Como sempre foi.
Como sempre haverá de ser.
– Me faça sua… por inteiro… por favor
Supliquei, praticamente arrancando a camiseta branca que ele vestia. Tocando em cada parte do corpo do loiro exposto que eu conseguia alcançar, enquanto Boruto me deitava na cama, distribuindo beijinhos carinhosos, bem do jeitinho dele de ser.
Amoroso
Cuidadoso.
Um anjo sem asas.
Um anjo gostoso pra caramba.
– Te amo… te amo… te amo…
Boruto falava à medida em que me despia, sem pressa alguma. Livrando-se de todas as peças de roupas que separavam os nossos corpos.
Os olhos azuis fixos nos meus. Saboreando as minhas reações e expressões ao mesmo tempo em que tocava meu corpo com maestria.
Seus lábios molhados trilhando um caminho delicioso até o meio das minhas pernas, me arrancando gemidos cada vez mais altos.
– Borutoooo… mais… ma-mais rápido… – exigi enroscando meus dedos em seus cabelos, apertando seu rosto contra o meu corpo.
– Assim amor? – ele sorriu safado, a boca sem desgrudar do meu ponto sensível, acelerando os movimentos e me fazendo arquear as costas ao alternar entre os dedos e a língua. Preocupado exclusivamente em me dar prazer.
– Ahhh porra… si-sim… isso…ahhh…
Boruto me fez ir ao paraíso e voltar em segundos, ao atingir o clímax dos clímax. Tendo o melhor dos orgasmos da minha vida, me derramando em seus lábios e notando ele absorver tudo, como se sorvesse da melhor das iguarias, antes de me beijar apaixonadamente.
– Como sempre… você é uma delícia, vida… e eu sou viciado em você, Sarada.
O loiro sorriu nos meus lábios. Seu corpo por cima do meu, me aquecendo, me excitando, me dominando. E eu o abracei forte, passando as unhas com vontade em suas costas, assim que Boruto me possuiu por completo, de uma só vez. Gemendo junto comigo. Um fofo, ele.
– Boruto… eu amo você…
Murmurei, assim que ele começou a se mover dentro de mim.
O olhar preso ao meu, sem desviar um segundo sequer.
Intenso.
Expressivo.
Repleto de significados.
Nossos dedos das mãos, entrelaçados.
As respirações ofegantes mescladas, ao passo que nossos corações batiam ritmados, acelerados.
Os gemidos em conjunto, eram constantes conforme nossos corpos buscavam cada vez mais e mais por prazer simultaneamente.
– Sarada… Sarada… Sarada…
Ahh eu faria qualquer coisa só para ouvir Boruto dizer meu nome assim, desse jeito, todo necessitado.
E após mais alguns movimentos numa velocidade frenética, chegamos ao ápice juntos, numa comunhão harmoniosa de amor e prazer.
Boruto era todinho meu. De corpo e alma.
E eu?
Bom…
Eu, Sarada Uchiha serei para sempre somente dele.
De corpo, alma, coração e sorrisos.
Sim, de sorrisos.
Porque Boruto me trouxe de volta a vontade de sorrir que eu havia perdido a muito tempo.
E agora não existia mais qualquer assunto pendente capaz de nos impedir de sermos felizes.
Juntos.
Como almas gêmeas predestinadas a reencarnar sempre úmidas.
FIM. ? Será?
"Não existe fim para quem vive o eterno"
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