OS CINCO REINOS
⚔ ATRITO DE OURO E PRATA ⚔
15. O Reino de Khann
por loeytopia
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TEMPO ATUAL
JARDIM MÁGICO
Baekhyun percebeu, em algum momento durante a madrugada, que uma forte chuva começou a cair do lado de fora, e o som que ela fazia ao bater contra os telhados e as janelas do castelo parecia uma canção de ninar.
Quando a temperatura caiu e uma leve brisa gélida fez seu corpo arrepiar, ele não se incomodou e não sentiu frio — estava com a cabeça deitada no peito nu de Chanyeol, o corpo colado ao dele, o calor de sua pele sendo suficiente para lhe manter aquecido durante toda a noite. Era tão gostoso dormir abraçado ao alfa que Baekhyun ronronou, se aconchegando mais nos braços quentes e no corpo forte, entrelaçando seus pés nos dele para se aquecer quando a chuva se tornou mais violenta. Só foi acordar horas mais tarde, quando o sol já deveria estar alto no céu se não fosse ofuscado pelas nuvens de chuva. Com as cortinas pesadas nas janelas não dava para saber as horas exatas, mas ainda devia ser de manhã. Foi sua melhor noite de sono em dias.
Baekhyun não abriu os olhos de imediato quando acordou. Ele apenas teve a consciência despertada ao sentir a mão de Chanyeol em suas costas, deslizando para cima e para baixo num gesto de carinho automático. Isso fez ele perceber que o alfa já estava acordado há algum tempo, porque o ritmo que o coração dele batia não era de alguém mergulhado na inconsciência. Ele aproveitou das carícias do alfa, ainda sonolento e de olhos fechados, tendo como música de fundo o tum-tum do coração dele e o som da chuva que ainda caía do lado de fora. Baekhyun gostava de chuvas, pois raras eram as vezes em que chovia em Veny. Lá era só neve quase o tempo todo, o sol só dava as caras em algumas pequenas partes do ano, e só era nessas épocas que chovia uma ou duas vezes.
Ainda sentindo Chanyeol subir e descer a mão em suas costas, às vezes arrastando com ela sua camisa branca que o ômega decidiu vestir depois do banho, ele abriu os olhos. O quarto estava meio escuro, só não totalmente porque a porta de correr da varanda estava um pouco entreaberta, deixando a luz e ondas frias de vento entrarem, o que explicava também os arrepios que ele sentiu durante a madrugada. Baekhyun não se moveu, mas piscou os olhos para despertar de sua sonolência. Ainda ouvia o batimento cardíaco de Chanyeol, sentia a mão dele em suas costas, o calor do corpo dele sendo transmitido todo para si para que ele não sentisse frio. Baekhyun sentia a preguiça matinal tomando conta de cada célula em seu corpo, desejando poder passar o dia todo naquela cama, deitado colado ao alfa.
Seu alfa.
As lembranças da noite anterior inundaram sua cabeça no mesmo segundo e seu corpo esquentou de repente. Todos os momentos marcantes, todas as sensações, todas as frases que Chanyeol disse para ele… A lembrança guardada em sua memória de quando ele o tocou com as mãos grandes, o chupou em todos os lugares, o fodeu tão bem que Baekhyun estava doido para repetir tudo de novo.
— Tá acordado há muito tempo? — perguntou ele num sussurro rouquenho, porque se não se distraísse o mais rápido possível, teria duros problemas para resolver.
— Não muito. — A voz também rouquenha de Chanyeol pela manhã não fez muito bem ao psicológico do ômega, que passou a mão por cima da barriga definida dele, sentindo não só os gominhos firmes que ele tinha ali, como também as leves marquinhas de suas cicatrizes.
Baekhyun beijou uma delas, aquela no peito onde ele tinha dito que seu pai havia o machucado. Em seguida, antes que perdesse a coragem, passou uma perna para o outro lado do homem grande ao seu lado e subiu em cima dele, sentando em seu colo e sentindo os lençóis macios escorregarem de seu corpo, revelando as pernas nuas porque tudo que ele usava era a camisa branca de Chanyeol que só cobria até metade de suas coxas — é claro que, com elas abertas para acomodar o alfa entre elas, o tecido havia subido mais um pouco e revelado mais de sua pele leitosa.
— Yeol… — chamou num tom muito manhoso, apoiando as duas mãos do peito desnudo do alfa, que agora o encarava de baixo, os cabelos soltos e espalhados sobre os travesseiros, os olhos prateados tão densos de emoções que Baekhyun ficou sem palavras por um segundo, afetado por tudo que envolvia ele. As mãos de Chanyeol agora estavam em suas coxas nuas, segurando-as com firmeza, com posse, o que causou um familiar formigamento em seu corpo.
— O que foi, Bae?
Baekhyun mordeu o lábio inferior, apoiando as mãos de cada lado do rosto do alfa e inclinando seu tronco sobre ele até ficarem tão pertinhos que era possível se verem refletidos nas íris um do outro, suas respirações praticamente se chocando.
— Vamos ficar aqui só por mais um dia, por favor — pediu dengoso, beijando o cantinho da boca dele para convencê-lo, tendo ciência de que estava fazendo um joguinho sujo com ele. — Jongin só vai chegar depois de amanhã, podemos ir ao Reino de Khann só amanhã e voltar antes dele chegar. Por favor.
Uma das mãos de Chanyeol subiram por sua coxa, arrastando o tecido fino de sua camisa com ela até chegar em sua cintura, local onde ele apertou e fez Baekhyun se contorcer sobre ele. Os lábios de Chanyeol se arrastaram por sua bochecha, inspirando fundo como se quisesse gravar no olfato a fragrância de seu aroma doce de morangos.
— E o que você pretende fazer nesse tempo livre até o amanhã chegar?
Baekhyun não sabia quando ou como aquele clima sensual se instaurou entre eles. Não, na verdade ele sabia, sim. Estava no colo de Chanyeol usando apenas a camisa dele, enquanto ele vestia só uma calça; ambos estavam em contato com muita pele, quase aos beijos, deitados numa cama numa manhã chuvosa e preguiçosa após uma noite mais que maravilhosa. Baekhyun estava sensível e, aparentemente, seu corpo ainda não teve o suficiente de Chanyeol. A temperatura estava fria, ele sabia, mas ele fervia ardentemente por dentro.
— Quero ficar com você — respondeu num sussurro, fechando os olhos e suspirando ao sentir a boca do alfa descer pela lateral de seu pescoço, distribuindo beijos e mordidas pelo caminho. A outra mão de Chanyeol, que ainda estava em sua coxa, subiu por seu corpo também, levando o tecido da camisa junto até ela se acumular em torno de sua cintura, deixando Baekhyun exposto, pois ele não usava peças íntimas. Ele já estava duro e lubrificando (pois, pelo visto, ele havia acordado bastante sensível). — Você disse que queria me cortejar. Que tal começar agora?
Chanyeol deu uma risada provocante, espalmando a mão grande em sua bunda e fazendo o ômega arfar quando ele a apertou com força suficiente para deixá-la marcada. Mais lubrificação escorreu.
— Isso não é cortejar — disse, a voz rouca causando arrepios no príncipe em seu colo. — Isso é deflorar. Você quer ser deflorado mais uma vez, Bae?
Baekhyun choramingou, sensível. Podia sentir Chanyeol duro embaixo dele, podia sentir os beijos dele em seu pescoço, as duas mãos agora em suas nádegas, apertando-as e separando as bandas para resvalar os dedos entre elas e tocar aquele lugar muito íntimo e sensível.
— Sim, por favor.
— Então você gostou do que fizemos ontem? — perguntou Chanyeol, enfiando um dedo dentro dele e, não encontrando muita resistência, enfiou mais dois. Ele ainda estava bem alargado da noite anterior, e isso só fez o pau de Chanyeol pulsar dentro da calça. Baekhyun gemeu manhoso, gostando da sensação de sentir algo dentro dele, mesmo que ainda não fosse o que ele verdadeiramente queria. — Você gostou do modo como eu te fodi? De como eu fiz você gemer o meu nome? Gostou de gozar bem gostoso enquanto eu ia fundo dentro de você e te fazia meu, hm? — repetiu quando o ômega não respondeu, ocupado demais gemendo e rebolando devagarinho em seus dedos. Era tão lindo que Chanyeol desejou colocá-lo para rebolar em seu pau.
— G-gostei, Yeol, gostei muito — balbuciou, puxando o alfa para um beijo meio desajeitado porque ele não parava de mover os quadris. — Vamos fazer de novo, por favor…
Chanyeol puxou os dedos de dentro do ômega ao tempo em que interrompia o beijo afobado entre eles no intuito de enfiá-los na boca dele, sentindo Baekhyun sugá-los e provar de si próprio. Os olhos dele escureceram, sedentos de prazer.
— Eu sou todo seu, Bae — disse, segurando nas coxas grossas do ômega, que estava ao ponto de enlouquecer. — Senta no meu pau, amor.
Baekhyun não estava em condições de negar nada que ele pedisse. Ergueu os próprios quadris, puxou o pau duro e melado do alfa de dentro da calça, o alinhou em sua entrada e, sem aguentar esperar mais, sentou devagarinho, fechando os olhos e gemendo, as mãos apoiadas no peito dele para ter alguma estabilidade enquanto descia até o fim, se sentindo muito cheio e satisfeito.
A chuva ainda caía com força do lado de fora do castelo e uma brisa fria entrava pela porta entreaberta, mas nenhum dos dois sentiu frio — pelo contrário, se sentiam tão quentes que era quase como se pudessem entrar em combustão espontânea.
— Porra! — Chanyeol gemeu, apertando as coxas do ômega com propriedade. Era incrível a visão que estava tendo, deitado naquela cama com aquele homenzinho lindo de morrer empalado em seu pau, fazendo as expressões mais sujas e ao mesmo tempo tímidas enquanto soltava os sons mais obscenos, o apertando tanto que Chanyeol poderia gozar dentro dele mais uma vez a qualquer momento. Os longos cabelos prateados caíam pelas costas dele, livres e soltos, o branco deles em contraste com sua pele e lábios rosados. Ele era a porra do ômega mais lindo e sensual do mundo e ele era todo de Chanyeol.
— Agora me mostre o que você aprendeu nos seus livros eróticos, amor, ouvi que você aprende rápido. — O alfa lambeu os lábios carnudos antes de abrir aquele seu sorriso intrínseco.
— Não fique me lembrando isso. — Baekhyun suspirou ao abrir os olhos dourados, ainda acostumando-se à penetração. Ele era tão grande e alcançava tão fundo… Seus movimentos começaram vagarosos, aproveitando a preguiça matinal e o clima de conforto que a chuva trazia. Ainda tímido, ele rebolou no pau de Chanyeol, e apenas isso, talvez por causa da posição, foi o suficiente para ele tocar seu pontinho mais sensível. Um gemido dengoso escapou de sua boca com a rapidez com que ele encontrou sua próstata e o quão prazeroso isso foi. — Isso é tão bom, Yeol…
Chanyeol soltou um som profundo de satisfação, vendo o ômega rebolar tão lentinho em seu colo e aproveitar cada segundo, cada pico de prazer que isso lhes trazia. Ele usava só sua camiseta branca de mangas curtas que ficava enorme em seu corpo pequeno — e somente isso era suficiente para encher Chanyeol de tesão, o sentimento de possessividade rugindo dentro dele. Quando o viu jogar a cabeça para trás e gemer mais alto e manhoso após acelerar suas cavalgadas, o alfa achou que enlouqueceria. A visão do pescoço cheio de marquinhas suas feitas na noite anterior foi muito provocante, seu nome sendo gemido por aquela boquinha rosada cuja pinta no canto superior era estupidamente sexy era muito sensual. Chanyeol reivindicaria Baekhyun como seu ômega naquele momento se isso não trouxesse problemas para eles e suas famílias, além de que seria desonrosa uma marca fora do casamento — como se Chanyeol já não estivesse correndo o risco de engravidá-lo naquele mesmo instante, tsc.
O alfa sentou na cama, ainda enterrado dentro de Baekhyun, e o puxou para um beijo feroz. As mãos o seguravam com firmeza, subindo e descendo pelo corpo dele como se quisesse gravar cada curva e pintinhas com a palma das mãos. Quando alcançou um dos mamilos dele por baixo da camisa, Baekhyun praticamente gritou seu nome, tão receptivo e choroso que fez seu pau pulsar dentro dele.
O som agradável da chuva castelo afora e os gemidos manhosos de Baekhyun castelo adentro se tornou a música preferida de Chanyeol. Ambos estavam tão envolvidos pelo momento que gozaram ao mesmo tempo, o ômega entre eles e o alfa dentro dele — mais uma vez. Ele não resistiu, no momento em que sentiu ele contraindo sem parar ao seu redor foi impossível pensar direito. A mente ficou em branco como se tivesse sido tomada por nuvens de prazer, êxtase e plenitude. Baekhyun era maravilhoso e tirava todo o autocontrole que Chanyeol pensava que tinha.
Mas no banheiro, dentro da banheira, ele batia de leve em si enquanto reclamava, emburrado, dizendo que não queria que seu primeiro filho fosse um bastardo.
— É só tirar, amor — foi o que Chanyeol disse enquanto enfiava os dedos dentro dele para limpá-lo por dentro, tirando seu esperma enquanto Baekhyun tentava se controlar para não ficar excitado mais uma vez.
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No fim, Chanyeol havia concordado em passar mais aquele dia no castelo. Eles combinaram de sair cedinho na manhã seguinte para irem ao Reino de Khann, o desejo de aproveitarem mais um dia juntinhos foi mais forte que tudo.
Depois do banho, eles desceram para tomarem café. Não havia sinal de Trix, Aerie ou Dracs em lugar algum. A chuva continuava a cair castelo afora, apesar de sua força ter diminuído bastante; provavelmente cessaria em breve. Baekhyun seguia preocupado com a possibilidade de ter engravidado, mas Chanyeol era bom na tarefa de distraí-lo, seja com beijos ou com comida.
— Você não está preocupado? — perguntou ele após terem terminado o café da manhã. A chuva estava bem mais fraca àquela altura.
Baekhyun usava uma calça simples e solta de cor preta com a mesma camisa branca de Chanyeol, que, por sua vez, vestia uma calça cinza também simples e uma camiseta preta. Ambos haviam acabado de lavar a louça suja — Baekhyun, na verdade, só havia secado tudo porque Chanyeol mais uma vez não o deixou lavar nem sequer um copo — e agora estavam saindo da cozinha para perambular pelos milhares de corredores do castelo.
Chanyeol ponderou por alguns segundos.
— Não é que eu não esteja preocupado — começou, tentando encontrar palavras para se explicar. — Não tenho experiência alguma em ser pai, e por mais que eu queira ter filhos com você, somos jovens ainda. Você não estava no cio, então as chances são baixas, mas se você engravidar mesmo, bom… isso não resolveria o problema entre nossos reinos?
Baekhyun arregalou os olhos, sem muita questão de esconder sua surpresa.
— Está querendo usar um possível filhote nosso para parar a guerra entre Veny e Drix?
O alfa fez uma careta, parando de andar e obrigando o ômega a fazer o mesmo.
— Usando essas palavras parece mesmo algo terrível — comentou, soltando um suspiro longo em seguida. Ele se aproximou num passo e pegou o rosto de Baekhyun nas mãos grandes, olhando-o de cima como se ele fosse alguém muito delicado e precioso para si. — Só quis dizer que, se você engravidar, nossos pais iriam querer nos casar imediatamente para nosso filhote não ser um bastardo, porque somos os herdeiros de nossos respectivos e isso seria mal-visto entre nossos povos. E com um casamento entre nós, bom, não haveria mais guerra.
— Não faça parecer tão simples assim — Baekhyun resmungou, embora as palavras do alfa lhe soassem convincentes. — Minha mãe é rancorosa. Se ela tem algo contra seu pai por tê-la insultado e contra você por ter me sequestrado, não vai querer me entregar de bandeja pra você. Provavelmente me forçaria a casar com outro alfa e diria para todos que o filho é dele.
— Eu não deixaria isso acontecer — afirmou Chanyeol imediatamente, os olhos de prata brilhando quando uma leve centelha de fúria perpassou entre eles. Seus dedos deslizaram pela bochecha do ômega num carinho delicado. — Você é só meu.
— Então convença a rainha Yumin disso — disse, jogando os braços por cima dos ombros largos do alfa e o trazendo para perto.
Os olhos prateados cintilaram mais uma vez, dessa vez um brilho de possessividade que fez todo o corpo do ômega esquentar, se inclinando para os toques do alfa, que já havia descido uma das mãos para agarrar sua cintura com propriedade.
— Não preciso convencê-la, basta olhar pra você que ela saberá. — Chanyeol deslizou seus lábios pela bochecha do ômega, que suspirou, o coração batendo fora do ritmo como consequência de ter aquele alfa tão perto.
— Saberá de quê?
Chanyeol sorriu maliciosamente.
— É segredo, amor.
E antes que o ômega pudesse protestar, Chanyeol o beijou fervorosamente, fazendo-o esquecer no mesmo segundo qualquer coisa que estivesse rondando sua mente naquele momento.
Mais tarde, quando a chuva já havia cessado e Aerie, Trix e Dracs deram as caras, os cinco se juntaram no pátio da Ala Comum, no jardim bonito do local. O céu ainda estava um pouco nublado, mas com indícios de que o sol logo daria as caras. Enquanto Dracs e Chanyeol conversavam sobre algum assunto aleatório (Dracs já havia começado a aquecer os ovos de dragão com suas chamas), Aerie e Baekhyun falavam baixinho um com o outro, o ômega tentando acalmar a fada depois que contou a ela que ele poderia acabar grávido, no fim das contas.
“Eu avisei, Vossa Alteza!”
— Eu sei, Eri, mas na hora ninguém lembrou — se defendeu com o rosto vermelho de constrangimento, tentando não aumentar o tom de voz, por mais que os outros três estivessem a alguns metros de distância.
“Uma gravidez fora do casamento vai manchar toda sua reputação honrosa, Alteza”, insistiu ela, parecendo histérica. “Tente se lembrar de que você é um príncipe, e o herdeiro do trono ainda por cima.”
— Não me esqueci disso. — Baekhyun bufou, revirando os olhos. — Você fala como se a gravidez já fosse certa.
“Porque pode ser.”
— Mas não é certeza, as chances são menos de 20%, Eri, eu não estava no cio.
“Você disse que foram duas vezes, então são 40%, Alteza.”
Baekhyun abriu a boca para refutar, mas fechou-a quando não encontrou argumentos válidos para revidar, o que era uma droga. Entendia a preocupação dela, ele também estava preocupado, mas se Chanyeol estivesse certo e sua possível gravidez parasse a guerra entre seus reinos, então não era de todo ruim. Poderiam falar mal dele pelas costas, é claro, chamá-lo de diversos nomes feios, mas não se atreveriam a dizer coisas desrespeitosas em sua cara. Ainda era o príncipe herdeiro e seu nome incutia respeito e reverenciamento onde quer que fosse.
Mas quando Baekhyun deixava de lado seus títulos e os de Chanyeol, o peso que seus nomes carregavam e o fato de serem de reinos diferentes, a ideia de engravidar dele soava muito convidativa, afinal era o alfa pelo qual estava apaixonado. Podiam serem jovens demais para lidarem com a responsabilidade que um filhote traria, mas seria a prova viva e concreta da torrente de sentimentos desenfreados que sentiam um pelo outro. Além disso, talvez até o coração gelado da rainha Yumin amolecesse com a ideia de ser vovó.
— Estão falando sobre o quê? — ele perguntou quando se aproximou de Chanyeol, Dracs e Venatrix, com Aerie em seu ombro.
— Eu perguntei ao Dracs se ele é imortal — respondeu o alfa, as mãos enfiadas despreocupadamente nos bolsos da calça.
Os primeiros raios de sol começaram a aparecer por entre as nuvens densas e uma brisa suave soprava de vez em quando.
Baekhyun virou-se para o dragão.
— Perdoe-o, Dracs, ele fugiu das aulas de seres mágicos.
— Ei! — Chanyeol exclamou com indignação enquanto Aerie e Dracs se divertiam com a situação. Trix olhava para cada um com uma expressão ao mesmo tempo intrigada e relaxada. — Você ainda não respondeu — acusou ele na direção do dragão.
“Não, Alteza, eu não sou imortal”, respondeu Dracs com uma nota de diversão no tom de voz.
— Mas você está vivo há mais de noventa anos e ainda parece bem jovem.
— Dragões vivem apenas longos anos, Chanyeol, mas eventualmente a velhice chega para eles também — Baekhyun explicou. — Duendes são os que têm o prazo de vida mais curto, vivem cerca de cem anos, por isso estão em maior número. Sereias também vivem looongos anos, provavelmente mais que os dragões e talvez por isso sejam tão maldosas. Os únicos imortais são as fadas, que só entram em sono profundo quando seus ômegas morrem.
— Bizarro — foi tudo que saiu da boca do alfa.
O restante do dia se passou tranquilo no castelo. Depois do almoço, Baekhyun pediu para fazer uma trança nos cabelos de Chanyeol, que deixou, é claro. Então foram todos para o quarto do ômega onde tinha os produtos e acessórios necessários e ficaram conversando enquanto Baekhyun trançava os longos cabelos negros do alfa, recebendo dicas aqui e ali de Aerie, que entendia mais de cabelos do que ele. Baekhyun tentou fazer o mesmo penteado de quando viu Chanyeol pela primeira vez depois de tantos anos: várias tranças pequenas e finas, mas em vez de amarrá-las todas juntas num rabo de cabelo, Baekhyun simplesmente deixou-as livres e caindo pelas costas largas dele. Deu trabalho e levou bastante tempo, mas o sorriso satisfeito de Chanyeol quando se olhou no espelho compensou tudo.
Pela noite, após o jantar que saiu bem cedo, todos saíram juntos para dar mais uma olhada na floresta mágica e se maravilhar com o que havia nela. Dessa vez, encontraram alguns duendes que moravam na floresta e que os levaram a conhecer mais lugares espetaculares. Mais trilhas de pedras preciosas, mais ramos verdes fosforescente, mais árvores cujas cores das folhas variavam, mais flores de pétalas brilhantes. Mas também se depararam com uma árvore tão, tão enorme que todos ficaram embasbacados.
— É aqui que vivemos, Altezas — disse um dos duendes para eles.
A árvore era estrondosa, somente o tronco deveria dar uns dez metros de grossura. Em dias claros, o sol nem deveria conseguir atravessar sua copa densa e imensa, o que deveria formar uma sombra e tanto.
— Aqui onde, dentro da árvore? Nos galhos? — Baekhyun perguntou, porque sempre quis saber. Nos livros diziam que eles viviam em cogumelos gigantes, mas, pelo visto, aquilo não era verdade.
— Debaixo da árvore, Alteza — respondeu o duende. — Vocês não vão conseguir ver, vivemos debaixo da terra.
— Eu disse — Chanyeol gabou-se com um sorriso convencido. — Nem sempre seus livros acertam, Bae.
Baekhyun revirou os olhos, emburrado.
Quando retornaram ao castelo, todos exaustos depois do longo passeio, eles resolveram que precisavam dormir, pois no dia seguinte teriam de partir para o Reino de Khann bem cedo. Dracs preferia dormir no hall de entrada da Ala de Veny junto de seus filhotes ainda dentro dos ovos, enquanto os outros quatro se encaminharam para o quarto do ômega. Trix deitou no tapete fofo no chão, próximo à porta, e dormiu rapidamente, com Aerie já adormecida em cima de sua cabeça grande e peluda e fofa. Já Baekhyun e Chanyeol se enrolaram debaixo dos lençóis e dormiram agarradinhos um no outro, os corações de ambos aquecidos de uma forma que só acontecia quando estavam nos braços de seu verdadeiro amor.
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TEMPO ATUAL
REINO DE KHANN
Já fazia algumas horas que Chanyeol e Baekhyun estavam nas costas de Dracs enquanto cortavam o ar em direção ao leste. Aerie estava no ombro do ômega, enquanto o enorme dragão teve que pegar Venatrix com as garras mais uma vez quando ela se recusou a subir nas costas dele.
Todos haviam acordado bem cedo naquela manhã para irem ao Reino de Khann. Chanyeol preparou uma bolsa com marmitas para que eles comessem durante a viagem que duraria horas de ida e de volta. Ninguém falou muito durante o trajeto, apenas observaram a paisagem se estendendo infinitamente diante deles. Voavam bem acima da ponte que conectava o Jardim ao Reino de Khann, vendo a extensa floresta que havia lá embaixo, em Skydrum.
Finalmente, muitas horas depois, eles avistaram o Reino Morto — como Khann era conhecido — à distância. O outono predominava o território ao leste, o que dava ao reino uma aparência morta devido à constante queda das folhas das árvores que cercavam o território. Mesmo que as copas se enchesse com folhas verdes e vivas numa velocidade impressionante, elas tornavam a cair poucos dias depois, sem dar frutos nem nada, por isso Khann tinha um aspecto mórbido, como se suas terras tivessem sido amaldiçoados com infertilidade e infrutiferação. Apesar de tudo, o reino sobrevivia graças aos acordos comerciais que mantinha com Luxy e com colheitas adquiridas diretamente da floresta encantada do Jardim.
Também, diferente dos demais reinos, o Palácio Real do Reino de Khann era localizado no final de todo o extenso território, em vez de no centro. Ainda nas costas de Dracs, Baekhyun observou o reino ficar maior à medida que se aproximavam. O bosque que o cercava estava morto, as árvores sem vida. À medida que avançavam, as primeiras casas foram aparecendo, sendo elas bem simples por serem da plebe. As casas nobres eram bem maiores e mais bonitas e, por fim, o castelo grande e imponente cortando o céu com suas torres pontiagudas.
Na tarde do dia anterior, Chanyeol havia mandado um duende na frente para avisar que eles estariam chegando ao Reino de Khann naquele dia, mas mesmo assim Dracs soltou um rugido alto e estrondoso, um som animalesco que rasgou o ar a céu aberto para anunciar sua chegada, embora isso não fosse necessário. Não tinha como um dragão, espécie de criatura mágica considerada extinta há décadas, sobrevoando todo o reino passar despercebido. Mesmo do céu, Baekhyun pôde ver várias minúsculas pessoas olhando-os abismados, apontando os dedos na direção deles com evidente espanto e, também, encanto e admiração. O rei Kyuhoon fora avisado de que eles chegariam, só não foi dito como. Chanyeol contava mesmo que sua chegada montado num dragão fosse surpreender a todos, mas que também intimidasse o suficiente para que servisse de aviso.
Dracs atravessou todo o reino até chegar ao Palácio Real cercado por muros de grade, o extenso pátio frontal tendo espaço suficiente onde ele pudesse pousar — mesmo que o local estivesse repleto de guardas apontando suas lanças na direção deles. Ainda assim, o enorme dragão incutiu medo e intimidação nos khannirianos, que deram passos temerosos para trás quando Dracs soltou mais um rugido estridente na direção deles, fazendo uns e outros cambalearem de medo.
Venatrix parecia feliz em estar em solo firme novamente depois de tantas horas, mesmo que estivessem cercados de inimigos, mas isso já era de se esperar. Estavam em frente ao Palácio Real de um reino que não era o deles, portanto estavam quebrando regras ao invadir Khann daquela forma nada pacífica e amigável quando sabiam que não eram bem-vindos — mesmo que eles tivessem avisado que estariam vindo. Isso deu tempo de Khann reunir um grande número de soldados para esperá-los ali de uma maneira nem um pouco cordial.
— Fique aqui — Chanyeol disse para Baekhyun antes de se mover para descer do dragão e se colocar ao lado de Trix. Mesmo cercado de khannirianos, o alfa parecia absolutamente imponente e poderoso ao lado de sua pantera guardiã e de seu novo dragão de cor castanho-avermelhado. Vestido todo de preto (e aquela era definitivamente a cor dele), Chanyeol carregava na cintura suas duas fiéis espadas, mas daquela vez ele estava sem a aljava nas costas carregando o arco e as flechas, pois as flechas haviam acabado e o arco havia sido deixado no Jardim, já que não havia utilidade nele.
Baekhyun ia protestar pelo direito de também querer falar com o rei Kyuhoon quando as portas principais do castelo se abriram e uma mulher jovem saiu de lá. Ela era uma alfa mais ou menos de sua idade e seus traços duros eram um pouco familiares. Algo no ódio implícito em seus olhos fez Baekhyun lembrar de um garoto maldoso de muitos anos atrás. Ela devia ser a princesa herdeira do Reino de Khann, Kang Jimin, irmã mais nova de Jisung, aquele que seu pai havia matado há 16 anos. Ela estava vestida como uma guerreira, com roupas de couro pesadas e com uma espada embainhada presa na cintura. Ao seu lado estava o que provavelmente deveria ser seu guardião: um tigre grande de pelagem laranja, preto e branco, com olhos tão afiados quanto suas presas e garras enormes e ameaçadoras. Ele era do tamanho de Venatrix e parecia ser tão feroz e letal quanto ela.
Logo atrás da princesa khanniriana apareceu um pequeno ômega que devia ter entre doze a quinze anos, provavelmente o príncipe caçula, a julgar pelos traços semelhantes que eles compartilhavam. Diferente da irmã, no entanto, ele vestia um hanbok bonito e elegante. Havia uma fada minúscula de cabelos negros e olhos verdes batendo suas asas ao lado dele.
— Uau, um dragão! Pensei que eles não existissem mais! — exclamou o príncipe khanniriano, olhando admirado para Dracs, os olhos brilhando.
— Vá para dentro, Jihoon — ordenou a alfa, olhando de Chanyeol para Baekhyun e Dracs, então retornando para Chanyeol, onde fixou-os.
— Mas…
— Vá. — Um dos guardas escoltou o príncipe de volta para dentro do Palácio. — Você não deveria estar aqui, Park Chanyeol. Sabe que é proibido.
— Eu avisei que estaria vindo — salientou Chanyeol categoricamente..
— Um mero pedaço de papel mandado por um mensageiro — disse ela com desdém. — Não é uma permissão oficial, seu pai não fez o pedido formal e meu pai não concordou, portanto está transgredindo regras vindo aqui. E nada protege um príncipe quando ele entra num território que não é o dele. — Venatrix soltou um rosnado feroz enquanto, ao mesmo tempo, o rugido de Dracs reverberou pelo céu aberto, ambos olhando ameaçadoramente para a herdeira de Khann, cujo guardião não ficou quieto, rosnando de volta com a mesma ferocidade implacável. Chanyeol ergueu uma das sobrancelhas e sorriu de lado como se dissesse “O que você disse mesmo?”. Jimin engoliu em seco, os olhos tremulando quando ela olhou de relance para o enorme e ameaçador dragão atrás de Chanyeol. — Nenhuma lei — corrigiu-se sem muita confiança.
— Não se preocupe, eu vim em missão de paz.
— Você trouxe um dragão até a nossa porta — destacou ela. — Não me parece uma missão de paz.
Chanyeol olhou por cima do ombro onde Dracs estava atrás dele, com Baekhyun ainda montado em suas costas.
— Dracs é só uma medida de segurança. Na verdade, o que eu queria mesmo era… — Mas o alfa não teve tempo de dizer o que queria, porque as portas enormes do Palácio voltaram a se abrir, e de lá saiu apenas uma pessoa seguida por outro tigre guardião. — Justamente quem eu queria ver.
O rei Kyuhoon se colocou ao lado da princesa herdeira, e os guardas em torno deles se agruparam mais um pouco para aumentar sua segurança. O alfa alto vestindo trajes caríssimos não havia mudado muito do homem taciturno e de cara fechada que Chanyeol e Baekhyun haviam visto há muitos anos. Talvez os cabelos dele estivessem com mais fios brancos e grisalhos e sua cara estivesse mais fechada ainda, mas era só. O tigre ao lado dele aparentava ser mais velho do que o guardião de sua filha, mas ainda poderia arrancar um braço numa só mordida se quisesse.
Os olhos do rei varreram toda a cena minuciosamente, demorando-se um pouco em Dracs antes de fixá-los no ômega montado nele. Algo no olhar dele na direção de Baekhyun fez Chanyeol querer ordenar que Dracs voasse com ele para bem longe dali, onde ele pudesse ficar a salvo e protegido. Saber que aquele homem queria machucar seu ômega por algo que ele nem sequer fez causou em Chanyeol uma mistura intensa de sentimentos, uma fúria sem precedentes que, infelizmente, ele não poderia expressar naquele momento e talvez em momento algum. Tudo dependia da resposta do rei ao seu pedido de deixar Baekhyun em paz.
— Vossa Majestade. — Chanyeol inclinou um pouco a cabeça numa reverência.
— Todos achavam que você estava morto, Park, depois que as notícias de que você caiu em Skydrum chegou em todos os Cinco Reinos.
— Como pode ver, estou bem vivo.
Kyuhoon olhou para Dracs novamente, uma centelha de fascínio, curiosidade e medo brilhando em seus orbes escuros.
— Onde conseguiu o dragão?
Chanyeol abriu um sorriso presunçoso.
— Em Skydrum — respondeu. — Acabei descobrindo muitas coisas interessantes por lá, inclusive a existência do último dragão da espécie e também que o sangue de Cavaleiro corre em minhas veias.
— Que sorte, não? — disse o rei numa tentativa de não parecer impressionado ou interessado. — Mas se gabar não é o que você veio fazer aqui, imagino. — Os olhos dele se voltaram para Baekhyun mais uma vez por apenas alguns segundos. — Vejo que Drix cumpriu com sua palavra e me trouxe o que pedi. Você quer dar uma olhada no nosso arsenal e ver o que vai ganhar?
— Não vai ser necessário. — Chanyeol apontou para Dracs por cima do ombro. — Como pode ver, eu tenho um dragão agora, não preciso mais de suas armas.
O rei Kyuhoon soltou uma risada seca.
— Acha que pode vencer Luxy com apenas um dragão?
— Sei que posso. — Ele deu um passo à frente, e imediatamente os guardas em torno deles também o deram, apontando suas lanças afiadas em sua direção. Venatrix rosnou feroz, exibindo as presas mortais, e o guardião do rei fez a mesma coisa, ambos se encarando desafiadoramente. — Vim aqui pessoalmente para desfazer o acordo que você e meu pai fizeram. Não vou entregar Baekhyun para você, vou devolvê-lo para Veny, onde ele estará seguro.
Chanyeol viu o momento exato em que a mandíbula do rei se contraiu, nada satisfeito em ouvir suas palavras.
— Você trouxe esse ômega até aqui, e daqui ele não sairá, Park.
O príncipe de Drix abriu um sorriso frio, a mão descansando inocentemente no cabo de sua espada dentada.
— Sim, ele sairá, até porque este ômega é meu.
A sobrancelha de Kyuhoon se ergueu, a fúria cintilando no fundo de suas íris nebulosas. Era quase palpável o quão irritado ele estava.
— Seu?
— Meu — afirmou Chanyeol, a voz soando estrondosa como um trovão. — Me casarei com Baekhyun em breve, portanto qualquer coisa que você tentar contra ele estará atacando a mim e ao meu reino também. E lembre-se: Drix não é um reino que você queira desafiar no futuro. Tenho Dracs agora e Dracs tem dois filhotes, o que significa que em breve Drix terá três dragões adultos, e nenhum arsenal no mundo será capaz de detê-los se você ousar encostar um dedo em um só fio de cabelo do meu ômega.
O rosto de Kyuhoon adquiriu um leve tom vermelho.
— Você veio até aqui ameaçar um rei? — A voz dele carregada de uma cólera abrasante, e os olhos que expressavam tanta revolta e ódio que fez Baekhyun estremecer em cima de Dracs.
— Vim avisá-lo.
— Está cometendo um erro, garoto.
— Não sou um garoto — disse Chanyeol em tom sério e resoluto. — Sei o que você quer com Baekhyun e não vou deixar que o machuque. Ele não fez nada contra seu filho, portanto deixe-o em paz.
O rei Kyuhoon cerrou as mãos em punho, o olhar tão feroz quanto o de Venatrix.
— Isso não é assunto seu e do seu reino, Park, eu…
— Como eu disse — interrompeu-o incisivamente —, pretendo me casar com Baekhyun em breve, portanto é meu assunto, sim.
— Há 16 anos, meu filho Jisung foi assassinado, e há 16 anos o assassino dele está vivo, respirando, rindo por aí. — Kyuhoon riu, um riso desprovido de todo e qualquer sentimento bom e feliz, mas amargo e frio. — Você acha isso justo, garoto?
— Baekhyun não fez nada contra seu filho.
— Não, mas o pai dele fez! — rosnou, enfurecido, e nem mesmo o rosnado de aviso de Venatrix fez o rei aplacar sua ira. — O pai dele matou meu Jisung…
— Porque seu filho espancou o filho dele! — Chanyeol também não estava nada calmo, e a tensão só aumentava.
— Lorotas! Jisung era apenas um garoto doce e gentil com todos ao seu redor, era educado e humilde. Foi assassinado a sangue frio por um…
Para a surpresa de todos, Dracs soltou um rugido que reverberou pelo espaço aberto, calando as palavras venenosas que o rei khanniriano proferia. Chanyeol e Kyuhoon olharam para o dragão, o primeiro confuso e o segundo, furioso.
Conseguindo a atenção que queria, Dracs se explicou.
“Se Vossa Alteza e Vossa Majestade se referem ao príncipe que foi morto no Jardim há 16 anos, não foi o rei de Veny quem o matou.” A frase impactante fez todos prenderem a respiração por um segundo, até mesmo os guardas ficaram surpresos. Baekhyun, que até então apenas observava a discussão montado nas costas de Dracs, sentiu seu coração sacolejar dentro do peito.
— O que está dizendo, Dracs? — o ômega perguntou, a voz fina e quebradiça e com um toque de vulnerabilidade.
“Seu pai não matou o príncipe Jisung, Alteza”, assegurou o dragão, a voz baixa soando alta naquele silêncio absoluto. “Quem matou Jisung foram os skydrumianos.”
Mais um segundo silêncio se seguiu à revelação, Chanyeol podia até mesmo ouvir a respiração de Trix ao seu lado.
— Mais lorotas! — O rei parecia ainda mais furioso, se possível, o rosto já muito vermelho de tanta raiva. — Eu vi com meus próprios olhos Baekho matar meu menino! Eu vi…
“E eu ouvi com meus próprios ouvidos o rei Son ordenar a alguns de seus homens para irem ao Jardim durante a reunião e ‘agitar’ as coisas por lá”, Dracs prosseguiu, imbatível. “O filho mais velho dele, Minho, estava entre eles, apesar de ser só uma criança na época. Mas era necessário ter alguém com sangue de Cavaleiro de Dragão com eles para que eu os obedecesse em levá-los até lá, não é mesmo? Quando estávamos voltando para Skydrum, ouvi-os conversando e comemorando a ‘agitação’ que causaram. Ouvi-os dizer como mataram o príncipe Jisung e como fizeram parecer que foi o rei de Veny, porque ele chegou na cena logo depois. Eles zombam de você até hoje por achar que quem matou seu filho foi Baekho, quando na verdade foram eles o tempo todo.”
Chanyeol viu o rei Kyuhoon dar um passo atordoado para trás, sendo amparado pela filha que continuava ao seu lado, olhando preocupada para ele. O rei parecia não querer acreditar no que ouvia, ao mesmo tempo que as palavras ditas pelo dragão fossem bem plausíveis de serem verdadeiras, considerando toda a fama que os skydrumianos tinham.
— Se isso for uma mentira para tentar me fazer desistir da minha vingança, eu juro que…
“Não é mentira, Majestade, isso eu lhe asseguro”, disse Dracs de modo categórico.
— E você não precisa desistir da sua vingança — Chanyeol aproveitou a abertura para falar o que queria. O rei olhou para ele com o cenho franzido em incompreensão. — Como eu disse antes, acabei descobrindo algumas coisas interessantes enquanto estava em Skydrum, alguns… crimes.
— O que quer dizer? — indagou o rei, tentando não parecer interessado.
— Você ainda quer sua vingança contra aqueles que mataram seu filho? Você pode consegui-la. — Chanyeol deu um último sorriso antes de dar as costas ao rei e subir novamente em Dracs, que se abaixou para que ele pudesse escalá-lo e se colocar atrás de Baekhyun, segurando-se nos espinhos do dragão. Ele olhou para um Kyuhoon ainda atordoado com as revelações que mudaram drasticamente o rumo de sua vida. — Em breve chegará em suas mãos uma carta oficial contando algumas coisas que Baekhyun e eu vimos em Skydrum, esperamos contar com sua ajuda para cassar a coroa real da família Son. Eles tiraram seu filho de você, então que tal tirar tudo deles? — O rei arregalou os olhos ao ouvir aquilo, obviamente não esperando medidas drásticas como aquelas, o que acentuou ainda mais sua curiosidade para saber quais crimes mais o povo de Skydrum havia cometido. — Vamos, Dracs.
— Espera! — Baekhyun falou antes que o dragão pegasse Venatrix com as garras longas e alçasse voo. — Ainda não fiz o que vim fazer aqui. — Ele olhou diretamente para o rei. — Quero fazer uma pergunta.
Kyuhoon devolvia o olhar do ômega, se sentindo estranho por alguma razão — talvez fosse o fato de que queria matá-lo com as próprias mãos há apenas alguns minutos para fazer Baekho passar pelo que ele passou, fazê-lo sofrer como ele sofreu, e de repente essa intenção guardada há anos perdeu todo o sentido de forma tão abrupta que ele ficou tonto e confuso, totalmente perdido.
— Que pergunta?
Baekhyun apertou os espinhos de Dracs que ele usava para se segurar sem tirar os olhos do rei para não perder um segundo de sua reação.
— Você mandou alguns de seus guardas para Veny há alguns dias para me matarem?
De todas as reações que imaginava, Baekhyun não esperava um cenho franzido e uma expressão torcida em confusão em sua face. Ficou óbvio que ele não fazia ideia do que o ômega estava falando.
— Não mandei ninguém ir atrás de você para matá-lo, até porque eu queria fazer isso com minhas próprias mãos.
Não havia como contestá-lo.
Baekhyun sentia o vento fresco bater em seu rosto quando Dracs voava de volta para o Jardim, a desconfiança e a incerteza tomando conta de sua cabeça. Se não fora o rei Kyuhoon quem havia mandado matá-lo quando desejava isso tão ardentemente, então quem poderia ter sido? Baekhyun queria respostas.
✶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶✶
TEMPO ATUAL
JARDIM MÁGICO
Já estava de noite quando Dracs pousou no pátio do castelo no Jardim. A viagem de volta foi silenciosa e exaustiva, haviam passado o dia todo montado em Dracs, praticamente, várias horas de ida e de volta tendo que se segurarem em seus espinhos ossudos de cor escura, sem um mínimo de conforto. Aerie estava certa sobre arranjarem selas para essas viagens.
Todos entraram no castelo, Baekhyun com o coração apertado por saber que Chanyeol iria embora ainda naquela noite, já que seu irmão chegaria na manhã seguinte. Eles tomaram banho juntos para aproveitar ao máximo o tempo que ainda tinham um com o outro. Assim como na noite anterior, Baekhyun estava escorado no peitoral de Chanyeol, ambos dentro da banheira cheia de água e sais de banho perfumados. O ômega estava se sentindo incomodado e angustiado depois que saíram do Reino de Khann, mas melhorava um pouco com a presença de Chanyeol ali com ele, lavando seus cabelos platinados como se ele fosse uma criança que ainda não sabia fazer aquilo sozinho. A massagem que ele fazia em seu couro cabeludo cheio de espuma o fez relaxar como mágica. Uma pena saber que o alfa partiria em poucas horas.
— Eu sei o que está pensando — a voz de Chanyeol soou entre eles, rouca e suave, causando um leve sobressalto no ômega.
— E o que eu estou pensando?
Ainda com o cabelo cheio de espuma, Baekhyun foi virado de frente para Chanyeol, sentado em suas coxas, a água ondulando e caindo pelas beiradas da banheira com a movimentação. Seus olhos se encontraram e o ômega viu uma suavidade serena nas íris prateadas do alfa, ao mesmo tempo que havia um quê de preocupação nelas que fez Baekhyun engolir em seco.
— Está pensando no seu pai e no porquê dele ter mentido sobre ter matado Jisung. — Chanyeol foi certeiro.
Baekhyun encolheu os ombros enquanto apoiava as mãos pequenas nos ombros alheios. Ambos estavam nus, molhados e com espumas de sabonete por toda a pele.
— Só não entendo por que ele fez isso — admitiu. — Assumiu a culpa de algo que ele não fez. Por quê?
— Pra te proteger — respondeu Chanyeol, soando tão sincero que não dava aberturas para dúvidas. — Porque mesmo que ele não tivesse feito nada contra Jisung, o pai dele achava que sim, e queria se vingar por isso. Mentir pra você que matou Jisung foi a forma dele de te proteger. Se você pensasse que o rei Kyuhoon tinha motivos para se vingar, você não sairia do castelo, onde estava seguro.
— Queria que ele tivesse me contado a verdade — resmungou com um bico nos lábios, porque as palavras do alfa faziam todo sentido e soavam muito com algo que seu pai faria.
Chanyeol se aproximou e mordeu suavemente seu biquinho antes de apertar seu nariz, deixando nele uma bolha de espuma. Sorriu, achando Baekhyun adorável.
— Do jeito que você é teimoso e desobediente, ele devia ter medo de você querer ir sozinho até Khann para provar a inocência dele.
Baekhyun riu, sujando as bochechas dele com espuma também ao segurar seu rosto.
— Eu não sou tão imprudente assim.
— Você tentou lutar contra mim quando era óbvio que não conseguiria me vencer — pontuou Chanyeol com um sorriso largo.
— Pra você ver o que uma pessoa desesperada é capaz de fazer quando é sequestrada.
Rindo, ambos terminaram o banho entre mais risadas e provocações, uns beijos apaixonados rolando aqui e ali porque era impossível estarem juntinhos sem sentirem a necessidade de colarem a boca um no outro. Quando terminaram de se vestir e desceram para jantar, seus corações já apertavam de saudade — mesmo que Chanyeol ainda não tenha partido.
— Não quer mesmo ficar até amanhã? — Baekhyun perguntou usando um tom manhoso demais que talvez ele se envergonhasse se não estivesse tão apaixonado.
Chanyeol pressionou os lábios antes de soltar um suspiro pesado.
— Preciso ver como as coisas estão em Drix.
Baekhyun o entendia — já estava morrendo de saudades por ele ter que ir, mas o entendia. Chanyeol havia deixado seu reino, que estava em guerra, há mais de uma semana, era compreensível que estivesse tão ansioso para voltar e ver como as coisas por lá se saíram na sua ausência.
Eles encontraram Dracs, Venatrix e Aerie na cozinha, a fada e o dragão conversando sobre qualquer coisa e Trix deitada no chão parecendo tirar um cochilo. Quando Aerie viu Baekhyun, ela voou imediatamente até ele, os olhos azuis arregalados e preocupados.
“Subiu pra 60%, Alteza?”
— Eri! — Baekhyun repreendeu, sentindo as bochechas esquentarem na hora ao ganhar um olhar curioso do alfa, que não fazia ideia do que a fada dizia, o que o ômega sempre agradecia internamente, ou já teria morrido de vergonha.
“E então, subiu ou não?”, ela voltou a perguntar quando Chanyeol se afastou para preparar algo rápido para eles comerem.
— Não, não subiu, não fizemos nada além de tomar banho — cochichou para ela, ainda que um pouco envergonhado.
O jantar correu tranquilo, Trix havia acordado com o cheiro de comida fresca no ar. Todos, com exceção da guardiã, que não falava, discutiram sobre a ida ao Reino de Khann e o que viram por lá. Também combinaram formas de fazer Skydrum deixar de ser um reino — será que eles conseguiriam destronar os Son se Veny, Drix, Khann e Luxy estivessem unidos naquele objetivo comum? Não era surpresa que ninguém gostava dos skydrumianos e todos tiveram, em algum momento durante a vida, algumas controvérsias com o povo bárbaro do reino de baixo. Talvez Khann e Veny esquecessem as inimizades, talvez Drix e Luxy dessem uma trégua e todos se juntassem para voltarem ao que eram há alguns séculos — voltarem a ser apenas os Quatro Reinos.
Mais tarde, depois da refeição, Chanyeol se preparava para voltar para o Reino de Drix — na verdade, ele só precisou arrumar uma bolsa com comida para a longa viagem que teriam. No pátio da Ala de Drix, Dracs já havia assumido novamente sua forma grande e poderosa. Venatrix parecia descontente, tanto por não querer passar mais quase dez horas voando desconfortavelmente nas garras do dragão, quanto por, aparentemente, não querer deixar Baekhyun para trás. Ela já havia ganhado vários afagos e carinhos do ômega, prometendo que eles se veriam em breve.
Chanyeol era outro que não queria soltá-lo, mesmo que fosse ele quem insistisse em ir embora naquele momento. O alfa beijava todo seu rosto, ganhando algumas risadinhas do ômega, que talvez também não quisesse soltá-lo, o abraço deles era tão apertado que era como se quisessem se fundir um no outro.
— Quero te fazer uma pergunta — disse Baekhyun de lábios avermelhados e inchados pelos beijos trocados. Quando Chanyeol inclinou a cabeça num gesto de que estava ouvindo, ele prosseguiu: — Naquele dia em que escapamos de Skydrum, teve algumas vezes que você parecia querer me dizer alguma coisa, mas nunca dizia. O que era?
— Aquilo? — Chanyeol riu, segurando o ômega pela cintura, os rostos próximos, ouro e prata se encarando tão intensamente que uma fusão entre eles parecia quase possível. — Eu ia dizer que, caso fôssemos cercados e tivéssemos que lutar, eu mataria todo e qualquer skydrumiano que ousasse machucar meu ômega, mas acho que isso teria soado meio presunçoso da minha parte.
O coração de Baekhyun derreteu todinho dentro da caixa torácica. Era incrível o quanto ele estava caído por aquele homem, o quanto ele lhe causava sensações e emoções tão intensas, descontroladas e imparáveis. Será que algum dia ele pararia de suspirar feito bobo sempre que “meu ômega” saísse dos lábios de seu alfa? Baekhyun achava que não.
— Eu teria gostado de ter ouvido isso — afirmou, sorrindo timidamente.
— É?
— Muito.
Chanyeol o beijou como se não suportasse mais a distância entre suas bocas. Havia uma mistura poética nas muitas emoções compartilhadas em um único beijo, as sensações que tomavam conta de seus corpos e mentes — o arrepio gostoso que descia pela espinha, o frio costumeiro na barriga, o calor agradável no peito. Quando se separaram, ofegantes, e encostaram a testa uma na outra, Chanyeol meio inclinado pela fofa diferença de altura, lutando contra a vontade de levar o ômega consigo.
— Baekhyun, eu…
Mas foram interrompidos por Venatrix, que pulando cegamente na tentativa de capturar uma borboleta que estava voando por ali, acabou esbarrando no casal, que riram da cena.
— Ok, é hora de ir — disse Chanyeol, dando mais um beijo no ômega antes de se afastar, apesar de suas reclamações para ele ficar mais.
— Você está esquecendo seu arco — observou ao notar a ausência da arma alojada nas costas largas alfa. Em seu lugar havia apenas as tranças longas que ele havia feito no dia anterior. — Deixe-me ir buscá-lo…
— Não precisa, você pode ficar com ele.
— Mas…
— A adaga também, meu primeiro presente de cortejo pra você. — Baekhyun havia lembrado do arco, mas esquecido que Chanyeol tinha lhe emprestado a adaga também enquanto ainda estavam fugindo do Reino de Skydrum. — Vejo você em breve.
— Promete? — Baekhyun soou mais vulnerável do que imaginou.
— Prometo, Bae. — E Chanyeol deixou um beijo rápido em seus lábios e outro em sua testa antes de subir nas costas de Dracs, que pegou Venatrix nas garras enormes antes de alçar voo, deixando Baekhyun e Aerie para trás.
✶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶✶
Baekhyun acordou cedo na manhã seguinte. Estava ansioso demais para ver Jongin, ao mesmo tempo em que estava triste por não ter mais Chanyeol ali consigo. Era estranho estar sozinho novamente depois de tantos dias ao lado dele, sua presença e companhia constante.
Ele tomou um banho rápido e vestiu uma calça folgada e uma camisa de mangas longas antes de descer para esperar seu irmão chegar, passando pela cozinha e pegando uma maçã e um cacho de uvas para comer enquanto esperava. Ele sentou nos degraus em frente às portas de entrada do castelo, na área designada de seu reino. Dali veria os portões se abrindo para a chegada de Jongin.
O ômega e Aerie conversavam durante a espera, e às vezes ele tinha a sensação de que estava sendo observado, mas não tinha ninguém por perto além dele e sua fada. O pátio externo era grande o suficiente para caber três Dracs em sua forma original facilmente, com uma escadaria larga em frente às portas e um chafariz grande bem no centro. A primeira vez que Baekhyun havia visto aquele chafariz, havia uma sereia dentro dele fazendo alguns truques com a água, mas como aquela época havia sido um evento formal entre os reinos, a sereia não estava ali naquela manhã típica.
Baekhyun não sabia por quanto tempo ficou esperando, provavelmente mais de uma hora, portanto não foi surpresa que acabou pegando no sono ali mesmo, na escadaria, escorado no corrimão. Aerie também dormiu, deitada em seu colo. Foi só quando ouviu uma movimentação, tempos depois, que ela acordou agitada, tendo tempo somente de gritar “Cuidado, Alteza!”, antes de Baekhyun ser derrubado no chão, acordando subitamente com um peso grande sobre si. Assustado e com o pânico entalado na garganta, ele sentiu um bafo quente bem em cima dele, presas grandes rosnando a uns dez centímetros de seu rosto, uma pata grande pressionando seu peito, as garras afiadas rasgando o tecido de sua camisa e arranhando sua pele por baixo, sangue manchando o tecido claro.
Com os olhos arregalados em pura descrença, Baekhyun percebeu que havia um lobo enorme em cima dele que o encarava de modo ameaçador e com uma clara intenção de matar. Um lobo de pelos brancos e olhos azuis que ele conhecia bem.
Era Celer, o guardião de Jongin.
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