Lauren
Respirei fundo o ar gelado de New Heaven. A grama verde cobria todo o campus maravilhoso de Yale. Eu estava completamente perdida, não fazia ideia de onde estava e para que lado ficava o meu instituto.
Como era dia da recepção de calouros, haviam vários stands com veteranos, chamando para grupos de estudos, artes, além de apresentarem os cursos para nós. Achei que seria melhor pedir uma informação para algum aluno ali.
Minha alfa estava em aula agora e não podia me encontrar, ela não participava do comitê de recepção. Aproximei-me de um aglomerado de alunos que estavam por perto. Eles tinham a palavra “Junior” nas camisetas, então com certeza poderiam me ajudar.
Cutuquei uma garota alta e ruiva, ela logo se virou para mim e sorriu. Era uma linda ômega, usava a camiseta preta dos staffs e uma calça jeans skinny. A garota era tão linda que me fez corar um pouco, tinha os olhos azuis bem intensos.
- Olá! Em que posso ajudar? - Disse gentil, virando de costas para o grupo.
- O-oi. - Limpei a garganta. - É que eu sou aluna do curso de fotografia, mas não estou achando minha sala.
- Uau, nossa. - Ela suspirou e deu uma risadinha envergonhada. - Você está muito perdida, o campus da fotografia fica no outro quarteirão, ao norte.
- Ai, minha nossa. - Fiz uma careta. Eu não tinha ideia de como chegar lá.
- Façamos assim, eu te levo até lá. - Se voltou para os amigos. - Pessoal, vou levar a caloura para o campus dela.
Se despediu rapidamente e começamos a andar em direção a rua. Ela tinha um cheiro que se assemelhava a baunilha, muito agradável.
- Ah, desculpe-me. - Falou. - Esqueci de me apresentar, sou Sophie Turner, do curso de psicologia.
O nome dela me era familiar, sorri para ela e apertei sua mão, era macia. A ômega tinha a pele tão branca quanto a minha, ela era bem alta também, muito alta. Ou talvez eu que era baixinha demais.
- Sou Lauren. Lauren Jauregui. - Respondi e ela fez uma expressão surpresa, percebi que isso causou certo desconforto nela.
- Ah… - Sorriu sem graça e enfiou as mãos nos bolsos traseiros de sua jeans. - A famosa Lauren Jauregui. Você e Camila ainda estão juntas?
Meu coração errou uma batida e eu quase engasguei. Então ela era a Sophie que foi - ou ainda é- apaixonada pela minha alfa. Porra, ela era linda demais. Aquilo me incomodou um pouco, um leve arrepio passou pela minha coluna ao perceber que a minha concorrente era bem forte naquela época.
E então me lembrei do que ela havia dito para Camila, quando se despediram. Sophie era uma mulher muito respeitável, em nenhum momento ela tentou tirar minha alfa de mim, mesmo a amando. Amar de verdade, é deixar ir. E ela fez isso, ao contrário de Keana, essa ruiva havia de fato amado Camz.
- Somos companheiras. - Falei baixo, fitando o chão.
- Agora que você falou eu notei o cheiro. - Ela sorriu sincera. - Eu sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, Mila ama muito você.
- Ela está aqui em Yale. - Dei de ombros e a vi corar. - Já falou com ela?
- Não… - Sussurrou. - Nem sabia que ela estava aqui… O campus dela, se é que ela faz bioquímica, fica no campus leste, junto com a medicina.
Pude perceber que ela estava profundamente incomodada, eu também estava um pouco desconfortável, era esquisito conhecer alguém que amou a minha alfa verdadeiramente. Até então, eu pensava que somente eu tinha amado Camila.
- Ela faz bioquímica sim. - Confirmei. Não tinha motivos para elas não se reencontrarem, não é como se Sophie fosse tentar tirar Camz de mim. - Está em aula agora, por isso não pôde vir me ajudar.
- Entendo. Joe também está em aula. Alfas geralmente não gostam de ajudar calouros. - Riu um pouco e eu a acompanhei.
- Ela disse que não recepcionaria porque iria tomar muito do tempo dela. Quem é Joe? Seu alfa?
- Ahn… - Olhou para cima e soltou a respiração. - Não é bem o meu alfa… Estamos nos conhecendo. - Sorriu e notei seus olhos azuis brilharem.
- Entendi… - Sorri.
Passamos o resto do caminho falando sobre a faculdade, os direitos dos alunos e as regras da instituição. Sophie explicava as coisas de uma forma bem simples e de fácil compreensão. Era uma garota bastante divertida e muito, muito inteligente mesmo.
Fazia observações interessantes sobre todos os assuntos que discutimos ao longo do percurso. Falamos até da arquitetura de Yale. Estávamos no meio do gramado quando ela parou e apontou para frente.
- Aquele ali é o Instituto de Artes, seu campus. Subindo a avenida - Apontou para o outro lado. - Vai dar no campus da sua alfa. Descendo a avenida, logo no próximo quarteirão, fica o alojamento. Quer que eu te acompanhe até lá?
- Não, eu já fui lá ontem quando vim trazer minhas coisas.
Yale exigia que os alunos passassem todo o primeiro ano morando no alojamento dos Freshman. Eu não entendia muito bem aquela exigência, meu pai pirou ao saber disso, queria comprar um apartamento pequeno para mim. Eu havia me animado com a ideia.
Seu argumento era de que evitaria que eu fosse “assediada”. Engraçado que assim que meu irmão - maldito Chris - abriu a boca gigantesca dele para falar de que eu e seria muito feliz morando com a Camila, a preocupação do meu pai se desfez magicamente e passou a defender a ideia de que seria uma experiência enriquecedora morar nos dormitórios.
Xinguei todas as vidas passadas e futuras de meu irmão por ter falado aquilo. Eu poderia passar todas as noites dando para Camila se tivesse um lugar só para mim. Enfim, agora não dava mais para pensar nisso.
- Ok, vou voltar para meu campus então. - Me deu um carinhoso beijo na bochecha e eu retribuí. - Até qualquer dia, Laur. Divirta-se e seja bem vinda à Yale.
- Muito obrigada, Soph! Até qualquer dia!
[...]
- Céus… - Ofeguei contra os lábios dela. - Eu estava morrendo de saudades de você!
Empurrei Camz na cama e me joguei em cima dela, nos beijávamos enlouquecidamente. Ontem não havia dado tempo de nos encontrarmos, então assim que descobri todas as salas em que teria aulas na segunda, fui para o dormitório e pedi para ela me encontrar lá.
Apesar de ter malas ao lado da outra cama, minha colega de quarto ainda não tinha dado as caras. Então, eu iria aproveitar.
Abri o feixe de sua calça, liberando seu membro já duro, apenas tirei minha calcinha e subi a saia, sentando nela de uma vez. Estávamos tão necessitadas que não demorou mais do que meia hora para gozarmos duas vezes.
Ninguém pode me julgar. Nesse um ano em que passamos separadas, transamos apenas sete vezes, já que ela não tinha tanto tempo para voar até Miami. Tive que usar uma parte de minhas economias para que ela pudesse ir passar o aniversário comigo. E agora que finalmente a tinha novamente, iríamos foder pelo menos duas vezes por semana, para tirar o atraso.
Justo.
- Eu estou morrendo de saudades. - Conseguir falar depois de recuperar uma parte da respiração.
- Eu também estou meu amor. - Ela beijou-me os lábios. - Eu não posso ficar aqui, tenho aula daqui a pouco. - Revirei os olhos. - Mas, Yoko vai passar a noite fora. - Mordeu minha orelha. - Se quiser, podemos comemorar de um jeito bem gostoso a sua entrada em Yale.
Aquela frase cheia de promessas me deixou completamente arrepiada. Arranhei a barriga deliciosa da minha alfa e sorri.
- Pode ter certeza que eu irei.
Ouvimos batidas na porta e imediatamente Camila se levantou e subiu a calça, enquanto eu apenas ajeitei a saia e joguei a calcinha dentro de minha mochila. Abri a porta dando de cara com uma garota negra de piercing no septo e cabelos acinzentados. Ela era linda!
- Oi, prazer. - Estendeu a mão e pegou a minha, chacoalhando. - Sou Ashara. Ashara Benson.
- P-prazer. - Puxei delicadamente a minha mão.
Senti a presença de Camila atrás de mim e pude ver a garota passando os olhos por cada milímetro do corpo da minha mulher. Puxei a nuca de Camz e a beijei.
- Até a noite, amor. - Deu um leve tapa da minha bunda, enquanto selou nossos lábios. - Olá! - Disse para a garota nova e passou por ela, logo sumindo pelo corredor.
- Você dá pra aquele monumento de alfa? - A atrevida comentou. - Nossa você é a minha heroína. Ela deve foder tão bem!
- Sim, ela ME fode muito bem. E pode parar de babar nela? - A falta de respeito de Ashara me tirou do sério. - Respeite-a.
- Oh, eu respeito sim. - Passou por mim, adentrando o quarto e se jogando na outra cama. - E como respeito. Quem não respeitaria uma alfa daquelas? Fala sério, você é a ômega mais sortuda do mundo!
- Pode parar de falar assim de minha companheira de alma? - Achei melhor deixar bem claro.
- Deuses! Se eu tivesse uma companheira assim, morreria feliz e muito bem fodida. Te admiro.
Dei risada daquilo. Aquela garota era doida, só podia ser. Sentei-me em minha cama, olhando para a garota que estava jogada em cima do colchão.
- Faço fotografia. - Ela falou. - E você?
- Fotografia também. - Sorrimos.
- Ótimo, já tenho com quem fazer trabalhos.
Passamos o resto da tarde conversando sobre muitas coisas e fazendo piadas sobre nós mesmas. Ashara era muito legal depois que você a conhecia melhor, com certeza nos daríamos muito bem.
Sete anos depois
Camila
- Camila, eu não sei cuidar de criança! - Minha amiga exclamou enquanto eu passava Dom para seus braços.
- Dominic, amor, pare de chorar! - Falei com o meu filho que apenas fechou mais os olhos verdes e gritou.
Ouvi a campainha tocar e fui correndo até a porta pegar a comida que eu havia pedido. Um ano havia se passado e eu ainda não sabia o que fazer quando nosso filho ficava doente. O problema era que hoje Lauren precisava ir até o centro de filmagem. Ela havia se especializado em fotografia cinematográfica, então tinha que acompanhar as cenas dos filmes.
Já sem ter nenhuma noção do que fazer, liguei para minha melhor amiga, Dinah Jane. Mas confesso que estou começando a me arrepender dessa ideia. Ela não parece ser do tipo que sabia cuidar de crianças.
Eu deveria ter ligado para Matts.
Depois de pagar, fui até a cozinha pegar pratos e voltei para a sala. Coloquei as sacolas em cima da pequena mesa e olhei ao redor, reparando que meu filho estava sentadinho no chão e minha amiga, havia desaparecido.
Ouvi o barulho da porta e saí correndo atrás daquela louca, nem fodendo ela me deixaria aqui sozinha.
- Dinah! Dinah! - Gritei quando ela destravou o carro. - Não pode me deixar sozinha aqui!
- Não posso deixar você a sós com seu filho? - Ergueu a sobrancelha.
- Não! Eu não sei cuidar de Dom quando ele está assim…. É sempre a Lo que faz isso! Por favor, Dinah! - Implorei.
- Que vergonha, Camila. - Ela riu. - Você é a mãe do moleque há um ano e não sabe cuidar dele?
- A sua mulher está grávida. - Coloquei as mãos na cintura. - Veremos como você vai se sair. E vou lembrar disso quando você me ligar pedindo ajuda.
Sorri triunfante quando ela parou de rir e engoliu seco. Normani iria dar à luz em dois meses e minha amiga já está começando a se desesperar. Assim como Laur, Mani variava de humor muito rapidamente, ela já chegou a deixar Dinah para o lado de fora da casa porque minha amiga esqueceu de fechar a tampa do vaso.
Lo nunca chegou a me colocar para fora, mas o sofá foi um grande amigo em algumas noites. Depois de uma rápida discussão, voltamos para dentro de casa. Tivemos um susto quando chegamos na sala e parecia que um furacão havia passado por lá.
Os pratos que deixei estavam no chão, ainda bem que eram de plástico e não quebraram. A comida estava espalhada pela mesa de centro, as almofadas jogadas, a manta de Dom foi parar do outro lado do cômodo.
Meu filho pulava no sofá preto com um dos bolinhos primavera na boca.
- Camila… Deixamos o seu filho sozinho por três minutos. - A loira falou, embasbacada.
- Caralho Dom! - Exclamei. - Precisamos limpar isso! Lauren vai me mandar dormir no sofá se ver essa bagunça.
- Camila, acho que temos um problema maior que esse. - Ela apontou para meu filho que agora colocava uma moeda na boca.
Corri até ele e enfiei meu dedo ali, puxando a moeda e o fazendo chorar um pouco. Perguntei quantas ele havia comido mas o pestinha não falou. Mandei Dinah contar o troco e logo ela me disse que estava faltando quinze centavos.
- Ele engoliu. - Concluí. - Lauren vai me matar! Precisamos levar ele no hospital!
- Ele vai cagar. - Minha amiga falou. - Pelo menos ele vai fazer algo de valor, literalmente cagar dinheiro. - Começou a rir, idiota.
- Vai se foder, Dinah Jane!
Peguei meu filho no colo e o coloquei dentro de um cercadinho próprio para crianças. Ele logo se distraiu com os brinquedos. Saí arrumando toda a bagunça e comemos o que havia sobrado da janta anterior, já que Dom fez o favor de comer os bolinhos e jogar o resto na mesa, deixando cair um pouco no tapete.
Eu tive que dar um fim no tapete preferido de Lauren, então apenas o pendurei lá fora e falaria para ela que Dom havia derrubado leite e que lavaria assim que amanhecesse. Depois de limpar tudo, eu e minha amiga voltamos a contar o dinheiro, estava dando errado ainda.
Lauren vai comer o meu rabo. E eu nem comi o dela!
Ai, Camila, que coisa ridícula para se pensar logo agora.
Passamos algum tempo discutindo desculpas esfarrapadas e que atitude tomar, vi meu filho jogado em meio aos brinquedinhos, quase pegando no sono. Coloquei Dominic para dormir logo depois de dar o remédio para ele. O garotinho estava exausto e com um pouquinho de febre.
- Caralho… Como vou explicar isso para Lauren?
- Você precisa contar a verdade.
- Não! Se eu falo, eu morro! - Disse enquanto seguíamos para a cozinha.
Fui pegando o resto das caixinhas que estavam ali e fui colocando na sacola para amanhã jogar na lixeira, quando me dei conta de que estava faltando a caixinha com molho extra. Peguei a nota em minhas mãos e falei para Dinah se aproximar.
- Dinah, você comeu todo o molho extra? - Logo nos pusemos a olhar a notinha. Não havia molho extra ali, então os quinze centavos que era o preço dele, foi dado para o cara por engano.
Logo o troco estava certo. Não me culpem, eu não estou mais raciocinando direito.
Eu e minha amiga nos jogamos no chão, aliviadas por saber que meu filho não tinha engolido moeda alguma. Encostei a bochecha não piso frio, sentindo-me muito aliviada por saber que não dormiria no sofá e que Lauren não me mataria.
- Só para ter certeza. - Dinah falou. - Vamos passar um imã na barriguinha dele, assim vai atrair o metal e teremos certeza absoluta de que ele não engoliu nada.
Pegamos enfeite de geladeira e partimos para o quarto do meu filho. Ela levantou a camisetinha do Flash e começou a passar o imã por aquela região, eu rezava para que nada fosse atraído. O garotinho respirava com dificuldade, devido à constipação de seu narizinho. Tadinho do meu bebê.
- Não estou sentindo nada. - Falou.
- Então não tem nada.
- Ou é uma moeda canadense. Se for, o imã não irá adiantar.
- Pare de me assustar! Não aconteceu nada! - Insisti.
Ouvimos o barulho da porta, minha esposa havia chegado. Nós duas entramos em pânico, sem saber o que fazer. Dinah ajeitou a camisetinha de Dom e foi para perto da janela.
- O que eu faço?
- Fala a verdade! - Abriu o vidro e passou uma perna.
- Você vai fugir? - Perguntei desesperada.
- O filho é seu, a mulher é sua! Eu que não vou ficar para ver a fúria de Lauren. E não me mete nisso aí não. Se-
Ouvimos passos pelo corredor. Os saltos dela faziam barulho mais alto conforme se aproximava do quarto. Ao que tudo indicava, ela havia entrado na cozinha.
- Se Normani descobre, ela vai achar que eu não sei cuidar de criança!
- Mas você não sabe mesmo! - Exclamei enquanto ela passava a outra perna pelo beiral.
- E nem você! - Sussurrávamos uma para outra com desespero. - Fala a verdade! É o certo!
- Você quer me dizer o que é certo, enquanto foge pela janela da minha casa?! - Lauren voltou a caminhar pelo corredor, se aproximando cada vez mais.
- Shhhhh!!!! - Ela falou, fazendo gesto com as mãos. - Fala a verdade!
E saiu correndo em direção ao carro. Assim que terminei de fechar a janela, senti a presença dela atrás de mim. Rapidamente me virei, ela estava com uma aparência cansada e um pouco desconfiada.
- Oi amor. - Ela falou e se jogou em cima de mim, rapidamente a segurei. - Como ele está?
- Ahn… Um pouco de febre, mas dei o remédio e agora ele está dormindo. Chorou bastante.
- Conseguiu cuidar dele direito? - Senti uma pontinha de surpresa em sua fala.
- C-cuidei. Por quê?
- Nós duas sabemos que você é ótima para fazer bagunça com ele. - Ela saiu de meus braços e foi até o berço. - E péssima para tratar da saúde dele. - Revirei meus olhos.
Lo se abaixou para beijar a testa de nosso filho e cantarolou uma música para ele. Eu não me cansava de admirar aquela cena. Me aproximei abraçando-a por trás e apoiei meu queixo em seu ombro.
Lauren tinha uma voz maravilhosa, aliás, tudo nela era maravilhoso.
- Vamos deixá-lo dormir agora. - Sussurrou.
Abaixei-me e ergui suas pernas, pegando-a no colo. Lo reprimiu um gritinho assustado e logo se pôs a rir baixinho, passando os braços pelo meu pescoço.
- Que tal eu preparar um banho para você? - Falei em seu ouvido, enquanto ia até nosso quarto.
- Hm… - Resmungou e beijou meu pescoço, arrepiando-me. - Acho uma ótima ideia. Estou exausta.
E ela realmente estava. Lauren trabalhava bastante e se desdobrava em duas para dar conta de cuidar de Dom. Eu a ajudava em tudo que podia, mas estava difícil para nós duas. Quando ela descobriu estar grávida, tinha acabado que conseguir um emprego.
Ela ficou muito assustada com a ideia de ser mãe e mais assustada ainda ao perceber que poderia perder o emprego por estar em gestação. Não aconteceu, mas foi um período difícil para nós, ainda mais para ela que chegava em casa tão cansada que mal me dava atenção.
- Posso fazer massagem em você e preparar algo para você comer. - A coloquei de pé no banheiro.
- Eu amo tanto você. - Falou e seus olhos se encheram de lágrimas.
- Lo? - Comecei a me assustar, não entendia porque ela estava tão triste. - Amor, o que está havendo?
- Quando eu engravidei. Pensei que você fosse me deixar por eu não estar com o corpo do jeito que você gosta e porque não estava em nossos planos ter filhos. Você lembra, né? - Claro que eu me lembrava, perdi as contas de quantas noites virei consolando-a e a garantindo que não iria deixá-la.
A mordida não impedia um alfa abandonar seu ômega, apenas não deixava que nos apaixonássemos por outras pessoas. Podem imaginar o que isso causou na cabeça de uma ômega recém empregada e com hormônios em fúria.
- E quando ele nasceu, achei que você iria me deixar porque eu dava mais atenção ao Dom do que você. Muitas vezes você veio até mim em busca de carinho e eu te dei patadas… Por que estava irritada com você por motivos que nem existiam. - Enxuguei as lágrimas dela.
- Amor, tudo isso já passou. Você não tinha que pensar nisso naquela época e não tem que pensar nisso agora. Eu estou aqui, e não sairei do seu lado.
- Exatamente. - Soluçou. - Depois de tudo, você ainda está aqui, preparando banhos para mim, cuidando de mim.
- Anjo, eu amo você. Sempre vou cuidar de ti. E do nosso filho. - A puxei para um abraço e ela logo escondeu o rosto em meu pescoço.
- Eu lembro… - Ela sussurrou.
- De quê? - Fiz carinho em suas costas.
- De quando eu brigava com você e ainda assim, quando chegava em casa, meu banho estava pronto e quando eu saía do banheiro, você já havia feito algo para eu comer. E nesses dias eu estava tão revoltada com qualquer motivo, que eu sequer agradecia.
- Não tem o que agradecer, anjo, porque eu não fiz nada disso querendo algo em troca.
- Porra eu te amo demais! - Atacou meus lábios.
Ficamos um tempo ali, só nos beijando. Tirando um tempo para namorar, apenas sentindo a companhia uma da outra. Eu amava aquela mulher e tê-la em meus braços era tudo que eu podia querer. Não precisava de mais nada além dela e de meu filho.
- Tome seu banho. - Dei um rápido beijo em seus olhos, secando com meus lábios as lágrimas que escorriam.
Fui até a banheira e liguei. Não iria demorar a encher. Deixei minha mulher e fui fazer algo para que ela pudesse comer. Ela jantou e deitamos na cama, colei meu corpo no dela e rodeei sua cintura com meu braço, aquecendo-a com o meu corpo.
Não demoramos a apagar completamente. Mas como acontecia desde o dia vinte e sete de outubro do ano passado, Dominic acordou de madrugada. Ômegas são muitos sensíveis aos filhos, sempre se antecipando em tudo que acontecia em relação seu filhote.
Então não foi surpresa notar que Lauren já não estava na cama quando ouvi o resmungo de Dom, pude ouvi-la andando pelo quarto dele e falando coisas fofas com aquela voz fina que todos os ômegas gostam de fazer para crianças.
- Vamos trocar a fralda? - A ouvi dizer. Revirei na cama e deitei em cima de seu travesseiro, sentindo o cheiro dela. - Dom, o que é isso? Uma moeda?
Saltei na cama. Fodeu.
- Camila Jauregui! Pode vir aqui um minuto?
Alguns anos depois
Lauren
Incrível como o tempo passa rápido. Meu filho se formaria hoje no ensino médio, era seu último dia de aula. Abracei meu próprio corpo e entrei em seu quarto, que estava com caixas espalhadas pelo chão e com malas cheias de roupas.
Dominic havia entrado sido aceito em Yale, Columbia e Harvard, sendo essa última a que ele escolheu fazer. Meu filho queria ser médico e a faculdade em Cambridge, no estado de Massachusetts era a melhor do mundo.
Como toda mãe, me senti orgulhosa e muito feliz por meu filho. Ele tinha muito de Camila. Aliás, ele era a versão masculina dela, a única coisa que ele tinha em comum comigo eram os olhos e uma outra coisinha que me fez rir muito quando descobri.
Meu filho era apaixonado por uma nerd também.
Quando matriculamos Dom na Byrne, logo no primeiro ano ele já se dedicou inteiramente aos estudos, participando de aulas extras curriculares, sendo monitor de biologia avançada, chegou a entrar para o time de basquete nesse último ano. Até o amor pela biologia ele tinha em comum com Camila.
Outra coisa que ele herdou totalmente de mim, foi o fato dele ter se apaixonado por Aline. A ômega era pequena e magrinha, tinha os cabelos castanhos lisos até um pouco abaixo do ombro, usava óculos pretos gigantes e sempre estava usando uma camiseta de super herói. Tinha o jeitinho de minha Camz.
Tanto eu quanto meu filho, éramos apaixonados por uma nerd. Bom, fora isso, eu e ele não tínhamos nada em comum, ele sempre se interessou pelas mesmas coisa que minha alfa, todos os dias ele acordava cedo para correr com ela e eles treinavam Muay Thai juntos todos os sábados.
Sentei-me na cama dele e continuei olhando ao redor, meu filho sairia de casa para ir para faculdade. Agora eu entendo o drama de meu pai e as lágrimas de minha mãe. Eu estava aprendendo que não criamos filhos para nós, mas sim, para o mundo.
Uma hora eles precisam se desprender de nós e seguir o próprio caminho. Eu estava orgulhosa do alfa que eu e meu amor criamos. Ele era educado, inteligente, persistente, um tanto teimoso, mas um excelente garoto.
Era o tipo de alfa independente, Dominic sabia cuidar de uma casa, fazer comida, lavar a própria roupa, não passaria dificuldade nenhuma morando sozinho, sem contar que ele tendo que se virar em um estado diferente, seria de grande ajuda para o crescimento individual dele.
Seu Alpha Interior ainda não havia maturado. Ora, ele ainda era o meu bebê. Sequei as lágrimas que escorriam de meus olhos, como eu era idiota, Dominic estava apenas indo para a faculdade. Do outro lado do país.
Suspirei e abracei meu corpo novamente. Meu garoto faria dezoito anos em outubro. Até ontem ele desenhava nas paredes de meu quarto. Ouvi o barulho da porta e um resmungo, parece que meu garoto não teve um dia bom.
Fui até a cozinha e o encontrei virando uma de suas inúmeras garrafas de água. Esperei que ele terminasse e notasse minha presença.
- Mommy! - Exclamou surpreso ao se virar e me ver apoiada na ilha. - Por que estava chorando?
- Quem falou que estava chorando? - Ri um pouco.
- O ruim de ter seus olhos verdes, é que assim como você, eu não consigo esconder meus sentimentos. Meus olhos dizem tudo e bom, seus olhos são tão expressivos quanto os meus.
Se aproximou de mim enquanto falava e me abraçou, afundei meu rosto em seu peitoral forte, sentindo o maravilhoso cheiro amadeirado. Meu filho era um pouco mais alto que nós e aparentava ser mais velho do que realmente era.
- Moms se isso é por conta da faculdade eu-
- Está tudo bem, meu amor. - Sorri segurando em seu rosto. - Eu vou me acostumar com o tempo… Mas agora me conte. - Sentei-me na banqueta. - O que te aborrece tanto?
- Ah. - Bufou e sentou ao meu lado. - A Aline. Eu não a entendo, sabe? Ela acha que tudo é lindo, que tudo são flores. Aquela garota não perde a calma com nada!
Sorri um pouco. Eles não eram um casal, meu filho nunca teve coragem de dizer à ômega o que sente por ela, por mais que eu e Camila o tenhamos aconselhado. Aline era uma garota muito independente, assim como minha alfa foi quando tinha aquela idade e o fato dela não precisar de Dom para nada o deixava um pouco frustrado.
Não frustrado do tipo “ela tinha que precisar de mim” mas sim como “eu queria ter a oportunidade de ajudá-la com algo, mas ela não precisa de ajuda para nada”. Nem mesmo quando ela entrava no cio, ele não se oferecia para passar com ela, a timidez que Camz tinha, agora era fardo dele.
A diferença era que eu me atirava para Camila, Aline não se atiraria para ele nunca! Então as coisas complicavam um pouco mais para o meu alfa. Bom, ambos iriam para a mesma faculdade, estudar a mesma coisa. Quem sabe não se desenrolam por lá.
- Meu último dia de aula foi horrível, quebrei o cadeado do armário sem querer, tive que pagar com as minhas economias e para piorar, o carro deu pau no meio do caminho! Ela estava comigo, Mommy, fiquei morrendo de vergonha!
Prendi uma risada porque sabia que se soltasse ele ficaria irritado. Eu tinha certeza que Aline sequer se importou.
- Aí claro que eu fiquei irritado, depois de dar um tranco, ele voltou a pegar. Mas nisso eu já tinha soltado uns palavrões. E tive que aturar ela falando “Dom, linguagem” o tempo inteiro. Porque ela detesta que eu fale essas coisas. - Bufou e passou a mão pelos cabelos. - E para fechar com chave de ouro, quando a deixei em casa, ela ainda me disse “Seja grato pelos dias ruins, Dom.” Meu dia foi uma bosta! E ela quer que eu seja grato? Vou por agradecer pelo quê?
Levantou-se da bancada e abriu a geladeira. Fiquei quieta, apenas acompanhando seus movimentos e pensando em suas palavras. A ômega estava correta, afinal, sem dias ruins, como saberíamos quando tivéssemos um dia bom?
Talvez o motivo de Aline nunca ter se interessado muito por Dom, seja o fato dele ser muito imaturo perto dela. Aquela ômega, pelas coisas que meu filho me contava, ou já havia se desenvolvido, ou estava quase lá.
- Eu não quero comer isso. - Murmurou, ainda com a cabeça enfiada na geladeira.
- Já parou para pensar no que acabou de dizer?
- Como? - Disse tirando uma tigela com lasanha.
- Essa sua frase. “Eu não quero comer isso”, já pensou na sorte que tem?
- Não estou entendendo aonde quer chegar. - Franziu o cenho enquanto colocava um pedaço da lasanha no prato.
- Você tem a sorte de abrir uma geladeira. Tem sorte em poder escolher o que vai comer. Já parou para pensar que muitos ao redor do mundo, não tem esse luxo?
Meu menino baixou os olhos para a pedra, pensando no que eu havia acabado de dizer.
- Só isso já é motivo para agradecer, Dom. - Me levantei. - Muitos adorariam ter levantado da cama com saúde para ter um dia ruim. - Aproximei-me dele. - Muitos, no hospital em que você vai trabalhar futuramente, dariam tudo para levantarem da maca e terem um dia ruim. - Dei um beijinho em sua bochecha. - Pense nisso. Era isso que Aline queria que você enxergasse.
[...]
Camila chegou um pouco mais tarde naquela noite, deixando-me angustiada já que no dia seguinte, bem cedo, Dominic iria embora. Pulei no colo dela assim que ela terminou de trancar a porta e a enchi de beijos. Eu precisava dela, agora mais do que nunca.
- Amor, calma. - Ela sabia muito bem o que estava por trás de todas as minhas lágrimas, eu havia passado a semana toda em prantos. - Vai ficar tudo bem, nós ficaremos bem, ele ficará bem.
- Seis anos, Camila. Ele vai ficar fora seis anos!
Esse foi o período que eu e ela levamos para completar nossa formação. Quando terminamos a graduação em Yale, ela foi para Columbia fazer a pós em biologia molecular e eu fui para Julliard, me especializar em fotografia cinematográfica.
As instituições ficavam apenas há vinte minutos de distância uma da outra, então alugamos um pequeno apartamento para passarmos os dois anos que teríamos ali. Foi quando moramos juntas pela primeira vez e foi perfeito.
Depois de concluir os estudos, voltamos para Miami e aqui estamos, mas planejamos nos mudar para Los Angeles em seis meses. Camila provavelmente seria transferida para o centro de pesquisa de lá e como L.A é onde fica a maioria dos estúdios de cinema, por causa de Hollywood, seria muito mais vantajoso para mim.
Deitamos na cama e ela ficou ali, quietinha apenas me fazendo carinho e ouvindo meus lamentos. Era tão bom tê-la perto de mim, sentir o calor de seu corpo e apreciar sua calmaria. Apoiei melhor minha cabeça em seu peito, ouvindo o coração dela bater tranquilamente.
- Lembra quando nos unimos? Alguns meses antes de você me dizer que estava grávida?
- Como me esqueceria da nossa união, Camz? - Apertei mais meu braço ao seu redor e sorri com a lembrança.
A união, nada mais é do que assinar papéis, dizendo que você encontrou seu complemento e está vivendo com ele. Porém, o que deixava isso especial era o costume de viajar a sós com seu cônjuge para um lugar diferente. Eu e ela escolhemos Bonito, no Brasil. Uma cidade maravilhosa, pequena e pacata.
Conhecemos tantas cachoeiras e mergulhamos para ver a beleza escondida dentro de vários rios. Mas foi na mais bonita das cachoeiras, que ela me disse as palavras mais doces que poderia ter dito. Foi naquele lugar que Camila abriu completamente seu coração e com lágrimas nos olhos, eu a beijei apaixonadamente.
- Como eu já te disse, O pequeno príncipe é um dos meus livros favoritos. Quando eu não tinha ninguém, eu evitava lê-lo. Porque eu não entendia praticamente nada do que ele falava e só me fazia sentir-me pior, porque eu tinha a convicção que nunca teria uma ômega para compartilhar aquelas palavras. A famosa frase clichê “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” nunca fez sentido para mim, porque nunca me senti responsável por ninguém além de mim mesma.
A água gelada passava por baixo de nossos corpos, já que estávamos sentadas em uma pedra quase abaixo da queda d’água. Temperatura fria era refrescante, o sol aqui estava castigando mais do que em Miami.
- E então você apareceu. E eu fiquei completamente perdida, por não sabia o motivo de eu ter ficado tão irritada e tão… Esquisita. Eu te queria cada vez mais perto de mim, mas eu sequer te conhecia. - Sorriu e suas bochechas coraram. - Te queria tanto que mesmo sem saber direito quem você era, aceitei passar o seu cio. Eu te cativei e então percebi que era responsável por ti. Era eu quem tinha que te cuidar, te amar e proteger. Você era uma ômega igual a todas as outras, mas você me cativou e então passou a ser única para mim.
A essa altura eu já tinha derrubado mil lágrimas. Ela falava com tanta sinceridade e simplicidade, como se estivesse finalmente entendendo tudo o que passamos juntas.
- Quando eu percebi que te amava, eu busquei me amar primeiro, porque só assim eu saberia te cuidar, ouvir suas queixas, secar suas lágrimas, sorrir com suas gargalhadas. Você estava inteira e eu, pela metade, não seria justo entrar totalmente em uma relação com você sem eu estar inteira também. Então completei-me a mim mesma, para transbordar contigo.
Ela riu um pouquinho e secou as lágrimas que caiam dela. Era tão raro vê-la chorar, Camila não gostava muito de compartilhar fraquezas, eu gostava de ver que ela confiava tanto em mim, a ponto de abaixar a guarda.
- Eu sou a pessoa mais sortuda do mundo por te ter como minha mulher. E eu não preciso prometer que estarei sempre ao seu lado, porque você já sabe disso. Lauren, você é o amor da minha vida e pode-se passar mil anos, eu não sairei do seu lado.
- Você disse que não sairia do meu lado. - Sentei-me e sequei as lágrimas que caíram ao lembrar daquelas palavras. - E que me amava.
- Eu disse que você é o amor da minha vida. E isso não mudou, estou aqui amor e Dom também. Ele vai, mas volta. Assim como nós voltamos.
- E partiremos de novo. - Ri em meio ao choro, relembrando-a do nosso plano de ir para Los Angeles.
- E então ele partirá de novo, mas sempre levará nós dentro daquele coração, assim como nós sempre levaremos ele dentro do nosso.
Abracei minha esposa e a beijei. Nunca me cansaria dos beijos dela, nosso amor era forte, bonito e imenso, como o oceano que habita meus olhos, e agora, os olhos de nosso filho.
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