História Bem me quer - Mal me quer?

Taehyung se aconchegou melhor dentro de seu moletom quando uma rajada de vento frio passou por si. O estádio da escola era ao ar livre e estava cheio de alunos que precisavam participar dos jogos noturnos para ganharem nota. O cheiro da pipoca doce e dos burritos faziam seu estômago embrulhar.

Estava ansioso por Jungkook.

Conseguia ver o mais novo dentre todos os outros jogadores, inclusive Namjoon e Jimin, que se abraçavam para tentar afastar o frio. Jungkook parecia nervoso, mordendo os lábios e esfregando a palma da mão na testa; ele só queria poder descer até ao amigo e fazer um carinho em seu lóbulo. Isso sempre o acalmava.

Escutou o apito para iniciar o jogo quando alguém se sentou ao seu lado, no entanto, ele já estava se levantando para conseguir enxergar melhor.

Viu Jungkook olhar para as arquibancadas com ansiedade, parecendo procurar alguém. Uma pequena chama de esperança acendeu-se no seu coração, o acelerando, quando Jungkook sorriu e acenou na sua direção, mas antes que pudesse devolver o cumprimento, a pessoa ao seu lado o fez.

Yeri olhou para si e sorriu.

Seria um longo jogo.

...

Chutou uma ou duas pedrinhas do lado de fora do vestiário. Um dos alunos do primeiro ano saiu correndo pelos corredores, gritando sobre a vitória da escola. Taehyung sorriu feliz pelos amigos. Tentava abafar a sensação estranha e amarga na base de sua língua ao se lembrar do abraço que Yeri deu no amigo ao fim do jogo. Taehyung costumava fazer isso, mas agora parecia certo de menos e dolorido demais.

- Eu disse que íamos ganhar – escutou a voz de Namjoon se aproximando, tratando logo de afastar qualquer resquício de tristeza de si e abrindo o melhor sorriso que conseguiu. – Ah, Tae! Você viu como meu namorado estava arrasando hoje?

- Hm, eu vi, assisti de camarote quando ele foi derrubado no chão.

Jimin fez uma careta ofendida e Taehyung riu.

- Aquilo doeu.

- Oh, bebê, você quer uma massagem?

- Vai fazer uma massagem na bunda dele? – Jungkook apareceu rindo e Taehyung quase teve um infarto no miocárdio, pois o mais novo com os cabelos úmidos e a blusa colada no peitoral era demais para si.

- Essa sim parece uma ótima ideia! – Jimin encostou Namjoon na parede e o beijou.

Taehyung afastou-se bufando e pela primeira vez na noite encontrou os olhos de Jungkook sobre si. Era estranho... Eles estavam tão perto, mas pareciam tão distante. Todos os anos de amizade, segredos compartilhados, ombros amigos, tudo parecia ter ficado em um passado distante e tudo o que lhes restava agora era a maldita sensação de desconhecidos.

Taehyung pigarreou olhando para o outro lado. A intensidade de Jungkook sempre lhe atraiu, mas ali e agora o deixava quente.

- Parabéns pelo jogo – disse baixinho, enfiando as mãos no bolso da calça.

- Obrigado. Eu não sabia se você ia vim...

Taehyung o olhou com o cenho franzido.

- Eu disse que viria.

- Você parece distante – viu Jungkook morder os lábios, sabendo que ele só o fazia quando estava incomodado com algo – Aconteceu alguma coisa?

- Não.

- Eu te fiz alguma coisa? – sua voz saía fraca, como se ele fosse chorar a qualquer instante.

- Não Jungkook. Eu tô bem.

- Não parece – o loiro respirou fundo quando Jungkook se aproximou, tocando sua bochecha com as mãos quentinhas. As mãos dele sempre estavam fervendo; Taehyung fechou os olhos por alguns segundos – Por favor, Tae... Me diz o que está havendo. – sussurrou, implorando por alguma coisa.

Taehyung franziu o cenho. Eles estavam próximos. Perto demais. Taehyung sentia a respiração quente do outro bater na sua bochecha, enquanto mantinha os olhos presos no chão. Tinha medo de olhá-lo nos olhos. Tinha medo de mostrar demais, e pior, tinha medo de não encontrar nada de reciprocidade nos olhos de Jungkook. Parecia mais fácil apenas mentir, fingir que estava bem, que seu peito não ardia e que andava chorando demais esses dias.

Parecia mais fácil mandar Jungkook ir embora do que vê-lo partir por si próprio.

- Eu... Eu só... – se afastou, finalmente percebendo que os dois amigos já não se beijavam mais e que prestavam atenção na conversa deles. A mão de Jungkook pendeu para o lado do corpo e ele parecia imensamente triste por não tocá-lo mais – O inverno chegou Jungkook – sorriu triste – Ninguém fica feliz no inverno.

...

- Você se lembra de quando eu machuquei o pé quando éramos crianças?

Taehyung e Jungkook estavam sentados no meio fio em frente à casa do mais velho. Já era mais de meia noite e o lanche que eles haviam comprado no caminho para casa estava frio.

O loiro riu fraco. É óbvio que ele se lembrava.

- Você me fez comprar bandeid do homem aranha. Estava chovendo e você chorou porque só queria limpar o machucado se tivesse o bandeid do homem aranha em especifico. Meu Deus Jungkook – riu mais – Você era tão mimado.

- Ei! – recebeu um empurrão no ombro, mas Jungkook acabou rindo também – Eu era né?

- Muito.

- Mas você foi comprar mesmo assim – comentou sorridente – Gastou o dinheiro do seu cofrinho comigo.

- Claro que sim.

- Por quê?

Porque eu te amo.

- Porque eu sou mais velho – mentiu – Preciso cuidar de você.

Jungkook sorriu grande, aquele sorriso que desmontava Taehyung por inteiro. O loiro esfregou os dedos na testa do mais novo antes de tirar o cabelo dali e Jungkook sorriu mais ainda. Taehyung decidiu que se não conseguia se declarar para ele, iria tê-lo como amigo ao menos.

- Você sempre cuida tão bem de mim... – Jungkook segurou a mão do mais velho entre as suas e as esquentou com um assopro. Taehyung engoliu seco e fechou os olhos – Eu te amo, Tae.

O loiro abriu os olhos no mesmo instante. Fitou Jungkook com a boca entreaberta, tentando decifrar aquela intensidade dos olhos dele sobre si. Jungkook não estava sorrindo, não parecia estar brincando e pela primeira vez Taehyung não entendia o que aquelas três palavras significavam realmente.

- Não pense demais – Jungkook sussurrou, aproximando o rosto do seu. Taehyung já não estava mais sentindo o próprio corpo. O que estava havendo?

- Jungkook...

- Não... – ele engoliu seco, olhou para os seus lábios, olhou para os seus olhos novamente e umedeceu os próprios lábios com a língua – Não me afasta novamente. Não sei se aguento viver sem você.

E então ele o beijou.

Na bochecha.

Durou no máximo um segundo, mas foi o suficiente para deixar Taehyung todo vermelhinho, tremendo e com o coração acelerado.

Jungkook riu baixinho ao notar o nervosismo do outro e se afastou.

- Continue cuidando de mim hyung, gosto disso.

- T-tudo bem.

Olharam para as estrelas. De um lado, um garoto todo quente e nervoso, do outro, um adolescente cheio de certezas e felicidade.

Mais uma vez estavam a beira de cair no precipício, mas não tinham certeza se seria tão ruim assim.

Taehyung foi para casa depois de deixar um Jungkook sonolento na dele. Tirou o casaco e o jogou no chão do quarto. Pegou a flor amassada debaixo do seu travesseiro e olhou na direção da janela do outro enquanto retirava mais uma pétala.

- Mal me quer?