Pov. Emily
Rafael havia dormido assim que o silêncio se pois no ambiente. Minha cabeça não parava de pensar naqueles tweets, não conseguia descansar novamente, precisava de um longo banho. Levantei silenciosamente da cama, tentando não acorda-lo por acidente, e deixei um beijo em sua testa, desaparecendo pela porta. Tudo que eu queria nesse momento era desaparecer.
Fui ao quarto no qual eu estava hospedada, buscando a mala onde estavam minhas roupas. Assim que um conjunto estava em minha mão, busquei uma toalha no fundo, e me direcionei de volta para o corredor. Sentia meu corpo pesar conforme eu caminhava por ele, tentando imaginar o caminho que eu e Rafael havíamos feito até o meu quarto, e não era tão difícil de se lembrar onde estava o banheiro.
Entro no banheiro, e como o quarto, estava tudo arrumadinho. Havia fechado a peita bem lentamente, para não fazer nenhum tipo de barulho. Era provável que a dona Deya já estava em casa, e de nenhuma maneira gostaria Dela pensar absurdos sobre mim. Coloquei a roupa em cima da tampa da privada, e a toalha na vidraça do box. Liguei o chuveiro e logo uma água morna se chocou contra a minha pele, enfiei a cabeça debaixo da água e deixei escorrer tudo que eu estava sentindo.
Me ensaboei e deixei a água tirar o sabão do meu corpo, era como se eu estivesse me livrando de tudo que eu passei, como se estivesse lavando a minha alma. Minha cabeça doía e meus olhos ardiam devido às lágrimas que escorriam involuntariamente pelo meu rosto. Tentei parar e consegui, respirei fundo, precisava ser rápida. Desliguei o chuveiro e sai do mesmo, enrolei meu corpo na toalha me enxugando rapidamente. Coloquei minhas roupas íntimas, colocando por cima uma calça larga e uma blusa com o número 85 no meio. Enrolei meu cabelo na toalha e sai do banheiro. A fumaça se decepou no ar e logo havia só uma camada de ar quente fluindo pelo corredor. Fui até meu quarto e deixei a roupa lá, passei um creme em meu cabelo e penteei ele rapidamente.
Peguei meu celular para olhar as horas e ele já havia acabado de carregar, tirei ele da tomada e vi que havia vários comentários no Twitter, provavelmente daquele Tweet, e eu não queria saber, Rafa já havia me contado. Resolvi ignorar, coloquei o celular no bolso e sai do quarto.
Resolvi deixar o Rafael dormir mais um pouco, ele parecia cansado. Desci as escadas silenciosamente, a luz da cozinha estava acesa, provavelmente era a mãe dele. Senti meu corpo todo gelar, o que eu falaria "Olá dona Deya, sou eu, a Emily! Então, eu estou morando com seu filho. Mas relaxa não fizemos nada além de dormirmos juntos e trocarmos o melhor beijo da minha vida".
— Merda... — pensei ter dito baixo, mas parece que minha voz saiu em um tom mais acima do que eu esperava.
— Filho? — a voz vinha da cozinha. — Rafa é você?
Droga! Ela me ouviu...
Continuei descendo as escadas, e quando estava no final dela, a Dona Deya apareceu, estava enxugando as mãos em um pano de prato. Ela me olhou como se não estivesse entendido o que eu estava fazendo ali, parando no mesmo instante de caminhar, e apenas aguardou algum movimento da minha parte.
— Emily? — perguntou, com a nítida confusão no olhar.
— Oi, Tia Deya! — tentei dizer o mais normal possível, vendo suas expressões se acalmarem. — Tudo bem com a senhora?
— Oi, querida!
Deya se aproximou de mim, carregando um simples sorriso no semblante. Seus olhos estavam fixos nos meus, mas me passavam conforto, esse encontro não foi tão ruim como eu pensava que seria. Quando estávamos uma de frente para outra, ela jogou o pano sobre o ombro direito, erguendo os braços em minha direção e me envolvendo em um abraço.
— O que está fazendo aqui? — perguntou, ainda me abraçando. — Rafa não me disse que dormiria aqui.
— Foi um imprevisto. — suspirei pesado. Deya separou um pouco de mim, segurando em meus ombros, e olhou profundamente em meus olhos. — Me desculpe, eu acabei passando a noite aqui.
— Você sempre será bem-vinda. — ela falou, me fazendo dar um fraco sorriso. — O que aconteceu? Quer me contar?
Ela é muito compreensiva. Nós nos sentamos no sofá e ela me ofereceu um copo de suco de limão e um pedaço de bolo de chocolate, que eu acabei recusando. Expliquei tudo o que havia acontecido, deixando para trás apenas a parte em que eu e Rafael nos beijamos e dormimos na mesma cama, não achei necessário dizer essas coisas.
Ela acabou concordando em me deixar ficar temporariamente, até que eu pudesse arrumar outro lugar. Nunca havia me sentido tão acolhida, o que me deixou realmente muito feliz por estar com essa família. Deya me tratou como uma filha e eu me sentia radiante.
Ela acabou me deixando lá na sala sentada no sofá, fora preparar o almoço. Me inclinei um pouco para frente, para poder alcançar o controle remoto, mesmo estando muito envergonhada por fazer dessa casa meu lar, eu queria uma distração. Havia colocado em um canal de desenho, que estava passando Bob esponja, amava aquele desenho quando criança.
Ajeitei-me sobre o sofá, colocando um dos travesseiros sobre o colo e o controle ao meu lado. Havia assistido alguns episódios, parecia ser uma marotana desse desenho, quando pude escutar a porta do quarto se abrindo, provavelmente era o Rafael.
Seus passos lá em cima pareciam apreçados, como se procurasse algo, acabei ignorando e voltei a prestar a atenção em meu desenho. Logo ouço ele descer quase correndo as escadas, passou por mim pela sala e nem me notou. Sorri ao ver seu cabelo bagunçado e ele enfiado dentro da mesma calça de moletom e sua blusa de frio de panda, parecia tão normal, não como se fosse o cara que todos amam.
Rafael foi até a cozinha, dando um beijo na bochecha de sua mãe, como uma forma de bom-dia. Achei intrigante a forma como ele parecia preocupado, por isso havia abaixado um pouco o volume, para poder escutar o que ele estava exclamando para sua mãe. Eu já tinha uma ideia do que ele iria perguntar, mas queria poder ouvir por mim mesma.
— Mãe, passou alguém por aqui? — perguntou, apoiando-se na pia.
— Emily já me explicou, Rafa. — Deya respondeu, sem ao menos olhar para ele. — Já conversei com ela, apenas fiquei assustada quando a vi, você deveria dito que ela ia morar conosco.
— Você não havia chegado ainda, e a ligação dela havia me pegado de surpresa. — ele admitiu, o que me fez ficar um pouco envergonhada. — Me desculpe, mas o que você queria que eu fizesse? Deixasse ela lá.
— Mandasse uma mensagem pelo menos. — Deya o olhar rígido. — Mas agora já foi, filho.
— Desculpe, não vai acontecer de novo. — mesmo para alguém mais velho do que eu, Rafael naquele momento parecia uma criança de doze anos e eu me senti um tanto quanto culpada.
— Assim espero. — ela sorriu, afagando lentamente o cabelo do filho. — Eu não fiquei triste por Emily estar aqui, só queria ter sabido antes. Poderia estar mais apresentável para a garota.
— Você fala como se tivéssemos algum relacionamento, fora a amizade. — mesmo de longe, percebia que suas bochechas ganharam uma tonalidade mais avermelhada e ele sorria nervoso.
— Filho, eu não nasci ontem. — sua voz diminui um pouco, eu não conseguia escutar direito o que ela falava. — Eu via os olhares que você dava para Emily.
— Mãe! — ele exclamou, olhando para um lado e para o outro, antes que volta-se seu olhar para Deya. — Fale baixo, quer que ela escute?
— Ela não vai escutar.
— Como assim? — ele franziu o cenho, demonstrando a confusão evidente em seu rosto.
— Ela foi embora.
— Embora? — Rafael perguntou alto. — Como assim embora? Não, as coisas dela ainda estão aí.
— Emily agradeceu a hospitalidade e disse que arrumaria um lugar para morar. — Deya explicou, e eu não consegui não sorrir com sua mentira. — Disse que era muito abuso ficar aqui, então mandaria alguém vir pegar as coisas dela mais tarde.
Ela poderia ser uma puta de uma atriz.
— Abuso? De onde ela tirou essas coisas? — Rafael suspirou pesado, esfregando o polegar com força na testa. — Deus. Vou ligar para ela.
Ele enfiou a mão no bolso, e retirou o celular de dentro dele, provavelmente procurando em sua lista telefônica o meu número. Sorri assistindo o seu desespero de me encontrar, enquanto a dona Deya apenas o aguardava fazer o que estava fazendo.
Levanto-me do sofá o mais silencioso que eu consegui, e caminhei nas pontas dos pés em sua direção. Ele estava de costas para mim, com a mão apoiada na pia, sustentando todo o seu corpo. Sua outra mão estava segurando o celular no ouvido, provavelmente escutando o barulho da chamada do meu celular, agradeço por ter deixado-o lá em cima. Espio por entre seu ombro, e olho para Deya, que sorri e disfarça olhando para o lado contrário.
— Para quem você está ligando? — pergunto, olhando-o.
— Para a Emily.
Rafael respondeu.
— Por quê?
— Por que ela foi embora.
Esperei alguns segundos, o tempo suficiente para ele entender o que estava acontecendo. Nos minutos seguintes, seus braços enroscaram-se ao meu corpo, puxando-me para um abraço um tanto apertado. Fiquei surpresa, não esperava essa reação dele, mas consegui retribuir o abraço da melhor forma que eu conseguia. Sua respiração era rápida e percebia que seus batimentos também, conseguia senti-los perto do meu peito.
— Hey, bobalhão. — disse baixo, apertando minhas mãos envolta de sua roupa. — Está tudo bem, estou aqui.
— Você me assustou. — Rafael riu fraco. — Imaginei você morando na rua, ou algo do tipo.
— Você sabe que eu sempre terei a casa do Alan. — respondo sorrindo, e ele me afasta um pouco de seu abraço.
— Eu sei, mas quero você comigo o tempo que eu puder.
O que foi isso?
Senti como se todo o ar tivesse sido arrancado do meu peito, e aquela sensação estranha na boca do estômago, dominasse tudo em mim. Estou olhando fixamente para os olhos de Rafael e imaginando como eu posso não ter estragado tudo até agora. Há poucos dias tínhamos medo de conversar um com outro de alguma forma, mas agora estamos totalmente entregues ao poderoso sentimento que nos une e isso de algum modo me assusta.
Sorri, desviando o olhar para o chão. As mãos de Rafael se afastaram de mim, e as minhas mãos caíram ao lado do meu corpo. Estávamos em silêncio. Um constrangedor silêncio, que fora substituído pela risada baixa feminina da dona Deya. Olho-a e ela está enxugando uma xícara com um pano, olhando na nossa direção com um sorriso enorme estampado no semblante.
— Vocês juntos são engraçados. — ela disse. — Parecem um casal.
— Casal?
Perguntamos juntos. Olho Rafael surpresa e ele me olha da mesma forma.
— Dariam filhos bem bonitos também.
— Filhos? — Pergunto mais ato ainda.
— Mãe! Meu Deus. — Rafael exclamou, deslizando a mão pelo rosto.
— O que foi? — dona Deya deu de ombros. — Só estou dizendo o que eu acho. Mas não quero netos agora, ainda está cedo demais.
— Concordo plenamente. — disse rápido. — Mas não somos um casal.
— Ainda. — ela me responde, e eu sorrio.
— Mãe!
Rafael estava totalmente envergonhado e eu estava engasgando de tanto rir, ele me olhou e logo um sorriso surgiu no canto dos seus lábios e lá estavam dois idiotas rindo de algo tão idiota ainda. Deya estava sorrindo descontraída de nós dois, eu precisava apoiar em algo, minha barriga doía e eu não sabia por quanto tempo pararia em pé. Fui bambeando até o sofá onde eu estava e me joguei no mesmo. Agarrei o travesseiro e torci para não rir mais alto. Senti Cellbit jogar-se em meus pés e sua risada aguda invadir meus ouvidos e quase estourar meus tímpanos. Lágrimas escorriam em meu rosto e eu tentava me controlar, eu queria de alguma forma colocá-lo no mudo, pois sua risada me fazia rir mais ainda.
Joguei-me encima de Rafael e tampei sua boca com as minhas mãos, vendo ele arregalar os olhos e rir mais ainda. Ele começou a se debater dizendo uma mistura de "Vocêestámesufocando" que deixava as coisas mais engraçadas ainda. E acabamos caindo no chão. Eu senti o chão frio em minhas costas e um peso sobre mim. Nossas risadas começaram a se cessar aos poucos, e quando finalmente desapareceu no ar eu reparei que ele estava encima de mim.
Rafael arregalou os olhos de espanto, colocou as mãos dos lados da minha cabeça e se ergueu um pouco. Seu olhar mais uma vez se chocou com o meu e lá estávamos numa disputa de o que olhávamos. Consegui ver meu reflexo em seus olhos e isso me deixou muito envergonhada, então desviei o olhar para o seu cabelo. Eu não devia sorrir com isso, mas acabei sorrindo, seus cabelos bagunçados ainda continham aquele topete perfeito e liso, tinha vontade de deslizar meus dedos por entre seu cabelo e ver aquele seu sorriso envergonhado, mas ao mesmo tempo interessado que me deixa feliz. Seu rosto era perfeito, era algo que eu não poderia descrever. Senti seus dedos deslizarem pelo meu rosto e eu me assustei, o olhei e ele me analisava em silêncio, contendo um pequeno sorriso no canto dos seus lábios, e eu sabia o que viria por ali.
Rafael começou a se aproximar e eu definitivamente congelei quando senti sua respiração novamente se cruzando com a minha, então o empurrei. Sim empurrei o Cellbit, o YouTuber, o Rafael, o Rafa, o tudo. Ele caiu ao meu lado com um olhar de surpresa e eu só sorri envergonhada erguendo uma sobrancelha.
— Desculpe-me, bobalhão...
Um rubor provavelmente tomou conta do meu rosto, que eu tentei disfarçar com um sorriso.
— Tudo bem, Amy. Eu espero.
Rafael inclinou-se um pouco, e beijou minha testa.
Fiquei sem palavras. Ele era atencioso demais comigo, e aceitava quando eu dizia não, algo que todos os homens deveriam fazer.
Levantei-me, e novamente voltei a sentar no sofá sem conseguir encara-lo. Rafael estralou a língua provavelmente frustrado e se jogou ao meu lado. Parecia que aquele momento a alguns segundos atrás nunca houvesse acontecido, nós estávamos nos divertindo tanto, e agora o silêncio que permanece.
Só agora eu reparei que começou uma maratona de Bob esponja, meus olhos se focaram na TV e um sorriso se estalou no meu rosto. Cruzei minhas pernas e me aproximei um pouco mais de Rafael, vendo ele me olhar de escanteio de olho e sorrir fraco. Eu já havia assistido aquele episódio milhares de vezes, mas era impossível não gostar daquilo. Passou um episódio do Patrick e o Bob esponja que eles estavam na lanchonete do amendo bobo, e eles pareciam ser tão feliz com apenas sorvetes e chapéus de amendoins gigantes.
Olhei para o Cellbit e percebi que seus olhos estavam focados na TV, sorri e olhei novamente para a telinha. Mas um episódio se passou e cada vez estava mais perto de Cellbit. Nesse episódio que estávamos assistindo, o Patrick queria ser inteligente, mas quando viu que iria perder o Bob esponja, desistiu de tudo para ficar ao seu lado, e a simples frase dele foi a mais perfeita de todas.
"O conhecimento não pode substituir a amizade. Eu preferia ser um idiota a ter que te perder."
Não sei o que me deu, mas eu simplesmente deitei minha cabeça em seu ombro. Não queria olhá-lo, pelo menos não agora, porque seus olhos me encaravam descaradamente e eu acabei sorrindo por causa disso. Senti sua cabeça deitar-se sobre a minha e seu braço passar por trás das minhas costas me abraçando.
Não queria respirar, não queria me mexer, pois tinha medo de estragar alguma coisa, então só fiquei parada ali, apenas assistindo Bob esponja.
POV OFF
_________________________________
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.