Regina anotou o endereço mentalmente, não queria deixar provas. E também seria uma desculpa, caso não aparecesse. Era dizer que esqueceu do endereço. Mas ela não precisava de desculpas, tinha motivos de sobras para não ir até lá, para nunca mais falar com Emma.
A fotógrafa abraçou a filha e foi acordando a pequena aos poucos. Não iria sair sem antes acordar Ivy, e dar o café da manhã para a menina. Ela teria que ir atrás de uma nova escola agora. As coisas não se resolviam, apenas se acumulavam. Fazia tempo que Regina não tinha essa sensação, de que não daria conta da situação.
– Acorda, meu anjinho – Regina deu beijos no rosto de Ivy, até a menina se espreguiçar.
– Já, mommy?
– Já, vamos levantar, tomar nosso café e que tal dar uma volta na praia?
– Na praia? – Ivy finalmente despertou de verdade. – Vamos logo, mommy, levanta, levanta. – Ela deu um beijo no rosto de Regina, e saiu correndo da cama para o seu quarto.
Regina sorriu e seguiu a filha até o quarto dela, arrumou a pequena para a praia e depois voltou ao seu quarto para se arrumar, sempre com a filha atrás dela, a apressando mais do que o necessário. Levar Ivy na praia, era a desculpa para sair de casa sem levantar suspeitas. Só precisava de alguém para acompanhar e ficar com Ivy, enquanto ela via Emma.
– Jasmine, minha prima predileta. – Regina falou sorrindo ao chegar na cozinha com Ivy.
– Lá vem. – Jasmine respondeu sorrindo.
– Morning, Jas. – Ivy disse, pegando na pia a sua xícara e sentando a mesa.
– Bom dia, minha linda. Que empolgação hein?
– Nós vamos à praia, Jasmine, você vem com a gente? – Regina perguntou enquanto servia o café e o chocolate de Ivy.
– Claro. – Jasmine respondeu sorrindo. – Vou pegar um biquíni e me arrumar, ok?
– Isso, vai lá enquanto a gente termina aqui, nos encontramos no estúdio.
– Pensei que seria só a gente, mommy. – Ivy reclamou quando ficou sozinha com Regina.
– Oh, meu anjo, mas a Jasmine é legal, uma ótima companhia e a mamãe vai precisar dar uma escapadinha. – Regina fez um carinho em Ivy. – Não dá pra ser sempre só nós duas amor.
– Tá bom, mas você vai demorar?
– Só um pouquinho, a mamãe realmente precisa ir, é importante pra nós duas.
– Vou guardar um mergulho pra gente então. – Ivy sorriu, ainda um pouco triste por não ir apenas com a mãe.
Regina deu algumas instruções para Mulan e Belle. A morena estava mal-humorada, e praticamente ignorou tudo o que Regina disse antes de sair. A fotógrafa foi com Jasmine e Ivy até a praia. Armou guarda-sol, reaplicou o filtro solar na filha, deu um milhão de avisos para as duas, e atravessou a rua para encontrar Emma.
Quando chegou, estava com medo. Olhou por todo o lugar primeiro, mas não demorou até que seus olhos encontrassem Emma. Ainda não tinha sido vista, o que deu a Regina tempo para observar a ex. Mesma pele clara, cabelos longos, olhos vivos, cheios de brilho, corpo esguio. A gravidez tinha modificado o corpo de Emma para a melhor. Ela conseguiu ficar mais mulher, mais gostosa, e todo esse tempo longe, não tinha mudado isso.
(...)
Emma olhava pela janela. Estava há horas ali esperando, enrolando o garçom, tinha fome, mas prometeu que esperaria por Regina. Apenas água tinha pedido até agora. Seu coração disparava sempre que um carro parava em frente a padaria, mas em nenhum via a fotógrafa. Será que ela viria? Quanto tempo esperar até desistir? Dispersa em seus pensamentos, ela não percebeu quando Regina se aproximou.
– Emma. – A voz saiu mais emotiva do que ela gostaria. Se repreendeu internamente por isso.
Emma foi despertada do seu transe. Diferente do dia anterior, estava mais segura. Ciente do que acontecia. Agora não tinha desmaios, nem se abalaria facilmente. Não importasse a forma que Regina reagiria.
– Regina, que bom que você veio. – Emma fez menção de levantar, mas a fotógrafa rapidamente puxou a cadeira e sentou. Sem contato físico.
– Eu tive tempo e achei melhor resolver isso de uma vez. – Agora a voz saiu fria. Isso Regina, muito melhor.
– Certo, também acho que quanto mais cedo tivermos essa conversa, melhor. – Emma seguiu com o tom calmo, um pouco balançado pela presença de Regina, mas cheio de carinho. – Podemos pedir primeiro? – Ela perguntou já chamando o garçom.
– Claro.
– Bom dia. – O rapaz disse ao chegar. Já tinha ido algumas vezes naquela mesa, finalmente teria o pedido.
– Por favor, um cappuccino com creme, duas massinhas de creme com coco, um pedaço de torta de maçã e um café preto. – Emma fez o pedido rapidamente, não deixando Regina falar. A fotógrafa ficou sem ação. O garçom anotou o pedido e saiu.
– Você se lembra de tudo. – Regina olhou de relance para Emma, mas acabou ficando presa pelo olhar da mulher.
– Já disse, nunca me esqueci. A Ivy acordou bem?
– Acordou.
– Ela tá em casa? – Emma já tinha reparado que Regina tinha um biquíni embaixo da roupa. A praia ficava do outro lado. Seria perfeito.
– Não. Você não me chamou pra isso, chamou?
– Não, Regina. Eu te devo uma explicação.
– Faz muito tempo que você não me deve nada, Emma.
– Se você realmente achasse isso, não teria vindo aqui.
Touché, Regina. O café foi servido, e para se acalmar Regina tomou um gole do cappuccino.
– Eu não sei bem como começar. – Emma resolveu falar, diante do silêncio da fotógrafa. – Eu comecei a me sentir sufocada. Eu era feliz, mas de uma hora pra outra eu me sentia sufocada, presa, triste. Eu surtei. Eu olhei para Ivy e imaginei ela morta. – Uma lágrima caiu do rosto de Emma. Regina seguia sem dizer uma palavra. – Eu não pude lidar com aquilo. Saí correndo daquele apartamento, corri até minhas pernas não aguentarem mais. Depois eu fiquei assustada, entrei em um bar e bebi tudo o que pude. É um borrão o que aconteceu depois, mas eu não fiz coisas dignas. – Ela baixou o olhar, bebeu um gole do seu café. – Acordei na cadeia em Nova Jersey, não lembro como fui parar lá. Mas sei que foi minha mãe quem me buscou, e me trouxe de volta para Storybrooke. Eu só chorava, todo o dia, toda a noite. Um dia eu parei, e eu só ria, todo o dia, toda a noite, surtei de novo, e dessa vez quando acordei estava internada em uma clínica psiquiátrica. Transtorno Bipolar eles disseram. Fiquei um tempo internada, iniciei os tratamentos com terapia e remédios. Depois vim pra casa, mas eu sempre estava instável. Foi basicamente no início do ano que as coisas começaram a melhorar. Consegui um emprego, me senti melhor, diminuí a quantidade de visitas semanais ao psiquiatra. Tirei um remédio. Fiquei estável.
Regina não sabia o que dizer. Ela olhava para Emma, o tom de culpa a seguia como uma sombra. Todos esses anos, toda essa raiva guardada, essa angústia de não saber de nada. Vivendo na escuridão. Foi assim que Regina se sentiu nos últimos anos quando o assunto era Emma.
– Lembro da sua mãe. – Regina conseguiu dizer. – Ela disse que eu tinha matado você pra polícia.
– Desculpa. Eles não sabiam da gente, nem da gravidez. – Emma sussurrou, seu rosto estava molhado pelas lágrimas.
– Percebi isso. – Regina terminou o cappuccino e olhou pela janela. Nenhuma das duas tinham tocado na comida. – Não podia ter me ligado? Eu pensei que você estivesse morta. Sabe como eu descobri que você estava em Storybrooke? Quando a polícia bateu na minha porta para dizer. Para dizer que eu não era mais a suspeita.
– Eu poderia passar o resto da minha vida pedindo desculpas e ainda assim não seria o suficiente.
– Não, não seria. – Regina pegou o celular e ligou pra Jasmine. A assistente demorou um pouco para atender, já deixando a fotógrafa impaciente. – Oi, Jas, tudo bem? Tá de olho na Ivy, né? Não deixa ela muito no sol, depois ela fica vermelha. Eu ainda vou demorar um pouco, depois eu vou. Beijo, tchau. – Desligou o celular, e voltou a ficar em silêncio.
– Eu liguei uma vez só. No terceiro aniversário da Ivy. Eles esqueceram lá em casa e me deixaram sozinha. – Emma olhou pra Regina, diante da expressão de dúvida da fotógrafa ela explicou. – Eu nunca fico sozinha nos dias do seu aniversário e da Ivy, minha família tem medo que eu tenha uma recaída. Mas aquele dia eles esqueceram e eu liguei pro estúdio. Tinha uma festa, eu pude ouvir o barulho no telefone. Não disse nada e desligaram.
– Tinkerbell. Era o tema da festa, ela ama a fada. – Regina esboçou um leve sorriso. – Todo ano é sempre a Tinkerbell, só muda o tema do filme que saiu. O mais novo é sempre o favorito.
– Você entregou os presentes?
– Que presentes? – Regina indagou. Nunca havia recebido nada que viesse de Storybrooke para Ivy.
– Vocês se mudaram, não morou mais no nosso... no seu apartamento? – Emma sentiu o coração ficar pequeno. A única coisa que tinha feito, e não tinha dado certo?
– Não, mesmo endereço, apartamento e estúdio.
– Eu mandei presentes pra Ivy. – Emma tinha um olhar triste. – Todo ano, uma carta e uma lembrança.
– Nunca chegaram, Emma. Nunca chegou nada seu. – Regina sentiu o olhar triste e aquilo a atingiu mais do que gostaria. Ela se lembrou de Belle, era a morena que recebia as cartas. A fotógrafa desejou que ela não soubesse disso também.
– Posso vê-la? – Emma pediu. – Por favor, eu só vi a foto dela naquela entrevista que você deu na Itália.
– Você leu a entrevista?
– Eu assino a revista. Assino todas de fotografia. – Emma sorriu de lado.
Regina pegou o celular, e abriu nas fotos, mostrou para Emma.
– Essa foi a última que tiramos, dentro do avião. – Regina foi passando as fotos, diante do olhar emocionado de Emma. – Essa aqui, ela brincando com a Jasmine, elas nunca tiram uma foto sem fazer careta, olha aqui a Tinkerbell, meu pai mandou pra ela e mandei pra ele ver como ela gostou.
– É a minha blusa. – Emma impediu que Regina trocasse de foto. Apontou para a tela, a blusa de pijama que ela usava.
– É o cheiro dela. – Regina guardou o celular, ficou mexida ao explicar como aquela peça foi parar com Ivy. – Foi a única peça sua que ficou, eu dormia com ela, e a Ivy dormia comigo. Depois, quando fui acostuma-la na cama dela, ela só parava de chorar quando cheirava a blusa. – Reparou que Emma chorava sem parar agora. Um choro de emoção, mais ainda assim, aquilo mexia demais com a fotógrafa.
– Ela é linda, Regina. A sua cara. – Emma secava o rosto, e diante da situação Regina pediu uma água.
– Ela é carinhosa como você. E ela sempre sorri, menos quando está na hora de acordar. – Foi inevitável o sorriso das duas, e a troca cúmplice de olhar.
Emma levou um tempo até controlar as lágrimas, tomou a água, e acabou comendo. Regina ficou o tempo inteiro calada, observando a mulher.
– Você ainda está em tratamento, é isso?
– Isso, praticamente tenho que tomar a vida inteira os remédios. Mas conforme vou apresentando melhoras, pode vir a diminuir a dose, quantidade de vezes no dia, essas coisas.
– E agora?
– Agora eu tomo dois pela manhã, a mesma dose ainda. E tenho consulta toda semana com a minha psiquiatra. – Emma olhou para Regina enquanto a fotógrafa lutava para assimilar tudo.
– Como você terminou sendo professora?
– Você lembra que eu me formei em pedagogia, né? – Diante da afirmação positiva de Regina, Emma continuou. – Então ano passado consegui como professora de idiomas na escola da Aurora, minha sobrinha, mas como tinha muita criança, bem eu não consegui me manter, e acabei indo parar num cursinho. Mas eles estavam com poucos alunos, eu era uma das mais novas, perdi o emprego. Daí a Ruby me mandou conversar com a diretora da escola da Aurora de novo, ela já tinha me oferecido para ser professora particular, mas eu neguei, agora a situação mudou.
– Mudou como? – Regina olhou para o celular e olhou pela janela.
– Vocês estão aqui.
– Emma.
– Regina, por favor, é minha filha, eu não queria ter corrido de você, eu juro, mas eu não tive controle das minhas ações. Só me deixa ver ela, não precisa dizer quem eu sou. Deixa eu ser essa professora, eu juro pra você que não falo nada pra ela.
– Não é bem assim, Emma. – Regina disse firme. – Não posso deixar você voltar assim e começar a fazer parte das nossas vidas de novo. E se você se sentir sufocada com a gente de novo? E se ela se apegar a você e você sumir? O que eu digo pra ela? Ela tem seis anos agora, não dá para contar qualquer história mais.
– Eu não vou sumir, Regina, eu juro. – Emma voltou a chorar. – Eu tou muito melhor do que naquela época.
– Na época que você jurou que me amava, na época que você me pediu pra ser mãe com você? Você está melhor? – Os olhos de Regina se encheram de lágrimas, a voz ficou embargada.
– Eu ainda amo você. Nunca parei de amar. Não passou um dia que não me lembrasse de vocês. Não passou uma hora que eu não me arrependesse de ter corrido. Mas agora, eu tou pronta para não correr mais. Para não machucar mais. Eu tou pronta pra compensar vocês.
– Para! – Regina pediu. Não conseguia mais olhar pra Emma, não conseguia mais ficar sentada. Ela simplesmente se levantou e saiu da padaria.
Emma jogou dinheiro a mais em cima da mesa e pegou a bolsa que Regina deixou para trás, e foi correndo atrás da fotógrafa.
Regina atravessou a rua e foi até onde estavam Jasmine e Ivy. Assim que viu a mãe chegar, o sorriso da menina cresceu e ela correu para os seus braços.
– Que demora, mommy. – Ivy estava molhada, com areia até nos cabelos, mas nada disso importava para a fotógrafa, além de sentir aqueles bracinhos ao redor do seu pescoço. Regina pegou Ivy no colo e foi até onde estavam com o guarda sol.
– Desculpa, a mamãe tinha que resolver uma coisa, lembra? Isso demora.
– Hã, Regina. – Jasmine olhava para trás e para fotógrafa, e apontou discretamente. Mas foi impossível de evitar. No instante que Regina olhou, Ivy olhou também.
Emma tinha corrido atrás de Regina, mas quando viu que ela estava com a filha, parou a alguns passos de distância. Segurava a bolsa de Regina nas mãos, e olhava emocionada para as duas. Assim que o olhar assustado da fotógrafa cruzou com o seu, ela apenas levantou a bolsa e não se moveu.
– Quem é, mommy? – Ivy sorria, mesmo de longe ela sabia que era o rosto da foto que Regina mantinha escondida.
– Ninguém, espera aqui. – Regina colocou Ivy ao lado de Jasmine e foi até Emma.
– Sua bolsa. – Emma entregou para a fotógrafa. – Não queria te fazer correr, desculpa. Mas pensa com....
– Oi, quem é você? – Ivy tinha corrido de Jasmine até a mãe, segurou na mão de Regina e perguntou sorrindo para Emma.
Tanto Emma quanto Regina congelaram. As duas olhavam para a criança. Emma tinha medo de dizer seu nome, afinal, Regina não disse o quanto Ivy sabia. E Regina tinha perdido o chão. Era tão difícil assim segurar sua filha longe de Emma?
– Eu mandei você esperar com a Jasmine, Ivy. – Regina falou brava com a filha, que soltou sua mão e abaixou a cabeça.
– Eu sei, desculpa, mommy, mas pensei que era sua namorada.
– O que? Não. Vai lá com a Jasmine agora que eu estou mandando. – Regina ainda estava brava, e acabou falando mais alto do que queria. Ivy saiu correndo para o lado de Jasmine, e deitou no colo da prima chateada com a mãe.
– Eu vou indo, mas só queria dizer pra você pensar com carinho no que te pedi. – Emma disse, já se despedindo da fotógrafa.
– Espera. – Regina segurou no braço de Emma. Quando viu o que fez, soltou imediatamente. – Você pode sentar ali com a gente, se quiser ficar. E não chorar.
– Ela não vai saber? – Emma estava tentando não chorar. Era mais fácil Regina ter pedido para ela subir em avião do que segurar as lágrimas.
– Não, ela não sabe o seu nome, e nunca viu nenhuma foto. Ela só sabe que você existe.
– Eu quero. – Não tinha razão para pensar de novo. O convite vinha de Regina, era só ela, Ivy e a Jasmine. Emma se lembrava da prima de Regina. Era uma criança na época, mas a menina sempre gostou dela.
Foram juntas até onde as duas estavam, e assim que se aproximaram Ivy olhou para mãe. Se encolheu no colo de Jasmine e não disse nada quando as duas chegaram.
– Vem cá. – Regina chamou estendendo a mão para a filha. Ela agarrou a mão da mãe, que ficou na altura dela, e a apresentou. – Essa é a Emma. Uma amiga antiga da mamãe. Emma essa é a Ivy, minha filha.
– Oi, Emma. – Ivy abriu o sorriso mais lindo que pode, e estendeu a mão para a mulher.
– Oi, Ivy. – Não chorar. Emma tinha que conseguir. Era uma forma de provar para Regina que podia ficar perto de Ivy, sem entregar as duas. Emma segurou naquela mãozinha. Apenas um pouco maior do que as mãos que seguravam seus dedos antes. O melhor toque que ela já sentiu.
Antes que Emma se perdesse nas palavras, ou em lágrimas, Regina continuou.
– E essa é a minha prima Jasmine, não sei se você lembra dela, Emm...Emma.
– Lembro sim, você cresceu muito, menina.
Jasmine, sempre sorridente, já levantou e abraçou a mulher. Emma era a melhor namorada que Regina teve, ela sempre brincava com a menina, então a moça tinha um certo carinho pela mulher, mesmo depois de tudo o que tinha acontecido.
– Que bom te ver, Emm.
– Bom ver você também, Jas. Ainda não acredito em como você cresceu. Uma mulher agora. Tá linda.
– Que isso, ainda me faltam uns peitos, muito pequenos.
– Você tá reclamando e eu que nem tenho nada? – Ivy disse, fazendo as três rirem. – Mesa de passar, como diz a Mulan.
– Ah mais vai ficar sem, por um bom tempo. – Regina puxou a filha e a abraçou apertado. – Está toda salgada já.
– Mergulhei né, você demorou.
– Mas eu já cheguei, vamos tomar um banho juntas?
– Vamos. – Ivy já ia correndo, quando Jasmine segurou ela.
– Espera sua mãe, louca.
– Pode sentar na minha cadeira, Emma, a gente já volta.
Regina pegou a filha e foi para a água.
– Em...
– Jas...
As duas riram.
– Pode falar, Emma.
– Você era pequena, claro, mas você acompanhou a Regina de perto, como foi pra quem viu de fora?
– Difícil. Na verdade, a Regina se fechou depois do que houve. Ela focou no trabalho e na Ivy e em mais nada. Ela não falava sobre seus sentimentos, mas era fácil perceber que ela mudava em certas datas. Principalmente na época que, você sabe, a data do seu sumiço, ela pegava mais e mais trabalhos, marcava exposições. Enchia a cabeça, para não pensar em você. Ela não vai admitir tão fácil Emma, mas ela nunca esqueceu de você. Não terminou pra ela.
– Não terminou pra mim também, Jasmine. – Emma olhou em direção ao mar, vendo mãe e filha se divertirem. – Nunca deixei de amar ela. Nunca deixei de amar nenhuma das duas.
- Por que você nunca voltou?
- É complicado, bem mais complicado do que eu gostaria que fosse.
– Como é que você achou a gente?
– Fui chamada pra ser a professora da Ivy, e quando cheguei na casa para falar com a mãe da menina, dou de cara com a Regina. – Emma sorriu. – Foi acidental, na verdade só ia procurar a Regina na exposição.
– Você vai? – Jasmine perguntou curiosa.
– Vou, mas não falei pra ela, será que eu falo?
– Não, faz uma surpresa. E qualquer coisa pode dizer que eu arrumei as entradas pra você. – Jasmine sorriu e piscou. – Não sei o que aconteceu com você, Emma, mas eu lembro de como você fazia a minha prima feliz, então seja lá o que for que tenha acontecido, se você fizer ela feliz de novo, eu vou apoiar você.
– Obrigada, Jas. – Emma segurou na mão da moça e sorriu. – Obrigada mesmo.
– Emma, você não trouxe biquíni? – Ivy chegou já perguntando, enquanto Regina vinha andando mais devagar atrás dela.
– Não, eu não sabia que ia acabar na praia. – Emma respondeu.
– Que pena, senão você ia mergulhar comigo agora, mas olha você vai lá em casa e leva biquíni, tá certo? – Olhou séria para a mulher. - Daí a gente vai na piscina mesmo.
– Certo.
– Então vem, prima. – Ivy puxou a prima para a água.
– Quanto amor pela água, puxou a mãe dela, tenho certeza. – Emma disse olhando para Regina, que se secava. Ela percebeu que olhava demais para o corpo da fotógrafa e desviou o olhar.
Regina sentiu o olhar de Emma, e ao mesmo tempo que se sentiu feliz em saber que ainda despertava o desejo da mulher, ficou brava. Regina já achava que a bipolar era ela.
– Essa semana tá uma loucura, tenho a exposição daqui a três dias, eu nem devia estar aqui, mas...precisava de um dia fora do trabalho. – A fotógrafa começou observando Jasmine e Ivy na água. – Então, vai semana que vem lá no estúdio, vamos conversar sobre...as aulas.
– Devo levar biquíni? – Emma não conseguiu conter a alegria que tomou conta dela. Ainda parecia um sonho.
– É, leva, duvido que a Ivy não queira jogar você na água, e meus biquínis não vão servir em você.
– Tá me chamando de gorda? – Emma usou um falso tom de indignação.
– Não, claro que não, você tá ótima. – Regina rapidamente tratou de se retratar. - Mas meus biquínis vão ficar pequenos, você sempre teve mais corpo que eu.
– Então você andou reparando?
– Emma. – Agora Regina olhou indignada para a ex. Os olhares se encontraram, tantos sentimentos expostos ali. E Regina silenciou.
– Pode falar. – A professora insistiu, não conseguia desviar o olhar de Regina.
– Se comporta. – A fotógrafa sorriu e voltou a olhar para o mar.
– Você que reparou no meu corpo. – Emma se inclinou próxima a Regina e sussurrou.
– Claro, porque você é a rainha da discrição.
As duas riram. Surpreendentemente as duas riram juntas, como há muito não faziam. E como Regina jamais imaginou fazer. Agora Emma já estava ali, Ivy já fazia seu interrogatório, não tinha mais como fugir. Acabou levando a mulher junto para o almoço.
– Emma, você tem namorado? – Ivy perguntou certa altura do almoço.
– Não, eu não tenho namorado.
– E namorada?
– Ivy, que interrogatório é esse, minha filha? – Regina achou melhor intervir.
– Você não entendeu ainda que ela está puxando a ficha da Emma, Regina? – Jasmine disse rindo. No que se tratava de deixar Regina em saia justa com as perguntas diretas de Ivy para Emma, ela estava saindo melhor que encomenda.
– Olha, a Ivy eu levo pra casa, mas você fica a pé, dona Jasmine.
– Vocês não deixam a Emma responder. – Ivy chamou a atenção, e voltou a olhar para Emma.
– Não, também não tenho namorada.
– Mas você prefere namorada ou namorado?
– Ivy. – Regina foi firme.
– Mommy, eu preciso saber.
– Eu prefiro namorada. – Emma sorriu ao responder. – Por que? Eu posso namorar sua mãe?
– Emma. – Agora Regina repreendia a ex-mulher.
– Ainda não decidi, você está em processo de avaliação.
– Isso é bom, Emma, quase ninguém entra em processo de avaliação. – Jasmine disse. – São eliminadas logo no início.
– Mas eu não posso com vocês três.
Almoço, sobremesa, mais perguntas. Regina não sabia se ria ou chorava diante da situação que ela mesma tinha criado. Ainda bem que Emma tinha carro, assim ela não precisaria levar a mulher em casa, dando mais tempo para as perguntas de Ivy.
– Tchau, Emma, foi bom demais rever você. – Jasmine foi a primeira a se despedir da mulher com um abraço apertado.
– Digo o mesmo, Jas. A gente vai se falando.
– Com certeza.
– Tchau, Emm. – Ivy abriu os braços e envolveu Emma em seu abraço. A professora não conseguiu se conter, e pegou a menina no colo, demorando mais do que o necessário naquele abraço. – Te espero lá em casa. Você me deve um mergulho.
– Eu vou. Pode me cobrar. – Emma deu um beijo em Ivy, e a entregou para Regina. – Tchau, Regina, foi melhor do que eu poderia imaginar. Obrigada.
– Tchau, Emma, nós conversamos mais na frente.
– Certo. – Emma se inclinou e deu um beijo no rosto de Regina. Ivy apenas sorriu com o gesto, vendo que a mãe ficou corada.
A volta para casa foi agitada. Enquanto Emma seguia extasiada e mal podia conter a alegria dentro de si, Regina, Ivy e Jasmine foram tagarelando até em casa, sobre tudo e principalmente sobre a professora.
Como de praxe, Ivy entrou na frente, correndo para o estúdio. Louca para contar as novidades do dia para as meninas. Regina e Jasmine vinham logo atrás, e a surpresa tomou conta das três.
– Olha só, Regina, você tem visita. – Belle disse assim que viu as três chegando. A raiva na voz da morena era notável de longe.
Parada ao lado de Mulan, a ruiva se virou e sorriu para as três.
– Zelena! – Ivy falou e correu sorrindo para os braços da mulher.
Primeiro Emma e agora Zelena, céus, quem mais ia aparecer ali naquele estúdio? Nesse ritmo quem iria surtar agora, era Regina.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.