Ivy correu e, como era seu costume, se jogou nos braços da mulher. Sem cerimônias, Zelena abraçou e pegou a menina no colo.
– Que saudades que eu tô dessa princesa. – Zelena falou sorrindo para Ivy. – Como você está?
– Tou bem, eu estava na praia, foi muito legal. – A empolgação da menina era contagiante.
– Que coisa boa, já tá quase uma nativa então. – Ela olhou sobre os ombros de Ivy para Regina. A fotógrafa ainda permanecia parada, com o olhar perdido para a cena. – E sua mãe? Como ela está?
– Humm, a mommy? – Ivy também olhou para Regina, se aproximou do ouvido de Zelena e falou baixinho.
Regina finalmente saiu do transe, quando ouviu a conversa se direcionar a ela. Foi andando até onde as duas estavam sussurrando.
– Eu estou ótima, só surpresa com essa visita. – Como instinto de proteção, ela tirou Ivy do colo de Zelena, ficando com a menina no seu.
Zelena se aproximou e deu um abraço em Regina, que ficou tensa com a aproximação da mulher.
– Bom, eu entrei em férias e descubro que Regina Mills ia expor pela primeira vez em Storybrooke, então, mudei o roteiro, e vim pra cá. Não podia perder essa. – Zelena estava linda como sempre, o que só incomodava mais ainda Regina.
– É, definitivamente, uma surpresa. – A fotógrafa olhou para as assistentes e se focou em Belle. Lembrou da conversa com Emma. Era coisa demais para um dia só. – Eu vou tomar um banho, cuidar da Ivy também.
– Tudo bem, estou aqui vendo o seu trabalho, eu espero vocês.
– Eu vou demorar. – Regina não podia lidar com isso hoje, e não tinha uma maneira delicada de dizer isso.
– Eu espero. – Zelena sorriu. Não iria sair tão fácil dali. – Quero levar as duas para jantar.
– Pizza? – Ivy perguntou sorrindo para a modelo.
– Eu convido, vocês me dizem onde querem ir. – Diante da resposta da mulher, Ivy olhou esperançosa para a mãe.
– Zelena, não acho que é uma boa ideia.
– Estou convidando as duas, Regina, alguma vez não me comportei bem na presença da Ivy?
– Nunca. – A pequena respondeu antes de Regina, ganhando o olhar de bronca da fotógrafa. – Desculpa, escapou. – Abraçou mais a mãe.
– Eu vou tomar um banho, depois vejo isso.
– Ótimo. Vou continuar a infernizar a Belle e conversar com a Mulan enquanto isso. – Zelena respondeu se divertindo com a situação. Finalmente tinha ganhado uma resposta melhor de Regina.
Sem dizer mais nada para ninguém, a fotógrafa levou Ivy para o quarto. Tirou o biquíni cheio de areia da menina e a colocou no chuveiro.
– Vai tirando essa areia que vou pegar sua roupa.
– Tá bem.
Regina deixou Ivy sozinha, e foi até o quarto da filha, aproveitou o momento e acabou sentando na cama da pequena recuperando sua respiração.
Emma tinha ficado doente, quer dizer, ela era doente e não sabia até ter tido o surto. A família dela devia ter mantido ela afastada, afinal eles não sabiam de nada, e a fotógrafa se lembrava bem das duras palavras que recebeu da mãe de Emma. Ainda assim, não foi culpa dela. Não diretamente, porque ela podia ter ligado, podia ter dito alguma coisa pra Regina e não sumir assim e não dá mais notícias.
E todos esses anos instável. Ela disse que início do ano que a situação melhorou. Tanto tempo de tratamento, e só agora estável? Como deixar ela perto da Ivy? Se ela surtar com a filha? Emma confessou que correu porque pensou na menina morta.
Regina já não estava mais sentada, sem perceber suas pernas a levavam de um lado para o outro, e sua cabeça fazia mais e mais perguntas. Perguntas que ela não conseguia responder, perguntas que a deixavam mais confusa.
– Regina. – Belle gritou próxima a fotógrafa.
– Que isso, Belle, tá louca? – Regina se assustou com a proximidade da assistente.
– Eu que te pergunto, que é isso? Deixou a Ivy sozinha no banho e tá aí tentando fazer um buraco no chão.
– Ivy. – Regina passou correndo por Belle e correu de volta para o seu banheiro. – Amor, desculpa...
A fotógrafa parou na porta do banheiro. Zelena estava dentro do box, dando banho em Ivy. Sua roupa obviamente já estava molhada, uma vez que a menina não parava quieta.
– Oi, Gina. Desculpa, mas a Mulan teve que sair, a Jasmine foi pro banho também e a Belle subiu atrás de você, então vim também.
– Eu pedi pra você esperar lá embaixo. – Regina tremia de raiva.
– Eu sei, mas...
– Mas nada, eu disse que eu ia cuidar da minha filha, EU, será que é tão difícil de entender? – A fotógrafa explodiu e sua raiva veio à tona. – FAZ SEIS ANOS QUE EU CUIDO SOZINHA DA MINHA FILHA, MINHA FILHA. – As roupas de Ivy que ela tinha na mão, foram jogadas no chão.
Tanto Ivy quanto Zelena pararam olhando assustadas para Regina.
– Tudo bem. – Zelena calmamente desligou o chuveiro e pediu pra Ivy sentar no chão. Saiu de dentro do box. – Ela tá bem, eu sei que ela é sua filha, e que você cuida muito bem dela, não precisa ficar assim. – Foi se afastando de Regina como se falasse com um animal que estava prestes a atacá-la.
Assim que a mulher colocou os pés para fora do banheiro, Regina correu e trancou a porta. Encostou-se na mesma, e foi até o chão. O choro voltou com tudo, e ela se entregou a ele.
– Que foi que você fez? – Belle chegou e tentou passar por Zelena, mas foi barrada.
– Eu? Eu não fiz nada, Belle, quem fez isso com a Regina foi outra pessoa.
– Sai da minha frente, ela tá com a menina ali dentro.
– Deixa ela em paz. Ela precisa ficar sozinha com a Ivy.
– Você não tem direito nenhum de aparecer aqui e dizer do que ela precisa ou não. Ela já não te deu um pé na bunda? Tá aqui rastejando por que? – Já não bastava a presença da sombra de Emma a vida inteira, depois a própria ressurgir das cinzas, agora Zelena voltava. Ninguém deixava Regina livre.
– Ué, Isabelle, e quantos foras você já levou da Regina e ainda corre atrás dela?
– Escuta aqui...- Belle levantou o dedo na cara de Zelena, que imediatamente segurou o pulso da assistente.
– Escuta você. Você não é a dona dela, você não é a namorada dela. E a não ser que a Regina mesma me diga que ela nunca mais quer me ver, o que ela não disse, eu vou continuar tentando ter ela pra mim. E se eu fosse você, baixava essa crista, porque o seu tempo, colega, já estourou.
Zelena largou o pulso de Belle e saiu do quarto deixando a morena bufando de raiva para trás.
(...)
Emma chegou em casa saltitando de alegria. Tomou um longo e relaxante banho, depois pegou seu caderno de memórias e anotou tudo o que tinha acontecido no dia. Como a memória ainda estava fresca em sua mente, ela não deixou nenhum detalhe de fora. Desde o sorriso de Ivy, até o olhar de Regina.
Estava tão concentrada em suas anotações que demorou para ouvir a campainha. Saiu correndo do quarto, e abriu a porta para a mãe.
– Oi, mãezinha. – Emma abraçou Mary Margareth quando a mulher entrou em sua casa.
– Oi, minha filha. Nossa, fazia tempo que não ganhava um abraço assim.
– É porque eu estou muito muito feliz, que nada me abala.
– E posso saber o porquê dessa felicidade? – Mary sentiu um aperto no peito. Emma estava realmente radiante, a alegria veio primeiro dessa vez?
– Como se você já não soubesse. – Emma sentou no sofá olhando para mãe.
– Eu sei, mas gostaria de ouvir da sua boca. – Ela sentou de frente para a filha com a preocupação estampada na cara.
– Eu me encontrei com a Regina.
– Minha filha, eu sei que você acha que eu não gosto dessa moça, mas não é isso, ela...
– Porque você acusou a Regina de me matar? – Emma estava séria agora, um pouco até agressiva. – Já não bastava tudo o que ela estava passando, você ainda diz pra polícia que ela me matou?
– Você desapareceu, não tinham ideia de onde você estava, nenhuma pista, e você tinha uma mulher, filho... Emma, eu me desesperei. Se o papa estivesse lá, eu o teria acusado.
– Pô, mãe. – A professora levantou. – Isso não se faz, tudo bem ficar preocupada, mas você tem ideia do que isso causou pra Regina?
– Eu não pensei em Regina nenhuma, Emma, eu pensei em você. Você é minha filha, era de você que eu não tinha notícias.
– Se tivesse realmente pensado em mim, não teria feito o que fez.
– Como é que é? – Agora era Mary Margareth quem tinha ficado de pé.
– Eu disse que se você tivesse pensado em mim, não teria feito o que fez. Teria me levado de volta pra Regina, e agora ela não me odiaria por causa dessa maldita doença. – Emma gritou. – Ou você acha que ela vai abrir os braços pra mim? Uma louca.
– Você não é louca, minha filha. – Mary voltou a sentar. – Eu protegi você de você mesma e você protegeu a sua filha de você. Teria sido tão certo assim te levar de volta pra Regina?
– Eu não sei, só sei que é tempo demais longe delas. – Emma tinha se acalmado, voltou a sentar do lado da mãe. – Ela é tão linda mãe, a cara da Regina. É um doce de menina, toda carinhosa, esperta que só ela.
– Você viu a menina? – Mary se assustou, não esperava esse reencontro tão cedo, e muito menos com a criança no meio.
– Hoje, na praia.
Emma começou a contar para mãe a manhã que passou ao lado da filha e da fotógrafa. Seus olhos brilhavam quando falava das duas, e recontando a história não conseguiu conter a emoção e chorou algumas vezes.
(...)
Ivy ficou um tempo quieta no chuveiro apenas ouvindo o choro da mãe. Regina nunca tinha gritado perto dela, então ela sentiu medo da reação que a fotógrafa teve. Afinal era só Zelena. Regina gostava da ruiva, tinha namorado com ela e tudo mais, porque essa briga agora? A menina espiou a mãe e viu que ela já tinha se acalmado um pouco, levantou e pegou a toalha, colocou ao redor de seu corpo, e sentou no colo de Regina.
Os braços da fotógrafa abraçaram a pequena com carinho. Regina encostou a cabeça de Ivy em seu peito, enquanto as lágrimas ainda desciam pelo seu rosto e chegavam aos cabelos da filha.
– Desculpa a mamãe, ok? Eu não queria que você me visse assim. – Regina disse depois de conter as lágrimas.
– Tudo bem, mommy, eu só não sei porque você está assim triste e brava.
– É que a mamãe soube de umas coisas ontem e hoje, umas coisas muito sérias, que mexeram demais com o meu coração.
Ivy olhou para mãe, passou a mão no rosto de Regina limpando suas lágrimas.
– É a minha mama?
– É. – Regina sussurrou.
– Ela tá aqui? – A menina perguntou, um tom de curiosidade tomou conta de sua voz.
– Está.
– Ela quer me conhecer? – A esperança cresceu. E a resposta ficou presa na garganta de Regina. Contar tudo agora, ou deixar Emma ter a chance de se aproximar de Ivy?
– Você quer conhecer ela?
– Não sei. – Ivy baixou a cabeça contra o peito de Regina – Ela te deixa triste, não sei se quero conhecer alguém assim.
– Não tem problema, meu amor, quando você souber, você diz pra mamãe. – Regina acariciou os cabelos da filha e deu um beijo na cabeça.
– Mommy, e a Emma? – Ivy levantou a cabeça para olhar para a mãe novamente.
– O que tem ela? – Regina congelou.
– Era sua namorada? Porque ela pareceu que queria namorar você.
– Pareceu isso? – Regina não conteve um sorriso. – A Emma foi namorada da mamãe sim, mas antes de você nascer.
– Ela é bonita, e parece ser legal, assim como a Zelena, que você brigou.
– Eu vou conversar com a Zelena depois.
– Depois da pizza? – Ivy perguntou sorridente.
– Mas você só quer saber de pizza, minha filha? Vamos comer outra coisa, é melhor.
– Ah, mommy, por favor, a Zelena disse pra gente escolher.
– Sem "ah, mommy" pra cima de mim. – Regina pegou Ivy no colo, e se levantou. – E eu vou escolher.
A fotógrafa levou a filha de volta para o chuveiro para terminar o banho da menina. Já aproveitou e tomou o seu banho também. Enquanto Ivy se distraía dentro do box, Regina lembrou de novo de Emma. E dos presentes que a mulher disse ter enviado. Teria que ver isso com Belle. E teria que conversar com a Emma de novo. Regina precisava saber se tinha condições de deixar a mulher se aproximar de Ivy ou não. Talvez uma boa opção fosse conversar com o médico da ex.
Mal Regina saiu do banheiro, Belle apareceu em seu quarto.
– Sem vontade de papo, Belle, me deixa sozinha com a Ivy, por favor.
– Só queria saber como vocês estavam. – Belle conteve a raiva, ela tinha mais preocupação agora em sua voz.
– Estamos bem. – Regina respondeu, Ivy já tinha deitado na cama e agarrado o cheiro.
Percebendo que não teria jeito de conversar com a fotógrafa, a morena saiu do quarto.
Regina pegou um livro infantil e sentou ao lado da filha.
– Vamos ler um pouquinho? Faz tempo que não lemos juntas. – Abriu o livro na página marcada, e Ivy se ajeitou embaixo do braço da fotógrafa. – Eu vou ler até aqui – Regina apontou. – Depois você continua, combinado?
– Combinado.
Já estavam quase no final da história quando ouviram as batidas na porta.
– Entra. – Regina disse. Era Zelena. A mulher entrou tranquilamente no quarto da fotógrafa e sentou na cadeira próxima a cama. Já havia trocado de roupa e estava linda como antes.
– Então, leitoras, o que vocês estão lendo aí?
– "Na terra do nunca jamais." – Ivy disse empolgada o nome do livro que Regina mostrava a capa.
– Que legal, e será que podemos ter a pausa para o jantar?
Regina olhou para Ivy e sorriu.
– Vamos, mas em casa e eu escolho a comida.
– Tudo bem.
Regina pediu um strogonoff de carne e os acompanhamentos comuns, e por insistência de Ivy, um mousse de chocolate individual para cada uma. A sobremesa dela acabou indo para a filha, já que até mesmo o jantar a fotógrafa teve que se esforçar para comer.
Enquanto a menina deitou no sofá da sala para ver desenhos, Zelena teve a oportunidade de ficar um tempo sozinha com Regina.
– Desculpe por mais cedo. Não devia ter gritado com você. – A fotógrafa começou. – Acho que ouviu os gritos que deveriam ser de outra pessoa.
– Acontece. – Zelena deu de ombros. – Mas eu me preocupei com você, Gina, nunca te vi tão leoa em relação a Ivy.
– Acho que Storybrooke não foi o que esperava. – Regina bebeu um gole do vinho que tinham aberto. Ela estava bebendo dois dias seguidos, mas precisava relaxar. E estava com Zelena, se a mulher tinha uma grande qualidade era que nunca deixava Regina beber além da conta.
– É só o começo, depois você se acerta com a cidade e com as moradoras dela. – Zelena encarou Regina. A fotógrafa respirou fundo, olhou pra Ivy entretida no desenho e voltou a olhar para a modelo.
– A mãe da Ivy. – Regina sussurrou. – Eu encontrei com ela acidentalmente aqui no estúdio. Uma professora veio para me apresentar a escola da Ivy, e acabou que era ela. Hoje cedo ela me ligou, pediu para conversar e eu fui. No meio disso tudo, ela acabou vendo a Ivy, conversando, almoçando com a gente, mas eu não falei pra Ivy que era ela. Disse que era uma amiga antiga minha.
– Nossa, Gina. – Zelena bebeu a taça inteira. – Mas ela te disse porque sumiu?
– Não comenta com as meninas no estúdio, não quero ficar falando disso, ela explicou que foi transtorno bipolar.
– Ela não sabia antes?
– Não, nós vivemos quase três anos juntas e não percebi. Sei lá, se eu parar e pensar bem talvez até ela demonstrasse os sintomas, mas nunca imaginei. Ela disse que surtou depois da gravidez, foi pra cadeia em Jersey, onde a mãe dela tirou ela e trouxe pra Storybrooke. Ela teve mais um episódio aqui antes deles internarem e começar o tratamento.
– Não tem necessariamente como saber, Gina, principalmente se não há suspeitas. Não pode se culpar.
– Eu dei uma olhada rápida no Google. Todos os sinais existiam, por três anos eles estiveram ali na minha cara e eu não vi.
– Só que você não é especialista nisso. Nem a família dela percebeu, nem o ex-marido, então não tem porque você sentir qualquer tipo de culpa por isso. Mas como ela está agora?
– Emocionada. Ela me disse que desde o início do ano ela se encontra estável, mas ela chorou todas as vezes que nos vimos, algumas vezes mais que outras.
– Normal né, Gina, faz quanto tempo que ela não vê você? E ainda viu a Ivy também. – Zelena respondeu, colocou mais um pouco de vinho para si e para Regina e depois guardou a garrafa. – Mas, no geral, ela parece estável?
– Parece. – Regina deu de ombros, se lembrou das conversas com Emma. – Ela me pareceu confiante, um pouco impulsiva, mas não parecia desequilibrada.
– A Emm...- Zelena ia falar o nome, mas achou melhor prevenir para que Ivy não ouvisse nada. – A mesma de sempre?
– Sim. – Regina deu um longo gole no vinho, assim como Zelena.
– E o seu coração?
– Zelena, você não precisa...
– Por favor, Gina, você pode até ter fugido de mim, mas eu sou sua amiga. Pra ela eu aceito perder você, pra Isabelle, eu faço guerra. – Zelena riu, e a fotógrafa não conteve o sorriso também.
– Ela não me tem.
– Não tô falando fisicamente.
– Mexeu, tá legal? Mexeu o coração, bagunçou a cabeça, tirou minhas armaduras. Me sinto nua diante dela, exposta. Ela me olha e sinto que ela vê a minha alma. – Regina terminou a taça e estendeu para que Zelena enchesse.
– Chega, já bebeu demais. – Zelena sorriu. – O meu conselho é, deixe ela correr atrás. Até porque, por mais estável que ela esteja agora, isso pode mudar amanhã, e agora não é só você que vai se ferir. Então, se ela quiser mesmo você, o que internamente eu espero que não, mas se ela quiser, deixa ela lutar um pouco. Doente ou não, foram seis anos de afastamento.
– E tem a Ivy, não é uma nova mulher na vida dela. – Regina olhou para filha que já tinha pegado no sono. – É a mãe dela.
– Gina, a Ivy é a criança mais esperta e carinhosa que eu conheço. Ela vai saber lidar com isso melhor que vocês duas. Você tá é com medo de deixar ela voltar, e que depois aconteça alguma coisa de novo.
– Tou morrendo de medo. – Os olhos de Regina encheram de lágrimas. – Cada célula do meu corpo gritou para abraçá-la hoje, você não tem ideia de como foi lutar contra isso.
– Ei, não chora não. – Zelena mudou de cadeira, sentando ao lado de Regina, abraçou a fotógrafa com força. Os braços de Regina envolveram o corpo de Zelena e algumas lágrimas escaparam de seu rosto. – Vai ficar tudo bem, você vai ver.
– Será que eu deixo ela se aproximar da Ivy? Hoje ela me disse que não sabe se quer conhecer a mãe, porque ela me deixa triste. – Regina olhou para Zelena. – Não quero que minha filha sofra por minha causa.
– Eu acho que se a Ivy quisesse realmente ver a mãe, ela diria pra você. Mas ela tá assustada, faz dois dias que você só chora.
– Eu preciso ficar forte, e logo.
– Precisa, e precisa decidir se vai deixar a Emma voltar pra vida de vocês ou não. Se você deixar, precisa saber que uma hora a Ivy vai precisar ouvir a verdade. E essa menina é esperta, Gina, se vocês não contarem, duvido nada que ela descubra sozinha.
– Agora você está me assustando.
Zelena sorriu e voltou abraçar Regina. O abraço calmo de Zelena, a conversa fácil que conseguia ter com a mulher, era isso que tinha feito Regina baixar sua guarda e deixar a modelo entrar. Mas quando ficou sério demais, forte demais, o medo fechou a porta, e a fotógrafa correu. Ela sabia que Zelena não tinha vindo atrás de amizade, a modelo tinha deixado suas intenções bem claras durante o tempo que estiveram afastadas, mas ainda assim, a modelo sentou e aconselhou Regina sobre Emma por mais algum tempo. Foi tão bom, que a fotógrafa não deixou Zelena ir para o hotel, fez com que a modelo ficasse com o quarto de hóspedes vago, e mais uma noite levou Ivy para a sua cama. Nesse ritmo, iria trazer o costume da menina dormir na sua cama novamente. Mas só mais aquela noite. Regina precisava da filha. Precisava do cheiro, da segurança, da força que a menina dava a ela. Afundou seu rosto nos cabelos da pequena, e depois do dia que teve, foi inevitável não sonhar com Emma.
(...)
Emma conversou por um tempo com a mãe e, assim que Ruby fechou a loja, subiu para o apartamento da irmã. Acabaram as três jantando na casa da professora.
– Minha irmã, preciso te dizer, não vou poder ir na exposição da Regina. – Ruby começou a falar.
– O que? Mas por que? – Emma falou triste. – Poxa, Ruby, deu trabalho conseguir aquelas entradas pra vocês, acha que eu chorei pouco pra menina da organização?
– Você chorou pelas entradas, minha filha?
– Maneira de dizer, mãe. – Emma revirou os olhos para mãe. Não dava para brincar perto de Mary Margareth, a mulher se preocupava demais. – Mas cansei minha lábia.
– Sinto muito, mas vai ter reunião de pais e mestres na escola da Aurora, e sem a Dorothy eu também não vou nessa exposição.
– E se você conhecesse alguém, sem compromisso para ir com você, Emma?
– Entendi a indireta, dona Mary Margareth. – Emma olhou para mãe e sorriu. – Mas não. Não quero que a Regina veja você.
– Por que? – Mary disse, ela não esperava que a filha fosse negar a companhia dela assim diretamente.
– Primeiro, porque ela já lembra do quanto eu machuquei ela toda vez que ela olha pra minha cara, segundo, eu não vou levar comigo a mulher que a acusou de assassinato pra que ela se lembre disso também. – Emma perdeu a paciência. – Estou tentando ela deixar eu me aproximar das duas, e não provocar.
– Nossa, não sabia que minha presença provocava tantas emoções assim.
– Calma, gente, mas mãe, eu concordo com a Emma. – Ruby entrou no meio. A irmã já estava alterada e logo passaria a ter uma discussão com a mãe. – Acho cedo pra Regina se aventurar no meio da nossa família, melhor ela se sentir bem com a Emma primeiro.
– Mas você ia na exposição.
– Eu ia porque seria o reencontro delas. A história mudou, talvez até melhor mesmo que eu não vá.
– E eu já sei quem eu vou chamar. – Emma sorriu para as duas.
– Quem?
– Ninguém, mãe. Agora vocês me dão licença, vou arrumar minha cozinha e descansar, amanhã tenho que aturar a Fiona, o que me satura tanto quanto conversar com a mamãe.
– Nossa senhora, às vezes acho que a sua doença é a sinceridade e não bipolaridade.
Ruby se levantou seguida por Mary Margareth, ambas se despediram de Emma e foram para suas casas. A professora ficou sozinha, ligou uma música que a deixava calma, e limpou sua cozinha metodicamente. Antes de deitar, Emma pegou o celular e digitou o número de Regina. Já tinha olhado tanto para aqueles números que conseguiu gravá-los. Antes de apertar no botão ligar, pensou. E se a fotógrafa estivesse dormindo? Ou com Ivy? Melhor não. Apenas enviou uma mensagem. Esperou um tempo, mas como não teve resposta na hora, virou para o lado para dormir. Não conseguiu soltar o celular a noite inteira.
A primeira coisa que fez no dia seguinte, foi olhar suas mensagens, mas não tinha nada. Era cedo, Regina ainda estaria dormindo. Melhor não acordá-la novamente. Emma levantou, tomou seu café, seus remédios, pegou sua bolsa e saiu.
– Chegou cedo, Emma. Nem abri o consultório ainda. – Fiona chegou e já avistou a paciente à sua espera na porta do consultório. Emma estava com uma roupa diferente, vestido longo, cor neutra. Nunca tinha visto a mulher usando nada além do jeans e blusa.
– Dormi pouco, acordei disposta, vim já pra cá. – Emma respondeu e sorriu. Entrou logo atrás de Fiona no consultório.
– Que bom, tô vendo que seu humor está ótimo hoje. – Fiona entrou para a sua sala e chamou Emma. – Vamos, enquanto eu ligo o computador você vai me contando o que aconteceu que te deixou assim feliz.
Emma entrou no velho consultório. Não tinha um ar velho, mas Emma o achava velho pela quantidade de vezes que esteve ali. A sala na verdade era bem aberta e reconfortante. Os móveis eram modernos, tinha poltronas, divã, puffs. Fiona sabia como cada paciente era, e sabia a melhor forma de deixá-los confortáveis. Emma era a única paciente que não se sentava, até aquele dia.
Sentou em uma poltrona, demorou até se sentir confortável, e cruzou as pernas. Olhou pra Fiona e sorriu.
– Consegui um novo trabalho. Professora particular, na escola da Aurora. Já tenho até uma aluna. Quer dizer, não está bem confirmado ainda, mas é quase certo.
– Que ótima notícia, Emma. E como você se sente voltando a trabalhar com crianças?
– Ótima. A minha aluna é a Ivy.
– A sua Ivy? Como assim? – O semblante relaxado de Fiona foi trocado pelo de preocupação. Foi tão rápida a mudança que Emma percebeu na hora. No mesmo instante Fiona notou que a postura de ataque tomou conta de Emma, e o sorriso fácil saiu do seu rosto.
– Sim, a minha filha. Eu acabei me encontrando com a Regina por acidente. Primeiro ela me colocou pra fora, mas depois ela aceitou conversar comigo. Eu contei pra ela, e acabei conhecendo a Ivy também. Agora, eu vou dar aula pra ela.
– Ok, calma. Vamos por partes. Primeiro, como foi esse primeiro encontro com a Regina?
– Eu devia começar a usar um gravador, daí não preciso ficar repetindo um milhão de vezes a mesma história. – Emma se levantou, voltou a andar pelo consultório.
– Eu sei que você não gosta, Emma, mas eu preciso saber, como posso te ajudar se eu não sei as coisas?
– Eu fui chamada para ser professora. Peguei o endereço da mãe da menina e fui até a casa dela.
– Não era o nome da Regina. – Fiona interrompeu, ela sempre interrompia no exato momento que tinha uma pergunta, isso enfurecia Emma às vezes.
– Não, senão eu saberia que era a Regina, né? – Emma respondeu impaciente. – Agora escuta, depois você fala. – Ela seguiu com toda a história. Alguns bons detalhes ficaram de fora, como de costume, e também porque estava cansada de ter que relatar cada novidade na sua vida para todos à sua volta. Quando terminou, foi a vez da psiquiatra falar.
– Emma, eu não acho que a Regina tenha entendido a sua situação, ou até mesmo aceitado. Ela reagiu com emoção. Com pena.
– Você não conhece a Regina, e ela não é sua paciente, porque você está falando dela?
– Emma, quem mais além de você viu a Regina?
– Você está insinuando que eu estou tendo alucinações? Depois de todo esse tempo? – Começou a gritar.
– Não seria a primeira vez, principalmente com a Regina.
– LOUCA. SÓ POSSO SER LOUCA MESMO PARA FICAR VOLTANDO NESSE INFERNO AQUI, E OUVINDO ESSAS ASNEIRAS. – Emma correu até a bolsa e atirou o celular no colo de Fiona. – Procura ali, Regina, é com R, fica depois do Q, liga pra ela, vê se eu tou delirando.
– Emma, se acalma, você sabe que não é assim que se resolve as coisas.
- Peraí que eu ligo. – Emma pegou o celular e voltou a digitar o número de Regina, esperou um tempo e a ligação caiu na caixa postal. Tentou de novo, e novamente caixa postal. Emma olhou pra Fiona. A praia, a conversa, tudo parecia um sonho de tão bom que era. Mas era real, ela tinha certeza. Uma lágrima escorreu de rosto, e com o desespero tomando conta de si, ligou de novo.
– Emma... - Fiona disse, mas a mão da paciente parou na sua frente e o telefone entrou no viva voz.
– Oi, quem é?
– É você quem ligou pra mim, você que tem que saber quem é. – Uma voz de criança preencheu o consultório, e encheu de alívio o coração de Emma.
– Ivy? É a Emma, eu queria falar com sua mãe.
– Ah, oi, Emm, tudo bem? A mommy tá no banho agora, acabamos de tomar café na cama. Foi a maior bagunça. – Ivy sorriu. – Você vem tomar banho de piscina comigo?
– Vou sim, meu amor, eu vou marcar com a sua mãe um dia pra que eu vá até aí, tá legal? – As lágrimas que desciam pelo rosto de Emma, se misturavam com a feição brava que a mulher lançava para Fiona a cada palavra dada por Ivy.
– Tá, mas eu acho que ela vai demorar no banho agora, porque eu acabei de sair e deixei ela lá.
– Deixou sua mãe sozinha, é?
– Só um pouquinho, pra ela ficar com saudades. – Ivy sorriu, e Emma acompanhou o riso gostoso da menina.
– Você diz pra sua mãe que eu liguei, então?
– Digo sim, pode contar comigo. Um beijo, Emm.
– Beijo, tchau. – O celular ficou mudo quando Ivy desligou do outro lado. O olhar de fúria de Emma não precisava de palavras.
– Desculpa. – Fiona disse, mas não conseguiu dizer mais nada. Emma pegou sua bolsa e saiu do consultório, abandonando a sessão. Ela já tinha feito isso algumas vezes. Sempre que ficava irritada demais com Fiona, ou triste demais, abandonava a consulta. Ela ia para a praia, onde Ruby ou a mãe iam encontrar ela. Dessa vez, ela mudou de direção. Não queria que seu dia fosse estragado, e a psiquiatra quase conseguiu isso. Emma mandou apenas uma mensagem para Ruby, dizendo que não estava na praia, mas estava bem, com um amigo. Não precisaria de mais nada, a irmã sabia quem era e não entregaria a irmã para a mãe.
– Mas olha só, se a margarida não resolveu aparecer.
– Ai, cara, só você para me fazer sorrir agora, viu? – Emma disse ao ver Killian. O chef saiu de trás do balcão e foi abraçar a ex-mulher. Desde o divórcio com Emma, Killian comandava um bistrô em um centro cultural, que era administrado por sua atual esposa.
– Pela sua cara já sei que a coisa foi feia.
– Me diz de novo: por que eu vou à psiquiatra?
– Porque ela te dá os remédios que você precisa. – Milah apareceu por trás de Emma, e deu um abraço apertado na amiga. – E também porque eu acho que ela tem uma queda por você.
–Ai, Milah, de novo com isso não. Até porque eu já tenho dona, e ela está de volta. – Emma sorriu quando Killian e a esposa pararam e olharam assustados para ela. O homem já havia pedido para a moça que trabalha com ele trazer um café para os três. Sentaram-se à mesa e Emma contou, mais uma vez, a história. Com um pouco mais de paciência dessa vez.
Jones e ela tinham se tornado amigos desde que ela voltou de Nova York e passou por suas internações. O homem que ficou sabendo da situação de Emma, por Mary Margareth, acabou participando ativamente na recuperação da loira e se tornado um amigo e confidente da ex-mulher. Amizade ficou maior quando Milah, a pianista que Emma conheceu quando estudava fora, voltou para Storybrooke, e se apaixonou por Killian. A morena havia sido madrinha dos dois, o que contribuiu para fortalecer a relação entre ela e o ex-marido.
– Emma, mais isso é muito bom. – O homem falou depois que Emma contou todos os últimos acontecimentos. – Olha só, ela atendeu sua ligação, ela foi encontrar você, ela te ouviu, ela te convidou para ficar, te apresentou pra Ivy, levou pro almoço, e ainda aceitou conversar sobre as aulas. Tá na cara que ela ainda te ama.
– Killian, não enche a Emma de esperança assim. – Milah cortou o marido. – Desculpa, Emma, mas você tem que ir com calma, aposto que a Regina tá mexida com a sua presença, mas tem muita coisa entre vocês que precisa ser acertada.
– Ah, meu amor, conta outra, se ela não tivesse nem um pouquinho de amor pela Emma, não tinha ido nessa conversa. – Killian falou confiante. – Olha aqui pra mim, escuta o que eu to te dizendo, ela ainda te ama, mas vai fazer birra. É mulher, vai fazer birra. Não desista, vai pra cima que a vitória é sua.
– Olha esse homem, parece até que está explicando tática de futebol. – Milah e Emma riram.
– Não vou desistir nunca, ter a Regina de volta é tudo o que eu mais quero. – Emma falou sorrindo. Era fácil conversar com o casal de amigos, fácil para relaxar. Com eles, Emma se sentia normal, e não uma doente que precisava de babá o tempo inteiro.
– Eu acho que você tem que ir atrás dela sim, mas com cuidado, amiga, principalmente agora na chegada. Ela ainda está ressentida, vai chegando devagar, conquista sua filha primeiro, tenha certeza que assim você já fica mais de meio caminho próxima do coração da Regina.
– Você fica pro almoço, né? – Killian perguntou quando se levantou. – Vou preparar um especial para comemorar essas notícias ótimas que você trouxe.
– Fico sim, e aliás, vocês dois vão me acompanhar na exposição da Regina. Tenho dois convites sobrando e preciso de companhia.
– Não precisa perguntar duas vezes, nós vamos com você com certeza. – A amiga respondeu. Killian foi comandar o almoço do bistrô, e já fazer o prato especial para o almoço dos três, deixando Emma e a esposa conversando com mais privacidade.
Depois do almoço divertido que teve com os amigos, Emma recebeu a ligação mais importante do dia.
– Oi, Regina.
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