— Deixa eu te levar em casa?
Regina respirou fundo. Fechou os olhos e abriu novamente, tentou sair dos braços de Emma mas não conseguiu, a mulher ainda a segurava junto dela.
— Por que? Não vai acontecer nada. – Suas palavras foram mais duras.
— Eu sei, não me importo. Quero ter certeza que você vai chegar bem, só isso.
— Eu vou com as meninas.
O olhar de Emma ficou baixo. O beijo tinha sido tão bom. Regina tinha se entregado. Emma podia sentir o sabor da fotógrafa em seus lábios. Não podia deixá-la se afastar assim.
— Eu só vou te levar, Regina, não vou fazer nada que você não queira. – Emma soltou um pouco Regina. A fotógrafa levou alguns instantes para perceber que o braço de Emma não a prendia mais. Que era ela que estava se prendendo ao corpo da mulher e não o contrário. Lentamente criou um espaço entre as duas.
— Eu não sei o que eu quero.
— Então eu não faço nada que você precise pensar se quer ou não. – O sorriso saiu dos lábios de Emma. Era um déjà-vu. Anos atrás, quando conheceu Regina, ouviu a mesma frase da fotógrafa logo depois do primeiro beijo delas.
Regina passou a mão no rosto. Sorriu, se lembrou da frase também.
— Tudo bem. – Regina limpou os cantos da boca. Via seu batom nos lábios de Emma, sua boca deveria estar manchada. – Mas lembre-se que eu me comportei.
— Eu não esqueço nunca. – Emma sorriu. Levantou a mão para ajudar Regina com o batom, mas abaixou diante do olhar de Regina. – Desculpa, reflexo apenas. Eu vou falar com o Killian e a Milah, te encontro depois, ok?
— Tudo bem, vou arrumar a maquiagem.
Cada uma foi para um lado. Para Regina foi pior. Algumas pessoas chamaram a fotógrafa e ela não podia passar direto. Tentou deixar o batom o melhor que pode, e foi conversar onde era chamada.
Emma se aproximou de Killian e Milah, que pareciam entretidos com um dos coquetéis que estava sendo servido.
— Não sei porque não colocar no bistrô, isso aqui é ótimo, e cai bem com um monte de coisas que tem lá.
— Álcool em uma ambiente cultural, Killian? Tem menor de idade lá.
— Gente. Vocês não vão acreditar. – Emma chegou eufórica próxima aos amigos. Pegou a mão de Milah e colocou em seu peito. – Sente só, tá saindo pela boca.
— Eu vi, você juntou a fotógrafa no meio do salão. Mandou bem, garota. – Killian levantou a mão para bater com a de Emma. Sorrindo a mulher fez o cumprimento com o ex-marido.
— Ai, Killian, "juntou" que coisa mais machista. Foi um beijo. – Milah repreendeu o marido.
— Um beijo necessário. – Emma buscava o ar para se acalmar – Ela ainda me ama. Agora mais do que nunca eu sei disso.
— Dá para perceber só pelo jeito dela do seu lado. – Milah apertou a mão de Emma. — Isso é ótimo, minha amiga, mas lembra o que eu te disse.
— Eu lembro sim. Ela tá com medo, eu posso sentir. Mas vou fazer ela confiar em mim. E vou levar ela pra casa. – Emma fez uma cara pidona para o casal. – Tudo bem voltarem de táxi?
— Lógico, sem problemas. – Milah sorriu para a amiga.
— Emma matadora, já vai levar pra casa. – Killian pegou no pé de Emma.
— Ai, Killian, vou me comportar, como ela pediu.
— Isso mesmo. Você precisa da confiança dela. O amor você já tem. – Milah deu um abraço em Emma. – Agora a gente já vai indo, e você dirija com cuidado.
— Pode deixar. – Emma piscou para Milah. Despediu-se de Killian, e foi atrás de Regina.
Demorou até encontrar a fotógrafa. Ela conversava com um grupo pequeno de pessoas, Emma não conhecia nenhum deles. O batom de Regina já estava retocado. Aquele vermelho realçava seus lábios. A distância, Emma ficou observando a Regina fotógrafa em ação. A postura ereta, o sorriso comedido. Não precisava ouvir, para saber qual era o tom que ela usava.
Regina olhou rapidamente para o lado e algo a fez olhar mais devagar novamente. Longe dali, Emma a observava. Um olhar de orgulho, paixão e desejo encontravam com seus olhos. As duas trocaram um sorriso. Aquele sorriso que guardavam apenas para usar com a outra. Maldição. Regina estava novamente perdidamente apaixonada por Emma. Novamente não. Ela sempre esteve, precisava apenas de Emma para lembrá-la disso.
Pelo resto da noite não viu Belle, e quando falou com Mulan na saída, nem mesmo a moça sabia onde estava a colega. Regina tentou ligar para o celular de Belle, mas não teve resposta. Mulan tentou, sem resultados. Emma reapareceu ao lado de Regina.
— Gente, lá em cima ela não está, e perguntei para o rapaz do bar, ele disse que ela estava bebendo direto, e depois parou de ir no bar. – Emma passou a mão no braço de Regina, tentando acalmá-la. – Ela já deve ter ido pra casa, tentaram ligar pra casa?
— Não, não quero ligar pra casa, a Ivy vai acordar, tenho certeza. – Regina tentou de novo o celular de Belle.
— Relaxa, Regina, ela deve ter bebido todas e ido pra casa dormir. – Mulan disse. – Vamos pra casa também, você vai ver que ela deve estar lá.
A fotógrafa saiu apreensiva com Mulan e Emma. Como tinha dito para Emma que iria com ela, Mulan voltou sozinha no carro da fotógrafa. No meio do caminho o celular de Regina tocou.
— Oi, Mulan.
— Regina, a Belle acabou de me mandar uma mensagem, ela está com alguém, pode ficar tranquila.
— Certo, obrigada por avisar. – Regina desligou o celular e sorriu. – No mínimo ela deve ter me xingado.
— Acho que eu ganhei.
— Ganhou o que? – Regina olhou para Emma. A mulher dirigia com um sorriso nos lábios, um ar seguro de vitória.
— Você. Minhas concorrentes saíram acompanhadas, mas sou eu que estou levando você para casa.
— Não sabia que eu era um troféu a ser ganho.
— Desculpa, não quis fazer entender que você era um objeto. Só quis dizer que não tem ninguém que possa separar a gente.
— Só a gente mesmo. – Regina baixou a cabeça. Ela estava nervosa. Tinha certeza que Mulan já estava chegando em casa, enquanto Emma dirigia propositalmente devagar, tornando o caminho mais longo. Abriu as fotos de Ivy e ficou olhando para elas. Uma tentativa de se acalmar, um lembrete para agir com a razão.
— Não vai acontecer mais. Eu não vou deixar. Nem mesmo essa doença vai me tirar de você, nunca mais.
A fotógrafa encostou a cabeça no banco, olhou para Emma.
— Eu tenho tantas perguntas.
— Pode perguntar, eu não vou esconder nada de você.
— Alguma vez você tentou se matar? – Regina respirou fundo. Não ia mais adiar essa conversa. Começaria agora, terminaria amanhã, terminaria na próxima semana. Não importa, ela precisava saber com o que estava lidando.
— Sim.
— Quando?
— Uma vez quando estava casada com o Killian. Tomei remédio com álcool, desmaiei e meu irmão cuidou de mim em casa. Outra vez, depois de tudo o que aconteceu. Cortei um pulso. – Emma discretamente mostrou o pulso esquerdo para Regina. Tinha algumas cicatrizes pequenas na região. – Ruby chegou antes de eu cortar o outro. Nunca mais tentei nada assim.
— Quanto tempo já ficou sem medicação?
— Nunca desde que comecei o tratamento. Já tomei doses mais fortes e mais vezes ao dia, mas nunca fiquei sem.
— É genético?
— É um fator. Eu tive uma tia assim, aparentemente na época ela foi diagnosticada como louca, se é que se pode chamar isso de diagnóstico, e bem, morreu afogada por conta de uma crise que teve. Não sabia, minha mãe falou quando descobriram a minha doença.
Regina conteve as lágrimas. Seu coração apertou tanto que chegou a doer.
— Não quer dizer que a Ivy seja assim. – Emma percebeu a reação da mulher. – Ei, olha aqui. – Com um olho na estrada e outro em Regina, Emma pegou a mão da fotógrafa quando a mesma olhou para ela. – Não tem nada errado com a Ivy, ela é perfeita, ela é sua.
Regina concordou com a cabeça. Não conseguiu segurar as lágrimas. Respirou fundo. Tinham chegado em casa. Ela quase saiu correndo para abraçar a filha, mas a mão de Emma segurou a sua.
— Continuaremos amanhã? – Emma fazia carinho na mão de Regina, olhando fixamente para os olhos marejados da fotógrafa.
— Continuamos. Eu te ligo, você traz o café?
— Posso fazer aqui? Queria fazer uma coisa especial para vocês. – Emma sorriu. Mesmo com os olhos marejados, com o coração apertado, Regina sorriu de volta.
— Pode. Até amanhã, Emma. – A porta do carro de abriu. Regina queria sair, mas sua mão ainda estava presa com Emma. Elas se olharam e a professora se inclinou em direção a Regina. – O que você tá fazendo?
— Você esqueceu que mesmo dizendo que ia se comportar, você me beijou naquela noite, de novo? – Emma sussurrou próximo aos lábios de Regina. A fotógrafa sorriu. Segurou o rosto da morena e deu um selinho.
— Você lembra de muitos detalhes, sabia? – Soltou sua mão de Emma, e desceu do carro sorrindo, fechou a porta e viu a professora se afastar. Regina era um turbilhão de emoções.
Tirou os sapatos antes de entrar no seu quarto. Já tinha ouvido a televisão ligada na metade do corredor. Não era surpresa que Ivy tivesse trazido Jasmine para seu quarto. Entrou e foi olhar a menina. No chão, os sapatos jogados. No criado mudo, um prato de brigadeiro pela metade e uma pilha de dvds da Tinkerbell. Na cama, dois olhinhos que lutavam contra o sono encontraram os seus.
—Hi, mommy. – Ivy esboçou um sorriso, e deu uma espreguiçada. Regina sentou na cama perto da filha.
— O que você está fazendo acordada ainda? – Regina sussurrou. Jasmine estava ferrada no sono do outro lado de Ivy.
— Não consegui dormir, mas a Jas tava cansada, daí deixei ela dormir. – A menina respondeu baixo. Regina fez um carinho em seu rosto, e os olhos já se fecharam. A fotógrafa não conteve o sorriso. Cobriu a filha, e ficou fazendo carinho em seus cabelos. Ivy abraçou forte o cheiro e a Tinkerbell que tinha em seus braços, sorriu para Regina com os olhos fechados. – Saudades de você, mommy.
— Também senti saudades de você. – Regina deu um beijo em Ivy. Não precisou de mais muito tempo, para sentir a respiração pesada da filha. Se levantou e tomou um banho, trocou de roupa e deitou. Fechou os olhos e viu Emma. Abriu, respirou fundo. Seus pensamentos vagaram. Todos os anos sem Emma, e ela nunca havia se sentido como se sentia agora. Completa. Tinha Ivy, tinha o trabalho, mas um pedaço dela faltava. Foi Emma reaparecer e o vazio ser preenchido. E toda a dor, Regina? E todo o sofrimento que você teve? Como pode tudo se modificar assim rápido?
Regina sentiu Ivy virar para cima dela. Olhou para o cheiro que a menina não largava. Puxou um pouco para poder sentir o perfume dela. A mulher tinha comprado o frasco e o mantinha escondido. Depois que a roupa era lavada, antes de entregar para Ivy, ela borrifava um pouco do perfume na roupa. O cheiro de Emma. Regina fechou os olhos. E como a filha, dormiu cheirando a peça de roupa.
(...)
Emma tinha tido dificuldades para dormir naquela noite. Um misto de ansiedade e alegria tomava conta dela. Lembrava toda hora do beijo. Lembrava do carinho de Ivy. Ansiava pela manhã, para levantar logo, comprar as melhores coisas e ir para a casa de Regina. Ela teria a conversa com Regina. Responderia tudo o que a fotógrafa quisesse saber. Sem mentiras. Sem enrolar. A verdade era necessária, assim ela teria a confiança de Regina novamente. O amor ela já tinha. Milah disse isso. Até mesmo Ivy percebia. O sorriso não saía dos lábios de Emma. Quando dormiu, sonhou com as duas mulheres de sua vida. Por conta do horário que foi dormir, Emma acordou mais tarde que o costume.
Acordou saudosa. Tinha o sonho fresco na memória. Queria que aquele sonho fosse realidade. Olhou o celular, nada de ligação ou mensagem. Normal, Regina adorava dormir até tarde. E Ivy tinha o mesmo jeito. Aproveitou e foi anotar suas memórias. Logo, Emma poderia dividir aquele caderno com a pessoa na qual ele foi destinado.
A campainha tocou. Emma já tinha tomado banho, arrumado a casa, e feito a lista do mercado.
—Oi, Ruby. – Abraçou a irmã.
— Nem preciso dizer que estou morrendo de curiosidade e quero todos os detalhes. – Ruby sorriu para Emma.
— Nem senta então. Vamos no mercado comigo que te conto tudo. – Emma pegou a bolsa e levou a irmã como companhia para o mercado.
Enquanto dividia os detalhes da noite passada com Ruby, fez as compras e retornaram para casa.
— Então, agora você vai lá fazer o café delas? – Ruby perguntou, ajudando Emma a arrumar tudo para levar.
— Isso mesmo. – Emma era só sorrisos. Diante da demora de Regina em ligar, preparava o bolo em casa. – Nós já vamos conversar. Ontem ela fez aquelas perguntas, mas eu sinto que tem muito mais.
— Certo, isso é natural. Você está preparada para isso?
— Claro. Vou dizer toda a verdade para a Regina.
— Irmã, e se ela perguntar sobre a Ivy?
Emma parou a massa do bolo, olhou para Ruby.
— Se ela não perguntar, eu mesma vou dizer. – Emma encarou Ruby, e voltou a fazer o bolo.
— Está certo. Também acho que você deve contar, mas deve se preparar para uma possível reação negativa.
— Eu estou. – Emma respirou fundo. Não estava. Contar para Regina poderia colocar tudo a perder. Mas era preciso, não poderia recomeçar com a fotógrafa com aquele segredo nas costas.
O bolo estava pronto. A cesta de piquenique que Emma tinha arrumado estava pronta. Ela conversava com a irmã, quando o celular tocou.
— Bom dia, minha gata. – Emma falou ao atender a ligação de Regina.
— Oi, Emma. – Ivy ria do outro lado da linha. – A mommy está se arrumando e pediu pra ligar pra você.
— Oi, meu amor. Então já posso ir levar o café? – Emma sentiu um pouco de vergonha, e sorriu diante da gargalhada gostosa de Ivy.
— Você não ia fazer aqui?
— Ia né, mas vou ter que fazer o almoço, porque o café da manhã tá pronto faz tempo esperando vocês.
— Vem logo então, que to com fome.
— Você vai adorar o que eu fiz pra você então.
— O que você fez? – A menina indagou curiosa. De longe Regina observava a conversa das duas. Em tão pouco tempo, Emma tinha conquistado Ivy de uma maneira que ela nunca tinha visto antes.
— Surpresa.
— Ha, então vem muito rápido pra cá.
— Estou indo agora mesmo. Beijo. – Emma desligou sorrindo, olhou para a irmã que sorria ao ouvir a conversa de longe. – Essa menina é incrível.
— Vai até ela então. E boa sorte com a conversa tá? Qualquer coisa me liga, vai correndo ali em casa, não importa o que acontecer nós estamos aqui por você.
Emma despediu-se de Ruby e foi correndo para a casa de Regina. Mal tinha saído do carro, já viu a porta da casa aberta. Uma pequena branquinha estava parada na porta com os braços cruzados.
— Demorou demais.
— Mas eu vim o mais rápido que pude. Só que tive que vir com segurança, e se eu me machucasse?
— Ah não, daí não. Eu ia ficar muito triste se você se machucasse.
— E eu... — Emma deixou a cesta no chão, e ficou de joelhos na frente de Ivy. – Eu não quero te deixar triste nunca. Estou perdoada pela demora?
— Está sim. – Ivy abriu o sorriso e abraçou Emma apertado. – Entra, vamos logo, a mommy arrumou lá fora na piscina pra gente comer.
Emma seguiu a menina. A casa da fotógrafa era linda. Cheia de janelas e paredes com quadros coloridos. Tudo muito claro e muito aberto. Poucos móveis e muito espaço. Em cima dos móveis, tinha sempre uma foto de Ivy. Desde bebê até o momento. A casa refletia Regina. E com certeza tinha chegado no terceiro lugar que deixava isso bem claro. A piscina. A grande piscina com água cristalina, no meio de um enorme gramado, com uma área de festa enorme. A fotógrafa estava lá, com uma saída de praia sobre o biquíni, arrumando a mesa. Ivy saiu correndo na frente e quando se aproximou da mãe, ganhou um sorriso lindo da fotógrafa.
— Bom dia, Emma. – Regina se aproximou de Emma e lhe deu um beijo no rosto. Nem teve tempo de se afastar, quando sentiu o braço da morena prender sua cintura, e os lábios da mulher quase encostarem nos seus.
— Bom dia. — Emma piscou para Regina quando a soltou. – Só preciso mesmo fazer o café bebido, o resto está pronto aqui dentro.
— Nem se preocupa, eu já fiz. – As duas se aproximaram do lugar que Regina havia arrumado para o café. Ivy já tinha sentado, Emma colocou a cesta em cima da mesa e começou a tirar a comida.
— Você fez café? Nossa, e eu que tinha que fazer a surpresa por aqui. – Emma falou enquanto arrumava as frutas que tinha comprado. Depois tirou de dentro da térmica as panquecas, colocando a calda de chocolate e o mel na mesa. Por último, arrumou o bolo de chocolate. E sorriu quando viu a cara de alegria de Ivy.
— Tive que aprender. Até cozinhar alguma coisa eu sei agora. – Regina sorriu, ajudou Emma distribuindo os talheres. – E você achou que a exposição inteira ia tomar o café da manhã aqui?
— Não, nem tem tanta comida assim, Regina. – Emma sorriu, pegou o prato de Ivy. – O seu especial, senhorita. – A mulher colocou uma panqueca no prato, despejou um pouco de mel e colocou mais uma panqueca, picou os morangos por cima, formando uma carinha sorridente, e depois despejou a calda de chocolate. Colocou o prato na frente da menina.
— Emma, você vai cozinhar pra mim sempre. – Ivy sorriu, e começou a comer a sua panqueca.
— E como é que se diz? – Regina chamou atenção de Ivy.
— Obrigada.
—Sua vez. – Emma pediu o prato de Regina. – Montou as panquecas igual tinha feito com Ivy, e entregou de volta para a fotógrafa.
— Obrigada. – Regina serviu o café para as duas mulheres, e um suco para Ivy. Enquanto Emma montava seu prato. Por um tempo, as três comeram em silêncio. Silêncio que Ivy não gostou nem um pouco.
— Acabei esquecendo. – Ela levou a mão à cabeça como se lembrasse de algo. – Quando eu liguei pra Emma, mommy, ela achou que era você, daí atendeu já te chamando de gata.
— Atendeu é? – Regina começou a rir, e olhou para Emma. A mulher olhou para Ivy e para Regina, sorriu.
— Atendi. Seu nome apareceu, pensei que era você. – Emma falou meio que se justificando. Olhou para Ivy. – E por acaso sua mãe não é uma gata?
— É, ela é muito linda mesmo. Minha mommy né. – Ivy falou orgulhosa.
— Vocês vão me deixar sem graça desse jeito. –Regina terminou suas panquecas, e bebeu o café.
— Quer mais? – Emma ofereceu.
— Não, obrigada.
— Mas o bolo você vai comer. – Emma pegou o prato de Regina.
— Não, Emma, por favor, chega.
— Um pedacinho, Regina, fiz com tanto carinho, poxa.
— É, mommy, poxa. – Ivy imitou a cara de imploração de Emma. Regina não resistiu, aceitou o bolo.
— Como vocês se conheceram? – Ivy perguntou, ainda comia suas panquecas.
Emma e Regina se entreolharam. Sinal amarelo ligou para as duas. Emma não soube o que dizer, muito menos Regina.
— Em Nova York. – Regina disse rapidamente. – Não vi mais os seus amigos ontem, Emm. – Ela mudou de assunto no momento seguinte.
— Eles saíram mais cedo, sabe como é, casal quase de velhos aqueles dois. – Emma brincou.
— Não perguntei onde, perguntei como. – Ivy olhou séria para Regina.
— Que isso? Olha como você fala comigo, mocinha. – Regina ralhou de volta com a filha.
— Você tá mentindo pra mim, não tá? – Ivy falou, as lágrimas desceram pelo rosto da menina. – Pensei que a gente não mentia nessa casa. – Ivy levantou e saiu correndo.
Emma e Regina se entreolharam. As duas perderam a fome. Regina respirou fundo, passou as mãos na cabeça. Ela sabia, as perguntas de Ivy, estavam desconfiadas demais.
Emma não sabia o que dizer. Por ela, já tinha dito para a menina no primeiro momento. Mas a decisão era de Regina. Era.
— Vamos contar pra ela. – Emma falou decidida.
— Agora? Assim? – Regina levantou, começou a andar de um lado para o outro. – Emma, nem eu assimilei sua volta ainda, como assim contar tudo pra Ivy. Eu preciso...
— Precisa o que, Regina? Entender? – Emma ainda estava sentada. Isso era raro. Estava calma. Segura. – Você não vai entender. Não tem palavras para explicar o que acontece comigo. – Sua respiração acelerou. Emma pegou um copo e bebeu um gole de suco. – Não tem como ficar com você e mentir para a Ivy.
— Nós não estamos juntas, Emma. – Regina olhou para a mulher e falou pausadamente.
— Você quer que eu vá embora? Quer que eu desapareça da vida de vocês?
— Eu nunca quis isso. Você foi sozinha. – Regina esbravejou. – Você sumiu, desapareceu. Não me deu notícias, não voltou para casa. Ninguém te achava. Acharam que você estava morta, eu achei que você estava morta. E do nada, você está de volta em Storybrooke, enquanto eu fiquei lá, com um bebê para cuidar. SOZINHA. – A fotógrafa ofegava. Subiu o tom de voz, e soltou tudo em cima de Emma, sem pensar em nada, sem ter pena. – Era para ser nossa filha. Para criarmos ela juntas. E não para que eu tivesse que inventar história sobre a mãe dela, porque nem eu sabia o que tinha acontecido. Fui eu que fiquei sozinha com o coração em pedaços. – Regina apontou para Emma. – Você desapareceu, você fugiu, você só pensou em você e na sua doença. Porque se eu tivesse escolha, se eu soubesse. Eu tinha ficado com vocês três. Você, doença e bebê. – O dedo de Regina atingiu o peito de Emma. – Você me deixou só com o bebê. Sem escolhas pra mim.
Emma ouviu cada palavra. Eram pedras contra seu coração. Cada acusação de Regina, uma faca na sua alma. Seus olhos marejaram. As lágrimas desceram. Nem assim a fotógrafa parou. Continuou a esbravejar sua raiva, sua dor. Emma permaneceu sentada depois que o silêncio voltou. Secou as lágrimas, e ficou olhando para Regina. Não tinha palavras agora. A fotógrafa estava certa. Emma estava errada. Não tinha desculpas. Mas tinha perdão?
Ela esperou até Regina se acalmar. A fotógrafa olhava para a porta da casa. Esperando a filha aparecer correndo. Na indecisão de correr atrás da menina, ou terminar a conversa com Emma, ela não fez nada. Não era essa a conversa que queria ter, mas era o que tinha para hoje.
— Eu não posso mudar o passado. Não posso mudar o que eu fiz. Mas eu posso provar que você não está mais sozinha.
— Como? – Regina se virou para Emma. – Voltando para minha cama como se nada tivesse acontecido?
— Não. Estando aqui, do seu lado. – Emma respondeu séria, olhando para Regina. – Eu fugi, eu devo explicações para a Ivy. Me deixa dizer a verdade para ela.
Regina enxugou as lágrimas que desciam de seu rosto. Respirou fundo, e desistiu. O que quer que estivesse ativado a curiosidade da filha, que tivesse criado aquela desconfiança, merecia ser sanado. Ivy era esperta e em dias já tinha conseguido juntar mais pedaços da vida de Regina do que ela. Acabou concordando com a cabeça e dando carta branca para a morena agir. Em silêncio ela e Emma entraram na casa.
A fotógrafa foi direto para o quarto de Ivy. A menina estava deitada no chão, em meio aos seus bichos de pelúcia. Abraçada com a Tinkerbell e o cheiro. Não se mexeu quando ouviu a mãe entrar.
Regina sentou na cama, mas Emma continuou até sentar no chão ao lado de Ivy.
— Você é uma menina muito esperta, sabia? – Emma pegou um dos bichos que tinha pelo chão. – Mas não briga com a sua mãe. Ela só está tentando te proteger. Sabe, as mães fazem isso sempre. – Emma olhou para Ivy, passou a mão em sua barriga. – Começa com um grãozinho aqui dentro. Tão pequeno que você quase não acredita que possa ser uma vida. Daí ele vai crescendo, ganhando forma. Como uma pintura. Vai ganhando movimentos. O coração da gente até para quando sente o primeiro chute. – Regina sentia as lágrimas descendo pelo seu rosto. – Não tem palavra no mundo inteiro para explicar a sensação quando a gente pega no colo o bebê pela primeira vez. É uma vida, e você gerou aquela vida. – Emma sorriu. – É mágico. – Ivy sentou de frente para Emma, ouvindo atentamente cada palavra. – Mas às vezes a magia se modifica. E as coisas mudam, e não saem como a gente planeja. Eu queria ouvir a primeira palavra da minha filha. Eu queria ver os primeiros passinhos. A primeira comida sólida. Ensinar a sentar na mesa e usar os talheres. Queria ter sentado com ela no meu colo e contar sobre a minha infância. Mas eu não pude. Eu fiquei doente, muito doente. Em vez de cuidar do meu bebê, eu tentei machucá-lo. – Regina olhou para Emma. Ela não tinha dito nada disso para ela. Os olhos de Emma foram de Ivy para Regina e voltaram para a menina. – Quando eu vi o que eu estava fazendo, eu fiquei com um medo tão grande de mim, que eu não pude mais ficar perto. Eu jamais me perdoaria se alguma coisa acontecesse com o meu bebê. Eu corri muito, muito. E precisei de muita ajuda. Muitos médicos. Muitos remédios. Mas eu tinha vergonha, medo. Tinha medo de voltar pra casa. Tinha vergonha. E daí eu ficava doente de novo. Até que eu aprendi que eu não podia voltar pra casa doente. E não podia mudar o que eu já tinha feito. – Emma olhou novamente para Regina. O choro era livre. A única que ainda se mantinha constante era Ivy. – Eu só posso ser melhor agora. Ser corajosa. E me cuidar para não ficar mais doente, e não machucar mais ninguém.
Emma terminou. Secou suas lágrimas. O silêncio tomou conta do quarto da criança. Regina levantou e andou um pouco. Depois sentou do lado de Ivy que tinha voltado a se deitar entre os bichos. As três ficaram próximas, mas não se tocaram.
— Você me ama? – Ivy finalmente quebrou o silêncio e olhou para Emma.
— Amo mais que tudo nesse mundo. – A resposta veio emocionada.
— Você ama a mommy?
Emma olhou para Regina. A fotógrafa estava em silêncio por tanto tempo. Só tinha lágrimas em seus olhos.
— Amo demais.
Ivy olhou para Regina, pegou o braço da fotógrafa e deitou em seu peito.
— Você ama a Emma, mommy?
Uma simples pergunta. Não era tão difícil de responder. Mas as palavras trancaram na garganta. Tinha muita dor ainda. Mas tinha amor. Nunca tinha deixado de ter amor. Regina respirou fundo, beijou a cabeça de Ivy, e a abraçou. Olhou em lágrimas para Emma.
— Amo.
Ivy olhou para Emma e esticou a mão para ela.
— Volta pra casa, mama.
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