1. Spirit Fanfics >
  2. Born to Die >
  3. I feel so alone on a friday night

História Born to Die - I feel so alone on a friday night


Escrita por: auswanqueen

Capítulo 8 - I feel so alone on a friday night


— Volta pra casa, mama. – A mão de Ivy permanecia estendida para Emma.

As lágrimas que Emma havia secado, voltaram a correr pelo seu rosto. De todas as reações que ela imaginava da menina, essa seria a última. Seu olhar procurou o de Regina. Os braços da fotógrafa envolviam Ivy em seu colo e seu rosto estava coberto de lágrimas. Os olhares das duas mulheres se encontraram. Emma esboçou um sorriso em meio ao choro. Estendeu sua mão e segurou a de Ivy. A menina puxou a mãe para perto e Emma não se segurou mais. Sentou ao lado de Regina, e sem pedir, envolveu a fotógrafa e a filha com seus braços. Regina sentiu o corpo de Emma junto do seu e deitou a cabeça no ombro da mulher, enquanto Ivy se esforçou para abraçar as duas ao mesmo tempo.

O tempo parou. Congelou naquele momento. Durante anos Emma sonhava com o dia que teria a chance de ter Regina e Ivy em seus braços novamente. Seus braços agora pareciam pequenos, não conseguiam abraçar as duas próximas de si o suficiente.

As palavras faltavam à fotógrafa. Ela sabia que mais cedo ou mais teria que contar a verdade para a filha. Não imaginou que Emma teria a coragem e assumiria a culpa. Não imaginou que com aquelas palavras da mulher, poderia ser capaz de perdoá-la. O carinho que Ivy demonstrou com Emma. A aceitação de uma forma tão simples e pura. Bastava o amor para ela. Se existia amor, o resto era apenas resto.

Regina abraçava mais e mais a filha contra seu corpo, enquanto sentia os braços de Emma fazerem o mesmo com elas. Ninguém falava. Não era mais preciso. Estava com os olhos fechados quando sentiu as mãos de Ivy em seu rosto, secando suas lágrimas.

— Não chora, mommy. – Ivy olhou para Emma que estava na mesma situação de Regina. – Nem você, mama, tá tudo bem. – A menina também passou a mão no rosto de Emma, tentando secar as lágrimas.

Emma segurou a mão de Ivy e deu um beijo. Sorriu para a filha.

— É choro de alegria, meu amor. – Ela passou a mão no rosto de Ivy. Fez o contorno do rosto da menina. – Não se preocupa, sua mãe é bobona mesmo, chora à toa.

— Mas eu não gosto de choro. Parece tristeza. – Ivy voltou a passar a mão no rosto de Regina, que não tinha dito nada. – Já sei.

Com um certo trabalho, Ivy conseguiu sair dos braços das mães. Quando ficou de pé, olhou com um sorriso sapeca para as duas.

— Já volto. – A menina saiu correndo do quarto. Não deu tempo nem de Emma nem Regina falar nada. A fotógrafa lentamente sentou-se ereta, saindo dos braços de Emma.

As duas ficaram um tempo se olhando, até que as lágrimas realmente pararam. Regina respirou fundo e sorriu para Emma.

— Não sabia que ela ia reagir assim. – Foram as primeiras palavras de Regina, depois de tanto silêncio.

— Eu também não. Sempre tive a sensação de que ela iria me odiar.

— Não acho que a Ivy seja capaz de odiar ninguém.

— Espera ela chegar na adolescência. – Emma falou e não conteve o sorriso. Regina olhou para a mulher e riu junto.

— Acho bom você concordar comigo quando eu disser que ela não pode sair à noite.

— Sair à noite? Só depois dos dezoito e usando um chip rastreador. – Emma sorriu acompanhada de Regina.

— Adorei a ideia.

Emma pegou a mão de Regina. O olhar da fotógrafa focou nas duas mãos juntas. Uma lágrima escapou. Um sorriso nasceu. Como fazia antigamente, entrelaçou seus dedos com os de Emma. Seguiram em silêncio, apenas deixando seus corpos demonstrarem os sentimentos.

 

(...)

 

— Mas o que é isso? Que barulheira de porta é essa? – Belle apareceu na cozinha, com as mãos na cabeça. Estava com uma ressaca daquelas, e sua cabeça martelava devido a toda barulheira na cozinha. A barulheira de porta desesperada era de Ivy. – O que você tá fazendo, Ivy?

— Tia Belle, me ajuda, não acho chocolate e eu preciso muito de chocolate. – Ivy olhou desesperada para Belle.

— Mas por que você quer chocolate? Cadê sua mãe?

— Lá no quarto, com a mama.

Belle parou, olhou séria para a menina. Ela não tinha ouvido direito.

— Oi? Mama? Que história é essa? – A assistente precisou sentar. Não podia estar ouvindo essas palavras da boca da menina. Era um delírio da bebedeira. Tinha que ser.

— A Emma é a minha mama. – Ivy parou na frente de Belle falando naturalmente. Belle conhecia Emma e sabia quem era a mãe dela, porque tanta dificuldade em entender. – Eu só soube de certeza hoje, mas já tinha desconfiança pelo jeito que a mommy ficava quando ela tava perto. Ela sorria, de um jeito ou de outro, ela sempre acabava sorrindo.

— Ivy, — Belle segurou a menina pelos braços e trouxe ela pra bem perto do seu rosto. – Ela abandonou você e a sua mãe. Sua mãe sofreu todos esses anos por causa dela. Você entende isso?

— Entendo. Mas ela ficou doente e ficou com medo. Igual eu, quando sei que tenho que tomar remédio, e daí não conto que to doente. Só que agora ela tá boa, a mommy não vai mais sofrer.

— Doente? Doente de quê? Falta de vergonha na cara? – Belle acabou liberando a raiva em cima da menina. – Essa vagabunda, sonsa, dissimulada, apareceu do nada e fez a cabeça da sua mãe, desapareceu, fez ela sofrer o pão que o diabo amassou e agora volta com a desculpa que ficou doente? Sua mãe caiu nessa também?

— Não fala assim da mama, tia Belle, por favor. – Ivy fez uma carinha triste.

— Ela enfeitiçou você, igualzinho ela fez com a sua mãe, mas olha só, bebê, ela vai fazer vocês sofrerem.

— Tia Belle. – Ivy segurou o rosto de Belle. Respirou fundo. – A mommy só ficou triste porque não tava com a mama. Agora ela não vai mais ficar triste. Porque a mama ama ela e ela ama a mama, elas me disseram. – Ivy deu um beijo na bochecha de Belle. – Fica brava não, porque eu sempre vou te amar também tá? Agora, me ajuda a achar o chocolate, por favor? – Ivy imitou tão certinho o jeito de Regina, que mesmo que a raiva transbordasse dela, e ela não entendesse como tinha ouvido tudo aquilo de uma criança, Belle não pode resistir. Olhou pelos armários no alto, e dentro da geladeira.

— Não tem chocolate não, bebê.

— Faz brigadeiro?

— Você brinca com a minha pessoa, sabia? – Belle respondeu para a menina.

— Eu te dou um pouquinho. – Ivy continuou fazendo carinha pidona para Belle, até que a assistente fosse ao fogão. Mesmo magoada com Regina, Belle atendeu o pedido de Ivy. Não podia entender como Regina podia aceitar aquela mulher perto da filha, perto dela. Belle fez todo o brigadeiro e colocou em um prato, entregou com cuidado para a menina e colocou duas colheres.

— Tia Belle, são três. – Ivy lembrou com carinho.

Belle largou mais uma colher no prato, olhou séria para Ivy.

— Faz cara de brava pra mim que eu amo você mais ainda. – Ivy disse e saiu correndo da cozinha.

—Devagar – Belle gritou, não conteve o sorriso depois que a menina saiu.

 

(...)

 

Ivy entrou correndo no quarto e tropeçou em um sapato que ela mesma tinha deixado jogado no chão.

— Cuidado, Ivy, já disse para não correr assim dentro de casa. – Regina segurou o braço da filha, impedindo que a menina caísse, com o prato na mão. Emma pegou o prato que balançou nas mãos da menina, e ajudou Ivy a se levantar.

— Desculpa, mommy, mas eu tropecei. – Ivy se recuperou, e já estava sorrindo novamente.

— No sapato que você deixou jogado pelo quarto. – Regina ralhou. Antes de sentar, Ivy correu e tirou os sapatos do chão e guardou. Voltou correndo e se jogou no colo de Regina.

— Parou de chorar, né? Já tá brigando comigo.

— Eu consigo chorar e brigar com você ao mesmo tempo, se for preciso. – A fotógrafa abraçou a pequena em seu colo.

— E como que saiu esse brigadeiro aqui? – Emma, que não tinha dito nada até o momento, sorriu para as duas, mostrando o prato de brigadeiro que segurava.

— A tia Belle que fez, porque não tem mais chocolate nessa casa. – Ivy estendeu a mão na direção de Emma. – Não posso viver desse jeito triste.

— Quanto drama, vê se eu posso com isso. – Regina sorriu, ajeitou a filha em seu colo, e olhou para Emma.

Emma entregou a colher para Ivy, mas a menina pegou a colher com a outra mão, e continuou com a mesma mão esticada para a mulher.

— Você tá longe, mama, não era pra vocês se mexerem. – Ivy chamava por Emma. A professora segurou a mão da menina novamente e sentou mais perto das duas. Ivy pegou o prato de Emma e colocou em seu colo. Segurou o braço de Emma e o fez passar pelos ombros de Regina. Só então ela começou a comer o brigadeiro.

Mesmo sem jeito e confusa sobre tudo o que estava acontecendo, Regina se permitiu desfrutar daquele momento alegre. Não ligou que era hora do almoço, que era o segundo dia seguido que a menina comia besteiras. Não se importou com o sofrimento que passou longe de Emma. Não se importou com Belle. Ela esqueceu tudo e se prendeu naquele momento. Deixou Emma se aproximar e deixou a mulher demonstrar seu carinho.

— Vocês não vão comer? – A menina perguntou.

— Vamos sim. – Emma respondeu, pegou um pouco na colher e entregou na boca para Regina, que não negou. Depois, encheu a sua colher e comeu, assim foi fazendo o tempo inteiro, sem tirar o braço ao redor de Regina. Sem criar nenhum espaço vazio entre elas.

— Mama, onde você mora?

— Do outro lado da cidade, é um pouquinho longe daqui. – Enquanto Emma respondia, Regina se deu conta que não sabia de nada disso. Tinha se preocupado tanto com as outras coisas, que esqueceu do básico. – Moro num edifício, que só mora as pessoas da minha família.

— Quem?

— Minha mãe, Mary Margareth e meu irmão Neal, minha irmã Ruby, com a esposa dela, a Dorothy e minha sobrinha, Aurora. Mora também minha tia Abbigayl e o marido dela, o James.

— Você tem sobrinha? Tipo, outra menina? – Ivy fez uma carinha triste. Ela era a única criança, no meio de tantos adultos, que nem sabia como ficar perto de crianças da idade dela.

— Tenho, a Aurora, ela tem treze anos. Ela é muito legal, você vai gostar dela.

— Não sei. – Ivy se encostou em Regina. – Só você e a sua irmã gostam de mulher na sua casa?

— Sim, o meu irmão gosta de homens. – Emma respondeu rindo. Regina, que estava apenas comendo, riu também.

— Você mora sozinha? – A pergunta foi de Regina.

— Moro, minha mãe como vizinha já me deixa louca, imagina morar com ela. – Emma olhou sorrindo para Regina.

— Eu posso visitar sua casa? – Ivy voltou com as perguntas.

— Não só pode, como deve. Você não tem ideia de como aquela casa precisa da sua alegria. – Emma sorriu para Ivy.

— Vamos lá? – A menina perguntou empolgada para Regina, quase ficando de pé com o pulo que deu, praticamente virando o prato no colo de Emma.

— Agora? – Emma foi pega de surpresa pela empolgação de Ivy.

— É, por que não? Você não arrumou a cama antes de sair de casa, Emm? – Regina dividia o sorriso com a filha.

— Claro que arrumei. – Emma fez uma cara indignada para Regina. O problema era que Ruby estava esperando por ela, sua mãe deveria estar também. E a última coisa que Emma queria, era que alguém interrompesse aquele dia – É só que vocês me pegaram de surpresa, não fiz mercado.

— A gente pede pizza. – Ivy pulava de alegria.

— A gente pode pedir comida de verdade para comer. – Regina olhou de Ivy para Emma. – Se você não se sentir mal.

— Claro que não, Regina, eu quero vocês lá...— Emma olhou para Ivy, que já corria para o closet. Aparentemente ir na casa de Emma era melhor que passar o dia na piscina. Ela falou baixo com Regina. – Não quero que minha família veja vocês lá, sabe, não quero que eles venham com aquele papo de prazer em te conhecer, e acabar criando um clima tenso, tá tão bom assim.

— Você não disse que mora sozinha? – Regina respondeu no mesmo tom.

— Moro, mas é no mesmo prédio, se a mosca morrer na portaria, todo mundo sabe.

— Liga pra eles e fala, não pode? – Regina não se reconhecia. Ela não entendia o porquê dessa curiosidade dela, de conhecer o lugar onde Emma morava. Até ontem, ela tinha receios, estava cheia de medos. Agora praticamente implorava como a filha para ir até o apartamento da mulher.

— Posso. Vou ligar. – Emma sorriu, foi vencida mas ainda estava incerta. Podia ligar, mas sua mãe conseguia ser inconveniente. E sabia que seria demais para a mulher se segurar em casa, quando soubesse que Regina e Ivy estavam lá. Todos queriam conhecer a menina, e todos os elogios que Emma distribuía a criança, só fazia aumentar a curiosidade.

— Então está certo. Você liga pra eles e eu vou arrumar a gente. – Regina sorriu. Olhou pra Ivy saindo do closet com um pijama nas mãos. – Que isso, Ivy? Nós não vamos dormir lá.

— Mas eu quero testar a cama da mama. – Ivy olhou para as duas mães. – Só uma sonequinha.

Regina levantou rindo, não iria dizer mais nada. Colocou o pijama em cima da cama e levou a filha para escolher a roupa. Emma ficou observando as duas de onde estava. Já sentia as bochechas doerem de tanto sorrir, mas não conseguia parar. O que ela mais esperava, mais ansiava, estava acontecendo. Tinha Ivy, e tinha Regina em sua vida. Ela sabia que ainda não tinha Regina como gostaria, mas já tinham subidos tantos degraus desde o reencontro, que seria mais prazeroso ainda quando tivesse a fotógrafa de volta.

Ivy já estava pronta, quando Emma ligou para sua irmã. Explicou para Ruby e implorou para não deixar sua mãe ir até seu apartamento. Com a confirmada ajuda da irmã, Emma passou a dar a total atenção à filha. Ivy puxava Emma pelo seu quarto, mostrando seus brinquedos favoritos.

— Esse aqui é o mais especial. – Ela pegou uma bolsa, e abriu, tirou com todo cuidado a câmera que ela tanto amava. – Meu vô Henry que me deu, olha isso. – Ivy tirou uma foto que estava na bolsa. Era a foto que tinha tirado de Regina, no último dia delas em Nova York.

— Que linda essa foto, olha só, você tem o talento da sua mãe. – Emma olhava para a foto em que Regina sorria.

— Gostou?

— É linda. A modelo, e a fotógrafa. – Emma piscou para Ivy, e fez um carinho nos cabelos da filha.

— É sua então. – A menina sorriu de volta. – Assim você pode mostrar a mommy se alguém quiser namorar com você e dizer que já tem namorada.

Emma abraçou Ivy e a encheu de beijos. Estavam assim, abraçadas e rindo quando Regina apareceu na porta do quarto. O ciúme que tinha quando via Ivy se divertindo com outra pessoa, não veio. Nem mesmo o medo de perdê-la. Era estranho, que mesmo depois de tudo, aceitar que a filha estava segura com Emma. Só tinha uma questão que incomodava.

Primeiro Emma havia dito que tinha pensando em Ivy morta, e por isso correu. Mas quando ela falou para menina, disse que tinha machucado a filha. Ivy não tinha marcas quando Regina chegou em casa e a encontrou sozinha no berço. Ela tinha certeza disso.

— Estou pronta, vamos?

Emma e Ivy pararam e olharam para Regina. Sorriram, Ivy pegou sua câmera, Emma pegou a bolsa que a menina tinha feito para levar, a menina segurou na mão de Regina quando chegaram na porta e as três saíram de mãos dadas.

 

(...)

 

Ivy passou o caminho inteiro fazendo perguntas para Emma. Aparentemente o fato da mulher estar a mais tempo em Storybrooke a deixava uma perita na cidade, na visão da menina, e logo qualquer coisa que ela via pelo caminho, era motivo de uma pergunta. A câmera que Ivy trazia na mão, passou o tempo inteiro tirando fotos, que logo iam parar nas mãos de Regina. Quando chegaram na casa de Emma, a fotógrafa tinha várias imagens nas mãos. Entre fotos do trajeto, como fotos dela e de Emma.

Emma entrou ansiosa no elevador, internamente rezava para que ele não parasse. Suas preces foram atendidas, e ela conseguiu levar Regina e Ivy para seu apartamento sem que encontrasse algum parente.

— Pronto, gente. – Emma entrou primeiro. Apesar do apartamento estar impecável, a mulher ainda seguiu arrumando algumas almofadas. – Não repara que o apartamento é pequeno perto da casa de vocês.

— Que isso, Emm, até parece que nós nunca moramos num apartamento antes. – Regina fechou a porta, e Ivy já estava olhando para a estante de livros próxima a televisão.

— Mama, quem é essa aqui? – Ela perguntou em relação a foto que via.

— Deixa eu ver – Emma se aproximou, enquanto Regina foi andando pelo outro lado da sala. Ela viu as revistas de fotografias arrumadas em cima de uma pequena mesa de canto. – Essa aqui é a minha mãe. – Emma respondeu para Ivy.

— Ela é bonita. – Ivy olhou para Emma e sorriu. – Onde é o seu quarto?

— Vem cá que eu te mostro. – Emma segurou a mão da menina, levando ela para o seu quarto. Ivy chamou Regina para ir com elas.

Emma aproveitou para mostrar todo o apartamento para as duas, antes de chegar no seu quarto. Além da cama de casal, a decoração do quarto de Emma era limpa. Apenas alguns outros móveis, como uma cômoda, criado mudo, um espelho grande. Sem muita cor, sem fotos expostas. Um livro ao lado da cama chamou a atenção de Ivy.

— Que livro é esse, mama?

— Esse é um livro especial. É onde eu guardo as minhas memórias. – Enquanto Ivy andava pelo quarto, como tinha feito nos outros locais da casa, Emma e Regina permaneciam lado a lado.

— Tem foto?

— Tem, você quer ver?

— Quero. – Ivy sorriu. Emma andou até onde a filha estava, pegou o livro e sentou na cama.

— Senta aqui. Você também – Emma olhou para a fotógrafa. As duas sentaram na cama. Ivy tirou os sapatos, e se enfiou no colo de Emma.

O livro foi aberto. As cores que faltavam pela casa estavam ali. Em cada foto, cada palavra, a letra cursiva de Emma estava em todos os cantos. Algumas fotos tinham desenhos do lado. Regina viu que tinha algumas passagens riscadas várias vezes, e outras com uma caneta preta e uma letra mais desleixada. As mudanças de humor, ela pensou, dava para notar numa simples escrita.

— Eu comecei a escrever quando estava me tratando. Eu fiquei com medo de esquecer das coisas e então acabou virando uma terapia. – Emma ia virando as folhas. – Aqui, eu contei como conheci sua mãe. – Ela voltou para umas das primeiras páginas.

— Conta pra mim então. – Ivy pediu, encostou sua cabeça no peito de Emma esperando pela história. Regina olhou para Emma e sorriu. Fez um carinho no rosto de Ivy, e deitou a cabeça no ombro de Emma.

— Bom, vamos lá. – Emma não precisava ler, ela se lembrava daquele dia como se tivesse acontecido ontem. – Eu estava em Nova York para estudar e tinha um tempo livre quase todos os dias. Acabei saindo com algumas amigas que tinha feito lá. Fomos a uma festa. Acontece que nessa festa só tinha meninas e eu fiquei tímida porque minhas amigas foram logo se enturmando. Fui para um canto, ouvindo a música, fiquei olhando as meninas que estavam dançando, até que... ela me olhou. – Emma sorriu quando seus olhos se encontraram com os de Ivy. – Aquela morena dos com olhos brilhantes e cabelos negros. Eu pensei, nossa que mulher mais linda, mas como eu tinha vergonha, desviei o olhar. – Emma sorriu. – E pra minha surpresa, ela veio na minha direção. Abriu um sorriso lindo e sabe o que ela me disse?

— Não, o que? – Ivy já não estava mais encostada em Emma, e olhava ansiosa para as mães.

— Eu disse. – Regina olhou de Emma para Ivy. – Você vai ter que me dizer o seu nome, o que você faz e onde você encontrou tanta beleza.

— E o que você respondeu?

— Eu gaguejei como uma boboca o meu nome. – Emma e Regina riam. – E dali em diante não nos largamos mais.

— E quem pediu em casamento?

Emma levantou o dedo. Ela olhou para Regina e sorriu. Por mais algumas horas contaram a história de seu relacionamento para Ivy, que cada vez mais tinha perguntas para as mães.

Contar sua história, sem se preocupar com as palavras. Livre de culpa. Regina estava leve, sorridente. Contava os lugares onde ia com Emma, os passeios que fizeram, as fotos que tiraram. Fazia muito tempo que ela não se sentia... completa e feliz.

O tempo passou. O almoço saiu de uma divertida mistura das três na cozinha. Mesmo com toda a bagunça que Regina e Ivy fizeram na sua cozinha, Emma não se importou como antes. Deixou elas fazerem a sujeira e foi limpando como pode. Comeram na mesa de jantar, que a mulher só usava quando recebia a mãe ou a irmã na sua casa.

Quando finalmente Regina conseguiu fazer com que Ivy parasse para ver um filme, a noite estava lá fora. A menina fez questão de colocar seu pijama e deitar abraçada com o seu xero. Segurou as mãos de suas mães em seu peito, e antes mesmo da metade do desenho, estava dormindo.

— Ela estava eufórica hoje. – Regina comentou baixinho. Passou a mão nos cabelos da filha.

— Percebi. Nunca tive que responder tantas perguntas na minha vida, e olha que eu faço terapia há cinco anos. – Emma respondeu no mesmo tom para Regina, e dividiu o sorriso com ela. – Mas foi maravilhoso.

— Foi mesmo. – Os olhos de Regina encontraram os de Emma. As duas estavam próximas demais. Não se encostaram porque Ivy tinha adormecido entre elas. A fotógrafa não sabia se era bom ou ruim.

— Que bom que você também achou isso. – Emma ficou de lado, deixou sua mão com Ivy, e a outra usou para apoiar a cabeça e ficar olhando para Regina. – Fiquei com medo de perder vocês duas de novo, depois de contar a verdade.

— Não se perde ninguém quando se fala a verdade, Emma. – Regina ficou do mesmo jeito que Emma. – Ela não tinha machucado nenhum.

— Não foi desse jeito. – Emma olhou para a filha dormindo tranquila entre elas. Lembrar daquela cena era uma dor no seu coração que os anos nunca amenizaram. – Eu estava dando banho nela. Tudo tranquilo. Então meu celular tocou, olhei e era minha mãe. Eu ignorei e ela continuou a ligar. O barulho incomodou a Ivy, ela começou a chorar. Então, fiquei nervosa, com raiva da minha mãe, joguei o celular na parede, e larguei a Ivy na banheira. – Emma tinha seu rosto coberto de lágrimas. Seu olhar não estava em Regina, nem em Ivy. Ela não conseguia olhar para elas naquele momento. – Eu saí e fui pro quarto. Chorei, chorei. E não ouvi mais o choro da Ivy. Daí eu fui ver ela. Ela estava debaixo da água, sem se mexer. Eu corri, peguei ela, tentei fazer ela chorar mas não consegui. Não sei como me lembrei de uma situação em que a Aurora se afogou e meu irmão fez os primeiros socorros nela, eu imitei o que ele fez, e a Ivy começou a chorar de novo. Eu levei tempo até ela se acalmar. Chorávamos as duas no apartamento. Quando ela parou, eu fiquei com tanto medo de mim, tão desesperada, que eu saí correndo. – Emma olhou para Regina, lágrimas corriam direto pelo seu rosto. – Desculpa.

Regina soltou a mão que estava com Ivy e levou ao rosto de Emma. Fez carinho nele, enquanto as lágrimas de Emma desciam pela face. Regina segurou a nuca de Emma e encostou a testa das duas.

— Queria tanto que você tivesse me dito o que sentia, tivesse me deixado te ajudar. – Suas lágrimas acompanharam as de Emma, mas as duas não se afastaram. Choraram juntas, dividiram a mesma dor. Regina podia ter perdido Ivy também. Se Emma não tivesse voltado, não tivesse agido, teria perdido as duas. Um milagre? Não importava, ela tinha as duas agora, não correria o risco de perdê-las de novo.

Não precisaram trocar mais nenhuma palavra. Ficaram juntas até o choro cessar. Foi só então que voltaram a se olhar.

— Me perdoa. – Emma disse. As palavras vinham do seu coração, Regina sabia, ela podia sentir.

— Perdoo. – Regina respondeu com um leve sorriso.

— Vamos começar de novo?

— Eu perdoei o que você fez com a Ivy. – Regina passou a mão no rosto de Emma. – Nós precisamos ir mais devagar, ok?

— Ok. Vai ser ótimo te conquistar de novo. – Emma não conteve o sorriso. Virou o rosto e beijou a palma da mão de Regina.

— Melhor nós irmos agora. – Regina afastou seu rosto de Emma.

— Não, fica aqui, a Ivy já dormiu mesmo.

— Eu tenho que ir, Emma, tenho coisas para resolver em casa. – Regina respirou fundo.

— Por que eu sinto que essa respirada tem a ver com uma certa morena?

Regina tinha sentado na cama, e estava calçando seus sapatos. Olhou sobre o ombro e sorriu para Emma.

— Devo uma conversa para a Belle. Acho que vou pagá-la essa noite. – A fotógrafa se levantou. Emma pegou Ivy no colo e beijou seu rosto antes de entregá-la para Regina.

— Levo vocês até o carro.

Emma acompanhou Regina até o carro que estava estacionado na frente do prédio.

— Você...

— Posso...

As duas falaram juntas.

— Pode, vai lá em casa amanhã. Te espero. – Regina sorriu, abriu a porta do carro e colocou Ivy deitada no banco de trás.

Emma deu mais um beijo antes de fechar a porta. Seus corpos ficaram muito próximos, Emma sorriu para a fotógrafa.

— Eu vou, preciso pegar meu carro.

— Acho que vou chamar as meninas para um almoço, fazer um dia na piscina. Comemorar a exposição.

— Estou convidada para esse almoço? – Emma mordeu seu lábio inferior.

— Está sim. Não esquece o biquíni.

— Não vou.

— Boa noite, Emma. – Regina deu um beijo no rosto de Emma e se virou para ir embora. Seu braço ficou preso na mão de Emma, e seu corpo voltou a encostar no da mulher.

— Boa noite, Regina. Vai com cuidado. – Ela deu um selinho longo em Regina, antes de soltá-la. A fotógrafa apenas sorriu e entrou no carro.

Regina chegou em casa sem problemas. Levou Ivy para a cama. No meio do caminho viu que a luz de seu quarto estava acesa. Parou com a menina no quarto dela, e a colocou na cama. Deixou a porta entreaberta, e aproveitou para mandar uma mensagem para Emma, dizendo que elas tinham chegado bem.

A fotógrafa entrou no seu quarto e não teve surpresa quando encontrou Belle esperando por ela.

— Onde está a Ivy? – A voz de Belle foi rude. Ela fechou a pasta que olhava e se levantou, cruzando os braços para Regina.

— Dormindo, no quarto dela.

— Pensei que ela ia dormir com você.

— Agora não, agora a gente precisa conversar, Isabelle. – Regina encarou a assistente.


Notas Finais


comentem, comentem, comentem


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...