— Você mentiu para mim. – Regina não podia acreditar – Porque, Emma?
Emma ficou olhando séria para Regina. Teve que parar por um longo momento para entender o que Fiona queria dizer. E foi só quando olhou para a fotógrafa que ela percebeu, a frase não era para ela. Era para ferir Regina. E Emma sentiu, a frágil confiança que estava restabelecendo com a fotógrafa, ser balançada, bem diante de seus olhos.
— Regina, eu não menti para você. – Emma voltou à realidade. Quanto mais demorasse, mais difícil seria para a fotógrafa acreditar. – Eu nunca dormi com a Fiona.
— Eu não acreditei quando ela disse antes. Já imaginei que ela tentaria algo baixo, mas... – Regina apontou para Emma que apesar de falar ainda estava estática. – Olha para você, tá aí parada como se tivesse visto um fantasma, como se eu tivesse ouvido algo que não deveria.
— Claro que eu estou em choque, Regina. – Emma bateu os braços ao lado do corpo. – Até semana passada ela era minha psiquiatra, uma médica normal, e agora ela é uma louca de pedra. Po, acha mesmo que se eu tivesse dormido com ela, eu não iria contar para você?
— Sei lá, Emma, é a sua psiquiatra, teoricamente ela não poderia dormir com você.
— E nem dormiu, porque se fez isso foi nos sonhos dela. – Emma se aproximou de Regina. – Eu passei seis anos pensando em você, noite e dia. Eu passei seis anos chorando porque não tinha você, sofrendo por ter de deixado. Seis anos em que meus sorrisos só apareciam quando eu via uma nota com seu nome em uma revista de fotografia ou descobria que você ia fazer uma nova exposição. SEIS ANOS, e mesmo longe você era tudo para mim. – A morena colocou as mãos no rosto da fotógrafa. – Entenda que até quando eu alucinava, eu alucinava com você. Acha mesmo que com tudo isso eu iria para a cama com ela ou com qualquer outra pessoa?
— Não. – Regina respondeu envergonhada. A voz estava embargada. Respirou fundo e segurou as mãos de Emma. – Me desculpa, mas é que eu tive outras pessoas e a gente estava separada, então não seria traição, mas imaginar você com ela me deixa...
— Meu amor, me escuta e entende isso de uma vez. – Emma sorriu, abraçou a cintura de Regina. – Jamais eu iria sentir alguma coisa por ela. Primeiro que ela é um porre, segundo que ela é minha médica, e esse fetiche eu não tenho. Terceiro, as únicas mulheres que estiveram comigo na cama nos últimos anos foram a minha mãe e a minha irmã, que só dormiram ao meu lado para garantir que eu ficasse bem. E vamos combinar que mais broxante que isso, é só imaginar a Zelena e a Belle juntas. – Emma começou a rir. Regina passou seus braços em volta do pescoço de Emma, rindo.
— Boba. Mas você disse que não fez coisas boas quando teve seus surtos. Tenho certeza que ir para cama com aquela ali, não é uma coisa boa para qualquer pessoa. – A fotógrafa olhou séria para Emma. A mulher se sentou no sofá puxando Regina para seu colo.
— Na verdade, eu não lembro direito o que eu fiz. – Emma tinha um braço em volta da cintura da Regina. Sentia o olhar atento da fotógrafa nela, mas não conseguia olhar de volta. – Eu sei que eu bebi, eu lembro de ver você, e de... — Emma olhou para o chão. Fechou os olhos, tentou apagar aquelas poucas lembranças que tinha. – Eu não sei com quem dormi, eu só lembro dos cabelos negros e a pele clara.
Regina gentilmente levantou o rosto de Emma. Olhou fundo nos olhos marejados da mulher. Fez um carinho em seu rosto e sorriu.
— Não vai mais acontecer. Você não vai mais ter esses surtos e eu não vou mais desconfiar de você. Eu prometo. – A boca de Regina beijou todo o rosto de Emma, até chegar nos lábios.
— Mommy, eu tou com fome. – Ivy voltou correndo para a sala. Subiu no sofá e se sentou sob as pernas de Regina e encostou a cabeça no peito da fotógrafa. Seus olhos já estavam brigando para ficar aberto.
— Vamos para casa, lá a gente janta, ok? – Emma disse sorrindo.
— Pizza? – Ivy perguntou com a voz cheia de esperanças.
— Nada de pizza, vamos comer alface. – Regina começou a rir diante da careta que a filha fez de volta.
Da mesma forma que as três haviam saído de casa, elas retornaram. Juntas e felizes. Os problemas estavam lá. As manhas de Ivy, a mágoa de Regina, o medo de Emma, mas nada disso impedia a felicidade delas. Estavam juntas e isso era o passo mais importante que haviam dado nos últimos anos. Enquanto Regina e Ivy eram a sanidade para Emma. Emma e Ivy eram a força para a fotógrafa. Cada uma precisava da outra, mesmo com um passado insistindo em se fazer presente, mesmo com um presente insistindo em lembrar do passado e um futuro tão incerto quanto o dia de amanhã, elas tinham o principal. Tinham uma à outra.
Como se os pensamentos fossem os mesmos, Emma sorriu para a fotógrafa e segurou sua mão por todo a caminho até em casa. A morena subiu com Ivy adormecida em seus braços para o quarto, deixando o jantar para a fotógrafa fazer.
Ivy mal acordou para comer e voltou a se jogar na cama das mães para dormir. Com uma perna no colo de Emma, a cabeça no colchão e o braço em Regina, Ivy adormeceu novamente.
— Ainda bem que ela quase não é espaçosa. – Emma comentou sorrindo.
— Não sei quem ela puxou. – Regina respondeu, levantou o braço de Ivy e se deitou ao seu lado.
— Quem será, né, dona Regina? – Emma perguntou irônica. – Vou levar a bandeja lá pra cozinha e depois coloco ela na cama.
— Deixa aí, Emm, a bandeja e a Ivy. – Regina fazia carinho nos cabelos da filha.
— Ela vai dormir com a gente de novo? – Emma falou e quando viu o olhar da fotógrafa nem deixou ela falar. – Amor, eu sei que vocês têm esse costume. Mas acredita em mim, isso não faz bem nem para você e nem para ela.
— Ela sempre dormiu comigo, Emma, mesmo depois que eu a coloquei na cama dela, ela vem pra minha.
— Eu percebi isso. – Emma respirou fundo. – Mas é importante que a criança tenha uma independência.
— A Ivy é independente. – Regina retrucou.
— Para algumas coisas sim, para outras não. – Emma olhou com paciência para a mulher. – Deixa ela ir para cama dela e vamos começar a acostumar ela dormir lá. Logo ela não vem mais no meio da noite para a nossa cama.
— Mas eu a quero aqui, perto de mim. – A fotógrafa falou, inconscientemente apertou Ivy contra seu peito.
— Amor, ela vai estar aqui do lado. As portas vão ficar abertas. – Emma se sentou mais perto de Regina. – O que você acha que pode acontecer? Se ela acordar e chamar, nós vamos ouvir.
— Eu... eu não, só não gosto disso. Sempre dormi melhor com a Ivy comigo.
— Confia em mim. – Emma deu um beijo na cabeça de Regina. Tirou o braço da fotógrafa da filha e a pegou no colo. Regina não olhou para Emma saindo do quarto. Era besteira, ela sabia, mas não conseguia evitar a sensação de estar perdendo a filha também. A fotógrafa fechou os olhos e passou as mãos na cabeça. Forçou-se a lembrar que tanto Ivy quanto Emma estavam com ela. Ela não perderia ninguém.
Emma deixou Ivy com todo cuidado na sua cama. Entregou o xero para a filha, deu um beijo de boa noite e deixou a porta entreaberta. Fez a mesma coisa com a porta do quarto de Regina e se deitou ao lado da mulher. Assim que sentiu o corpo de Emma voltar para cama, a fotógrafa deitou o mais perto que os corpos permitiam, abraçou a morena com força e adormeceu sem dizer mais nada.
Em todas as manhãs seguintes, toda vez que Emma acordava, ela via Ivy dormindo com Regina. Não importava se as duas tivessem tido uma longa noite de amor, ou dormido cedo. A menina sempre ia para o quarto delas. O mais estranho era que Emma não acordava. Ela tinha certeza de que seu sono era leve, mas nunca conseguia ouvir quando Ivy chegava. Apesar de já terem conversado com a filha sobre ela dormir em sua própria cama, algumas noites enfrentavam as manhas de Ivy. E se não fosse por Emma, Regina já tinha cedido.
Pelo menos agora era mais fácil acordar as duas pela manhã. Nunca acordavam tão cedo ou tão rápido, mas o mau humor já não perdurava por muito tempo. Algumas vezes as duas já saiam do quarto rindo. Ivy também tinha melhorado e as aulas com Emma iam cada vez melhor. Como Emma podia dividir o tempo de estudo de Ivy para o decorrer do dia, muitas vezes ela misturava lazer com o ensino. Naquela tarde, ela levou Ivy até o parque, para estudar as plantas e ficar fora do estúdio, enquanto Regina fotografava mulheres nuas.
— Muito bem, e essa aqui a gente coloca onde? – Emma apontava para a última das plantas que elas tinham coletado.
— Com as briófitas. – Ivy respondeu com certeza. Emma sorriu e entregou a planta para a filha colar no caderno. – Mama, sabe o que estava pensando?
— Fala, meu amor. – Emma começou a arrumar algumas coisas que tinha espalhado pela grama.
— Você e a mommy eram casadas, né? Daí, depois ficaram longe uma da outra, e agora estão juntas de novo, vocês ainda tão casadas?
— Estamos. Nós ficamos longe, mas o casamento permaneceu.
— Então por que vocês não usam aliança? – Ivy perguntou para Emma. A mulher olhou para a mão vazia. Nem se lembrava mais do dia que tinha tirado a aliança. Tirou porque sua família insistiu. Nunca tinha se acostumado com o vazio no dedo. E ainda assim não se lembrou desse detalhe quando reatou com Regina.
— Sabe que você fez uma pergunta muito boa? – Emma pegou a filha no colo. – O que você acha de nós irmos até o shopping para comprar um par de aliança novo? Você me ajuda a escolher?
— Isso, mama. – Ivy ficou de frente para Emma. – Daí você pode entregar para ela no jantar do meu aniversário.
— Verdade, minha pequena, seu aniversário estão chegando. – Emma sorriu. – Mas que história é essa de jantar? É o seu primeiro aniversário comigo, eu quero uma festa.
— Mas não tem muita gente para ir. – Ivy deu de ombros.
— Como não? Só a minha família enche o espaço lá da piscina todinho. – Emma sorriu. – Eu vou falar com sua mãe e, sim, nós vamos dar uma festa no seu aniversário. Porque eu lembro bem da festa que eu queria fazer para você quando fizesse um ano e eu não pude fazer. Agora eu vou fazer. Combinado?
— Vai ser da Tinkerbell? – Ivy perguntou, já sorrindo e convencida pela empolgação de Emma.
— Não. Mas eu tenho certeza de que você vai amar. Confia em mim?
— Confio. – Ivy abraçou Emma. – Mas você dá a aliança para a mommy no dia do meu aniversário, né?
— Combinado. Agora vamos logo para o shopping, porque acho que logo mais vai chover e quero estar em casa nessa hora.
Ivy arrumou suas coisas e guardou na mochila. As duas saíram e foram para o shopping. Com tantas opções que apareceram na frente delas, demoraram muito mais que o previsto para escolher as alianças e se atrasaram para voltar, deixando Regina preocupada.
— Eu juro que se você ligar mais uma vez para a Emma, eu te bato. – Belle falou quando viu a fotógrafa mexer novamente no celular.
— Poxa, Belle, tá chovendo forte e a Emma disse que estava a caminho, mas não chegaram até agora. – Regina se justificou.
— Dá um tempo para elas chegarem antes de ligar de novo. – Belle retrucou.
— Ela me disse isso meia hora atrás.
— Regina, é Storybrooke, com chuva, você acha que a Emma tem um jato? – Zelena folheava tranquilamente uma revista, respondeu sem olhar para a fotógrafa.
— Não tenho, mas estou considerando comprar um. – Emma apareceu na porta bufando. Ivy largou a mochila no chão e correu para Regina. – Esse trânsito está impossível.
— Também acho, só não acho que vai ter algum louco que vá deixar você pilotar um jato, porque se com o carro é um perigo, imagina no céu. – Zelena falou sorrindo para Emma.
— No céu eu não tenho você na minha frente para atrapalhar. – Emma debochou de Zelena, foi até Regina e deu um beijo nela. – Ficou preocupada, né?
— Nãooooooooo – Ecoou um coro com as vozes de Zelena, Belle, Jasmine e Mulan atrás das duas mulheres.
— Mommy, a mama vai fazer uma festa de aniversário para mim. – Ivy falou empolgada, sorrindo pelo coro das meninas segundos antes.
— Uma festa? Jura? – Regina olhou de Ivy para Emma, curiosa.
— Tagarela – Emma fez cócegas em Ivy. – Vai tomar banho, enquanto eu explico para a sua mãe.
Ivy deu um beijo em Regina, e subiu as escadas correndo, parou no meio do caminho, e se virou para as duas.
— Mommy, você vem me secar? – Não contente com os olhinhos pidões, Ivy fez beicinho, não conseguindo ouvir outra resposta de Regina que não fosse um sim. Emma não falou nada, apenas pegou a mão da fotógrafa e a levou para longe dos ouvidos curiosos das meninas.
— A Ivy veio me falar do aniversário dela e que iria ter um jantar. E eu tive essa ideia, que é maravilhosa por sinal. – Regina não conteve o sorriso ao ouvir Emma falar. – De fazer uma festa pra ela, já que é a primeira festa de aniversário nossa.
— E você acha que eu vou dizer não? – Regina perguntou sorrindo. – Com toda essa empolgação de vocês duas, eu acho que perco o meu convite da festa se negar.
— Perde não, bobinha, até porque se você dissesse não, eu sei de um jeito especial de te convencer. – Emma piscou e sorriu safadamente para Regina. — Eu vou fazer a decoração para a festa, que não vai ser Tinkerbell, porque eu já tenho a festa planejada na minha cabeça. – Emma falou toda cheia de si.
— Já tem?
— Já, era para ser a festa de um aninho dela, mas vai ser a de seis anos. – Emma sorriu. – E tem mais uma coisa.
— Fale. – Regina cruzou os braços. Apesar de se preocupar com os rompantes de alegria cada vez mais frequentes de Emma, a fotógrafa não escondia que preferia ver a mulher assim, do que chorando ininterruptamente sem saber ao certo qual a razão.
— Enquanto nós fazíamos a nossa busca das plantas, a gente se aproximou de um estúdio de dança e ela viu as meninas entrando arrumadinhas com roupa de balé, e eu reparei um brilho nos olhinhos dela. – Antes que Regina respondesse. – Ela não me disse nada, mas acho que a gente podia perguntar se ela quer fazer balé ou qualquer outra coisa, e principalmente incentivar, né?
Regina ficou olhando para Emma. Seus pensamentos vinham muito rápido. A última tentativa de socialização da Ivy com as crianças da idade dela, foi no mínimo catastrófica. Emma não sabia. Ela ainda tinha esperança.
— Vamos fazer um acordo. – A fotógrafa finalmente falou.
— Acordo? – Emma perguntou desconfiada.
— Sim. Você para de me enrolar e de enrolar a si mesma, e vai na consulta com o novo psiquiatra. E para de falar sobre colocar a Ivy numa escola.
— Está pedindo duas coisas contra uma.
— É pegar ou largar. – Regina fez que ia embora.
— Tá bom. Eu vou ao médico de novo. – Emma revirou os olhos. – E eu paro de falar sobre colocar a Ivy na escola. – Diante do sorriso triunfante de Regina, Emma apontou o dedo para ela. – Por agora. Porque esse assunto ainda não acabou.
Com uma guerra de olhares e palavras não ditas, Regina saiu em direção ao quarto. Emma foi sorrindo até perto das meninas e se sentou do lado de Zelena.
— Zel, linda. – Emma falou. A modelo apenas levantou os olhos da revista e encarou Emma.
— Vou cobrar a hora para ser babá.
— Não vou te pagar de qualquer forma, e não é isso que eu quero de você. – Emma sorriu.
— E o que você quer então, Emm, linda? – Zelena fechou a revista e olhou para Emma. Pela expressão de quem ia aprontar alguma coisa no rosto da morena, Zelena abriu um sorriso curioso.
E foi somente com Zelena que Emma dividiu as preparações para a festa de Ivy. Quando a mulher dava aula para a menina, a modelo comprava as coisas que faltavam. Como Emma decidiu fazer uma surpresa, ela alugou um salão de festas para preparar tudo longe dos olhos curiosos que tinha em casa. Nem mesmo Regina teve a oportunidade de ver alguma coisa.
— Amor. – Emma falou quando saiu do banheiro. Regina estava na cama, ainda trabalhando. Emma sabia que esse era o sinal de uma exposição nascendo. Quando Regina trazia o trabalho para o quarto, era porque estava montando uma exposição. Emma rezou para que fosse em Storybrooke, não estava preparada para viajar. – Nós temos que pensar no presente que vamos dar para a Ivy.
— Eu tive uma ideia. Na verdade, eu tenho essa ideia há muito tempo, mas não sei se é o momento certo. – Regina desligou o notebook e o colocou na escrivaninha. Esperou que Emma se sentasse ao seu lado na cama.
— Você e suas ideias. – Emma sorriu curiosa para a fotógrafa. A última vez que se lembrava de uma ideia de Regina, foi quando ela quis fazer uma festa surpresa para Belle, no meio de uma galeria badalada.
— Eu pensei em dar para ela um bicho de estimação. – Regina falou observando a reação da morena. Para sua alegria, o sorriso de Emma aumentou.
— É uma ótima ideia. Acho excelente a Ivy ter a responsabilidade de cuidar de um animalzinho.
— Pois é, o problema é que não sei se deve ser um gato ou um cachorro. Porque ela ama os dois.
— Um cachorro, né, amor? Olha o espaço que temos aqui. Um cachorro grande, com bastante energia pros dois correrem por esse jardim imenso. – Emma sorriu. – Já até estou vendo, ela e o bicho correndo pelo gramado e você batendo as fotos.
Regina gargalhou.
— Mas e se a gente tiver que viajar e ficar um tempo maior fora por causa das exposições? – A fotógrafa olhou séria para Emma. – Eu já disse para você que não me separo da Ivy, e além do mais, como minha esposa, eu gostaria que você acompanhasse também. E eu sei que ela vai ficar apegada com o cachorro, e se não puder levar...
— Compramos um cachorro grande e um gato então. – Emma deu de ombros, interrompendo o raciocínio de Regina. – O cachorro fica nas viagens longas e o gato vai de companhia.
— Os dois? – Regina voltou a sorrir. – Emma, é loucura.
— Meu amor, gato é um animal independente. Ele pode ensinar muitas coisas como paciência e respeito para a Ivy. E o cachorro é a festa e a responsabilidade de saber lidar com uma vida que depende de você.
— Estou convencida. Mas você acha que conseguimos comprar assim tão em cima da hora? O aniversário dela é sexta e eu gosto de dar o presente no dia mesmo.
— E se em vez de comprar, a gente levar ela para escolher, em um local de adoção?
— Dá pra ser só o gato? Porque eu queria dar um labrador pra ela. – Regina fez o mesmo beicinho que Ivy fazia. Emma sorriu e beijou a fotógrafa.
— Combinado. E só para deixar você mais feliz ainda, sexta-feira que vem eu vou na psiquiatra.
— Na? Tipo mulher? – Regina perguntou séria.
— Não consigo falar com homens. – Emma olhou para Regina. – Foi a Zelena que me indicou.
— Então é bonita ainda por cima. – O velho ciúmes tomou conta do peito da fotógrafa. Fazia tantos anos que ela não sabia o que era ter esse sentimento com qualquer outra pessoa que não fosse a filha, que no fundo, Regina não sabia lidar direito.
— Como é que eu vou saber? Eu não a vi ainda.
— Para a Zelena ter indicado, é porque ela conhece, e se ela conhece deve ser bonita. – Regina respondeu brava.
— Olha só. – Emma pegou a mão de Regina e deu um beijo. – Você vai comigo, e se você vir algum decote, ou olhar, ou se achar que ela não é boa, eu não volto mais.
— Vou mesmo. – A fotógrafa só olhou de lado para Emma. O sorriso da morena aumentou, e ela puxou Regina para deitar-se na cama. Deitou-se em cima da fotógrafa e encheu a mulher de beijos, até conseguir um sorriso de volta.
Passaram os dois dias seguintes correndo atrás dos canis em busca do labrador. Ivy era ansiedade total. Nem conseguia mais se concentrar nas lições, tamanha a espera pela festa. Quanto mais ela via Emma, Zelena, Belle e Regina conversando baixo e mantendo ela afastada das conversas, mais a curiosidade aumentava. Na véspera de seu aniversário, resolveu que não dormiria. E foi para a cama das mães.
— Vamos ver de novo? – Ivy pediu depois que o filme terminou.
— O mesmo filme? – Emma perguntou.
— Pode ser o da Tinkerbell e o Segredo das Fadas. – Ivy apontou para a pilha de dvds que tinha trazido para o quarto das mães naquela noite.
— Pode ser, mas nada mais de pipoca ou chocolate, agora é deitar e ver o filme quietinha. – Regina falou fazendo Ivy deitar-se ao seu lado. Estava na cara que a menina queria ficar acordada além dos limites, só para receber os presentes na madrugada mesmo.
— Tá. – Ivy respondeu deitando-se com a cabeça no peito de Regina. Emma trocou os filmes e voltou a deitar do lado da pequena. Quando sentiu as pernas de Ivy em cima de sua barriga, Emma sorriu para Regina ao constatar que Ivy tinha finalmente adormecido.
— Ela sempre faz isso antes do aniversário. – Regina sussurrou.
— Vamos nós dormir agora, que as surpresas vão começar já no café da manhã. – Emma deu um beijo em Regina. Essa noite não levou Ivy para a cama dela. As três dormiram abraçadas.
Como todos os dias Emma se levantou primeiro. Arrumou o quarto com a decoração da Tinkerbell que tinha arrumado especialmente para aquela manhã. Tomou seu banho e desceu para preparar o café da manhã. Com todo carinho arrumou a bandeja e subiu para o quarto.
— Meu amor. – Emma disse ao ouvido de Regina. Deu beijos pelo rosto e pescoço da mulher, sem tocar em Ivy. – Acorda, amor.
Regina resmungou, abriu lentamente os olhos, e viu uma Emma empolgada olhando para ela. Regina sentou e percebeu os balões, a colcha diferente, e várias fadas penduradas por todo o seu quarto.
— Mas... – Regina nem conseguia falar. Primeiro, o que era aquilo tudo? E segundo, como foi que Emma fez aquilo tudo sozinha em seu quarto, e ela nem ouviu um barulho sequer?
— Já que todo ano você fez a decoração da Tinkerbell, eu acho justo esse ano não ser diferente. – Emma sorriu. Colocou em Regina um chapéu de aniversário da fada. – Vamos acordá-la?
Regina olhou para Emma. Talvez ela estivesse muito feliz. Talvez Regina tivesse falhado novamente. Felicidade demais, também era um sinal. Um sinal de que Regina deixou passar. Emma já deveria ter retornado aos medicamentos há muito tempo. Ela permitiu que a mulher a enrolasse por todo esse tempo. Regina sorriu, passou a mão no rosto de Emma.
— Deixa eu me arrumar?
Como se tivesse voltado para a realidade, Emma concordou com Regina. Aproveitou para ver se tudo estava certo antes de acordar Ivy. Regina tomou o banho rápido. Era o dia de Ivy, e ela tinha Zelena e Belle cientes da situação de Emma. Nenhuma delas iria deixar alguma coisa dar errado nesse dia. Ela passaria pela festa de Ivy, e não importava que o outro dia fosse sábado, ela ligaria para a tal psiquiatra e levaria Emma no sábado mesmo. Quando a fotógrafa retornou para o quarto, as duas foram acordar Ivy. Mesmo com a ansiedade da festa, acordar era sempre a mesma novela. Quando a menina assimilou que dia era, ela acordou num sobressalto. Ivy ficou em pé na cama, olhando admirada para o quarto decorado da mãe.
— É o melhor aniversário da vida todinha. – Ivy gritou e pulou nos braços de Emma e Regina. Depois de muitos beijos e abraços, as três conseguiram se separar para tomar o café da manhã.
Regina colocou a bandeja cheia de guloseimas que Emma preparou no meio da cama. Ivy se sentou no colo de Emma, e entre risadas comeram o café especial.
— Então, vamos a parte mais legal do dia? – Regina esfregou as mãos, olhando sorrindo para a filha. Emma olhou sem entender para a fotógrafa. Tinham combinado de Zelena ir buscar o cachorro e quando ela chegasse, a modelo avisaria as duas. Regina foi até a gaveta e retornou com algumas cartas nas mãos. – Esse presente você já deveria ter recebido antes, mas vamos dizer que o destino não permitiu isso.
Ivy olhava atenta para Regina. Emma já tinha prendido a respiração. Eram as suas cartas. Os presentes que tinha enviado para Ivy, e que ela nunca tinha recebido. Regina continuou a falar.
— Essas são as cartas que sua mama te enviou quando ela estava longe. – A fotógrafa olhou para Emma. – Todas elas são lindas, mas eu gostei muito dessa. – Regina entregou uma carta para Emma. – Lê para a gente.
Com as mãos trêmulas, Emma pegou a carta que Regina tinha escolhido. Pelo envelope ela já tinha reconhecido o conteúdo do papel. Foi a última carta que Emma escreveu. Era a época em que ela já se sentia melhor. Ivy deu um beijo no rosto de Emma. A morena olhou para a filha com os olhos marejados. Abriu o envelope e tirou a carta.
— Minha princesa. Hoje você completa cinco anos. Eu imagino como você deve estar feliz, afinal, já é quase uma mocinha. Também imagino o quanto você é amada por todos que a cercam, principalmente sua mãe. Eu me lembro todos os dias do sorriso maravilhoso que ela deu quando soube que eu estava esperando você. Pra dizer a verdade, ela riu e chorou ao mesmo tempo. E quando você nasceu, meu amor, a alegria da sua mãe era contagiante. Estávamos as duas imensamente felizes por ter você. Você nasceu sem um nome definido, sabia? Foi só quando olhamos pro seu rostinho que pudemos decidir. E, diante da enorme lista, com milhares de opções, quando nossos olhos se cruzaram, juntas, eu e sua mãe falamos Ivy. Ivy, meu pequeno milagre. Minha alegria. Minha vida. Eu deveria ter filmado para você poder ver como foi a primeira vez que sua mãe trocou sua fralda. Até hoje eu dou risada ao lembrar. Essa é uma das inúmeras memórias que eu tenho de você. Que eu me recordo todos os dias. Eu jamais esqueci de você. Nem um minuto sequer. Eu deixei mais que um pedaço de mim quando deixei você e sua mãe. E eu queria encontrar as palavras para poder te explicar, mas eu não consigo. Ansiosamente e esperançosamente eu aguardo o dia que terei a oportunidade de responder todas as suas perguntas, e te pedir perdão. E eu realmente espero que você possa me perdoar e me dar a chance de compensar todo o tempo perdido. Eu luto todos os dias para merecer essa chance, minha princesa. Você já tem todo o meu amor e não há ninguém mais importante no mundo do que você. Tenha um maravilhoso dia. Dê muitos beijos em sua mãe por mim e garanta que ela sorria. Aquele sorriso pode curar qualquer dor. Sua mãe, que te ama muito, Emma.
As lágrimas desciam livremente pelo rosto de Emma. Ela já tinha esquecido daquelas cartas. Não podia acreditar que Regina as tinha conseguido. Quando dobrou o papel, Emma sentiu as mãos de Ivy em seu rosto, secando suas lágrimas.
— Eu sempre fiz a mommy sorrir, por nós duas. – Ivy abraçou Emma com toda a sua força.
Ivy soltou Emma e sorriu para ela. Olhou sob o ombro para Regina, que tinha o rosto coberto de lágrimas também. Ela estendeu a mão para a mãe, e as três passaram a dividir um abraço emocionado.
— Bom dia, posso invadir? – Zelena disse batendo na porta, vendo as três abraçadas na cama.
— Tia Zelena. – Ivy abriu o sorriso para a modelo.
— Eu vim trazer o seu presente, porque eu não aguento mais esperar para te entregar. – Zelena se aproximou da cama, deu um abraço apertado em Ivy, e fez um sinal de positivo para Emma e Regina. Entregou o pacote cuidadosamente embrulhado para Ivy.
A menina se sentou na cama e rasgou o papel. A coleção completa dos livros de Harry Potter estava na sua frente.
— Harry Potter! – Ivy sorriu. Deu mais um abraço em Zelena.
— Suas mães vão filtrar o que você pode ler agora e o que tem que esperar crescer mais um pouco. – Zelena já falou diante do olhar preocupado de Regina. – Mas, já tá na hora de você se tornar uma Potterhead.
— Mas dar um presente que a criança não pode usufruir por completo é tão a sua cara. – Belle chegou no quarto e já foi implicando com a ruiva.
— Caiu da cama, Belle? – Regina comentou. Era cedo demais para Belle está de pé.
— A tia Zelena deve ter empurrado ela. – Ivy sorriu para Regina. – Elas dormiram juntas. – Zelena e Belle se olharam. Não conseguiam acreditar que a menina sabia disso. Elas estavam tão discretas.
— Como é que você sabe de um babado desses e não me conta? – Emma falou indignada para Ivy.
— Mas gente. – Ivy imitou Belle, olhando para as mães. – Tá no cabelo. – Emma e Regina finalmente repararam que as duas tinham o cabelo molhado. Sem contar que Zelena tinha ficado muda e Belle com as bochechas vermelhas. As duas caíram na gargalhada, enquanto Zelena e Belle enchiam Ivy de cócegas e beijos. Por fim, Belle conseguiu entregar seu presente. Uma coleção de filmes clássicos da Disney, como a Bela e a Fera, O Rei Leão, Mogli, entre outros.
— Mas olha só, isso que é começar bem o dia, não é mesmo? – Emma falou que Ivy terminou de agradecer Zelena e Belle pelos presentes e mostrar a decoração do quarto e da carta que Emma tinha lido.
— Já disse, melhor aniversário da vida todinha.
— Então nós vamos deixar ele melhor porque lá embaixo tem mais um presente meu e da sua mama para você.
Ivy olhou para Emma que compartilhava o mesmo sorriso empolgado de Regina. Pulou da cama e segurou as mãos das duas. Zelena foi na frente com Belle. Do lado de fora, um caixa enorme escrito Ivy, esperava pela menina.
A menina correu na frente e puxou o laço. Os lados da caixa se abriram, e no meio, em cima de um monte de jornais, um filhote de labrador já mordia o laço que tinha no pescoço. Um grito de alegria saiu da boca de Ivy. A pequena pegou o cachorro no colo, abraçou, beijou. Colocou no chão e saiu correndo atrás do animal.
— Eu vou pegar a câmera. – Regina saiu dos braços de Emma e entrou correndo no estúdio.
— Quem é que vai limpar a sujeira desse cachorro? – Belle perguntou para Emma.
— Nós vamos educá-la, Belle, relaxa. – Emma respondeu sorrindo. Regina voltou correndo com a câmera, e foi até onde Ivy estava. O sorriso da menina não desaparecia. Emma se aproximou das duas depois de um tempo.
— Você tem que pensar no nome dela, meu amor.
— Ela? É menina? – Ivy se sentou no gramado. A filhote já pulava em seu colo querendo brincar. Regina bateu mais fotos, enquanto Ivy pensava no nome do animal. – Já sei. Tinkerbell.
Emma começou a rir, assim como Regina. As duas permaneceram no chão, observando abraçadas, quando Ivy se levantou novamente para correr com Tinkerbell. Regina olhou para Emma. Não era mais a felicidade empolgada que estava no rosto da mulher. Era apenas felicidade. A alegria de estar com a família e de poder participar do dia especial de Ivy. Regina bateu uma foto de Emma, chamando a atenção da esposa.
— Hei. – Emma sorriu. – Você não me falou que tinha conseguido as cartas de volta.
— Achei melhor guardá-las até o momento certo. – Regina olhou para trás, Zelena e Belle estavam abraçadas e conversando entre si. – Tudo bem que não mencionei os presentes? A Belle acabou entregando, dizendo que era dela.
— As cartas eram mais importantes. – Emma voltou a se emocionar. Encostou sua testa com a de Regina. – O dia é dela, mas com todo o carinho que ela já demonstrou, acho que vou chorar muito até a noite.
— Ela te ama muito. – A fotógrafa passou a mão no rosto de Emma. – Nós te amamos muito.
— Obrigada por me fazer existir para ela. — A morena olhou para fotógrafa. – Obrigada por ter criado essa criança maravilhosa. Obrigada por ser a mulher certa.
— Só porque você vai chorar o dia inteiro, quer me levar às lágrimas também?
— Se as lágrimas forem de alegria, sempre. – Emma beijou Regina.
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