— Quanto você quer para desaparecer de uma vez por todas da vida da Regina e da Ivy? Faça o seu preço.
— Como é que é? – A voz da fotógrafa ecoou nas costas de Henry. Tanto o homem quanto Emma se assustaram e olharam para a morena. – Quem você pensa que é para falar desse jeito com a minha mulher?
— Calma, meu amor. – Emma foi até Regina. Ela mesmo estava tão transtornada que não sabia como conseguia falar alguma coisa. Jamais imaginou que ouviria uma coisa dessas na vida. A morena segurou a mão da fotógrafa com força, e em desespero olhou para Zelena e Belle que já tinham notado a tensão na conversa.
— Estou evitando uma nova tragédia. – Henry colocou as mãos nos bolsos e olhou sério para Regina. – Se você não se lembra, eu me lembro muito bem, o tamanho do problema que essa aí causou da última vez que sumiu da sua vida. E tem mais, Regina, você devia pensar mais na sua filha, colocar a menina para morar com uma desequilibrada...
Regina não deixou o pai terminar, avançou na direção do homem tomada pela fúria. Emma travou. Não conseguiu segurar Regina. As palavras de Henry atingiram a loira como pedras. A mão da fotógrafa estalou na cara do homem.
— Nunca mais abra a boca para falar da minha mulher, da minha filha ou da minha vida. – Regina falou entredentes. Sentiu duas mãos afastando-a do pai.
Henry ficou parado com a mão no rosto. Olhava para Regina com uma mistura de raiva e mágoa. Os convidados, é claro, perceberam a situação tensa, apesar de ninguém ter visto realmente o que tinha acontecido. Henry foi embora, sem se despedir de Ivy.
— Regina, calma, lembra que você disse que era o dia da Ivy. – Belle falava segurando a fotógrafa pelos ombros. Regina olhou para a amiga em sua frente e saiu do seu estado de fúria, para procurar Emma. A loira estava sentada em uma mesa próxima com Mary Margareth, Ruby e Zelena tentando acalmá-la e lhe dando água. Emma permanecia muda. As lágrimas corriam em seu rosto.
A fotógrafa desvencilhou-se das mãos de Belle e foi até Emma. Segurou o rosto da morena e lhe beijou os lábios com todo a paixão que sentia.
— Olha pra ela. – Regina apontou até onde a filha estava. Ivy ria enquanto brincava com Aurora e a amiga, alheia a pequena confusão que tinha acontecido. – Não teria aquele sorriso se você não estivesse aqui. Você entende?
Mesmo com as lágrimas cobrindo seu rosto, Emma sentia os lábios ainda quentes pelo beijo de Regina. Sentia o cheiro da fotógrafa invadindo sua mente. Seus olhos focaram na filha. Seu coração se aquecia ao lembrar das palavras ditas antes pela menina. Emma sorriu para a fotógrafa e a abraçou com força.
— Eu estou com medo. – Emma sussurrou para a mulher. Naquele momento, todas tinham se afastado e deixado as duas sozinhas.
— Medo de que, meu amor? Eu estou aqui com você, sempre. – Regina respondeu docemente.
— Medo de mim. – A loira não soltava mais a fotógrafa. Ela não sentia o chão. As palavras de Henry voltavam em sua mente quando Regina não estava perto o suficiente para espantá-las.
— Sua cabeça dura, quantas vezes eu preciso dizer que você não vai ficar mal de novo?
— Se importa de dizer todo dia? – Emma olhou para Regina, sem se afastar nenhum centímetro da mulher. Seus olhos demonstravam o medo, o pavor que ela sentia. Olhando diretamente para eles, a fotógrafa também teve medo. Medo de não ser o suficiente para Emma e perdê-la novamente.
— Eu posso dizer a toda hora, até você entender. – Regina passou a mão no rosto de Emma. Será que seria sempre assim? Viver naquela agonia de não saber o que o minuto seguinte pode trazer. Viver com medo de perder.
— Mama, eu quero mais... — Ivy tinha chegado correndo, sua mão estava em volta da cintura de Regina, mas as palavras eram para Emma. Quando ela viu as lágrimas no rosto de Emma e o olhar preocupado de Regina, calou-se. – Que foi? Brigaram com você, mama?
Emma secou as lágrimas, mas de alguma forma manteve seu corpo colado em Regina. A fotógrafa se abaixou e pegou a filha no colo. Pensou com cuidado no que dizer à filha. Logo ela perceberia que o avô não estava mais ali, e as perguntas viriam.
— A mommy brigou com o vô e a mama ficou triste por isso. – Regina olhou para Emma. Apenas a menção do seu pai fez a morena tremer. A fotógrafa passou seu braço em volta da esposa, enquanto Ivy olhava pelo salão e constatava a falta do avô.
— Fica triste não, mama, a mommy e o vovô brigam muito mesmo. – Ivy passou a mão no rosto de Emma, secando as lágrimas da mãe.
— Eu não queria ninguém brigando por minha causa. – Emma falou mais como resposta para Regina, do que para a filha.
— Minha mulher e minha filha. – Regina olhou para Emma e sorriu. – Se eu for brigar por alguma coisa, vai ser por vocês. – Emma encostou sua testa na de Regina. Abraçou mulher e filha ao mesmo tempo. Ela precisava das duas.
— Mama? – Ivy sussurrou depois de um tempo abraçada com as duas.
— Oi. – Emma olhou para a menina e usou o mesmo tom de voz.
— Vamos comer chocolate para ficar tudo melhor? – Ivy deu o sorriso sapeca. E Emma riu novamente. Regina voltou para a mesa onde estavam as meninas e se sentou com Ivy no colo. Para sua surpresa, quando Emma voltou, trazia um pedaço de bolo para ela e para Ivy, e uma cerveja nas mãos.
Zelena e Belle se entreolharam e até mesmo Mary Margareth estranhou a presença do álcool. Regina pegou a cerveja que Emma tinha colocado na mesa e sorriu.
— Obrigada, amor. – As duas se olharam.
— Na verdade eu tinha pegado pra mim, você não está dirigindo? – Emma perguntou nervosa pela ação da fotógrafa.
— Pensei que você ia levar o carro de volta, acabei bebendo já. – Regina mentiu. Sabia que Emma estava procurando uma fuga e não iria entregar para ela assim tão fácil. A morena ficou encarando a fotógrafa, até que o garfo de Ivy apareceu na sua visão.
— Come, mama, chocolate para melhorar. – Emma olhou para a filha e comeu o pedaço de cobertura que Ivy tinha entregado para ela. Regina teve que beber aquela cerveja e até o final da festa mais algumas, que Emma trouxe propositalmente para ela.
Era tarde quando finalmente conseguiram chegar em casa. Zelena e Belle tinham ficado até o final para ajudar a trazer os presentes e a comida que tinha sobrado. Ivy chegou dormindo em casa.
— Eu vou subir e arrumar ela para dormir. – Emma deu um beijo em Regina e subiu para o quarto com Ivy nos braços.
Regina ficou na garagem, verificando a comida dos animais que tinham acordado com a chegada delas. Entrou direto na cozinha e encontrou Zelena e Belle já arrumando tudo.
— Que isso meninas, podem ir descansar, eu termino isso aqui. – A fotógrafa falou.
— Regina, por que você bateu no seu pai? Que foi aquilo, garota? – Belle perguntou sem cerimônias.
— Ele estava mandando a Emma dizer um valor, para ela deixar a gente. E depois a chamou de desequilibrada, e que eu não pensava no bem-estar da Ivy. – Regina olhava séria para as duas mulheres na sua frente. O olhar de espanto estava no rosto das duas.
— Mas gente, Henry pirou na batatinha, só pode. – Belle foi a primeira a falar.
— Não tenho palavras. – Zelena disse.
— Essa é a primeira vez. – A morena falou sorrindo para a namorada. As duas se cutucaram e até mesmo Regina sorriu. Eram o casal perfeito.
— Mas é seu pai, né, Regina, em pai e mãe a gente não bate. Já pensou se a Ivy tivesse visto?
— Não, Belle, eu não pensei. Eu só agi. Porra, tanto tempo sozinha, tanto tempo sofrendo e agora que eu estou feliz, finalmente a nossa família está bem, está junta, ele vem de Londres até aqui só para fazer uma merda dessas. – Regina olhou sobre o ombro. – E se a Emma surtasse de novo? Se todo esse caminho que ela percorreu fosse jogado no lixo por que meu pai foi um escroto? Olha, Belle, você devia ter me deixado lá para dizer umas verdades para ele. Vem dizer que eu não me preocupo com o bem-estar da minha filha, isso vindo do cara que me mandava cartões de aniversários preenchidos pelas secretarias. – A fotógrafa ia falando e batendo os potes enquanto guardava comida. Zelena e Belle ficaram quietas e a deixaram desabafar. E não foi pouco. Regina ainda xingava quando Emma chegou na cozinha.
— Amor? – Emma perguntou se aproximando de Regina. A fotógrafa levantou a cabeça e sorriu.
— Tudo certo lá em cima?
— Tudo, ela tomou um banho rápido e já dormiu assim que voltou para cama. Só reclamou de não ter os bichos com ela. – Emma estranhou a naturalidade que a voz de Regina ficou normal. – Quem você estava xingando?
— Meu pai. – Regina deu ombros. – Vamos esquecer, até porque acho que xinguei demais ele já. – A fotógrafa se aproximou de Emma e beijou seus lábios.
— Viu só? Nossos ouvidos viraram penico e depois ela vai pro bem bom com a Emm. – Zelena falou sorrindo olhando para Belle. Regina revirou os olhos sorrindo.
— É assim mesmo, nem liga não. Vamos nós pra cama agora. – Belle piscou para Zelena, as duas saíram rindo. A fotógrafa deu um leve tapa na assistente quando elas passaram e voltou a olhar para Emma.
— Que foi, meu amor? – Regina perguntou.
— Você bateu no seu pai por minha causa. – Emma falou. – Poxa, amor, o que ele vai pensar de mim agora?
— Emma, eu não me importo com o que meu pai pensa. Já ficou bem claro que ele não vai apoiar a nossa relação, mas o problema é dele.
— Você vai afastar seu pai da Ivy? – Emma perguntou. Nem ela mesmo sabia por que estava tendo aquela conversa. Mas ela ainda sentia aquela sensação de coração apertado.
— Eu não o afastei dela. Foi escolha dele. Emma, você é a minha mulher, a mãe da minha filha e se ele tem problema com isso, que fique pra ele. – Regina falou, já estava ficando impaciente. – Dá para me dizer a razão disso agora?
— Você não entenderia. – Emma começou a andar pela cozinha, como um animal preso.
— Porque você não tenta. – A fotógrafa insistiu.
— PORQUE NINGUÉM ENTENDE. – Emma abriu a geladeira e fechou com força. – Se ninguém entendeu até agora, por que você entenderia?
— Amor, fica calma, eu só estou querendo te ajudar. – Regina tentou se aproximar da mulher, mas Emma recuou.
— Não me toca. – A morena saiu da cozinha a passos rápidos.
— Emma, para com isso. – Regina seguiu a esposa até a sala. Emma andava rápido, de um lado para o outro.
— Por que você não tem um bar nessa casa? Não tem uma bebida nesse lugar quando a gente precisa. – A loira falou, olhou para a fotógrafa e sorriu ironicamente. – Porque a Emma não pode beber, né? Tudo culpa da Emma. – A mulher gritou e derrubou um vaso que estava perto.
Regina deu um passo para trás. Estava tão assustada quanto uma criança. Emma tinha perdido o controle, bem ali, debaixo dos seus olhos, sob os seus cuidados. Ela só agiu quando viu a morena andar até a porta de casa. Regina entrou na frente dela, impedindo a saída. A fotógrafa ofegava. Emma se aproximou como se fosse atacá-la e bateu a mão na porta ao lado do rosto de Regina.
— Sai da frente. – Sibilou as palavras com raiva.
— Não. – A resposta veio alta e clara. Regina levou as mãos nas suas costas e abriu o zíper do seu vestido, tirou ele olhando para Emma. – Fica comigo, Emma.
O corpo da fotógrafa estava quente. Emma passou a mão por ele e o sentiu reagir ao seu toque. Desejo, fúria, paixão, tudo se misturou dentro da morena. Com apenas um movimento ela pressionou Regina contra a porta e selou seus lábios nos da mulher.
Regina precisou puxar Emma para o quarto, ou a morena teria feito amor com ela ali mesmo. Entre beijos e carinhos, os gemidos escapavam dos lábios de Regina. Emma era fúria e desejo, tomou a fotógrafa em seus braços de um jeito nunca feito antes. Não deixou Regina assumir a situação em nenhum momento. Dessa vez, Regina era só dela, só para ela, e seria do jeito dela. A fotógrafa sentia as mãos firmes de Emma se fazendo presente pelo seu corpo, a boca lhe devorando em cada canto, entre dor e prazer seus orgasmos vieram.
Emma acordou com um latido. Sentou-se na cama e viu Regina dormindo profundamente, com Ivy embaixo dos seus braços. O latido se repetiu e ao lado da cama, Tinkerbell pulava para subir no colchão.
— Mas como foi que você chegou aqui? – A morena se levantou e foi até o lado da cama em que a cachorra latia. Para sua surpresa, a manta de Ivy estava no chão, com o gato dormindo em cima. Tinker correu até seus pés, Emma pegou a filhote no colo, o gato e os levou até o gramado. Deixou ali perto a comida e a água para eles. – Anda, come, enquanto eu converso com a sua dona.
A morena aproveitou que estava na cozinha e já fez o café da manhã. Deixou tudo pronto e foi chamar suas meninas. Ivy não só tinha tirado os animais do cercado, como levado para o quarto das duas. E só Deus sabe que horas ela fez isso. Quando a morena chegou no quarto, apenas a filha estava na cama.
— Mas olha que ela nem me esperou para acordá-la. – Emma disse entrando no banheiro. Quando ouviu a voz da esposa, Regina jogou o roupão sob o seu corpo.
— Bom dia, meu amor. A Ivy acabou chorando no sono e eu acordei. – Regina de um sorriso forçado. – Você não quer acordá-la? Eu tomo um banho enquanto isso.
— Ela chorou de novo? – Emma perguntou. Algumas noites atrás Ivy tinha chorado durante o sono.
— Pesadelos, eu não sei. Ela não fala depois que acorda, acho que não se lembra.
— Nós temos que ver isso, meu amor, mas... – Emma se aproximou de Regina. – Por que você se escondeu?
— Emma, calma, não é nada... — Regina tentou, mas Emma nem esperou pelas palavras finais e baixou o roupão que a fotógrafa usava. Alguns arranhões pela barriga de Regina, seu ombro tinha a marca de um chupão, mas as costas estavam roxas. Parecia que a fotógrafa havia levado uma surra, e não feito amor.
— Meu Deus... eu sabia... eu... — Emma foi se afastando de Regina, mas a fotógrafa a segurou.
— Emma, para. PARA. – Regina trancou a porta do banheiro e segurou o rosto da mulher. – Me escuta. Eu estou bem. Eu tenho plena consciência do que eu fiz e eu estou bem, você tem que acreditar em mim.
— Eu machuquei você. – Emma falou com a voz embargada e o rosto coberto por lágrimas.
— Meu amor, isso tá longe de ser um machucado de verdade. Por favor, não fica assim. – Regina encostou sua testa em Emma, enquanto a morena ficava na dúvida se abraçava ou não Regina. – Emma, eu te amo tanto, eu não me importo com isso, eu só preciso que você me deixe te ajudar. – A fotógrafa pegou as mãos de Emma e fez a mulher abraçá-la.
— Me desculpa. – Emma chorou copiosamente nos ombros da mulher. Por um tempo Regina ficou consolando Emma em seus braços. Quando a morena parou o choro, a fotógrafa preparou um banho na banheira para ela.
— Eu pedi para a Belle fazer uma coisa para mim ontem. – Regina disse sentada na borda da banheira, olhando Emma.
— O que? – Emma olhou para a mulher.
— Eu disse para ela marcar uma consulta com a psiquiatra para hoje.
— Hoje? – Emma estranhou. – Por que você fez isso? Por que não me falou?
— Porque ontem era o dia da Ivy e eu não queria chatear você ou colocar caraminholas na sua cabeça. E você sabe que você precisa de uma ajuda profissional, meu amor, e por isso eu antecipei essa consulta.
— Eu odeio tomar remédio. – Emma encostou a cabeça na banheira.
— Você sabe que é pro seu bem. Se você tiver o tratamento certo, logo não vai mais precisar. – Regina sorriu, encorajando Emma. – Vou ali acordar a nossa dorminhoca, e depois a gente vai lá, ok?
— Como se eu conseguisse dizer não para você. – Emma deu um sorriso fraco. Saber ela sabia que precisava dos remédios, da ajuda profissional, mas querer ir até lá era outra coisa. E agora era recomeçar do zero. Era contar toda a dor que causou, tudo o que sofreu, tudo de novo.
Regina voltou para o quarto, Ivy assistia televisão. A fotógrafa se aproximou sorrindo, mas ao chegar perto da menina, viu que ela estava chorando. Olhou para a televisão e era apenas um desenho comum. Regina pegou a filha no colo.
— Que foi, meu amor? – Disse secando as lágrimas da menina. – Por que você tá chorando?
— Por que a mama bateu em você? – A pergunta da menina tinha feito Regina travar.
— Oi... como... bateu? Ninguém bateu em mim. – Regina tropeçou nas palavras.
— Mentira. Eu vi. Ontem à noite quando eu vinha pra cama e daí você gritou, e eu vi a mama batendo em você. E daí depois quando eu trouxe a Tinker pra te proteger, você estava dormindo.
Regina fechou os olhos. Tantas e tantas noites elas tomaram cuidado. Tantas noites o sexo foi mais calmo e tranquilo e justo quando as coisas mudam, é a noite em que Ivy flagra elas. Respirou fundo algumas vezes. Se Emma ouvisse aquilo, desabaria por completo.
— Meu amor, deixa a mommy te explicar uma coisa. – Regina se sentou Ivy na cama, de frente para ela, e de costas para a porta do banheiro. Assim ficaria de olho, para o caso de Emma aparecer. – Quando a gente é adulta e a gente tem uma pessoa do nosso lado, como eu e sua mama, nós trocamos carinhos. Esses carinhos são uma forma diferente de demonstrar o amor. É difícil para você entender agora, mas a mama não estava de forma nenhuma me machucando.
— Mas porque você gritou e ela te bateu? – A menina estava tentando entender as palavras de Regina, mas não fazia muito sentido com a cena que ela tinha visto. Emma apareceu na porta bem naquele instante.
— A mama não me bateu, ela só brincou comigo. E por isso eu gritei.
— Não parecia brincadeira. – Ivy estranhou.
— Era uma brincadeira de adultos. Não se faz com criança. Nunca. Entendeu?
— Entendi. – Ivy olhou para baixo. – Eu fiquei triste, porque pensei que meu desejo tinha falhado.
— Que desejo?
— Eu pedi para a mama nunca mais ficar doente e nem deixar a gente. Mas se ela estava te machucando, ela ia deixar a gente. – Ivy falou com a voz baixa e triste.
— A mama nunca vai me machucar e nós vamos cuidar dela, e ela não vai ficar mais doente como antes. Você me ajuda?
— Ajudo. – Ivy esboçou um sorriso.
— Essa é a minha garota. – Regina abriu os braços e Ivy lhe deu um abraço apertado. As mãos da menina tocaram nas suas marcas e a fotógrafa trancou o som de dor. Ivy não podia ver aquelas marcas, jogaria toda sua explicação por água abaixo. O olhar dela cruzou com o de Emma que ouvia calada da porta do banheiro. A fotógrafa sorria para a esposa, que secava as lágrimas e sorria de volta. – Olha só quem saiu do banho, pensei que eu ia murchar lá, amor. – Regina falou sorrindo. Ivy se virou para Emma, e deu o seu sorriso característico. Correu até a mulher e a abraçou e beijou.
Regina aproveitou para deixar as duas conversando e foi se arrumar. Trocou de roupa dentro do banheiro, já que Ivy estava no quarto com Emma. Pelo que ouviu, a loira estava explicando novamente para a filha o lugar dos animais dormirem. E mesmo assim, Ivy não comentou o porquê tinha buscado eles em primeiro lugar.
— Meu amor, a gente vai no médico novo da mama, você fica aqui com suas tias, ok? – Regina disse ao terminarem o café.
— Mas elas nem acordaram ainda. – Ivy respondeu.
— Vai lá e acorda elas. – Emma disse.
— Isso, bate na porta e diz que nós saímos. – Regina deu um beijo na cabeça da filha. Emma também deu um beijo em Ivy e sussurrou algo em seu ouvido. As duas saíram.
Ivy correu até a porta do quarto de Belle e constatou o que já esperava, a porta não estava trancada. Espiou para ter certeza de que as duas dormiam. Sorriu e correu até a rua, pegou Tinker e voltou para o quarto. Tomando cuidado para não fazer barulho, colocou a cachorra na cama. Tinkerbell começou a cheirar a cama e andar sob Belle e Zelena, Ivy subiu atrás da cachorra e começou a pular e cantar o mais alto que podia.
— Let it go, let it go, can't hold it back anymore, let it go, let it go, turn away and slam the door, I don't care what they're going to say, let the storm rage on, the cold never bothered me anyway...
— Mas que diabos... — Belle se remexeu na cama e ganhou uma lambida na boca. – IVY! – A morena gritou. Empurrou a cachorra que subiu em Zelena, a modelo acordou. As gargalhadas de Ivy enchiam o quarto. Logo a modelo, que tinha sempre um bom humor se juntou com as risadas da menina e cantou com ela, para o completo desespero de Belle. – Tira esse saco de pulgas da minha cama, pelo amor, Ivy, você não tem duas mães para acordar desse jeito não? – Belle perguntou indo para o banheiro.
— Minhas mães saíram e disseram para vocês tomarem conta de mim. – Ivy disse deitando-se ao lado de Zelena.
— Cadê o Peter? – A modelo perguntou abraçando a menina e brincando com Tinker.
— Está tomando sol, a mama me disse que gatos são assim mesmo, que quando ele quiser ele me acha.
— Mas esse gato é muito folgado, tomando sol é? – Zelena perguntou rindo, e Ivy concordava com a cabeça.
— Zelena e Ivy, eu já não disse para tirar esse saco de pulgas da minha cama? – Belle falou ao constatar que a cachorra ainda estava fazendo a festa em sua cama.
— Poxa, tia Belle, vai ficar me chamando de Ivy o tempo todo? – A menina fez um beicinho e se encolheu no colo de Zelena.
— Viu só, Belle, deixa de ser ranzinza mulher, a Tintin é limpinha – Zelena abraçou Ivy e beijou a menina, fazendo cara feia para Belle.
— Mas olha, eu não ganho para isso, não. – A morena saiu do quarto bufando. Mas voltou um tempo depois com um pedaço de bolo para Ivy e Zelena. — E não me chama de ranzinza. – Ela falou para Zelena, roubando um beijo da mulher.
— Agora sim, tia Belle. – Ivy beijou o rosto de Belle e pegou o pedaço de bolo. Dividiu com a cachorra, deixando fazer uma sujeira com o bolo na cama da morena. – Eu estava pensando, a Jasmine e a Mulan estão solteiras. Acho que elas poderiam casar.
— Acho que aquelas ali não, pequena. – Zelena sorriu. – A Jasmine só gosta de meninos.
— Então complicou um pouco... — Ivy falou dando mais bolo para Tinkerbell. — Mas eu vou pensar em alguém. E a Mulan?
— A Mulan corta pros dois lados? – Zelena perguntou para Belle, deixando Ivy confusa.
— A Mulan sim. Mas ela estava saindo com um cara aí. – Belle tentava juntar os farelos de bolo que caiam por sua cama, mas a cachorra era mais rápida no quesito fazer sujeira.
— O que significa corta pros dois lados? E que cara, se ela me disse que estava solteira?
— Mas você é muito curiosa, mocinha. – Belle disse
— Sou mesmo. E vocês não me responderam ainda. – Ivy falou olhando séria para as duas.
Zelena e Belle começaram a rir e explicaram da melhor forma para a menina. Enquanto as garotas se divertiam em casa, Emma e Regina chegavam ao consultório, com um pouco de atraso.
— Nervosa? – A fotógrafa perguntou enquanto batiam na porta e esperavam.
— Muito. – Ela apertou as mãos de Regina. Seu pé não parava de bater no chão. A porta se abriu e uma loira com um sorriso encantador abriu a porta.
— Bom dia, Emma e Regina, certo? – A médica apontou tentando adivinhar quem era quem.
— Isso mesmo. – A fotógrafa sorriu. – Desculpe o atraso.
— Não tem problema, vamos lá. – Ela abriu passagem para as duas entraram. A recepção estava apagada e as três seguiram direto para a sala. Uma grande estante de livros era a primeira coisa que se via ao entrar no local. O chão era de porcelanato e claro. Tinha um grande sofá cinza claro, uma mesa de centro, com uma bandeja com uma garrafa de café e bolachas. A médica apontou para que as duas se sentassem no sofá, e ela sentou-se na grande poltrona de mesma cor, de frente para elas.
— Temos café fresquinho aqui, sintam-se a vontade. Meu nome é Rose, e eu quero que vocês fiquem confortáveis, para que a gente consiga conversar e eu possa ajudar vocês. – A médica mantinha as pernas cruzadas e um bloco de anotações no colo. – Quem quer me contar qual o problema e o porquê dessa antecipação na consulta?
Emma e Regina se olharam, a loira se levantou e começou a andar pelo consultório. Mexia suas mãos, mas seguiu em silêncio. A fotógrafa olhou para a médica e meio sem jeito começou.
— Há alguns anos a Emma foi diagnosticada com transtorno bipolar. Ela vinha seguindo o tratamento, fazendo acompanhamento e tudo, mas os remédios que ela tomava, eles não estavam ajudando. Ela tinha, e ainda tem, rompantes de humor muito rápidos. Vai da alegria para a tristeza em minutos, da raiva para a calma, e eu conversei com outros médicos conhecidos meus e eles também tiveram a opinião de que a medicação necessitasse ser outra. – Regina olhava para Emma e para a médica. Como a mulher não fazia menção em falar, ela continuou. – Faz pouco mais de um mês que ela está sem medicação e acompanhamento, e tem uma diferença. Uma necessidade de voltar a tratar isso o mais rápido possível.
— Certo. Vamos do começo então. Quem foi que fez o diagnóstico? – Rose perguntou para Regina. A fotógrafa olhou para Emma.
— Foi o doutor Gold.
— O gerente da Clínica de Recuperação Reviver? – A médica indagou.
— Ele mesmo.
— Você foi internada então? – A médica anotava as respostas com rapidez. Emma concordou com a cabeça. – Por quanto tempo?
— Dois meses. – Emma olhou para Regina. Como ainda tinha coisas que ela ainda não tinha contado para a mulher. Quantos detalhes perdidos daquele passado. Mas o passado iria vir à tona. As perguntas da médica iam ficando cada vez mais íntimas. Logo Emma cortou o interrogatório e começou a contar toda a sua história com a fotógrafa, a gravidez, o que ela fez com Ivy, como deixou Regina. O que aconteceu em Storybrooke, todo o seu tratamento, o que Fiona fez, até chegar na noite passada. Como sempre, Emma não conseguia falar de seu passado sem chorar. Levou mais de uma hora para contar toda a história e em nenhum momento foi interrompida pela médica ou pela fotógrafa.
— Certo. – A médica falou depois que Emma contou tudo. Ela olhou as anotações que tinha feito. – Eu vou te passar um medicamento hoje. Realmente no seu caso o tratamento com os remédios é necessário e não deve ser interrompido sem uma longa preparação antes. Nós vamos começar com um estabilizador de humor. Claro que em uma semana é muito cedo para surtir efeito, então vamos tentar com esse por um mês. – Rose falava e preenchia a receita. – Problemas para dormir, para acordar?
— Não. – Emma tinha voltado a sentar do lado de Regina.
— Regina, só uma pergunta, do que você tem medo em relação a Emma? – A médica olhou para a fotógrafa. A pergunta veio como uma surpresa para ela.
— Medo? Como assim? – A fotógrafa olhou para Emma e para a médica. Se sentiu acuada naquele momento.
— Sim, do que você tem medo. Pelo tempo que vocês ficaram juntas, pela história de vocês, por essa volta. Mesmo não estando presente nos surtos, creio que você conheça bem a Emma. O que te assusta mais? Ela te bater mais forte, ela realmente chegar ao ponto de machucar você ou a filha? Tem medo dela...
— De perdê-la de novo. – Regina não precisou deixar a médica terminar de falar. Perder, esse era o seu maior medo. Rose olhava séria de Regina para Emma. A resposta da fotógrafa parecia um peso para a loira.
— Outra coisa. – A médica entregou a receita para Emma. – Vocês duas podem voltar para consultas separadas?
— Oi? – Regina perguntou.
— Dois motivos. Primeiro, você tem uma grande influência nas atitudes de Emma, tanto em momentos bons, quanto em momentos ruins. Segundo, eu gostaria muito de saber seu lado da história, já que eu pude observar a sua reação. – Rose olhava para Regina. Até mesmo Emma olhava para a esposa. A fotógrafa tinha ido como companhia para a esposa. Para dar apoio e ajudá-la nessa primeira consulta. E claro, analisar a psiquiatra. Não achou que seria convidada a fazer sessões também.
— Vai ajudar a Emma? – Foram as únicas palavras que sua boca conseguiu falar.
— Vai ajudar vocês duas. – Ela respondeu. Regina concordou com a cabeça. Deixaram a consulta de Regina marcada para o mesmo dia que Emma, uma seguida da outra.
O casal andava de mãos dadas em direção ao carro, conversando sobre a consulta.
— Compramos o remédio antes de ir para casa, então. – Emma falou, concluindo o assunto sobre a consulta no geral. – O que você achou da médica?
— Eu disse que ela seria bonita. – Regina falou para Emma, que revirou os olhos. – E ela ainda faz seu tipo.
— Ela é chata, Regina. – Emma sorriu. – E ela tem um enorme defeito. – A morena parou na frente do carro, prendendo a mão da fotógrafa com a dela.
— Qual? – Regina ficou olhando para Emma.
— Ela não é você. – A morena sorriu e beijou os lábios de Regina.
— Mas que cena patética. – A voz conhecida veio como um banho de água fria. O beijo foi interrompido, e as duas olharam com a cara feia para a direção da voz.
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