1. Spirit Fanfics >
  2. Carta à mulher amada II >
  3. Amor

História Carta à mulher amada II - Amor


Escrita por: SerenaChan

Notas do Autor


Olá, meus amados e amadas!
Como estão?

Com lágrimas nos olhos e o coração saltando no peito, ofereço a vocês o último capítulo de "Carta à mulher amada".
Uma história que derivou de uma one apaixonada, começou singela, e cresceu... Fez morada em mim, me fez viver as emoções e aventuras dos personagens, mereceu o carinho de pessoas tão maravilhosas.
Reservarei os agradecimentos para as Notas Finais!

Deixarei o link de uma música aqui, e a humilde sugestão de que a ouçam durante uma certa cena logo no início do capítulo... Bem, vocês saberão rsrsrs! Não deixem de ler a respeito nas Notas Finais!
https://www.youtube.com/watch?v=0GUMGEnv9rY

Boa leitura, meus amores!

Capítulo 27 - Amor


Fanfic / Fanfiction Carta à mulher amada II - Amor

Quando o casal se foi, os tios da aniversariante enfim se aproximaram.

– Ichika está muito cansada?

– Um pouco, Nii-sama. Mas com certeza ela só conseguirá relaxar e dormir depois de um banho morno para baixar a agitação...

– Entendo... Então, por favor, vamos todos à Mansão Kuchiki. Tenho mais um presente para minha sobrinha.

 

***

Rukia e Renji se entreolharam, sem compreender o que o líder da Sexta Divisão queria dizer.

– Mas, capitão... O senhor já presenteou Ichika com o vestido e as sapatilhas...

Byakuya admirou Renji; aquele rapaz de origem humilde que, mesmo casado com sua irmã, mesmo sendo o pai de sua única sobrinha... Nunca deixou de lado a deferência e o respeito para consigo.

A fala de seu tenente o comoveu; e, por um instante, Byakuya o invejou, pois só recentemente aprendera a cultivar em seu coração a simplicidade que era tão natural ao ruivo... E, por conta disso, tantos sentimentos deixara de experimentar e dividir ao longo dos anos!

Abarai era forte, honrado, inteligente e perfeitamente apto para assumir o mais alto posto de uma capitania da Gotei 13; no entanto, optou por permanecer ao seu lado, sempre cumprindo com disciplina, competência e coragem todas as suas atribuições.

   Isso era admirável! E o Kuchiki prometeu a si mesmo que, um dia, agradeceria ao cunhado, enquanto tomassem descontraidamente alguma long neck vulgar do Mundo dos Vivos.

Afastou os pensamentos divagantes no momento em que Ichika balbuciou “papá”, agarrada aos fios vermelhos do pai, emaranhando-os entre os dedinhos.

Rukia tomou a iniciativa:

– Nós iremos com você, Nii-sama.

Enquanto caminhavam, Renji cochichou à Soi Fon:

– Sabe do que se trata, cunhada?

– Sei. Mas não vou dizer, pois, ao contrário de certas pessoas, eu sei guardar segredos muito bem. – Respondeu, sorrindo de canto.

– Oras...

 

O nobre conduziu sua família até a sala de música.

O enorme piano ao lado da janela brilhava à luz da lua cheia que adentrava o cômodo. As cortinas brancas bailavam com a brisa fresca da noite, a mesma aragem que balançava os fios escuros dos cabelos do pianista já posicionado à frente do caríssimo instrumento.

– Renji, traga Ichika para mais perto. – pediu, notando que era curiosamente observado. – Venha, irmã.

Soi Fon entregou-lhe duas pastas caprichosamente encapadas com pelica branca.

Eram partituras.

Ele abriu uma delas e a acomodou acima do teclado, e a outra voltou às mãos da esposa.

No colo do pai, a bebê acompanhava os movimentos do tio e sorria, enquanto brincava com a fita de seda do próprio vestidinho.

– Dediquei-me durante semanas para compor esta música. Chamei-a de “Mil Flores”, o significado do seu nome, Ichika... Ela é meu presente para você.

Sob os olhares surpresos de sua irmã e cunhado, Byakuya respirou fundo e começou a tocar.

As notas eram aveludadas... Suaves como o início de um novo amor, o reavivar dos sorrisos esquecidos, o recomeço de uma caminhada... Como o Sol que, apesar das noites turbulentas, sempre surge no horizonte, trazendo calor e esperança para aplacar o frio e o desconsolo.

Um lindo sonho que renasce, e brilha em luz e redenção.

Ternas como as coisas boas que brotam dentro do peito, para de lá não saírem jamais. Carícias de mãos que se doam, de abraços que confortam e protegem.

Seus dedos longos percorriam as teclas bicolores, agora extraindo delas notas mais ligeiras... Acordes ágeis como o saltitar dos pezinhos infantis sobre a grama molhada de orvalho, pintando o cenário onírico da menininha de cabelos vermelhos correndo por um jardim de flores silvestres, parecendo dançar ao mesmo ritmo da melodia arrebatadora que transbordava do piano, enquanto folhas e pétalas coloridas voam ao seu redor, levadas pelo vento...

Mil flores no jardim! Ichika entre elas, perfeito retrato da eternidade das alegrias!

Aromas adocicados e cores vívidas... Risos inocentes de bebê, os olhinhos encantados com o voo das borboletas, com os caracóis e joaninhas. A esperta e lúdica vivacidade que era prenúncio das grandes aventuras e dos emocionantes desafios que ainda haveriam de ser experimentados pela pequena shinigami!

A sonoridade da beleza que habita nas pequenas coisas e nos imensuráveis sentimentos.

O amor que arrebata e que, como garoa em terra fértil, germina sementes adormecidas no mais profundo recanto de uma alma, brotando esperança onde antes reinava a aridez.

“Mil Flores” bailava pela sala, preenchia os espaços, acalentava e aquecia os corações. Uma joia emotiva e repleta de ternura, amor e felicidade, como a vida deve ser!

 

A última nota fora executada e, por alguns segundos, ninguém foi capaz de pronunciar uma única palavra. Byakuya encarava as teclas enquanto seu emocionado coração, tomado por uma alegria e uma leveza ímpares, batia acelerado dentro do peito.

Soi Fon, orgulhosa por seu esposo, tinha os olhos marejados enquanto o fitava; Renji e Rukia, em vã tentativa, lutavam para secar o choro que descia abundante.

O silêncio deu lugar aos risos quando a pequena Ichika começou a bater suas espontâneas e costumeiras palminhas, aplaudindo o lindo presente que ganhara do titio.

A ruivinha estendeu a ele os bracinhos rechonchudos. Byabuya levantou-se, a pegou no colo e beijou-lhe ternamente a bochecha, sequer reclamando quando a sobrinha começara a mexer nos valiosos Kenseikans do seu cabelo, despenteando-o.

Nii-sama... O-Obrigada... – profundamente comovida, Rukia o abraçou e recebeu dele um afago nos cabelos, sob o olhar curioso de Ichika.

O nobre sorriu, ladeado por sua família...

No momento seguinte Ichika bocejou e começou a chorar, sentindo os primeiros sinais de cansaço após o longo dia de festa e agito. Decididos a voltar para casa, banhá-la e colocá-la para dormir, despediram-se com muitos abraços e agradecimentos.

Renji carregava Ichika, tentando acalmá-la, enquanto Rukia levava com todo cuidado a preciosa partitura de “Mil Flores”.

A sós com o amado, Soi Fon tomou seu rosto entre as mãos e o beijou com ternura. Byakuya sentou-se novamente ao piano e puxou a morena para mais perto de si, estreitando-a em seus braços.

– Isso foi lindo, meu amor. – Ela declarou-se, enquanto ajeitava uma mecha dos seus cabelos que fora desarrumada por Ichika.

– Obrigado... – o Kuchiki retribuiu o carinho, afagando o rosto bonito da mulher – Quero compor uma música para cada um dos nossos filhos... Para você...

– Byakuya... – Sussurrou. – Toque nossa canção, por favor...

Então, os acordes de “Arabesque Nº 1”, de Debussy, flutuaram melodiosos pelo céu estrelado daquela noite...

 

E por noites e dias, meses e anos, os sentimentos de Byakuya ainda soariam muitas e muitas vezes, em maravilhosa transcendência, pelas teclas de marfim e ébano.

 

 

***

Quatro anos depois

 

Aqueles anos pareceram caminhar rapidamente, como um sopro, aos olhos dos moradores de Seireitei.

A paz reinava, a felicidade tornou-se rotina. Cada um dos dias era um tesouro de inestimável valor, vivenciados em plenitude!

 

Muitas coisas aconteceram nesses quatro anos.

 

Meses após o primeiro aniversário de Ichika, numa linda manhã, em que milhares de flores de cerejeiras forravam o chão e voavam com a brisa, Soujun e Mizuki vieram ao mundo pelas mãos de Isane, Mayuri, Kiyone e Hanatarou, no centro cirúrgico da 4ª Divisão. Byakuya assistiu ao parto cesariano e não conteve as lágrimas quando, de mãos dadas com Soi Fon, viu pela primeira vez seus tão amados e esperados filhos.

 

Verões e invernos, outonos e primaveras...

 

Rose e Nanao, assim como Lisa e Shunsui, casaram-se e festejaram no mesmo restaurante que fora palco das uniões dos amigos. Toushirou e Karin engataram um namoro firme e se visitavam com frequência; apesar disso, Shinji ainda o chamava de “criança” de vez em quando, só para provocá-lo e não “perder o costume”.

Todos os casais desfrutavam do amor e da felicidade. As paixões jamais arrefeceram, e as amizades solidificavam-se em cumplicidade e alegria.

 

Nemuri agora era um unânime prodígio entre os shinigamis. A menina destacava-se por seu intelecto e facilidade em aprender, e já ajudava Mayuri em pequenas tarefas no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento. Kurotsuchi disfarçava, mas Akon sempre sorria quando notava os olhares escondidos, mas repletos de orgulho, que seu capitão direcionava à sua mais perfeita criação.

 

Os Kurosaki e os Abarai visitavam-se com frequência. Ichika e Kazui tornaram-se rapidamente grandes amigos; a garotinha adorava desafiá-lo para brincar de lutas e duelos, tanto quando iam ao Mundo dos Vivos quanto nas ocasiões em que as visitas aconteciam na Soul Society. Golpes, gritos, correrias, risadas e curativos depois, sempre havia uma deliciosa refeição para que todos pudessem repor as energias e conversar sobre a vida.

 

Ichika estava com cinco anos e, a exemplo de seus pais, apresentava notável reiatsu, agilidade, raciocínio rápido e muita, muita coragem e vontade de lutar. A pequena dedicava-se muito aos treinos diários para, dali a uns anos, conseguir realizar seu sonho e, por conseguinte, confirmar o palpite que Rukia nutria desde que ainda a abrigava no ventre: entrar na Divisão 11 e, assim, poder participar das batalhas mais emocionantes de toda a Gotei 13!

 

***

– Preciso ir, Chappy. – Disse ao coelhinho de pelúcia rosa que ganhara do pai antes mesmo de nascer. – É domingo de manhã e o papai e a mamãe prometeram que vão me ensinar uns golpes novos!

Abraçou o coelho, pegou a Zanpakutou e ajeitou alguns fios dos cabelos vermelhos presos em um rabo de cavalo alto, como Renji sempre fizera. Antes de sair rumo à sala, deu um “tchauzinho” a Chappy e uma última olhada em seus outros pertences: os brinquedos; a partitura de “Mil Flores” que ficava em destaque na penteadeira; a foto que o “tio Shuuhei” tirou dela e dos pais no dia de seu primeiro aniversário; e o quadrinho da parede que continha um par de sapatinhos brancos de lã, protegidos por uma moldura de madeira e vidro.

– Ichika? Já está pronta?

– Sim! Vamos treinar agora? – a inteligente menina perguntou eufórica, após abraçar e beijar Rukia na face. – Você fica tão bonita com o haori de capitã, mamãe!

– Obrigada, minha querida!

– E eu? Não estou bonito?

– Papai! – a garota pulou no colo de Renji que chegava à sala naquele momento. – Você é o mais lindo de todos, papai! E a mamãe também acha isso, sabia?

– Ah, ela acha, é?

– Sim! Sabe aquela foto ali, do dia do casamento de vocês? Ontem ela pegou a foto, passou a mão bem em cima do seu rosto e beijou!

– I-Ichika! – Rukia corou; Renji riu e deu um selinho na esposa.

– ECAAA! – reclamou com carinha de nojo. – Vamos logo treinar!

– Princesinha, antes de treinarmos eu e a mamãe levaremos você para que conheça um lugar muito importante. Vamos tomar café para sairmos o mais cedo possível, está bem?

 

***

Rukongai

Distrito 78  – Inuzuri

 

– Mãe, pai... Q-Que lugar é este?

Renji, Rukia e Ichika caminhavam por entre as vielas empoeiradas de Inuzuri. A cada passo, as pessoas prestavam-lhes exageradas reverências. Afinal, não era todo dia que uma capitã, um tenente e sua filha passavam por ali...

Algumas das pessoas mais velhas foram reconhecidas pelo casal: os mesmos adultos que, décadas atrás, os enxotaram e apedrejaram quando, pequenos e famintos, lutavam por um copo de água e uma mísera porção de comida.

Suspiraram.

– Aqui é o Distrito 78 – Rukia explicou. – Seu pai e eu crescemos aqui... Éramos uma turma de cinco amigos; mas, depois de anos de fome, privações e violência, só sobramos nós dois. Foi aí que decidimos virar shinigamis. O resto da história a mamãe já te explicou, lembra-se?

– Sim, mamãe.

– Chegamos. Vamos subir. – Renji pôs a filha nas costas, deu o braço à esposa e começaram a subir um morro alto e íngreme.

Assim que alcançaram o topo, avistaram três sepulturas já gastas pelos anos de intempéries; em cada uma delas, uma plaquinha com um nome de menino em letras quase apagadas: Akira, Tatsuo e Isao.

A pequena família caminhou até elas, depositou as oferendas e, de joelhos, fizeram uma prece pelos três amiguinhos que partiram tão jovens, vítimas da fome, das doenças e dos maus-tratos.

Minutos depois, a pequena família, em pé na beirada daquele monte, observava em compenetrado silêncio a imensidão dos barracos que compunham os distritos da Soul Society e, ao centro destes, a imponente Seireitei.

– É tão estranho. Décadas atrás, nos atiravam pedras... Hoje, quase se partem ao meio com tantas mesuras e cumprimentos. – Disse Renji, com olhar distante.

Ichika estava impressionada. Jamais vira tanta pobreza, carência e falta de condições básicas para se ter uma vida digna. Sabia que seus pais tinham crescido no tal distrito de Rukongai, mas nunca imaginara que a infância deles tivesse sido tão penosa!

Lembrou-se do longo trajeto pelas vielas até chegar àquele local. As crianças admiradas a olharam, algumas acenaram ou tentaram tocá-la, todas com aspecto frágil e rostos sofridos. Ela e seus pais distribuíram muitos bolinhos de arroz e peixe a cada uma, e elas os engoliam como se não comessem há dias.

Seus olhinhos violetas lacrimejaram enquanto divisava o horizonte sem fim de habitações de madeira.

– Que lugar triste...

– Sim. E daqui até o Distrito 80, o último deles, a situação só piora. – Sua mãe lhe disse.

– Tio Zaraki me disse que veio de lá...

– É verdade.

– Por que as pessoas foram malvadas com vocês? – fungou a menina, ao dizer aquelas palavras com tanta maturidade – Não é certo... Vocês eram criancinhas!

Seus pais se abaixaram para ficar à sua altura. Então, Renji segurou sua mãozinha e explicou:

– Você tem toda razão, princesinha... Não é certo, nem justo. – Limpou uma lágrima que desceu pelos olhos violetas da filha, tão iguais aos da mãe. – Por isso devemos sempre lutar para garantir que todos consigam viver em paz.

– Eu serei uma shinigami bem forte e vou proteger todas as pessoas dos perigos, dos hollows, dos monstros e dos caras maus, principalmente as crianças! E eu quero voltar mais vezes para distribuir bolinhos! Nós podemos?

– Claro que sim, filha... Claro que sim.

 

***

Já era dez e meia da manhã e a família Abarai caminhava pela grande propriedade do clã. A ruivinha ainda estava um tanto pensativa e séria, mas logo abriu um grande sorriso quando, ao passarem pelos arredores da Mansão de seu tio, avistou Mizuki e Soujun correndo pelo gramado dos jardins.

Os gêmeos haviam completado quatro anos, e a cada dia sua inteligência, obediência e alegria de viver eram mais evidentes. Amavam os pais, e eram igualmente amados e cobertos de carinho e atenção por eles.

Mizuki era a cópia de Soi Fon, mas com os olhos azuis-acinzentados do pai, enquanto Soujun era como um Byakuya em miniatura, mas seu olhar possuía o mesmo tom puro de cinza da mãe.

Quando viram a prima, os gêmeos correram ao seu encontro, fazendo com que seus cabelinhos pretos voassem ao sabor da brisa da agradável manhã.

– PRIMA! – gritaram. Ichika soltou as mãos dos pais e também correu para abraçá-los.

Rukia e Renji sorriram. As três crianças se adoravam!

– Onde vocês foram, Ichika? – o garotinho perguntou.

– Fomos passear no Rukongai!

– Nossa! – exclamou Mizuki.

– Vem brincar de pegador com a gente, prima! – Soujun a convidou.

– Mas... Meu treino... – a menina olhou para seus pais, indecisa entre treinar ou brincar com os priminhos.

– Bem, e que tal se todos fizessem um treinamento diferente hoje, hein? – era a senhora daquela casa quem chegava até eles.

– Olá, tia Soi!

– Mamãe!

Soi Fon recebeu uma beijoca estalada da sobrinha e cumprimentou seus cunhados. Em seguida, pôs as mãos em punho na cintura, fingiu uma feição severa e dirigiu-se aos três pequeninos que a olhavam, expectantes:

– O exercício é o seguinte: atravessem o gramado pulando em um só pé, deem duas voltas ao redor do pessegueiro, passem por baixo do banco, saltem sobre aquela pedra grande, vão ao meio da ponte e joguem esses pedaços de pão aos peixes. – disse, entregando um saquinho de papel a cada criança. – VAMOS LÁ, GUERREIROS!

– SIM, CAPITÃ! – responderam e saíram gargalhando para cumprir as tarefas.

– Por que não almoçam conosco hoje? Byakuya está terminando uma leitura; enquanto isso, podemos conversar na varanda e observar as crianças!

O casal aceitou o convite. Soi Fon pediu que trouxessem uma grande jarra de suco, e os três engataram uma conversa animada sobre as travessuras das crianças.

Renji pediu licença e foi até um dos cantos da varanda, debruçando-se na grade de madeira, de onde pôde admirar a ponte vermelha sobre a qual sua filha e seus sobrinhos agora atiravam pães aos peixes.

Sorriu, com a mente inundada por lembranças evocadas pelo local...

Sentiu a presença de seu cunhado que se aproximou a passos lentos e posicionou-se ao seu lado.

– Bom dia, capitão.

– Bom dia. – Devolveu o cumprimento, enquanto entregava uma garrafa a ele, idêntica à qual ele mesmo segurava.

Renji piscou algumas vezes.

– Trouxe cerveja do Mundo dos Vivos, capitão? – provocou. O Kuchiki o olhou de canto e agarrou a empunhadura da Senbonzakura.

– Sabe o que é isso, Renji?

– Certo, o senhor venceu, capitão! Eu paro com a brincadeira!

Ambos abriram as garrafinhas geladas e bebericaram. Foram atraídos pelos gritinhos infantis que vieram do jardim quando as crianças viram uma grande carpa saltar.

Ficaram os dois ali por longos minutos, contemplando seus filhos.

– Nossos filhos são crianças bonitas, saudáveis e inteligentes... – disse o tenente, divertindo-se com o riso alegre dos pequenos.

– Sim, eles o são... – Byakuya inspirou profundamente, com seu olhar atento às brincadeiras infantis. – Obrigado, Renji.

O ruivo sorriu. Sabia o motivo de tal agradecimento, mesmo que o nobre não o deixasse explícito...

Pois foi com os beijos trocados com Rukia há alguns anos, ali naquela ponte, e em uma manhã igualmente bela, que a vida de Byakuya Kuchiki começou a mudar para melhor...

Como a sua!

 

***

Horas depois, adultos e crianças, estas devidamente banhadas e trocadas depois de tanto brincarem, saboreavam o delicioso almoço servido na sala de jantar da Mansão Kuchiki.

Os pequenos conversavam:

– Prima, quando aquele menininho do Mundo dos Vivos... O Kazui, vem pra cá pra gente brincar de novo, igual aquele dia?

– Não sei, Soujun... Vou pedir para o papai conversar com o tio Ichigo! – a mais velha bateu palminhas.

– A gente pode chamar a Nemuri para brincar também!

– Isso, irmã!

– Vocês estão sabendo? – Ichika cochichou aos primos, mas alto o suficiente para que todos à mesa escutassem. – Tem um nenê na barriga da tia Momo!

– OOHH! – Os irmãozinhos exclamaram. Os adultos, por sua vez, fingiram não ouvir, pois queriam saber no que aquela conversa ia dar.

– Como você descobriu isso, Ichika?

– Ora, Mizuki... Eu sou muito sabida! – exclamou, sapeca, enquanto pegava mais um oniguiri.

– Como será que os bebês vão parar dentro das barrigas das mães? – indagou Soujun com o dedinho no queixo; imediatamente, as meninas também ficaram pensativas.

Os adultos, por sua vez, quase engasgaram com a comida!

– Eu já ouvi uma coisa sobre cegonhas, mas não acreditei muito...

– Eu também não.

– Tive uma ideia! – exclamou Ichika, batendo palmas de animação. – O tio Mayuri não tirou a gente das barrigas das nossas mamães? Vamos perguntar para ele!

– NÃO! – exclamaram seus pais, vermelhíssimos.

– Tio Mayuri às vezes é meio assustador... – Mizuki falou.

A ruivinha deu de ombros e continuou:

– Então vamos perguntar para a tia Isane, que é super boazinha! Ela também tira nenês das barrigas, então deve saber como eles fazem para entrar lá!

– NÃO!

– Por que não?! Aiai... Os adultos são tão esquisitos...

– Os bebês vêm dos abacaxis! – Renji inventou uma explicação para encerrar aquele assunto de vez – As mamães comem um abacaxi com casca e tudo, inclusive as folhas, e essa gororoba vira um bebê na barriga delas. No caso da Soi Fon, ela estava com muita fome e comeu dois abacaxis!

Todos ficaram boquiabertos com essa história maluca, e Rukia a muito custo segurou a risada:

– Por Kami, Renji!

– É muito feio mentir, papai!

– Quem disse que é mentira?!

Os pais respiraram aliviados quando a sobremesa foi servida e as crianças, distraídas com os lindos mochis decorados, esqueceram o assunto.

– Papai, toca a minha música? – Soujun pediu, depois de comer o último dos docinhos.

– A minha também, papai!

– E a minha, tio Bya! Por favor!

Byakuya sorriu e levantou-se com as três crianças eufóricas já penduradas em seus braços; rodeado pelos pequenos, por sua mulher, sua irmã e seu cunhado, sentou-se ao piano e tocou, inspirado pela dádiva de estar com as pessoas mais importantes de sua vida.

 

***

Aquele fora um domingo realmente feliz.

 

À noite, uma chuva fraca vertia dos céus da Soul Society, e seus pingos tilintavam ritmados ao caírem no telhado e nos jardins da mansão dos Abarai.

Ichika dormia profundamente em seu quarto, exausta depois de um dia repleto de brincadeiras.

No quarto do casal, a porta trancada guardava o momento de amor, paixão e entrega de Rukia e Renji, enquanto as janelas entreabertas deixavam entrar o ar fresco e úmido, em nítido contraste com o calor dos corpos unidos.

Deitado sobre os lencois, ele a recebia sobre si. Seus longos cabelos vermelhos haviam sido soltos da trança pelos dedos afoitos da morena em meio aos beijos anteriormente trocados, e agora espalhavam-se, rubros como brasa, sobre o travesseiro branco, numa visão que Rukia nunca se cansava de contemplar com veneração.

Totalmente encaixada em seu órgão túrgido, rígido, Rukia lutava inutilmente para conter os gemidos. Apoiou as pequenas mãos no peito largo, tateando-o e arranhando a pele quente de seu homem, deliciando-se em percorrer as linhas negras e tribais das tatuagens que o marcavam e lhe davam um ar ainda mais selvagem, másculo e irresistível. Desceu os dedos à barriga firme e trincada, ato que arrancou do fundo da garganta do ruivo um murmúrio rouco.

– R-Rukia...

Ela adorava acariciá-lo. Tocar e beijar cada centímetro daquele corpo quente, delicioso... Amava sentir-se vulnerável sob suas carícias e, ao mesmo tempo, protegida em seus braços grandes e fortes.

Seu homem. Seu amor. Seu Renji.

E ele jamais se cansaria de ser arranhado, beijado, explorado por sua boca rosada e por suas mãos delicadas, sedentas pelo prazer. Lembrou-se de como, logo que se jogaram na cama, excitaram-se mutuamente com a língua e os lábios, ávidos por sentirem o sabor um do outro, e arfou...

O corpo pequeno e delicado ondulava sobre o seu em um ritmo crescente de intensidade, recebia-o fundo, esfregava-se nele, apertava-o entre as paredes quentes e molhadas... Enlouquecia-o.

Abarai subiu seus toques pelos braços femininos, contornou os ombros estreitos, o pescoço... Envolveu completamente os seios pequenos e empinados nas palmas de suas grandes mãos, fazendo os mamilos enrijecerem ainda mais sob carícias intensas, porém cuidadosas.

Tão entregue e linda, a sua Rukia!

Desceu os carinhos pela barriguinha alva, embevecido pela beleza feminina... Abarcando as curvas de seus quadris, carinhosamente acariciou com os polegares a fina e esbranquiçada cicatriz da cesárea.

O olhar que trocaram disse tudo, sem que palavra alguma ousasse sair dos lábios entreabertos e arfantes de ambos.

Paixão, desejo, cuidado, devoção... Amor!

Um maravilhoso amor que esperou por décadas, mas que, agora e por toda a eternidade, os tornariam um só coração, uma só vida!

Deram-se as mãos ao perceberem o ápice cada vez mais próximo.

– Renji... E-Eu vou...

– Vamos juntos... Ru...

Mãos, olhos e corpos unidos... Mulher e homem derramaram-se em prazer, os gemidos mesclando-se ao som da chuva que, agora, desabava intensamente.

Depois de desfazerem o contato dos corpos, Rukia deitou-se trêmula sobre o peito largo e ofegante do rapaz.

– Eu te amo, grandalhão...

Renji sorriu e beijou-lhe os cabelos.

– Também te amo, coelhinha...

Acariciaram-se sem pressa, apreciando os batimentos acelerados dos seus corações que pulsavam em uníssono naquele abraço tão reconfortante.

Antes de entregar-se ao cansaço e ao sono, Rukia vestiu um leve yukata e pegou seu Chappy, abraçando-o e comprimindo o coelho branco de pelúcia entre ela e seu amado ruivo.

Ele a contemplou dormindo tão profundamente, com a cabeça em seu ombro, agarrada ao presente que ganhara dele no início do namoro.

 

Já havia se passado quase uma hora e Renji não conseguia dormir. Alternava sua atenção entre a esposa adormecida, os clarões dos relâmpagos, suas fotos em belos porta-retratos...

Viu o pequeno baú sobre a penteadeira, o qual continha as cartas que escrevera, e ainda escreve, para ela. Por muitas vezes flagrara sua valente Rukia derretendo-se ao relê-las, chegando a derramar algumas lágrimas.

Levantou-se cuidadosamente para não a acordar; vestiu também um yukata, foi à cozinha para beber água e voltou a deitar-se. Rukia, sem ao menos despertar, aninhou-se novamente em seu ombro direito, fazendo dele um travesseiro perfeito e aconchegante.

Um estrondoso trovão quebrou o silêncio daqueles momentos de carinho e aconchego; segundos depois, um pequeno vulto carregando um coelho rosa entrou correndo pela porta entreaberta, avançando através da penumbra até chegar à cama do casal.

– P-Papai... Você está acordado?

– Estou acordado, princesinha. – Respondeu, afagando os cabelos da menina. – O que foi? Se assustou com o trovão?

– Sim, mas por favor não conta pra ninguém...

– Prometo que não vou contar.

– Posso dormir com vocês? – pediu, já subindo no leito.

– Pode, mas fique quietinha para não acordar a mamãe.

– Tá bom.

O ruivo estendeu-lhe o braço esquerdo e nele abrigou a filha. Ichika sussurrou um “eu te amo, papai”, antes de adormecer quase que imediatamente.

Acomodado entre as duas mulheres mais importantes da sua vida e os dois Chappies de pelúcia, Abarai sorriu e disse baixinho:

– Amo tanto vocês...

Renji era, definitivamente, um homem feliz!

Olhou para Rukia que se remexia. Viu que havia um papel debaixo do travesseiro dela.

Não o havia notado quando se amaram naquela noite...

Ficou curioso. Devagar, conseguiu pegá-lo com as pontas dos dedos sem que elas acordassem.

Assim que viu do que se tratava, seus olhos castanhos marejaram...

Era a carta, aquela mesma carta que ocultara por dias em seu shihakushou, hesitante em entregá-la à sua destinatária...

Cuidadosamente guardada dentro do envelope já um pouco amassado e ainda com marcas da terra do jardim dos Kuchiki, quando fora atirada aos pés de Rukia depois da briga na cabeceira da ponte vermelha.

As declarações de um homem apaixonado; seu amor eternizado em palavras perfeitas e bem grafadas, com alguns trechos ligeiramente borrados pelas lágrimas vertidas dos lindos olhos cor de violeta de sua pequena adorada, a cada vez que ela lia aquelas linhas.

A carta que concretizou o amor de dois corações, unindo-os depois de décadas de sofrida distância... O mesmo amor que, curiosamente, instigou muitas e muitas outras histórias de paixão e de felicidade em Seireitei e no Mundo dos Vivos!

Renji a leu, releu... E sorriu. Então, colocou-a de volta no envelope.

Finalmente percebeu o sono a abatê-lo, o olhar pesando...

Aconchegou Rukia e Ichika para mais perto de si. Junto a elas, sentia sua existência inundar-se de paz, felicidade e amor...

Guardou o papel dentro do seu yukata, ao lado esquerdo do peito... E adormeceu serenamente, sentindo sobre seu coração o toque suave daquela preciosidade que marcara o início de tudo.

A carta à mulher amada.

 

 

 

*** FIM ***

 

“Quarenta anos é tempo demais para quem ama.”

“Sou seu, Rukia. Sempre serei. Jamais se esqueça disso (...).”

 

– Trechos da carta de Renji a Rukia.

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


Emocionada, feliz, expectante! Assim me sinto, e certamente irei chorar quando selecionar o ícone "sim", em "história concluída".
Eu amei escrever cada palavra, cada capítulo dessa fic que tomou proporções que eu jamais imaginara. Durante esses meses, vi minha carga de trabalho aumentar, meu horário se apertar cada vez mais, angustiei-me com meus recentes e cada vez mais constantes atrasos em responder aos comentários e postar os capítulos. Em meio a isso tudo, uma palavra dedico a vocês:
Gratidão.
Por cada favorito; cada comentário tão lindo; cada palavra carinhosa e inspiradora; pela paciência.
Obrigada por cada um que acompanhou a história, aos que estiveram comigo desde o início, aos que chegaram depois, aos que chegarão agora.
Sem vocês, tudo seria menos mágico.

Um esclarecimento:
A música daquele link nas Notas do Autor chama-se "Butterfly Dance" e não foi composta pelo Byakuya, meus queridos. Eu apenas imaginei que tio Bya comporia algo no mesmo estilo, ou seja, essa música serve como inspiração para imaginarmos a melodia de "Mil flores". "Butterfly Dance" na verdade é de autoria do Yanni, fenomenal músico grego, e a versão que ouviram foi executada por Gauthan Ramesh. Consegui esclarecer?
https://www.youtube.com/watch?v=0GUMGEnv9rY

A música do casal ByaSoi:
https://www.youtube.com/watch?v=qDQUEhS8t6k

Para quem quiser reler a carta que o Renji escreveu à Rukia, e que foi o início da história de amor do casal e a inspiração de tantas outras, é só acessar:
https://www.spiritfanfiction.com/historia/carta-a-mulher-amada-19315786

Se puderem, deixem seu comentário! Eu ficarei imensamente feliz!
Obrigada por tudo e... Até a próxima!

Beijos aquarianos,
Serena.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...