História Cebola e Magali: Paixão no Limoeiro - Primeiro Segundo Beijo

  A porta se escancarou rapidamente após o sinal tocar. Cebola e Magali levantaram ao mesmo tempo e, envergonhados, eles fingiam olhar para todos os cantos menos um para o outro, mas ficou claro que sua amiga em comum, a primeira a chegar na sala, sabia muito bem que eles estavam apenas tentando disfarçar sua vergonha:

  "Aaaiii me amarrota que eu tô passada! Genteee vocês tavam quase se beijando, ai meu DEEEEEEUS, hashtag magacê!" - A garota comemorava dando pulinhos no ar, sendo logo envolta pela multidão dos estudantes que adentrava a sala de aula enquanto o sinal ainda tocava. O rosto de Magali estava muito vermelho, Cebola só conseguia ficar ali parado, sem sequer piscar, esperando um dos colegas puxar ele pelo braço para que se sentasse sobre sua carteira. Ele respirou fundo, as mãos estavam tremendo quando pegou o lápis para escrever em seu caderno, reparando que, dentro de seu estojo, havia algumas carolinas recheadas com doce de leite, o que fez o garoto erguer os olhos à frente, onde pôde ver o canto do sorriso dela em sua carteira, olhando para sua professora.

Ele soltou um suspiro longo, apoiando as bochechas em seu punho fechado, ainda olhando para a garota quieta e curiosa à sua frente que, por sua vez, olhava para trás de vez em quando, tentando segurar as suas risadinhas tímidas e esconder as bochechas coradas entre os seus dedos abertos. A classe inteira olhava para eles de longe, até que a professora de ciências respirou fundo e virou-se para sua classe:

"Magali, Cebolácio! Vocês estão aqui pra aprender ou pra ficarem trocando olhares e risadinhas? Francamente!" - A mulher os fulminou com o olhar antes de se voltar à lousa, ignorando os olhos arregalados dos dois estudantes em questão, enquanto os alunos todos grunhiram em uníssono seu singelo "huuuuuuummmmmmmm" para o suposto casal. Magali enfiou o rosto sobre as páginas abertas de sua apostila, suas bochechas já estavam mais vermelhas do que uma melancia, não muito diferente de Cebola, que se afundou tanto debaixo de sua carteira que apenas os seus cabelos espetados no topo eram visivéis à classe. Ele aguentou as piadinhas e os cochichos a seu respeito, distraidamente pegou uma carolina, mordeu metade e, discretamente estendeu o braço para a frente, onde ela, na outra carteira, virou-se surpresa ao ver o garoto oferecendo-lhe metade do doce. Magali pegou o doce, olhou de volta para Cebola por cima do ombro e sorriu com o seu leve aceno de cabeça, fingindo que  bocejava enquanto enfiava a sua carolina de doce de leite dentro da boca:

"Gentee, eles tão trocando metadinhas de docinhos durante a aula! Ai que tudoo, hashtag Magacê" - Cochichava Denise às amigas, enquanto volta e meia o "casal" se virava um para o outro para trocarem olhares. Era estranho, mas de uma forma boa, Magali nunca pensou que um dia se apaixonaria pelo seu melhor amigo, e ali estava ela, toda suspirando conforme ela mastigava discretamente o doce, sorrindo consigo mesma, contando os minutos pra acabarem as aulas do dia e ela poder ir à sua casa e refletir no que acontecera hoje.

Cebola sentia um frio enorme na barriga, seus joelhos tremeram quando o sinal que indicava o término das aulas finalmente batera, ecoando pela sala de aula cheia. Ele guardou o material na mochila, estava nervoso e foi o primeiro a sair, descendo as escadas antes de escapar pro portão do colégio, agarrando com força as alças de sua pesada mochila nas costas. Devia esperar por ela? Devia caminhar direto à sua casa? A verdade é que ele estava era nervoso e confuso, ela era a sua melhor amiga, ele tinha muito medo de arruinar a amizade deles, o garoto se abaixou, ainda na frente do portão da escola, para poder amarrar os sapatos quando os dedos lhe tocaram os seus e ele observou, pasmo, o par de mãos delicadas puxando-lhe seus cadarços gentilmente em meio à multidão:

"Obrigado...Magá..." - O garoto sorriu à amiga, meio desconcertado. Ela terminou o laço firme nos tênis do amigo e ergueu o rosto para ele, segurando na mão que ele a oferecia para se levantar e encará-lo. A mesma deu de ombros e sorriu levemente, nenhum dos dois parecia ter assunto para falarem sobre aqueles flertes, ou sobre as fofocas escolares dizendo que eles eram o novo casalzinho do pedaço, afinal eram só amigos trocando olhares, será que era algo tão fora do comum assim? Por quê as pessoas viam malícia em tudo? O sol que banhava suas cabeças estava forte, o que contribuiu para deixarem o nervosismo e a vergonha de lado e a tomarem atitudes:

"Hey, você..quero dizer..bom, eu sei que a gente tem que estudar para a prova de amanhã, mas..a sorveteria do seu mané.. estou com dois vale-casquinhas comigo e pensei que você..enfim.." - Magali dera de ombros e olhara para o sol, franzindo seu semblante devido à claridade, corando ao sorriso sem jeito do garoto que ajeitava as mochilas nas costas. Cebolinha fez sinal de positivo com a cabeça e agora andava lado a lado com ela pela calçada estreita da ruela paulista, pegando gentilmente na mão dela enquanto andavam até o lugar. A garota apertou firme a mão do amigo, e apesar de nenhum deles ter entrelaçado os dedos desta vez, ambos sorriram bem discretamente, segurando as risadinhas.

A barra da saia cinzenta do seu uniforme balançava contra seus joelhos ao andar, o garoto havia se oferecido para carregar a mochila dela na mão livre, e portanto eles não demoraram para chegar na bonita e simpática sorveteria no outro quarteirão. Magali pediu uma casquinha de morango e Cebolinha pediu o mesmo sabor que ela, ela entregou os cupons de sorvete para o seu mané e se preparava para sentar-se sobre uma mesinha quando ele a puxara:

  "Vem Magá, vamos tomar na pracinha, o ar é bem mais fresco, podemos ficar perto do laguinho, vendo o movimento" - Dizia o garoto, surpreso ao ver que a sua idéia lhe parecia ter agradado; Magali assentiu de cabeça e saiu correndo para a pracinha, puxando os dedos dele rapidamente, lhe fazendo rir enquanto quase engasgava ao lamber seu sorvete, ouviram uma buzina alta de um carro e os xingamentos do seu motorista para eles, resultando em umas boas gargalhadas enquanto adentravam a praça, com ele colocando o braço agora por cima dos ombros descansados desta:

"Fazia tanto tempo que não me divertia desse jeito..toda hora é só prova, prova e tarefa e..hey! Seu nariz tá todo marcado de sorvete, Cê!" - Ela riu baixinho quando o garoto tentou ver a mancha de sorvete e consequentemente parecera que estava vesgo. Ela deu um beijinho na pontinha do nariz dele e riu em seguida, sem perceber que ele inclinara o próprio sorvete pra ela:

  "Agora o seu também está marcado de sorvete! A gente já tem preocupações de sobra lá fora, a pressão dos pais por uma faculdade, emprego, cursinho..um futuro incerto..não quero que a gente esqueça de se divertir no meio de tudo isso, eu não quero que você esqueça de sorrir, Magali.. nem que eu mesmo tenha que te lembrar disso.." - Ele sujou de leve o queixo dela de sorvete, mas ela não ligou, seus olhos castanhos examinavam cada cantinho do rosto dele, a mão dela acariciou o rosto do amigo, passeando o indicador através de sua pele, sentindo os primeiros fios de barba nascendo nele, esfregaram as suas narinas brevemente antes dela suspirar o ar bem próximo da boca entreaberta dele:

"Cê..você é tão bom pra mim, que eu.. eu só quero.." - Ela inclinou a cabeça sobre a dele, corando ao notar ele olhando para o seu rosto, Magali tocou ambas as mãos nas orelhas dele e sentiu que seus lábios já estavam encostados uns nos outros, os seus olhos se arregalaram de repente, se vendo no castanhos das íris dele, sentia o seu nariz se dobrando na ponta que se via encostada contra a bochecha dele, era real, estava beijando o seu melhor amigo.