O inferno melhor
continua sendo um inferno
...
menos pior
.
Depois que decolamos, permaneci encolhida no sofá confortável, contemplando o doce cheiro de rosas e o frio do ar-condicionado. Calango sentado ao meu lado esquerdo, estava sem falar nada desde que o jato decolou, mais ou menos uns vinte e cinco minutos.
-Elizabeth..- A voz sonolenta de Ethan, que estava deitado em um sofá mais à frente.
-Sim..?- Sussurrei.
-Pode ir se deitar na cama se quiser.. Precisa descansar. Vai ser uma longa viagem até Nova York..- Bufou.
Nova York.?
-Ahn.. Tá..- Levantei-me abraçada com meu ursinho.- Eu.. Vou.- Respirei fundo e irei-me caminhando até a portinha de cor vinho. A empurrei lentamente adentrando no espaço de luz baixa com uma imensa cama de casal de lençóis vermelhos e travesseiros brancos, uma pequena cômoda com algumas gavetas feitas de uma madeira visivelmente resistente, um frigobar branco, poltronas, televisão e muitas bebidas intactas.O cheiro de coisa nova exalava.- Que lugar..- Deslizei o olhar por cada detalhe. Quanto dinheiro gastaram para comprar esse jato? Questionei a mim mesma.
Arrastei os pés cansados pelo carpete avermelhado e sentei-me à beira da cama. Deslizei a mão direita pelo lençol macio e me deitei, repousando a cabeça no travesseiro de cetim branco, abraçando-me ao Luck. Era impossível conter os milhares de pensamentos que me sufocavam por dentro.
-Rafael...- Sussurrei seu nome baixinho.- Seu imbecil..- Afundei meu rosto no ursinho, deixando as lágrimas rolarem.-Por que diabos.. Eu ainda gosto de você..?- Me sufoquei comigo mesma.
**
-Lisa..?- Ouvi a voz ecoar distante.- Lisa..- O leve toque no meu braço.
-Ai..- Me espantei sentando bruscamente na cama. Minha vista turva fitou Grayson.- Que susto.- Ele sorriu, olheiras profundas o dominavam.- O que foi?-
-Chegamos..-
-O que?- Meu coração acelerou.- Já?- Engoli em seco.
-Bem-vinda à nossa querida Nova York..- Sorriu abrindo os braços.-Antes que pergunte, você dormiu o voo inteiro, umas nove horas digamos.- Ele fitou o relógio de pulso.- São 14:46.. Pousamos na pista de pouso atrás da nossa Mansão.- Abriu um leve sorriso.
-Mansão?- Arregalei os olhos.-
-Sim..- Ajeitou os cabelos negros.- A Mansão dos The Dolans..- Sorriu.- Vamos..- Ele estendeu a mão para mim.- Deixe o ursinho aí.. O levai com sua mala.-Assenti com a cabeça, deixando o ursinho na cama.
-E.. Calango?- Segurei sua mão arrastando-me para fora da cama. Grayson deu uma risadinha.
-Ele tá lá fora..- Respirei fundo.- Não se preocupe com ele.- Grayson sussurrou quando saímos.
Olhei pelas janelinhas do jatinho, o sol lá fora refletia o solo asfaltado, mais distante o terreno plano coberto de uma grama rala, árvores espalhadas. Caminhei pelo corredor do jatinho, deslocando-me até a saída. Respirei fundo protegendo os olhos dos fortes raios solares, o cheiro relaxante da paisagem. Já no solo, Ethan mexia no cabelo fitando-se pela tela do celular e Calango olhava a paisagem num olhar discreto.
-Desce..- A voz de Grayson soou atrás das minhas costas. Dei um leve sorriso e desci as escadinhas brancas.
-Uau..- Passei as mãos no cabelo e prendendo-o num coque frouxo.
- Já já conhecerá nossa casa..- Ethan me cutucou com um sorriso.
Sinceramente, não sei como me sentir ou reagir, eu estava de volta aos Estados Unidos.. De volta ao meu país...
-Vamos logo..- Calango bufou baixinho, o fitei. Ele permanecia um pouco afastado e de braços cruzados, o cabelo emaranhado sobre a testa e uma expressão abatida.
-Vamos..- Grayson berrou do topo da escadinha com um sorriso descendo rapidamente.- Nash..- Ele fitou para a saída do jatinho. O garoto branco de olhos azuis brotou na saída com um sorriso tímido.- Leve-o para o hangar.. Sabe que papai ficará bravo se não cuidar direito do novo ´bebê´ dele..- Grayson sorriu fazendo aspas com o dedo.
-Pode deixar..- Nash falou com dificuldade, dando um leve sorrisinho tímido e sumindo rumo à cabine de comando.
-My boy...- Ethan sorriu.
-Vamos..- Grayson se virou para mim sorrindo. Ele carregava minha bolsa e meu ursinho.
-Vamos a pé?- Questionei.
-Fica a poucos metros daqui..- Ethan estava do meu lado esquerdo.- Olhe..- Apontou para a esquerda.
Eu não havia reparado no grande hangar à nossa esquerda, a mais ou menos uns cem metros. Mais para a esquerda do Hangar uma Mansão enorme.
-Aquela é a Mansão?- Arregalei os olhos.
-Uma delas..- Ethan sorriu.
-Vamos.. Saiam de perto do jato.- Grayson caminhou para a lateral.
Caminhei para a lateral com eles. Grayson na frente, Ethan do meu lado e Calango um pouco mais atrás.
Ao nosso redor um terreno plano e coberto de uma grama curta, a pista de pouso levava diretamente ao hangar . Para o lado esquerdo a grande Mansão negra e iluminada de frente para nós. Uma estrada de pedras dava acesso à sua entrada principal, tinha também um chafariz e mitas estátuas espalhadas pelos imensos e coloridos jardins. Era uma Mansão tão linda quanto a da TBS.
**
Caminhamos até a entrada da Mansão,o grande lugar de beleza descomunal, parecia ter mais de cinco andares e muitas janelas de vidro e sacadas. Na entrada um jardim de rosas vermelhas, a escadinha que dava acesso ao portão de entrada parecia possuir corrimões de prata, os grandes degraus brancos brilhosos.
Subimos os degraus em silêncio.
-Bem-vindos..- Grayson sorriu pondo as palmas das mãos a imensa porta dupla de madeira trabalhada em desenhos. Empurrou lentamente.
-Uau..- Arregalei os olhos boquiaberta.- É.. Tudo lindo aqui..- Sorri ao adentrar.
O chão liso refletia a minha própria imagem, as paredes brancas com vários quadros de paisagens. Escadas duplas que davam acesso ao andar superior, corrimões de um material reluzente. No centro do teto um lustre circular com várias peças circulares que pareciam de vidro iluminavam aquele lugar. Seguindo reto um pequeno salão dando acesso a três corredores. No centro daquele lugar, na parede uma enorme bandeira negra, com algo que parecia ser duas máscaras com rostos zangados e dentes pontudos, as bocas pareciam sujas de sangue, acima das máscaras escrito ´The Dolan´ com letras bonitas. Que bandeira estranha, seria o símbolo da família deles?
-Que lugar lindo..- Fitei os meninos.
-Eu sei..- Ethan sorriu.
-Essa bandeira é da família de vocês?- Os fitei.
-Não exatamente... Eu e Ethan a fizemos, papai tem preguiça de fazer um escudo pra gente.- Grayson sorriu sem jeito.
-Olha.. Vamos atrás do nosso pai..- Ethan me fitou.
-Tudo bem..- Sorri sem jeito.
-Fiquem por aqui.. Lisa vou levar suas coisas para um quarto.- Grayson sorriu.- Voltamos em.. Minutinhos.- Grayson deu um tapinha no ombro de Ethan e os dois correram subindo as escadas.
-Ahn..- Respirei fundo e olhei para a direita.- Calango?- Franzi o cenho. Ele caminhava pelo salão rumo a uma sala que tinha a porta entre aberta.- Aonde está.. Indo?- O segui lentamente.
Calango empurrou a porta lentamente e adentrou a sala de luz escura. Entrei logo atrás dele.
-O que está fazendo?- Sussurrei baixinho fitando-o, Calango olhava fixo para um ponto daquele lugar e então, resolvi olhar junto com ele.
Um homem de terno preto, com a mão esquerda atrás das costas enquanto a direita sustentava um cachimbo em sua boca. Ele tinha os cabelos loiros e um pouco ondulados assim como Calango, além de ser branco assim como ele. Olhava pela enorme janela, a paisagem lá fora. Parecia concentrado demais, devaneado em pensamentos distantes.
Permanecemos em silêncio por alguns segundos observando-o.. Na verdade, nem eu sei o por que estávamos ali.
-P.. Pai..?- A voz de Calango saiu meio trêmula. O fitei arregalando os olhos e tornei a fitar o homem.
O homem afastou o cachimbo lentamente da boca e nos fitou com um olhar sereno, olhos claros, a pele rosada e a barba rala por fazer. Abriu um leve sorriso de canto de boca.
-Thiago..- Sua voz suave ecoou, arrepiando meu corpo por completo.
Repousou o cachimbo em cima de uma mesa de vidro próxima e tornou a fitar Calango, que estava estatelado do meu lado direito.
-Quanto tempo... Meu querido filho..- Ele tinha os olhos brilhantes, se afastou da grande janela de vidro lentamente e abriu os braços.- Vem cá..- Respirou fundo.
Fitei Calango, ele olhava para o homem sem mover um músculo, ele parecia não acreditar no que via.
-Vai..- Sussurrei baixinho ao seu lado. ouvi Calango engolir o nó da garganta.
O garoto deu dois passos à frente e respirou fundo, andando até o homem loiro sem dizer nada. Estavam a mais ou menos uns cinco metros de distância um do outro. Calango caminhou lentamente arrastando os pés nus pelo solo de madeira , enquanto o homem permanecia esperando-o de braços abertos.
Calango o abraçou, o homem envolveu seus braços ao redor do garoto e o abraçou. Naquele momento senti uma explosão de sentimentos dentro de mim. Eu estava feliz e triste ao mesmo tempo. Calango estava reencontrando depois de tantos anos seu pai, que havia partido quando ele ainda era criança. Mas, eu também me sentia vazia, vendo aquela cena na minha frente... Apesar de tudo... Sinto medo de nunca poder ver meu pai, se senti-lo, abraçá-lo.. Sem dúvida essa ausência se tornou meu maior pesadelo. Sinto medo de quando Dimitri e todos os outros colocarem os pés em solo americano... Com certeza matarão eu, minha família e até Calango.
-Onze anos...- Suspirou o homem apertando-o num abraço duradouro.- Onze anos para ter a chance de abraça-lo mais uma vez..- Calango se afastou e os dois se fitaram.- Como cresceu.- Sorriu o homem tocando seu rosto e desfazendo o sorriso numa expressão preocupada.- Esse olhos azul..-
-Não vem ao caso..- Calango empurrou as mãos de seu pai do seu rosto.- Por que? Por que me abandonou?- Calango deu alguns passos para trás.- Você sabe do olho, Dimitri deve ter contado a você..-
-Sim.. Ele me contou..- Cruzou os braços com uma expressão séria.- Você saberá de tudo filho..- Forçou um leve sorriso.
-Então eu.. Vou saindo..- Me intrometi forçado um sorriso sem graça e dando passos para trás. A última coisa que gostaria era atrapalhar uma conversa de pai e filho.
-Elizabeth.. Ulric..- O homem me fitou.- É um prazer.. Conhecê-la.- Meu corpo esquentou.- Aproxime-se..- Um nó se formou na minha garganta. Eu estava de frente para o irão mais novo de Dimitri que aparentemente não tinha nada haver com ele.
-Ahn,,- Eu não sabia o que falar.
-Me chamo Nathaniel Lange..- Ele estendeu a mão direita com dedos fartos de anéis de ouro.
-Eliza.. Beth.. Ulric..- Sorri sem jeito apertando sua mão áspera.
-Você é idêntica à ela..- Nathaniel estreitou os olhos me fitando fixamente.
-Pai..- Calango sussurrou baixinho.- Não fale.. Nela.- Fitei Calango de olhos arregalados, ele fitava seu pai com um olhar sofrido.
-Sinceramente filho.. Não posso esconder, sinto orgulho de você..- O loiro deu um leve sorriso.
-O que?- Questionou Calango.
-Thiago.. Você renegou seu próprio sangue.. O próprio sangue.. Para protegê-la..- Arregalei os olhos ao ouvir as palavras de Nathaniel, meu coração acelerou, praticamente não tive coragem de olhar para Calango que estava em pé do meu lado direito.
-Eu não..-
- Renegou..- Nathaniel o interrompeu.- Não haveria motivos para estar aqui com a filha do nosso pior inimigo..-
-Então o que faz aqui?- Acabei rebatendo sem querer.
Nathaniel deu uma risadinha.
-TBS e The Dolan são máfias aliadas... Quer dizer, a The Dolan também é aliada dos Ulric...-
-Então você deveria estar querendo me matar?- Engoli em seco.
-Não exatamente..- Nathaniel cruzou os braços.- Eu reneguei os Lange..-
-O que?- Calango resmungou.- Pai... Como assim?-
-Foi por... Ela.. Thiago.- Nathaniel fitou Calango.- Eu reneguei o meu sangue, pela sua mãe.. Elizabeth.- Foi como um tiro no meu coração. A primeira coisa que eu me lembrei foi daquele ´diário´ e das fotos que acabei encontrando.- Quando conheci Elizabeth, éramos jovens... Nem tanto, mas.. Éramos. Ela era filha de um grande mafioso americano e jamais permitiria que ficássemos juntos.-
Engoli em seco ao ouvir aquilo.
-Ela havia sido enviada pelo pai para espionar nossas terras.. Acabamos nos conhecendo da pior maneira.. Eu estava treinando lançamento de facas..- Lançamento de facas..- E a ouvi no meio das árvores da parte de trás da Mansão da TBS.. Acabei acertando algo que se movia entre os arbustos sem saber que era uma garota..- Nathaniel fitou o nada agora, com uma expressão abatida e nostálgica.- Eu poderia ter matado Elizabeth mas.. A socorri..- Uma pequena pausa.- Foi como.. Amor à primeira vista.- Nathaniel deu um leve sorriso negando com a cabeça.- A escondi dentro da Mansão sem que ninguém visse. Cuidei dela e a levei de volta para a cidade grande. Ela me explicou que era uma espiã.. Mas, depois disso tudo.. Acabamos, nos apaixonando.- Nathaniel correu a vista por mim e Calango, que permanecíamos fitando-o boquiabertos.
Uma história um tanto quanto louca..
- Jamais poderíamos ficar juntos..- Bufou.- Então, eu reneguei meu próprio sangue por ela e fugi da Mansão... Tempos depois, a engravidei..- Uma pequena pausa.- E.. No seu nascimento.- Fitou Calango.- Ela não aguentou as consequências da maldição que eu.. Carrego.- Mordeu os lábios baixando a vista.- Ela escolheu tê-lo..- Ouvi Calango respirar fundo do meu lado, lágrimas encheram meus olhos.- A maldição de quem um Lange condenado... Jamais poderia ter descendentes..- Nathaniel fitou Calango e depois eu.- Você.. Se parece muito com.. Elizabeth.. Por ironia do destino até o mesmo nome.- Deu um leve sorriso de canto de boca.
-Eu.. Não sei.. O que dizer..- A voz entalada de Calango.
-Depois que sua mãe morreu, voltei para a Mansão com você.. Foi um milagre você ter sobrevivido...- Nathaniel respirou fundo.- Eu temia você morrer, já que não se alimentava, chorava constantemente e não dormia.-
Segurei as lágrimas.
-Dimitri já tinha Rafael com uns dois anos anos de idade, fruto do relacionamento relâmpago com Deya Lafaiete, uma garota de classe rica... Ela também faleceu no nascimento de Rafael..- Engoli em seco. Nathaniel começou a desabotoar o terno lentamente e a camisa branca por de baixo. Franzi o cenho.- Isso..- Ele abriu a camisa, o corpo branco ainda definido possuía diversas cicatrizes e perfurações profundas.- Fui anos torturado..- Nos fitou, cobrindo o corpo e voltando a abotoa-la.- Para não torturarem você... Dimitri o odiava.. Ele queria ser o único a ter conseguido um filho, no caso Rafael.. O herdeiro da TBS.- Calango rosnou.- Passei anos sendo torturado por Dimitri, nosso tio Balthazar e meus primos..-
-Balthazar..?- Calango arfou.- Nunca ouvi falar.
-Balthazar irmão mais velho de Salazar, seu avô.- Queimei por dentro só de ouvir esse nome, Salazar..- Quando você completou seis anos eu resolvi partir, como castigo de ter renegado o próprio sangue.. Dimitri me deportou para cá.. Com a missão de construir a TBS americana..- Respirou fundo.- Um castigo.. Eu me virei para aprender o idioma e recrutar aliados.. Então conheci o Dolan.. Que me ajudou a construir a TBS americana.-
-Me recordo vagamente.. Quando o vovô foi morto por Draco..- Calango sussurrou. O fitei de olhos arregalados. Ele parecia abalado demais para focar em outras coisas.
Eu não sabia o que falar, meu pai matou o pai de Nathaniel, avô de Calango. Por vingança.. Pelo mesmo ter assassinado meu avô, Vladmir.
-Eu sinto falta.. Da sua mãe..- A voz de Nathaniel tremulou. Eu não sabia o que dizer, era informação demais para mim.
-Eu..- Fitei Calango, que bufou ao meu lado. Ele retirava algo do bolso direito da calça escura.- Guardei isso..- Arregalei os olhos, Calango sussurrou e puxou do bolso a foto rasgada no meio, era a sua mãe. A mesma metade da foto que eu havia encontrado. Toquei o bolso lateral do meu short jeans, ainda está aqui.
Retirei do bolso a outra metade, a metade em que estava Nathaniel com um sorriso angelical.
-O que?- Calango me fitou.
-Essa foto..- Nathaniel se aproximou de nós.- Se me permitem..- Ele nos fitou estendendo as mãos para as duas metades.
O loiro tomou nas mãos as duas metades e as juntou, deixando escapar um sorriso bobo e um olhar amável.
-Elizabeth..- Sua voz baixa e suave.- Como eu.. A amo..- Sorriu desferindo um beijo na metade da foto que estava Elizabeth. Eu sentia um nó cada vez maior se formando na minha garganta.
-Como conseguiu?- Calango me fitou.
-Eu.. Entrei numa sala da Mansão... Encontrei um diário escrito por.. Nathaniel..- Umedeci os lábios rapidamente.- Encontrei essa metade.. E, outra foto manchada.-
-Eu.. Vi o mesmo diário..- Calango bufou desviando o olhar. Então é por isso que encontrei o diário tão rápido, era o único livro que estava mal ajeitado na estante de livros.- Eu manchei a outra foto sem querer..- Ele se interrompeu.
Sim.. Claro.. Aquelas manchas na primeira foto inteira que eu havia encontrado... Eram manchas de lágrimas, Calango havia visto aquele diário e aquelas fotos antes de mim...
Não sei o que dizer..
-Vocês duas..- Nathaniel me fitou.- São bem parecidas.- Um leve sorriso. Senti que corei.- Thiago..- Ele atraiu o olhar do garoto visivelmente abatido.- Está se repetindo.-
Franzi o cenho.
-Você carrega um karma...- Eles nos fitou rapidamente.
-Que?- Calango bufou de modo ríspido.
-Nada..- Nathaniel sorriu negando com a cabeça.- Você saberá..- Me fitou. Senti meu rosto corar, olhei para Calango. O garoto me fitou intensamente com uma expressão um pouco surpresa.
-Me explique..- Calango tornou a fitar o pai.
-O que aconteceu comigo.. Está se repetindo..- Nathaniel o fitou.- Com você..-
-O q..- Eu e Calango falamos ao mesmo tempo.
-Ora, ora, ora..- Fomos interrompidos pela voz grossa de sotaque dificultoso atrás de nós.
-Sean..- Nathaniel sorriu. Me virei para ver quem era.
O homem branco de terno e cabelos negros lisos emaranhados, uma barba grisalha e um brinco de argola na orelha esquerda,várias tatuagens pelo pescoço e mãos. Ele tinha os olhos castanhos e um rosto quadrado, assim como de Grayson e Ethan. Ela provavelmente o pai deles.
-Opa.. Grayson surgiu na porta passando pelo pai e pondo-se ao seu lado, Ethan apareceu logo em seguida.
-Pai..- Grayson caminhou até mim rapidamente e me puxou pelo pulso.- Essa é Elizabeth, filha de Draco Ulric.- Sorriu empurrando-me para a frente do homem de mais ou menos uns cinquenta anos.
-Elizabeth Ulric?- Um sorriso cinico e um olhar observador que arrepiou meu corpo.- Encantado..- Sorriu estendendo a mão completamente tatuada e dedos cheios de anéis com unhas gigantes pintadas de preto.Ee exalava ervas doces.
Dei um leve sorriso sem jeito e o cumprimentei.
-Sean Dolan..- Ele assentiu com a cabeça e soltou minha mão.- Dono da metade do mundo..- Ouvi uma risadinha baixa de Nathaniel atrás das minhas costas.- E você garoto?- Sean fitou Calango atenciosamente.
-Meu filho..- Nathaniel se impôs caminhando ate Calango, que permanecia estatelado.- Thiago Elias Lange..- Sean franziu o cenho e deu um leve sorriso.- Um Lange renegado em minha humilde casa?- Sorriu.
Arregalei os olhos.
-Como.. Sabe?- Calango sussurrou baixinho.
- É perceptível pequena criança..- Sean bufou.- Você possui uma aura não tão pesada quanto..- Uma pequena pausa.- Reconheço renegados de longe..- Fitou Nathaniel, que sorriu baixando a vista.- Kids..- Sean fitou os gêmeos seriamente.- O quarto da garota..?-
-Já havíamos deixado preparado antes de partirmos para o Brasil..- Ethan sussurrou.
-Certo..- Bufou Sean.- Temos assuntos para tratar com os Dolan, mais tarde.- Os garotos assentiram com a cabeça sem jeito, Sean me fitou.- Pelas escadas no salão principal, o último quarto do corredor..- Ele dizia lentamente.- Pode ir..-
-Sim.. Senhor..- Engoli em seco assentindo com a cabeça e me retirei.
Calango...
**
Caminhei lentamente pelo corredor, as paredes brancas com vários quadros de paisagens, o teto alto com luminárias de vidro, estátuas e móveis de madeira de primeira qualidade pelo corredor. O solo coberto de carpete vermelho. As portas dos cômodos fechadas, feitas de madeira e com desenhos esculpidos. Era um lugar lindo que exalava paz.
Caminhei até a última porta do corredor e adentrei lentamente. Assenti a luz no canto direito. Paredes brancas com luminárias de luz baixa, duas janelas imensas estavam abertas, o vento forte adentrava o enorme quarto balançando as cortinas vermelhas. A enorme cama de casal no canto esquerdo do quarto, de lençóis vermelhos e travesseiros brancos. Uma porta à direita que provavelmente seria o closet, mais uma porta entre aberta que seria o banheiro.
Me arrastei lentamente pelo carpete macio até a janela.
-Nossa..- Arregalei os olhos, o vento forte desfez o coque frouxo do meu cabelo. O sol forte e o vento mais ainda. Lá embaixo um enorme jardim, um chafariz e vários bancos no solo de cascalhos.- Que lugar..- Me afastei lentamente da janela caminhando lentamente para o meio do quarto olhando para tudo. Uma estante com vários livros, uma cômoda com vários livros repousados sobre ela. Um enorme espelho na parede assim como vários quadros de paisagens de vários pontos dos Estados Unidos.
Era um enorme lugar que me passava paz e liberdade, bem diferente da Mansão de Dimitri.
Caminhei até a porta branca do lado direito do quarto, era um closet. Em meio à roupas, minha bolsa e meu ursinho. Me abaixei abrindo a bolsa e catando um par de roupas. Uma calça de moletom clara, uma calcinha escura e uma blusa vermelha de alcinhas. Caminhei até a porta que estava fechada e adentrei acendendo a luz, era um banheiro em cores azul claro e branco. Fitei a jacuzzi à minha frente do lado direito.
-Eu preciso de um banho..- Falei para mim mesma.
**
Depois de um banho de mais de quarenta minutos, eu finalmente consegui recuperar pelo menos a metade das minhas forças e regenerei todo aquele cansaço físico absurdo. Lavei os cabelos ruivos completamente emaranhados, deixando-os macios novamente.
Depois do banho, vesti a roupa e penteei os cabelos na frente do espelho acima da pia do banheiro.
-Ai ai Elizabeth..- Falei comigo mesma me olhando no espelho. Os cabelos quebradiços, olheiras profundas, lábios partidos e mascas profundas no pescoço.- O que aconteceu com você nessas últimas semanas?- Bufei falando para mim mesma. Meus olhos encheram de lágrimas.
Mas, preferi tentar esquecer tudo o que havia ouvido ainda pouco.
Karma.. Engoli em seco, saindo do banheiro e chacoalhando os cabelos. Calango.. Rafael.. Respirei fundo esfregando os olhos.
As palavras de Nathaniel sopravam em minha mente.
-Preciso saber de mais..- Respirei fundo saindo do quarto e caminhando pelo corredor.
Desci as escadas e retornei lentamente à sala onde estavam todos momentos atrás.
-.. Que não..- Escutei o resto da frase quando adentrei lentamente a sala.
-Com.. Licença..- Falei sem jeito.
-Entra...- Grayson sorriu me puxando.- Está linda..- Sussurrou no meu ouvido.
-Obrigada..- Devolvi um cutucão na sua costela.
Sean estava repousado numa poltrona recostado à mesa de vidro, ele fumava cachimbo e fitava Nathaniel, sentado de frente para Sean numa poltrona branca. Calango permanecia em pé do lado do pai, de braços cruzados e uma expressão completamente abatida.
Eu, Ethan e Grayson um pouco mais afastados.
-Garoto..- Sean fitou Calango e afastou o cachimbo dos lábios.- Sabe que o resto dos Lange matarão.. Não é mesmo?- Calango assentiu com a cabeça.- Por que renegou? É um aprendiz do seu pai?-
Calango não sabia o que falar... Ou, não queria falar para todos.
-Trate esse assunto mais tarde Sean..- Nathaniel bufou, Sean arqueou as sobrancelhas e deu de ombros.
Um toque de celular, como se houvesse chegado mensagem no celular de alguém. Nathaniel se levantou rapidamente da poltrona, todos nós o fitamos.
Ele desbloqueou a tela em silêncio por alguns segundos, reproduziu o áudio e ergueu o celular.
``Nathaniel... Seu pequeno bastardo.. Cúmplice dos atos insolentes dos gêmeos Dolan... Juntamente com o bastardo do seu filhinho de merda..( Uma risada) Saiba que quando chegarmos nessa maldita Nova York... Faremos questão de matar um por um. Os Dolan, você e Thiago irão para o inferno tão rápido quanto podem imaginar.´´
´´ Deixo Thiago para Rafael... Ele tem contas para acertar com o seu filhinho (Uma risada) Guarde minhas palavras bastardo... Estamos chegando.´´
- Shit..- Nathaniel bufou.
Karma a sua cruz
...
Eu preciso saber... Preciso saber que karma o Calango carrega... Eu preciso saber que ligação o passado do seu pai tem haver com o dele...
Mas por outro lado, eu sei que não devo me envolver..
Eu sei que não vai adiantar me esforçar para entender algo tão complexo quanto isso, porque sei que no final eu acabarei me machucando..
Eu vivo num dilema... O dilema de estar ciente que Dimitri está vindo. O dilema de abandonar tudo e correr trás do meu pai.
Eu posso muito bem pedir para que os gêmeos me levem até o meu pai... Mas, iai...? E depois disso? Deixarei Dimitri matar Nathaniel, Calango e os Dolan? Me deixarei levar em pensamentos de Rafael e Calango se matando? Não, eu não posso...
Meu pai quer a cabeça de Rafael e Calango... Por outro lado Rafael quer matar Calango... E pelo outro lado, eu preciso mentir para mim mesma...
que os amo..
E não faço a menor ideia de como.. Tê-los.. Sem que se matem.
..
Eu preciso.. De ajuda
´´O que aconteceu comigo está se repetindo
...
Com você
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