Aquela era definitivamente a pior ideia de todas. No momento em que Ysaline pisou naquele restaurante, a primeira pergunta que lhe veio à cabeça foi: o que é que eu tô fazendo aqui? Não dizia porque o restaurante era ruim, muito pelo contrário. Era elegante em um nível adequado. Chique na mesma medida em que não a deixava desconfortável ou se perguntando se estava usando a roupa certa e ela amava o lustre de cores aconchegantes bem ao meio do salão. Mas com certeza não era a “solução para todos os seus problemas” como Lynn havia sugerido.
Nas palavras dela, um encontro às cegas tem o seu quê de romance!
Era irônico demais que Lynn, a garota a qual havia conhecido o amor de sua vida logo no Ensino Médio seria justamente essa pessoa que a incentivasse a marcar um encontro as cegas. Irônico para não dizer loucura.
E loucura maior ainda foi Ysaline ter considerado e ACEITADO aquela ideia maluca. Porque, convenhamos, só no caminho de sua casa até a entrada do restaurante, Ysaline já tinha pensado em pelo menos cinquenta formas diferentes em que poderia acabar desaparecida ou morta. Pois é, é tudo muito divertido e “oh, como eu amo ser uma mulher” até que você precisar ser uma maluca paranoica extremamente preocupada com o seu bem-estar em um simples encontro.
Após um grande falatório nada convincente, Ysaline havia se rendido pelo cansaço e acabou marcando o maldito encontro às cegas por um aplicativo com boas avaliações. “Tão romântico! Como eu amo viver na era da tecnologia”, pensou ela em puro tédio enquanto sentava-se ao balcão do bar.
Cumprimentou o garçom e pediu um Cosmopolitan. Talvez com um pouco de álcool em seu organismo ela começasse a se convencer de que aquilo era uma boa ideia.
Ysaline checou o horário no relógio em cima da estante de bebidas no bar. Os dois tinham marcado de se encontrar às 20h e eram 19h45. Sempre teve o hábito de chegar mais cedo nos locais, por puro orgulho de sua pontualidade e para “reconhecer o ambiente. ”
De novo, como ela achou que isso tudo seria uma boa ideia?
Após bebericar um pouco de sua bebida – sentindo a paranoia lentamente se dissipar – pegou seu celular para verificar se havia alguma mensagem. Ysaline havia apenas conversado com seu pretendente – ela sentia-se estúpida a cada vez que repetia isso em sua cabeça – e tentou arrancar o máximo de informações sobre o rapaz, mas, segundo ele e algumas dicas da plataforma dos encontros, revelar demais só arruinaria toda a experiência.
Resumindo: tudo o que Ysaline sabia sobre o cara que iria encontra-la é que ele estaria vestindo algo azul.
Achava que por estar diante do mistério todo iria se sentir mais animada com a ideia, mas tudo o que ela conseguia pensar era que o cara – Sr. X, de acordo com o perfil – era mais um insuportável que não conseguia arranjar um encontro das formas convencionais e lá estava procurando sua próxima vítima para matar de tédio – ou até mesmo prepara-la para contar a pior experiência de encontro em uma roda de amigos futuramente.
Não poderia julgá-lo, afinal, olha só onde ela estava.
Ou poderia julgá-lo sim, sei lá. Ysaline tinha muita capacidade para arranjar um encontro. Não era uma pessoa metida ou arrogante, mas sabia sim do seu valor, o quanto era bonita e interessante.
Aliás, mesmo afastando-se de qualquer cenário que pudesse meramente lembrar seu antigo emprego – e Ioan – Ysaline conseguiu até mesmo encantar alguns de seus colegas da Devenmentiel. Apesar de suas inúmeras qualidades, também era bem evidente a sua tendência a sempre escolher os piores partidos. Justamente aqueles que acabaram com sua visão de romance e a tornaram a personificação de um bloqueio emocional.
Então, sim, lá estava ela, deixando que o destino escolhesse o seu provável futuro romance, aquele que se autodenominava Dr. X (e que estaria usando algo azul!!!)
Ysaline quis fugir um pouco do óbvio em sua escolha de roupas porque vermelho era uma cor bem usual em encontros. Assim que chegou no restaurante viu pelo menos duas mulheres usando vestidos – belíssimos – vermelhos. Por isso, para evitar um futuro constrangimento em ser confundida com outra pessoa, optou por usar um vestido de cetim marrom. Era simples, mas também estava usando algumas joias emprestadas de Lynn.
Segundo a amiga, quando estava no Ensino Médio, toda vez que ela usava um anel em específico, encontrava com Nathaniel. Magia ou não, Ysaline não sabia, mas deixou-se levar por aqueles rituais e colocou uma pulseira que a dava sorte.
Não sorte no amor, isso ela nunca chegou a saber o que era. Mas estava usando aquela pulseira quando fechou seu primeiro negócio na Devenmentiel.
Olhou no visor de seu celular e viu que já eram 20h.
“E ele jurou que a pontualidade era uma das melhores qualidades...” pensou ela, um tanto irritada e procurando com os olhos pelo seu possível pretendente em volta do salão.
Antes não tivesse feito isso, pois naquele exato momento em que o viu.
Entrando no salão, trajado com um belo sobretudo preto e um sorriso galanteador no rosto.
Jason Mendal.
Por quê? Não era possível de que Amoris fosse do tamanho de um ovo para que isso acontecesse!
Ysaline ficou tão chocada ao ver o homem ali que nem percebeu que continuava o encarando. Isso, é claro, até ele virar o rosto em sua direção.
- Puta merda – as palavras simplesmente escaparam baixinho de seus lábios, completamente desacreditada. Virou o rosto rapidamente enquanto implorava ao universo que Jason não a tivesse visto ali. Fingiu naturalidade ao pegar seu celular, como se aquele traste fosse mera ilusão da sua cabeça e desaparecesse no mesmo momento.
Não era como se ela odiasse Jason, só gostava de evitar em ambientes que ele estivesse presente porque ele sempre dava um jeito de tirá-la do sério! Acontece que de uns tempos pra cá esses encontros “inusitados” estavam ocorrendo com mais frequência do que antes. E Ysaline estava começando a perceber que a parte profissional dele era o menor dos seus problemas.
Por isso, tentou se distrair verificando se seu pretendente já havia mandado uma mensagem dizendo se estava a caminho, porém nem para justificar o seu atraso ele foi capaz!
- Ora, ora, ora, se não é minha rival favorita.
Filho da puta.
- Jason – Cumprimentou ela, sem ao menos olhá-lo nos olhos. No entanto, não tinha mais para onde fugir, então Ysaline, obedecendo a boa educação que sua mãe havia lhe dado, foi cumprimentar o seu rival favorito. Como suspeitava, Jason tinha aquele sorriso besta estampado no rosto. – Sabe, eu sempre achei que o Devon fosse seu rival favorito.
- Por favor, Ysaline. Não seja modesta a ponto de não saber o lugar especial que tem no meu coração – Disse ele, encostando-se ao balcão. Não estava muito perto dela, o suficiente para que Ysaline conseguisse sentir o perfume dele, porém não o bastante para os dois ficassem na sua usual troca de olhares, a qual ocorria com muito mais frequência que ela gostaria.
Ou era assim que Ysaline fingia pensar.
De qualquer forma, por mais que odiasse admitir qualquer feito de Jason, era um fato que aquele homem era muito cheiroso.
- A senhorita não pode imaginar o quão prazeroso é encontra-la num ambiente tão menos formal. E, claro, bem longe daqueles seus colegas de trabalho tão agradáveis – a última parte obviamente dita com um tom de deboche típico dele e ela já estava acostumada.
Ysaline permitiu-se rir.
- Sabe, se eu não soubesse que você odiava a Devenmentiel, diria até mesmo que você gostaria de trabalhar conosco.
- Não, obrigado. Eu tenho amor próprio – retrucou Jason, tirando seu sobretudo.
Ysaline iria continuar a também usual troca de farpas, defender a honra da Devenmentiel, todo aquele teatrinho que os dois costumavam fazer em frente aos outros, porém congelou de repente ao notar um detalhe muito especial.
Por baixo daquele sobretudo, Jason estava (obviamente) usando um terno.
E uma gravata azul.
Azul.
Azul.
Merda.
- A sua gravata... – Aquelas palavras saíram mais rápido que Ysaline conseguisse completar o seu raciocínio. Na verdade, ela procurou sinais nele que contrariassem a sua mais nova teoria, mas Jason continuava a olhando como se fosse exatamente aquilo que ela estava pensando.
E o que ela estava pensando?
Jason Mendal era o Sr. X!
Jason arqueou uma das sobrancelhas, olhando para baixo instantaneamente para a gravata. Ao ver que suas roupas continuavam impecáveis, voltou seu olhar para mulher a sua frente, com o mesmo sorriso convencido no rosto.
- Gostou? É da Gucci-
- Ah, por favor, não – Jason arregalou os olhos ao ouvi-la murmurar, mas não conseguiu deixar de achar graça em todo aquele drama. Diferente de Ysaline, que quase faltou bater a cabeça repetidas vezes no balcão. – Sério, Jason?
- Oh, eu também estou muito feliz em te ver, gatinha.
- Não, não é possível... – Ysaline nem ao menos deu atenção ao apelido estúpido que ele tinha dado a ela. Enquanto Jason tentava entender o que ele havia feito daquela vez, Ysa ia balbuciando mais algumas expressões de incredulidade. Completando sua frase: não era possível que ela teria sido tão BURRA a ponto de ter marcado um encontro às cegas com Jason!
Em meio a sua miséria pessoal, Jason já havia se sentado ao lado dela.
- Garçom, por gentileza, um whisky. E mais uma... o que é isso que você tá tomando mesmo, gatinha?
- Um whisky pra mim também. Duplo, por favor – Ignorou o apelidinho dele e sua tentativa de lhe pagar uma bebida e pediu logo o drink que ela jamais pensaria em pedir naquela noite. Mas se era para aturar Jason ou o fato de que sua noite havia acabado de se mostrar um belo desastre, então que fosse uma bebida mais forte mesmo.
Depois que o garçom se retirou para fazer os pedidos, Jason virou-se para a moça ao seu lado e voltou a rir galante.
- Sabe, eu sempre tive curiosidade em encontrar você em um ambiente que-
- Olha, vamos acabar com isso de uma vez só, ok? – Ysaline virou-se para ele também. Jason uniu as sobrancelhas, um tanto confuso, porém ela conseguiu ver um esboço de um sorriso malicioso nascendo nos lábios dele, o qual apenas serviu para deixa-la mais irritada. Ela não estava flertando com ele! Pelo menos não dessa vez... – Eu obviamente não fazia a menor ideia de que era você naquele perfil. Se eu pelo menos cogitasse a ideia de ser você, nem ao menos tinha marcado nada. Ou instalado o aplicativo!
- Aplicativo? – Perguntou ele, confuso.
- Aliás, como você soube que era eu? Você realmente está me perseguindo?
- Espera! Do que você está falando?
- Não seja ridículo! O encontro às cegas!
Como dito anteriormente, aquela foi a pior ideia de todas. Porque, após ver a surpresa no rosto de Jason, foi quando Ysaline finalmente se deu conta de algo que seria bem óbvio, caso ela não fosse uma maluca paranoica. Jason não o tal do Sr. X.
E agora não só ela tinha se submetido àquela besteira, como também seu principal rival – aquele traste, miserável, cachorro, de um charme muito estranho – sabia sobre isso e, claro, não iria perder a oportunidade de tirar uma com a cara dela.
Ysaline fechou os olhos enquanto ouvia a risada de Jason torturando seus ouvidos, arrependendo-se de imediato de ter compartilhado aquela informação tão facilmente. Quem dera poder culpar a bebida por aquele ato falho, mas ela nem havia bebido o suficiente para isso e não era tão rápida para fingir que era uma piada.
- Você está em um encontro às cegas? – Perguntou Jason. Não incrédulo (na verdade, um pouco), apenas porque ele queria ouvi-la falar de novo. Jason amava aqueles momentos em que poderia provoca-la. Ainda mais quando Ysaline dava munição para ele de forma tão gratuita quanto aquela.
- Puta que pariu... – por que ela só não morria de uma vez? Bem na frente dele? Traumatizando-o para uma vida inteira ao mesmo tempo em que se livrava daquele constrangimento tenebroso.
- Esse é o método mais desesperado para se conhecer alguém – continuou Jason, de certa forma contemplativo. - Por que você faria algo assim?
- Não zombe de mim, Jason.
- Oh, muito pelo contrário, gatinha...
- Será que dá pra parar me chamar assim?
Nesse momento, o garçom havia voltado com as bebidas. Jason agradeceu a ele, dando uma gorjeta generosa ao jovem rapaz, que sorriu de orelha a orelha. “Bom, pelo menos alguém está feliz, ” pensou ela. O que ela não tinha muita noção era que não era o garçom a pessoa mais feliz naquele bar.
Ysaline ia dar seu primeiro gole quando viu Jason levantar seu copo, olhando para ela como se esperasse que os dois brindassem.
Os dois se encaram por um momento, quase uma tradição nesse pouco tempo que se conheciam de um evento e outro. E o brinde, é claro.
Ysaline revirou os olhos, porém acabou brindando rapidamente, apenas para que parasse de olhar para ela com aquele olhar pretencioso, como se tudo o que ela fizesse fosse muito divertido para ele.
- Então, onde está o felizardo? – Obviamente, ele tinha que perguntar. - Ou a felizarda? Ou-
- Ele ainda não chegou – Ysaline bufou e deu um generoso gole em sua bebida. Ela podia sentir suas bochechas queimando de raiva. Ele não poderia ter dado um bolo nela. Certo? E, não que ela se importasse com o Jason pensava dela, mas agora que ele sabia que estava em um encontro às cegas o mínimo que poderia acontecer era provar que aquilo não era vergonha nenhuma e que muitas pessoas faziam isso. Apesar da opinião dele ser exatamente igual a dela.
De uma forma ou de outra, ela agora tinha que aturar Jason.
E ela ODIAVA isso.
Primeiro, porque, de novo, aconteciam muitas vezes. Segundo, porque ela sempre ficava em um conflito interno e Jason sabia disso.
E ela sabia que ele sabia que ela sabia disso.
Sabe?
- Hm...
- “Hm”? Hm, o quê?
- Nada – Jason riu.
- Por favor, me diga mesmo que não é você – Jason a deixava maluca a ponto de Ysaline começar a fazer perguntas como aquela.
- Eu sei como você estava desejando ardentemente que fosse eu – ele fez uma pausa para olhá-la nos olhos e sorriu quando Ysaline desviou o olhar abruptamente. – Mas acredito que dessa vez devo admitir a derrota e dizer que esse cara chegou primeiro.
Ysaline revirou os olhos, porém não conseguiu evitar rir. Desde o momento em que a viu pela primeira vez, Jason vivia flertando descaradamente com ela a ponto de dizer aquelas coisas como se realmente fosse o Christian Grey que ele achava que era.
- Isso, é claro, se ele chegar... – disse e voltou a beber enquanto Ysaline puxou o ar pelas narinas.
- Ele vai chegar – Ysaline afirmou, irritada - Só está atrasado...
- É claro que vai – Jason sorriu sedutoramente. Queria dizer a ela que se o pretendente dela a tivesse visto, ele teria chegado antes mesmo que o restaurante abrisse. Para a sorte dele, não era o caso e ele sim tinha sabedoria o suficiente para apreciar o tempo com Ysaline. - E, enquanto ele não chega, permita-me fazer companhia a você.
- Como você é cavalheiro – debochou Ysaline, olhando-o de forma suspeita.
- Para a sua informação, eu sou mesmo – suspirou ele, ajeitando um dos bolsos de seu terno e tomando um gole de seu whisky. – Eu jamais deixaria uma dama esperando.
Ainda mais quando a dama em questão era ela, mas Jason preferiu deixar aquela informação em segredo. Embora fizesse obvio em tantos momentos.
- Isso é um pouco difícil de acreditar – provocou Ysaline e Jason apenas revirou os olhos, entendendo o rumo daquela conversa, por isso nem perguntou o porquê, deixando que ela continuasse. – Quer dizer, com a quantidade de damas com quem você sai, fico imaginando se não há uma lista de espera, uma distribuição de senhas, um site para acompanhar a fila...
- Verdade, por um momento esqueci que você ficou stalkeando meu perfil – Jason rebateu.
Obviamente, aquele like em uma de suas fotos havia sido acidental. Jason sabia disso até porque ele tinha consciência de que Ysaline era inteligente o suficiente para não deixar ninguém a par daquele relacionamento estranho que os dois tinham. Mas era delicioso saber que ela realmente estava de olho em todas as suas fotos. Delicioso saber que uma parte dela, apesar de inconsciente, tinha curtido ele. Nem ao menos Jason Mendal podia notar a ironia daquele pensamento. Um homem tão confiante que ficava sorrindo de orelha a orelha com um mero like em uma rede social.
- Stalkeando você? Jason, querido, eu tenho um emprego! Tenho muito mais o que fazer do que ficar vendo o seu portfólio do Instagram ou as trezentas pessoasavocê fica exibindo por aí – Ysaline implorava a si mesma para soar a mais despreocupada possível, quando na verdade sentia o nervosismo tomar conta do seu corpo a cada vez que ele acenava educadamente para cada mentira que ela contava.
Traduzindo: Sim, eu estava stalkeando você mesmo. E daí? Muito melhor eu stalkenado da minha casa do que VOCÊ que aparece feito um encosto a cada lugar que eu vou! Tipo AGORA!
- Claro – Jason piscou. – Diga o que quiser, amor. Eu tenho a notificação para provar.
- Não tinha ideia de que você era do tipo emocionado, Mendal. Foi só uma foto! E uma recente ainda!
- Vejo que ficou muito ocupada vendo as antigas também...
Ysaline sentia cada vez seu rosto esquentar mais.
- Jason, você não tem uma grande empresa para comandar? Destruir a Devenmentiel? Ou qualquer outra coisa que você fala feito um vilão do Scooby-Doo!
Jason precisou rir.
- Como se eu precisasse fazer esforço para isso... – disse e uma parte dele xingou-se por ter falado exatamente como um vilão caricato.
- Não é o que parece – Ysaline provocou risonha.
- Você também não me parece o tipo de pessoa que marcaria um encontro às cegas, mas olha só como nossas suposições podem nos enganar. Aliás, será que posso perguntar o porquê de uma moça tão cheia de atributos e qualidades teve que recorrer ao método mais desesperado para atrair um pretendente?
Após o evidente flerte cafajeste, Ysaline olhou para ele com os olhos semicerrados. Jason a imitou, levantando o queixo de forma pretenciosa. E novamente os dois caíram naquela troca de olhares interminável, como sempre faziam e pareciam presos um ao outro.
Deus, ela odiava quando ele fazia aquilo.
Quando os olhos dele a prendiam em uma espécie de transe.
Não entendia o porquê de ele mexer tanto com ela. Jason nem ao menos fazia o seu tipo! Nunca tinha se encantado por um par de olhos azuis qualquer, até achava alguns bem feios e estranhos, mas os dele...
Os olhos de Jason pareciam queimar em cada centímetro por onde passava. Ysaline conseguia sentir mesmo quando não estava olhando diretamente para ele. Era um calor gostoso e diferente de tudo o que ela já tinha sentido antes.
Era, no mínimo, fascinante.
- Não, não pode – disse ela, quando conseguiu sair da hipnose dele. Odiava como os meses de tensão sexual entre os dois faziam Ysaline se sentir estupida. - Mas você vai perguntar de novo de qualquer forma, não é?
- Sim – Jason sorriu, galante. Puta merda, ele era insuportável. Ysaline se viu arrancando aquele maldito sorriso idiota da cara dele enquanto o beijava sentada em seu colo. Seria patético, mas iria funcionar. – Sinceramente, estou curioso demais para simplesmente deixar pra lá. Aliás, a pergunta correta é por que marcar um encontro às cegas sendo que eu mesmo poderia convidá-la para sair?
Foi a vez de Ysaline rir. Com um certo nervosismo, ainda assim era digno de riso.
- Até porque suas intenções comigo são-
- As melhores. Eu garanto.
- Claro, Jason, claro. Odeio destruir as ilusões de um homem – não, ela não odiava nem um pouco - mas eu jamais me submeteria a sair com você.
- Bom, teoricamente, nós já estamos saindo juntos.
- Não, não estamos. Você está aqui por sua livre espontânea vontade e eu estou esperando o meu encontro de verdade chegar.
Ao ouvi-la dizer aquilo, Jason voltou a rir enquanto tomava seu drink.
– Ele vai chegar! – Ysaline disse e enquanto Jason não estava olhando, verificou o relógio do bar.
20h30min.
- Afinal, o que você está fazendo aqui? – Não queria demonstrar o começo de sua preocupação com aquele encontro para Jason, afinal, já era humilhante o suficiente ter admitido que estava em um encontro às cegas, por isso resolveu puxar assunto. Ysaline nem ao menos notou a satisfação no rosto de Jason ao demonstrar o mínimo de interesse nele, o que era um alivio para Jason, pois o que ela pensaria dele se soubesse que o tinha em suas mãos? - É sábado à noite! Não deveria estar acompanhado de alguma garota iludida de achar que vai voltar satisfeita dessa noite?
- Muito especifico, gatinha. Às vezes sinto que você adoraria descobrir se isso é verdade.
Talvez, pensou ela. Se Ysaline fosse sincera consigo, seria um sim estampado em um letreiro cheia de estrelinhas. Antes que ela pudesse tecer um comentário que combinasse com a pura cara de deboche que fez, Jason continuou:
- Mas não. Sem encontros esta noite. Na verdade, eu vim comemorar mais um contrato assinado pela Goldreamz.
- Meus parabéns – Ysaline revirou os olhos. Outra coisa que odiava em Jason era que aquele cara era ótimo no que fazia. Não havia como negar, mas ela jamais admitiria isso em voz alta. Assim como ele havia feito com o trabalho dela em tantos projetos vencedores da Devenmentiel.
- Isso é definitivamente música para os meus ouvidos – Jason suspirou contente. – No entanto, serei humilde em dizer que não tem como eu levar os louros sozinho.
Ysaline levantou uma das sobrancelhas, desconfiada. As palavras “humilde” e “Jason” não costumavam ser colocadas juntas na mesma frase. Pelo menos não em uma com o valor lógico sendo verdadeiro.
- Afinal, nada disso seria possível sem a incompetência da Devenmentiel.
- Deus, você não perde uma oportunidade... – Ysaline bebeu mais um gole de sua bebida.
- Por favor, não se sinta ofendida. Quantas vezes eu já não te ofereci um cargo na Goldreamz?
- Mais vezes do que é plausível imaginar – considerou Ysaline em um devaneio. Devon nem poderia sonhar com aquilo, mas as propostas de Jason tornavam-se cada vez mais tentadoras. Não pela questão do dinheiro. Apesar de querer sim construir sua própria fortuna, Ysaline tinha consciência de sua condição financeira, então poderia se permitir trabalhar por amor na empresa que tanto se alinhava com seus ideais. Ainda assim, os cargos que Jason prometia, as propostas de eventos pelas quais a Goldreamz era contratada, os contatos... Ysaline tinha certeza que seus olhos poderiam brilhar trabalhando por lá também.
Parecendo ler seus pensamentos, Jason voltou a dizer:
- Você sabe que é só me pedir – o modo como a voz dele havia saído rouca com mais uma proposta fez com que Ysaline voltasse seu olhar para ele. E, talvez fosse a bebida, talvez o modo como as luzes do lustre do bar estavam alinhadas perfeitamente a qualquer outro canto que não fosse eles ali, naquele quase escurinho perfeito e agradável, ou talvez seria mesmo os meses de tensão sexual não resolvida entre os dois, mas Ysaline voltou a sentir a hipnose dos olhos de Jason tendo efeito, o calor passeando de seu rosto para outras partes do corpo dela.
- É mesmo? – Ysaline perguntou, sorrindo. – Fácil assim, Mendal?
- Claro.
Lembrando-se subitamente de que aquele era o seu principal rival e que ela jamais poderia trabalhar com aquele homem se toda vez que os dois se olhavam ela ficava daquele jeito, Ysaline balançou a cabeça.
- Pagando com a minha alma, não? – Brincou ela.
- Não sabia que você era uma pessoa religiosa.
- Não sou, mas sou capaz de reconhecer o diabo quando vejo. E, para a sua informação, eu jamais aceitaria trabalhar para você.
Aquilo não era mentira. Sim, a Goldreamz era um sonho, mas Ysaline tinha certeza de que iria chegar no seu pódio por seus méritos. Prometeu isso a si mesma no momento em que insinuaram que ela não seria capaz de nada sem a ajuda de sua mãe e ela não provaria o contrário aceitando ofertas extremamente duvidosas de um lindo par de olhos azuis.
Outro motivo muito besta para ela jamais aceitar: lá no fundo, amava aquela competição besta que Jason e ela tinham rotineiramente. Descobriu-se competitiva com as provocações dele e era estimulante. Para não dizer muito excitante.
Sem falar que qual ética de trabalho os dois teriam se começavam a flertar no momento em que botavam os olhos um no outro?
Jamais daria certo e disso ela entendia muito bem.
Dessa vez, Ysaline não viu o sorriso costumeiro de Jason em seus lábios. Ela até mesmo ficou esperando alguma reação dele parecida enquanto ele mesmo tinha uma expressão indecifrável em seu rosto, como se estivesse pensando na frase dela. Nao tinha ficado ofendido nem nada, achava até bom que a maioria das pessoas o enxergasse daquela forma. No entanto, será que era essa imagem que queria passar para Ysaline?
- Respeito a sua decisão – disse Jason. Apenas não respeito a Devenmentiel, completou mentalmente. - Mas eu não quero falar de trabalho hoje.
Ysaline piscou os olhos umas duas vezes, surpresa.
- Achei que fosse o seu único tópico.
- Espirituosa como sempre, Ysaline. É disso que gosto em você.
- Obrigada, eu acho – agradeceu ela, um pouco sem jeito. – Mas hoje é sua noite de comemoração, certo? Não deveria estar comemorando com o pessoal da Goldreamz?
- Bom, todo dia tendo total consciência de que a minha empresa não é a Devenmentiel já é uma vitória – provocou Jason. A esse ponto Ysaline já ignorava as piadinhas idiotas e até mesmo conseguia rir delas. – E eu não sou o tipo de chefe que tenta iludir os empregados dizendo que somos uma grande família feliz, obrigando a sair de suas casas em um sábado para comemorar mais uma vitória minha.
Ysaline deu apenas um gole de sua bebida. Adorava trabalhar com o Devon, mas muitas vezes não se sentia pertencente a grande família feliz da Devenmentiel. Talvez se tivesse chegado mais cedo na empresa, mas definitivamente não era o caso. Era estranho porque apesar de colegas de trabalho, muitas vezes ela se sentia passando limites com os outros.
Lembrou-se quando Roy e Brune terminaram na frente de todos logo depois de terem compartilhado a informação – a qual ninguém havia perguntado – de que não estavam transando.
- Então, você veio comemorar sozinho?
- Não estou sozinho – Jason olhou para ela e sorriu.
E ela se viu sorrindo de volta.
Discretamente, Ysaline olhou para a porta, verificando se não havia ninguém com uma feição perdida, procurando por ela com um buque de flores azuis ou qualquer coisa azul, mas não. Não havia ninguém. Apesar de secretamente estar apreciando a companhia de Jason, não poderia negar de que a situação toda era bem humilhante.
Tentou não pensar muito naquilo, afinal, nem queria porque era um pouco triste. Quando voltou seu olhar a Jason, ele estava olhando diretamente para ela.
- O que foi, gatinha? Preocupada que algum dos seus ursinhos carinhosos a veja comigo?
- Não e eu já falei para parar de me chamar assim – Ysaline disse, segurando um sorriso sarcástico em seu rosto. Apesar da óbvia rivalidade entre suas empresas e de Roy só faltar latir quando Jason aparecia de surpresa em seus eventos, Ysaline era bem grandinha para tomar suas próprias decisões e o que fazia fora do horário de trabalho não era da conta de ninguém. E, querendo ou não, uma parte dela até que gostava da companhia do traste a sua frente. – Sabe é até fofo o modo como você quase implora para ser visto junto comigo. Quase pedindo para eu te assumir! – Ysaline precisou rir quando viu Jason revirou os olhos. – Odeio ter que destruir sua ilusão, mas eu jamais iria contar para qualquer pessoa que isso aconteceu.
- Você sabe estilhaçar o coração de um homem como ninguém, sabia? Tudo bem, eu supero – Jason disse, irônico. – Devo admitir, porém, que eu amaria ver a cara deles ao receber a notícia de que nós estávamos em um encontro. Mas, tudo bem, eu me contento em ser seu segredinho sujo.
- Às vezes fico me perguntando em que mundo você vive. Nós não estamos em um encontro, querido.
- Bom, já são 21h – disse ele, mostrando o horário em seu relógio de pulso. Ysaline não conseguia distinguir se era uma desculpa para chegar mais perto dela ou se para mostrar a marca do relógio chique que ele estava usando. Ou ambos. – Uma hora de atraso, Ysaline! Ainda se ele chegar, não acha que é falta de respeito com você?
- Ele pode ter tido um imprevisto – defendeu ela, um pouco impaciente enquanto pegava seu celular.
Odiava dar razão a Jason, mas era verdade. Que falta de respeito! Isso a deixava um pouco magoada. Afinal, não era porque ela realmente queria estar com o tal cara ou conhece-lo, mas porque justamente quando ela se permitia em sua vida amorosa de novo, ele nem ao menos havia respeitado para mandar uma miséria mensagem. Era ridículo, humilhante e a fazia duvidar se o problema não estaria nela. Sinceramente, esperava que aos 24 anos qualquer problema que fosse já estivesse minimamente resolvido.
– Ou ter sofrido um acidente no meio do caminho – disse ela sem a menor convicção.
- Nesse caso, ele não vai vir mesmo... – Jason fez um sinal para o garçom, pedindo mais um drink. – Afinal, ele mandou alguma mensagem explicando o porquê da demora?
Nesse momento, Ysaline abriu o aplicativo de mensagens novamente. Estava tão brava que nem ao menos viu Jason verificar junto a ela se o cara havia dado alguma explicação sobre sua demora. Também não viu quando Jason leu o nome “Sr. X” no topo.
- Sr. X? – Jason repetiu e precisou se controlar muito para não cair na gargalhada. Ysaline balançou a cabeça, irritada ao mesmo tempo que contemplava Jason genuinamente dando risada, pensando que nunca tinha o visto tão natural.
- Pois é! Com um nome ridículo desses, automaticamente pensei que fosse você quando chegou aqui.
- Nós dois sabemos que eu não sou brega desse jeito.
- Será? Fico na dúvida...
- Para começar eu jamais teria me inscrito nesse aplicativo, o que já é brega por si só.
- Jason...
- Segundo, se fosse o caso, eu usaria um nome bem mais discreto.
- Sei, Goldreamz...
- Vou fingir que você não acabou de insultar o nome da minha empresa porque é visível que tem alguma coisa de errado acontecendo com você nesses últimos dias. Mas fiquei curioso com uma coisa...
- O quê?
- Qual nome você colocou, gatinha?
- Para a sua decepção, com toda a certeza não foi gatinha – respondeu ela e Jason riu. – Coloquei Ysa. Bem informal e sem outras informações para no caso de ele ser um maluco e me perseguir.
- Discreto e inteligente, gostei. Aliás, se você colocasse gatinha eu ficaria com ciúmes de outra pessoa te chamar assim também.
Ysaline balançou a cabeça.
- E você ainda não se diz brega.
- E você gosta – Jason sorriu. – Agora, quer me explicar o motivo de ter se colocado nesse aplicativo?
- Qual o problema? Uma garota não pode se aventurar de vez em quando? – Ysaline obviamente estava brincando, porque a verdade era que nem ela conseguia acreditar que tinha feito uma coisa assim.
- Em uma tirolesa, talvez. Em um aplicativo que você nem sabe quem vai encontrar eu já tenho as minhas dúvidas – respondeu Jason. – A maioria das pessoas desse aplicativo são uns caras estranhos que não conseguem encontros da forma normal.
- Eu sei disso, Jason – Ysaline disse um pouco irritada. Também não era nenhuma criança e o que ele poderia saber mais do que ela sobre homens bizarros? – E para a sua informação, sei me cuidar muito bem também.
- Disso eu tenho certeza, Ysaline. Ainda assim me parece arriscado e você sabe que não precisa de nada disso – constatou Jason e naquele momento os dois compartilharam do mesmo pensamento, quase em telepatia. Isso é preocupação?
Ainda olhando para Ysaline, Jason perguntou novamente:
- Por que se inscreveu nesse aplicativo?
Ysaline suspirou fundo e deu um sorriso triste.
- Não estou bêbada o suficiente para começar a me abrir com você, Jason – respondeu ela. Aquele era um assunto delicado para Ysaline e parecia se tornar pior quando ela tentava consertar as coisas.
Quer dizer, aquela noite era uma prova disso, certo? Não era como se ela quisesse conhecer o tal do Sr. X nem ao menos estar com ele, mas só porque ela tinha se aberto a possibilidade para mudar um pouco de cenário e ter uma perspectiva positiva, ele nem ao menos apareceu. O que havia de errado com ela? Sinceramente, esperava que aos 24 anos qualquer que fosse esse bendito problema já teria sido resolvido.
Ela não poderia estar mais enganada.
E era assim que a porra do bloqueio emocional continuava a perseguindo.
- Respeito – Jason disse. – De qualquer forma, seja qual for o motivo, eu volto a dizer que você não precisa de nenhum aplicativo. Na verdade, tenho certeza que se você fosse a qualquer um desse bar já poderia ter um outro encontro. Começando, é claro, por mim.
Ysaline sorriu para Jason.
- É mesmo?
Jason ergueu uma das sobrancelhas, confuso. Por ela parecer estar correspondendo ou se por ele não ter deixado claro em algum momento que era sério.
- Não tenha dúvida.
- Não tenho – disse Ysaline, desviando o olhar e passando os dedos pela borda de seu copo, que já estava pela metade. Obviamente sabia das intenções de Jason, mas mesmo que ela quisesse (e ela queria muito) era bem provável que aquilo terminasse com seu coração partido e Ysaline estava fugindo disso a todo custo. – Mas, convenhamos, parece um pouco absurda a ideia.
- A ideia de eu querer ficar perto de você?
Ysaline olhou novamente nos olhos dele e não havia nenhum esboço de malandragem como nas outras vezes. Aquilo a desconcertou um pouco.
- Nós dois juntos em um encontro – Ysaline respondeu e então deu de ombros. – Só estou tentando ser racional.
- Acho que entendi – disse ele após alguns segundos em silencio apenas olhando para Ysaline. – Imagino que nossa situação fosse realmente bem complicada.
Ysaline assentiu.
- É claro – Jason fez um aceno rápido com a cabeça, parecendo pensar sobre o assunto novamente. Ysaline então notou o olhar dele pairando sobre seu braço esquerdo, sorrindo logo em seguida. – Posso ver sua pulseira?
- Minha pulseira? – Perguntou ela, um pouco risonha pela pergunta inusitada e Jason fez que sim com a cabeça. Assim que Ysaline assentiu, Jason pegou seu pulso delicadamente. As mãos dele eram quentes e assim como o olhar também queimavam a cada toque em sua pele.
- Lembro que você estava usando essa pulseira no Noveau Palace – Jason comentou como se nada fosse e Ysaline arregalou os olhos. Ela realmente estava usando aquela pulseira naquele dia, porque era sua pulseira da sorte desde aquele dia pois foi justamente aquele lugar em que ela tinha conseguido fechar o negócio em seu primeiro dia de trabalho. Mas não tinha como Jason saber disso. Como ele ao menos se lembrava disso? – Vi quando você entregou seu cartão.
- Aquele cartão que você rasgou em vários pedacinhos – Ysaline a relembrou.
- Esse mesmo – Jason riu. – Naquele dia que você disse que iria me dar um tapa na cara.
- Ainda bem que não fez isso. É capaz que eu gostasse.
Foi a vez de Ysaline dar risada. Era engraçado demais pensar como as coisas haviam mudado desde então.
– Sabe, caso eu a convidasse oficialmente para sair, seria justamente lá porque foi o lugar em que eu a vi pela primeira vez. Fico pensando se o dono iria lembrar de nós dois...
- Será que ele vai lembrar de como nós dois fizemos uma cena bem na abertura do restaurante dele? – Ysaline brincou, mas ainda conseguia sentir seu coração batendo mais forte a cada palavra que ele dizia. Isso e porque ele ainda não havia soltado seu pulso. Ysaline conseguia sentir a ponta dos dedos dele acariciando sua mão em movimentos circulares.
- Provável – Jason riu. – Eu sei que eu nunca vou me esquecer daquela cena. O jeito como você me desafiou no dia me fez ficar ansioso para quais seriam os próximos trabalhos e lugares que iriamos competir, as suas ideias, a sua sede por vitória ... Mas também me deixou com vontade de conhece-la fora do ambiente de trabalho. E quando percebi foi inevitável deixar de pensar além disso.
- Além? – Ysaline perguntou quase em um sussurro.
- Sim. Pense comigo. E se você aceitasse sair comigo e nos déssemos muito bem. Se a conversa fluísse e os ideias combinassem. Se uma coisa levasse até a outra e... quando vi já tinha imaginado você chegando em casa cansada depois de um dia de trabalho na Devenmentiel, porque, claro, você é teimosa o bastante para não aceitar minha proposta de emprego ainda sendo minha namorada. Imaginei até mesmo nós dois discutindo na minha casa, você vestida com a minha camisa social, reclamando de que eu havia roubado um cliente da Devenmentiel e eu por você ter ficado tão brava que não me deu um beijo de despedida depois que saímos da sala de reunião.
Ysaline sorriu e surpreendeu-se ao sentir um quentinho no coração.
- Você andou pensando muito nisso, Mendal – disse Ysaline, ainda um pouco desacreditada. – Mas é, seria muita loucura pensar que se desse mais certo ainda você teria que me buscar na Devenmentiel. Tendo que olhar o Devon e o Roy na cara.
- Definitivamente seria uma tortura pra mim – Jason revirou os olhos - Você tem planos de convidar os dois para o seu aniversário?
- É bem provável.
- Então, acho que meu presente de aniversário para você seria uma viagem surpresa para Viena.
- Mas e os nossos trabalhos? Não daria para viajar no meio de março!
- Você tem toda a razão. Podemos deixar para a lua de mel, então.
Ysaline abriu um sorriso e tentou disfarçar com uma risada.
- Eu ainda posso convidar eles para o nosso casamento, viu?
- Até lá eu posso dar um jeito nisso – disse Jason. – E acho que não vou me importar muito com isso.
Mais uma troca de olhares, porém, dessa vez mais contemplativa, como se estivessem diante de uma bifurcação temporal, vislumbrando uma possível linha do tempo. Era idiota pensar naquilo? Provavelmente, mas nenhuma pessoa apaixonada tinha suas ideias no lugar mesmo.
- Realmente seria um caos nós dois juntos – Ysaline disse depois de um tempo.
- Pena que nunca iremos saber – Jason soltou um suspiro logo após soltar a mão de Ysaline.
No momento em que Ysaline iria dizer algo, o improvável aconteceu. Talvez Ysaline não soubesse como era a aparência do Sr. X. Ainda assim não era todo dia que se via um homem vestido com um terno azul fluorescente.
Longe de Ysaline julgar uma pessoa pela aparência – isso era a tarefa do Jason – mas só pelo pouco que tinha visto do homem já havia confirmado o que ela suspeitava: encontro às cegas não eram para ela. O Sr. X a lembrava a versão mais jovem do senhorzinho simpático do Mercado de Tudo.
- Meu Deus – Ysaline murmurou e Jason acompanhou o olhar de horror de Ysaline até encontrar o homem. Jason automaticamente arregalou os olhos. Nunca tinha visto tanta cor em um curto espaço de tempo antes.
- Por acaso vocês combinaram algum tipo de cor para se encontrarem? – Perguntou Jason, irônico.
- Ele disse que estaria usando algo azul.
- Bom, ele não estava mentindo – Jason riu, dando o gole final de sua bebida. – Suspeito até que ele estava guardando esse terno para usar esse em uma ocasião muito especial.
- Cala a boca, Jason.
Enquanto o Sr. X a procurava pelo restaurante, Ysaline considerou muito suas opções de simplesmente fugir de lá, dando a desculpa que ele teria a deixado esperando por muito tempo.
Seria o dedo podre de Ysaline tão ruim que até mesmo escolhendo um encontro às cegas ela escolhia justamente os piores? Porque puta que pariu.
- Ysa? – Tarde demais para fugir, ele a tinha encontrado. Ysaline acabou sorrindo de nervoso antes de pensar em ela mesmo fingir ser uma desconhecida qualquer. Porém lembrou-se que ela quis ser “diferente das outras garotas” e usar um vestido marrom. – Meu Deus, você é muito mais gata do que eu poderia imaginar!
O Sr. X começou a pedir desculpas pelo atraso. E por falar em desculpas, elas eram as mais fajutas possíveis. Sinceramente não a surpreenderia se ele dissesse que seu cachorro havia comido seu celular ou algo do tipo, mas Ysaline nem conseguiu prestar muita atenção, pois tudo o que conseguia era a expressão julgadora – e até de nojo – que Jason estava fazendo para o Sr. X. Ou para o seu terno completamente azul fluorescente. Era quase como presenciar Miranda Priestly em O Diabo veste Prada. Se fosse em qualquer outra situação, Ysaline teria rido, mas ela estava puta!
- Bom, foi isso que aconteceu. Espero que você me perdoe! E, meu Deus, eu já disse como você está linda?
- Algumas vezes – Jason disse, sarcástico.
Foi só naquele momento que o Sr. X havia notado a presença de Jason.
– E quem é esse aí?
- Jason Mendal – Jason cumprimentou o homem com um aperto de mão firme. – E você deve ser o Sr. X, suponho.
Ysaline mordeu o interior de suas bochechas para não ter uma crise de riso na frente do homem.
- O senhor já está de saída, Sr. Mendal? – Perguntou o Sr. X, claramente envergonhado e tentando recobrar a confiança.
- Acredito que sim – Jason disse. – Mas, se me permite, Sr. X. Jamais deve deixar uma dama esperando sem pelo menos uma justificativa de seu atraso. Ainda mais quando a dama em questão é ela.
Muitas foram as sensações de Ysaline naquele momento.
- Mas o meu celular-
- Eu não poderia me importar menos se o seu celular não funciona – Jason disse com o maior sorriso aberto em seu rosto. – Para ser bem sincero, eu torci a noite inteira para que o senhor tivesse sofrido um acidente e nem ao menos conseguisse chegar aqui. Mas, já que não é o caso, queria agradece-lo por algo.
- Por não ter morrido para que pudesse me humilhar desse jeito?
- Não. Graças a sua incompetência, eu tive uma noite muito agradável ao lado dessa senhorita – Jason disse a última frase olhando para Ysaline, indo em direção a ela. Ysaline pareceu acompanhar em câmera lenta Jason pega sua mão e beijar os nós de seus dedos. – Foi um prazer acompanha-la essa noite, gatinha.
Jason despediu-se dela com uma piscadinha e então voltou-se para o Sr. X. O tanto que ele iria fazer piada com aquilo era brincadeira.
- Ela tem o meu número, então considere-se morto se tentar alguma gracinha. Ouviu, Sr. X?
- Meu nome é-
- Boa noite – deu dois tapas mais fortes do que o necessário no braço do homem, que fizeram Ysaline quase ter pena do homem. Quase. Após isso, Jason colocou seu sobretudo, dando uma última piscadela a Ysaline, e foi em direção a porta.
- Que cara desagradável! – Quando Ysaline se deu conta, o Sr. X estava sentado no lugar antes ocupado por Jason. Ela nem ao menos havia percebido a aproximação dele pois seus olhos ficaram presos assistindo Jason ir embora. – Sinto muito por tê-la deixado esperando aguentando um sujeito desses.
- Ah, sim, ele é insuportável – Ysaline disse enquanto vestia seu casaco. – Definitivamente o pior homem que já conheci em toda a minha vida! A vontade que eu tenho é de arrancar o sorriso convencido dele do rosto!
- Oh, eu imagino! E--- ei, onde você vai?
- Eu? Eu tô indo atrás do insuportável! Até mais!
Então, ao som dos gritos de reclamação do Sr. X, que Ysaline nem ao menos se deu o trabalho de perguntar o nome, ela saiu andando do restaurante.
Não acreditava que Jason tinha a audácia de deixa-la sozinha com aquele possível maníaco! Ridículo, Jason Mendal, RIDÍCULO!
Assim que saiu do restaurante sentiu a brisa fria da noite arrepiar suas pernas. Olhou para os dois lados a procura de Jason, porem nada encontrou. Ysaline bufou, revoltada e um tantinho decepcionada. Não acreditava que tinha caído no papinho daquele engomadinho!
Depois de tudo o que ele havia dito para ela. Deus, ela ODIAVA os homens!
- Ysaline, sentiu tanto a minha falta assim? – Ouviu a voz de Jason bem ao pe de seu ouvido. Ysaline tomou um belo susto, virando-se em um pulo. Obviamente, ele a olhava com aquele sorrisinho debochado de sempre. Ela inclinou a cabeça, desacreditada com a cara de pau dele. – Sabe, eu não sabia que você gostava de caras mais velhos.
- No perfil dizia 27 anos! – Respondeu ela, rapidamente.
- Ah, ele pode estar um pouco acabadinho apenas – Jason fingiu considerar a hipótese por um momento só para vê-la estressada e logo caiu na risada. - Achou mesmo que eu ia deixar você sozinha com aquele maluco?
- Para falar a verdade, eu achei sim! Até porque você deixou!
- Claro que não deixei! Jamais deixaria. Na verdade, eu estava aqui fora acompanhando tudo e, claro, só esperando você perceber que queria continuar o nosso encontro.
Ysaline revirou os olhos enquanto Jason continuava se aproximando dela.
- O que me diz?
- Eu digo que você é um pateta convencido.
- Pateta? Uau, vamos com calma com o dirty talk. Eu planejava deixar essas palavras de baixo calão para mais tarde quando estivéssemos mais à vontade...
- Jason, cale a boca antes que eu mude de ideia!
- Como quiser, querida – Jason acabou por se render, sorrindo. Ysaline sorriu de volta, pois dava para ver nos olhos dele como Jason estava nas nuvens por causa dela. E, vindo de quem vinha, era adorável! – Noveau Palace?
- Noveau Palace – Ysaline assentiu e logo deu um selinho demorado em Jason. Assim que voltou seu olhar para Jason, Ysaline levantou uma das sobrancelhas ao ver que Jason estava vermelho. – Jason, você tá vermelho?
- Vermelho? Por favor! – Jason franziu o cenho, envergonhado. – Coisa da sua cabeça!
- Ai,que gracinha – Ysaline zombou da cara do outro enquanto ele estendia o braço para que os dois pudesse caminhar juntos ao Noveau Palace. – Quem diria que eu deixaria o Jason Mendal vermelho.
- Ysaline, estou a um passo de chamar o Sr. X aqui.
- Muito fofo.
- Vamos ver se você vai continuar me achando fofo até o final da noite.
- Estou ansiosa por isso.
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