Sai
Eu não conseguia entender o que estava acontecendo. Vi a Ino numa maca e senti meus sentidos serem apagados por um segundo... Foi como se eu morresse por um instante. Eu congelei e o mundo ficou em silêncio, era como se não existisse mais ninguém, mais nada. Só o que me permitiu acordar foi a mão da Hinata me puxando pelo braço.
- Sai, vai você com ela. - ela me disse chorando, com a voz quase irreconhecível.
- Ir... O que...? - perguntei sacudindo a cabeça, ainda perdido.
- Vai com a Ino na ambulância! - Hinata respondeu impaciente, e eu consegui despertar completamente. Aquilo estava mesmo acontecendo. Minha Ino precisava de mim.
- Ah... Eu vou sim!
- Sai... - a perolada me abraçou forte, e eu pude sentir a dor no coração dela como se nosso peito tivesse sido atravessado pela mesma espada - A Ino vai ficar bem, não vai...?
- Hinata... - desfiz o abraço pra olhar pra ela, usando de todas as minhas forças pra me manter firme - Vai dar tudo certo, eu prometo.
- Eu queria saber como... Disseram que ela caiu, mas...
- Nós vamos pegar quem fez isso. - ela não precisou completar a frase pois eu já sabia o que ela queria dizer e eu pensava o mesmo - Com certeza isso foi provocado, não foi um acidente.
- Por favor, faz isso passar... - ela deixou a cabeça cair sobre mim, ainda aos prantos.
- Seja forte, Hinata... Pela Ino e por mim. Eu vou precisar de você mais do que nunca agora.
- Sim...
- Sai, vai logo. - Sakura se aproximou me apressando. O rosto dela estava coberto de lágrimas, mas ela também parecia tentar se manter de pé - A gente te alcança depois.
Assenti e entrei apressado na ambulância. Os médicos tentavam conter o sangramento no abdômen dela e aquilo me desesperava, embora eu não transparecesse. Eu queria trocar de lugar com ela, dar meu corpo pra ela, mas não podia... Eu não podia fazer nada pela Ino e aquilo me corroía. Se eu não tivesse deixado ela sozinha... Naquela hora, bastava só uma palavra... "Não, eu te espero e vamos juntos", só isso... Se eu tivesse dito isso quando ela me pediu pra ir antes dela pra reunião, isso não teria acontecido. Eu deixei ela sozinha, vulnerável, ignorei completamente a sensação ruim que tive quando saí daquele quarto. Me pareceu besteira na hora, mas eram meus instintos me alertando.
Eu ainda não entendia o que exatamente tinha acontecido, a única coisa que ouvi foi que ela caiu do primeiro andar e teve outra coisa também... Provavelmente algo a ver com esse sangramento contínuo na barriga dela. Me decidi a descobrir quem machucou ela e dar o troco que esse monstro merecia.
Uma dor aguda me torturava e um mar de lágrimas contidas estava adormecido dentro de mim. Eu precisava ser forte, se eu me deixasse levar por tudo que estava sentindo naquela hora, eu desabaria, e não conseguiria cuidar da Ino... Acabaria falhando com ela novamente.
Me aproximei como podia olhando pra minha namorada e fiz uma promessa ali, diante do sangue dela.
Ino, meu amor... Eu juro que quem te machucou vai pagar. Prometo nunca mais sair de perto de você! Eu te amo...
Hinata
Quando o Sai entrou na ambulância, a Sakura me puxou pra um abraço. Nos apoiamos naquele momento. Por mais que os meninos também estivessem sofrendo, eles não imaginavam o que eu e a Sakura estávamos sentindo, vendo nossa melhor amiga e companheira de infância correndo risco de vida. Na verdade, quando vi ela sangrando de olhos vidrados eu pensei que ela já... Nossa, não posso nem imaginar isso!
- Meninas, vocês tem que sair daqui agora. Todo mundo tem que sair. - Kakashi sensei se aproximou gentilmente, dizendo aquelas palavras com um peso nítido no olhar.
- Que porra que aconteceu que até agora não entendi? - Sakura perguntou com a voz trêmula, enxugando as lágrimas.
- Depois falamos sobre isso. Agora saiam daqui. - foi a resposta do diretor, deixando Sakura visivelmente enfurecida.
- Vamos. - peguei na mão dela pra sair dali. Olhei em volta procurando os meninos mas não achei - Cadê o Sasuke e o Naruto?
- Não sei... Nem vi onde eles foram. - Sakura pareceu atordoada, levando as mãos ao rosto e voltando a chorar - Que merda...
- Amiga, ela vai ficar bem, você vai ver... Não podemos nos deixar levar pelo desespero agora. - falei como se realmente estivesse confiante, coisa que não estava.
- Eu sei, é que... Só de pensar que ela pode...
- Isso não vai acontecer! - abracei ela - Nós três prometemos ficar juntas pra sempre, lembra? A Ino nunca quebraria uma promessa... Ela não vai nos deixar.
- Tem razão... Isso vai passar, e quando a Ino estiver melhor... - ela não terminou a frase, então olhei pra ela e vi uma expressão de raiva.
- Sim... Nós vamos acabar com quem fez isso com ela.
- Isso com certeza. Não é difícil imaginar quem foi, né...?
- Espera, você acha que... - pensei na mal amada da ex do Sai - Será que...?
- Eu não duvido que ela seja capaz disso! Aquela garota não bate bem.
- E o Gaara...? - ela ponderou por um instante.
- Não... Ele é louco de pedra e tal mas não acho que ele machucaria a Ino.
- Não podemos descartar nenhuma possibilidade, inclusive a de ser uma terceira pessoa que não conhecemos.
- Será possível...? - em meio ao caos, nossa mente funcionou pra fazer conjecturas. Acho que pela enorme vontade de vingar a Ino, por conta do amor incondicional que temos por ela.
- Vamos. - a voz grave do Sasuke apareceu do nada. O Naruto estava com ele, e confesso que fiquei mexida em ver as expressões nítidas de tristeza em cada um.
- Pra onde? - perguntei.
- Pro hospital. O táxi já chegou. - dizendo isso, o Sasuke se adiantou e andou na nossa frente. Fomos seguindo ele em silêncio.
Durante o caminho não interagimos, só ficamos de cabeça baixa sentindo toda a dor daquele momento. Era como se um peso enorme tivesse caído sobre os nossos ombros. Só estávamos de pé ainda porque tínhamos uns aos outros. Eu sinto que o nosso grupo é como uma irmandade. Cada um de nós é a base do grupo, cada um de nós completa um ao outro, e o fato de uma peça do grupo estar em perigo, abala as estruturas de todo o resto. Sem a Ino nós perdemos um pedaço da nossa própria carne. Nossa ligação nunca chegou a ser verbalizada, mas era sentida da mesma forma por todo mundo. Eu não sei como eu sei de tudo isso, mas simplesmente sei.
Quando o táxi parou, descemos eu, a Sakura e o Naruto apressados, enquanto o Sasuke pagava o taxista.
- Oi, a gente veio saber de uma paciente que acabou de dar entrada aqui... Ino Yamanaka. - Naruto falou todo afobado, e a recepcionista olhou torto pra gente.
- Só aguardar na sala de espera. - a mulher falou isso sem nem olhar pra nossa cara.
- Aguardar...? - Naruto olhou pra sala de espera a qual ela se referia - Mas já tem um monte de gente aqui, você nem pegou nossos nomes nem nada.
- Vocês são parentes dela? - ela olhou com cara de nojinho.
- Parentes de sangue não, mas...
- Então não posso passar informações. Aguardem na sala de espera. - ela virou a cara.
- Moça, por favor, a gente só quer... - Naruto tentou falar gentilmente mas foi interrompido de novo.
- Só aguardar.
- Nossa, é assim o atendimento daqui?? - Sakura já se intrometeu, nervosa - Isso aqui não é um hospital particular??
- Só aguardar. - a maldita parecia um robô.
- Aguardar é o caralho! - Sakura bateu na mesa e a atendente arregalou os olhos.
- Vou chamar a segurança. - ela pegou o telefone mas a Sakura tirou da mão dela e jogou longe.
- Chama a segurança agora, sua vaca! - Sakura começou a ficar vermelha e eu segurei ela tentando acalmar os ânimos. Naruto pareceu desnorteado, e as pessoas ali começaram a olhar.
- O que tá acontecendo aqui? - a voz do Sasuke apareceu de repente de novo, ele estava sério como sempre.
- Essa mulherzinha não quer nos falar nada! - Sakura reclamou. Sasuke então tocou no rosto dela e a encarou... Depois de alguns segundos, ela simplesmente se acalmou. Então o Sasuke se aproximou do balcão.
- Queremos notícias de uma amiga nossa que deu entrada aqui. - ele falou pra atendente, que olhou pra ele com o mesmo desprezo com que nos tratou.
- Aguardem na sala de espera, não vou passar informações pra terceiros. - ela deu de ombros, virando a cara de novo.
- E por que não? - ele perguntou sem desviar o olhar nem um segundo, ainda mais sério do que de costume. Ficamos apenas observando.
- É o procedimento.
- Eu não tô nem aí pro seu procedimento. Se não vai nos ajudar, chame alguém que ajude. - acredite, vocês não iriam querer o Sasuke falando com vocês usando esse tom de voz macabro.
- Vou chamar a segurança. - ela se levantou com aquele ar esnobe e fez sinal pra alguém atrás de nós, mas nem olhamos. Poucos segundos depois, um brutamonte de terno apareceu - Quero que tire esses arruaceiros daqui, por favor.
- Arruaceiros?! - Sakura repetiu, incrédula.
- É pra já. - o tal segurança disse, nos olhando de um jeito intimidador - Vão sair por bem ou vou ter que tirar vocês?
- Desculpa, quem é você mesmo? - Sasuke perguntou simples.
- Alguém que pode quebrar a sua cara se você continuar causando problemas! - o cara ficou visivelmente bravo - E você, quem é?
- Ah, foi mal, eu já ia esquecendo... - Sasuke pegou a identidade dele no bolso e entregou pro segurança - Aqui.
- Espera... - quando o cara viu o documento do Sasuke, engoliu em seco - V-Você é um... Uchiha?
- Uchiha Sasuke, sou eu mesmo. - Sasuke era tão autoconfiante que intimidava.
- Uchiha?? - a recepcionista nojenta ficou de boca aberta. A expressão e a voz dela mudaram completamente - Ah... N-Nos desculpe, por favor... Nós não sabíamos...
- Sim... - o segurança ficou com cara de otário também - É que temos que fazer nosso trabalho, o senhor deve entender claro...
- Vocês são patéticos. - Sasuke levou a mão ao rosto rapidamente - E então, pra que ala encaminharam nossa amiga?
- Ah, eu já verifico! - a atendente rapidamente começou a fuçar no computador, ao mesmo tempo em que colocou uma prancheta no balcão - Se puderem só preencher isso, por favor...
- Não quero. - foi só o que Sasuke disse, olhando pra ela de um jeito que a fez se recolher rapidinho e guardar a prancheta.
- E-Entendo... - ela baixou a cabeça. Vaca hipócrita puxa saco - Encontrei. Ino Yamanaka... Ela está na UTI. - meu coração deu um pulo - Segundo andar, primeira à direita.
Nós quatro ao mesmo tempo fomos praticamente correndo pro elevador, que pra nossa sorte já estava no andar. Andamos atordoados ali, tinham muitos médicos andando pra lá e pra cá, era um lugar onde definitivamente ninguém quer estar. Quando chegamos na UTI, vimos o Sai sentado de cabeça baixa e fomos correndo até ele.
- Sai! - Sakura foi a primeira a se aproximar, e ele se levantou quando nos viu - E então??
- Bom... - a voz dele estava quase inaudível, o que me cortou o coração. Ele olhava pra uma direção aleatória, com o rosto carregado de tristeza e preocupação - A Ino... Ela não tá nada bem...
- Sai... - Sakura segurou o rosto dele, já com a voz embargada - Não tenta amenizar, tá bom? Pode nos dizer o que você sabe.
- Ela foi esfaqueada, por isso o sangramento no abdômen. - ele soltou de uma vez. Definitivamente ninguém estava preparado pra ouvir aquilo, mas precisávamos saber - Ela perdeu muito sangue, além disso levou uma pancada forte na cabeça. É um milagre ela ainda estar viva.
- Eu só queria saber quem foi que tentou matar a Ino... - Naruto falou isso com raiva no olhar e fechando os punhos.
- Nós vamos descobrir isso seja lá como for. - Sasuke estava com uma expressão que eu nunca tinha visto no rosto dele.
- O que mais o médico disse? - perguntei, tentando segurar o choro.
- Estão fazendo uma operação nela agora por conta da pancada na cabeça, e ela vai precisar de um doador de sangue. Essa operação é pra salvar a vida dela, eu não sei como vai ser...
- Sai, não se atreva! - abracei ele de lado - Se a gente perder a esperança, não vamos ter mais nada.
- Qual o tipo sanguíneo dela? - Naruto perguntou.
- Eu não lembro qual, mas é um muito raro. - Sakura respondeu.
- Sim, é o tipo de sangue mais raro segundo o médico. - Sai completou - O RH nulo, o famoso "sangue dourado".
- Puta merda, nunca ouvi falar. - Naruto coçou a parte de trás da cabeça, confuso.
- Pois é, eu também nunca tinha ouvido falar. - Sai respondeu, abatido.
- Eu já volto. - Sasuke saiu com o celular na mão. Sakura pareceu intrigada, mas deixou de lado.
- Então... A Ino tá mesmo correndo risco de vida...? - os olhos da rosada encheram de água - Mesmo essa operação dando certo, se ela não conseguir um doador à tempo ela vai...
- Sim. - Sai interrompeu, olhando pra longe - Por isso temos que começar a procurar um doador, já.
- Vamos encontrar! - Naruto disse com determinação, embora fosse nítido que também estava com medo.
- Quanto tempo até essa cirurgia terminar? - perguntei, soltando o ar com força.
- Pelo menos umas quatro horas. - Sai respondeu, voltando a se sentar.
Ficamos ali abatidos por um tempo. Mil coisas passavam pela minha cabeça enquanto eu observava a movimentação dentro daquele hospital. Como que um dia que começou normal podia acabar daquele jeito tão aterrorizante? A ficha não caía.
- Minha filha! Onde está minha filha?? - tomamos um susto. Quando olhei vi o pai da Ino aflito, andando de um lado pro outro.
- Senhor Yamanaka! - nos levantamos na hora, notei que os olhos do Sai saltaram quando falei o nome do "sogro" dele.
- Meninas! - ele pareceu aliviado quando nos viu e se aproximou, com um olhar tão triste que até doeu - O que aconteceu afinal??
- A Ino está passando por uma operação agora, mas vai ficar bem. - espero ter sido convincente nessa minha fala.
- Operação?! - ele se mexia muito, parecia que ia surtar - Mas como...? Por que?! Só me disseram que ela sofreu um acidente, eu vim correndo que nem louco...
- Ela sofreu uma pancada e perdeu muito sangue. - dessa vez foi Sai quem respondeu - A operação é pra estabilizar.
- Perdão, você é...? - o senhor Yamanaka olhou pra ele confuso, e o Sai pareceu meio nervoso.
- Meu nome é Sai. - ele estendeu a mão, que o Yamanaka segurou - Eu sou... Sou o namorado da sua filha.
- Ah, então você que é o namorado dela?? - ficamos meio em choque com o que ia rolar, mas tivemos uma surpresa. O Yamanaka puxou o Sai e o abraçou - Ela me falou de você!
- F-Falou? - Sai ficou meio sem saber o que fazer. Seria cômico se não fossem pelas circunstâncias.
- Sim! - ele desfez o abraço e segurou os ombros do Sai, bem emocionado. Uma cena no mínimo interessante - Não tivemos tempo pra falar muito mas ela me disse o quanto está feliz com você. Eu ainda não te conheço, mas... Queria te agradecer por cuidar da minha filha. Por fazer o que eu não faço...
- Imagina! - Sai percebeu que ele estava meio abatido e quis ajudar - Eu não fiz isso direito, por isso estamos aqui agora...
- Não foi culpa sua, Sai. - Sakura interviu.
- Tenho certeza que a minha Ino concordaria com a Sakura. Me chame de Inoichi. - o cara sorriu pro Sai, que ficou tão sem jeito que nem conseguiu dizer mais nada. Achei muito bonito aquilo. O senhor Yamanaka é ausente, tem os defeitos dele, mas é inegável o quanto ele ama a Ino... É uma boa pessoa e tem um jeito meio excêntrico, assim como ela.
Depois de mais de duas horas lá, eu comecei a pirar. O tempo não passava, não aparecia nenhum médico pra dar notícias, e por mais que eu tentasse manter o pensamento positivo, o medo começou a me consumir. A mínima possibilidade do pior acontecer me assombrava, por mais que eu tentasse esmagar aquela sensação.
A Sakura estava com a cabeça encostada no ombro do Sasuke, enquanto o Sai e o Yamanaka conversavam. Naruto estava calado, na dele, olhando pro nada... Será que ele está pensando esse monte de coisas assim como eu? Ah, não importa.
Senti que ia passar mal com a minha ansiedade e me levantei, saindo dali quase correndo. Fui andando naquele hospital em busca do lugar mais vazio possível, e achei. Era um corredor com alguns quartos desocupados, só algumas enfermeiras e faxineiras passavam ali. Me apoiei na parede com as duas mãos e comecei a respirar fundo.
De repente a ficha começou a cair e eu desabei. Mal conseguia manter minhas pernas firmes de tanto que eu chorava, meu corpo parecia que ia desfalecer. Coloquei a mão no peito numa tentativa frustrada de amenizar aquela dor aguda. Eu nunca tive uma sensação tão massacrante em toda minha vida. Naquele momento, eu estava mais frágil do que o menor pedaço de cristal, e só queria que aquilo tudo acabasse.
Senti um abraço me envolver por trás e me assustei. Me mexi abruptamente com os olhos arregalados, mas aqueles braços fortes me seguraram... Eu sabia de quem eram.
- Vai ficar tudo bem... - ele falou baixo no meu ouvido.
- E se não ficar...? - minha voz saiu como um sussurro doído.
- Vai ficar. - ele me apertou mais forte, e eu fechei os olhos.
- Naruto, você me seguiu até aqui?
- Eu sempre vou te seguir pra qualquer lugar... - a respiração dele no meu pescoço arrepiou minha pele. O abraço dele era firme, quente... Era um lugar seguro. Naquele momento essa era a única coisa que eu sabia.
- Não me diz essas coisas, Naruto...
- Hinata, por que não me chama mais de "Naruto-kun"? Não quer mais falar meu nome com intimidade...?
- Não somos íntimos mais.
- Isso não é verdade... - ele passava os lábios pelo meu pescoço, o rosto pelos meus cabelos.
- É verdade sim. Você mesmo quis terminar tudo, lembra?
- Sim, mas isso não muda o fator na sua mente. - ele quer me infernizar mesmo.
- Naruto, o que você quer de mim afinal?
- Hinata... - ele me virou de frente pra ele e me engoliu com o olhar - Você já tá saindo com outra pessoa?
- Sair? - eu ri - E quando é que eu saio da Kage, Naruto? A gente não pode sair.
- Você entendeu o que eu quis dizer. - ele ficou mais sério.
- Por que quer saber? - aquilo estava me agradando.
- Você tá ou não?
- Hm... Não.
- É sério? - ele pareceu mais afobado.
- Bom, na verdade... Eu acho que tô sim.
- Hinata, não brinca comigo. Você tá ou não com outra pessoa?
- Não.
- Não sei se acredito em você.
- Tá bom, eu tô sim. - ele estava com cara de idiota e eu gostei.
- Que merda, Hinata! Por que tá fazendo isso?
- Isso o que?
- Beleza, já entendi. - ele me olhou de um jeito desafiador - Quem era aquele cara?
- Que cara?
- Eu vi você flertando com um cara esses dias no pátio.
- Ah, o Deidara? - eu não posso negar que estava adorando ver o Naruto com ciúmes.
- Deidara? Então é esse o nome dele?
- Uhum.
- Hinata... - ele me prensou contra a parede, me fazendo sentir o cheiro e o toque dele - Você já transou com ele?
- Isso não é da sua conta. - ele não desviou os olhos dos meus, e desceu a mão pra dentro da minha saia. Começou a acariciar por fora da minha calcinha e eu estremeci, separando os lábios.
- Transou com ele ou não...? - ele falou com a voz mais arrastada e grave.
- Não...
- Ah, que bom. Então eu posso continuar fazendo isso... - ele colocou a mão por dentro da minha calcinha e começou a esfregar de leve meu clitóris. Minha respiração acelerou e eu tive que me esforçar pra não começar a gemer alto.
- C-Como assim...?
- Se você transar com ele eu não toco mais em você. - ele falou com firmeza, ao mesmo tempo em que brincava movimentando ainda mais os dedos.
- E se ele já tiver transado comigo...?
- Você disse que não transaram.
- E se eu menti?
- Tudo bem. Me diz que trepou com outro cara e eu paro agora. - ele me fitou mordendo os lábios. Eu tentava parecer firme mas a verdade é que eu já estava entregue.
- Seu idiota... - sussurrei, e ele sorriu de um jeito bem cafajeste.
- Sabia que não tinha feito nada com ele... Você é minha. - ele uniu dois dedos e colocou dentro de mim, o que me fez soltar um gritinho súbito. Então ele cobriu minha boca com a outra mão e continuou - Shh... Você tá tão molhada... - Eu tirei a mão dele da minha boca.
- Naruto... Pára... - nesse ritmo ele vai continuar vencendo de mim.
- Quer mesmo que eu pare? - a voz dele saiu ainda mais grave e incisiva do que antes.
- S-Sim... Aqui não... - minha voz estava trêmula e eu comecei a suar.
- Não tem ninguém olhando.
- Por favor, pára...
- Mas é tão bom brincar com o seu grelo, Hinata... Eu queria cair de boca aqui... - que maldito. Ele com certeza quer me abalar.
- Mandei parar. - fiz bastante força pra convencer ele de que era isso que eu queria mesmo, mas ele sabia que não era verdade.
- Tá bom. - ele tirou a mão de mim devagar, lambendo os dedos depois e esboçando um sorriso. Respirei fundo e tentei me recompor o mais rápido possível. O desgraçado sabia como me dominar, parecia estar sempre um passo à minha frente.
- Vê se tira esse sorrisinho idiota da cara!
- Não tô sorrindo. - ele estava sorrindo sim.
- Vamos voltar. - comecei a pisar duro, e ele me puxou pelo braço.
- Você fica linda assim bravinha. - dessa vez o sorriso dele era de admiração, e o olhar estava mais doce. Virei a cara rápido e voltei a andar na frente dele. Eu tenho que parar de me deixar levar, senão o Naruto sempre vai conseguir o que quiser de mim. Preciso de novos ares.
Depois de umas quatro horas e meia, todo mundo já estava nas últimas. Acho que eu só não dormi porque a situação era turbulenta demais pra isso. Mesmo parecendo que o momento nunca ia chegar, o médico finalmente apareceu no corredor.
- Ino Yamanaka? - ele anunciou, e nós levantamos na hora, indo até ele.
- Eu sou Inoichi Yamanaka, pai dela. E então doutor, como foi? - os olhos dele estavam muito apreensivos.
- Um sucesso. - que alívio! - Conseguimos estabilizar o sangramento e amenizar o impacto da pancada na cabeça. Até então o que parece é que não vai ficar nenhuma sequela, mas pode ser que quando ela acorde não reconheça algumas pessoas da família ou amigos. Mas é só uma hipótese e mesmo se acontecesse seria apenas no primeiro momento.
- Ah, que bom! Uma boa notícia! - o senhor Yamanaka pareceu bem mais leve.
- Mas ainda temos um problema. - todos voltamos a olhar nervosos pro médico, que parecia estar pisando em ovos - Ela sofreu uma hemorragia interna grave, e sinceramente tem sorte de ainda estar viva. Conseguimos aumentar as chances de recuperação dela com essa operação, mas ela ainda está instável. Precisa de um doador de sangue depressa.
- Então ela ainda não está fora de perigo? - a voz do Sai estava tão triste que ele nem conseguia mascarar mais.
- Infelizmente não. - o médico soltou o ar.
- Com licença. - Sai pediu antes de sair dali. Fiquei olhando preocupada.
- Ele vai ficar bem? - Sakura também se preocupou.
- Sim, o Sai sempre dá um jeito de ficar. - Sasuke respondeu de forma séria e fiquei mais tranquila.
- O tipo sanguíneo da paciente é o mais raro do mundo. - o médico continuou - Pacientes com esse tipo correm muito mais risco em situações de vida ou morte porque é extremamente difícil encontrar um doador à tempo. Vamos continuar procurando e mantendo a Ino em observação até lá. Eu lamento, mas por enquanto ela vai continuar na UTI, então ainda não pode receber visitas.
- Eu entendo, doutor... - o pai dela ficou ainda mais abatido.
- E tem mais uma coisa... - poxa, mais notícia ruim? - Talvez seja cedo pra falar levando em conta o estado dela e também que ela acabou de sair da operação mas... Fizemos alguns testes, poucos, mas ainda assim ela não respondeu aos estímulos. Nesse caso, podemos dizer que ela se encontra em estado de coma.
- Coma?! - foi a primeira vez naquele dia que eu vi o Sasuke sobressaltado.
- Sim, mas por favor, não fiquem alarmados. - o médico tinha uma expressão de preocupação embora falasse tranquilamente - É normal depois do trauma que ela sofreu na cabeça. Estou dizendo isso pra manter vocês informados, mas vamos deixar pra nos preocuparmos só daqui a algumas semanas se ela continuar sem resposta aos estímulos.
- Se isso acontecer, o que vai significar? - perguntei, me sentindo ansiosa e aflita.
- Bom... - o médico pareceu hesitante - Isso significaria que ela entrou em estado de coma permanente.
- Coma permanente? - Naruto pareceu confuso - E quanto tempo dura esse tipo de coma?
- Esse tipo, pode durar semanas, meses, anos... Às vezes até uma vida inteira. - a voz do médico ficou mais baixa e o olhar mais pesado.
- Uma vida inteira...? - Sakura pareceu em choque, e eu logo a abracei de lado.
- Isso tudo são apenas conjecturas. O próximo passo é achar um doador, rápido. - o médico falou de forma mais firme.
- Pelo que eu entendi, ela não vai mais correr risco de morte quando encontrarmos um doador, certo? - Sasuke como sempre se manteve mais calmo do que todos.
- Isso mesmo. Bom, eu tenho que ir agora. Vão pra casa e descansem. Se mantenham firmes. - o médico assentiu e saiu. Nos despedimos do senhor Yamanaka, todos sem chão, e fomos pra fora.
Quando chegamos na entrada do hospital, o Sai estava parado na calçada em frente com uma cara de paisagem. Muito preocupante.
- Sai... - chamei, mas ele nem olhou - Você está bem?
- Sim. - ele respondeu com o tom de voz normal, sem olhar pra ninguém - Eu já pedi um táxi. Vamos.
No dia seguinte eu tava acabada. Mal tinha conseguido dormir de noite, e sinceramente não estava me importando muito com as aulas. Na verdade, o clima na Kage estava estranho. O Kakashi sensei ficava andando pra cima e pra baixo com os Homens de Preto, e os alunos só falavam no que tinha acontecido. O clima era de medo. Nunca na história da escola havia ocorrido um atentado, e claro, nós estávamos chamando ainda mais atenção.
Estávamos os cinco no refeitório, todo mundo com cara de morto, vestindo o uniforme como se aquele fosse mais um dia de aula normal pra gente.
- Por onde começamos a procurar? - perguntei, brincando com a comida sem a menor fome.
- Deve ser fácil achar na internet. - Naruto respondeu.
- Se fosse tão simples o médico não diria que os pacientes com esse tipo de sangue correm mais risco, não acha? - Sakura disse, revirando os olhos.
- Hm, verdade. - Naruto ficou mais sério - E sobre quem fez isso... Precisamos investigar.
- Obviamente foi alguém de dentro da escola. - observei.
- Sim. Só um aluno ou professor conseguiria andar por aí tranquilamente pra fazer uma coisa dessas. - Sakura acrescentou.
- Parem de fazer essas conjecturas idiotas. - O Sai, que até agora não tinha aberto a boca, começou a falar - Nós sabemos muito bem quem foi.
- Sim. - Sasuke concordou.
- É... - soltei o ar - Vocês tem razão. Não consigo pensar em mais ninguém.
- Mas precisamos ter certeza pra não fazer merda. - Sasuke acrescentou.
- Vamos fazer ela confessar! - Sakura sugeriu.
- Ela não vai confessar. - Sai explicou - Nossa intenção é só ter certeza de que foi ela, mas não vamos conseguir provar isso pra mais ninguém. A polícia vai continuar investigando, mas até a Ino acordar eles não vão poder fazer nada.
- Então a intenção é não deixar ela impune até lá? Vamos agir por conta própria? - perguntei.
- Isso mesmo. - essa foi o Sasuke quem respondeu. Ele e o Sai pareciam mais entrosados em algo do que o resto de nós.
- Peraí gente, de quem vocês estão falando?? - Naruto perguntou, confuso.
- Da Tsuchi, burro. - Sakura deu um tapa na cabeça dele.
- Ai! - ele reclamou, passando a mão na cabeça - Tá, entendi. Mas como exatamente vamos punir ela?
- De um jeito que faça ela preferir ir pra cadeia. - Sasuke respondeu sério, de braços cruzados.
- Gente, espera... - ponderei no momento. Eu não queria que mais coisas ruins acontecessem - Agir por conta própria assim... Será que não é ir longe demais?
- Longe demais?! - Sai olhou pra mim indignado e furioso do nada, levantando a voz - E o que ela fez com Ino?! Foi bem além de "longe demais". Ela tentou MATAR a Ino! O que acha que ela merece?? Pra mim qualquer coisa que a gente faça ainda vai ser pouco!
- Calma, Sai... - fiquei meio sem palavras. Ele nunca tinha falado comigo daquele jeito.
- Eu tô calmo! - o rosto dele começou a ficar vermelho. Todo mundo na mesa olhou meio espantado e preocupado - Aliás, tô calmo até demais. Sabe o que eu teria feito se não tivesse mantido a porra da calma? Eu já teria enforcado aquela vagabunda com as minhas próprias mãos!
- Eu sei que ela merece, Sai! - levantei a voz também, com o coração já acelerado pelo susto - Só acho arriscado a gente fazer justiça com as próprias mãos, é errado.
- Errado?! - ele arregalou os olhos, parecendo mais indignado e furioso ainda. O Sai normalmente é calmo e nunca fala palavrão. Foi horrível ver ele daquele jeito - Mas que merda é essa que você tá falando?!
- Sai, pega leve... - Naruto tentou ajudar mas ele nem olhou pra ele.
- Se você quer defender psicopata, adota e um e leva pra casa, Hinata. - Sai me falou, já de pé e cada vez mais nervoso.
- Não fala assim comigo, Sai! - me levantei também - Só não quero descer a esse nível...
- Vai dizer pra Ino que não quis punir quem fez isso com ela porque tava preocupada com "nível"...? - ele deu alguns passos na minha direção, me encarando estreitando os olhos.
- Acha que eu não quero vingar a minha amiga?? - comecei a ficar furiosa também e devolvi o olhar pra ele.
- Ah, você quer sim... Contanto que não saia da sua zona de conforto, não é?!
- Ah vai se ferrar, Sai! Foi você quem namorou com aquela maldita e nem percebeu quem ela era de verdade, você foi burro. Agora por você ser um imbecil a Ino levou uma facada!
- Então você realmente acha que a culpa foi minha pelo que aconteceu com Ino, né? Anda, Hinata! Continua falando! Mostra as garras! Eu sou burro, otário e o que mais??
- Ei, vocês dois! - Sasuke levantou a voz pra gente mas não nos importamos.
- E-Eu não acho que a culpa foi sua, eu só... - minha voz começou a ficar embargada mesmo ainda alta.
- Ah não, você acha sim, não tenta negar agora. - ele me cortou, chegando mais perto me desafiando ainda mais - Você acabou de dizer isso.
- Por que você tá sendo tão cretino?! - falei ainda mais alto.
- Se eu tô sendo cretino você tá sendo covarde! - ele também aumentou a voz.
- Covarde?!
- Sim, covarde! Você não tem coragem o suficiente pra sujar as mãos e fazer a pessoa que tentou matar a amiga que você diz amar tanto, pagar.
- Tá dizendo que eu não amo a Ino o suficiente, é isso?! - meus olhos saltaram.
- Quer saber, não precisamos de você. - ele ergueu as mãos e a voz dele ficou levemente embargada também.
- Sai... - Sakura falou em tom de alerta.
- Não, é sério. - ele deu de ombros apontando pra mim - Se ela não quer ajudar, deixa ela. A gente dá conta.
- Eu nunca disse que não queria ajudar... - ele voltou a olhar pra mim.
- Agora sou eu que não quero que você faça parte do plano. - ele me olhou de um jeito triste e furioso ao mesmo tempo.
- E quem você pensa que é pra decidir isso sozinho?! - eu tava segurando o choro.
- Sou o namorado da Ino!
- Grande merda! - gritei - Isso não te dá direito a nada!
- Sai, a Hinata tem razão. - Sasuke acrescentou, mas o Sai não desviou o olhar de mim - A Ino não é só sua.
- Como assim ela não é só minha?? - agora o olhar de raiva do Sai foi direcionado pro Sasuke.
- Você não é o único que tá sofrendo aqui. - Sasuke se levantou - Todos nós queremos vingar a Ino.
- E se fosse a Sakura entre a vida e a morte ao invés da Ino?! - Sai começou a desafiar o Sasuke, que permaneceu sério. O Naruto e a Sakura só observavam preocupados.
- O que quer dizer com isso? - Sasuke deu a volta na mesa e se aproximou do Sai - Eu não me sinto menos mal por ser a Ino ao invés da Sakura.
- Será mesmo? - Sai questionou, e o olhar do Sasuke mudou.
- Tá duvidando do que eu digo agora? - Sasuke estreitou os olhos pra ele.
- Só acho que você não sabe como eu tô me sentindo. - Sai apertou o punho e a voz dele ficou ainda mais trêmula - Você ainda tem a sua namorada do seu lado, então não vem com essa de...
- Presta atenção! - Sasuke segurou o Sai pelo colarinho - Você pode ser namorado da Ino, mas não confunda as coisas. Você não ama a Ino mais do que eu nem ninguém aqui.
- Vai se foder, Sasuke! - Sai empurrou ele - Que tipo de linha você tá querendo ultrapassar?
- O que quer dizer? - Sasuke pareceu um pouco alterado também.
- Eu sempre achei que você quisesse transar com a minha namorada, mas agora tenho certeza! - Sai jogou isso na cara do Sasuke, mas ele não refutou.
- Sai, pára com isso! - gritei, indo até o Sai e puxando ele pelo ombro.
- Não toca em mim! - no momento em que encostei nele, o Sai gritou e virou o tronco junto com o braço, e eu acabei sendo empurrada pra parede perto da janela onde estava a nossa mesa. Caí no chão colocando a mão no braço.
- Merda! - Naruto esbravejou e correu pra me socorrer - Hinata, você tá bem? Se machucou?
- Não, eu tô bem. - respondi, me levantando com a ajuda dele. Quando olhei pra frente, a Sakura já estava de pé também ao lado do Sasuke me olhando preocupada, e o Sai estava estático, com os olhos saltados e marejados, e os lábios levemente separados. Ele me encarava com uma expressão de dor profunda.
- Sai? - Sasuke falou com ele, mas ele não respondeu nem se mexeu.
- Sai, eu tô bem. Isso não foi nada... - falei com a voz trêmula, mas o Sai apenas saiu correndo sem dizer uma palavra. Senti uma onda de choque horrível quando ele saiu.
Ficamos ali alguns segundos, depois dessa catástrofe. Os outros alunos estavam olhando e murmurando. Novamente tínhamos dado um showzinho pra eles assistirem de camarote. Provavelmente depois disso nossa fama vai piorar mais ainda.
- Ah... Oi. - Karin apareceu receosa, e todos olhamos pra ela.
- Oi Karin. - Naruto respondeu, soltando o ar.
- Ahm... Vocês estão bem? - ela olhou brevemente pra cada um de nós.
- Não muito. - Sasuke respondeu levando uma das mãos ao rosto, em seguida olhou pra ela - Veio falar comigo?
- Sim, mas se for um mau momento eu posso... - ela respondeu, visivelmente preocupada.
- Não, tudo bem. - Sasuke interrompeu - Vamos.
- Espera, o que quer falar com ele? - Sakura franziu o cenho e olhou pra Karin cruzando os braços.
- Ehh... - Karin ficou vermelha, olhando pra Sakura meio perdida - É particular...
- Particular...? - Sakura repetiu, parecendo indignada. Sério, é hoje que explode uma bomba no Clube dos Perdidos, tá tudo um caos.
- Sim, é que... - Karin falava pausadamente, com a respiração meio alterada - É uma coisa muito pessoal minha, então...
- Então você devia falar com os seus pais ou com a sua psicóloga, não com o meu namorado. - nossa, a Sakura com ciúmes? Nunca vi.
- Sakura, deixa de ser grossa. - Sasuke repreendeu, embora estivesse estampado na cara dele que ele estava gostando.
- Não, ela tá certa. - Karin falou, em seguida olhou pra Sakura de um jeito estranho - Olha, se for pra te aborrecer, eu prefiro não conversar com ele agora. - an? - Sasuke, depois a gente se fala. Vamos ter tempo.
- Tudo bem, até depois. - Sasuke respondeu naturalmente, enquanto que a Sakura estava com uma cara de quem não entendeu, assim como eu.
- Sakura... - Karin voltou a olhar pra ela - Eu sinto muito pelo que aconteceu com a sua amiga. De verdade. - a ruiva ficou lá parada olhando, talvez esperando uma resposta, depois desistiu - Bom, até mais.
Depois disso ela saiu. Estranho, né? A Ino é amiga de todos nós, mas ela só lembrou de dizer "sinto muito" pra Sakura. Será que ela está planejando alguma coisa contra a rosada? Sério, isso é muito esquisito, esse comportamento dela. Bom, melhor nem pensar nisso.
Depois daquilo, eu não quis saber de mais nada, só me tranquei no meu quarto. Me joguei na cama e caí no choro. Tudo estava indo de mal a pior. A Ino correndo risco de vida no hospital, o Naruto infernizando minha cabeça, sem falar que eu ainda estava sem notícias da Hanabi ou do Neji. Com certeza meu pai está tramando alguma. Eu tenho que me preparar pra isso, mas não vou dar conta agora, e pelo estado emocional e psicológico do pessoal, eles também não vão poder me ajudar.
Pra completar ainda teve essa briga horrível com o Sai. Ele nunca tinha sido tão agressivo, parecia estar com raiva de mim. Será que depois disso nossa amizade vai ficar abalada...? Com certeza ele me odeia agora, eu joguei coisas cruéis na cara dele. Tsc... Que droga.
Acordei no susto com batidas na porta. Acabei pegando no sono depois de tanto chorar, já era noite. Soltei o ar pra dar uma acordada e ajeitei rapidinho o cabelo. As batidas continuaram.
- Quem é? - perguntei alto, ainda sentada.
- Sou eu, o Sai. - Sai! Pulei da cama na hora e fui correndo abrir a porta. Ele estava muito abatido - Oi. Posso entrar?
- Claro. - abri passagem pra ele e fechei a porta em seguida. Voltei a me sentar na cama mas ele continuou parado de pé - Então... Como você está?
- Hinata, eu queria... - a voz dele saiu falha e ele começou a chorar.
- Sai, tá tudo bem. - dava pra sentir a agonia em que ele estava, e eu não estava muito diferente dele - Olha, esquece o que...
- Me perdoa! - ele falou alto ao mesmo tempo em que pulou em cima de mim me abraçando, o que me fez cair pra trás no colchão. A cabeça dele estava afundada no meu pescoço, enquanto ele chorava - Perdão, perdão, perdão, perdão, perdão..
- Calma... - senti um nó na garganta e comecei a chorar também, acariciando o cabelo dele.
- Você tá certa, eu sou um cretino... - a voz dele saiu rouca pelo choro.
- Não, Sai! - fiz ele olhar pra mim e pude ver o quando os olhos dele estavam pesados - Você não é um cretino! Aquelas coisas que eu falei... Não foram de coração. Por favor, me perdoa também!
- Eu acabei descontando tudo em você, Hinata. Logo em você... - ele me olhou com carinho e afastou minha franja do meu rosto - Você não vai deixar de ser minha amiga, vai?
- Claro que não! - eu ri emocionada, tentando enxugar algumas lágrimas - Aliás, eu estava aqui me perguntando se você me odeia...
- Nunca! - ele falou praticamente por cima da mim - Eu odeio à mim mesmo por ter feito você chorar, Hinata.
- Sai, aquilo que eu disse... - meu peito doeu só de lembrar - Foi porque fiquei com raiva e quis ser má com você. É claro que você não tem culpa de nada.
- Só de pensar que eu passei um bom tempo namorando uma psicopata... - ele fechou os olhos e eu segurei o rosto dele com ambas as mãos.
- Sai, esse tipo de gente consegue atuar muito bem. Você não tem culpa de não ter notado. Eu acho que você está numa posição muito mais difícil do que nós, então não se maltrata, por favor.
- Eu só quero que tudo isso acabe... - ele deixou a cabeça cair sobre mim de novo e começou a soluçar ainda mais, chorando como um bebê - Eu só quero a minha Ino de volta aqui comigo! Eu quero o sorriso dela, os olhos dela, o corpo dela... Preciso que ela fique bem logo senão eu não vou aguentar, Hinata! Se ela morrer eu vou junto com ela...
- Não diz uma coisa dessas, Sai!
- Quando eu penso na dor que ela deve ter sentido, em como deve ter ficado assustada... Fico pensando se ela chamou por mim...
- Sai, ela vai sair dessa! Não foi você quem me disse pra gente não nos deixarmos levar pelo desespero agora?
- Tem razão... - ele voltou a olhar pra mim, já com o choro um pouco mais contido - Desculpa, eu acho que tô surtando.
- Você não tinha derramado uma lágrima sequer, estava se reprimindo muito. Se sente mais leve agora?
- Sim. - ele sorriu com os olhos ainda molhados e eu sorri de volta - Obrigado, Hinata.
- Conta comigo sempre. - continuei sorrindo e ele não falou nada, só continuou me olhando - Sai? - ele continuou em silêncio, ainda olhando - Sai, o que foi?
- Ah... - ele deu uma leve sacudida na cabeça - Nada, é que...
- O que?
- Você é tão bonita... - ele falou isso olhando bem nos meus olhos e eu fiquei surpresa. Acabei olhando pra ele do mesmo jeito que ele estava olhando pra mim.
- Obrigada... Você também é muito bonito, Sai. - ele voltou a ficar calado - Que foi? No que tá pensando...? - ele aproximou o rosto do meu encostando nossas testas. Fiquei estática. Ele então fechou os olhos e desceu a cabeça de novo pro meu pescoço - S-Sai..? - senti ele ficar ofegante e me veio um frio na barriga. De repente, os lábios dele se abriram na minha pele e eu abri a boca, ficando quase sem ar por um segundo. Ele estava beijando meu pescoço, e aquilo... Estava bom - Sai... O que tá fazendo? - ele continuou, sem falar nada. Quando percebi, minhas pernas já estavam mais abertas, dando espaço pra que o corpo dele se encaixasse melhor.
- Isso é... - ele começou a frase mas não terminou. O que ele ia dizer? "Isso é estranho? Isso é loucura? Isso é gostoso...?". Em qualquer uma dessas respostas ele estaria certo. Nós estávamos nos mexendo, na verdade... Nos esfregando mesmo. Minha respiração ficou tão ofegante quanto a dele. Ele então segurou meus dois pulsos e colocou meus braços pra cima, me imobilizando. Ele tinha afastado o rosto do meu pescoço e estava me encarando, quando de repente ele parou e se levantou apressado, ainda com a respiração alterada. Eu me sentei na cama tentando processar aquele momento, ele parecia estar tentando fazer a mesma coisa - Me desculpa.
- Tudo bem...
- Eu não sei o que me deu. - ele parecia atordoado.
- Sai, tudo bem. Você não precisa se desculpar, não foi nada demais. - tentei amenizar a situação.
- Nada demais? - ele soltou o ar e se sentou na cama, encostando as costas na cabeceira - Tem alguma coisa muito estranha acontecendo, Hinata. Eu posso sentir.
- Eu também sinto isso. - me aproximei e fiquei do lado dele. Teve uma coisa que ficou martelando na minha cabeça e eu decidi perguntar - Sai, aquilo que você disse pro Sasuke sobre esse limite que ele está tentando ultrapassar...
- Eu falei aquilo por impulso.
- Sobre ele querer a Ino também foi por impulso?
- Sim. Foi por impulso mas não deixa de ser verdade.
- Então você acha mesmo que o Sasuke...
- Eu não acho, eu sei. Hinata... - ele olhou pra mim - Você consegue entender o que tá no ar também, ou eu tô ficando maluco?
- Não, você não tá maluco, eu posso sentir também. É como se alguma coisa tivesse mudado entre nós seis.
- Ou mudou, ou essa coisa sempre esteve aqui e só agora está ganhando forma.
- Eu acho que depois do que aconteceu com a Ino... - soltei o ar - A possibilidade de perder alguém assim...
- Eu também acho que esse foi o gatilho.
- Sai, na hora que você falou aquilo pro Sasuke, soou como uma acusação. Você sente raiva dele por isso? Sente ciúmes?
- Não... - ele respondeu na hora, como se estranhasse a própria resposta - Sendo o Sasuke eu não sinto ciúmes porque eu amo ele também.
- Então por que falou com ele daquele jeito?
- É complicado pra mim, Hinata. Eu sinto que seria uma traição com a Ino.
- Traição?? - que absurdo - Claro que não, Sai. A Ino também faz parte disso. Com certeza ela não concordaria com você.
- Eu nunca tinha amado nenhuma garota de verdade até conhecer vocês três. - ele tocou de leve meu rosto - Eu, o Naruto e o Sasuke estamos juntos desde pequenos. Agora de repente eu olho pra eles de um jeito diferente... Sei lá, é difícil...
- Será mesmo que foi só desde agora que você passou a olhar pra eles de um jeito diferente?
- Hm?
- Se eu me lembro bem, vocês já fizeram algumas coisas no passado, não foi?
- Sim, mas foi só uma vez, e não foi nada demais.
- É claro que foi alguma coisa, Sai. Olha, eu acho que a Ino ia querer que a gente se unisse. Quando ela acordar, vamos ter que cuidar dela muito bem, e pra isso, precisamos cuidar bem uns dos outros.
- É verdade. - ele sorriu quando falei da Ino - Ela é tão livre.
- Ela é mesmo. - sorri também - Nunca teve medo dos próprios desejos.
- Eu aprendo muito com ela todo dia, e com vocês também.
- Sai, não devíamos negar um sentimento tão grande. Eu nunca achei que seria tão amada e que amaria tanto assim.
- Eu não sei se consigo lidar com tanto sentimento. - ele baixou o olhar, então eu ergui o rosto dele pelo queixo.
- Você não tem que lidar com nada sozinho.
- Obrigada. - ele sorriu e beijou minha mão - Hinata, você acha que o pessoal também se sente desse jeito?
- Com certeza sim.
- Temos que conversar todos abertamente sobre isso. É importante.
- Concordo.
Sasuke
Depois daquela confusão no refeitório, a Hinata foi pro quarto dela, e nós três fomos pro quarto da Sakura. Todo mundo parecia abatido demais. Nos sentamos na cama dela e ficamos quietos, pensativos por um bom tempo.
- Sasuke... - Sakura decidiu quebrar o silêncio. Ela me olhava séria e um pouco aflita ao mesmo tempo - O que o Sai disse é verdade?
- Sakura, é melhor esquecer o que...
- Responde. - ela me cortou.
- Bom, melhor eu deixar vocês... - Naruto foi se levantando mas a Sakura olhou brava pra ele.
- Não, fica aí. - ela falou autoritária, e ele voltou a se sentar. Depois ela voltou a olhar pra mim - E então Sasuke? É verdade o que o Sai disse sobre você querer transar com a Ino?
- Por que tá perguntando isso? - eu só consegui ser evasivo. Minha mente tava um caos.
- Você não negou quando ele disse. E ainda falou que a Ino não é só dele.
- Vocês precisam conversar a sós... - Naruto sorriu sem graça.
- Senta aí, Naruto. - dessa vez fui eu quem mandei, e ele se sentou novamente.
- Sasuke-kun... - ela se aproximou um pouco de mim - Eu não quero te pressionar, não tô com ciúmes nem nada.
- Não? - franzi o cenho.
- Não, é que... - ela soltou o ar - Com tudo que tá acontecendo me vieram umas coisas na cabeça, e eu quero saber se faz sentido pra todo mundo ou se eu tô viajando.
- Do que tá falando? - me aproximei também.
- Só de pensar em perder a Ino pra sempre eu piro. - ela me olhou com tristeza - Não consigo nem imaginar uma coisa dessas, e percebi que não posso perder nenhum de vocês também.
- Sakura... - segurei o rosto dela com uma das mãos - Você não vai nos perder.
- Eu amo muito você, Sasuke-kun... - ela baixou a cabeça e deixou cair uma lágrima. Meu coração saltou. Foi a primeira vez que ela me disse que me amava. Cheguei mais perto e abracei ela bem forte.
- Sakura... Eu também te amo! Te amo muito! - era a primeira vez que eu dizia isso pra ela também. Eu sentia aquilo mais forte do nunca e já não dava pra deixar dentro de mim.
- Olha só, que lindos. Vou deixar vocês aproveitarem o momen...
- Fica aí! - eu e a Sakura dissemos ao mesmo tempo. Dessa vez o Naruto soltou o ar e desistiu de vez.
- Sakura... - me afastei minimamente pra olhar pra ela - Que coisas exatamente você tem pensado?
- Eu sinto que tem um clima diferente entre todos nós. - ela explicou - Não é uma coisa nova, mas ao mesmo tempo é. Ah, não tô falando coisa com coisa...
- Não. - dessa vez foi o Naruto quem falou - Eu também sinto uma coisa diferente no ar.
- Então não tô ficando louca. - ela levou as mãos ao rosto bem rápido e voltou a olhar pra nós - Eu sinto de formas diferentes pra cada um de vocês, mas mesmo diferente, é tudo intenso.
- Eu sei o que você quer dizer, Sakura-chan. - Naruto se aproximou de nós - Eu não sinto por vocês a mesma coisa que eu sinto pela Hinata. O que eu sinto por ela é especial, é mais difícil de processar, mas... - ele hesitou - Não é só ela que eu amo... Não é só ela que eu quero. Eu amo vocês também... - ele baixou o olhar, parecendo envergonhado.
- É exatamente como eu me sinto também. - me senti aliviado depois que a Sakura disse isso. Eu achei que tivesse passando dos limites, mas percebi limites não pareciam existir entre nós. Foi assim desde o começo, com aquele jogo onde valia tudo... Nenhum de nós liga pra limites quando está perto um do outro.
- Acho que isso sempre existiu e só agora estamos nos dando conta. - acrescentei, e os dois olharam pra mim - Se não fosse assim, não teria acontecido aquela noite em que ficamos todos juntos.
- São pelas coisas mais sutis que dá pra perceber... - ela olhou pro nada, pensando - Vocês já repararam por exemplo em como o Sai e a Hinata são próximos?
- Eu já. Ou em como o Sasuke olha pra Ino... - Naruto comentou, e eu olhei pra ele de olhos saltados.
- O que quer dizer com isso, idiota?! - repreendi.
- Eu já reparei. - Sakura falou, e eu senti um frio na barriga.
- Sakura, olha... - eu ia tentar explicar algo que não tinha explicação, mas ela colocou os dedos sobre a minha boca e me parou.
- Tudo bem. - ela disse, sorrindo de leve - Eu já disse que não tenho ciúmes, é a Ino... Só quero que seja honesto com os seus sentimentos e comigo, Sasuke-kun.
- Droga... - hesitei. Aquela situação era difícil até pra mim. Dizer certas coisas em voz alta só reafirmavam a loucura em que a gente tava - É verdade sim... Eu me sinto atraído pela Ino... Muito.
- Eu não ligo. Sendo a Ino eu não ligo. - ela pareceu falar sério, e aquilo me aliviou ainda mais - Afinal, seria até hipocrisia da minha parte se eu me irritasse com isso...
- Hipocrisia por que...? - franzi o cenho - Você também se sente atraída por algum deles em especial, Sakura?
- Hm... - ela corou e desviou o olhar - Uhum...
- Quem? - perguntei, mas ela não disse nada. Só levantou devagar a cabeça e olhou pro Naruto. Ele saltou os olhos e ela desviou o olhar rápido. Já entendi tudo. Por incrível que pareça, eu não fiquei irritado, nem enciumado - Bom, tudo bem.
- An? O que? - Naruto ainda parecia confuso.
- Não consigo me sentir irritado quando está tudo entre nós seis. - confessei - Mas quando é com alguém de fora...
- Eu sei. - Sakura completou. Ela sabe o quanto eu sou possessivo, entende e aceita bem isso. Ela é perfeita demais pra mim.
- Isso é confuso. - Naruto soltou o ar com força - Além do mais, não sei como lidar com isso. Não me sinto pronto pra um sentimento tão fora de série assim.
- Naruto, resolve essa merda toda que você tem na cabeça de uma vez. Você tem cinco pessoas perto de você o suficiente pra te ajudar nisso, não vai ter chance melhor. - falei, e ele me olhou sério, já sabendo do que se tratava.
- De que merda o Sasuke tá falando, Naruto? - Sakura perguntou.
- Sawako... - ele hesitou antes de falar esse nome. Dava pra ver a sensação ruim que ele teve.
- Quem é essa? - Sakura quis saber mais.
- Minha ex. - Naruto ficou mais sério. Ele vai mesmo contar pra Sakura? Deve confiar muito nela - Ela me traiu de todas as formas que se pode trair alguém.
- Como?? O que ela fez? - Sakura se aproximou dele, mas ele se levantou e virou de costas.
- Não quero falar sobre isso. - eu sabia que ele não ia até o fim.
- É por causa desse trauma que você não assumiu a Hina, né? - Sakura constatou.
- Exatamente por isso. - ele confessou.
- Deixa de ser idiota! - Sakura jogou um travesseiro nele, e ele olhou surpreso. Eu tive vontade de rir - A Hinata não é essa tal de Sadako...
- É Sawako, não Sadako. - ele corrigiu.
- Tanto faz. - ela deu de ombros - Se você não se resolver logo com a Hina, ela vai fazer da sua vida um inferno.
- Eu sei que vai. - ele falou cabisbaixo.
- Além do mais, ela conheceu outro cara. - Sakura falou, em tom de deboche.
- O que? - isso fui eu quem perguntei. Fiquei surpreso.
- Pois é. - Sakura deu de ombros de novo.
- Naruto, idiota... - falei, e ele olhou pra mim - Resolve isso logo. Não deixa a Hinata ir pra cama com outro cara.
- E o que você tem a ver? - ele questionou.
- Tudo. - respondi - Sobre o que a gente tava falando agora há pouco? Idiota...
- Por que todo mundo me chinga?! - ele reclamou, e eu e a Sakura rimos.
Continuamos lá falando sobre vários assuntos, mas sem esquecer do mais "problemático". Ainda temos sentimentos e desejos não declarados uns pelos outros. Me pergunto até quando vamos nos manter firmes sem sucumbir à eles.
Peguei no sono e quando acordei já era noite. O Naruto e a Sakura ainda estavam capotados na cama. Meu estômago tava roncando, já que eu nem tinha tocado no meu almoço, então decidi ir atrás de alguma coisa pra comer. Peguei meu celular e saí do quarto sem fazer barulho.
Fui andando mexendo no celular, e vi que tinha uma mensagem da Karin de algumas horas antes:
"Amanhã eu vou lá, era só isso que eu queria te dizer hoje cedo. A Sakura está bem? Espero não ter causado problemas. Beijos!".
Boa notícia. Só não entendo essa súbita preocupação com a Sakura. A Karin tem andado esquisita, eu conheço. Já peguei ela olhando na nossa direção várias vezes, e me sinto mal. Não quero que ela fique se remoendo por eu estar com outra garota e acabe sentindo ódio da gente no futuro. Por enquanto ela tem sido muito madura e muito legal, mas me preocupo.
Cheguei no refeitório e coloquei moedas na primeira máquina de suprimentos que achei pra pegar um salgadinho qualquer. Tava tudo vazio, o que era normal pro horário. Ouvi alguns passos na minha direção e olhei pra trás.
- Eaí? - era o Sai.
- Oi. - respondi, pegando o salgadinho em seguida. Depois voltei a olhar pro Sai - Tá melhor?
- Eu tô bem. - ele se aproximou mais, parecendo triste - Olha cara... Me desculpa por hoje. Eu acabei descontando todo o meu estresse em cima de vocês. Foi mal mesmo, eu sei que falei besteira.
- Relaxa, por mim tá suave. Eu sei que você não é daquele jeito. Só tem que se desculpar com a Hinata, ela pareceu bem triste.
- Já falei com ela. Na verdade eu estava lá em cima com ela até agora. Desci pra comer alguma coisa.
- Quer? - ofereci um pouco do salgadinho erguendo o pacote na direção dele.
- Obrigado. - ele pegou um pouco e comeu.
Fomos andando juntos de volta pro dormitório feminino, acabando com o pacote de salgadinho. Não falamos nada no trajeto. Eu tava só o pó mesmo depois do cochilo, e ele não parecia muito disposto também.
- Bom, vou voltar pro quarto da Hinata. - ele falou quando chegamos no corredor - Não quero deixar ela sozinha.
- Faz bem. Eu e o Naruto estamos no quarto da Sakura. Qualquer coisa bate lá.
- Certeza. - ele ergueu a mão e nós batemos.
- Fica bem, cara. - fizemos nosso cumprimento seguido de um abraço, como sempre fizemos.
- Você também. Boa noite. - dava pra ver o quanto ele estava triste. Aquele abraço estava durando mais do que o normal.
Estávamos passando por um momento muito difícil com a Ino internada. Precisávamos muito uns dos outros. Com esse pensamento eu mantive firme meu abraço com o Sai. Ele baixou a cabeça no meu ombro, mas não chorou. Aquele abraço se tornou muito confortável.
De repente, ele me apertou com mais força. Meus olhos saltaram na hora, eu não reagi. Os braços dele se alongaram ainda mais em volta de mim. Tudo foi muito rápido, mais rápido do que a velocidade do meu pensamento. Talvez por isso eu fiz aquilo em seguida.
Empurrei ele na parede ainda abraçando. Ele não falou nada, mas ficou com a respiração acelerada, talvez pelo susto. Me afastei só pra ver a expressão no rosto dele. Ele estava de cabeça baixa, olhando pra mim, com o pescoço um pouco curvado. O corpo dele cedeu e ele acabou deslizando um pouco pra baixo, então eu prensei ele com uma das pernas e segurei ele mais firme. Fiquei olhando tentando entender. Ele tava com a guarda totalmente baixa pra mim.
- Acha que eu vou fazer alguma coisa? - perguntei, desafiando.
- Como assim?
- Você tá com cara de quem quer alguma coisa.
- Tá me desafiando, Sasuke? - ele se movimentou rápido e inverteu nossos papéis, me encostando na parede.
- Sobre o que você disse hoje cedo... - não sei porquê falei disso, só falei - Você tá certo. Eu quero... Com a Ino... - ele bateu minhas costas na parede. Essa porra doeu.
- E se eu te dissesse que também acho a Sakura uma delícia e morro de vontade...?
- Eu não duvido. Mas se falou isso só pra me provocar, não funcionou.
- Não sente ciúmes? - ele continuava me desafiando - Você é tão possessivo com ela.
- Você por acaso sente ciúmes em imaginar a Ino comigo? - ele cedeu com o olhar.
- Não.
- Eu já sabia. E eu também sei o que você quer, Sai... - ele me prensou ainda mais e chegou bem perto, ainda me olhando de um jeito desafiador. Agora quem tinha baixado a guarda era eu.
- E você vai me dar, Sasuke?
Acho que tá todo mundo à flor da pele. Num minuto a Ino estava com a gente, rindo, bem, saudável... E no outro ela estava numa cama de hospital à beira da morte. Ela é jovem e cheia de vida, mas isso não importou. Agora ela tá lá, lutando pra sobreviver, dependendo de um doador de sangue. Basta só um minuto, um instante de distração, um acidente, um atentado... De um minuto pro outro nossa vida pode acabar. A Ino podia estar morta. Será que ela teria morrido com a vontade não saciada de experimentar alguma coisa? Será que ela teria morrido com a sensação de não ter feito tudo que quis, fosse por medo ou qualquer outro motivo? E eu? Se eu morresse agora, partiria satisfeito por ter feito tudo que eu quis, sem arrependimentos? Com certeza não.
- Você tá perto demais, Sai. - falei, mas ele não se mexeu. Continuou me encarando impassível.
- Não o suficiente. - soltei o ar. Sinceramente, eu já tava sentindo que ele tava duro há alguns minutos, e eu acabei ficando também. Ele percebeu - Acho que estamos todos passando pela mesma coisa.
- Tem um coração só que bate por nós seis... - falei isso sem pensar, com a melhor descrição que pude fazer do que sentia. A expressão dura do Sai se desfez, e ele ficou como eu - Estamos fodidos.
- Estamos.
- Você é o mais fodido de todos, Sai. Olha como você tá. - olhei pra baixo, depois pra ele de novo.
- É você quem vai ficar fodido quando eu usar isso em você, Sasuke. - ele falou isso como se não fosse nada. Depois dessa eu não consegui falar mais nada. O próprio Sai depois pareceu chocado com o que ele mesmo disse - Boa noite.
- Boa noite, até amanhã. - respondi da forma mais natural possível e cada um foi pra um lado.
Voltei pro quarto e os dois ainda estavam dormindo. Deitei do lado da Sakura, o rosto dela tava virado pro meu. Acabei sorrindo involuntariamente e acariciando o rosto dela.
- Te amo... - sussurrei.
- Também te amo... - ela falou ainda de olhos fechados, sonolenta.
- Achei que estivesse dormindo.
- Tô acordada há um tempinho.
- Por que não levantou?
- Tá na hora de levantar por acaso?
- Grossa. - ela abriu os olhos sorrindo travessa. Eu tava sorrindo também.
- Onde você tava, Sasuke-kun? - ela esfregou os olhos devagar.
- Fui pegar um salgadinho lá embaixo e voltei. Tava com o Sai agora há pouco.
- Ele tá melhor?
- Tá sim, até me assustou um pouco.
- Como? - ela franziu o cenho, curiosa.
- Achei que ele fosse me comer.
- Sério? - ela começou a rir.
- Shh! É sério... - comecei a falar mais baixo - Fiquei assustado.
- Assustado ou excitado? - ela ainda tava rindo.
- Assustado e excitado.
- E o que rolou?
- Nada, ué. - falei como se fosse óbvio.
- Por que?
- Como "por que"? Eu sou seu namorado, você não devia me incentivar a isso.
- Será que a Ino ia gostar de ver a gente fugindo assim, Sasuke-kun...? - ela ficou mais séria, e eu não respondi, só comecei a pensar.
Nós realmente estávamos fugindo. Mas até quando isso se estenderia? Continuava me perguntando.
No dia seguinte acordei com a Sakura me chacoalhando. O Sai avisou todo mundo que o Yamanaka estava no hospital e pediu pra irmos. Já preparei meu psicológico.
Pegamos um táxi e chegamos rápido. Demos de cara com o pai da Ino logo na sala de espera da recepção. Eu não esperava ver ele lá.
- Bom dia! Que bom que vieram. - ele se levantou prontamente quando nos viu.
- Viemos o mais rápido possível. - Sai disse, ele estava bem sério, parecia preocupado - O que aconteceu?
- Pensei que encontraríamos o senhor na UTI. - Hinata questionou.
- Não vamos mais precisar ir pra lá... - ele falou, já esboçando um sorriso - A Ino não está mais na UTI, foi transferida pro quarto hoje!
- Sério?? - Naruto arregalou os olhos entusiasmado, assim como as meninas - Isso significa que ela tá melhor, né?!
- Sim! - o Yamanaka respondeu com os olhos brilhando - O médico disse que ela está estável. Minha filha não está mais correndo risco de vida! - essa era a notícia que todos precisávamos receber. Eu senti como se tivessem tirado uma bigorna de cima de mim e eu finalmente pudesse respirar. Fiquei muito feliz, mas nada surpreso. O pessoal tava em êxtase, o Sai mal tava conseguindo segurar as lágrimas e o sorriso.
- Como isso aconteceu? - Sakura perguntou, com a voz embargada, mas dessa vez o choro era de felicidade, com certeza.
- Conseguimos um doador, fizeram a transfusão hoje bem cedo. - o mais velho explicou - Parece que foi um rapaz, veio doar sem nem saber do caso da minha filha, só quis um dia de "folga" do trabalho.
- Nossa, tem gente que ainda faz isso? - Hinata torceu o nariz.
- Foda, né? - Sakura comentou, em seguida tapou a boca envergonhada e olhou pro pai da Ino - Ai, desculpa...
- Tudo bem. - ele riu - Bom, independente do motivo, o que importa é que isso salvou a vida da minha filha.
- Podemos ver ela? - perguntei na esperança.
- O médico disse que talvez mais tarde, mas ela ainda não recuperou a consciência. - tsc - Pode ser que ela demore pra acordar.
- Mas ela não vai ficar naquele coma lá não, né? - Naruto perguntou.
- Não. Ela só não recuperou a consciência ainda. Olha, muito obrigado à todos vocês por estarem presentes pra minha filha. Como pai eu nem tenho como agradecer. - ele olhou brevemente pra cada um de nós.
- E a sua esposa, mãe da Ino? Não pôde vir ainda? - perguntei dessa forma porque é o mais óbvio.
- Ela... - ele hesitou e sua expressão se fechou - Infelizmente ela não vai poder vir.
- Hm, entendo. - não me convenci nem um pouco. Que mãe não vem ao encontro da filha numa situação dessas? - É uma pena.
Todos estávamos felizes. Me senti muito aliviado. Essa foi por pouco. Agora posso respirar melhor pra planejar como acabar com a maldita que fez isso.
- Você ouviu isso?? - do nada fui surpreendido com um abraço da Sakura. Ela tava saltitante, quase me derrubou. Eu acabei rindo - Logo logo vamos ter a Ino de volta!!
- Vamos sim. - respondi, dando um beijo rápido nela. Já falei como ela fica linda quando sorri?
***
Karin
Sei que é estranho eu estar aqui, mas queria contar o meu lado da história. Os sentimentos de alguém são o mundo interno dessa pessoa, então ninguém consegue entender melhor os meus sentimentos do que eu. Por isso, achei necessário e justo que vocês soubessem por mim, até porque os Perdidos com certeza não fazem ideia do que eu tenho passado.
Os últimos acontecimentos me derrubaram, mas também me ajudaram a crescer e enxergar muitas coisas. Eu estou passando pela fase de transição mais difícil e mais importante da minha vida, que começou desde que o Sasuke terminou comigo.
- Tá pronta? - Sasuke me perguntou com a voz suave.
- Sim... - eu estava apavorada, mas sentia que era a hora certa.
- Tá bom, então... Eu tô entrando. - ele me falou antes de se inserir devagar dentro de mim. Acabei gritando involuntariamente. Doeu muito mais do que eu imaginava. Ele então me olhou preocupado e parou - Tô te machucando? Quer que eu pare?
- Não, tudo bem... - minha voz saiu trêmula. Eu já vinha enrolando por muito tempo e não queria dar pra trás de novo. Meu corpo estava todo rijo e eu me sentia estranha - Pode continuar.
- Tá bem... - ele continuou e foi se movimentando cada vez mais. Vi a expressão no rosto dele e me senti bem por estar dando aquele prazer à ele. Não consegui relaxar, mas fui me acostumando com aquela dorzinha. Não demorou muito pra acabar. Ele se mexeu bem rápido e depois parou, soltando o ar com força - Ah... Obrigado por isso, Karin. Foi incrível.
- Você é incrível, Sasuke. - abracei ele enquanto acariciava seus cabelos. O prazer que eu senti naquele momento foi puramente por dar prazer pra ele. Mas naquela hora eu pensei que talvez fosse porque ainda era a minha primeira vez, e com o tempo eu conseguiria me sentir mais contente.
Foi mais ou menos assim que perdi a virgindade, e claro que foi com o Sasuke. Ele foi meu único namoro sério, e na minha ingenuidade e imaturidade, eu achei que ele fosse o homem da minha vida.
Nossa vida sexual não deslanchou como eu achei. Primeiro porque eu nunca consegui nem falar sobre sexo de forma explícita e vulgar pra provocar, como todos os casais fazem. O Sasuke tentava me estimular e fazer eu me soltar, mas não adiantava, eu simplesmente não conseguia. Ficava com vergonha.
E tem outro detalhe... Eu nunca cheguei ao orgasmo com ele. Todas as vezes em que gozei foi sozinha, quando eu mesma me tocava. Eu sempre tive muito pudor, mas ao mesmo tempo muita líbido. De alguma forma eu tinha que extravasar. Provavelmente o Sasuke acha que eu sou frígida ou coisa do tipo, mas não sou. Eu tenho muita vontade de transar, mas demorei muito pra aceitar como eu gosto. O Sasuke foi um bom parceiro, sempre se esforçava pra me dar prazer, não era egoísta, mas simplesmente não rolava.
Bom, dizem que a nossa verdade sempre vem à tona. Eu fugi bastante da minha, mas uma hora ela bateu na minha porta e deu um belo soco na minha cara.
- Eu nem sei qual delas é pior. - Samui comentou enquanto almoçávamos.
- Com certeza é aquela Ino. - Tsuchi rebateu. O esporte preferido das duas agora é falar mal das alunas mais populares da Kage. Tem sido assim desde que entramos aqui - Ela é a que tem mais cara de vagabunda.
- Meninas, por que a gente não muda de assunto? - eu já tava de saco cheio.
- Concordo, amiga. - Samui falou olhando pra Tsuchi, me ignorando completamente - Mas as outras duas também parecem ser muito vadias. Sério, elas estavam dando em cima dos nossos boys aquele dia.
- Eu percebi! - Tsuchi concordou.
- Elas não foram tão ruins. - comentei, e as duas me olharam surpresas - Sério, elas até que foram simpáticas aquele dia.
- Tá brincando, né? - Tsuchi me olhou com cara de nojo e surpresa - Já deu pra ver que elas não prestam.
- Não prestam? - sorri, balançando a cabeça negativamente - Não dá pra deduzir isso assim. A gente nem conhece elas direito ainda.
- Nem precisei deduzir, elas confirmaram. - fiquei confusa e ela continuou falando - Elas mesmas disseram que fazem aquelas coisas nojentas uma com a outra. Eca! Só de imaginar me dá enjôo!
- Né?? - Samui concordou - E elas ainda falam com a maior naturalidade, como se fosse super normal!
- Bom... - hesitei um pouco - Pra elas é normal. Acho que... Se elas se sentem bem com isso...
- Pára, pára, pára! - Tsuchi sacudiu a cabeça e tapou os ouvidos rapidamente - Não quero nem ouvir esse absurdo, Karin.
- Eu só tô dizendo que...
- Você acha isso normal?! - Tsuchi me cortou - Desde que o mundo é mundo, todo mundo sabe que o homem foi feito pra mulher, e a mulher foi feita pro homem. Ponto!
- É, amiga. - Samui olhou pra mim indignada - Você vai aprovar um comportamento que acaba com a reprodução da sua própria espécie? Acorda.
- Sexualidade não é um comportamento, Samui. - fiz cara de nojo pra ela, já sem paciência.
- Karin, amiga, olha só... - Tsuchi me cutucou, tentando falar num tom de voz maternal - Eu sei que você é uma boa alma que adora defender essa gentalha, minoria, excluídos da sociedade e blá blá blá... - nossa, que lixo - Mas você não pode ajudar todo mundo, meu amor.
- An?? - estreitei os olhos e entortei os lábios, sem entender a asneira que ela tava falando.
- Amiga... - ela segurou meu queixo - Tô falando pro seu bem. Não tenta defender gente assim, não vale a pena.
- Gente, eu só acho...
- Karin! - Tsuchi me cortou de novo - O Adão comeu a Eva, ele não comeu outro Adão. Também não existem duas Eva's se pegando em lugar nenhum. Entende a mensagem.
- Deixa de ser hipócrita, Tsuchi. - estreitei os olhos pra ela - Você nunca leu a bíblia, na verdade nunca leu livro nenhum na vida. Nem cristã você é.
- Não estamos falando de religião, amiga, estamos falando de comportamento. - isso foi a Samui quem falou.
- Eu já disse que isso não é um comportamento! - fiquei irritada.
- Relaxa aí, nervosinha. - Tsuchi falou, debochando - Você anda muito estressada, tá precisando dar. - as duas começaram a rir e eu levantei - Ué, onde você vai?
- Perdi o apetite. - dei as costas e saí.
Era sempre assim. Não dava pra ter uma conversa legal com elas. Elas só falavam de dinheiro, beleza ou mal dos outros. Eu só me divertia de verdade com elas quando bebia umas a mais, o que era difícil eu fazer. Vocês devem estar se perguntando como cheguei à esse ponto.
Meus pais são muito militares comigo. Tudo sempre tem que estar nos conformes, nenhuma nota ruim, nenhum escândalo, nenhum fio de cabelo fora do lugar... Foi assim que eu cresci. Minha família é muito tradicional, eles tem uma mentalidade antiquada. Passam bastante tempo criticando os outros, principalmente a liberdade dos outros. Crescendo nesse ambiente, eu nunca consegui fazer nenhum amigo de verdade até conhecer o Sasuke.
Eu via ele algumas vezes quando éramos crianças, em datas comemorativas quando eu ia pra casa da tia Kushina... A melhor tia de todas! Ela sempre foi muito amiga pra mim, mas infelizmente eu via ela pouco, principalmente quando entrei na adolescência. Minha mãe não queria que eu acabasse "como ela". Na verdade, eu acho que minha mãe sempre teve inveja dela, porque a tia Kushina era a irmã mais jovem, mãos bonita, mais descolada e mais feliz que ela. Triste, né?
Enfim, o Sasuke ia muito pra casa do Naruto, e foi assim que eu conheci ele. Achei ele o máximo. Ele era o amigo maneiro do meu primo retardado. Ah, sim, o Naruto é meu primo. Nós dois somos Uzumaki. Eu sempre invejei o meu primo por ele ter os melhores pais do mundo.
Bom, fui crescendo como amiga do Sasuke. Ficamos muito próximos. No nosso antigo colégio, ser a namorada do Sasuke Uchiha era o sonho de todas as garotas, mas a verdade é que ele não dava bola pra nenhuma. Elas não conheciam ele, só queriam ficar com o cara popular que mandava na escola. Eu sim sabia que muito além de tudo isso, ele era uma pessoa incrível, de caráter, inteligente e um ser humano excepcional. O Sasuke sempre foi assim, sempre cuidou de todo mundo. Por isso os meninos respeitam tanto ele. Por eu sempre estar do lado dele e o admirar pelo que ele realmente é, ele me escolheu. Ele mesmo já me disse isso.
Me senti nas nuvens quando começamos a namorar. Logo eu, a intelectual esquisita, a garota sem nenhuma inteligência social, de repente estava namorando o cara mais cobiçado. É claro que isso não subiu minha cabeça, eu fiquei com o Sasuke porque realmente gostava dele. Eu amei ele, e muito. Na verdade ainda amo, mas agora de um jeito diferente.
Conheci a Tsuchi e a Samui quando elas começaram a namorar os meninos, e elas pareciam tão entrosadas. Quando saíamos, eu me sentia excluída. Os meninos queriam falar sobre coisas de homem, e elas conversavam sobre assuntos que não me interessavam muito. Depois de um tempo, decidi me enturmar com elas pra não ficar de lado. Eu não tinha vida social, não tinha nenhum amigo fora daquele ciclo, então dancei conforme a música. Em resumo, foi assim que eu me tornei a namoradinha modelo do Sasuke e a amiga da Tsuchi e da Samui, tão nojenta quanto elas.
Agora que sabem da minha história, quero contar algo que vai fazer com que entendam como eu me senti. Tudo começou há pouco tempo. O Sai e o Naruto já tinham terminado com as meninas e elas estavam insuportáveis. De alguma forma, eu sabia que seria a próxima. Na verdade, desde que comecei a namorar com o Sasuke, senti que a minha "felicidade" tinha prazo de validade.
Eu estava caminhando em direção à biblioteca durante a tarde. Como eu era nova na Kage, ainda me perdia no prédio, então fui parar nos corredores.
Estava tudo vazio e tranquilo, mas eu comecei a ouvir uns ruídos. À medida que eu andava, eles ficavam mais altos. Fiquei curiosa e segui o som, até que parei assustada... Percebi que eram gemidos. Gemidos misturados com algumas palavras, não dava pra entender claramente. Fui chegando perto e eles ficaram mais claros. Eram gemidos masculinos, e a voz era familiar... Me veio um arrepio na espinha. Encostei na parede com cuidado pra não ser vista, e foi quando eu ouvi.
- É seu!! - ao ouvir esse grito, eu olhei, e foi quando o meu coração parou... Era o Sasuke. Eu vi ele gozando, com uma expressão que ele nunca fez pra mim, olhando pra Sakura de um jeito que ele nunca olhou pra mim. E a expressão dela...
Fiquei tão assustada e desacreditada que não consegui reagir. Minha respiração ficou descompassada e eu achei que fosse desmaiar. Reuni minhas energias e saí apressada de lá, sem me importar se me ouviriam ou não.
Comecei a correr que nem louca naquela escola, sem rumo, de um lado pro outro. Entrei no primeiro banheiro feminino que achei e me tranquei numa cabine. Lembro que lá dentro eu dei um grito alto e estridente, de tanta raiva. Meu sangue tava fervendo e meu coração parecia que ia sair do corpo. O choro veio descontrolado, dolorido e agonizante. Fiquei um bom tempo naquele banheiro, pensando em como ia matar aqueles dois desgraçados. Fazendo aquilo pelas minhas costas, no meio do corredor da escola... Era o cúmulo da falta de respeito! Eu não podia deixar aquilo passar. Depois de um tempão, saí de dentro daquela cabine decidida a fazer um escândalo.
Andei na direção do dormitório masculino, mas a Kage é enorme, então eu teria que andar consideravelmente. Na minha cabeça vários pensamentos se misturavam... Eu já esperava por aquilo, por mais absurdo que fosse. Eu notei como o Sasuke olhou pra Sakura desde o primeiro dia, eu também olhei bastante pra ela. Realmente ela chama muita atenção, dizer só que é "bonita" chega a ser frívolo. Naquele momento, comecei a pensar se não seria melhor confrontar os dois sozinhos ao invés de armar um escândalo. Aquilo só ia me expor ao ridículo.
Passando de novo pelos corredores, eu estava ainda mais cansada fisicamente e mentalmente. E se eu confrontasse os dois, o que iam dizer? Me pediriam desculpas e pronto? Sobre o Sasuke eu poderia até imaginar, mas a Sakura eu não conhecia direito. E se ela fosse maldosa a ponto de rir de mim? Ela só me veria como a namorada patética do Sasuke, a garota louca que arma um barraco mas que não passa de uma insegura. Decidi então que confrontaria o Sasuke a sós, afinal era ele quem namorava comigo, ele quem me devia explicações.
Alcancei o pátio, pensando em como seria esse confronto, se ele tentaria negar ou se pediria perdão. O Sasuke ainda me intimidava, então fiquei com medo de chorar na frente dele. Estava óbvio que ele já não gostava mais de mim como mulher, então pra quê o confronto? Ele não ia saber o que me dizer, e eu só iria me machucar mais.
Quando finalmente subi as escadas, já tinha assumido a posição de "corna mansa". Não sei como, mas no meio daquela escuridão e caos, uma ponta de claridade me fez concluir que não valeria a pena. Ele me traiu e ponto. Estava decretado o nosso fim. Que pelo menos a gente terminasse de forma digna, humana. Definitivamente eu não queria ser a chifruda inconformada cheia de ódio e desejo de vingança. O Sasuke e a Sakura nunca vão saber da cena em que flagrei eles.
Bom, do resto vocês já sabem. Nós terminamos e agora consigo manter uma amizade com ele. Bizarro, né? Mas eu não sou a santa racional e equilibrada que estou parecendo pra vocês até agora. Eu sou humana é também caio nas ciladas dos meus sentimentos.
Desde aquele dia, só uma pergunta pairava na minha cabeça... Por que?
Por que ela? Por que o Sasuke perdeu o controle a ponto de fazer aquilo com ela num lugar onde sabia que poderia ser pêgo? Por que ele assumiu ela logo depois do nosso término sem conseguir ao menos esperar? E o jeito como ele sempre olhou pra ela... Por que?
O que ela tem que eu não tenho? Ou melhor... O que ela tem? Só isso. Eu estava disposta a descobrir, e foi aí que se iniciou o meu delicioso tulmulto interno.
Passei a seguir a Sakura. Eu observava ela durante as aulas, no almoço, depois das aulas... Tudo de forma bem discreta. Dizem que é normal que a pessoa traída fique obcecada pelo objeto da traição. Normalmente as pessoas fuçam as redes sociais, observam fotos e tudo mais, mas eu estava muito além disso. Eu tinha a atual do meu ex pessoalmente todos os dias. Era muito mais fácil de observar.
Por vários momentos eu me senti uma idiota, uma louca, desequilibrada. Pra que continuar me prendendo a algo que não ia me acrescentar nada? Não importava o motivo do Sasuke ter se apaixonado por ela afinal, só importava que era ela quem ele queria, né? Sim, eu sabia de tudo isso. Eu sabia que só estava arrumando pra cabeça, que só iria me machucar mais, mas eu não pude parar. Acabou virando parte da minha rotina, e quando dei por mim, eu já não seguia meu dia sem isso. Ficava entendida se não fizesse. Passou a ser a coisa mais excitante da minha vidinha monótona. Tinha sempre o perigo dela me pegar, eu não sabia qual seria o próximo passo dela, quando ela ficaria com as amigas ou quando ficaria com o Sasuke... Enfim, eu me perdi naquilo.
Eu me sentia culpada também por fazer aquilo. A Sakura armou o maior escândalo na escola quando descobriu que o diretor stalkeava ela, imagina como ela se sentiria se descobrisse que eu passei a fazer o mesmo. Com certeza ia querer acabar comigo, teria repulsa de mim igual teve do Kakashi sensei. No dia que ela explodiu com ele, eu confesso que me senti mal por ela. Ela era a vítima da história e mesmo assim ainda tacaram pedras nela e nos amigos dela. Aquilo me enojou, essa escola fede com o cheiro desses alunos hipócritas e infelizes. Mas ainda assim, eu não desisti. Comecei a observar ela logo depois daquilo, logo que ela e o Sasuke oficializaram o namoro. Eu sabia que era errado, até doentio, mas isso não me impediu. Eu queria... Não. Eu PRECISAVA saber mais sobre ela.
Em pouco tempo, pude perceber traços da personalidade dela, trejeitos e tudo mais. Ela não é do tipo fofinha, muito pelo contrário, ela é do tipo autoritária. O clubinho deles estava reunido sempre durante as aulas, e quando andavam juntos no corredor, a maioria ficava olhando. Muita gente fala mal deles, mas a verdade é que muitos tem inveja deles. O Sasuke e a Sakura sempre estão andando um pouco na frente dos outros. O Sasuke caminha ao lado da Sakura do mesmo jeito que ele caminhava sozinho quando comandava nossa outra escola. A Sakura é uma líder, assim como ele.
Ela é carismática. Fala com as pessoas usando microexpressões de felicidade genuína, está sempre com a cabeça erguida, direcionando o olhar pra frente, nunca caminha de cabeça baixa. Além disso, ela tem um belo sorriso, e passa autoridade quando parece estar brava. Sim, dá pra observar tudo isso de longe numa pessoa, só analisando a postura e linguagem corporal dela. A Sakura é linda e sabe disso, ela exala tanta autoconfiança que acaba magnetizado todos em volta. A Ino e a Hinata também demonstram ser assim, mas não prestei muita atenção nelas.
Depois de tanto observar, pude entender perfeitamente o que enlouqueceu tanto o Sasuke. Como não se apaixonar por alguém como a Sakura? Ela é do tipo que os homens gostam. Segura de si, personalidade forte, fora a beleza dela. Um rosto tão simétrico, uma pele clara e vistosa, olhos verdes brilhantes, lábios avermelhados um pouco carnudos, um corpo torneado e feminino ao mesmo tempo... Tudo isso chega a ser covardia. Sem falar que ela é a única garota dessa escola com o cabelo rosa, é como uma marca registrada.
Logo eu parei de seguir ela. Eu estava certa, aquilo só me machucou mais, ferrou com a minha auto estima. Não tinha como eu competir com ela, nunca. Foi assim que eu passei a enxergar a Sakura... Como uma coisa de outro mundo. Pra mim ela não era só mais uma garota bonita comum. Ela acabou se tornando um tipo de referência pra mim.
Eu achei que me sentiria melhor quando parasse de observar tanto ela, mas não. Eu só pensava nisso, em como ela é sedutora, hipnotizante, em como o Sasuke deve ficar louco com ela... Inferno na minha cabeça! Eu me pegava olhando pra ela no meio da explicação do professor, prestando atenção nela concentrada na aula, tentando resolver uma equação, bagunçando o cabelo por ficar confusa, se espreguiçando na cadeira, mordendo o lápis... Ahhh!! Muito enlouquecedor! Fora o mico que era quando o Sasuke me pegava olhando na direção deles. Ele deve pensar que eu ficava olhando pra ele, mal ele sabe que era pra Sakura. Mas ela nunca olhava na minha direção. Era como se eu fosse invisível, ela não ligava de eu estar na mesma sala que eles, minha presença parecia ser indiferente... Eu não existia pra ela. Por outro lado, ela estava na minha mente o tempo todo. Não é justo, certo? Comecei a pensar algumas coisas... Será que ela me odeia? Ela me acha tão insignificante como mulher a ponto de nem se incomodar em ter a ex do namorado dela tão perto? Será que ela já riu de mim? O que ela pensa de mim? Caramba, será que ela tem alguma opinião sobre mim??
Aquilo passou a me incomodar muito. Eu queria que a Sakura me enxergasse, era o justo, certo? A garota me ferra, rouba o meu namorado e ainda age como se a minha presença não fosse nada demais?! Ela sempre agiu como se eu não existisse! Desde o início. Será que ela me via como alguém tão patética assim? Será que me acha feia?? Ela não se importa em ter feito o que fez comigo? Que saco... Ela podia demonstrar pelo menos um pouco de remorso. Sim, eu estava com raiva, e triste. Na verdade, eu estava magoada... A Sakura estava me magoando.
Eu não sabia porque estava me sentindo daquele jeito. Eu não conseguia encontrar paz, só pensava na Sakura, no que ela estaria fazendo, em como se sentia, se estava feliz, triste, chateada, com raiva... Por que isso?? Fora isso, eu ficava martelando sobre o que ela pensava de mim. Eu precisava saber... Precisava saber se ela me achava bonita, se me via como alguém interessante, se me reconhecia. Eu queria que ela me reconhecesse.
Numa tarde aleatória, eu decidi tomar ar fresco. Queria meditar, interagir com alguém, fazer qualquer coisa que me tirasse dos meus pensamentos. Acabei indo parar perto do prédio do ensino médio. Lá tinha um jardim diferente que me chamou a atenção... Eram flores de cerejeira. Eu não sabia que plantavam esse tipo de flor na Kage. Estavam muito lindas, então fui pra perto delas. O cheiro era delicioso e suave, e elas pareciam sorrir pra mim. Ali naquele jardim eu me senti bem, pude respirar. Colhi uma das flores, e fiquei acariciando e olhando pra ela. Um sorriso aos poucos se formou no meu rosto... Aquela flor era tão bonita, tão perfeita. Antes que eu me desse conta, já estava de olhos fechados, passando aquela delicada flor sobre a minha pele... Pelo meu rosto, meu pescoço, meu peito. Fiquei numa espécie de estupor, foi uma pequena viagem. Voltei pro meu quarto levando a flor comigo.
Nos dias que se seguiram eu voltei pro jardim e colhi mais flores. Fui até o refeitório e fiz um chá. Nunca fui muito de tomar chá, mas aquele era tão gostoso que acabou virando hábito. Dizem que o chá de sakura representa amor. O sabor é doce, e o aroma é delicado. Com certeza foi o melhor chá que eu já tomei.
Passei a olhar mais pro meu corpo ao sair do banho. Ficava um tempo na frente do espelho, e quanto mais eu olhava, mais gostava dele. O corpo de um homem nu nunca me foi muito atraente. Pra mim, o homem quando está pelado não é tão bonito. Já a mulher quando nua... É linda.
A essa altura vocês já devem ter notado, certo? Alguma coisa mudou dentro de mim. Eu não tinha certeza do que era, mas de certa forma tinha esperanças de que me sentiria melhor se descobrisse. Pra ser sincera, tem mudanças que parecem tão drásticas, que acabam metendo um medo gigante. E foi assim que eu fiquei quando uma voz dentro de mim me dizia pelo que eu estava passando... Fiquei apavorada. Eu tinha que constatar que era verdade, e o próprio Universo tratou de conspirar pra isso. Lembram do episódio no banheiro?
Naquele dia eu estava me sentindo especialmente péssima. Eu me sentia nojenta por desejar o que eu estava desejando, e não podia desabafar com ninguém sobre isso. Eu estava sozinha e aquilo estava acabando comigo. Ao mesmo tempo que eu me sentia bem por estar me conhecendo mais, me sentia assustada com essa nova versão de mim.
Eu não estava com cabeça pra estudar, então fui pro banheiro. Me tranquei lá e comecei a chorar... Eu me sentia tão patética. Não conseguia nem tomar conta de mim mesma. Me sentia um lixo. Respirei fundo algumas vezes e saí da cabine.
Tomei um susto quando vi a Sakura lá. Logo ela estava lá... Provavelmente me ouviu chorar. Será que ela faz ideia de que ela é o principal motivo do choro? Não adianta... Não consegui olhar pra ela sem pensar que o meu desejo sujo mais íntimo nunca iria se realizar. O choro voltou... Voltou por eu saber que não teria o que queria, e por querer aquilo que eu queria. Era um conflito interno muito difícil de lidar.
- Toma. - Sakura me estendeu um lenço... Meu coração de repente deu um pulo dentro de mim. Só porque ela estava sendo gentil comigo eu fiquei tão... Feliz.
- Obrigada... - peguei o lenço que estava na mão dela, e quando toquei nele levei um choque. Foi tão bom me enxugar com ele... Estava com o cheiro dela.
O choro cessou, só com aquilo. Senti um frio na barriga tão bom por ter aquela interação. Não queria que acabasse ali, precisava de um pouquinho mais, só um pouquinho.
- Ehh... - senti dificuldade em falar.
- Hm? - ela olhou pra mim, me dando a atenção que eu queria.
- Pode me emprestar...? - apontei pro batom na mão dela, nervosa, com medo dela não querer me emprestar.
- Ah... Claro. - ela não liga de eu usar o mesmo batom que ela! Fiquei ainda mais feliz.
Eu não uso maquiagem, nunca liguei pra batom e tudo mais, mas passei aquele nos meus lábios com o coração acelerado. Ela tinha acabado de passar na boca dela e agora eu estava passando na minha... Algumas pessoas chamam isso de beijo indireto.
A melhor parte foi quando eu quis devolver e ela não deixou. Ela sorriu pra mim, de um jeito verdadeiro, como ela sorri pros amigos.
- É seu. - ela me disse isso enquanto fechava minha mão no batom e sorria, olhando nos meus olhos. Era a primeira vez que ela tocava em mim, meu corpo todo tremeu. Naquele momento só consegui fechar os olhos, sentindo o cheiro dela de perto. Ela não me odiava, não me achava patética, não ria de mim... Com certeza não. Ela não é esse tipo de pessoa, senão não seria gentil comigo. Esse batom que ela me deu foi a melhor coisa que já ganhei e ela nem imagina.
Mais tarde no meu quarto, eu estava em êxtase. Me joguei na minha cama sentindo um vulcão na barriga, não conseguia parar de sorrir. Era uma sensação tão boa, eu me sentia uma boba, mas era inevitável. Fiquei lembrando de cada segundo daquele pequeno momento, incluindo as palavras dela... "Ficou lindo em você"... Ficou lindo em mim? Ela achou mesmo isso? Então posso pensar que ela vê beleza em mim, certo...?
O batom que ela tinha acabado de usar ainda estava fresco na minha boca. O cheiro dela ainda estava nas minhas mãos. Quando me peguei aproveitando a amostra que ela deixou na minha pele, me veio uma emoção tão forte que meus olhos marejaram e meu peito ardeu. Meus dedos se sujaram nos meus lábios e desceram pra minha pele, passando pelos meus seios, minha barriga, até chegar lá embaixo... Quando dei por mim já estava me masturbando.
Comecei a circular os dedos no meu clitóris molhado, sentindo a vibração reverberar por todo o meu corpo. Imaginei a Sakura sentindo o mesmo que eu, pensei na pele dela, no cheiro dela, nos olhos, na boca... Imaginei como seria o resto do corpo dela, as partes íntimas que eu nunca vi. Eu movimentava ainda mais os dedos enquanto pensava em tudo isso, e comecei a gemer alto. Se aquele alarme não tivesse tocado naquela hora, eu não teria me segurado.... Teria beijado ela. Foi por pouco, muito pouco! Teria feito mais que isso... Teria apertado o corpo dela, sugado a pele dela, teria lambido ela inteira. A minha vontade era de hidratar todo o meu corpo com o suco da boceta dela... Gozei pensando nisso.
Se eu ainda tinha alguma dúvida, depois daquele dia elas desapareceram. Aquele orgasmo intenso que eu tive foi o tal soco de realidade que eu recebi na cara. Essa realidade é a mais absurda, inimaginável, louca e excitante de todas... Eu estou apaixonada pela minha rival. Nunca senti nada parecido, é um sentimento que me consome noite e dia e do qual eu não consigo fugir. Eu bem que tentei, foi difícil aceitar, mas uma pessoa não pode mentir pra si mesma pra sempre. Eu sempre fugi, sempre me adequei aos desejos dos outros e nunca aos meus, sempre tentei ser a pessoa ideal pra todo mundo... A filha ideal, a namorada ideal, a amiga ideal. Não quero mais ser ideal, quero ser eu mesma!
Vou fazer o que acho certo dessa vez, por isso vou ajudar os Perdidos. Eles são a personificação de amizade, paixão, amor e liberdade que eu tanto preciso e admiro. Não merecem ser vistos como vilões e serem odiados por todos. Já passaram por muita coisa. Por isso eu decidi... Quero ser a melhor amiga deles! Quero que enxerguem em mim uma aliada.
Quanto à Sakura... Droga, eu poderia atacar ela a qualquer momento! É difícil me segurar, eu tenho que me tocar todos os dias, beber bastante chá e respirar muito fundo pra me conter. Todo esse tesão que ficou incubado em mim durante esses anos, agora foi direcionado à ela. É como se eu tivesse me transformado numa Besta. Aliás, era esse o meu apelido na pré escola. As outras crianças me chamavam de Besta, Fera, Demônio por causa dos meus olhos vermelhos. Eu chorava com aquilo na época, mas agora gosto de lembrar desses apelidos. Essa nova versão de mim me assusta um pouco ainda, mas me faz me amar mais, me torna mais determinada, sem medos.
Não é fácil, claro. Eu me sinto ainda um pouco intimidada perto da Sakura, e ontem quando fui chamar o Sasuke pra conversar, percebi que ela não vai confiar em mim tão facilmente. Mas, gostei de ver ela com ciúmes, significa que ela me reconhece, certo? Por enquanto é o que basta pra mim. Não vou fazer nada pra prejudicar o namoro deles, não tem graça conseguir o que quer estragando a felicidade de alguém. Mas eu juro que se a Sakura der só uma brecha, uma só, mínima que seja... Ahh! Isso é insano.
Aliás, vocês devem estar curiosos sobre o que eu queria conversar com o Sasuke, certo? Bom, na noite em que a Ino foi atacada, ele me ligou do hospital.
- Alô...? - atendi meio sonolenta, esfregando os olhos.
- Oi Karin, sou eu.
- Oi, Sasuke. - me sentei - Como estão as coisas? Ainda está no hospital?
- Sim. Preciso te perguntar uma coisa, é muito sério. - ele parecia aflito.
- Fala logo, o que foi?
- Você tem um tipo sanguíneo muito raro, não tem? - que pergunta estranha.
- Tenho, por que?
- Qual tipo é?
- Hm, é um nome esquisito, deixa eu lembrar...
- Anda logo, Karin! - a voz dele ficou mais trêmula e ele pareceu mais agoniado.
- Ai, tá bom, calma! Acho que é... Pera... Ah! É o "sangue dourado".
- RH Nulo, não é?
- Isso, esse mesmo. Por que?
- Ah, ainda bem! - ele praticamente gritou - Karin, presta atenção... A Ino perdeu muito sangue. Ela tá fazendo uma operação agora, mas mesmo depois dessa operação ela ainda vai continuar correndo risco de morte.
- Nossa... - soltei o ar. Ela estava bem pior do que eu pensei - Que horrível, Sasuke. Sinto muito...
- Você pode ajudar!
- Eu?
- Ela precisa de um doador de sangue, e o tipo sanguíneo dela é o mesmo que o seu.
- Entendi.
- Karin, é o sangue mais raro do mundo, não vamos achar um doador à tempo de salvar a vida dela se tivermos que ficar procurando. Por favor, ajuda ela...
- Sasuke...
- Eu tô te implorando, Karin! - a voz dele ficou embargada... Ele começou a chorar. Eu nunca tinha visto ou ouvido o Sasuke chorar - Se a Ino não receber esse sangue ela vai morrer! Ela vai morrer, Karin...
- Sasuke, fica calmo. Olha...
- Você não negaria isso, né? Por favor, Karin... Eu juro que nunca mais te peço nada.
- Sasuke...
- Tenho que desligar! - e desligou. Acho que tinha alguém chegando. Já entendi, esse idiota fica se fazendo de durão pros amigos pra que eles se sintam seguros, mas quando tá na dele, chora igual bebê também. Já entendi, já entendi.
No dia seguinte bem cedo, eu fui pro hospital. Informei que a doação teria que ser exclusivamente pra paciente Ino Yamanaka, e exigi que não revelassem minha identidade pra família. Quando fui chamar o Sasuke pra conversar, era só pra tranquilizar ele dizendo que eu ia sim doar o sangue, e pra pedir pra ele não contar pra ninguém que fui eu. Ele estava tão afobado no telefone que nem me deixou dizer que eu topava. Acabei só mandando uma mensagem depois, e aproveitei pra perguntar da Sakura. Espero que ele não estranhe isso.
Tive que ficar na cama. Depois de doar o sangue, eu fiquei muito fraca, mal conseguia andar. Mas foi a melhor coisa que eu fiz. Nada se compara à sensação de salvar a vida de alguém. Foi o próprio médico dela quem me disse isso... "Você acaba de salvar a vida da minha paciente". Aquilo fez meu dia. Eu só não quero que saibam que fui eu pra não me bajularem.
Confesso que tô pensando mais na Sakura. Eu quero que ela me aceite porque confia em mim, e porque gosta de mim, não só por gratidão. Ela me reconhece, e isso já me deixa feliz. Mas no futuro, quero que ela me aceite como alguém na vida dela. Depois de aceitar, talvez ela goste de mim, talvez ela me veja só como a Karin, e não mais como a ex do namorado dela.
Me pergunto se ela consegue sentir toda a minha energia. Se ela consegue ver no meu olhar, ainda que só um pouco... Afinal, ela também é mulher, certo? Será que ela consegue ver?
Uma mulher consegue reconhecer o olhar de outra mulher cheia de desejos...?
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