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História Código Lucy - Capitulo Um - A Garota do Taxi


Escrita por: Tico8

Notas do Autor


Hello, galerinha!

Pois então, eu estava assistindo um dos filmes preferidos do meu pai, Lucy, com ele, e durante a cena de fuga de carro eu tive uma ideia para fic, essa shortfic. Esta está sendo minha primeira shortfic de TWICE, e já estou escrevendo outra, mas essa só vou postar depois que terminas os primeiros capítulos hehe

Enfim, por mais que a fic tenha sido inspirada em uma cena de Lucy, o enredo em si não terá muito haver, mas isso não me impediu de fazer uma certa referência ao filme no título, como vocês podem reparar.

Esta é minha primeira shortfic de ficção cientifica, então desculpem qualquer coisa aí, por favor.

Peço desculpas por qualquer erro, e espero que gostem!

Capítulo 1 - Capitulo Um - A Garota do Taxi


- O que você está fazendo, sua louca?! – eu gritava enquanto a mulher no banco do motorista fazia tudo menos dirigir com consciência. Ela provavelmente quebrou todas as leis de trânsito possíveis no um minuto que havia invadido o carro do pobre taxista. A mulher não respondeu, e eu só consegui me segurar no apoio do carro e rezar pela minha vida.

Você provavelmente está se perguntando como cheguei nessa situação deplorável, não é mesmo? Bem, pra ser honesta, nem eu sei. Eu só estava indo para mais uma das “missões malucas” que minha chefe me ordenou cumprir, e enquanto ouvia o tom frio e ríspido da dona de uma das empresas de cosméticos mais sucedidas da Coreia pelo celular, o taxi do qual eu estava foi invadido por uma por uma jovem de cabelos curtos e loiros.

A maluca basicamente puxou o motorista para fora do carro e tomou seu assento antes de pisar com muito gosto no acelerador. Parecia coisa de filme, e por mais que eu tentasse tirar alguma reposta da maluca que havia causado ao menos dez batidas de carro em coisa de um minuto, ela nem se quer olhava pra minha cara. Bem, talvez fosse melhor assim, afinal, eu estava sendo sequestrada, talvez fosse mais sábio eu ficar na minha, né?

- Para esse carro, pelo o amor de Deus! – gritei com todos os meus pulmões. É, admito, não reajo bem em situações de pânico – Eu tô me cagando toda aqui! – eu não costumo usar esse tipo de linguagem, mas em situações como essas fico tudo, menos no meu normal.

- Não é minha culpa se a forma que seu corpo reage ao estresse é por meio de estimular suas necessidades fisiológicas – ouvi a mulher dizer, sua voz forte e sem emoção.

Será que ela era algum tipo de psicopata? Ai não. Eu não podia morrer nas mãos de uma assassina platinada que provavelmente tinha algo em torno da minha idade. Se fosse para morrer nas mãos de alguém eu preferia que fosse por algum mafioso, alto e musculoso. Sempre achei um charme homem de terno.

A louca platinada continuou a assassinar as leis de transito mesmo com uma dúzia de carros da polícia nos perseguindo. Ao menos a polícia já estava ciente do meu sequestro. Pera, e se ela fosse uma fugitiva e achassem que eu era algum tipo de cúmplice dela? Ai não, isso não! Isso seria péssimo pro meu currículo, sem contar que o uniforme de presidiária não cairia nada bem em mim. Quero dizer, tudo cai bem em mim, eu sou linda, mas aquelas roupas são ridiculamente horríveis.

- Se eu fosse você eu me abaixaria – ela me avisou olhando pelo retrovisor. Provavelmente era uma assassina/sequestradora de alta classe, era bonita demais pra ser uma meia boca.

Não entendi direito o que ela quis dizer com aquilo, então encarei seu reflexo com o cenho franzido até ouvir o vidro traseiro carro se estilhaçar nas minhas costas. Aquilo foi um tiro? Pera, um não, estavam metralhando a droga do taxi todo! Será que a polícia não sacou que tem uma linda donzela em perigo dentro daquele carro?!

- Por que estão atirando?! Eu sou inocente, droga! – gritei enquanto colocava minhas mãos na cabeça numa tentativa podre de me proteger de balas de metal.

- Eles não querem saber disso – a psicopata disse com um tom de voz que mais parecia de quem estava tomando um chá com a Rainha. Linda, plena e calmíssima. Será que ela estava sob efeitos de drogas? – A polícia está com uma informação equivocada sobre minhas intenções, por isso, não darão a mínima se você morrer ou não.

É o que?!

- Pera, como assim? – uma bala atravessou o assento ao meu lado – Ai socorro! – meu coração estava tão acelerado que era bem possível que eu morresse de um ataque cardíaco antes de qualquer bala daquelas me atingir.

- Venha para o banco da frente – a loira disse, checando o retrovisor dianteiro.

- Tá louca? Eles vão mirar bem na minha bundinha! – eu disse certa de que aquela era uma péssima ideia.

- Confie em mim – nossos olhos colaram pelo reflexo do visor dianteiro, e havia tanta certeza naquele olhar que eu fiquei realmente tentada em a obedecer. Digo, era evidente que a polícia não estava dando a mínima para a minha vidinha, mas por que a garota que estava fugindo deles daria? Aquilo tudo era muito confuso.

Ouvi um estralo, e logo os vidros dianteiros já estavam por toda parte nos bancos da frente. Senti as costas da minha mão direita arder, e logo notei que uma bala havia a pego de raspão.

- Passe pra frente, eu tenho um plano – a voz da garota saiu mais alta dessa vez, mas ainda parecia está bem calma levando em conta a situação que nos encontrávamos.

Minha mão ardia demais, meu coração parecia que ia explodir e tudo à minha volta acontecia muito rápido. Eu não fazia ideia quem era aquela garota, quais suas verdadeiras intenções comigo ou com aquela corrida maluca, mas tudo indicava que ela era minha melhor chance naquele momento. Pensando nisso, não hesitei em tirar meu sinto de segurança e pular para o banco da frente o mais rápido que podia. No momento que meu corpo se levantou, porém, senti o carro virar de uma vez, dificultado minha chegada ao assento destino, mas evitando que quaisquer balas dos polícias me atingissem devido a brusca mudança de posição do carro.

Suspirei aliviada quando finalmente minha cabeça tocou o estofado do assento dianteiro passageiro. Meu coração estava a mil, e eu podia sentir toda a adrenalina do meu corpo ir à loucura dentro de mim. Eu nunca estive numa situação como aquela, nem nunca me senti tão eufórica.

- Eu disse para confiar em mim – a garota disse, me olhando rapidamente pelo canto dos olhos.

Minha respiração ainda estava ofegante, e confesso que temia minha asma atacar depois de quinze anos sem dar sinal de vida. Droga, aquela definitivamente não era a hora.

- Me lembre de confiar em meus sequestradores da próxima vez que invadirem meu taxi – eu disse, colocando meu sinto, só pra prevenir.

- Me lembre de não pegar um carro de taxista da próxima vez – ela disse com seus olhos grudados na pista. Bem, aquilo até que me deixava mais tranquila. Na velocidade que nos encontrávamos não era nada sábio desviar a atenção.

- Roubar, você quer dizer? – levantei uma sobrancelha.

- Não estou fazendo isso por motivos próprios – ela disse, desviando de um casal de idosos que passavam. Confesso que quase morri do coração quando achei que ela ia passar por cima – Não tinha a intenção de tirar o sustento daquele homem, mas há coisas maiores em jogo.

- Tipo o sequestro da assistente da dona do Cosmetic’s Life? – brinquei num tom irônico. O negócio era rir pra não chorar.

- Não exatamente – respondeu ainda atenta a sua rota pessoal e nada segura – Mas confesso que essa foi uma informação útil. Parece que não vou poder te deixar ir como havia planejado.

- Pera, o quê? – é, falei merda – Como assim não vai poder me deixar ir? Você ia me liberar?

- Sim – ela respondeu simplista – Não tinha a mínima intenção em te manter comigo. Assim que conseguisse despistar a polícia te deixaria em algum lugar seguro e voltaria aos meus planos.

Nayeon, você é muito burra, cara!

- E não vai mais fazer isso? – perguntei num tom levemente desesperado. Nunca quis tanto levar um pé na bundinha pra fora de um carro como naquele momento.

- Não – mais uma vez, respondeu simplista e sem olhar para mim – Você possui informações valiosas demais para eu te deixar ir. A partir de agora você me ajudará com os meus objetivos.

Eu odeio minha falta de habilidade de me manter calada, honestamente. Mas também, como eu poderia adivinhar que aquela mulher misteriosa – e maluca – iria querer alguma coisa com a empresa da qual eu trabalhava? A gente vendia produtos para a pele, beleza, não armas nucleares ou sei lá mais o que. Será que ela era alguma obcecada por juventude eterna? Beleza? Estaria ela a procura da cura do pé de galinha? Mas ela parecia tão jovem e bonita, podia até ser modelo se quisesse. Pra que todo aquele desespero?

- Olha, moça, você é muito bonita – resolvi dizer. Quem sabe eu não salvo a pátria na conversa e paro nos jornais no dia seguinte, né? – Não precisa se preocupar com produtos de beleza ou algo do tipo. Você poderia até ser modelo com essa cara, sabe? Estamos inclusive procurando por...

- Não me importo com aparência – ela disse. Bem, se esse era o caso, ela foi muito abençoada por ter nascido daquele jeito – Aparentemente você é bem ignorante com o que acontece dentro de sua empresa. Dos testes que eles andam fazendo.

Testes? Ignorante? Ela estava me ofendendo ou o que? Pera, eu não estou entendendo mais é nada.

- Como assim testes? – resolvi perguntar.

A garota não me respondeu, simplesmente parou o carro, o que me fez dar um leve salto para trás. Estávamos numa espécie de estacionamento abandonado, ou sei lá o que. Tipo aqueles que vemos em filmes. Eu estava tão concentrada em nossa conversa que nem havia reparado que havíamos despistado os policiais e nos afastado da população.

- Sai do carro – ela disse pegando uma arma de sua cintura. É hoje que eu morro. Adeus papai, adeus mamãe. Adeus Dahyun, Momo, Sana e Mina. Adeus Tzuyu, queria te ver crescer cada dia mais, mas a unnie vai para o mundo encantado dos coelhos mortos – Eu disse sai do carro – o tom de voz dela soou bem mais autoritário e próximo, e só então notei que ela já estava do lado de fora, apoiada na minha janela.

Era a primeira vez que eu a via de frente, e pude notar alguns arranhões profundos em sua clavícula. Havia também gotas de sangue em sua blusa azul claro, e seu pescoço parecia bem suado. Ela provavelmente estava fugindo antes de entrar no taxi.

Não quis testar ainda mais a paciência da loira misteriosa com uma arma na mão, então logo me pus para fora do carro, tremendo da cabeça aos pés e já rezando pela minha alma. Caminhei para frente, evitando contato visual com a garota. Senti minha respiração descompassar um pouco, mas tentei não demonstrar ainda mais o meu pavor enquanto abraçava meu próprio corpo.

- Você poderia, por favor, ser rápida com isso? – perguntei ainda de costas pra moça. Eu sei, é muita burrice dar as costas para alguém que tem uma arma na mão, mas parte de mim queria acabar logo com toda aquela tensão de qualquer forma – Eu não gosto de sentir dor.

De fato, sempre muito fraca para isso. Lembro-me que quando pequena, sempre chorava mais que as outras crianças pelos arranhões mais leves, os machucados mais bobos e as quedas mais rasas. As coisas só pioraram depois que sofri um sério acidente de carro, onde tive que operar uma perna que por vezes falha comigo. As dores de quando está muito frio, ou quando fico muito tempo de pé. É horrível, eu realmente odeio sentir dor. Por sorte a adrenalina havia tirado a atenção do meu corte na mão, senão eu estaria chorando feito criança ali mesmo.

Senti o corpo da garota se aproximar de mim, o que me fez abraçar ainda mais meu próprio corpo. Fechei meus olhos tentando lembrar de todos aqueles que eu amava, minha família, meus amigos, até mesmo aquela vaca da minha patroa entrou na moldura. Eu tive uma vida boa, porém não dei valor. Eu queria ter feito mais, ter reclamado menos, ter dado mais valor as pequenas coisas, ter aproveitado mais o afeto daqueles perto de mim, e até mesmo as broncas dos meus pais e amigos que só queriam meu bem. Senti as lágrimas em meus olhos descerem com as lembranças de coisas que nunca aconteceram, e nunca chegaria a acontecer em minha vida. Era bom estar viva, mas notei isso um pouco tarde demais.

- Não pressione tanto os nervos de sua mão, só irá fazer você sangrar mais – ouvi uma voz feminina dizer, enquanto sentia alguém pegar minha mão e jogar um pouco de água na mesma.

Era a jovem maluca de cabelos loiros. Ela não estava com a arma apontada para mim, na verdade, seu revolver estava de volta em sua cintura enquanto ela lavava meu ferimento com a água de uma garrafinha.

Franzi o cenho para aquela cena.

- Você não ia me matar? – perguntei.

A vi dar um riso fraco. Ela sabia sorrir? Olha, uma novidade. Bem, não era a única novidade do dia, disso eu tinha certeza.

- Não – ela respondeu, agora enrolando um pano no meu machucado – Você é útil para mim, para que iria querer machucá-la? – devo comemorar ou surtar por estar à mercê de uma fugitiva da polícia?

- Vai me matar depois de ter conseguido o que quer de mim? – resolvi perguntar, meu corpo ainda tremendo pela possibilidade de ter meus miolos estourados a qualquer momento.

- Só se você me esfaquear pelas costas – ela respondeu, soltando minha mão, dando um passo para trás e finalmente voltando seus olhos para mim – Não tenho motivos para querer seu mal, se você não quiser o mesmo para mim.

A observei por alguns instantes. Não havia mais um sorriso em seu rosto, mas ainda assim ele não parecia assustadora. Sua expressão transparecia calma, confiança, e talvez eu devesse estar grata por ao invés de ter uma bala atravessando meu crânio, e ter recebido primeiros socorros de uma fugitiva da polícia.

- Obrigada – eu disse me curvando levemente. Confesso que fiquei um pouco encabulada com aquela situação. Quero dizer, eu não costumava ser tímida, mas era realmente estranho tudo aquilo que estava acontecendo. Não imaginaria co-protagonizando tal cena de filme em nem um milhão de anos. Não de verdade, pelo menos.

- Vamos, precisamos sair daqui – ela disse caminhando para frente em passos largos.

- Ei, espera! – disse tentando acompanhar seus passos – Por que não vamos de carro? – perguntei notando que ela estava deixando o taxi para trás.

- Eles estão procurando por duas mulheres num taxi amarelo cujo a placa termina com os números 2399, não podemos continuar com ele – respondeu com seu olhar focado em seu destino, seja lá qual fosse ele.

- Quer que mudemos de gênero também? Porque acho meio difícil nos transformamos assim de uma hora para outra – brinquei, mas na verdade eu estava com as pernas tremendo de medo.

- Não haverá necessidade, conseguiremos despistá-los se continuarmos a pé por um tempo – e mais uma vez ela não me olhava na cara. Eu poderia até dizer que aquela garota era algum tipo de androide, se isso fosse possível. Pera, será que era?

- Você não é tipo um “Exterminador do Futuro” ou alguma coisa do tipo, né? – resolvi perguntar, minha curiosidade era forte demais para eu aguentar minha linguinha presa na boca.

- Se você quer saber se há algum tipo de programação biônica dentro do meu corpo, se sou alguma espécie de robô, androide ou cyborg – ela virou o rosto para mim, bem, ao menos os movimentos de seu pescoço eram bem humanos, pelo o que pude notar – Não, eu não sou – ela disse, mas logo voltou seu olhar para o caminho à nossa frente – Porém sou um ser humano cientificamente modificado, o que me permite ter habilidades incomuns e superdotadas.

Não pude evitar meu queixo caído. Então por isso ela estava tão calma durante a perseguição? Será que ela era a prova de balas ou algo do tipo? Bem, isso explicaria muita coisa. Mas e os machucados em sua pele? Eles pareciam não a incomodar, mas ainda assim estavam ali, com sangue e tudo. Especialmente os em sua clavícula e pescoço. Seu suor também demonstrava reações bem humanas, o que condizia com o que ela havia informado.

Não contive a curiosidade em chegar mais perto, e dar uma olhada melhor em seus ferimentos. O sangue em seus arranhões pareciam vir de dentro, havia corte ali, então não era sangue de terceiros. Será que o sangue dela era diferente de um ser humano comum? Qual seria a textura e cheiro dele? Bem, ao menos parecia ter a cor de sangue humano normal.

- O que está fazendo? – ouvi uma voz perguntar, e levantei meu rosto para ver um rosto franzido perto do meu.

Aparentemente eu havia me deixado levar completamente pela curiosidade, e só então notei que meus dedos haviam tocado a clavícula da mulher, sujando meus dedos de sangue aparentemente bem humanos. Havíamos até mesmo parado nossa caminhada sem eu notar.

- Ah, desculpa – sorri sem graça, me afastando dela – É que eu fiquei um pouco curiosa a respeito de seus arranhões – mudei meus olhos para o chão, ainda sem saber onde enfiar a cara pelo o que havia feito – Você por algum acaso é a prova de balas? – resolvi perguntar, talvez conseguisse alguma resposta útil daquela cena vergonhosa.

- Não – ela negou com a cabeça também – Mas tenho um processo de cicatrização bem rápida para metal – ela apontou para área de seu pescoço e clavícula – Esses daqui foram ferimentos com vidro, por isso estão demorando mais para cicatrizar. Amanhã de manhã, porém, não estarão mais aqui.

- Uau – não pude evitar minha reação – Deve ser muito massa poder se curar tão rápido. Você sente dor? – mais um vez não contive meus olhinhos curiosos para a garota.

- Sinto – respondeu – Mas em uma porcentagem muito menor do que a de um ser humano comum. Esses cortes, por exemplo, arderam somente no momento que os vidros tocaram minha pele. Assim que consegui limpar os cacos, não senti mais nada. O mesmo aconteceu quando uma faca de vidro cruzou o meu abdômen.

- Você foi esfaqueada? – não contive meus olhos arregalados.

- Devo lhe informar que essa não foi a situação mais traumática da minha vida - como ela conseguia dizer aquilo com uma feição tão insensitiva?

- Você sente emoções? – sim, eu não havia feito jornalismo atoa, eu realmente era uma peste curiosa.

- Depende do tipo das emoções a qual se refere.

- Digo, emoções empáticas – tentei elaborar mais minha questão – Você sente empatia a respeito dos outros? Se importa com alguém?

- Não tenho alguém para me importar – ela disse, ainda com seus olhos focados em nosso caminho. Já podíamos ver uma porta da qual provavelmente era nossa saída daquele lugar.

- Mas se tivesse, teria capacidade de se importar? – perguntei, e para minha surpresa, ela parou seus passos, me fazendo espelhar seus movimentos e parar ao seu lado.

A garota me olhou nos olhos, uma expressão séria em seu rosto. Será que eu havia ido longe demais? Não dava para ter uma clara leitura de sua expressão, ela era uma verdadeira incógnita pra mim, o que me fazia querer perguntar mais e mais sobre sua vida, seu jeito, suas habilidades, mas era bem provável que eu estava brincando com fogo.

Ela deu um passo para mais perto de mim, e por puro instinto, dei um passo para trás me encolhendo um pouco. Seu olhar não parecia violento, mas ela não parecia transmitir muita emoção de qualquer forma. Não dava para ter uma clara noção do que se passava naquela cabecinha loira.

- Eu não sei – foi o que ela respondeu – Não me lembro da minha vida antes deles me fazerem o que sou hoje. Não tive a oportunidade de conviver com pessoas das quais poderia formar algum vínculo afetivo, então não sou capaz de lhe dar esta informação.

- Mas você desviou dos velhinhos na rua – a lembrei – Você poderia simplesmente passar por cima, mas não o fez. Não fez com ninguém, na verdade.

- O contato brusco com corpos humanos atrapalharia não só minha visão, quanto a direção do carro e a velocidade da qual nos encontrávamos – ela explicou como se estivesse me explicando algum cálculo matemático, naquele caso, porém, eu estava entendendo o que ela estava dizendo – Além disso, tenho noção do certo ou errado, apesar de não necessariamente ter uma profunda compreensão empática na maioria das vezes.

Ótimo! Minha parceira de crime tinha tudo para ser uma sociopata. Bem, ao menos era melhor do que estar ao lado de uma completa psicopata, certo? Ao menos eu esperava que sim. Se ela ao menos não tivesse um comportamento muito agressivo ou impulsivo, acho que eu sobreviveria até o fim daquela semana. Temos que pensar positivo, certo?

- Agora precisamos ir – ela disse voltando seu caminho até a porta – Há um beco que nos leva a um restaurante clandestino logo atrás dessa porta, creio que podemos trocar de roupa lá.

- Clandestino? Ai socorro, eu tô mesmo num filme de ação – disse tentando apertar meus passos. Agora que a adrenalina havia passado mais, comecei a sentir minha mão latejar graças ao corte. Além disso, tinha medo de quanta correria eu teria de fazer enquanto estivesse com a loira. Minha perna esquerda não era muito forte graças ao acidente, o que poderia nos prejudicar em algum momento – Ah, eu tenho uma coisa pra te contar que talvez você devesse saber.

- Diga – ela disse abrindo a porta, e me dando passagem para que eu passasse primeiro. Agradeci com um aceno, enquanto assistia ela também passar pela porta e fechá-la sem perder tempo.

- Eu sofri um acidente quando criança – comecei enquanto tentava seguir seus passos rápidos – Acabei tendo uma grave fratura no joelho esquerdo, e mesmo tendo operado, ele ainda falha comigo as vezes. Não posso forçá-lo muito. Às vezes eu caio por causa disso, e se corro ou fico de pé por um grande período de tempo, eu sinto uma dor insuportável.

- Está querendo dizer que pode cair em alguma de nossas fugas? – ela perguntou, felizmente entendendo o que eu queria dizer. Acenei que sim com a cabeça, mas ela não estava olhando para minha cara, então não sabia ao certo se ela havia visto minha resposta – Não tem problema – olha, parece que ela entendeu mesmo – Eu te carrego.

Não sabia ao certo como reagir com aquela resposta, mas estava feliz por ela simplesmente não me matar ali mesmo me considerando um peso morto. Tirar toda a informação que precisava de mim ali mesmo e me matar sem pudor. Pensando bem, talvez fora uma grande burrice minha ter a contado aquele detalhe, mas por sorte sua resposta foi bem positiva.

- Você é forte, então? – resolvi perguntar, tentando não dar atenção ao corredor sujo e fedorento do qual estávamos passando – Tipo, mais do que uma pessoa na sua estatura, ou até mesmo que um ser humano comum, mesmo bem forte?

- Possuo força o suficiente para socar uma parede de cimento e causar um certo estrago na mesma – ela respondeu, do mesmo jeito sem emoção de sempre.

Eu não sabia se engolia a seco ou ficava feliz de saber que ela de fato conseguiria me carregar sem esforço algum caso fosse necessário. Bem, talvez fosse melhor criar algum vínculo, nem que fosse minimamente positivo com aquela mulher, já que ela viria a calhar como uma guardiã ou algo parecido.

- Por que sou útil pra você? – resolvi continuar meu interrogatório, levando em conta que ela não parecia muito incomodada com aquilo e estava respondendo as minhas perguntas até aquele momento.

- As pessoas que me deixaram assim trabalham para sua empresa. Você, como assistente da dona e diretora da mesma, me servirá não só como fonte de informações, mas também como chave para conseguir entrar no prédio principal sem muita dificuldade – a garota respondeu simplista, enquanto eu a ouvia de boca aberta.

A senhorita Park podia ser uma naja, vaca, megera, mas eu não conseguiria a imaginar indo tão longe a ponto de estar fazendo experimentos com seres humanos. Enganando a polícia, assassinando inocentes. Ela era uma bruxa, mas nunca havia passado pela minha cabeça a mulher como uma figura tão perversa.

Alcançamos uma porta suja de metal e enferrujada ao lado de contêineres que provavelmente tinham todas as doenças do mundo impregnadas por todo ele. Não contive uma careta ao notar um grupinho de ratos fazendo escadinha para alcançar o resto de macarrão que caia de uma embalagem de ramyon. Seria até bonitinho senão fosse tão nojento. Ouvi a porta ser aberta por minha companheira de crime e ela logo me puxou para que eu passasse primeiro. No começo eu achei que era alguma espécie de cavalheirismo dela, mas agora estava começando a achar que ela me fazia de cobaia para ir na frente, caso algo desse errado, o que era um absurdo, já que ela que era a superpoderosa dali.

Esperei ela fechar a porta e me puxar para dentro de uma cozinha barulhenta e suja. Que lugar horrível era aquele. Os caras mais pareciam touros cortando os pedaços de carne como verdadeiros carniceiros. Algumas mulheres cortavam os legumes com luvas, mas os dentes delas pareciam que não viam uma escova há séculos. O cheiro de peixe, carne e comidas em conserva eram insuportáveis, me segurei como pude para não vomitar ali mesmo. A garota loira me puxou para uma escadinha de madeira e logo chegamos no segundo andar, onde havia um corredor cheio de portas velhas e sujas. Ela falou com uma moça chinesa – acho que em chinês mesmo porque não entendi bulhufas – lhe entregou algumas notas de wons e pegou uma chave com a mesma – ainda me segurando pelo pulso – e abriu uma porta perto de nós, me puxando para dentro do quarto velho e sujo.

A garota me soltou e logo abriu o armário empoeirado do quarto, abrindo todas suas portas e gavetas enquanto catava algumas roupas nos cabides e jogava na cama.

- Tira essa roupa – ela disse tirando seu cinto, dando sinal que ia se despir ali mesmo.

- Olha, moça, você é bonita e tal, mas eu não honestamente não estou afim – eu disse, receosa dela querer abusar desse meu corpinho lindo que mamãe e papai me deram.

A garota jogou sua blusa azul de lado, mostrando seu torso – felizmente ela não havia tirado o sutiã preto, que por sinal era meio cafona, mas enfim – e logo pude notar que haviam arranhões também em seus ombros e em seu abdome definido. Não eram como os de Momo, mas ainda possuíam seu charme, ainda mais suadindo daquele jeito.

- Coloque isso – ouvi sua voz enquanto senti um tecido pesado ser jogado na minha cabeça.

Ela havia me dado um moletom preto do BTS, e eu até sorri quando vi que era o nome do Jungkook escrito na parte de trás. Ele é meu bias, não me julguem, tá? Logo senti outro tecido ser jogado em mim, uma mais leve; era uma camiseta branca, sem nenhuma estampa.

- Tire também essa blusa, e troque de calça – ela disse tirando suas próprias vestes de baixo – Qualquer roupa que nos remeta nossas vestimentas anteriores podem nos denunciar.

A vi colocar uma calça jeans fina azul, diferente de sua calça anterior, que era um jeans grosso e preto. Essa também possuía alguns rasgos no joelho. A observei colocar sua regata branca, mas logo que me toquei que estava perdendo tempo a assistindo, virei de costas para começar a me trocar também. Assim que terminei de colocar meu jeans surrado – que mais parecia de um adolescente sem o menor senso de moda e que não sabia o que era uma máquina de lavar – minha camiseta, e meu moletom do Bangtan Boys, me virei para ver a garota já pronta, com uma bota preta, camisa bege social por cima da regata com a parte da frente levemente colocada pra dentro de sua calça. Ela estava bem apresentável, já eu estava parecendo uma mendiga, e fiquei parecendo ainda mais quando ela enfiou uma toca na minha cabeça.

- Por que eu sou a maltrapilha e você a madame? – perguntei levemente indignada. Tá, eu estava bem indignada.

- Porque a essa hora eles já sabem quem é você e que está comigo, eles sabem que você é uma patricinha, por isso é melhor que fique com essas roupas surradas.

Ela tinha uma boa razão, devo admitir, mas ainda assim aquelas calças estavam me dando coceira. Eu não me importava com o moletom, tinha até gostado, mas aquela calça era ridícula. Sem contar o tênis que era bem maior que meu pé. Meu cabelo não devia estar tão ruim, mas aquela toca acabou com a única coisa razoavelmente decente no meu visual.

- Não passaremos a noite aqui, estamos muito perto de onde deixamos o carro – ela disse enfiando nossas roupas sujas em uma mochila velha que estava no quarto – Há algum dinheiro com você? Usei as notas que tinha para conseguir este quarto e essas roupas.

Peguei minha bolsa tira colo de cima de cama, e peguei minha carteira fuçando alguma nota.

- Tenho alguns wons, acho que dá pra pagar algum lanche, talvez um quarto de hotel bem ruinzinho, mas o resto do meu dinheiro está todo no banco – respondi contando as notas que havia tirado de minha carteira da Gucci. Aquela carteira valia ao menos dez vezes as notas que eu tinha em mãos.

- Não podemos usar seus cartões e nem tirar qualquer quantia do banco – a garota disse tomando a carteira da minha mão bruscamente, me fazendo encará-la indignada. Precisava daquela grosseria toda? E ainda teve a pachorra de pegar minha bolsa e carteira caríssimas e enfiar na mochila cheia de roupa suja.

- Ei! Essas coisas são caras! – reclamei tentando pegar de volta, mas ela me impediu afastando meu braço.

- Seus documentos estão aqui, além disso, qualquer coisa que denuncie quem somos deve ser exterminado – ela disse fechando a mochila.

- Do que está falando? – permaneci com meu cenho franzido, o que poderia estimular rugas em meu lindo rostinho, mas naquele momento eu não tinha tempo de me preocupar com aquilo, não quando Gucci e Prada estavam sendo ameaçadas de aniquilação – E se acharem essa bolsa fedorenta aí? Não estaremos correndo perigo da mesma forma?

- Irei incendiar isso assim que sairmos daqui – e dizendo isso, ela colocou sua jaqueta branca, que até que era ajeitada, e colocou a mochila em suas costas, que por sinal não combinava nem um pouco com a roupa que ela vestia.

- Você vai queimar Gucci e Prada? – a olhei horrorizada. Será que ela fazia a menor ideia que aquelas coisas valiam mais que dois anos do meu salário?

A garota não me respondeu, simplesmente me puxou para fora daquele quarto sujo para de volta da cozinha barulhenta e nojenta. Tentei me enganar e pensar que ela estava brincando com questão a tacar fogo em minhas coisas, mas logo descobri que eu estava me iludindo, já que ela basicamente jogou a mochila dentro de um latão de ferro no meio do subúrbio que nos encontrávamos, acendeu um fosforo e jogou dentro do mesmo. Não contive um gemido de horror assim que vi o fogo destruir todo o tecido da bolsa velha, logo queimando tudo o que havia dentro dela. Milhares de dólares, no caso.

- Sua louca! – tentei pegar a mochila e tentar salvar alguma coisa dali, mas a maluca me puxou para longe, e mesmo tentando sair de suas garras, lhe estapeando e lhe empurrando, nada adiantava. Era como se meus braços e pernas fossem feitos de pelúcia, e eu nem estava fazendo nem cócegas na mulher – Você acabou de queimar milhares de dólares, sua idiota!

Repentinamente, senti meu corpo congelar ao sentir a garota tampar minha boca enquanto seu outro braço prendia meu corpo contra o dela. Seu olhar sério e gélido focado nos meus olhos assustados. O tempo estava frio, apesar de alguns raios de sol iluminarem o céu. O amarelo sendo refletido nos olhos castanhos da garota misteriosa a minha frente. Posso dizer que comecei a tremer da cabeça aos pés naquele momento. Minha respiração começou a descompensar, e mais uma vez temi estar iniciando uma crise de asma.

- Não chame atenção – disse em seu tom seco, e quando achei que ia soltar alguma coisa nas calças, ela se afastou de mim. Soltei um ar que não reparei que estava prendendo assim que senti sua pele se afastar do meu rosto – Vamos, temos que encontrar algum lugar para passar a noite.

Observei as costas da loira enquanto ela se afastava, mas não consegui racionar o suficiente para sequer mexer um musculo. Ainda não conseguia respirar direito, e engolia a seco enquanto tentava não ter um ataque ali mesmo. Havia passado por coisa demais para um dia só, e encarar os olhos sem emoção daquela mulher pareceu servir como a última gota do meu copo prestes a transbordar. Eu ainda tremia quando a vi olhando para trás, e logo senti minhas pernas enfraquecerem, me fazendo cair de joelhos no chão.

Não, não era uma crise de asma, felizmente. Ao menos não aparentava ser, já que estava conseguindo controlar melhor minha respiração, mas ainda assim minha situação estava longe de ser agradável. Meu corpo estava completamente tenso, minhas pernas fracas, e eu era incapaz de se quer mexê-las propriamente, me impossibilitando de me levantar. Isso tudo sem contar meu coração que mais parecia que iria sair pela boca.

- Você não está bem – ouvi a garota dizer o óbvio.

Enquanto ainda tentava manter minha respiração estável, senti meu corpo levantar de uma vez, me dando um belo de um susto. A garota havia me pego sem seus braços, sem dificuldade alguma. Bem, ela não estava mentindo quando disse que era bem forte, não que ela tivesse algum motivo para mentir sobre aquilo.

- Vamos encontrar um abrigo, você precisa descansar – disse sem olhar para meu rosto, enquanto eu me segurava em seu pescoço. Apenas concordei com a cabeça, enquanto ela caminhava comigo ainda nos braços.

Observei seu rosto fixo em seu caminho enquanto me permitia relaxar um pouco. Era estranho como seu olhar fora o gatilho para o meu repentino ataque de pânico, e agora seus braços me passavam uma estranha segurança. Sua feição não havia mudado muito, mas diferente de antes, naquele momento, senti que talvez eu de fato pudesse confiar naquela garota. Ela não me machucou até o momento, havia cuidado do meu ferimento, e agora me carregava para um lugar seguro, onde segundo ela, eu poderia descansar.

Quem era aquela garota? E o que seria da minha vida a partir daquele dia? Bem, ao menos naquele momento, eu não queria pensar naquilo. Encostei minha cabeça em seu ombro, e me permiti cair no sono enquanto o balanço de seu corpo – causado por seus passos rápidos – me ninavam. Meu corpo estava mole, pesado, e o ambiente sujo e bagunçado em nossa volta não era uma paisagem agradável, de qualquer forma. Senti meus olhos pesarem, e enquanto via a luz do sol sumir graças as minhas vacilantes pálpebras, rezei para que seja lá o que me esperasse, eu ficasse bem.


Notas Finais


Obrigada por lerem, galera! Estou bem animadinha com essa história, então creio que eu não demore pra atualizar hehe

Por favor, se quiserem, deixem o que acharam nos comentários, ficarei mais do que feliz em saber a opinião de vocês!


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