Naquele dia, após ser avisado pela mãe dela que Sarada não poderia sair para brincar, pois estava doente, foi quando ele sentiu uma espécie de click.
Mesmo sendo o menino prodígio que nascera para brilhar, Boruto não soube explicar de imediato o que havia mudado, embora fosse óbvio que havia algo de errado.
Era um tipo de incômodo, em princípio, uma dorzinha chata que parecia não dar sinais de que iria passar.
Os dias que se seguiram foram torturantes para o pequeno. A ausência da amiga que costumava o chamar de idiota, encarando-o intensamente com seu par de olhos escuros e misteriosos, causava-lhe um tipo de dor que Boruto não sabia lidar.
Sarada não podia mais sair para brincar. Estava doente, a falta do pai, que saíra da vila em missão, havia corroborado para que adoecesse, mantendo a menininha de cama.
Foi o que Tia Sakura explicou de forma simplista para que Boruto pudesse compreender e parasse de convidar insistentemente a filha para brincar.
Depois de um tempo, uns três dias, derrotado, ele efetivamente parou de ir, mesmo que emburrado e não entendendo direito o que estava acontecendo.
Toda vez que lembrava da amiga de infância de cabelos pretos curtinhos e jeito mandão, seu peito apertava de um jeito que Boruto às vezes achava ser possível sufocar.
Sem ter muito o que fazer, preocupado com a própria saúde procurou a única que sabia que iria lhe ajudar.
— Mãe? A senhora já sentiu uma dorzinha bem aqui quando pensou em alguém que faz tempo que não encontra? Às vezes sinto que posso morrer dessa dor. — comentou o garotinho loiro apontando para o lado esquerdo do peito.
Esbanjando um tipo de doçura e delicadeza que somente ela era capaz de ter, a matriarca dos Uzumaki sorriu achando graça da pergunta, abaixando-se para ficar na mesma altura do filho e poder lhe explicar.
— Oh meu bem… claro que é normal sentir-se assim quando ficamos longe de uma pessoa que nos é querida, como no seu caso e de Sarada — Hinata iniciou sua fala, afagando os cabelos do filho, notando as bochechinhas dele ruborizar. —Mas não se preocupe, ninguém morre de saudades. — sorriu cheia de ternura.
“Saudades… então era esse o nome da moléstia!”
Reflexivo e um tanto acanhado, Boruto permaneceu em silêncio por alguns segundos antes de se pronunciar, com as duas sobrancelhas unidas e a testa vincada.
— Tudo bem! Eu sou forte mamãe… vou sarar rapidão. Mas queria saber se tem algum remédio para essa doença chamada saudade. Tô preocupado mesmo é com a Sarada. Acho que ela também pegou isso. Sabe… a mãe dela contou que ela tá doente porque sente falta do Tio Sasuke — concluiu o garoto, como se fosse óbvio.
Hinata sorriu mais ainda, abraçando o filho fortemente.
“Como explicar para um garotinho de apenas cinco anos coisas tão complexas do mundo dos adultos?”
— Assim como o seu, o aniversário da sua amiga está chegando, então ao invés de se preocupar com isso, porque você não pensa em algo especial para fazer no dia do aniversário da Sarada. Aposto que ela iria adorar. — sugeriu a Hyuga na intenção de mudar de assunto.
Sorrindo de orelha a orelha, com o rosto iluminado como se tivesse tido uma grande ideia, Boruto comemorou dando pulinhos no ar.
— Que genial mãe! Sabia que eu poderia contar com você. Já sei direitinho o que eu vou fazer. — contou antes de sair correndo e subir as escadas da casa feito um foguete.
(…)
Tinha que ser especial e Boruto sabia. Tinha que ser algo grandioso, inesquecível, memorável.
Ele sentia que lá no fundo Sarada merecia isso, na verdade era uma necessidade, como se precisasse disso para voltar a ser a mesma menina ativa que corria atrás dele quando Boruto a irritava de propósito, é claro.
Talvez fosse uma coisa meio egoísta, embora ele não quisesse admitir, mas doeu demais e Boruto não conseguiu ficar feliz no dia do seu próprio aniversário, quando ele a encontrou pela primeira vez depois de tantos dias de ausência.
Os olhos negros da amiga de infância que ele tanto admirava e que pôr vezes se viu perdido neles, jaziam sem vida, os mínimos sorrisos já tão escassos, que Boruto tinha se habituado a ganhar haviam desaparecido, e nem o costumeiro xingamento foi profeirdo.
Sarada chegou calada, na residência dos Uzumaki, acompanhada apenas pela mãe.
Com uma expressão tediosa, entregou o pequeno embrulho para o amigo murmurando qualquer coisa que Boruto não conseguiu identificar, mas imaginou ser algo do tipo “parabéns”, permanecendo o restante da noite muda, praticamente imóvel, sentada no sofá.
Piadas sem graça, brincadeiras bobas, gracinhas feitas para tirá-la do sério, o loiro havia tentado de tudo, porém nada parecia surtir efeito e Sarada simplesmente não ligava para absolutamente nada que ele fazia.
“Maldita saudade! Odeio ela…”
Boruto pensou enfezado ao notar que nada dava certo.
— … e trinta e um é o dia da Sarada né! Já decidiram como irão comemorar?
Ele escutou de repente sua mãe perguntar à Tia Sakura, dando-se conta do que precisava fazer.
Em um impulso, levantou-se do sofá e puxou a mão de Sarada para que se levantasse também e o seguisse.
Contrariada ainda sem entender o que o amigo queria, ela o obedeceu, mesmo sem saber direito o porquê fazia. Instintivamente confiava em Boruto sem qualquer necessidade de explicação.
— O-onde vamos? — perguntou baixinho, quase sem vontade de falar.
— Pro meu quarto, preciso te mostrar uma coisa ultra secreta. — Boruto respondeu na forma de um sussurro.
A curiosidade a fez seguir o garoto loiro, percebendo o coração acelerar em expectativa e as bochechas esquentarem brevemente, como a muito tempo não sentia.
Emoção, era aquilo.
O quarto do menino estava incrivelmente arrumado, os brinquedos armazenados em um baú de frente para a cama onde havia um edredom com a estampa do Kagemasa que a fez arquear uma sobrancelha.
— Vem cá, veja! — disse, Boruto todo orgulho, esticando um pedaço de papel lotado de desenhos confusos.
— O que é? — Sarada ajeitou os óculos no rosto, tentando entender melhor do que se tratava aquele monte de coisas coloridas, quando bateu os olhos nas letras dispostas na parte cima.
“Coisas importantes para fazer no dia da Sarada”
— Boruto… — foi o que pequena Uchiha conseguiu dizer ao sentir um reboliço de borboletas no estômago, com o rosto pegando fogo.
Em meio a coraçõezinhos, havia um desenho de um garotinho loiro e uma menininha morena brincando na praça, um outro da dupla lanchando perto de um riacho; um terceiro desenho dos dois em um parque de diversões com uma pelúcia de coelho amarelo ao lado e por último o que mais chamou a atenção dela, uma gravura de Boruto segurando nas mãos de Sasuke como se o estivesse trazendo de volta para casa, de volta para ela, para Sarada.
Os olhos negros não foram capazes de controlar as lágrimas que surgiram com força.
— Ahh não chora… era pra você ficar feliz! Essa lista é o meu presente de aniversário pra você. Tipo um plano de ação de tudo o que faremos no seu dia, no dia da Sarada — Boruto explicou enxugando o rosto da amiga com ambos os polegares, notando a ela sorrir genuinamente feliz — De-desculpe. — ele se afastou, corado, dando um pulo para trás ao perceber o que havia feito.
— Boruto…
Sarada o chamou, mas envergonhado ele preferiu fitar os próprios pés.
— Boruto… — ela tentou mais uma vez, na esperança de ter os olhos azuis focados nos seus. —Desculpa… Hoje era para ser o seu dia, o Dia do Boruto… não era pra você tá preocupado comigo. — resmungou, sem graça.
— Mas eu tô… não quero mais que você sinta essa coisa de saudades…do seu pai! Eu sei que dói … e-eu também tenho isso … só que de você!
Boruto confessou com a voz meio falha, coçando a nuca acanhado.
—E é por isso que no seu dia, nós dois vamos sair da vila e vamos buscar o seu pai! — contou confiante.
— É sério? Nós vamos? — Sarada arregalou os olhos e um lindo sorriso nasceu em seus lábios.
— Eu te prometo Sarada! No seu dia… você terá o Tio Sasuke de volta.
Boruto declarou, sendo surpreendido por um abraço da amiga.
— Obrigado Boruto… você é mesmo o melhor amigo que eu poderia ter. Até lá então…
Sarada disse, logo após tocar a testa do menino com a pontinha de dois dedos e sair correndo em direção ao andar debaixo.
Extremamente corado, com o coração disparado, massageando o local, Boruto agradeceu naquele instante ao Kami-sama a oportunidade de ter “pego” a tal da doença da saudade.
No final das contas tudo correu melhor do que o esperado.
Boruto adorou o seu o dia e inexplicavelmente com uma ajudinha do destino, Sasuke Uchiha surgiu em Konoha juntamente com o pôr do sol no Dia da Sarada.
Radiante, com o coração quentinho diante do melhor dos presentes, a garotinha dos olhos ônix trocou um sorriso cúmplice com o melhor amigo loiro dos olhos azuis, que a encarava parecendo enfeitiçado, satisfeito por enfim ter conseguido salvá-la daquela doença chata, chamada saudade.
FIM
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