Quando amanheceu, eu não estava mais na cama, ao invés disso, estava me arrumando para sair. Na verdade, desisti de ficar na cama um pouco antes do sol nascer, aquela situação não me deixou dormir. Eu preciso ver o dragão agora, não posso esperara mais nenhum segundo.
Peguei o jornal de ontem e arranquei a página da manchete onde estava aquela foto do dragão. Meu pai ainda não tinha acordado, então não levarei bronca por sair tão cedo.
Saí e fui até a clareira em que vi o dragão no dia anterior, mas ele não estava lá. Procurei nas proximidades, até que me senti observado, próximo à encosta de uma montanha.
Olhei para cima e vi o dragão, com cara de poucos amigos, que logo pousou no chão. Tive medo que ele me atacasse, no entanto ele apenas me encarou e caminhou até próximo de um riacho.
Lá, ele tentou pegar um peixe com seu focinho. Os peixes eram mais velozes, e logo fugiram dele.
Notei que alguma coisa estava errada com ele, fisicamente. Comparei-o naquele momento com a foto que tinha sido tirada no jornal, e notei que a cauda dele estava faltando.
Ele tentou voar, mas a falta da cauda parecia estar atrapalhando na aerodinâmica dele. Coitado do dragão, a rede dos militares deve ter causado aquilo.
Como não conseguia capturar peixes e nem voar, o dragão morreria se ficasse sozinho ali, sem nenhuma ajuda. Apesar disso ser perigoso, decidi que tentaria cuidar dele.
A peixaria de Berk fica lá perto, e eles abrem logo cedo, portanto posso dar um polo lá. Fui e comprei alguns quilos de peixe, que levei em sacolas até a floresta.
O dragão não tinha saído do lugar quando voltei, ele estava sentado no chão, me observando. Abri as sacolas e mostrei que dentro delas havia peixes. Despejei o conteúdo delas no chão, notando que uma enguia estava misturada aos peixes.
Ele rosnou para a enguia, aparentemente ele não é muito fã dessa criatura. Joguei-a para perto dele, fazendo com que se acalmasse.
Após ter me livrado da enguia, o dragão farejou os peixes, desconfiado. Ele não confia em mim.
Tentei estimular seu apetite, então peguei um peixe e tentei fazê-lo comer.
– Pode comer. - Falei para ele, gentilmente.
O dragão abriu sua boca para morder o peixe, mas não havia nenhum dente lá. Estranhei aquilo, ontem eu tenho certeza que vi uma fileira de dentes grandes, brancos e pontiagudos.
– Ué, Banguela? Mas eu podia jurar que... - Enquanto eu falava, seus dentes se projetaram para fora das gengivas.
Me assustei com a velocidade com que ele pegou o peixe e o engoliu, caindo para trás. Ele rosnou para mim e se aproximou gradualmente, ficando muito próximo a mim.
Ao invés dele me matar, o que eu estava imaginando que ele faria, o dragão regurgitou o peixe no meu colo (que nojo). Apesar de não ter sido nem um pouco digerido, o peixe estava coberto com uma camada de baba grossa e grudenta.
O dragão se sentou e ficou esperando, aparentemente, que eu comesse o peixe também. Se isso faria ele confiar em mim e não me matar, que seja.
Mordi um pedaço do peixe, mastiguei (sentindo a textura da baba, foi bem nojento) e engoli, fazendo "hummm" para enfatizar que eu tinha comido. Satisfeito com o meu gesto, o dragão começou a comer os peixes que eu trouxe.
Eu me apeguei a aquele dragão, de alguma forma...o dragão banguela que encontrei. Coitado dele, viveu preso da base militar a vida toda e quando finalmente consegue sair de lá, ele perde sua cauda.
Eu preciso cuidar dele, não quero que ele seja levado de volta para a base militar, mas por enquanto eu só posso alimentá-lo e torcer para que os militares não o encontrem.
Preciso voltar logo para casa, senão meu pai vai acordar e descobrir que eu não estou lá. Olhei para o dragão, que eu pensei em chamar de Banguela...mas dar um nome pode aumentar o meu apego por ele, o que me deixaria arrasado caso os militares o encontrem.
Era hora de deixá-lo ali...sozinho...no meio da floresta...sendo procurado incansavelmente pelos militares....ah, isso é muito difícil. Não posso deixá-lo aqui.
Me lembrei que o meu pai, com sua rotina agitada de prefeito, nunca vai para os fundos da nossa casa, onde há um quintal imenso. Será que eu posso levar o Banguela para lá, cuidar dele e mantê-lo seguro sem que ninguém perceba?
Esse é o plano mais maluco, idiota e com mais chances de dar errado que eu já tive...no entanto, é o único jeito de tirá-lo da mira dos militares.
Deixei um rastro de peixes para fora da clareira, fazendo-o seguir uma linha que levava até a minha casa. Graças ao horário, a rua estava deserta, completamente vazia.
Eu me senti um irresponsável por levar um dragão com um potencial destrutivo tão grande para dentro da minha casa enquanto o meu pai dormia, afinal estou colocando a segurança dele e do restante de Berk em perigo...porém, como deixar uma criatura com um olhar gentil e amável a mercê dos militares, que irão trancafiá-lo em alguma sala de segurança máxima gelada e desconfortável?
Eu não sou assim, preciso ajudar aquela criatura...provavelmente ele está mais assustado com o mundo aqui fora do que todos temem a ele. Ainda não estou certo se ele age por instinto ou se tem alguma forma de inteligência, no entanto sei que ele não é um animal comum. E não digo isso pela natureza artificial dele, mas pela forma com que a confiança dele foi depositada em mim.
Levei o Banguela até o quintal, que tinha um gramado com o qual ele se assustou a princípio. Depois de analisar que as pequenas tiras verdes que compunham a grama não lhe representaria ameaça alguma, ele se deitou de barriga para cima, coçando as costas no solo.
Dei risada dele, apesar de parecer um morcegão com olhos de gato, ele rolava como um cãozinho...é um dragão fofo, digamos assim. Aparentemente a sensação de rolar na grama é reconfortante.
– Você é só um bichinho fofo crescido, não é mesmo? - Comentei, tomando a liberdade de fazer carinho na barriga dele, desencadeando uma reação involuntária em uma de suas patas de trás.
Depois de observar o meu quintal atentamente, ele começou a ficar meio claustrofóbico. Acho que ele se sentiu preso, assim como ficava na base militar.
– Se você voltar para a floresta, os militares vão te encontrar e te levar de volta para a base...sei que o meu quintal é pequeno e isso te assusta, mas é o único jeito de te manter seguro. Assim que eles pararem de te procurar, você pode voltar para a floresta. Combinado? - Perguntei para o Banguela, fazendo-o se acalmar e abaixar a cabeça, como sinal de consentimento.
Tentei tocar o focinho dele, por algum motivo, mas ele rosnou. Parece que ainda não é hora de termos um contato tão próximo assim.
– Não destrua nada e tente não fazer barulho que vai ficar tudo bem. De noite eu volte para ver como você está. - Entrei em casa pela porta que dava na cozinha, vendo-o se aconchegar em alguns panos encardidos que compunham uma antiga vela de barco. Ele parecia bem e confortável, o que me proporcionou grande alívio.
Pensei em subir para o meu quarto para tentar dormir alguns instantes, mas ouvi os passos pesados do meu pai no andar de cima. Ele está acordado.
Disfarcei aquela situação, abrindo um pão ao meio e passando manteiga nele, fingindo que eu estava apenas tomando o café da manhã. Quando meu pai desceu e foi me dar bom-dia, ele se surpreendeu ao me ver desperto antes dele.
– A Astrid já está tirando o seu sono, filho? - Ele brincou, pegando uma lata de sardinha e uma embalagem de patê de bacalhau dentro do armário.
– Pois é, pai. Você está com vontade de comer peixe, não é mesmo? - Tentei esconder o meu nervosismo pela presença do Banguela na proximidade.
– Um nutricionista esteve ontem na prefeitura e me disse que Omega-3 é um antioxidante presente nos peixes, que faria eu ter maior longevidade.
– Você sabe o que isso significa?
– Não, mas soa bem, não acha?
Dei risada dele, meu pai é mesmo único. Me sinto culpado por estar escondendo o Banguela dele e o enganando...sou um filho péssimo.
Enquanto eu mordia o meu pão, no quintal, escuto o barulho de batidas de metais. Imagino que o Banguela tenha derrubado uma pilha de panelas que estava nos fundos. Droga, o meu pai vai descobrir tudo.
– Você não perdeu tempo, hein, filho. Pelo jeito a Astrid tomou a sua noite, não só seus pensamentos. - Meu pai deu uma risadinha maliciosa...fala sério, ele pensou isso mesmo?
– Pai...não, não é a Astrid! - Eu não sabia se confirmava para proteger o Banguela ou se negava para proteger a Astrid.
– Então você está mais ligeiro do que eu pensei.
– O que?
– Duas garotas na mesma noite...quem disse que as moças não gostam dos magrelinhos, afinal de contas.
Fiquei sem palavras, ele acha que uma garota escapou do meu quarto pelo quintal...ah, tudo bem, de tudo que ele podia pensar, essa é a melhor das hipóteses.
Ele comeu pão com sardinhas e torradas com o patê de bacalhau, depois se despediu de mim e foi embora. Era hora de eu ir embora também, afinal tenho hora de chegar no trabalho.
Olhei o Banguela pela janela, como forma de despedida. Ele estava brincando com o regador, chacoalhando-o de um lado para o outro. Foi engraçado.
Com peso no peito, peguei minha moto e fui à pizzaria. O Gosmento estava trocando o letreiro, aparentemente o seu negócio está indo muito bem...o que é meio irônico, afinal comprar pizzas de um homem peludo e rude chamado Gosmento definitivamente não é uma ideia aparentemente boa. Pelo menos os produtos dele compensam com seu sabor.
Os outros motoboys estavam conversando, muito empolgados com algum assunto. O Perna-de-Peixe fez um gesto para que eu entrasse na rodinha.
– O que está havendo? - Perguntei, me aproximando.
– Saiu hoje na revista do nosso tio que um militar chamado Bork, que participou do experimento com DNA que criou os dragões, publicou um livro sobre eles, contando todas as espécies que foram criadas. - Cabeça-Quente.
– Se liga nisso: "Conseguimos extrair o DNA de dinossauros atrás dos fósseis encontrados em sítios arqueológicos, fazendo uma pequena variação na técnica de datação de Carbono 14, que nos permitiu concentrar as quantidades de DNA, tornando o material mais estável e útil". - Melequento leu um trecho da reportagem da revista, que por sua vez continha uma entrevista com o tal Bork.
– Veja essas espécies: "Nadder Mortal, feito através da mistura de DNA de dinossauros com o de aves e porcos-espinhos. Ele tem um gene que causa a criação de fogo no interior de seu corpo, além de um incrível anti-incêndio no interior de seu corpo ". - Cabeça-Quente leu mais um trecho.
– E essa: "Arma-Ciladas, feitos com mistura de dinossauro e plantas carnívoras". - Cabeça-Dura.
– "Gronckel, obtido pela mistura de DNA de dinossauros com insetos de couraça super resistentes". - Perna-de-Peixe.
– Tambor-Trovão, mistura de dinossauro, tubarão e piranha, com uma capacidade acústica ensurdecedora". - Melequento.
– E tem um livro cheio de espécies, que ele batizou de "Livro Dos Dragões". São literalmente dezenas de espécies, isso é tão legal! - Cabeça-Quente.
– Tem algum parecido com o que saiu na foto do jornal? - Eu.
– É claro, o Fúria da Noite. - Perna-de-Peixe.
– E o que tem sobre ele? - Eu.
– Mistura de DNA de dinossauro com morcego e gato, além de conter um gene que causa altas concentrações de plasma no interior de seu corpo, que ele dispara a altas temperaturas. Fascinante. - Perna-de-Peixe.
– Que legal! É isso! Preciso desse livro. - Comentei, tirando a revista das mãos deles e observando todos os detalhes sobre o livro.
Depois de falarmos mais um pouco sobre dragões, recebemos nossas pizzas e fomos entregá-las. Quando atingi a minha cota, fui para a casa da Astrid...estou muito ansioso pelo nosso encontro.
Foi um grande alívio ver que a minha casa ainda estava inteira e as pessoas pacíficas, aparentemente o Banguela continua no meu quintal. Buzinei na porta dela e logo ela saiu, saltitando e sorrindo.
– Oi Astrid, você está linda. - Me referi à sua blusa vermelha, de mangas curtas, com estampa de caveiras, calça jeans e tênis preto.
– Obrigada, você também. - Ela corou e apontou para a minha camiseta preta, calça jeans e tênis estiloso.
– Obrigado. Dormiu bem?
– Como há muito tempo não dormia. Você foi muito gentil me trazendo de volta e me colocando na cama.
– Imagina. Está pronta?
– Estou sim.
Ela subiu na garupa e me apertou pela cintura, como ontem, me deixando nas nuvens. Dei partida na moto, levando-a até o cais, ontem o parque de diversões itinerante de Berk está montado.
Estacionei numa rua próxima e logo fomos até lá. Aquele encontro estava com cara de clichê, mas eu não estou nem ligando...só pela companhia dela, já vale a pena.
O parque de diversões tinha várias barracas com jogos de sorte e alguns brinquedos mecânicos, como uma roda gigante e carrinho de bate-bate.
Olhei para uma das barracas de jogos de acertar bolinhas nos alvos, onde os prêmios eram bichos de pelúcia fofos. Fiz um gesto para a Astrid com a cabeça, indicando que eu queria tentar.
Eu tinha 3 chances de acertar, e graças à minha pontaria boa, consegui.
– Você pode escolher o prêmio. - Envolvi a Astrid com meus braços na altura dos ombros.
– Eu quero o dragão de pelúcia. - Ela apontou para um dragão roxo e fofo, o que me deixou meio arrepiado.
– Ah...claro...tudo bem.
Dei o bicho de pelúcia a ela, deixando-a muito feliz. Após algumas voltas, ela já estava com as mãos ocupadas. Tinha bichos de pelúcia, algodão doce e um churro.
Ela sujou o rosto com o recheio de doce de leite do churro. Dei uma risada dela e limpei o canto de sua boca, nos colocando em uma situação de pura timidez.
Para descontrair, fomos no carrinho de bate-bate. Ela parece mais animada com esses jogos impactantes e velozes.
– Desculpa, Soluço, mas vou acabar com você. - Ela bateu em mim repetidas vezes com o seu carrinho, me deixando sem chance de escapar.
– Nunca vou querer brigar com você. - Comentei, meio que admitindo a derrota.
Depois de sairmos de lá, fomos na montanha russa e, por fim, na casa dos espelhos.
Ela se divertia enquanto observava a mudanças das formas de seus reflexos, distorcendo-o de diferentes formas. Em um dos espelhos em particular, ela tirou o foco do seu próprio reflexo e passou a observar o meu.
– O que foi? - Comentei, enquanto ela se virava para mim.
– Obrigada por ter surgido na minha vida. - A Astrid se aproximou, como ontem. Tomara que a gente se beije de novo.
– Eu que te agradeço, você tem me feito muito feliz.
– Você também, foi o único que conseguiu me tirar daquela apatia todo em que eu estava.
Nos olhamos afetuosamente por algum tempo, até que finalmente nossos lábios se encontraram...mas ao contrário de ontem, nosso beijo se intensificou, até que evoluiu para um beijo de língua. Foi bem surpreendente, a língua dela é macia e ela tem hálito refrescante de hortelã.
Depois do beijo, nos afastamos para respirar. Pude ver nossos rostos próximos através de todos os espelhos de lá, de diferentes ângulos e formas...foi uma experiência bem interessante.
– Que beijo incrível. - Ela cochichou.
– Também achei. - Respondi, vendo o reflexo de meus olhos verdes nos olhos azuis dela.
– Para acabar a noite com chave de ouro, vamos no túnel do amor?
– Um clichê de filmes como o túnel do amor? Eu topo.
Saímos de lá vermelhos e de mãos dadas, como um legítimo casalzinho. Fomos no túnel do amor, que é basicamente um barquinho que passa por dentro de um túnel, mas aposto que poucas pessoas já notaram o que tem no interior dele, porque estão ocupadas demais se agarrando.
Quando eu e a Astrid sentamos no barquinho, fomos para dentro, e logo estávamos na mesma situação de outros casais...um beija-beija sem parar. Os nossos beijos são bons demais para pararmos.
Já no fim do túnel do amor, eu e ela demos risada porque nem notamos o que aconteceu ao nosso redor enquanto ficamos lá dentro.
Saindo de lá, fomos na roda gigante. É romântico e isolado, então claro que foi uma boa ideia.
Já lá dentro, nos sentamos cada um em um canto do banco. Eu e ela somos os únicos nessa cabine, o que nos deu privacidade. Aos poucos, ela se aproximou de mim, discretamente.
Tentando não parecer apressado, eu a envolvi com meus braços, num semi-abraço. Ela encostou sua cabeça em meu ombro, se aconchegando em mim. Aquela atmosfera romântica estava de matar, o que me deu vontade de me abrir.
– Astrid...tenho que te contar uma coisa. - Acariciei o braço dela, enquanto afastava uma mecha de cabelo que atrapalhava a minha visão do rosto dela.
– Pode falar, Soluço. - Sua voz estava calma, mas um pouco ansiosa.
–Sei que é meio precoce, mas estou completamente apaixonado por você.
– É sério?
– Muito.
– Então você deu sorte, porque eu também me apaixonei por você.
– Se...apaixonou? Por mim?
– Sim...que outro cara me levaria para casa sem se aproveitar de mim como você fez ontem? Ou me encheria de bichinhos de pelúcia e doces gostosos no parque de diversões? Você é especial.
– Nem sei o que dizer...sou assim, eu acho.
Voltamos a nos beijar, essa é mais uma noite perfeita com a Astrid. Engraçado como ela sempre deixa as coisas melhores.
Quando a volta na roda gigante acabou, eu a levei de volta para casa. Agora a espremida que ela me deu na minha cintura enquanto ficou sentada na garupa foi mesmo maravilhosa.
– Que pena que a noite acabou, eu amei cada detalhe. - Astrid beijou a minha bochecha, acho que pela timidez da nossa melosidade no parque.
– Eu também amei...saímos amanhã? Não vou estar trabalhando durante a tarde. - Estou torcendo para que ela concorde.
– É claro! A tarde eu te espero.
– Vamos mesmo pescar?
– Sim. Você sabe pescar?
– Pior que não.
– Então vai ser um prazer te ensinar.
Estacionei na porta da casa dela, observando-a descer do meu veículo.
– Até amanhã, Soluço. - Dessa vez Astrid me deu um selinho de despedida.
– Até amanhã. - Respirei fundo, coisa típica de apaixonado.
Ela entrou em casa e acenou para mim da janela, como se dissesse boa-noite.
Atravessei a rua e entrei em casa suspirando feito um bobo, nem acredito que me declarei para ela...ah, finalmente eu admiti. Estou mesmo apaixonado...e ela também, isso é o melhor de tudo.
Depois de voltar os pensamentos à realidade, saí para o quintal, onde eu temia que o Banguela tivesse feito muita bagunça. Na verdade, estava tudo arrumado, exceto pelas panelas.
Ele dormia tranquilamente, até que notou a minha presença. Ele me observou, enquanto eu peguei um graveto e desenhei o focinho dele no chão, meio que para registrar aquele momento.
Quando concluí o meu desenho, ele pegou um graveto maior e começou a riscar no chão, afastando terra e formando um padrão abstrato. Me levantei para olhar mais atentamente os detalhes, reparando que ele sempre rosnava quando eu pisava nas linhas.
Dei pulinhhos de um campo a outro do desenho dele, raciocinando que ele certamente tem uma inteligência que ultrapassa seus instintos. De um passo a outro, de repente, eu estava bem ao lado do Banguela.
Estiquei minha mãe novamente para ele na direção de seu focinho, esperando outra recusa dele, porém fui surpreendido pelo toque áspero de sua pele escamosa. Aquele parecia ser um gesto tão profundo, isso mexeu comigo.
Sues olhos estavam gentis, seu olhar meigo e amigável...me senti mais conectado a ele do que nunca.
– Boa noite, amigão. Continue quietinho. - Falei para ele, baixo, para que meu pai não acordasse.
O dragão ronronou e se embrulhou sobre a vela de barco, ficando aconchegado e quentinho. Ele fechou seus olhos e adormeceu, enquanto eu o observei.
Entrei em casa e fui para o meu quarto, onde eu pensava sem parar na Astrid e no Banguela...tenho passado for fortes emoções, mereço um descanso. hoje o meu dia deu muito certo, estou bastante satisfeito com tudo.
Me deitei na cama e me perguntei se aquelas alegrias todas seriam uma calmaria antes da tempestade. Sabe aquela sensação de que está bom demais para ser verdade? Algo vai acontecer, eu sinto isso.
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