Regina encarou o vidrinho, a Grã-Bruxa não era muito discreta, havia um rótulo escrito “Fórmula 86 para Fazer Ratos”.
— O que a gente faz? — Emma perguntou.
— Eu não sei, Emma. Talvez eu conseguisse criar um antídoto, mas só em Storybrooke.
— Mas a gente precisa parar as bruxas… E se a gente colocasse a fórmula na comida delas?
Regina olhou descrente para Emma, enquanto voltavam para o quarto. — Sua vontade de morrer anda no máximo, né?
— A gente precisa fazer alguma coisa — Emma continuou. — Acho que é uma ótima ideia, o pessoal do hotel, com certeza, daria um jeito nos ratos.
— E como você acha que vai colocar isso na comida delas?
— Amanhã tem um jantar especial para a Associação, acho que o jantar servido para elas é diferente dos outros hóspedes. A gente pode descobrir e colocar na panela da comida delas.
— A gente? — Regina perguntou com sarcasmo.
— Eu posso entrar lá e virar o vidrinho na panela quando ninguém estiver olhando. — Emma falou satisfeita.
— Mas é claro que eu vou deixar você entrar na cozinha…
— Você vai.
— Não, Emma… Não vou deixar o cozinheiro te cortar no meio com o cutelo. — Regina fechou os olhos. — Eu posso tentar me disfarçar de cozinheira…
Emma a olhou com olhinhos curiosos. — Sério?
— Sério. Se me descobrirem lá, vão só chamar a polícia, eu consigo fugir. Se te pegarem, vão te matar.
— Se você parar na cadeia, eu faço companhia para você lá, agora que consigo me esconder no seu bolso.
Regina começou a rir. — Você é uma idiota. Amanhã, no jantar, a gente coloca o plano em prática, certo?
— Certo! — O ratinho concordou. — Agora, acho que você e o Henry nem almoçaram, né? A gente podia ir comer alguma coisa e trazer para o Henry no quarto.
Era verdade, Regina e Henry estavam esperando Emma para o almoço quando tudo aconteceu, depois Emma se infiltrou na reunião das bruxas e toda a confusão aconteceu. Já estava de tarde, mas elas decidiram que passariam no salão de refeições, atrás de algo.
Regina abriu a porta do quarto de Henry. — Filho, não sai do quarto, vou sair e já volto, não abra a porta se baterem e qualquer coisa, me ligue.
Com isso, ela saiu com Emma no bolso, indo atrás de algo para comer. Andando pelos corredores, Regina percebeu ratoeiras no chão. — Viu o resultado do que você aprontou na recepção? Espero que você não seja maluca o suficiente para tentar tirar o queijo de lá — Regina resmungou.
Emma ficou sobre duas patinhas, olhando para fora do bolso, viu as ratoeiras encostadas na parede. — Eu não sou burra, Regina.
A morena deu uma risadinha. — Você também não pode cair em uma sem querer.
Emma voltou a se esconder. Chegando no salão, Regina encarou um local quase vazio, mas as refeições ainda estavam lá, apesar de já não ter muita coisa. Afinal, o almoço já havia passado. Era uma espécie de self-service de luxo, Regina se aproximou do balcão e começou a fazer seu prato, depois ela faria o de Henry e levaria para ele. Sem muita fome, provavelmente, ela seria rápida.
— Regina, eu quero também — Emma sussurrou —, pega alguma coisa para mim.
A morena revirou os olhos, e indo para o lado das sobremesas, ela pegou um morango, o deixando no cantinho do prato.
Regina não sabia, mas ela cometeu o erro de sentar-se em uma das mesinhas para almoçar, achando que seria mais fácil levar apenas o prato do filho para o quarto quando subisse. — Regina, pegou algo para mim? — Ela ouviu outra vez, bem baixinho.
Disfarçadamente ela pegou o morango, sabendo que aquilo sujaria todo o lado de dentro do bolso de seu casaco, mesmo assim, ela jogou dentro do bolso. Emma teria bastante tempo para se divertir com aquele morango.
Então, ela começou seu almoço, uns minutos depois uma das cadeiras de sua mesa foi puxada, levantando os olhos Regina viu o Senhor Jenkins. — Senhora Mills — ele falou sorridente. E Regina não acreditou que aquele homem tentaria de novo.
Ela forçou um sorriso.
— Descobri que é sempre um prazer ver a senhora.
Regina continuou com um sorriso forçado nos lábios, ela não sabia o que fazer. — Vou montar o prato do meu filho — ela resolveu responder, pensando que assim o homem poderia ter bom-senso e sair da mesa. A mulher se levantou, seguindo o mesmo caminho que fez para servir o próprio prato, mas quando voltou para a mesa, Jenkins ainda estava lá.
— Sabe senhora Mills, posso te chamar de Regina? Regina… Acho muito importante que façamos networking com pessoas importantes.
— Claro…
— Por que não me passa seu contato? — Ele sorriu.
Então, Regina sentiu algo escalando ela, antes que ela conseguisse agarrar, Emma pulou na mesa, batendo nos talheres e ficando sobre duas patas. O ratinho começou a rosnar para o homem, não era exatamente um rosnado, mas sobre duas patas ele abriu a boca, e começou a grunhir de modo agressivo. Com o pelo branco todo sujo de morango vermelho, o bichinho parecia um demoninho em miniatura.
— O que é isso?! — Senhor Jenkins berrou assustado. — Socorro!
Regina observou a cena sem acreditar no que Emma estava aprontando, o rato na mesa continuava agindo como se estivesse com o vírus da raiva. — O senhor precisa se acalmar — Regina falou —, é só um ratinho.
Ele se afastou da mesa, e era claro que alguém viria correndo para esmagar o rato. Sem saber o que fazer, Regina agarrou Emma, enfiou no bolso do casaco, pegou o prato do filho e se apressou para fora. Só o senhor Jenkins viu a cena e com certeza ele seria o menor dos seus problemas. Mas ele começou a gritar. — Aquela mulher é louca! Ela tem um rato ensanguentado.
Regina correu ainda mais, mas o gerente surgiu do nada, perseguindo ela. — Senhora Mills! Senhora Mills!
Ela foi obrigada a parar. Sr. Stringer, gerente do hotel, suspirou. — Senhora Mills, o senhor Jenkins está reclamando sobre um rato. Animais não são permitidos nas dependências do hotel.
Regina franziu o cenho, ofendida. — O senhor está insinuando que eu tenho um rato? O senhor acha que eu sou o tipo de mulher que anda por aí carregando um rato?! — Ela perguntou ainda mais irritada.
— Não — ele gaguejou —, mas o senhor Jenkins…
— Aquele homem é louco — ela o cortou —, apareceu um rato no salão, mas obviamente eu não sairia carregando o bicho por aí. Se o senhor quer saber, me parece que você está jogando a culpa do hotel nos hóspedes
— Como?
— Não é a primeira reclamação de ratos nesse lugar, e o senhor vem atrás de um dos hóspedes em vez de ir reforçar o pessoal da limpeza.
O homem ficou atônito.
— Se não me der licença, vou abrir uma reclamação na Vigilância Sanitária e pelo visto, não vou ser a única cliente reclamando.
— Mil perdões, senhora Mills. Foi uma loucura, só vim atrás da senhora porque o senhor Jenkins…
— Mande aquele homem tomar um calmante. E outra, é patético um homem daquele tamanho gritar por causa de um ratinho. — Com isso, ela se virou e escapou do gerente, indo para o quarto.
***
— Qual a merda do seu problema? — Foi a primeira coisa que Regina falou ao trancar a porta do quarto. Ela nem chegou a tirar o rato do bolso. — Henry, seu almoço. — Ela bateu na porta do filho. — Você se esforça para que eu fique com vontade de matar você, né? Todo dia você acorda e pensa “como eu posso irritar a Regina hoje” — ela continuou reclamando com Emma.
O garoto apareceu e pegou o prato. — Aconteceu alguma coisa?
Regina suspirou. — Aconteceu um monte de coisas, depois eu te explico.
— Mas…
— Não discute com a sua mãe — o ratinho colocou a cabeça para fora do bolso da morena.
O garoto suspirou, mas Regina estava tão irritada que resolveu que contrariaria Emma. — Sua mãe achou que era uma boa ideia pular na mesa e atacar um hóspede — Regina reclamou.
— Como é? — Henry olhou de Regina para Emma.
— Era um velho tarado que estava assediando sua mãe — Emma se defendeu.
Henry pareceu confuso e Regina quis dar um peteleco no rato. — Você deveria falar: “obrigada, Emma. Por me salvar de um assédio”. — Emma falou para a morena.
— Você é doente.
— Isso em você é sangue? — Henry perguntou para Emma. — Você atacou ele de verdade?
— Não, é morango. Mas ele merecia ser atacado, eu não estaria errada se tivesse mordido ele.
— Emma!
— Era um velho CASADO — Emma falou para o filho —, pedindo o número da sua mãe. Você deveria chutar a canela dele quando estivermos indo para casa.
— Emma, chega — Regina brigou, arrependida por colocar Henry na conversa. — Henry vai almoçar.
O garoto riu e foi para o próprio quarto com seu almoço. Regina fechou a porta que separava os quartos e colocou Emma na mesinha de centro. — Regina, eu não terminei meu morango.
A morena fez uma careta, mas tirou o morango mordido do bolso, o soltando na mesinha. Emma voltou a comer e Regina tirou o casaco, se lamentando pela sujeira no bolso. Ela foi lavar as mãos e quando voltou, falou. — Você é uma irresponsável.
Emma parou de roer o morango. — Eu estava defendendo você.
— É claro — Regina falou cheia de sarcasmo e desistiu de discutir.
— E outra, eu falei que era sua mulher, não interessa se é verdade ou não. Aquele canalha é casado e estava dando em cima de uma mulher supostamente casada… UM VAGABUNDO.
Emma voltou a roer seu morango e Regina achou que elas teriam longas horas até o jantar da noite seguinte.
***
O ratinho comeu um morango inteiro, o que deixaria Emma morrendo de fome, mas foi suficiente para um bichinho tão pequeno. E a família passou a tarde no quarto, o plano contra as bruxas só aconteceria na noite seguinte, não havia muito o que pudessem fazer nesse tempo, mas ninguém queria arriscar ficar andando pelo hotel.
Nesse tempo, Emma contou para Henry tudo que viu as bruxas fazendo e explicou que, apesar de ser entediante, ele não poderia sair do quarto. Era melhor deixar que elas pensassem que ele havia virado um ratinho. Então ele ficou no quarto jogando videogame e as mães ficaram no quarto ao lado.
***
Regina estava deitada na cama, usando óculos de leitura e sem tirar os olhos do celular.
— O que você está fazendo? — Emma perguntou curiosa. O ratinho estava na mesinha de cabeceira ao lado da cama.
— Eu estou pesquisando sobre ratos.
— Por quê?
Regina olhou para Emma, ela achava que a situação era autoexplicativa e não precisava de uma resposta, mas Emma continuou esperando por uma.
A morena suspirou. — A gente precisa ser responsável ao cuidar de outro ser vivo. Eu não quero te dar uma comida errada e te matar, por exemplo, cachorros não podem comer chocolate.
— Eu posso comer qualquer coisa
— Não pode, não. Na verdade, achei uma lista de coisas que você não pode comer. Você também não pode ficar comendo muito chocolate.
— Como é? — o ratinho perguntou estressado.
— Tem muito açúcar e gordura para você agora, e ratos são meio intolerantes à lactose.
— Isso é mentira!
— É verdade, está na internet. Mas tem uma lista de coisas que você pode comer, frutas, legumes e grãos. Você pode comer maçãs — Regina sorriu — e morangos, caqui, melancia… Um monte de frutas, todas sem sementes.
Emma ainda estava emburrada por conta do chocolate.
— É uma lição para você — Regina resmungou —, se não fosse por causa de chocolate você nem teria esse problema para começo de conversa. Além disso, você ainda é você, mas em um corpinho de rato, então agora você precisa ter mais cuidado antes de fazer porcaria, porque você é mais frágil.
Regina continuou falando. — Eu também descobri que ratos são ótimos animais de estimação. Eles podem ser treinados e gostam de carinho, são quase um cachorro pequeno, eles são sociáveis e se apegam ao dono, ficam muito tristes se forem abandonados.
— Eu não sou um bicho de estimação — Emma retrucou.
Regina sorriu e pegou o ratinho, os dedos da mão direita se juntaram nas costas dele, fazendo uma cosquinha igual as que ela viu na internet. Em resposta, ela ouviu um barulhinho e o viu se remexer como alguém que estava gostando.
A mão parou, Regina riu. — Não tem graça — Emma falou constrangida.
— Quer que eu faça de novo?
— Quero — Emma sussurrou.
Dessa vez, Regina fez carinho na cabeça do ratinho, coçando atrás das orelhas e observando ele fechar os olhos em satisfação.
Claro, ela preferia a outra versão da loira, por diversos motivos, mas pelo menos, ela ainda tinha Swan com ela. Regina continuava preocupada, mas ela ainda podia conversar com Emma, o que sempre foi melhor do que nada…
— Regina.
— Hmm?
— Será que você pode me levar para a sua casa?
— O quê?
— Quando a gente voltar para Storybrooke, posso ficar na sua casa em vez de voltar para a casa da minha mãe? Acho que vai ser meio estressante ficar lá enquanto não voltar ao normal.
Regina sorriu, ela já pretendia levar Emma para casa, mesmo que ela não tivesse pedido. — Claro — ela concordou —, mas tem certeza que não quer ir para lá? Posso te comprar uma gaiolinha e você passa uma semana com a sua mãe e uma semana com o Henry, igual um bichinho de estimação de sala de aula — Regina falou zombando.
— Vai se ferrar.
Regina riu. — Certo, sem gaiola.
— O que eu faço agora? — O ratinho murmurou preocupado.
Regina olhou curiosa. — O que você faz agora? — Ela repetiu, esperando o restante da pergunta.
— E se você se casar e eu tiver que passar o resto da vida sendo o bichinho de estimação do Henry?
Então Regina começou a rir, começou como uma risadinha baixinha, até virar uma gargalhada completa. Lágrimas começaram a surgir nos cantinhos dos olhos da morena e ela ficava tentando engolir a risada e secar as lágrimas. Enfim, ela conseguiu falar. — Esse é o seu maior problema no momento? Eu me casar?
O bichinho pareceu terrivelmente envergonhado. — Bom, eu não quero ter que conviver com um estranho.
— É claro que você não quer — Regina falou com ironia, mas também havia carinho na voz dela. Ela quase percebeu o que estava acontecendo ali. — Se isso acalma o seu coraçãozinho de rato, eu não vou me casar, tudo bem? Só quando conseguir fazer você voltar ao normal.
O ratinho ficou claramente aliviado. — Acho ótimo assim.
— Eu sei que você acha.
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