— Regina? Regina?
A morena começou a ser acordada no meio da noite, ainda sem abrir os olhos ela respondeu. — Hmm?
— Eu preciso beber água.
— Vai beber então — Regina falou, cochilando.
— Eu não consigo pegar a água usando patinhas. — Mills sentiu algo empurrando seu braço, quando ela finalmente abriu os olhos deu de cara com um ratinho branco apoiando as patinhas nela.
Ela poderia gritar e dar um safanão no bichinho, mas ela se lembrou o que estava vivendo. — Eu esqueci dessa… situação — ela murmurou com sono. Passou a mão no rosto e saiu da cama.
Regina pegou uma garrafa de água, encheu a tampinha e voltou, colocando a tampinha na mesinha de cabeceira, ela colocou o ratinho na mesinha e esperou que bebesse a água.
A morena havia falado que de jeito nenhum ela deixaria um rato dormir na cama dela, mas claro, ela não aguentou a cara de coitada de Emma, mesmo sendo um ratinho. Então, apesar de ter deixado ele na mesinha quando se deitou, teve que levantar e colocar ele no travesseiro, do contrário ela passaria a noite encarada por um rato emburrado.
Quando Emma terminou de beber água, Regina a colocou no travesseiro, outra vez, voltando a se deitar.
— Regina.
A mulher abriu os olhos de novo. Emma estava no travesseiro de Regina, bem ao lado do rosto dela.
— Desculpa dar trabalho para você… E por estragar nossas férias.
— Tudo bem — Mills murmurou —, não foi sua culpa. E você não está dando trabalho… quer dizer, não muito.
— Mesmo assim, sinto muito.
Regina começou a coçar a cabeça do ratinho com o indicador. — Eu sinto muito também.
Então ela ouviu a porta que separava o quarto de Henry se abrindo. — Mãe, posso dormir com você? — Ele perguntou envergonhado.
— Claro, mas o que aconteceu?
O garoto, carregando seu próprio travesseiro, foi se deitar ao lado da mãe. — Não quero que as bruxas entrem no meu quarto.
Regina percebeu que o filho não queria usar as palavras “estou com medo”, ela abraçou o garoto. — Tudo bem, pode ficar aqui. Ninguém vai entrar no nosso quarto.
— Obrigado — ele murmurou. — A Emma está aqui?
— Urhum — Regina concordou e logo Henry percebeu o ratinho enrolado no travesseiro da mãe.
— Oi, Emma — ele falou e esticou a mão, coçando as costas do ratinho.
— Você quer ouvir uma história ou já está muito grande para isso? — Regina perguntou.
Henry deu de ombros.
— Emma, conta a história “Os Três Ratos Cegos” para a gente — então Regina começou a rir da própria piada.
— Não tem graça — Emma resmungou e Henry deixou uma risadinha escapar.
— Ah, tem graça.
— Boa noite, Henry — Emma resmungou. — Boa noite, Regina.
Então eles dormiram, todos na mesma cama. Regina abraçando o filho e o ratinho enrolado no travesseiro dela, como a família estranha que eram.
***
— Eu vou pedir serviço de quarto — Regina resmungou e olhou para Emma de cara feia. — Não quero arriscar a ir buscar o café da manhã e ter que aguentar os chiliques de alguém.
Eles acordaram bem, nada estranho aconteceu durante a noite. E agora, todos queriam café da manhã, Regina ligou na recepção e pediu que fosse entregue no quarto. Não demorou para que batessem na porta e o carrinho recheado de bandejas fosse empurrado para o quarto. Panquecas, torradas, ovos mexidos, frutas, café e chá. Henry foi o primeiro a se servir, pegando um prato com panqueca.
O ratinho praticamente se jogou no colo de Regina, exclamando — Eu quero panqueca com calda de chocolate.
A mulher cortou uma maçã em quatro pedaços, tirando as sementes, e deu para Emma uma fatia. — Você não pode comer panqueca.
— Tá de brincadeira?
— Não, você sabe muito bem que eu não vou deixar você comer panqueca, pior ainda com chocolate.
Regina ouviu um “squeak, squeak” que acreditou ser um resmungado e se serviu de torradas com ovos, observando Emma roer seu pedaço de maçã.
— Você deveria me agradecer, pelo menos agora eu consigo fazer você ter uma alimentação saudável — a morena falou.
Emma ignorou o comentário. — Você já pensou em como colocar o plano em prática? — Emma perguntou.
— Já — Regina respondeu sem dar detalhes —, e eu não quero você aprontando nenhuma gracinha enquanto isso.
— Eu vou com você — Emma resmungou.
— Você vai — Regina concordou —, mas não quero que arrume confusão. E você está proibida de atacar as pessoas!
— Não pode comer chocolate, não pode brigar… Por que você quer acabar com toda a minha diversão?
Henry soltou uma risada.
— Eu estou me certificando de que você fique viva, mas se você fizer muita questão, posso te jogar na piscina e assistir “você se divertir”.
Emma teria revirado os olhos se pudesse. — Certo, certo. Nada de diversão, eu já entendi.
***
O celular de Regina começou a tocar, olhando no identificador, Regina viu o nome de Mary Margaret, mãe de Emma. A morena fez uma careta, mas atendeu.
— Oi, Regina — ela ouviu. — Tudo bem com vocês? Como estão as férias?
— Tudo ótimo — ela respondeu, torcendo para a ligação acabar logo.
— Então, estou te ligando porque a Emma não responde nenhuma mensagem. Aconteceu alguma coisa? Ela não pegou mais no celular.
O olhar de Regina foi direto para o ratinho, que estava no meio da cama. Como ela explicaria o que havia acontecido. — Ah, Mary! A Emma perdeu o celular.
— Mas em um hotel caro desses, com certeza vocês conseguem encontrar.
— Claro, vamos tentar. — Em pé no quarto, Regina encarou o celular de Emma que continuava na mesinha de centro.
— Posso dar um “oi” para Emma?
Regina pareceu pensar. — Um momento.
Mills se aproximou do ratinho, tentando tampar a saída de áudio do celular. — É a sua mãe — ela sussurrou —, não conta para ela o que aconteceu.
Com isso, Regina colocou a ligação em viva voz e deixou o celular na frente de Emma. Só pela voz não tinha como Mary perceber qual era o estado da filha.
— Oi, mãe — Emma falou, parecendo feliz.
— Emma, o que aconteceu? Ficamos preocupados.
— Perdi meu celular ontem, como a Regina falou.
— Mas está tudo bem mesmo?
— Claro e por aí?
— Tudo ótimo! Você nem mandou fotos para gente, queremos saber como está a viagem.
— Celular perdido — Emma repetiu.
— Bom, enquanto não acha o seu, manda as fotos usando o celular da Regina.
Emma encarou a morena. — Vou tentar, mas a Regina morre de ciúmes das coisas dela.
— Tenho certeza que ela te deixa usar um pouquinho.
Emma ficou em silêncio. — Bom, vou deixar vocês curtirem as férias. — Mary concluiu a ligação.
— O que a gente faz? — Emma perguntou, não tinha como ela mandar essas fotos.
Regina deu de ombros. — A gente enrola ela e não manda.
Henry que estava no canto ouvindo a conversa, falou. — Bem que a gente podia tirar umas fotos, só para guardar de lembrança.
— Ah, fala sério — Emma resmungou. — Não quero guardar lembranças de ter virado um rato.
— Mas é a nossa primeira viagem de férias — ele insistiu.
— Não vai ser tão ruim assim — Regina falou, só porque o filho estava pedindo.
E Emma acabou perdendo, no fim ela terminou no ombro de Regina, enquanto Henry se posicionava ao lado da mãe para tirar uma selfie.
Fotos tiradas e bom… ficaram boas, apesar de serem fotos de uma Regina sorridente ao lado do filho e com um ratinho branco no ombro. — Você não pode postar e nem enviar para alguém — ela avisou.
— Claro — ele concordou. Pelo menos agora eles tinham fotos de férias, mesmo que as férias estivessem sendo desastrosas.
Depois das fotos, Regina pegou o celular de Emma, que estava esquecido na mesinha. — Qual sua senha?
— Regina… — o ratinho murmurou meio chocado.
— O quê? Medo que eu veja algo que você não queira? — Regina provocou. — Vamos, fala a senha logo.
— O desbloqueio é a minha digital, Regina — Emma resmungou irritada.
A morena encarou as patinhas do rato e começou a rir. — Ah! — Mesmo assim ela pegou o ratinho e colocou uma das patinhas da frente sobre a tela, obviamente o celular não foi desbloqueado, mas ela já sabia disso. — Bom, acho que você vai ficar sem celular por um tempo.
Emma correu pela mesa, se sentindo um pouco ofendida. — Você anda muito engraçadinha — ela resmungou.
***
O dia correu bem, nada de estranho aconteceu e a família continuou no quarto até quase dar o horário do jantar. Sabendo que a cozinha começava a preparar a comida antes do anoitecer, Regina andou pelo quarto e parou em frente a penteadeira, era a hora de colocar o plano em prática.
Ela colocou o ratinho sobre o tampo de madeira da penteadeira e por algum tempo ela apenas se olhou no espelho. Com um movimento da mão direita a morena lançou um feitiço em si, fumaça roxa envolveu a mulher e quando ela se dissipou outra pessoa estava ali.
O reflexo no espelho era o de uma senhora muito mais velha, e nem um pouco parecida com Regina. Com um nariz um pouco grande demais, as rugas se espalhavam profundas pelo rosto da mulher e ela usava uma roupa de cozinheira, a mesma roupa que viu os outros funcionários do hotel usando.
O ratinho olhou para ela. — Cruzes, eu sou etarista — ele zombou
Regina franziu o cenho, irritada com o comentário. — Você anda muito engraçadinha para alguém que pode ser tão facilmente jogada pela janela.
Regina ouviu um “quii, quii, quii” e jurou que o ratinho estava rindo. — Calma, é brincadeira, eu ainda vou gostar de você quando você for uma velha acabada.
— Você não é exatamente o padrão de beleza no momento, Emma.
— Ah, para. Eu tenho certeza que você me acha fofinha. — O ratinho ficou sobre duas patinhas e se olhou no espelho, as patinhas percorreram o próprio pelo branco, do jeito que os ratinhos faziam. — Meu Deus — o bichinho exclamou. Apesar de estar ciente que havia virado um ratinho, era a primeira vez que Emma se olhava no espelho, era extremamente chocante e terrivelmente comum. Quer dizer, se olhar no espelho e ver um rato era uma situação bizarra, mas ela era só um ratinho comum, provavelmente, qualquer um que a viesse correndo por aí, pensaria que era o ratinho de estimação de alguém. — Eu sou um rato — ela falou meio chocada.
— Exatamente, eu não vou ficar levando um rato para cima e para baixo e ainda ouvir desaforo — Regina resmungou. — E você, ainda por cima, é um rato bigodudo — Mills zombou e cutucou o bigodinho branco do rato.
— Mas você me acha fofinha? — O ratinho desviou o olhar do espelho e se virou, olhando para Regina.
A mulher só revirou os olhos e estendeu a mão. — Anda logo, a gente tem trabalho a fazer. — Com isso, o ratinho correu para a mão dela, indo parar no bolso do uniforme, junto com o vidrinho da “Fórmula Para Fazer Ratos”.
***
O plano era simples, mas poderia dar errado; Regina, com uma aparência diferente e disfarçada de cozinheira, se infiltraria na cozinha tentando passar despercebida, e ao descobrir qual dos pratos seria servido para as bruxas, despejaria o vidrinho da fórmula na panela. Então, ela simplesmente caminhou pelos corredores e deu um jeito de se enfiar na cozinha, com Emma no bolso do seu uniforme.
A cozinha era movimentadíssima, gritos por pratos, cozinheiros por todos os lados. Uniformizada, foi fácil passar despercebida.
— A mesa 15 pediu vinho tinto.
— Carbonara para a mesa 28.
— Aquela velha enjoada reclamou que o prato estava frio.
— A sopa de ervilha das mulheres da Associação já está pronta?
Regina se atentou para esse grito.
— Falta sal — alguém berrou. E Regina reparou no cozinheiro que estava cuidando de uma enorme panela de sopa de ervilhas, ele colocou mais sal, deu uma experimentada e exclamou — Perfeita!
Então ele saiu de perto da panela, Regina esperou pela oportunidade perfeita e ocupou o lugar do homem. Ela olhou para os lados, remexeu a sopa com a colher e sem ser notada, enfiou a mão no bolso, destampou o vidrinho enquanto ele ainda estava no bolso e de forma rápida, virou ele na panela.
Por alguns segundos, Regina continuou remexendo a colher da sopa. Até ouvir um — Quem é você? — Que pareceu meio irritado.
Ao se virar, ela deu de cara com uma senhora. — Agnes — ela inventou —, fui contratada recentemente.
— Acho que não vi esse nome na lista — a mulher falou desconfiada.
— Que lista?
— A lista de ponto dos funcionários que fica aqui na cozinha — a mulher franziu o cenho.
— É o meu primeiro dia — Regina falou se afastando —, devem ter esquecido.
A mulher encarou a panela, tudo parecia normal, então ela experimentou da sopa. De repente, ela encarou Regina. — Você colocou algo aqui?
— Claro que não, quem temperou foi o chefe.
A velha se aproximou de Regina, então ela percebeu os olhos brilhando em um tom violeta. — Eu acho que você está mentindo. — A mulher que, com certeza, era uma bruxa falou.
Emma, ouvindo a situação, fez a única coisa que ela achou que poderia fazer. Ela correu para fora do bolso de Regina, escalando o uniforme e se jogando contra a outra mulher, a verdade é que ratos sabem pular muito bem, caindo na mulher desconhecida, o ratinho deu uma mordida no braço dela.
A velha deu um grito de dor e com um safanão, Emma foi jogada no chão.
Regina ficou preocupada, mas achou uma boa ideia começar uma confusão na cozinha, assim ela desviaria a atenção que estava nela. — Um rato! — ela gritou. — Tem um rato na cozinha.
Todos os cozinheiros correram para perto das mulheres e Regina viu Emma se enfiar embaixo dos armários e fogões.
Um dos cozinheiros agarrou a panela de sopa, com medo do bicho parar lá dentro, e saiu a carregando, provavelmente, para já servir para as mulheres da “Associação”.
A cozinha virou uma bagunça, ter um rato ali seria um pesadelo. Regina se jogou no chão, gritando — Ele correu por ali — olhando embaixo do armário ela viu Emma, e enfiou o braço lá, torcendo para que ela entrasse em sua manga comprida.
O ratinho não se escondeu dentro da manga, mas correu para a mão de Regina e se enrolou. Ela apertou ele na mão, se levantando e o enfiando no bolso, torcendo para ninguém perceber.
— Ele está correndo embaixo dos móveis — Regina avisou, com Emma novamente em seu bolso. — Eu vou ver se consigo buscar algumas ratoeiras — Regina falou e tentou escapar pela porta dos fundos.
A porta dos fundos dava para uma espécie de pátio, com latas de lixo e lugares para “guardar bagunça” era acessado apenas por funcionários. O que ela não esperava, mas que era óbvio, era que a bruxa iria segui-la.
— O que você fez? — A mulher resmungou, abrindo e fechando a porta.
— Não sei do que você está falando — Regina rebateu.
A bruxa correu na direção dela, a agarrando pelos ombros. — Eu sei que tem algo de errado em você — ela guinchou.
Regina deu um empurrão na mulher, que caiu no chão, e antes que ela pudesse se levantar e atacar outra vez, ela começou a se contorcer. A fórmula estava fazendo efeito, Regina assistiu ao processo de diminuição e transformação com uma careta. No fim, a bruxa foi transformada em rato, e o bicho saiu correndo para longe.
Emma olhou para fora do bolso, vendo a ratazana correndo no chão. — Você acha que o plano deu certo?
— Eu espero que sim, Emma. Espero que sim.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.