História Coraline E o Mundo Secreto. Livro Neil Gaiman - II

♣ CORALINE DESCOBRIU A PORTA ♣

Parte 2

Um garoto montado em uma bicicleta motorizada chegou até o poço. Fitou Coraline e o gato por de trás de uma máscara de Hokey com formato de caveira e que tinha um periscópio de luz verde. O garoto devia ter a idade de Coraline, era quase da mesma altura (um pouco mais alto), tinha cabelos castanhos encaracolados, vestia um casaco preto aberto que ia até altura do joelho, usava uma camiseta branca com uma alça que ia até a cintura onde se encontrava uma câmera digital, vestia uma calça jeans cinza escura e calçava coturnos pretos.

— Ele não gosta muito de carinho, sabia ? — disse o garoto.

Coraline se aproximou um pouco mais do gato e continuou a acariciá-lo.

— Pois não é o que me parece — falou Coraline fitando o garoto. Ainda cobrindo o rosto com a máscara de Hokey. — Ele me parece está gostando, sabia ?

Desmontou da bicicleta e retirou a máscara revelando um garoto de pele clara, algumas sardas na altura das bochechas, olhos azuis marinhos como e de rosto até que charmoso segundo ela.

— Sabia sim — falou o garoto se aproximando do poço. — mas comigo ele não é assim.

— Olhe, não estou querendo ser grossa, mas, eu não gosto de ser seguida, nem por nerds psicopatas e nem por seus gatos.

— Eu não estava seguindo você - disse o garoto. — e não é meu gato, ele é meio arrisco. É selvagem sabia ? É claro que eu dou comida para ele toda noite, e às vezes é ele quem vem na minha janela trazer uns bichinhos mortos.

Coralinenão achou que aquele gato era realmente selvagem, e que provavelmente era mais um vizinho louco que inventava histórias.

— Eu me chamo Coraline Jones — disse Coraline apresentando-se. — eu acabo de me mudar para o casarão cor de rosa.

— Eu me chamo Wybie. Wybie Lovat. — disse Wybie — sabe, não está provado, mas eu ouvir dizer na TV que nomes comuns como Caroline induzem os outros a não terem maiores expectativas sobre a pessoa.

— Eu me chamo Coraline. Coraline Jones! — disse Coraline irritada. — como me encontrou aqui ?

— Eu vim dar um recado a senhorita Spink, e, ela me contou que viu você vindo para cá — respondeu Wybie. — só quis vir para lhe alertar sobre esse poço.

Mais uma vez alguém dissera a ela que aquele poço era perigoso.

— Você já é o segundo a me dizer que o poço é perigoso — disse Coraline. — A Senhorita Spink e a Senhorita Forcible insistiram em me dizer o quanto esse poço era perigoso, por isso eu fiz questão de explora-lo.

— A minha avó me contou lendas desse poço. — disse Wybie indo em direção ao poço. — Ela disse que se você olhar lá de baixo, consegue ver estrelas em plena luz do dia.

— Nossa, parece ser algo incrível de se ver. — falou Coraline.

— Sim, parece mesmo — disse Wybie olhando o poço. — É meio estranho ela ter deixado você vir para cá. Sabe, a minha avó.

— Como assim ? - perguntou Coraline.

— A minha avó é dona do Palácio Cor de Rosa e ela nunca aluga pra quem tem criança. — respondeu Wybie. — eu não entendo o porquê, ela só me conta histórias sobre essa casa.

WYBORNE JÁ PRA CASA! — uma senhora gritou de algum lugar.

Coraline logo soube que aquela era a voz da avó de Wybie, pois quando ele ouviu revirou os olhos e foi em direção a sua bicicleta, pegou a máscara e colocou na cabeça.

— Bom, eu tenho que ir Caroline - falou Wybie montando em sua bicicleta. — quer que eu te acompanhe até o Palácio Cor de Rosa ?

Coraline então levantou de onde estava sentada ao lado do gato. Decidiu aceitar, algo naquele garoto chamou a atenção dela, ele era misterioso e não parecia ser tão maluco quanto os outros vizinhos.

— Quero. – disse Coraline indo em direção a Wybie. — Então, Wybie, o que você faz para se divertir aqui ?

— Eu exploro as redondezas, tiro fotos com essa belezinha aqui – respondeu Wybie mostrando a câmera na cintura. — é o que faço, me mudei para a casa da minha avó a alguns meses, antes do outono.

— Você não tem cara de quem gosta de explorar — disse Coraline. — eu desde pequena sempre gostei de saber exatamente onde eu estava. Sinceramente eu prefiro sair de casa, fazem algumas semanas que me mudei e meus pais continuam os mesmos.

— O que seus pais fazem o dia todo para não lhe dar atenção ?

— Eles trabalham. Meus pais, ambos trabalham no computador e na maioria do tempo não tenho companhia.

— Entendo, meu pai é militar e por isso não para em casa — disse Wybie olhando para o Palácio Cor de Rosa que era visível mais abaixo. — eu cresci basicamente com babás cuidando de mim.

— Seu pai é militar, mas, e a sua mãe ? Seus pais são divorciados ?

— Não, na verdade não conheci ela — disse Wybie — ela morreu quando nasci.

— Desculpa pela pergunta, sinto muito — falou Coraline.

— Não, tudo bem, não cheguei a conhecê-la. A minha família se resume basicamente a minha avó e a meu pai.

Coraline decidiu que não ia perguntar mais nada sobre a vida de Wybie. Decidiu apenas segui-lo até o Palácio Cor de Rosa e conversar sobre outros assuntos com ele. Achou que mesmo não demonstrando Wybie ficava tocado com esse assunto.

Os dois seguiram conversando sobre vários assuntos que tinham em comum, como, exploração, programas de TV, livros e jogos. Coraline viu que de fato Wybie era um garoto legal, um pouco esquisito, mas não ligava, afinal todos ali naquele lugar eram esquisitos e ele parecia o menos esquisito.

Chegando ao Palácio Cor de Rosa, Wybie perguntou a Coraline algo que todos perguntam a ela, afinal isso é o que ela mais tem de diferente.

— Eu posso lhe fazer uma pergunta ? – perguntou Wybie olhando para Coraline.

— Você acaba de perguntar — disse Coraline sorrindo. — Pergunte.

— Por que você tem o cabelo azul ? Você nasceu assim ou apenas o faz ficar dessa cor ?

— Não seja bobo. Claro que não nasci assim. — disse Coraline revirando os olhos. — eu apenas gosto da cor azul e desde meus oito anos eu deixo meu cabelo dessa cor e tamanho. Acho diferente, odeio ser igual a todos os outros, todos tem cabelos de cores iguais e eu não. Isso é esquisito demais para você  ?

— Na verdade é sim — disse Wybie sorrindo — mas, não quer dizer que não ache isso super legal. O que diz de mim, olha essas roupas, aposto que nunca viu algo assim, não estou querendo dizer que tenho um guarda-roupa incrível, mas você tem que admitir que é um estilo diferente.

— Ah, é sim. Você tem um estilo... único — falou Coraline. — mas, também digo que é super legal.

Finalmente chegaram ao Palácio Cor de Rosa. Wybie fitou a casa como se algo ali fosse sair das sombras e o pegar. Ele possuía um olhar amedrontado para com a casa, o que Coraline deduziu ser mais uma das suas esquisitices. Mesmo podendo ser uma delas, não iria deixar deperguntar.

Contínua...