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História Cotidiano - Capítulo 5


Escrita por: Isaabela22

Notas do Autor


Oiê! É bom estar de volta com essa história. Eu quase apaguei Cotidiano, mas fui impedida sempre que citei isso.

Fico com vergonha de prometer qualquer coisa, mas espero que esse seja o início de uma fase de conclusões de fanfics.

Não sei em que momento tive a ideia de colocar uma capa em cada capítulo, eu estava louca! 🤦🏽‍♀️

MUITO obrigada por todo o carinho com essa história, com todos os comentários me cobrando, com cada lembrança de Cotidiano. De verdade, eu não imaginava que esses dois eram tão queridos e acho que nunca terei agradecimentos suficientes. Fico feliz e emocionada. 💛

Esse é um capítulo meio tenso, mas quero que os outros sejam pura delicinha. 😬 Se tudo der certo, volto em breve, em 1 ou 2 semanas. Depois de reler tudo tenho certeza que não consegui manter o mesmo padrão de escrita dos capítulos anteriores, mas voltar depois de tanto tempo já é alguma coisa e no momento é isso que consigo entregar.

Ouçam a playlist de Cotidiano!
https://open.spotify.com/playlist/3BqFc3YafOvZPwLXNWDN77?si=9YwGF5q3SOO4zqPjljwreQ&pi=u-IX_cq63fTW-w

Capítulo 5 - Capítulo 5


Fanfic / Fanfiction Cotidiano - Capítulo 5

Os dois paralisaram quando ouviram a voz de Abílio chamando o amigo. Eugênio não sabia o que responder e Violeta, de repente, esqueceu de como respirar. A empresária finalmente percebeu que estava prestes a transar no banheiro de um clube, como se fosse uma adolescente, e olhou com certo desespero para Eugênio, o impelindo a dizer alguma coisa. O engenheiro estava ofegante, mas finalmente conseguiu formular palavras após Abílio chamá-lo novamente.

— Eugênio? Você tá aí, cara?

— Sim, parceiro. O que foi?

— Joca caiu por cima do braço enquanto brincava. Ele está chamando por você, acho melhor você vir logo.

Violeta nunca viu uma pessoa perder a cor tão rapidamente como Eugênio naquele instante. O homem mudou de expressão e a preocupação tomou conta dele.

— Eu já tô indo lá, meu amigo. Em um minuto tô com ele. 

— Tudo bem, vou ajeitar as coisas pra gente ir embora.

Ela lentamente saiu de cima dele, ainda ofegante, mas com a expressão assustada no rosto. Não sabiam nada do que havia ocorrido com Joca e Violeta não queria acreditar que fosse grave, mas a preocupação estava ali. Ela era mãe e entendia perfeitamente como situações como aquela tiravam do eixo qualquer um. 

— Você vai ver que não foi nada grave. — Falou enquanto colocava o biquíni. De repente, sentiu um pouco de vergonha por toda a situação. Deixou-se levar pelo álcool e pelo tesão que sentia por Eugênio. — A gente se precipitou um pouco, né?

— Não, Violeta. — Ele olhou pra ela. — Talvez um pouco, mas não é errado. Sei que não é o melhor lugar, mas eu só queria que o Joca tivesse escolhido outra hora pra fazer arte. — Ele falou enquanto terminava de ajeitar a sua roupa.

— Eugênio! — Violeta sussurrou, chamando atenção dele pelo comentário, mas conteve um leve sorriso que queria aparecer em seus lábios. — Você vai indo na frente, saiu antes. Eu vou depois. 

— Acho que eles sabem que estamos juntos.

— Que seja, mas eu não quero confirmar nada, né, Eugênio? — Violeta revirou os olhos. — Agora vai que Joaquim deve tá com dor.

Eugênio olhou pela última vez para a morena que estava ali diante dele e sentiu uma ternura, um sentimento que não soube explicar exatamente o que era, mas era bom. Deu um leve selinho nos lábios de Violeta, que sorriu levemente para ele.

— Eu realmente gosto muito de você, Violeta. Não demorar a sair daqui, vou te esperar pra decidirmos o que fazer.

— Tudo bem. — Ela sorriu ainda preocupada.

O que aquele homem fazia com ela, que derrubava todas as suas barreiras, que a fazia parecer uma menina com o namoradinho novo, descobrindo o mundo e todas as possibilidades. Era assim que Violeta se sentia. Logo ela, tão certinha e cheia de regras, estava quebrando todas elas quando estava com ele. Esperou mais uns dois minutos, contados no relógio, respirou fundo e saiu do banheiro torcendo pra que ninguém a visse. 

Violeta fingiu naturalidade ao chegar perto de onde estavam todos, mas sentiu os olhos de Júlia sobre ela, preferiu não prestar atenção à amiga e dar o suporte necessário a Eugênio e Joaquim.

— O que aconteceu? — Violeta perguntou ao chegar mais perto de Joca e ver o menino segurar o braço com uma expressão de dor e rosto vermelho de quem tinha acabado de chorar.

— As crianças estavam brincando em volta da piscina. Joaquim escorregou e caiu por cima do braço ao tentar se proteger. Acho que foi uma sorte ele não ter machucado a cabeça. — Abílio, explicou para ela o que tinha ocorrido porque era o adulto que estava próximo às crianças na piscina.

Julinha já tinha pagado a conta e Eugênio tentava acalmar o filho. Elisa já tinha vestido as roupas de Isadora e Arminda e ajudava organizava as coisas das duas.

— A gente tá indo pro hospital, tem que ver se ele quebrou o osso, ele tá sentindo muita dor. Nenhum Uber tá aceitando, domingo a tarde é foda. — Eugênio falou num misto de raiva e desespero por ver o filho daquele jeito.

— Eugênio, calma! Eu levo vocês. 

— Violeta, você bebeu. — Julinha lembrou a amiga. — É arriscado! 

— É uma emergência, Júlia. Você e as meninas vão em um Uber, eu levo Eugênio e Joca até o hospital agora. Quando tudo acabar eu deixo teu carro e pego as meninas na tua casa. É o melhor, todo mundo bebeu um pouquinho e o Joaquim tá sentindo dor.

— Tá certo. Mas tenta fugir de blitz, pelo amor de Deus.

— Vou com cuidado! Meninas, amo vocês, tomem um banho na casa da Julia e obedeçam a tia de vocês. — Pegou a bolsa, a chave do carro e se dirigiu a Eugênio e Joca — Vamos, meninos, a gente tem que olhar esse braço.

A situação era muito complicada, muito estranha. Eugênio e Violeta apenas se conheciam e eles quase haviam transado no banheiro do clube e agora estavam se dirigindo ao hospital porque Joaquim estava machucado. Definitivamente aquela relação era muito diferente de tudo que Violeta já tinha vivido.

Estava muito concentrada no trânsito e não percebeu que Eugênio olhava para ela. Ele sentia algo bom dentro do peito, uma familiaridade por estar ao lado dela naquele momento, era um tipo de intimidade estranha que ia surgindo. Joaquim já não chorava, ele não conseguia mexer o braço, mas a dor já não era tão intensa como no momento da queda e foi ele quem quebrou o silêncio confortável que estava dentro do carro.

— Pai, minha mãe vai ficar brava, não vai? — Joaquim tinha um tom de medo na voz, que não passou despercebido por Violeta.

— Ela vai ficar preocupada, filho, mas é normal. Não fica preocupado com isso. — Eugênio tentou tranquilizar o filho, mas sabia que esse era mais um indício de com Úrsula tratava Joaquim.

— Joca, sabe o que minha avó dizia? — Violeta olhou rapidamente para o menino pelo retrovisor.

— O quê? — O menino olhou curioso para Violeta, gostava do tom que ela usava para falar com ele, era sempre gentil.

— Que se a gente não tem a marca de um joelho ralado, uma cicatriz ou um osso quebrado é porque a gente não tem história pra contar. — Ela parou o carro no sinal vermelho e virou para olhar o menino nos olhos. — Seja o que for que tenha acontecido, que eu espero que não seja nada grave, lá na frente vai servir pra você contar sua história pra todo mundo. — Ela piscou e sorriu para ele.

Eugênio sorria com o jeito doce e encorajador com que Violeta falava com Joaquim. O menino sorria levemente para a amiga de seu pai, ele não tinha visto as coisas daquela maneira e Violeta lhe animou, ela era gentil e muito legal para a cabeça da criança de dez anos.

— Vai ser maneiro contar pro pessoal da escola, o Lorenzo quebrou o pé ano passado e ficou usando uma bota por um tempão. — O menino falou animado.

— Esperamos que não seja o seu caso, filho. A história pode até ser maneira, mas também tem o lado chato de não poder brincar e ficar com os movimentos reduzidos...

— Puxa… — O menino fez uma expressão de preocupação.

— Você não precisava ter falado disso agora, Eugênio! — Violeta falou entre sussurros. O engenheiro ficou sem jeito e reconheceu que ela tinha razão. Imaginou que sempre seria assim, a morena sempre teria razão.

— É verdade, me desculpe! — Falou um pouco sem jeito.

Violeta suspirou e voltou a se concentrar na direção, com um leve sorriso no rosto. Mesmo em momentos de tensão, a dinâmica entre ela e Eugênio parecia funcionar, era tranquilo, eles se entendiam. Ela tinha uma intuição de que aquele homem, com todas as complicações que trazia, seria alguém para manter por perto, para compartilhar momentos bons e ruins. Ela, que era sempre tão nervosa, assumiu o controle e manteve a calma.

Chegaram ao hospital em poucos minutos, e, assim que estacionaram, Eugênio saltou do carro, ajudando Joaquim a sair com cuidado. Violeta observou a maneira como Eugênio tratava o filho, a preocupação e o carinho nos gestos dele. Era evidente que ele faria qualquer coisa por Joaquim, e isso tocava Violeta de uma maneira que ela não esperava.

— Vem, campeão. Fica tranquilo, tá? Eu não vou sair do seu lado.

Depois de fazer o cadastro de Joaquim na recepção, Eugênio deixou o menino com Violeta e saiu da sala de espera para respirar fundo no corredor, precisava ligar para Úrsula. Ele sabia que tinha que contar a ela sobre o que havia acontecido porque ela era mãe tinha o direito de saber, e, mesmo imaginando que isso provavelmente acabaria em briga, ele preferia evitar mais problemas depois.

Eugênio pegou o celular com um suspiro cansado e ligou para Úrsula. A ligação não demorou a ser atendida.

— O que foi, Eugênio? — Úrsula atendeu com impaciência, sem sequer um cumprimento.

Eugênio fechou os olhos por um segundo, se preparando mentalmente para a conversa.

— Úrsula, o Joaquim se machucou. Ele escorregou enquanto brincava na piscina e caiu em cima do braço. Já estamos no hospital, mas está tudo sob controle. Estamos esperando o médico atendê-lo. — Eugênio tentou manter o tom o mais calmo possível, mas já conseguia prever a explosão.

Houve uma pausa longa do outro lado da linha, e Eugênio sentiu a tensão aumentar.

— Como assim ele se machucou? Como você deixa isso acontecer, Eugênio? — A voz de Úrsula saiu fria, mas com uma raiva contida que ele conhecia bem. — Onde você estava quando isso aconteceu?

Eugênio passou a mão pelo cabelo, tentando não perder a paciência. Ele já sabia que ela reagiria dessa forma, mas ainda assim, a culpa que ela tentava jogar sobre ele era algo que o irritava profundamente.

— Eu estava com ele, Úrsula. Foi um acidente. As crianças estavam brincando, ele escorregou. Não foi nada grave, só uma queda, mas estamos aqui no hospital por precaução. — Ele respondeu, ainda controlado.

— Precaução? Meu filho se machuca e você chama isso de precaução? Você é um irresponsável, Eugênio! Se eu estivesse com ele, isso não teria acontecido — ela disparou, sua voz ficando cada vez mais alta.

Eugênio apertou o celular com força, lutando para manter a calma.

— Úrsula, não adianta você me culpar agora. Eu já disse, foi um acidente, e ele está sendo cuidado. Eu liguei para te informar, porque é o que deve ser feito. Se você quer vir pro hospital, o Joaquim vai ficar feliz em te ver. Mas não faz sentido brigar por isso, vou te passar o endereço no whatsapp. — Eugênio respondeu, tentando encerrar a discussão.

A outra linha ficou em silêncio por alguns segundos, até que Úrsula finalmente respondeu, ainda com uma ponta de raiva na voz.

— Eu estou indo para o hospital. A gente conversa aí — ela disse, antes de desligar abruptamente.

Eugênio soltou um suspiro longo, guardando o celular no bolso. Ele sabia que nada de bom viria de Úrsula.

***

O ambiente era tenso, mas o alívio começou a se instalar quando o médico informou que Joaquim havia sofrido apenas uma luxação no braço e que ele ficaria bem após imobilizá-lo. Violeta conversava amenamente com Eugênio e Joaquim para que o tempo passasse enquanto eles esperavam que o menino fosse imobilizar o braço que ficaria dez dias com a tipoia. Assim que o menino entrou na sala ao lado para que o médico pudesse fazer o procedimento em seu braço, a porta da sala de espera se abriu com força e Úrsula entrou furiosa.

— O que aconteceu com o meu filho? — Ela perguntou, sem nem sequer olhar para Violeta, dirigindo-se diretamente a Eugênio. Seu olhar era uma mistura de raiva e frieza.

— Ele está bem, Úrsula. Foi só uma luxação, mas já está sendo tratado — Eugênio disse calmamente, tentando manter o controle da situação, mesmo com a exaltação de Úrsula.

— Eu sabia que algo assim aconteceria! Não posso confiar em você com ele nem por um segundo! É assim que você quer a guarda dele? — Úrsula continuou e sua voz foi se elevando. Foi nesse momento que ela notou Violeta ao lado de Eugênio. — E quem é essa? Outra das suas “amigas”? Ah, claro, enquanto você estava distraído, nosso filho se machucava. — A verdade era que Úrsula nunca tinha visto Eugênio com outras mulheres, mas não perdeu a chance de alfinetar.

Violeta sentiu o golpe, mas manteve a postura. Sabia que reagir à provocação de Úrsula só alimentaria o conflito. Ela optou por manter a calma.

— Eu sou Violeta, amiga do Eugênio. Vim ajudar com Joaquim, foi um susto para nós e eu achei melhor acompanhá-los até aqui. — respondeu em um tom firme, mas gentil, sem cair na armadilha que Úrsula tentava criar.

Eugênio, cansado da situação, respirou fundo, buscando a paciência que ele sabia que precisaria para lidar com Úrsula.

— Úrsula, aqui não é o lugar e agora não é o momento para isso. Joaquim está bem, e é isso que importa. Vamos focar no que realmente interessa que é o bem estar do nosso filho. — ele disse, com um tom calmo, mas sem se intimidar por ela.

Antes que Úrsula pudesse responder, o médico reapareceu, interrompendo a tensão.

— Joaquim está pronto. O braço foi imobilizado, e ele deve evitar esforços por alguns dias, mas não houve fratura.  — informou o médico.

Eugênio foi o primeiro a se mover, se apressou para entrar na sala onde Joaquim estava. Violeta seguiu atrás, e, por um momento, Úrsula hesitou, mas acabou acompanhando também. Apesar de ser dentista, a mulher odiava os hospitais.

Eugênio se aproximou do filho, sentindo um misto de alívio e cansaço. Violeta, que observava a cena de perto, sabia que aquele era o momento em que ele mais precisava de apoio. Ela, silenciosamente, deu alguns passos para trás, querendo dar espaço a eles. Joaquim estava sentado na maca, com o braço imobilizado, mas com um sorriso no rosto.

— Pai, olha só! Agora eu vou ter uma história muito legal pra contar pros meninos na escola. Vou deixar o pessoal desenhar no gesso.  — ele disse, tentando animar o pai.

Eugênio riu, aliviado por ver que o filho estava bem. Ele se aproximou do menino e segurou a mão livre dele com cuidado.

— Isso mesmo, campeão. Você foi muito corajoso — Eugênio disse, sentindo-se grato por tudo ter acabado bem. Seu filho estava ali sem maiores problemas e era isso que importava.

Úrsula, ainda com um olhar de desagrado, ficou parada à porta, observando a cena, mas sem se aproximar. Violeta percebeu que em momento algum a mulher falou diretamente com o filho, tampouco demonstrou uma preocupação com ele, o que ela teve foi apenas um ataque de raiva com Eugênio. Violeta sabia muito bem como uma mãe ficava quando um filho sofria, fosse fisicamente ou psicologicamente e Úrsula estava ali, impassível.

— Vamos levar Joaquim pra casa, Úrsula. Ele precisa descansar — Eugênio disse, ainda concentrado no filho, sem querer criar mais discussões com a ex-mulher naquele momento.

— Claro que sim. Eu levo ele, Eugênio. Não preciso de você pra isso — Úrsula respondeu de forma cortante, mas Eugênio não cedeu.

— Eu vou com vocês. Sou pai dele, e quero ficar ao lado do meu filho — Eugênio respondeu com firmeza, sem se deixar intimidar.

Violeta, percebendo que aquela era uma questão familiar delicada, decidiu se afastar. Ela sabia que aquele era o momento de Eugênio com Joaquim, e Úrsula claramente não queria a presença dela ali.

— Eu vou indo, Eugênio — Violeta disse, tentando sair de cena de maneira tranquila. — Mas qualquer coisa que você precisar, pode me chamar. Ela deu um passo em direção à porta, mas antes que pudesse sair, Eugênio a chamou.

— Violeta... — Ele se levantou do lado de Joaquim e caminhou até ela, o olhar carregado de gratidão. — Podemos conversar um instante?

Ela assentiu e ela se despediu de Joaquim.

— Cuida desse braço e se comporta. — Falou gentilmente com um sorriso aberto para o menino. — Tudo sempre vira uma história pra contar, Joca. — Violeta piscou para o garoto e saiu da sala.

No corredor, o ambiente parecia menos tenso agora que o pior já tinha passado. Violeta cruzou os braços, sentindo o leve frio do ar-condicionado e olhou para Eugênio esperando que ele dissesse algo. Ele parecia exausto, mas havia uma expressão suave em seus olhos que ela reconhecia como alívio.

— Violeta, eu... não sei nem como começar a te agradecer por hoje. — Ele começou, a voz baixa, mas cheia de sinceridade. — Se você não estivesse lá, eu não sei o que teria feito. Tudo aconteceu tão rápido. Em um momento éramos você e eu ali… naquele banheiro. — Ele percebeu que ela corou — No momento seguinte Joaquim estava chorando e você se manteve firme, sempre me apoiando... Eu sei que não deve ter sido fácil, especialmente com a Úrsula chegando assim... — Eugênio fez uma pausa, claramente incomodado pela cena que Úrsula havia feito.

Violeta balançou a cabeça, tentando afastar a menção de Úrsula. Ela não queria que o foco fosse a ex-mulher dele.

— Não precisa me agradecer, Eugênio. De verdade. Eu fiz o que qualquer pessoa faria. E quanto à Úrsula, não se preocupe. Eu sou dona de uma fábrica, pode ter certeza que eu já lidei com gente difícil antes. — Ela sorriu, tentando aliviar o peso da conversa. — O que importa é que o Joaquim está bem. Ele é um garoto forte, vai se recuperar logo e em breve vai tá correndo de novo.

Eugênio olhou para ela com uma mistura de alívio e admiração. Ele deu um passo mais perto, como se a presença dela fosse a única coisa que o mantivesse estável naquele momento.

— Você não tem ideia do quanto significou pra mim ter você por perto. — Ele fez uma pequena pausa e desviou o olhar por um momento. — Eu não... não estou acostumado a ter alguém comigo em momentos assim. A maior parte do tempo sou só eu e o Joaquim, e ver você ao meu lado... — Ele parou, tentando encontrar as palavras certas. — Foi diferente, foi como se fosse o certo. Não sei se você me entende.

Violeta sentiu um nó na garganta ao ouvir aquilo. Ela sabia que Eugênio estava sendo honesto, vulnerável, algo que não se via com frequência em um homem como ele. E isso a tocava profundamente.

Ela deu um pequeno passo em direção a ele, levantando a mão para tocar o braço dele levemente.

— Eu estou aqui, Eugênio. E você pode contar comigo. — A voz de Violeta saiu suave, mas firme. — Eu te entendo. É bom ter alguém com quem contar, faz a diferença e foi por isso que eu quis tá aqui com você.

Eugênio olhou para ela, e naquele momento, o que ele sentia por Violeta ficou ainda mais claro para ele. Não era apenas gratidão. Era algo mais profundo, algo que ele vinha tentando ignorar pela rapidez, mas que crescia toda vez que a olhava. Uma paixão mais forte do que qualquer pensamento lógico sobre o tempo. Ele respirou fundo, como se estivesse se preparando para dizer algo mais, mas hesitou, sabia que aquele não era o melhor momento, especialmente com toda a confusão ao redor. Mas antes que pudesse reconsiderar, Violeta sorriu para ele, um sorriso calmo e o mais lindo que ele já tinha visto, faria qualquer coisa para que ela sempre lhe dedicasse aqueles sorrisos e ele se sentiu um pouco mais corajoso.

— Você é a mulher mais incrível que eu já conheci. — Ele disse, num tom quase divertido, tentando aliviar o peso do momento. — Eu não sei como você consegue lidar com tudo isso de forma tão... tranquila.

Violeta riu suavemente, abaixando os olhos por um segundo antes de encará-lo de novo.

— Acredite em mim, eu não sou nada tranquila, Eugênio, mas acho que a gente sempre encontra uma maneira, não é? — Ela respondeu, o sorriso ainda presente em seus lábios. — E, de qualquer forma, você me ajudou a manter a calma.

Eugênio sorriu de volta, sem conseguir disfarçar o quanto estava grato por ter Violeta ao seu lado. Ele queria dizer mais, mas o momento foi interrompido quando o celular de Violeta vibrou em sua bolsa.

Ela pegou o telefone e viu que era Julinha, provavelmente para saber como as coisas estavam. Violeta suspirou e olhou para Eugênio.

— Acho que é minha deixa. As meninas devem estar me esperando... — disse, um pouco relutante em partir.

Eugênio assentiu, mesmo que ele quisesse pedir para ela ficar mais um pouco. Ele sabia que Violeta tinha suas responsabilidades também, e já tinha feito muito por ele naquele dia.

— Claro. Vai lá, elas devem estar ansiosas pra te ver — ele disse, com um sorriso que não conseguia esconder a leve tristeza de vê-la partir.

Antes de se virar, Violeta parou, hesitou por um segundo e, então, deu um passo à frente, aproximando-se de Eugênio. Sem dizer uma palavra, ela se inclinou e o abraçou, envolvendo-o com os braços de forma suave, mas segura. Eugênio ficou surpreso por um momento, mas logo retribuiu o abraço, fechando os olhos enquanto sentia o calor e o conforto que a presença de Violeta trazia. Era um gesto simples, mas que transmitia mais do que qualquer palavra poderia.

— A gente se vê logo, ok? — Violeta sussurrou contra o ombro dele, antes de se afastar lentamente.

— Com certeza. Nós temos assuntos pendentes.  — Eugênio respondeu, lembrando do que tinha acontecido mais cedo no banheiro do clube.

Ela deu um último sorriso, sem jeito e envergonhada, virou-se e caminhou pelo corredor, deixando Eugênio ali, a observando partir com uma sensação estranha, mas boa, no peito. Ele sabia que aquilo não terminaria ali, e mal podia esperar pelo próximo encontro.

Após se despedir de Eugênio no hospital, Violeta entrou no carro e ficou alguns minutos parada, em silêncio. O peso de tudo que tinha acontecido naquele dia ainda estava fresco em sua mente. Seu coração batia rápido, ainda relembrando o abraço de despedida de Eugênio, e como ele a olhou com gratidão e algo mais. Havia uma conexão entre eles, isso era certo.

Suspirou e deu partida no carro, dirigindo lentamente pelas ruas iluminadas do Rio. As luzes dos postes refletiam nas janelas, e o silêncio do carro contrastava com o caos que havia sido o dia. Ela balançava a cabeça, pensando em como tudo tinha mudado tão rapidamente, especialmente com a chegada de Úrsula.

"Que jeito complicado de conhecer a ex de alguém", ela pensou, relembrando o olhar afiado que Úrsula lhe lançou no hospital. A tensão no ar era quase palpável, mas Violeta não deixou que aquilo a abalasse.

Ao chegar ao prédio de Julinha, o cansaço finalmente começou a pesar nos ombros, mas também o alívio de estar perto de casa. Ela sabia que, além de uma boa conversa, seria recebida com o carinho de suas filhas. Isso sempre a fazia se sentir melhor. Ela subiu o elevador e ouviu o som de risadas vindas do apartamento antes mesmo de tocar a campainha.

— Finalmente! — Júlia abriu a porta com um sorriso de lado, já pronta para os detalhes do dia que a amiga tinha vivido. — Estávamos começando a achar que você tinha se perdido pelo caminho.

Violeta riu e entrou, sentindo o calor acolhedor da casa de Júlia. Jogou a bolsa em cima do sofá e se deixou cair pesadamente no assento, soltando um suspiro profundo.

— Ai, amiga, que loucura esse dia... — Violeta murmurou, fechando os olhos por um instante.

— Então? Como estão os bonitões? — Júlia perguntou, com aquele tom levemente sarcástico que ela usava quando estava curiosa.

— Joaquim vai ficar bem. Foi só uma luxação, graças a Deus. Já está com o braço imobilizado e de volta pra casa. — ela respondeu, sentindo o peso do dia começar a se dissipar.

— E o Eugênio? — Júlia insistiu, sentando ao lado dela e a encarando com aquele olhar de amiga que sabe que tem algo a mais.

Violeta abriu os olhos e riu sem humor, balançando a cabeça. Sabia que Júlia não perderia tempo em querer saber os detalhes.

— Eugênio ficou cuidando de Joaquim, estava mais calmo depois de tudo. — Ela fez uma pausa e suspirou. — Mas eu conheci a ex-mulher dele, mãe do Joca, e digamos que o primeiro encontro não foi dos melhores.

Júlia ergueu as sobrancelhas, esperando a continuação.

— Ela chegou no hospital furiosa, como se tudo fosse culpa do Eugênio. Me olhou como se eu fosse a responsável pelo acidente, mal trocamos palavras. Foi... intenso. — Violeta explicou, mexendo nas mãos enquanto falava. — Eu sei que a situação foi complicada, mas a hostilidade dela... ai Julinha, foi totalmente desnecessário. Ela queria brigar no meio do hospital, mal olhou pro filho.

Julinha riu com desdém.

— Ah, mas é claro, tinha que ter uma ex megera pra complicar a vida do bonitão e a sua. Típico! Imagino ela te vendo ao lado do ex-marido gato. — Ela balançou a cabeça e riu — Mas e aí? Não vai deixar que isso te abale, né?

— Não, Júlia, você sabe que não sou de me intimidar fácil — Violeta respondeu, com um sorriso confiante. — Úrsula não me assustou, achei um pouco teatral, meio dramático. Te contando agora eu percebo que ela é até meio ridícula. — Violeta riu e balançou a cabeça. — É uma mulher muito bonita, olhos azuis, cabelos pretos, fazem um contraste bonito, mas ela é fria, estranha.

Violeta ficou pensativa, não entendia como um homem tão espontâneo, tão doce como era Eugênio tinha se envolvido com alguém como Úrsula, eles não pareciam encaixar. Mas ela também não se conectava com Matias e passou anos casada com ele. Ainda tinha o fato de que nem sempre os homens pensam com a cabeça certa. Foi tirada de seus pensamentos pela pergunta de Julinha.

— Agora vamos ao que realmente importa: o que, exatamente, você e o Eugênio estavam fazendo no banheiro quando o Abílio apareceu? — Júlia perguntou, arqueando as sobrancelhas com um sorriso provocador.

Violeta ficou vermelha na hora, rindo com incredulidade.

— Júlia! — Ela exclamou, dando um leve tapa no braço da amiga. — Não sei do que você tá falando. — Se fez de desentendida.

Julinhaa deu uma gargalhada, claramente satisfeita por ter pegado a amiga de surpresa.

— Ah, pelo amor de Deus, Violeta! Você acha que eu não percebo as coisas? Todo mundo percebeu quando vocês dois desapareceram ao mesmo tempo! — Ela deu uma piscadela. — Só faltou você sair do banheiro com uma plaquinha dizendo: “Aconteceu algo aqui”.

Violeta revirou os olhos, tentando esconder o constrangimento, mas não conseguiu conter o riso.

— Não foi nada assim! Bom, quase... — Violeta admitiu, ainda rindo, colocando as mãos no rosto para esconder o leve rubor. — As coisas só... esquentaram. Aí o Abílio apareceu e... — Ela suspirou, balançando a cabeça. — Enfim, você sabe o resto.

— Claro que sei! — Júlia respondeu, cruzando os braços e balançando a cabeça com um sorriso maroto. — Mas, sinceramente, eu estou chocada que vocês quase... no banheiro do clube! Quem diria que a senhorita “tão certinha” faria uma dessas? — Júlia provocou, arrancando mais uma risada de Violeta.

— Eu sei, eu sei! Foi uma loucura. E agora, pensando bem, foi um pouco vergonhoso. Mas... — Violeta respirou fundo e olhou para a amiga com um sorriso travesso nos lábios. — Foi bom enquanto durou.

Julinha gargalhou, batendo palmas.

— Ah, eu sabia! Sabia que tinha algo acontecendo entre vocês! Mas me diz, você acha que isso vai virar algo sério? Porque olha, com essa ex-mulher na história...

— Eu não sei... O Eugênio é um homem incrível, e eu me sinto muito bem ao lado dele. Mas tem o Joaquim, a Úrsula, e toda essa bagagem. Não é tão simples, e eu não sei até onde estou preparada para lidar com tudo isso. — Ela fez uma pausa, pensando. — Mas ao mesmo tempo, ele é diferente. E eu me sinto tão bem com ele. É leve, é prazeroso e eu sinto que a gente se entende muito bem, sabe? 

Júlia assentiu, compreendendo o dilema da amiga.

— Não vai ser fácil, mas se você acha que vale a pena, então vá em frente. Você nunca foi de fugir dos desafios, Violeta. E pelo que eu vi hoje, o Eugênio parece estar caidinho por você. Mesmo com a confusão toda, ele não tirava os olhos de você, achei fofo.

Violeta sorriu, lembrando-se dos momentos no hospital, especialmente da forma como Eugênio a abraçou antes de ela ir embora.

— É, ele é diferente mesmo. — Violeta respondeu suavemente, antes de ser interrompida pelas risadas das meninas

Ao ver a mãe, Isadora correu para ela, se jogando no sofá ao seu lado.

— Mãe! Como está o Joaquim? — a mais nova perguntou, os olhos brilhando de curiosidade.

— Ele está bem, meu amor. O médico cuidou do braço dele e logo ele estará brincando de novo — Violeta respondeu, puxando a filha para mais perto em um abraço caloroso.

Elisa, sempre mais observadora, se sentou no braço do sofá, com um olhar perspicaz.

— E o Eugênio? Ele ficou lá com o Joaquim? — Ela perguntou, tentando disfarçar a curiosidade por trás de um tom mais casual.

Violeta sorriu para a filha mais velha, percebendo o interesse.

— Sim, ele ficou com Joaquim. Estava muito preocupado, mas deu tudo certo. — Ela deu uma pausa, olhando para as duas. — E vocês, o que fizeram com Julinha e Arminda enquanto eu estava fora?

— Nada demais, só vimos um filme e jogamos videogame — Elisa respondeu, despreocupada.

— Ah, claro. "Nada demais". — Julinha zombou, cruzando os braços. — Elas quase esvaziaram minha geladeira com tanto lanche!

Violeta riu, sentindo-se mais leve com o ambiente familiar. Suas filhas tinham o poder de fazer tudo parecer mais simples, mesmo depois de um dia tão tumultuado.

— Eu estava precisando de um pouco de paz depois de hoje... — Violeta suspirou, ajeitando-se no sofá enquanto olhava para a amiga e as filhas.

Julinha se levantou e foi até a cozinha, voltando com duas taças de vinho.

— E nada melhor para paz do que uma boa taça de vinho. — Ela entregou uma das taças para Violeta e se sentou ao lado dela. 

As quatro continuaram conversando e rindo, enquanto Violeta sentia o peso do dia começar a desaparecer aos poucos, substituído pela leveza de estar entre as pessoas que amava.

***

Já era noite quando Eugênio e Úrsula chegaram à casa dela com Joaquim adormecido no banco de trás do carro. O trajeto do hospital até lá foi feito em silêncio, o cansaço e a tensão preenchendo o espaço entre os dois. Eugênio, com a mente concentrada no filho, não disse uma palavra e Úrsula manteve o olhar fixo na estrada, o que ele sabia ser um anúncio de uma tempestade prestes a explodir.

Assim que chegaram, Eugênio pegou Joaquim no colo com cuidado, tentando não acordá-lo. A dor e o cansaço haviam finalmente vencido o garoto, que agora descansava tranquilo, o braço devidamente imobilizado. Úrsula abriu a porta do apartamento e ficou à frente, observando enquanto Eugênio levava o filho até o quarto dele.

Joaquim não se mexeu enquanto Eugênio o deitava na cama. O engenheiro puxou o cobertor até os ombros do menino, olhando por um breve momento o rosto sereno do filho. Ver Joaquim ali, finalmente fora de perigo, trouxe um alívio imenso, mas ele sabia que o momento de paz seria curto. A briga com Úrsula estava prestes a começar.

Quando ele entrou na sala, Úrsula já o esperava com os braços cruzados, e a postura dela era tensa, como se estivesse se segurando até aquele momento. O olhar de raiva no rosto dela deixou claro que aquilo não acabaria bem.

— Agora que ele dormiu, podemos conversar. Você acha que o que aconteceu hoje foi normal, Eugênio? — A voz dela finalmente quebrou o silêncio, carregada de raiva contida. — Porque, pra mim, parece que você não está levando a sério o que aconteceu com nosso filho.

Eugênio respirou fundo, já sentindo a raiva borbulhar dentro dele. Ele tentou manter a calma, mas era difícil quando Úrsula o atacava com esse tipo de acusação. Ela sempre jogava a culpa nele.

— Úrsula, foi um acidente. As crianças estavam brincando, e o Joaquim escorregou. Não foi por descuido meu ou de qualquer pessoa. Você sabe como as coisas são, acidentes acontecem. — ele respondeu, tentando soar controlado.

— Ah, claro, "acidentes". — ela retrucou, com sarcasmo. — Se eu estivesse lá isso não teria acontecido. Você nunca consegue cuidar do Joaquim direito, Eugênio. Nunca! — Ele sentiu o impacto das palavras falsas dela.

Eugênio cruzou os braços, sentindo a tensão tomar conta do corpo. Ele já ouvira essa acusação antes, mas agora, depois de um dia como aquele, era mais difícil manter a calma.

— Úrsula, você precisa parar com isso. Você sempre tenta me culpar por tudo que acontece com o Joaquim, mas eu não vou admitir que mentiras sejam jogadas na minha cara. Foi um acidente e já está tudo resolvido. Ele está bem. — Eugênio respondeu, com a voz mais firme agora.

Úrsula deu uma risada amarga, sacudindo a cabeça.

— Que mentiras estou falando? Que você não cuida do Joaquim? Não confio em você com ele e hoje só foi a prova que você não tem capacidade pra ficar com o meu filho.

Eugênio sentiu o sangue subir ao rosto. Ele sabia que, por trás das palavras de Úrsula, havia uma frustração antiga, que vinha desde os primeiros anos de casamento, mas ele não aguentava mais ser tratado como o culpado por tudo.

— Essas acusações não são justas. — Eugênio retrucou, a voz mais alta do que planejava. — Joaquim é nosso filho e eu sempre fiz de tudo por ele. Eu me sacrifico, trabalho duro e nunca deixei de estar presente na vida dele. Você me trata como se eu fosse um pai ausente, mas quem é que está sempre ao lado dele? Quem é que leva ele ao médico, quem é que ajuda com a escola? Eu sou tão pai quanto você é mãe! E se eu não passo mais tempo com o Joca é porque você dificulta tudo.

Úrsula deu um passo à frente, o rosto tomado pela raiva.

— Presente? Você acha que estar presente é o suficiente? Você não estava lá quando o Joaquim caiu hoje. Não estava prestando atenção nele, estava distraído... — Ela hesitou, a raiva se transformando em algo mais, um veneno mais sutil. — Estava distraído com aquela mulher, não estava?

O comentário fez Eugênio parar por um segundo, mas ele não deixou que a provocação o atingisse. Ele sabia que Úrsula estava usando Violeta como uma desculpa, uma maneira de atacá-lo.

— Não mistura as coisas, Úrsula. Violeta não tem nada a ver com o que aconteceu. Nos encontramos no clube por acaso. Ela foi ao hospital para me ajudar. Se não fosse por ela as coisas teriam sido muito mais difíceis porque eu não encontrava um uber no momento e ela distraiu Joaquim durante o trajeto foi apenas uma ajuda. — Eugênio respondeu, a voz grave, mas contida.

— Ah, claro, a heroína Violeta! — Úrsula respondeu com ironia. — Engraçado, Eugênio. Você nem sequer pensou em me ligar primeiro. Eu sou a mãe do Joaquim, eu deveria ser a primeira pessoa a saber que ele se machucou!

Eugênio soltou um suspiro, passando a mão pelos cabelos, tentando se acalmar.

— Você não entendeu? Violeta estava no clube na hora do acidente. Eu liguei pra você assim que o médico o examinou, Úrsula. Eu não queria que você entrasse em pânico antes de saber o que estava acontecendo. Você foi a primeira a saber e, mesmo assim, você chegou lá já me acusando sem nem se importar em saber como ele estava de verdade. É você quem não se importa com Joaquim, às vezes você não parece amar nosso filho.

Úrsula o olhou com os olhos semicerrados, como se estivesse tentando manter o controle da fúria que sentia.

— Eu não me importo? — A voz dela saiu baixa, mas cheia de raiva. — O Joaquim é tudo pra mim, Eugênio. E você... você tem a audácia de dizer que eu não o amo? — Ela falou com um tom afetado. — Quem você acha que sempre esteve lá pra ele? Quem ficou acordada durante as noites em que ele teve febre? Quem o ensinou a andar, a falar?

— Eu nunca disse que você não é uma boa mãe, Úrsula. Mas isso é claramente um peso pra você e fica evidente pra todos, inclusive pro Joca. O problema é que você usa o Joaquim como arma toda vez que as coisas não vão do jeito que você quer. Eu sou o pai e tenho o direito de estar presente na vida dele sem ser atacado o tempo todo!

Úrsula o olhou com os olhos faiscando de raiva. Ficou em silêncio, os lábios trêmulos, como se estivesse pesando suas palavras. Finalmente, ela falou, com a voz mais baixa, mas ainda carregada de ressentimento.

— Você pode até tentar ser um bom pai, Eugênio. Mas a verdade é que eu nunca estará à altura.

Eugênio balançou a cabeça, sentindo a frustração tomar conta de si.

— Úrsula, para com isso. — A voz dele, agora mais firme, carregava o peso de sua frustração. — Eu amo o Joaquim mais do que tudo. Nada, nem ninguém, vai mudar isso. Eu sempre estarei lá por ele, com ou sem o seu apoio. Mas você precisa parar de usar o nosso filho para me atingir. Isso tá prejudicando o Joaquim muito mais do que você imagina.

Úrsula balançou a cabeça, rindo de maneira sarcástica, como se as palavras de Eugênio não significassem nada.

— Claro, o santo Eugênio. Sempre bondoso e perfeito. Mas, sabe de uma coisa? — Ela deu um passo em direção a ele, os olhos brilhando de ódio. — Não importa o quanto você tente se justificar. No final, você vai perceber que nunca foi suficiente. Nem como marido, nem como pai.

— Você mistura as coisas de uma maneira que me assusta. Nosso casamento não deu certo, mas isso é passado. Não sou mais seu marido, mas sempre serei pai de Joaquim. O que importa agora é que ele tá bem. Eu já tomei a decisão de lutar pela guarda do meu filho e não vou desistir de ficar com ele. Estou cansado de você me dizer o que devo ou não fazer.  Não vou deixar você usar o nosso filho para manipular a situação toda vez que não está feliz com o que eu faço.

— Você realmente acha que vai conseguir isso? — Ela perguntou, a voz mais baixa, mas ainda carregada de desprezo. — Eu sou mãe dele, eu estou acima de tudo.

— O que você diz não importa mais, Úrsula. O que importa é que eu vou lutar por Joaquim e não vou permitir que você o use como arma para me atingir. Ele merece mais do que isso.

— Então é isso? Você quer começar uma guerra? — Úrsula perguntou, o olhar fixo no dele. — Porque eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para impedir que você se aproxime dele.

Eugênio deu um passo para trás, sentindo o peso da tensão entre eles. Sabia que a briga não acabaria ali, mas não poderia mais suportar o jogo dela.

— Se é assim que você quer, eu não tenho mais nada a dizer. — Ele virou-se em direção à porta. — O que você fez hoje só me convenceu de que eu preciso lutar ainda mais por Joaquim. — Ele sabia que essa conversa não levaria a lugar algum naquela noite. Virou-se em direção à porta.

— Eu vou embora agora, Úrsula. Joaquim precisa descansar, e eu também. A gente pode conversar sobre isso outro dia. — Ele disse, a voz mais cansada do que irritada agora.

Úrsula não respondeu, apenas o observou enquanto ele saía. A porta se fechou com um clique suave e a casa ficou mergulhada no silêncio.


Notas Finais


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Dia de eleição! Votem em mulheres de esquerda! Exerçam a cidadania! 🫰🏽


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