---------- Gustavo Narrando ----------
A lasanha da minha sogra estava maravilhosa, eu só conseguia pensar o quão era sortudo, além dela aceitar o seu filho sendo gay, ela aceitava o nosso namoro, aceitava quem éramos, sem nenhum filtro.
O jantar foi tão descontraído que aí eu entendi a expressão, "se sentir em casa" porque aquela sensação não era de perto um jantar na minha casa.
Quando eu e o Gabe terminamos, demos boa noite a senhora Lidya e ao Guilherme, subimos para o seu quarto, ele trancou a porta, entrou tirando a camisa, para colocar o pijama, e eu o agarrei por trás.
- Essa é aquela parte onde a gente se ama pela primeira vez na sua cama? - eu perguntei no seu ouvido.
- Não sei, é? - ele mordeu os lábios.
E então eu o peguei em meu colo e o deitei em sua cama, começamos a nos beijar, ele tirou a minha camisa e eu tirei a bermuda que ele vestia.
Mais uma vez eu o tinha todo pra mim, o que me fazia pirar, Gabriel era lindo, por dentro e por fora, em uma combinação perfeita e balanceada entre a inocência e a sedução.
Suas pintas em seu corpo, eram um charme a mais do meu moreno, que sorria me olhando, talvez percebendo que eu estava perdido em meus pensamentos.
Eu admirava o seu corpo, e o seu sorriso, ele estava com uma cara de safado e eu estava amando isso.
Estávamos completamente nus, e foi assim que começamos a transar pela primeira vez em sua cama, o que me fazia me sentir mais íntimo ainda do Gabriel.
Cada toque seu em meu corpo, me dava mais certeza do quanto eu o amava e queria ele perto de mim.
Sua respiração ofegante se juntava com a minha, seu suor molhava o meu corpo e suas unhas causavam um certo arrepio quando passavam em minhas costas.
Quando acabamos, ele repousou em meu braço e dormimos tranquilamente, dividindo a sua cama de solteiro.
6:00 da manhã - Segunda feira.
Eu vi Gabriel levantar mais que depressa da cama e ir direto para o chuveiro, eu me levantei e arrumei a cama, tirei as roupas sujas e coloquei no cesto onde deveriam ficar.
Gabriel saiu do banho e veio em minha direção, me dando um selinho.
- Bom dia amor. - Ele disse.
- Bom dia meu amor. - eu respondi.
- Não precisava ter arrumado as coisas, eu mesmo arrumava. - ele disse.
- Oxê, porquê? Já que estou aqui eu arrumo ué. - eu respondi.
- Então tá bom, mas agora vai tomar banho pra gente tomar café. - Gabriel disse.
- Beleza. - eu respondi.
Tirei minha roupa e fui para o banho. A água morna tirava os vestígios que de sono que ainda existiam em mim.
Eu me lembrei que hoje, eu teria que falar com meus pais no horário de almoço e isso me causava um embrulho no estômago, porque eu não sabia como eles reagiriam, mas eu não podia esconder mais, porque eles descobririam muito em breve, agora que praticamente a escola inteira saberá de mim e o Gabe.
Terminei o banho, me enxuguei e coloquei o uniforme emprestado do Gabriel, que ficava um pouco curto pra mim, mas que dava pra usar.
Descemos em direção a escada e logo estávamos na cozinha, cumprimentamos a Dona Lidya e Guilherme, que já estavam de saída e nos sentamos na mesa.
Gabriel me serviu o café com leite e colocou bolachas na mesa.
- Iremos depois da escola então falar com seus pais? - Gabriel perguntou dando um gole em seu café.
- Sim, os dois vão estar lá, é horário de almoço. - eu respondi.
- Beleza, espero que dê tudo certo amor. - ele segurou minha mão.
- Eu na verdade, não queria que você fosse. - eu fui sincero.
- Por causa do seu pai né? - Ele Perguntou.
- Exatamente, eu o conheço e sei que ele vai surtar. - eu respondi.
- Mas eu quero ir mesmo assim. Você esteve comigo ontem, então eu quero estar com você também e enfrentar isso juntos. - ele disse, apertando a minha mão.
- Vou te fazer uma pergunta, e quero que me responda com sinceridade. - eu disse.
- Sim. - ele concordou.
- Se a sua mãe, fosse uma surtada, agressiva, que acha que tudo se resolve na porrada, você deixaria eu vir aqui ontem? - eu perguntei olhando em seus olhos.
- Gustavo... - ele murmurou.
- Sinceridade. - eu pedi.
- Não, mas-
- Sem mas - eu o cortei - Farei isso sozinho. - eu respondi.
- Se isso te coloca em algum tipo de risco, é melhor não contar nada, eu não quero que ele bata em você ou faça algo do tipo. - Gabriel disse.
- São coisas que eu terei que passar e está tudo bem. - eu disse.
Gabriel não parecia feliz, mas não tinha outro jeito, era melhor que meus pais soubessem por mim do que por outra pessoa.
Terminamos o café, e fomos a pé para a escola, chegamos lá e ficamos no pátio com Karina e Henry até a hora que o sinal tocou, indicando o começo da primeira aula.
Quando cheguei próximo a minha sala, eu vi Verônica vindo em minha direção.
- Bom dia. - ela disse.
- O que você quer? - eu perguntei.
- Quero conversar com você. - ela respondeu.
- Estamos indo pra primeira aula, seja rápida. - eu respondi.
- Olha, Gabriel não é a pessoa que você pensa. - ela disse.
- E você está certa, ele é melhor ainda. - eu respondi.
- Ele só falava mal de você a vida inteira, nunca gostou de ti! O que te leva a pensar que isso mudou? - ela exclamou.
- Verônica, se você veio falar mal do Gabriel, juro, você perdeu o seu tempo. Eu sempre te disse, que não queria nada sério com você antes mesmo de ter alguma coisa com o Gabriel. Ele tem um total de zero culpa por você achar que ele me "roubou" de você. Você nunca me teve. - eu disse.
- Então porque me beijou? - ela perguntou com lágrimas nos olhos.
- Porque a gente quis, eu quis, você quis e foi só isso. Não houve sentimento. - eu respondi.
- Você é um nojento, igual a ele! - ela gritou.
- Você é que é nojenta, deu um tapa na cara do seu amigo de infância por causa de um homem. Você não tem vergonha na sua cara? Você foi tão baixa, que até o chão que você pisa tem vergonha de você. - eu respondi.
- PLAFT - foi a minha vez de tomar um tapa na cara.
- Pode me dar mil tapas na cara, que isso não vai mudar quem você é. - eu respondi e ela saiu chorando.
Eu entrei na sala e o professor de química chamou minha atenção por estar atrasado, eu me desculpei e ele pediu para que eu me sentasse.
Eu só copiei matéria calado as próximas 3 aulas, ignorando total algumas indiretas que me foram lançadas, que eu estava namorando o "Gaybriel", que trocadilho mais podre.
Quando fomos liberados para o horário do intervalo, eu encontrei com o Gabe e fomos juntos para a fila do lanche, eu achei melhor não falar nada sobre Verônica ou as indiretas que recebi, eu já estava tenso o bastante e não queria piorar a situação.
- Não é amor? - Gabriel me perguntou.
- O quê? - eu estava distraído.
- Nossa, você está aqui ou em Marte? - Karina riu.
- Me desculpem, tive dobradinha de aula de química. - eu forcei um sorriso.
- Que merda hein. - Henry disse.
- Pois é. - eu concordei.
Terminamos o almoço, voltei pra sala e agora o relógio pareceu correr mais rápido do que nunca, a quarta aula passou voando, assim como a quinta e a sexta aula.
Quando finalmente o sinal tocou anuciando que poderíamos ir embora, eu me encontrei com Gabriel no pátio.
- Amor, deixa eu ir com você. - ele se agarrou ao meu braço.
- Já falamos sobre isso Gabriel. - eu respondi.
- Eu estou preocupado, sinto que algo está errado. - seus olhos estavam cheios, quase transbordando suas lágrimas.
- Ei, calma, por favor, não me deixa mais inquieto do que já estou. - eu pedi.
- E se ele bater em você? - Gabriel perguntou.
- Não será a primeira vez e nem a última. - Eu respondi.
- Eu não quero isso, por favor não fala mais nada. - as lágrimas molharam seu rosto.
- Gabe, não piora tudo, cadê a Karina? - eu perguntei.
- Eu não sei. - ele respondeu choroso.
Eu peguei o meu celular e liguei pra ela:
--------- Ligação On ----------
Karina: Oi.
Eu: Oi, cadê você?
Karina: To saindo do laboratório agora, aconteceu alguma coisa com o Gabriel?
Eu: Mais ou menos. Você pode vir aqui no pátio?
Karina: Claro, 2 minutos to aí.
Eu: Tá bom.
---------- Chamada Off ------------
Karina vinha mais do que depressa em minha direção.
- O que aconteceu? - Ela Perguntou abraçando o Gabriel.
- Ele não quer que eu fale com meus pais. - eu respondi.
- Gabriel, isso é algo que não pode ser evitado. - ela disse a ele.
- Eu sei, mas, eu sinto que algo ruim vai acontecer e eu não quero isso. - ele chorava muito e ver essa cena, fazia o meu coração doer, mas eu não queria chorar na frente dele, queria demonstrar confiança.
- Tenta acalmar ele, eu vou indo, se não vou perder o almoço dos meus pais. - eu disse olhando para a Karina. - Eu amo você e assim que tudo acabar, eu te ligo. - eu dei um selinho nele.
Ele me agarrou forte e eu podia sentir as suas lágrimas molhando a minha camisa.
- Eu também te amo e vou esperar por você. Por favor, assim que possível me mande uma mensagem. - ele pediu.
- É o que eu farei. Te amo. - eu o beijei de novo e ele ficou ao lado de Karina ainda chorando.
Eu podia sentir as lágrimas que segurei descerem pelo meu rosto, eu sentia a mesma coisa que Gabriel, que iria dar merda, e eu só queria sair vivo de lá.
Eu sentia que tudo iria desabar bem em cima da minha cabeça quando eu contasse, mas não tinha outro jeito.
O amor que Gabriel me fez sentir, me fazia ter a coragem necessária para contar aos meus pais, mesmo que isso significasse levar uma surra.
Foram os 15 minutos mais tensos voltando para a minha casa, eu peguei a minha chave na bolsa, abri o portão e vi o carro do meu pai e o da minha mãe estacionados na garagem, o que me garantia que eles estavam lá.
Meu coração acelerou, meu estômago começou a revirar, não tinha outro jeito, era agora ou nunca.
Eu coloquei a chave na fechadura, girei a maçaneta e quando enfim abri a porta, a cena que eu vi, me fez querer sair correndo de desespero:
Minha mãe chorava sentada ao sofá, meu pai me encarava de pé e Verônica estava ao lado da minha mãe sentada.
- O que está acontecendo? - eu perguntei assustado.
- O que está acontecendo? Eu que te pergunto Gustavo! - o meu pai berrou.
Eu pude sentir o meu corpo todo estremecer, eu fechei a porta e me sentei na poltrona.
A minha mãe levantou o olhar pra mim, ela chorava muito, seu rosto tinha lágrimas de rímel, seu olhar parecia gritar: "fuja!"
- Você contou, certo Verônica? - eu perguntei.
E antes que ela pudesse responder, o meu veio direto a mim na poltrona, eu quase me afundei dentro da poltrona.
- Então é verdade?! - Seu viadinho de merda! - ele dizia apertando o meu braço.
- Augusto não faz isso! - minha mãe Gritou.
- Cala a sua boca Jéssica! - meu pai gritou - então é verdade que você é uma bixinha que está namorando outra bixinha?! - ele gritava mais ainda.
- Sim! O nome dele é Gabriel e eu o amo! - eu gritei de volta e então meu pai me puxou pelo braço, me jogando com força no chão e antes que eu pudesse me levantar, ele me acertou um chute com força na barriga me fazendo gritar de dor.
- Para!!!!!!!!! - a minha mãe gritou.
- Parar?!! Eu sou um militar respeitado! Eu não posso ter um filho viadinho, andando com outro homem por aí de mão dada! Você é uma vergonha para essa família Gustavo! Seu porco! Você sabia que gays vivem com AIDS? - Ele puxou o meu cabelo virando a minha cara para que eu pudesse olhar para os seus olhos com fúria.
- Gente, eu contei para vocês para que pudessem ajudá-lo e não para que ele fosse espancado. - Verônica estava chorando.
- E você fez bem, agora some da minha casa! E você não viu nada aqui! - Meu pai gritou para a Verônica, que saiu em disparada pela porta.
- Augusto, pelo amor de Deus! Você vai machucar o meu filho! - Minha mãe gritou.
- É exatamente! Seu filho! Porque eu não tenho filho viado! Eu não tenho filho que é um viadinho. Você é uma vergonha! - ele berrava no meu ouvido.
- Você que é uma vergonha pra essa família, minha mãe não o suporta, já tentou separar de você por diversas vezes e você volta a perseguir, usando seu poder como militar para se livrar dos inúmeros boletins de ocorrência que ela fez contra você. Então, se tem alguém aqui que é uma vergonha não só para essa casa, mas para a sociedade, é você. - eu disse com dificuldade.
E aí eu o vi voando em cima de mim, com uma mão ele segurava os meus dois braços com a ajuda do seu peso e com a outra ele me esmurrava, no rosto, no peito, na barriga, aonde a mão dele pudesse me acertar.
- Você vai matá-lo! - a minha mãe gritava puxando ele, tentando tirá-lo de cima de mim, mas ela não conseguia.
O meu pai passou a me enforcar, e eu sentia a minha respiração ficar cada vez mais fraca.
- Solta ele pelo amor de Deus! - a minha mãe acertou cadeira da cozinha nas suas costas e ele urrou de dor me soltando.
Ele a pegou pelo braço, e a jogou no chão, bem do meu lado.
Eu tentei me levantar, mas eu não tinha forças o suficiente, eu sentia o gosto de sangue na minha boca, sentia sangue escorrendo do meu nariz.
E um filme passou na minha cabeça, eu me lembrei de quantas e quantas vezes, a minha mãe mentiu sobre mim, para que meu pai não me batesse.
Quantas vezes ela mentiu para que não fosse agredida.
Lembrei-me os motivos para eu ser tão cauteloso, por ter medo de confiar, não só em mim, mas todos a minha volta, lembrei-me o motivo de ter tanto medo de ser quem eu era, lembrei-me que quem me causava tudo isso, era o meu próprio pai.
Quando era pequeno, eu não poderia chorar, porque eu sei que isso é fraqueza aos olhos dele.
Eu fui forçado a fingir varios sorrisos, fingir que estava bem todos os dias da minha vida.
E quando encontrei meus amigos, eles se tornaram o meu refúgio, e quando encontrei o Gabriel no shopping, aquele dia, ele se tornou a minha âncora, mesmo que distante, eu o amei desde aquele lindo dia.
Quando nos beijamos eu renasci, junto com ele. Mas agora, deitado sobre o tapete da minha sala, tudo havia ficado pequeno, eu fechei os meus olhos e escutei barulhos de viaturas, gritos e eu não conseguia enxergar direito.
- Chama uma ambulância! Coronel Augusto, o senhor está preso! - uma voz falava ao fundo.
- Gustavo?! Gustavo! - era Gabriel gritando ao fundo.
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