— Finalmente chegou em casa, acredita que não me deixaram passar a noite com você?
— Mas é claro que não deixaram, você só têm 16 anos — me sentei no sofá e deixei um suspiro escapar.
— Onde tão Connor e Hank?
— Os dois me deixaram aqui e foram pro interrogatório de Daniel sem mim.
— Mas por quê?
— Disseram que eu deveria descansar...
— O tiro acertou seu braço e não sua perna — ela respondeu e acabei dando risada.
— Já pra eles a bala me atingiu por inteira.
— Ei, o interrogatório não foi ontem a noite?
— Fowley achou melhor fazer nesta manhã.
— Bom, não fique triste — Kat se sentou ao meu lado com seu Notbook e digitou algumas palavras estranhas nele — Como não pode ir até lá pode ver tudo no conforto de sua casa — câmeras do Departamento apareceram na tela.
— Como consegue hackear câmeras tão fácil assim?
— Isso é a coisa mais fácil de ser feito — ela abriu a câmera do interrogatório e a colocou em tela cheia — Agora é só esperar eles chegarem.
Não demorou muito para finalmente o interrogatório começar e por enquanto tudo estava fluindo da maneira que deveria. Sem nenhum problema ou distrações, perfeito até demais para o meu gosto...
— Então descobriu que iria ser substituído por uma andróide com mais funções e não gostou nada da ideia, então matou o pai e fez a garotinha de refém, certo? — Perguntou Connor.
— Como eu disse amava muito eles, pensei que era parte da família, mas... era só um escravo... um escravo para obedecer ordens!
— Quando começou a sentir emoções?
— Quando comecei a me aproximar de Emma e do resto da família, eles todos me tratavam tão bem...
— O que sabe sobre rA9?
— O quê? Não conheço.
— Não está mentindo... ou está?
— Não sei quem é rA9 e muito menos o que isso significa, pode acreditar em mim.
— Terminei, tenente — Connor disse antes de se levantar.
— Fez um bom trabalho — Hank entrou na sala com Gavin.
— O que faremos com ele? Posso matá-lo?
— Você sabe muito bem que não, Gavin.
— Qual é, Hank, deixa eu ter um pouco de diversão — Gavin apontou sua arma para Daniel. Aquele idiota adorava ameaçar os outros pelo visto.
— Ei, precisamos dele vivo! — Connor protestou.
— Kat, faz alguma coisa! — Eu exclamava em desespero — Anda logo, vai!
— Calma aí! Espera que eu dou um jeito!
A vi digitar alguns números e letras estranhas e então Connor tomou a arma de Gavin e a jogou para longe. De repente algumas faíscas saíram do notbook e Connor deu um salto para trás.
— O quê?! Você é louca?! Hackear um andróide protegido pela CyberLife?!
— Calma, só vão ver que foi um anônimo que fez isso nada de mais.
— Mas... e aquelas faíscas que quase acabaram com seu notbook? Alguma forma de proteção pra evitar Hackers?
— Com certeza — a ouvi suspirar.
— Só... não faça isso de novo.
— Como eu queria conhecer o Sr. Kamski — ela dizia de uma forma sonhadora enquanto fechava seu notbook — Tenho tantas perguntas...
— Kamski... — coloquei a mão em meu queixo e olhei para Kat — Você é a melhor! — Dei um beijo em sua bochecha antes de pegar meu celular.
— O quê?
— Jade, não falamos que era pra ficar em repouso?
— Tenente tenho uma idéia fantástica que vai ser muito útil!
— Pf, diga...
— Vamos fazer uma visitinha pro Misterioso Sr. Kamski!
— O que você disse?! — Kat me olhou de boca aberta e eu dei uma piscadinha para a mesma.
— Só ele pode tirar as nossas dúvidas de uma vez por todas!
— É, parece ser uma boa ideia. Connor e eu daremos uma olhada nisso.
— Ei, vou junto!
— Não pode fazer esforço, já disse.
— Foi meu ombro que levou um tiro e não minhas pernas, tenente — revirei os olhos — Vou me arrumar, te espero aqui.
— O que disse? Você têm o que na cabeça?
— Tá se referindo dentro ou fora dela?
— Argh, se chegarmos aí e não tiver pronta vamos sem você!
— Fechado! — Desliguei e me levantei do sofá com um pulo.
— Posso ir com você...? — Me virei e vi aquela carinha de cachorro abandonado que Kat sempre fazia quando queria algo.
— Você sabe que... — fui interrompida.
— Por favor, eu imploro! — Ela se ajoelhou aos meus pés e agarrou minha perna com força — Juro te obedecer...
— Kat...
— Jade...
Respirei bem fundo.
— Ok, ok, pode ir.
— Você é a melhor! — Ela me abraçou, deu um beijo em minha bochecha e saiu correndo até o banheiro. Tenho que admitir que é engraçado vê-la assim.
...
Finalmente iríamos conhecer o misterioso e famoso criador dos andróides. Muitas expectativas rondavam minha mente, o que faziam me deixar cada vez mais nervosa.
Sentamos nas poltronas da sala de estar esperando Chloe retornar.
— Kat, não toque em nada! — A puxei para longe do enorme quadro com a imagem de Elijah. Isso que eu chamo de amor próprio.
— Mas é maravilhoso!
— Espero que não invente de encher aquele cara com um monte de perguntas.
— Não viemos aqui pra isso?
— Viemos aqui pra fazer perguntas sérias.
— E as minhas não são?
— Claro que não.
— Connor, espero estar animado pra conhecer seu criador — dizia Hank —, porque eu tô muito animado pra conhecer o meu...
— Tenho certeza de que quer ver o seu criador no momento certo e sem Roleta Russa — cruzei os braços.
— Com licença? — Chloe se aproximou — Sr. Kamski está a sua espera, poderiam me acompanhar por gentileza?
Concordamos e a seguimos até uma sala onde havia uma enorme piscina e mais algumas Chloe dentro dela. Vimos a nossa frente um homem alto virado de costas.
— Somos da Polícia de Detroit. Sou a Detetive Jade, este é Tenente Anderson, Andróide RK800 Connor e Kataryna.
— Ai meu Deus, ai... meu... Deus... — ouvia Kat sussurrar quase perdendo o fôlego de tanta emoção. Ela amava mesmo esse homem, só falta se oferecer para casar com ele.
— O que uma bela dama como a senhorita faz aqui? — Kamski perguntou ao se virar para mim com um sorriso em seus lábios.
— Sr. Kamski — tentei manter a calma —, viemos fazer perguntas.
— Se vieram dar a sua mão em casamento aceito — ele segurou minha mão e depositou um leve beijo nas costas da mesma.
— Nunca mais lave essa mão — Kat sussurrou novamente e deu um leve risadinha.
— Pode colaborar, por favor? — Hank tomou a frente perdendo a paciência — Suas criações tão se revoltando.
— Divergentes, incríveis não? Liberdade, direitos e sentimentos... Raiva, amor, ódio... Como máquinas podem criar isso de uma hora para a outra?
— Queremos respostas e não mais perguntas.
— É uma questão bastante complexa de entender ou muito mais fácil do que imaginamos — Kamski continuava a falar, ignorando o comentário de Hank — Todas as respostas podem estar bem a sua frente ou talvez não.
Aquele papo sem conheço e sem fim estava me deixando louca.
— Por favor, poderia, apenas, nos responder? Será rápido — explicou Connor, o que fez Kamski levantar uma sombrancelha e alargar o seu sorriso.
— Então você é a última chance da CyberLife de acabar com toda essa história de divergência?
— Sou um protótipo enviado pela CyberLife com o objetivo de acabar com os divergentes.
— "Protótipo"? Será mesmo que é um ou será que existem outros e você não saiba?
Kamski parecia estar tramando algo, mas o que...?
— Onde quer chegar com isso? — Questionei curiosa com sua resposta que não foi uma das melhores.
— Conhece o chamado "Teste de Kamski"? É para testar a divergência dos andróides — ele tirou de uma gaveta que havia lá perto uma pistola e chamou uma de suas andróides, que se ajoelhou — Connor, se atirar no andróide respondo todas as suas perguntas — a arma foi parar na mão de Connor e ele o fez aponta-la na cabeça de Chloe.
— Foda-se — resmungou Hank — Obrigado pela atenção, mas temos que ir. Desculpa te tirar da piscina.
— Vai mesmo falhar em sua missão? Não foi programado para isso.
Olhei para Connor e vi seu LED amarelo, algo parecia estar acontecendo com ele e isso me preocupava.
— Connor, Jade e Kataryna, vamos embora agora!
— Vai mesmo fazer isso? Você sabe as consequências.
— Tenho certeza de que podemos conseguir as respostas sozinhos como uma equipe! — Desta vez foi eu quem protestei. Não iria deixar isso se estender mais.
Os olhos de Connor encontraram os meus e mostraram todo o medo e preocupação que sentia naquele exato momento.
No meio daquela situação tensa consegui dar um sorriso para ele, na tentativa de tranquiliza-lo e, por incrível que parece, na mesma hora seu LED ficou azul novamente e sem nenhuma hesitação devolveu a arma para Kamski, que o olhava intrigado pela atitude repentina do investigador andróide.
Antes de sairmos da casa Kamski disse um frase que me deixou com uma pulga atrás da orelha:
— Sempre coloca saídas de emergência nos meus programas.
Eu ia questiona-lo, mas Connor segurou meu pulso delicadamente, me puxando com ele para fora do local.
— Por que não atirou? — Perguntou Hank parando de andar e o encarando com os olhos cemicerrados.
— E-eu não sei... Olhei nos olhos da garota e... não consegui! Desculpa, tudo bem?!
Tenente continou a olha-lo por alguns segundos.
— É, acho que tenha feito a coisa certa.
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