História Dragão de Gelo - Aegon II

Aegon acordou sentindo-se como se tivesse sido atingido por um aríete em seu peito. Não conseguia se lembrar direito o que havia acontecido, mas de repente ele se viu novamente em seu quarto. Sentiu algo molhado em sua cabeça e quando arrastou sua mão para tocá-lo, viu que se tratava de um pano úmido. Só então o príncipe resolveu observar direito o seu quarto e viu que tinha uma mulher sentada ao lado de sua cama e que o olhava pacientemente. Rhaenys, foi a primeira pessoa que imaginou, porém viu que se tratava de uma garota de pele clara e cabelo quase da cor de caramelo, que caiam em cachos muito bem arrumados, usando um vestido verde com renda dourada e uma sutil tiara de ouro na cabeça. Era Margaery Tyrell.

- Meu príncipe, você acordou. - ela parecia genuinamente feliz pela recuperação de Aegon. Então aos poucos ele começou a se lembrar do que havia acontecido.

Tinha ido participar das justas no torneio do seu próprio noivado. Lembrou-se de ter ido para os estábulos que haviam sido montados com sua armadura completa, uma réplica da armadura que Rhaegar tinha usado na batalha do Vau do Chifre Quebrado. Onde seu pai havia derrotado Robert Baratheon e quebrado o chifre de cervo que ele usava em seu elmo. Segundo o que dizem, o chifre caiu naquele rio e está lá desde aquele, por isso ganhou este nome, embora o rei parecesse não se importar muito com isso. Lembrou também que estava junto com sor Barristan antes de ir para as competições, eles haviam brincado um pouco e Aegon conseguia se lembrar tê-lo chamado de “sor Vovô”, enquanto o velho o ajudava a montar suas armadura e se queixando por Aegon não ter um escudeiro.

- Príncipe Aegon? - Margaery o desperta do seu devaneio enquanto tira o pano de sua testa e o espreme em um balde estava ao lado de sua cama. - Como está a sua cabeça? Achei que pudesse estar com febre, todos estão preocupados com a sua saúde, você esteve desacordado por horas. - ela não parava de disparar informações e parecia estar genuinamente preocupada, embora pela longa convivência que havia ganhado em Kingslanding, tinha uma suspeita que todo o amor e preocupação que a garota tinha por ele era devido ao fato de que ganharia o título de rainha.

- Esteve aqui esse tempo todo? - Aegon pegou-se sentindo um pouco constrangido ao pensar no que tinha acontecido naquela mesma cama há algumas horas atrás. Tinha a vaga lembrança de ter acordado e ao olhar para o lado Rhaenys já havia sumido, levando junto o seu manto. A irmã dele sabia todos os caminhos e passagens secretas que tinham na Fortaleza Vermelha - segundo ela - e sempre tinha o costume de sumir antes que o príncipe acordasse. Aegon gostava disso, fazia com que a relação deles fosse mais prazerosa por ter uma tonalidade de mistério e perigo. Porém novamente estava se desviando para com a irmã e não com a noiva.

- Não o tempo todo. - ela dá um risinho tímido e Aegon vê que tinha corado um pouco seu rosto, lhe dando um aspecto de mais nova. - O rei mandou que você fosse atendido por todos os Meistres que estavam presentes, até mesmo o Grande Meistre veio para tentar lhe curar, somente depois que disseram que você estava livre de perigo é que deixaram as pessoas entrarem. - Margaery tenta ajeitar uns fios de cabelo que se soltaram do seu penteado para trás e sua mão repousa delicadamente ao lado da de Aegon. - Depois disso foi dito que eu poderia ficar com o milorde, porém com uma companhia.

Aegon ouviu um pigarro nessa hora e virou-se para o seu outro lado. Nele havia o que se parecia inicialmente uma criança feia, mas então seus olhos focaram melhor e viu se tratar de um anão com cabelo dourado e olhos disformes com cores diferentes. Para sua surpresa, o Duende ao invés de estar segurando uma taça de vinho segurava um livro em capa dura que provavelmente deve ter encontrado na estante pessoal de livros do príncipe.

- Desculpa interromper o namorico de vocês, mas o senhor Mace Tyrell havia insistido que a filha fosse acompanhada por alguém, pois não é cortês uma mulher ficar no quarto do prometido sozinhos antes do casamento. - Tyrion Lannister fala dando um sorriso conspiratório para Aegon.

- Meu irmão Loras queria vir, mas ainda tinha a competição acontecendo. - Margaery comenta cautelosa.

De repente as memórias do príncipe começam a voltar novamente e ele se vê com armadura completa e montado em seu cavalo indo para a arena. Se sentia extremamente confiante, e ao contrário dos espadachins, as justas estavam sendo disputadas por cavaleiros nobres de todos os Sete Reinos. Aegon se lembrou de ter visto sor Loras e sor Jaime como dois dos participantes. Ao lembrar do nome do Lannister descobriu o que havia ocorrido com ele e o fizera vir parar em seu quarto.

Aegon e Jaime Lannister disputaram uma das partidas de justa. O príncipe lembrou de ter visto o adversário todo vestido com uma armadura dourada que parecia ser folheada a ouro - segundo o que as pessoas falavam sobre Casterly Rock, isso seria bastante possível, dado as imensas minas de ouro que haviam naquele lugar. Aegon se lembrou da emoção que sentiu antes de começar a disputa, havia olhado para o pai Rhaegar, e viu o olhar de orgulho que ele dava ao filho. Aquela afinal era a competição que o rei quando tinha a sua idade fazia, ele não era um espadachim qualquer que ficava no chão como um soldado qualquer de infantaria. Eles dois eram cavaleiros. Jaeherys estava ali também, o irmão mais novo havia vindo e se sentava junto com a família, ao lado de Daenerys Targaryen, se lembrou da proposta de casamento do irmão para com a tia, mas não se lembrava de ter visto nenhuma resposta desta.

O juiz deu a largada e Aegon açoitou o cavalo com força para ir correndo com sua lança de madeira se posicionando para acertar o ombro direito de Jaime. Viu o Lannister levar o escudo preguiçosamente para bloquear a estocada, sem seguida, ambos se viraram para o lado oposto de onde começaram. Partiram novamente para um embate e Aegon dessa vez tenta acertar a barriga do adversário, mas no último segundo pretendia mudar para o ombro. Sor Jaime mudou a posição da sua lança também e antes que o príncipe pudesse reagir, ele sentiu a lança de madeira explodir em seu ombro direito.

Sentiu uma dor insuportável e ao mesmo tempo ouviu uma gritaria incessante enquanto um garoto marcava no placar um ponto para sor Jaime. Para piorar, viu o adversário tirar o seu elmo dourado e lhe dar um sorriso de escárnio por causa do acontecido. Sempre soubera da animosidade que o homem havia adquirido pela família real após ter sido expulso da Guarda Real por ter assassinado o Rei Louco.

Sor Barristan apareceu ao seu lado e tentou lhe dar algum conselho de como se portar, enquanto via se armadura não havia sido comprometida, ou se o príncipe havia quebrado o braço. Aegon pouco se importava com isso, queria apenas tirar o sorriso de desdém de sor Jaime, sentiu seu sangue borbulhar de raiva. Barristan havia lhe dito que estava tudo bem, então o príncipe se adiantou a fim de continuar na disputa.

Foi dada outra largada, e Aegon correu com sua lança novamente apostos e mirou bem no peito de Jaime. Dessa vez o Lannister estava com sua lança apontada para a perna de Aegon, o príncipe movimentou o escudo para o meio do corpo na hora em que o adversário mudou o alvo para sua barriga. A lança de Jaime explodiu no escudo enquanto a de Aegon acerta direto no peito do adversário. O príncipe conseguiu chegar na beirada a ponte de ver o adversário quase caído no chão por causa do golpe que havia dado. Como provocação, ele tirou o elmo para olhar com um sorriso de escárnio para o adversário e riu enquanto via que a sua lança havia amassado a armadura com um buraco do tamanho de um punho de criança.

Mais gritaria foi ouvida das arquibancadas, do mesmo modo que gritavam para cada golpe bem sucedido que seu irmão havia dado com a espada. Seu coração encheu de soberba. Aegon havia visto que sor Barristan estava vindo para o outro lado da pista lhe encontrar, mas o príncipe decidiu avançar primeiro sem se importar nos conselhos do velho cavaleiro. Somente três lanças poderiam ser usadas na competição, e seu adversário já havia perdido duas em seu golpe, enquanto Aegon ainda podia usar duas lanças. Após isto eles deveriam partir para a morte súbita de derrubar um do cavalo com suas espadas. Somente se o placar continuava empatado.

Como as lanças eram padronizadas, Aegon buscou a última lança que restava na área onde Jaime havia começado duas vezes. Aquilo deu mais prazer ao garoto, em imaginar derrotando aquele homem que tinha agido com arrogância com o futuro rei.

Ao dar a nova largada o cavalo de Aegon correu sem sequer precisar que ele lhe açoitasse. Podia ver espuma escorrendo da boca do animal devida a ansiedade por estar tanto tempo correndo contra um inimigo armado. O cavalo de Sor Jaime parecia mais descansado, no entanto precisou de dois açoites para acompanhar a velocidade do príncipe. Aegon então visou acertar o flanco direito do inimigo, em sua ansiedade quase mirou no elmo, mas sabia que este tipo de ataque havia sido banido das justas pela alta probabilidade de morte por sua causa. Infelizmente a demora que ele havia tido deu uma oportunidade enorme para o adversário,seu tempo de reação ao ver a lança de Jaime apontada para seu peito foi deveras lento, o escudo só conseguiu interceptar parte do golpe, que resvalou no peito de Aegon, depois disso o príncipe não lembra mais de nada.

- Seu irmão fez isso comigo! - ele rosnou para Tyrion, talvez não tivesse tido a intenção de ter falado com o anão daquela maneira, porém a lembrança súbita dos acontecimento tinha enchido seu coração de raiva.

- Bom, aquilo era uma competição milorde. - Tyrion falou com uma voz calma e sem nenhuma demonstração de irritação. - O senhor não foi o primeiro e nem vai ser o último a ficar desacordado por cair do cavalo.

- Ele tem razão meu amor - Margaery tenta lhe tranquilizar repousando a mão no ombro de Aegon, este havia sido o braço que foi atingido por Jaime e pelo menos este não doía mais como estava quando havia recebido o golpe. - Você foi explêndido, nenhum homem nos Sete Reinos vai lhe julgar por ter sido derrubado por Jaime Lannister. Ele foi um ex guarda real, lembra? Dizem que o único cavaleiro que consegue enfrentá-lo de frente é sor Arthur Dayne.

Aegon queria acreditar que aquilo era verdade, mas ser derrotado por um adversário invencível no torneio que havia sido organizado em seu nome era tão ruim quanto ser derrotado por qualquer adversário. Ele só poderia aceitar a vitória, porém foi derrubado em sua primeira competição. Sentiu uma fúria incontrolável subir em seu peito e teve que respirar fundo por alguns minutos antes de se acalmar.

- A competição já acabou? - perguntou para qualquer um dos dois responder.

- Não sabemos meu príncipe, quando o senhor caiu desacordado todo o evento foi pausado até que os meistres dissessem que você estava totalmente curado. - Margaery explicou e de certa forma aquilo fora ainda pior de se saber. Todos os competidores tiveram que aguardar a recuperação de um oponente caído no chão para voltarem ao torneio. - Agora o torneio já deve estar em andamento, pelo horário os combates já devem ter acabado, ou já estão nas finais.

No fundo o príncipe torcia para que Jaime ganhasse, se ele fosse perder que pelo menos perdesse para o homem que seria o campeão.

Aegon ignorou um pouco os dois presentes no seu quarto e começou a fitar pela janela o céu. Às vezes pensava que queria ser um dragão, assim poderia voar em liberdade por todo o reino, sem ter que se preocupar com nenhum predador, assim seria a criatura mais poderosa e majestosa do mundo. Se tivesse um dragão como o Conquistador possuía, certamente não precisaria ficar no jogo de agradar aos grandes Senhores para que estes o apoiassem e não conspirassem para lhe tirar do trono.

- Milady Margaery, você se importaria de me deixar um pouco a sós com o príncipe? - Tyrion quebrou seu devaneio. - eu garanto que o príncipe está ansioso para saber quem vai ser o vencedor, e sendo sincero, apostei um bom dinheiro em meu irmão. Então eu também quero saber se irei deixar meu pai furioso por ter gastado todo o dinheiro que trouxemos para essa visita, ou vou deixá-lo decepcionado por não ter conseguido fazer arranjar uma desculpa para me tratar como um monstro, o que se tornou o seu esporte preferido nos últimos tempos.

A Tyrell olhou um pouco horrorizada para Tyrion, e Aegon percebeu que essa havia sido a primeira vez de fato que os dois haviam trocado olhares direto. Então existe algo ela não consegue suportar, pensar nisso fez o príncipe querer rir. Ele achava que Margaery era mecânica demais, ao ponto disso o incomodar bastante, mas vendo que a garota tinha pelo menos uma repugnância por pessoas feias já ajudava a torná-la um pouco mais real. A garota olhou para Aegon, como se quisesse dizer que só sairia se ele a pedisse, e não aceitaria ordens do Lannister.

- Por favor, minha dama. E se possível conte ao meu pai que eu estou desperto e bem, garanto que o rei Rhaegar vai gostar de saber que o primogênito dele está bem. - torceu para que a amargura em sua voz não tivesse sido tão perceptível. Ele sabia muito bem que não era o preferido do pai, Jaeherys certamente era seu filho mais amado, após Rhaenys que por ser a única menina ele sempre a mimou. Enquanto Aegon, o que seria herdeiro sempre teve a educação mais severa, via o pai como uma figura distante, cheia de afazeres e andando sempre ao lado de Tywin Lannister como consultor para qualquer coisa. Algumas pessoas diziam no Reino que o pai de Tyrion deveria mudar seu nome para Targaryen, pois ele havia governado o Reino inteiro na época do Rei Louco e ajudou Rhaegar a reerguer Westeros. - Você me faria muito feliz se fizesse isso. - Aegon falou puxando Margaery para perto e lhe dando um beijo suave na testa, recuando logo após com um sorriso sedutor que ele adorava fazer.

Margaery parecia ter corado de verdade dessa vez e mais uma vez o príncipe gostou de ver naturalidade na garota. Ele a observou se distanciar da cama e ir em direção da porta do quarto, não podia evitar de analisar como era o corpo da garota se movendo daquela distância. Ela já tinha dezessete anos e esta quase florescida por completo, Aegon gostava de pensar que daqui há alguns anos, com certeza a sua noiva se tornaria uma das mulheres mais lindas de Westeros.

- Cuidado garoto, as rosas mais bonitas são as que tem mais espinhos. - Tyrion adorava fazer alusões a respeito das casas dos Sete Reinos. Neste caso, o símbolo da casa Tyrell era uma rosa dourada em fundo verde. - Mas acho que não faz mal olhar um pouco também, tenho que admitir que seu pai escolheu bem a sua noiva. Arianne Martell jamais iria gostar de abrir mão de domínio de Dorne, pelo que as pessoas dizem é claro. Uma vez eu a conheci, ela te comeria vivo.

Aegon queria dizer que já tinha sua cota de mulheres dornesas em sua cama e que preferia experimentar rosas ao invés disso, porém achou melhor não falar a respeito de seu relacionamento com Rhaenys. Aquilo era um segredo sigiloso que os dois gostavam de manter, principalmente por causa de Rhaegar estar disposto a acabar com as relações incestuosas entre os Targaryens.

- Lorde Tyrion, acredito que já tenhamos tido nossa cota de fofocas há alguns dias. - Aegon fala se ajeitando e se senta encostado nos travesseiros de sua cama. - Acredito que o senhor tenha uma conversa muito mais séria comigo.

- Achou certo, não é muito bem uma conversa príncipe Aegon, na verdade estou curioso a respeito de uma coisa. - o anão o fitava com seus olhos desiguais como se estivesse analisando cada movimento do príncipe. - Além disso, não me chame de lorde, como anão meu pai me considera um pouco acima de um bastardo.

- Pois então diga meu amigo. - Aegon forçou um sorriso se sentindo desconfortável por causa da atitude dele.

- Se você fosse rei no dia de hoje, o que teria feito com Jaime por ter te derrubado do cavalo? - o príncipe se assustou com a pergunta, ao mesmo tempo se encheu de raiva, pelo que havia acontecido. Sor Jaime quisera o humilhar propositalmente para atingir Rhaegar, isso era algo que estava estampada na expressão arrogante daquele homem.

- Ele queria se vingar por ter sido expulso da Guarda Real me humilhando na frente de todos os Senhores dos Sete Reinos, o que acha que eu deveria ter feito? - Aegon se exalta um pouco e teme ter atraído a atenção dos prováveis guarda que deveria estar do lado de fora protegendo a sua porta.

- O que eu faria não tem necessidade, o que importa é o que você irá fazer. - Tyrion coloca o livro do lado e Aegon percebe que era uma narração de época sobre a Dança dos Dragões. - Afinal de contas, você um dia será um rei.

Aegon não queria pensar naquele assunto, afinal estava com raiva do que havia acontecido. Sua vontade era de mandar Jaime ser obrigado a ajoelhar em sua frente e beijar suas botas clamando perdão e caso não fizesse isso, ele seria executado por ter atentado contra a vida do rei. No entanto, decidiu respirar fundo e pensar o que um bom rei faria, melhor, pensou no que Rhaegar faria.

- Meu pai teria dito que foi um acidente infeliz de torneio, e que sor Jaime era um grande cavaleiro. - aquilo certamente seria a atitude do seu pai, de fato, o garoto tinha certeza que esta foi a frase que o pai disse após os meistres disserem que ele não corria perigo. Porém Tyrion continuava o olhando calmamente sabendo que esta ainda não era a resposta pessoal de Aegon. - Eu provavelmente mandaria que seu irmão fosse surrado em algum beco em Kingslanding por homens que não pudessem ser identificado, porém que colocassem seu irmão em seu devido lugar.

Esperava que Tyrion lhe repreendesse dizendo que isso iria criar uma rixa entre os Lannister e os Targaryens. Mas ao invés disso o anão deu de ombros, como se soubesse que essa seria a resposta.

- Certamente, seria uma solução bem sutil para por um idiota no seu lugar - Tyrion para de falar esperando que Aegon lhe interrompesse, mas como não o fez, ele continuou a falar. - porém meu irmão é um idiota orgulhoso, mas posso perguntar outra coisa?

- Você vai perguntar de qualquer maneira. - Aegon fala demonstrando sua falta de paciência com aquele interrogatório.

- o senhor príncipe me conhece bem, então, sua atitude seria a mesma se soubesse que meu irmão está prestes a se tornar o senhor de Casterly Rock? - Tyrion fala aquilo de maneira tão casual que Aegon se sente assustado.

- Seu irmão está prestes a se tornar o senhor das Terras do Oeste? - Aegon se sentia chocado por não ter sabido desta notícia, ao mesmo tempo sentiu-se furioso, pois certamente o rei Rhaegar não quis lhe contar o assunto.

- Meu pai está doente, meu príncipe. - Tyrion fala. - O velho leão finalmente está começando a ceder a idade, por isso ele pediu para voltar para suas terras a fim de preparar meu irmão imaturo para o seu legado. Não sei se ouviu histórias do meu avô, mas ele era um homem deveras manso, se é que o senhor compreende o que eu falei, o grande Tywin Lannister fez com que todos voltassem a entender que os Lannisters são uma das Sete Grandes Casas e que lhes desafiar é cortejar com a morte. Já deve ter ouvido falar dos Reines de Castamere.

- Já ouvi as baladas sobre o feito. - os Reines eram uma casa das Terras dos Oeste, da qual havia se aproveitado bastante do antigo senhor de Casterly Rock, até Tywin resolver a situação destruindo toda aquela família e demolindo seu castelo até a fundação para que ninguém mais ousasse morar ali.

- Então meu príncipe, Rhaegar I é conhecido por todos como o Rei Bom, mas que tipo de rei você vai ser? - Tyrion volta a perguntar.

- Se eu for um rei benevolente e assistivo para o povo, eles sempre vão querer mais, vão se tornar preguiçosos e esperar que eu lhes sustente, contudo, se eu for muito repreensivo com eles, os mesmo irão formar um levante para tentar me matar. - lembrou-se da animosidade que todos tinham pelo seu avô  Aerys, e como o homem havia lidado com as pessoas de Kingslanding na base dos massacres para que ficassem passivas. - Os Grandes Senhores serão a mesma coisa, se eu lhes beneficiar muito eles irão tripudiar de mim e querer ganhar mais as minhas costas, em contrapartida, se eu for um muito rigoroso com eles, ao ponto digamos, de mandar espancar um cavaleiro arrogante, porém que vai ser um Grande Lorde, posso acabar tendo que encarar uma nova revolução. - agora havia se recordado em como seu avô havia matado o pai e o irmão de Eddard Stark em um golpe sujo, enquanto os rumores diziam que Lyanna havia sido sequestrada por Rhaegar e estava sendo mantida em cativeiro.

- O senhor me apresentou uma leitura impressionante Aegon. - por um momento Tyrion havia esquecido as formalidades e tratou o príncipe como amigo próximo. - De fato, se você for para qualquer extremo, irá se tornar um Rei Louco ou um Leão Manso. Então me diga o que você deseja ser?

- Nem uma coisa e nem outra, eu serei um dragão. - Aegon falou olhando novamente para a janela e se imaginando como aquela criatura alada magnífica. - Não posso me dar ao luxo de querer se igual aos outros Lordes de Westeros, mas ao mesmo tempo não posso deixar que eles me desafiem.

- E o que isso quer dizer? - perguntou Tyrion dando um sorriso de diabrete para o príncipe se divertindo com a conversa.

- Significa que eu não devo atacar um inimigo que eu possa perfeitamente controlar. - Aegon deduziu. - Seu irmão é bastante arrogante, mas se eu tentasse atacar sor Jaime, me encontraria em uma nova Guerra Civil, mesmo que ela fosse menor que a de Robert Baratheon, seria suficiente para enfraquecer um Reino que já se encontra dividido entre aqueles que querem a mim no trono e aqueles que querem o meu irmão no trono.

Viu a surpresa no olhar do Duende, e depois percebeu que disse algo que nunca havia verbalizado antes. Ele temia que Jon tentasse pegar o trono para sim, embora achasse impossível que o caçula desejasse tão avidamente ser a ponto de querer criar uma nova Dança dos Dragões.

- Sabe Aegon, algumas pessoas dizem que quando um Targaryen nasce, ele é destinado a grandes coisas ou a grandes desastres. - aquilo não era algo que as pessoas diziam na frente do membros da Casa Targaryen, porém Aegon já havia ouvido aquela frase da boca de Sor Barristan certa vez.

- Os deuses lançam uma moeda cada vez que um Targaryen nasce, e toda Westeros prende a respiração, pois não sabem se ela vai cair na loucura ou na grandeza. - citou a frase completa.

- Sim, os deuses foram perversos na moeda de Aerys e bondosos na moeda de Rhaegar. - Tyrion comenta. - Mas a sua moeda é a que mais me intriga.

- Por que Lorde Tyrion? - Aegon o provoca mesmo sabendo que o anão não queria ser chamado por esse título. - Acha que a minha moeda caiu na loucura?

- Não meu príncipe - o Duende fica soturno de repente se aproxima da cama de Aegon.Se não fosse a sua expressão séria o príncipe riria da forma em que era visível somente o pescoço do homem para cima, devido a sua baixa estatura. - A sua moeda caiu em pé.

- E o que isso significa? - perguntou curioso e se divertindo com a conversa. Muito podiam dizer que Tyrion era um pouco insolente, porém o príncipe sabia que o comportamento daquele homem era desse jeito devido ao seu conhecimento. Homens inteligentes têm pouca paciência para conversar com pessoas burras.

- Significa Aegon, que você vai poder escolher seu destino. Grandeza ou loucura, a decisão cabe somente a você. - ao terminar de falar isso, a porta do quarto do príncipe se abre novamente e Margaery surge sorrindo para o príncipe. Ela parecia estar muito mais empolgada do que quando partiu praticamente expulsa pelo duende.

- Meu príncipe, tenho o orgulho de dizer que o meu irmão sor Loras conseguiu derrotar sor Jaime na luta final das justas. - ao terminar de falar aquilo Aegon viu Tyrion praguejar para todos os Sete Deuses por ter perdido todo o dinheiro que haviam trazido para fazerem apostas. Margaery neste momento não conseguiu esconder um sorriso de desdém por ver a irritação do Duende, somente Aegon sabia que tudo aquilo era fingimento do amigo. - Lamento Lorde Tyrion, imagino que o senhor tenha apostado a favor da sua família, e com o fiasco de Clegane ontem vocês devem estar bastante desanimados com a competição.

- Nem tanto - Tyrion deu de ombros e olhou com cumplicade para Aegon. - Sabe minha futura rainha, eu costumo observar sempre os participantes das disputas antes de apostar. Por coincidência, vi que a égua que seu irmão montava estava no cio, logo presumi que o garanhão do meu irmão, estou falando do cavalo, acabaria por ficar bastante atormentado com a visão de uma boa potranca pronta para ficar grávida. - desta vez o príncipe viu que o Duende não estava conseguindo mais esconder o sorriso para expressão de surpresa de Margaery. - Então eu ganhei bastante dinheiro apostando em sor Loras.

- Mas eu achei que - a garota não conseguiu terminar, pois Aegon havia lhe cortado.

- Meu amor, Tyrion é um apostador nato. Ele não revela em quem estão suas fichas até saber quem ganhou ou perdeu. - Já havia perdido as contas de quantas vezes tinha caído em blefes do Duende, seja em apostas ou em jogos de estratégias.

Sentia um pouco de pena da noiva ao ver sua expressão de descontentamento que não conseguia mascarar. Tyrion então se espreguiça de maneira desdenhosa antes de voltar a falar.

- Se o príncipe e a futura princesa me derem licença eu preciso ir atrás dos gerenciadores de apostas pegar meu dinheiro. - Mas antes dele sair, o Duende se aproxima bem perto de Aegon. Que ao entender o que ele queria fazer se estica até chegar próximo ao rosto deformado do homem. - Lembre-se disso Aegon, estou botando minhas fichas em você. E posso lhe dar mais um conselho?

- Pode sim, meu amigo. - disse quase sussurrando.

- Não é Jaeherys Targaryen o irmão que você deve temer que queira o trono. - com isso o anão sai de perto de Aegon dando a volta em sua cama e se despede de Margaery beijando sua mão, que esta consegue estendê-la prontamente para isso sem demonstrar nojo. Deixando então Aegon e sua noiva sozinhos, com o príncipe pensando em tudo que eles haviam conversado.