Acordei com a luz batendo direto na minha cara, o que me fez grunhir e virar para o outro lado, afundando a cabeça no travesseiro branco, disposta a dormir até o inferno congelar, mas o barulho de algo quebrando me fez abrir os olhos novamente. Vi no relógio vermelho ao lado da cama que já eram onze horas da manhã. Me espreguicei antes de me sentar. Só então eu percebi uma coisa: eu não tinha um relógio vermelho, nem relógio nenhum.
Pulei da cama e olhei em volta, estava em um quarto estranho, onde era tudo branco ou bege. Olhei pra mim mesma, eu vestia somente uma camiseta branca folgada, grande demais pra mim, com certeza não era minha. Pela porta entre aberta pude ouvir alguém praguejar, andei até lá, bem devagar, tentando não fazer nenhum barulho.
Cheguei perto o suficiente pra poder ver que a porta dava para um banheiro, estiquei a mão em direção ao trinco da porta, mas antes que eu pudesse encostar nela, a porta foi completamente aberta, e eu dei dois passos rápidos pra trás.
—Te acordei? Foi mal, derrubei...não sei o que é aquilo na verdade, acho que é um vaso, sei lá. – Matt disse enxugando o cabelo com uma toalha. Eu juro que tentei não olhar, mas Matthew estava bem ali na minha frente, só de toalha, exibindo aquele abdômen definido e ainda por cima com algumas gotas de água descendo por seu corpo, era humanamente impossível não olhar pra ele. Como eu não disse nada, ele sorriu pra mim. – Tudo bem detetive? – ele perguntou divertido se escorando no batente da porta.
—Onde eu estou? – minha voz saiu estranhamente falha, mas foi só porque eu acabei de acordar, não tem nada a ver com o deus grego seminu na minha frente, nada mesmo.
—Você não lembra?
—Não, por isso to perguntando. – disse como se fosse óbvio.
—Você desmaiou na festa e eu te trouxe pra cá.
—Onde exatamente é aqui?
—Um quarto do hotel que eu aluguei. Eu não te levei pra sua casa porque eu não sei onde fica, e você tava bêbada demais pra me mostrar o caminho.
—Podia ter perguntado pra Lori, ela sabe onde eu moro.
—Eu perguntaria, mas depois que você apareceu, Lori sumiu. – era típico da Lori fazer isso, ela sempre encontrava um “amigo” e desaparecia das festas, me deixando sozinha, vamos ter uma conversinha mais tarde, ah se vamos.
—Obrigada. – me dignei a agradecer, pelo menos ele não me deixou sozinha lá.
—De nada. – ele piscou pra mim e andou até uma mala no canto do quarto, pegou algumas roupas e voltou para o banheiro, deixando a porta aberta. Eu me sentei na cama e esperei ele voltar.
Olhei a minha volta, realmente parecia um quarto de hotel, deveria ter percebido, era tudo de coloração uniforme, nenhuma decoração que demostrasse preferencias de alguém. Havia poucos móveis, uma cama de casal, uma mesinha num canto, um sofá com edredom e travesseiro?
—Você conhece algum lugar pra tomar café? Não acho que a comida do hotel seja muito boa. – ele disse voltando para o quarto já vestido com uma camiseta preta sem estampa e calça jeans.
—Você dormiu no sofá? – perguntei voltando meu olhar pra ele.
—Dormi.
—Por quê?
—Só tem uma cama, então...- ele disse coçando a nuca. Ele olhava fixamente pra mim e aí eu lembrei de um pequeno detalhe: minhas roupas!
—O que aconteceu com as minhas roupas? – perguntei puxando a camiseta pra baixo, tentando me cobrir melhor.
—Ah, você disse que não queria dormir de calça jeans porque era ruim ou algo assim...não lembro direito, aí eu te dei uma camiseta minha. Suas roupas estão aqui. – ele disse mostrando uma espécie de armário de duas portas, minhas roupas estavam em cima do mesmo.
—Eu falei?
—Sim.
—Você disse que eu tinha desmaiado.
—Na festa você desmaiou quando caiu do banquinho. Eu pedi para o barman olhar você um pouco enquanto eu tentava achar a Lori, mas ela não estava em lugar nenhum. Quando voltei você já tinha acordado e até pediu outra bebida para o barman. Eu tive que praticamente te carregar até o carro, tentei te levar pra sua casa, mas sempre que eu virava uma esquina você dizia que era para o outro lado e a gente nunca chegava em lugar nenhum, inclusive uma hora você gritou alto e eu parei o carro na hora te fazendo derramar, seja lá o que você pediu para o barman, na sua blusa e você começou a me xingar, mas eu não conseguia entender muito bem o que você dizia. – eu ri junto com Matt nessa ultima parte, meu deus, queria enfiar minha cabeça num buraco.
—Desculpe. – eu disse baixo.
—Imagine, já fiz pior quando estava bêbado, além disso, eu não me importo.
—Acho melhor eu ir pra casa. – eu disse me levantando e indo em direção ao armário.
—Eu te levo. – Matt disse – Assim já aprendo fica sua casa, caso precise te deixar lá de novo.
—Ah, eu espero que você nunca precise fazer isso de novo. – eu disse ficando de costas pra ele e olhando o armário, era alto e certamente não fui eu que coloquei as roupas lá em cima.
—Como eu disse, eu não me importaria em cuidar de você de novo. – me virei pra ele, Matt me olhava da porta do banheiro, ele sorriu antes de passar pela porta.
Ele ficava bonito quando sorria, pensando bem, Matt ficava de qualquer jeito, principalmente de toalha. Ok Gwen, pare com isso, ele provavelmente pensa que você é retardada, eu já alguns vídeos que minha querida amiga Lori, fez de mim quando eu estava bêbada na época da faculdade e eu só quero apagar aquilo da minha mente.
Me voltei para o armário novamente, eu não sou exatamente baixinha, mas aquele armário definitivamente era alto demais pra mim. Eu tive que me esticar pra conseguir alcançar as roupas, e, com a minha sorte, eu consegui enroscar o cós da calça em alguma coisa. Eu puxei com força, mas a calça não queria sair de jeito nenhum. Depois de mais algumas tentativas, bufei irritada e soltei a droga da calça, já que não quer sair então fica aí, mas eu precisava da maldita roupa! Olhei em volta, não havia nada que eu pudesse usar pra subir. Tentei puxar de novo, então ouvi uma risada perto de mim, perto demais.
Quando me virei pra olhá-lo, choquei-me contra seu corpo. Em reflexo, dei um passo rápido pra trás e bati a cabeça no armário.
—Merda! – praguejei.
—Foi mal, de novo. – ele estava tão perto que quase podia sentir o calor que emanava de seu corpo. – Se machucou?
—Não. – respondi com a voz fraca. Matt apoiou uma das mãos em minha cintura e se esticou sobre mim pra pegar as roupas.
—Aqui. – ele disse me estregando as peças. Eu peguei e só então olhei diretamente para seu rosto, havia um brilho estranho em seus olhos, sua mão continuava em minha cintura.
—Como minhas roupas foram parar em cima do armário? – pelo sorriso malicioso que se formou em seu rosto, soube que não devia ter perguntado aquilo.
—Você colocou elas lá. – sua voz era rouca e baixa. – Você queria deixar elas dobradas, então se esticou pra conseguir colocar elas lá em cima, mas, mesmo assim, não conseguiu alcançar e simplesmente jogou elas lá. Talvez seja por isso que a calça prendeu. – ele se aproximou mais de mim, se é que isso era possível, eu desviei o olhar para as roupas em minhas mãos – E quando você tentou colocar as roupas lá, ainda não estava usando minha camiseta.
Meu rosto deve ter ficado tão vermelho quanto o relógio. A risada rouca dele me fez olhar para seu rosto novamente. Os olhos verdes estavam escuros, a mão em minha cintura fez uma leve pressão e ele apoiou o outro braço no armário ao lado da minha cabeça, dava pra ver os músculos tensionados.
Seu olhar alternava entre meus olhos e minha boca, Matt se aproximava cada vez mais de mim, ele iria me beijar, meus lábios se entreabriram e minha respiração se tornou pesada. Nossos lábios estavam quase se tocando quando um barulho alto se fez ouvir no quarto. Nós dois nos sobressaltamos, Matt se afastou de mim a passos largos e olhou em volta no quarto a procura da origem do som. Acontece que era o telefone dele que estava tocando. Matt pegou o aparelho e parou em frente à janela para atender a ligação.
Eu fui ao banheiro e me tranquei lá. Larguei as roupas na pia e respirei fundo. Mas que diabos tinha acabado de acontecer? E o que ele quis dizer com ainda não estava usando a camiseta? Ele me viu de lingerie? Oh, droga! Será que ele vai se importar se eu ficar trancada aqui pra sempre?
Olhei para a camiseta que eu vestia. A estampa me fez sorrir, era do iron maiden, uma das bandas preferidas do meu pai, ele até tentou me ensinar a tocar algumas músicas na guitarra, eu não levava jeito pra aquilo, mas sempre gostei das camisetas, os desenhos sempre me chamaram atenção, Eddie the head, eu ri na primeira vez que ouvi o nome da mascote da banda.
Esquecendo meus devaneios, eu tirei camiseta e coloquei minha própria roupa. Me olhei no espelho, a maquiagem estava borrada, o cabelo despenteado, que coisa mais linda! Lavei meu rosto e fiz o melhor que pude pra tirar a maquiagem. Quanto ao meu cabelo, bem não havia nenhuma escova ali, então prendi o cabelo num coque com um prendedor que eu sempre deixava no bolso da calça, caso precisasse.
Quando eu estava me sentindo “apresentável”, respirei fundo mais uma vez e tomei coragem pra sair do banheiro. Matt estava deitado na cama, com os braços cruzados, quando eu abri a porta do banheiro ele levantou e pegou as chaves no criado mudo.
—Tenho que dizer que prefiro você vestindo minha camiseta! – disse divertido enquanto eu deixava sua camiseta em cima da mesinha.
—Cala a boca! – eu disse andando pra fora do quarto. Matt veio atrás de mim e trancou a porta. – Espera, você veio com o meu carro? – perguntei.
—Vim, não podia deixar você dirigir naquele estado, ia acabar se matando.
—Nem sei como te agradecer.
—Eu conheço um jeito bem legal. – e lá estava o maldito sorriso de novo, mostrando as covinhas.
—Sério Matt, cala a droga dessa boca! – tudo que eu ouvi como resposta foi uma risada rouca.
O caminho até minha casa foi silencioso, eu estava dirigindo enquanto Matt olhava as ruas pela janela. Chegando no meu prédio, deixei o carro no estacionamento e peguei a chave do apartamento. Entrei no elevador com Matthew ao meu encalço, apertei o número cinco e esperei calmamente até chegarmos ao quinto andar, graças a deus tiraram aquela musiquinha irritante que tocava no elevador.
Assim que abri a porta do apartamento, Sky veio correndo até mim e se enrolou nas minhas pernas.
—Hey linda, sentiu saudades? Quer comer? Vamos achar alguma coisa pra você. – segui para a cozinha pegando-a no colo.
Abri o armário de baixo e tirei o pacote de ração de lá, Sky miou ao ouvir o som do pacote. Enchi o prato dela de ração e coloquei um pouco de água também. Matt me olhava curioso da porta da cozinha.
—Quer tomar café? – perguntei.
—Claro, apesar de já ser quase meio-dia. – ele se sentou na mesa, ficando de frente pra mim. Iria ver a hora no meu celular, só tinha um problema, onde estava meu celular?
—Droga!
—O que foi? – Matt perguntou.
—Acho que esqueci meu celular no hotel.
—Eu pego depois.
–Obrigado.
Preparei bacon com ovos, não estava com criatividade pra fazer outra coisa, a cafeteira fez um café decente e nós comemos em silêncio. Matthew me observou enquanto eu preparava o café, eu só queria esquecer o que tinha acontecido mais cedo, ou pensava que queria.
Depois de comermos, Matt foi brincar com Sky na sala. Era estranho ver um homem daquele tamanho, com todas aquelas tatuagens brincando com um gatinho. Deixei uma risada divertida escapar por meus lábios, trazendo a atenção dos olhos verdes pra mim.
—O que foi? – ele perguntou.
—Nada, só...não sabia que gostava de gatos.
—Bem, deixei uma dormir na minha cama noite passada.
—Às vezes, só queria que você calasse essa maldita boca, sério!
—Ouvir minha voz é a melhor parte do seu dia.
—Não, não é.
— Você sabe que é. – ele deu um passo na direção da Sky novamente, mas se virou pra mim antes de chegar até a minha gata. – A propósito, eu gostei da tatuagem.
Tenho certeza que meu rosto estava mais do que vermelho dessa vez. E minhas suspeitas estavam confirmadas: ele me viu só de lingerie. Sabe aquela frase da Lana del Rey? Queria estar morta? Nunca fez tanto sentido pra mim como faz agora. Matt olhava pra mim com um sorriso enorme no rosto, se divertindo com meu constrangimento, desgraçado!
Por sorte, uma alma divina tocou a campainha e eu fui atender a porta, ainda ouvindo a risada dele atrás de mim. Estranhei o porteiro não ter avisado nada, mas fui atender mesmo assim.
Abri a porta, mas não havia ninguém do corredor. Olhei para os dois lados, nada. Olhei pra baixo e lá estava uma caixinha branca, com um laço verde claro. Juntamente com a caixa, havia um bilhete. Olhei mais uma vez para os dois lados, pra conferir se havia alguém ali, provavelmente deve ter sido um engano, quem me mandaria isso?
Peguei a caixa e fechei a porta. No bilhete endereçado a mim, estava escrito com uma caligrafia perfeita, certamente feita por uma máquina:
“A inveja que fala e que grita, é sempre desastrada, a inveja que se cala é a verdadeiramente temível”.
—O que é isso? – Matthew perguntou se aproximando de mim.
—Eu não sei. – minha saiu mais fraca do que eu esperava.
Abri a caixa e lá dentro, embrulhado em um tecido vermelho escuro, havia apenas uma coisa: uma letra, a letra A.
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