Renesmee Cullen
Se havia algo em que todos presentes naquela casa concordavam era que não dava para passar muito mais tempo ali. E talvez, fosse a única coisa em que estávamos de acordo.
— E se formos para a ilha de Esme? — sugeriu Bella — Foi lá que eu e Edward passamos a lua de mel.
— É uma viagem para conseguir tempo ou uma renovação de votos? — Retrucou Jacob, que recebeu um olhar furioso de meu pai. Emmett achou graça da situação.
— A ilha tem literalmente o meu nome — disse Esme — Seria o primeiro lugar para procurar.
— Podemos passar um tempo na França — Propôs Alice — Adoro Paris.
— Odeio Paris. — Emmett disse.
— E que tal Havaí? — Manifestou-se Rosalie, atraindo olhares de todos — O que foi? Eu gosto de praias.
Todos começaram a discutir, falando ao mesmo tempo. Em meio às vozes desordenadas, era possível ouvir comentários como “Fala sério, quem pensa em Havaí?!” ou “ Já fomos para Paris mais de cem vezes, literalmente!”.
— Por que parecemos uma família feliz escolhendo o melhor lugar para passar as férias? — Emmett disse, mas seu comentário passou despercebido.
— Para onde você quer ir? — Jacob me perguntou, alheio aos conflitos.
Botei a mão no queixo teatralmente.
— Hum… Acho que gosto da Ilha de Páscoa. — Brinquei, mas Jacob levou como se fosse algo fundamental para aquela discussão séria.
— Precisamos ir para a Ilha de Páscoa! — Ele disse, e foi encarado com olhares que pareciam questionar sua sanidade.
Eu não contive uma risada — o que provavelmente atraiu os mesmos olhares para mim, mas não me importei. Era incrível como a forma leve com que lidávamos com os problemas fazia tudo parecer fácil.
— Vocês são demais. — Eu disse.
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— Certo — Carlisle falou — Então está decidido.
Passada a discussão, havíamos entrado em um consenso: íamos passar um tempo em Nova Iorque. Carlisle concluíra que não devíamos ir para fora do país, já que seria uma curta viagem apenas para obter uma noção do que podíamos fazer. Fugir para uma cidade bem povoada parecia uma boa ideia, visto que seria mais fácil nos camuflarmos. Além disso, eu tinha fé que não precisaríamos passar muitos dias lá.
Só havia um problema: estavam todos com fome. Haviam dias que os vampiros de minha casa não caçavam.
— Podemos caçar hoje — propôs Edward — Voltamos antes de escurecer e saímos pela noite.
— Nem pensar — disse Jacob — É sábado. Tem humanos fazendo trilha nas florestas.
— Seremos discretos — insistiu meu pai.
— Não é com discrição que me importo. Não ligo se vocês são vegetarianos ou seja lá como se deve chamar isso, perto de humanos, não. — A voz de Jacob estava carregada de convicção. Eu sabia que iriam acabar brigando se ninguém interviesse.
— Está tudo bem — Falei. — Eu e Jacob não precisamos caçar. Podemos ir na frente.
— Eu vou junto. — Bella disse. — Sou mais nova, vivo caçando. Vejam, meus olhos estão mais claros, não preciso comer agora.
— É claro que não. — disse meu pai.
— Edward. — Bella articulou — Não há tempo para superproteção, Renesmee está em perigo. Além do mais, não íamos todos de uma vez mesmo.
Não houveram mais objeções.
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Jacob Black
Eram três da tarde quando cheguei em La Push. Eu, Nessie e Bella partiríamos para Seattle hoje a noite, e de lá pegaríamos um voo para Nova Iorque. Não seria muito agradável ficar longe da matilha, ainda mais rodeado por sanguessugas, mas eu não me imaginava deixando Nessie partir sem mim num momento como esse.
— Vou com você! — Foi o que Seth disse, quando eu os contei que estava partindo. Minha matilha atualmente era constituída por Seth, Leah, Embry e Quil, e eu não pretendia trazer mais pessoas. Estava bom assim. Os outros estavam com Sam, e eu e ele não tínhamos problemas com isso. Estávamos em paz.
— Não vai. — Eu disse — São só uns dias. Vocês tem que ficar aqui, para proteger Forks.
Estávamos na garagem da minha casa. O lugar tinha se transformado quase que em um ponto de encontro nosso — quando humanos, claro.
— Sam pode cuidar disso — Embry disse.
— Não acho que Sam vá comprar uma briga dos Cullen — Leah disse, no tom mais bronco que encontrou.
— Infelizmente vou ter que concordar com Leah — Quil disse, como se estivesse levando uma facada na barriga.
— É — Falei — Eu também.
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Estar na casa de Sam novamente me lembrava os velhos tempos. Minha adolescência, a forma como eu odiava Sam e seus seguidores antes de me juntar à matilha, minha descrença nas lendas Quileutes, minha paixão ridícula por Bella Swan e a forma como eu sempre (ainda bem) era jogado para a Friendzone. Me senti nostálgico.
Eu estava sentado na cozinha de Emily enquanto ela regava alguns vasos de flores cantarolando uma melodia feliz.
— Oh, Jacob — Ela me dissera, quando cheguei — Sam foi a uma patrulha com os outros, já deve estar voltando.
Mas isso foi há vinte minutos. Eu já havia tamborilado meus dedos na mesa de Emily em tantos ritmos diferentes, que cogitei criarmos um novo hit com sua melodia e minha batida. Porém, eu não gostava de música, e ainda tinha que ver meu pai e arrumar minhas coisas.
— Emily, hã… — Eu disse, me levantando — Acho que estou indo.
Ela se virou para mim.
— Tem certeza? Pode esperar o lanche se quiser.
— Obrigado. — Falei — Mas se você puder, sei lá, dizer a ele para me ligar…
Emily sorriu.
— Tudo bem.
Eu estava saindo pela porta, quando dei de cara com um homem semi nu de quase dois metros.
— Jacob? — disse Sam.
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Renesmee Cullen
— Alô? — Disse Renée, do outro lado da linha.
— Ah, oi, vó. É a Renesmee. — Eu disse. Renée ficará sabendo de minha existência três anos após meu nascimento, quando eu tinha – ou pelo menos aparentava ter – onze anos de idade. Desde então, assim como Charlie, ela vem ignorando meus surtos incomuns de crescimento e a mudança repentina de aparência de minha mãe.
— Oh, Nessie! — Ela também tinha adotado o apelido que Jacob me dera (o que, claro, não agradou nem um pouco minha mãe) — Como é que vocês estão?
— Estamos bem. Como estão você e Phil?
— Estamos legais. O time dele venceu o campeonato regional, acredita? Sempre pensei que Phil não tivesse mesmo talento para ser treinador, mas ele está crescendo no beisebol… — Ela riu — Não conte isso a ele.
Correspondi seu riso com algo que pareceu mais um cachorro se engasgando com água. Se não fosse a situação em que eu me encontrava, talvez tivesse gargalhando, mas já não conseguia.
— Está tudo bem mesmo, querida?
— Hã… Claro. Claro que está. — Charlie me encarou com um olhar de urgência. Eu e minha mãe tínhamos vindo à casa dele, para avisarmos que estávamos de saída, e acabamos por ligar para Renée, para matar a saudade. — Minha mãe quer falar com você.
— O quê? — Bella me dirigiu um olhar assassino e cheio de indignação. Eu sorri e entreguei o celular em suas mãos. Charlie também riu.
— Desculpe — Sussurrei — Eu não sabia o que dizer.
Minha mãe suspirou e levou o telefone à orelha.
— Oi, mãe.
Sue Clearwater, a namorada de meu avô, apareceu à porta da sala com uma bandeja de cookies. Meu estômago roncou, nem havia percebido que não tinha comido nada o dia todo.
— Vocês aceitam? — Ela disse, sorrindo.
— Vamos até a cozinha, Nessie — chamou-me Charlie — Acho que Bella tem muito o que conversar.
— Claro. — Acompanhei Charlie até a cozinha rindo, enquanto sentia o olhar furioso de uma vampira em minhas costas explicando à Renée que tiraria férias de novo.
❊
Já de volta à casa dos Cullen, eu resolvi ir ver o fim da tarde. Parecia ter se passado uma semana desde que eu sonhara com uma vampira misteriosa, mas na verdade, fora só um dia. Eram cinco e meia da tarde, e eu já havia tomado banho e penteado meus cabelos — necessidades de quem tinha uma parte humana.
Deixei que Alice escolhesse minhas roupas, não só porque estava estressada demais para conseguir montar algo menos horrível do que eu vestira o dia todo, mas também porque devia isso à ela. Alice, assim como todos os outros, vinha fazendo muito por mim.
E lá estava eu, com um lindo vestido azul-esverdeado que combinava perfeitamente com minha rasteirinha azul-escura, sentada no gramado observando o céu com uma vontade insana de voltar no tempo. Para quando minha única preocupação era se minhas roupas ainda serviriam quando eu acordasse.
O sol estava cada vez mais à oeste. Em poucos minutos, o crepúsculo aconteceria. Me lembrei de quando era uma criança — o que fazia menos tempo do que deveria —, e vinha todos os dias observar o sol se pôr. Com o tempo, eu fora perdendo tal hábito, assim como tantos outros. Suspirei. Eu crescera rápido demais, e embora minha infância tivesse sido feliz e saudável, fora curta.
Minha parte vampira lidava com tudo com muita maturidade. Era carregada de confiança e coragem, e estava pronta para o que desse e viesse. Porém, minha parte humana queria cavar um buraco ali mesmo e se esconder. Queria chorar, se entregar, queria ser menos impotente — porque, de certo modo, minha parte humana ainda tinha nove anos.
O sol finalmente se pôs, e uma lágrima involuntária correu por meu rosto. Limpei-a imediatamente. Todos estavam se esforçando para que desse tudo certo, e daria. Eu não podia me deixar tomar pelas emoções.
Aos poucos, as estrelas foram aparecendo no céu, e Jacob finalmente chegou. Ele surgiu da mata com uma mochila nas costas. Vestia uma calça jeans e uma camisa branca, que mal aparecia debaixo da jaqueta de couro.
— Hey. — Disse, sentando ao meu lado. Sua presença me tranquilizou de imediato, como se, como Jasper, ele pudesse controlar minhas emoções. Eu sorri para ele.
— Oi, Jake. Você demorou.
Jacob sorriu.
— É, acho que sim.
— Não faça mais isso. — Eu disse, e embora minha voz me parecesse muito séria, Jacob achou graça.
— Claro, claro.
— Jacob. Eu exijo respeito. — Brinquei.
— Sim, senhora. Ei, veja uma estrela cadente. — Ele disse, apontando para o céu.
— Onde? — Perguntei, mas logo percebi que havia caído numa pegadinha — Ah, não.
Jacob riu.
— Você sempre cai.
— Não tem graça, Jake. — Eu disse, mas eu mesma já estava rindo. Quando eu era pequena, Jacob vivia fazendo esse tipo de brincadeira comigo.
— Por que você sempre olha? — Ele perguntou, enquanto fitava o céu. Sua voz estava em um tom mais rouco que o habitual.
— Não sei. — Admiti — Na maioria das vezes, eu realmente acredito...
Jacob me deu um tapa de leve na testa.
— …Ei! — Reclamei, retribuindo o tapa — Mas sabe, às vezes eu sei que provavelmente é mentira, mas olho mesmo assim. E se fosse verdade? Eu nunca saberia. Talvez tivesse perdido a chance de ver uma estrela cadente.
Ele me encarou, sua expressão insondável.
— O que foi?
— Hã, nada. — Ele disse, e depois voltou a fitar o céu.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas um sentindo a presença do outro, quando Jacob falou.
— Olhe o céu.
— Qual é, Jake.
— É sério, eu juro.
— Não vou olhar.
— Por favor.
— Eu tenho cara de trouxa?
— Pode me bater se não tiver nada. — Ele disse.
Olhei para cima. De início, não vi nada. Estava pronta para dar um soco no braço dele, quando eu o notei. O meteoro desenhou o céu com seu rastro azulado, era deslumbrante. Eu sorri involuntariamente.
— É lindo, Jake.
— Por que você não faz um pedido? — Ele disse. — Vou fazer um também.
Suspirei. Aquilo era tão clichê… Mas o olhar de expectativa que Jacob depositava em mim fez meu coração doer.
— Tudo bem, tudo bem. — Assenti, e ele sorriu.
Fechei os olhos e respirei fundo. Por favor, pensei, Permita que todos saiam bem dessa.
Fiquei mais alguns segundos com os olhos fechados, e quando os abri, Jacob me fitava.
— O que pediu? — Ele perguntou.
— Para ter senso de moda. — Brinquei. Jacob riu.
— Droga, devia ter pensado nisso.
— E o que foi que você pediu? — Foi minha vez de perguntar.
— Uma viagem para a Ilha de Páscoa.
❊
Por volta das oito da noite, nós três partimos. A despedida fora breve, e logo estávamos dentro do carro luxuoso de Bella. Eu me sentei atrás, ao lado de Jacob, enquanto minha mãe dirigia à frente.
Ninguém disse nada durante a primeira hora. À medida que ia anoitecendo, eu me sentia mais cansada. Bocejei algumas vezes. Não percebi o momento exato em que adormeci.
Meu sonho começou normalmente. Momentos de minha vida se repetiam e mudavam como slides, sem nenhum padrão ou sentido, era só um sonho. Até que me vi passeando pela praia de La Push.
O lugar estava vazio. Só era possível ouvir o som das ondas violentas na água e do vento batendo em meus ouvidos. Eu caminhava sem objetivo algum, e me parecia só mais uma visão sem sentido. Até eu ouvir uma voz conhecida dizer meu nome atrás de mim.
— Olá. — Disse a mesma garota de olhos escarlate e cabelos dourados curtos da noite anterior. — Sentiu minha falta?
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