“Querida, preciso que venha aqui agora.” Taeyong falou apressadamente. “O mais rápido possível.” Ele completou; em seguida me deixando a sós com o tu-tu-tu da linha telefônica.
Imaginei um caso de emergência. Sabia-se lá por qual motivo, meu namorado precisava que eu fosse ao seu resgate.
E assim o fiz.
Taeyong atendeu a porta, os olhos arregalados e os lábios partidos por conta da respiração apressada. Ele me puxou para dentro do dormitório como quem guardava um segredo de estado.
“Eu não faço a menor ideia do que tenha acontecido aqui.”
Assim que ele saiu do meu campo de visão eu pude examinar a cena por minha própria interpretação.
Contei oito deles.
Oito crianças pulando, gritando e brigando pela casa. Salvo um, que sentado ao pé da mesinha de centro, desenhava tranquilamente.
“Taeyong onde você os arranjou? Tem que trabalhar como babá agora?” Perguntei.
“Para de brincadeira, esses são os meninos!” Ele respondeu apavorado.
Demorou um instante para eu perceber que, ao menos que Taeyong tivesse a súbita vontade de brincar de creche do papai, não haveria como ele ter simplesmente encontrado oito crianças pela rua e trazido para dentro do dormitório.
“Os meninos?!” Engasguei. “Que porra você fez aqui, Taeyong?!”
“Que eu fiz?”
“Você é o único que continua adulto!” Justifiquei.
“Eu não sei! Fui tomar banho e quando voltei isso aconteceu. Espero que seja uma câmera escondida ou algo do tipo.” Explicou ele.
Andei até a criança mais próxima, que estava muito entretida com suas folhas e canetas. A maneira tímida como movia os bracinhos e o sorriso curto, só pertenciam a um membro do NCT.
“Winwin?” Chamei-o.
Ele ergueu a cabeça na minha direção e, acenando, abriu seu sorriso.
“Se é uma câmera escondida, isso está assustador.” Conclui. Aproximei-me com a intenção de apertar suas bochechas, e percebendo, o garotinho se retesou colando o queixo ao peito, exatamente como Winwin fazia quando Yuta ou Taeil o incomodavam. “Realmente assustador.”
“O que eu vou fazer?!” Taeyong socou o batente da porta, bastante frustrado. “Pode me ajudar até que eu descubra o que aconteceu?”
Olhei bem para o centro da bagunça, onde os outros se digladiavam como em um capo de batalha.
“Tudo bem, mas só porque eles são uma gracinha.”
***
Decidi intervir na confusão maior, mas acabei tropeçando na quina do sofá antes que pudesse alcançar os outros.
Percebi um deles rindo de mim, sentado no chão e enfiando as mãozinhas em um pacote de Doritos. As covinhas o denunciaram.
“Achou engraçado Jaehyun?”
“Sim tia.” Ele se chacoalhou todo, rindo.
Nem em um milhão de anos imaginaria Jung Jaehyun me chamando de tia.
“Conta pra... Tia... Quantos anos você tem?”
Se era para embarcar naquela loucura e ter certeza que nem eu, nem Taeyong, abusamos de alucinógenos, então faríamos do jeito certo.
Jaehyun me estendeu a mão suja de farelos de salgadinho apontando os cinco dedos. Seguindo a matemática, então, eles estavam com idades entre nove e três anos.
Ainda receosa, abordei o grupinho que discutia no centro da sala. O engraçado era que nenhum deles batia mais alto do que minha cintura. Exceto por Johnny, é claro. Foi bem fácil reconhecê-lo.
“O que está acontecendo aqui?”
Um deles saltou com a mão levantada, apertando os olhos como quando se percebe algo errado. Achei que fosse Doyoung.
“Estou tentando fazer com que Mark e Haechan parem de brigar.”
Definitivamente era Doyoung.
Olhei para as cabeças que me espreitavam com olhinhos curiosos e encontrei Mark. Ô coisa mais fofa, credo.
“Marquinhos” sim, agora eu tinha uma bela desculpa para usar esse apelido. “Pode me contar porque estão brigando?”
“Eles não se dão bem, tia.” Doyoung respondeu pelos dois.
“Mark é muito feio!” A vozinha aguda de Haechan grunhiu.
Ele mostrou a língua para Mark, que apenas me encarou como quem dizendo viu só?. Ah, eu não me aguentei, tive que apertar as bochechas do Mark.
“Tia, você não vai resolver isso?” Doyoung me desafiava com as mãos na cintura.
Eu definitivamente era mais imatura do que todas aquelas crianças juntas, porque lutava contra a vontade de rir de sua fofura e a de chorar de desespero.
“Haechan, Mark não é feio. Vocês são irmãozinhos, tem que se dar bem. Pede desculpas pra ele.” Eu disse, voltando meu olhar para Doyoung, que agora parecia muito satisfeito.
Porém, como nem tudo é perfeito, Haechan apenas fechou a cara e fez que não com a cabeça.
“Tudo bem, então não.” Eu concordei. “Tentaremos mais tarde.”
Não discutiria com crianças.
“Taeyong o que você vai fazer?” Virei-me para perguntar, e morrendo de medo, porque confesso que assistira a muitos vídeos do tipo Porque Eu Não Tenho Filhos. E assim como eu presumia, foi só dar as costas que eles estavam por toda a casa novamente.
“Eu preciso cozinhar para eles. Já escureceu. Espero que durmam cedo.” Disse Taeyong, da cozinha.
Ok. Então a mamãe número um cozinha, e a mamãe número dois toma conta para que eles não destruam a casa inteira.
Minha primeira reação foi catar Jaehyun e me livrar do pacote de salgadinhos que ele comia.
Como dizem mesmo? Depois de um tempo você percebe que acabou se tornando os seus próprios pais...
“Mas eu vou jantar, eu prometo!” Ele choramingou.
“Eu não duvido.” O mais velho de todos se pronunciou. “Jaehyun gosta de comer.” Afirmou Taeil.
Jaehyun assentiu.
“Mesmo assim, você é uma criança, não pode ficar comendo essas besteiras.”
Escondi o pacote em um dos armários altos da cozinha, passando por um Taeyong afoito que cozinhava e supervisionava o resto dos meninos simultaneamente.
Escutei alguém gritar da sala e corri para ver Yuta apertando Winwin como se o chinês fosse seu bicho de pelúcia.
“Yuta!” Chamei sua atenção, me esforçando para não rir. “Nós sabemos que Winwin é fofo, mas não precisa apertar ele desse jeito.”
Yuta me ignorou, sufocando ainda mais o mais novo. Winwin abriu um berreiro. Ah, não.
“Yuta! O que eu falei?!” Cuidadosamente tirei seus braços do redor de Winwin, temendo que se eu não o fizesse, ele não o soltaria.
“Yuta mordeu a bochecha do Winwin.” Johnny delatou.
O que causou em um Yuta emburrado de braços cruzados.
“Você não pode...” como se dá sermão em crianças sem rir, mesmo? “...morder as pessoas. Isso machuca.”
Ele se sentou no sofá, me encarando.
“Winwin nunca aceita o amor do Yuta.” Resmungou.
“As pessoas recebem amor de maneiras diferentes, Yuta. Talvez não seja assim que Winwin goste de receber amor.” Expliquei. “Não é, Winwin?”
O chinês ainda soluçava aos prantos. O que eu poderia fazer?
“Winwin, o Yuta já entendeu, não precisa mais chorar.” Eu disse.
Mas nada.
“O que eu faço pra ele parar de chorar?” Perguntei para Johnny, o que pareceu a coisa mais sensata a se fazer naquele momento.
Ele deu de ombros, obviamente.
“Yuta, vamos brincar de luta?” Gritou.
Yuta gritou de volta, e os dois rolaram pelo chão.
“Vocês vão se machucar!” Corri para separá-los, mas Winwin agarrou minha mão. “Eu preciso cuidar dos seus irmãos, espera só um pouquinho.” Pedi.
Ele negou com a cabeça e seus lábios começaram a tremer. Se eu não fizesse algo rápido, voltaria a chorar. Winwin então estendeu os bracinhos em minha direção.
“O quê? Quer que eu te pegue no colo?”
Eu não convivi com muitas crianças ao meu redor, na verdade, não tinha a mínima ideia do que estava fazendo. Desajeitadamente ele se agarrou ao meu pescoço e eu o levantei.
O que eu diria quando eles voltassem ao normal? E se voltassem ao normal...?
Separei os dois que brincavam de luta e os levei pela mão até Taeyong. Sua reação de espanto a me ver com Winwin no colo foi impagável.
“O que faz com Sicheng no colo?” Fez bico.
“Taeyong, até que se prove o contrário, esse não é o Winwin. Aliás, é uma criança. E não parava de chorar.” Eu falei. “Eu trouxe dois ajudantes aí pra você.” Empurrei Yuta e Johnny em sua direção e dei as costas antes que ele protestasse.
Voltando para sala, me deparei com Taeil sentado sozinho ao pé da escada, rindo das bobagens que Mark, Haechan, Doyoung e Jaehyun inventavam.
“Porque não brinca junto?” Questionei.
“Sou muito mais velho que eles.” Falou.
“Nada ver, eu também brincava com crianças muito mais novas e muito mais velhas que eu.” Virei-me para os quatro. “Taeil pode brincar vocês?”
Eles assentiram, pulando no lugar.
“Viu só?” Pisquei, e o mais velho abriu um sorriso.
“Mas tia nós queremos brincar de outra coisa, essa brincadeira tá muito chata!” Haechan interrompeu. “Brinca com a gente?”
“...Brincar... Com vocês?”
“É!” Eles gritaram em uníssono. Então começaram a pular ao meu redor.
“Podemos brincar de cabra-cega. Quem quer ser a cabra?”
Haechan empurrou Mark em minha direção.
“O Mark!” Debochou. Ele definitivamente não mudara nada desde quando era criança.
Coloquei Winwin – que agora estava animado para a brincadeira – no chão, e arranjei um cachecol que pudesse ser usado como venda.
Por um tempo eu fui capaz de esquecer que os meninos magicamente encolheram, porque, sinceramente, eles ainda tinham muito daquelas crianças. Mark sempre entusiasmado mesmo que por pequenas coisas; Haechan brincalhão atormentando seus irmãos mais velhos toda a vez que eles encontravam alguém ou se perdiam da rodinha; Taeil calado, mas ainda assim tão cômico, ficava tonto toda a vez que rodava com a venda nos olhos; Doyoung sempre querendo colocar ordem na brincadeira; Jaehyun ria alto batendo palmas; Winwin mesmo tímido recebia muita atenção dos meninos.
Não demorou muito para que Yuta e Johnny se juntassem à nossa rodinha, até que Taeyong avisasse que o jantar estava na mesa.
Uma fila foi feita para lavar as mãos.
Os mais altos não tiveram nenhum problema em alcançar a pia com o auxílio de uma cadeira. Porém, Taeyong teve que pegar Haechan no colo e o ajudar na tarefa. E assim o mais novo foi para a mesa de jantar, onde novamente tivemos o mesmo problema. Como a casa não estava equipada para receber crianças, não possuía uma cadeirinha especial mais alta, então Taeyong se viu obrigado a alimentar Haechan no próprio colo. E devo admitir que foi uma cena meiga.
Assim como quando vi Taeil ajudando os irmãos mais novos a se servirem. E Jaehyun tão feliz com o jantar. Apesar da bagunça, barulhos e comida saltando, até que tivemos um jantar em paz.
“Então crianças...” Depois que Taeil e Johnny o ajudaram a recolher toda a louça, Taeyong disse. “Hora de ir pra cama.”
Obviamente seu anúncio foi recebido com vaias e resmungos.
“Conta uma história pra gente, tio!” Haechan sugeriu.
“Aonde que eu vou arranjar uma história?” Discordou Taeyong.
“Que tal contar pra eles como vocês viraram o NCT?”
“O que é NCT, tia?” Mark me perguntou.
Sentaram-se todos pela sala, alguns no sofá e outros no chão comigo e Taeyong.
“Era uma vez...” Comecei. “Um reino chamado NCT, que tinha nove príncipes. Continua Taeyong.”
Ele me olhou como que me amaldiçoando em pensamento, porém deu continuidade a história. Parecia até que já a conhecia.
Confesso que me surpreendi com a rapidez que os meninos dormiram. Um a um, foram fechando os olhos, até mesmo Taeyong que adormeceu com a testa em meu ombro.
***
A sala de estar do dormitório jazia em uma tênue penumbra. Taeyong dormia junto a mim, e os meninos vez ou outra suspiravam, quebrando o sossego. Também dormiam aconchegados uns nos ombros dos outros, fazendo-me questionar.
Quando cresceram tão rápido?
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