Os olhos esmeralda de Sakura estavam brilhando e apenas refletia a empolgação dela, pela carta de papel preto em cima da sua cama. Quanto tempo ela tinha aguardado para receber essa carta? Para ela, uma vida inteira. Era engraçado para a Haruno que, em poucas cartas trocadas, havia criado um grande espaço em seu coração, ao ponto de esperar a resposta do mal-humorado, que tentava fazê-la parar de trocar correspondências.
Se a perguntassem o porquê de esperar as cartas ou ainda nutrir o desejo de continuar com aquilo — coisa que Ino questionou, e muito —, Sakura apenas poderia responder que era por diversão. Era interessante mandar uma carta para um desconhecido e não precisava entrar em assuntos pessoais, o que tirava bastante do peso de tentar agradar um pouco as pessoas.
Com as trocas de cartas, Sakura tinha uma desculpa para praticar um pouco da escrita, e até mesmo sua caligrafia, que ela estava esforçando para ser diferente da sua escrita normal, caso as cartas estivessem chegando para um conhecido.
A carta poderia estar em cima do seu colchão, mas nos últimos dias estava uma correria, já que no dia seguinte ela teria que ir para Kumo. Então, antes dela sentar em sua cama e respirar fundo para depois abrir a carta, a Haruno jantou com a sua família e tomou banho.
“Para a Sonhadora Sem Preocupação Com o Seu Bem-Estar,
Não quero ser arrastado para a sua infantilidade em querer continuar a trocar cartas com um desconhecido. Uma vez, me disse que não estava querendo viver um conto de fadas, mas vendo que realmente quer continuar com as trocas de cartas, eu só posso afirmar que realmente não quer amadurecer e acha que está em um filme de romance.”
Sakura parou de ler nesse ponto e acabou rindo com aquelas palavras, pois ela conseguia imaginar em sua mente que, no momento que o desconhecido parou de escrever, ele deveria ter suspirado.
“Realmente quer colocar um pronome durante as discussões, que eu tentarei te fazer parar com essa bobagem de cartas? Não vou responder, você terá que descobrir, mas eu não preciso ter dois neurônios, para saber que você é uma adolescente que sonha com mundo encantado. Afinal, quem assina uma carta com pseudônimo de Cerejeira?
De tudo que você já escreveu até agora, uma coisa eu tenho que concordar. Não sou um príncipe encantado e muito menos tenho um cavalo branco. Se realmente gosta de contos de fadas, eu estou mais para o vilão que irá matar a protagonista no final e deixar a moral macabra, para que as crianças não tentem reproduzir isso em casa.
Agora, respondendo a sua pergunta, não, eu não preciso ser salvo. Gosto da escuridão que eu vivo e dos fantasmas que me cercam. Sobre a casa abandonada, acha mesmo que ela é abandonada? Se eu estou conseguindo pegar as suas cartas e responder, já demonstra que ela não é abandonada.
De príncipe não encantado para fantasma, eu gosto, é uma boa evolução. Então, tens medo de fantasmas? Desculpe por atrapalhar seu senso de realidade, mas está falando com um fantasma de oitenta anos. Eu não estava pensando em te assombrar, mas agora que deu a ideia, seria muito interessante viver minha própria Invocação do Mal. Está preparada para um pouco de terror em sua vida?
Acho que devo temer, além de uma amante louca por contos de fadas, ainda é uma possível amante de animes? Talvez não devesse me preocupar com você, mas sim comigo. Possível amante de shoujo, foque o seu tempo no que te faz feliz e não em cartas. Estou cansado de já ter avisado para desistir de continuar com a ideia de um casal de idosos velhos e gaga.
Assinado: o Vilão.”
Quando a rosada terminou de ler, ela não pôde evitar rir com aquela assinatura. Realmente, ter enviado aquela carta tinha sido a melhor coisa que tinha feito nos últimos dias, além dos ensaios com a banda. Era refrescante ter aquele tipo de conversa, sentia como se fossem amigos, mesmo que não soubesse nada sobre ele.
O pensamento de não saber nada sobre o Vilão, fez ela se questionar, como poderia começar a fazer algumas perguntas para poder conhecer um pouco mais do remetente. Passou vários minutos pensando em como deveria escrever aquela carta, até mesmo releu ela várias e várias vezes, para tentar entender um pouco melhor o seu destinatário. Um suspiro escapou dos seus lábios, pois o dito vilão, já havia deixado claro em algumas cartas, que ele não era o tipo de pessoa aberta.
Ela tinha desistido de bolar um plano, apenas observava o teto do seu quarto, para depois voltar atenção para o relógio da Sailor Moon em frente à sua cama, para ter uma melhor noção do tempo e saber qual era o melhor momento para realmente desistir, tomar um banho e ir dormir.
Sem ideias e vendo a hora passar, ela queria escrever a carta o mais rápido possível, para deixar na caixa de correios e poder ir até a escola para pegar o ônibus que a levaria para o campeonato.
Antes de começar a escrever, Sakura foi até o seu guarda-roupa para pegar as folhas coloridas de fichário que havia comprado. Estava muito orgulhosa daquelas folhas, principalmente por ter os desenhos do Ursinho Pooh, Sininho e até mesmo da Pucca. Poderiam até falar que aqueles papéis eram infantis demais e que ela havia passado da idade de ter, mas quando era mais nova, nunca teve cadernos com folhas personalizadas como aquelas, então, agora, que tinha a oportunidade, Sakura realmente iria abusar e escrever sua próxima carta com uma daqueles papéis.
Depois de um tempo olhando para qual folha de fichário deveria escolher, Sakura ficou com do Ursinho Pooh, por ser a segunda mais detalhada e não ser tão romântica como da Pucca, já que não gostaria de continuar a passar a impressão de que está apaixonada. Agora, com o papel na mão, ela se preparava para poder escrever.
“Caro Pessoa-Brega-Que-Se-Chama-de-Vilão,
Me responder, para demonstrar que um vilão como você, foi arrastado para esse conto de fadas. Me alegra saber que eu, como a protagonista — já que comecei a trocar as cartas —, estou conversando com um vilão. Seria igual à nova moda dos romances, onde os protagonistas masculinos também são os vilões das próprias histórias e ficam com a mocinha?”
Sakura parou um pouco de escrever para rir daquilo, principalmente por achar um pouco bobo o que tinha escrito, mas ela não iria apagar e começar do zero. Para ela, pelo menos ele iria ter um motivo para rir.
“Tem algum problema com adolescentes? Não deveria julgar uma pessoa pela forma que ela escreve em uma carta, porque ela pode assumir uma personalidade totalmente diferente. Eu posso ser uma senhora de idade que se passa por adolescente. Agora, sobre você, eu diria que você é um senhor de meia-idade por ser tão rabugento.
Uma pessoa que escolhe ficar em um mundo repleto de escuridão e fantasmas, merece ser salvo, sim, Senhor Vilão. Agora, se realmente acha que é realmente confortável estar em um mundo escuro, então irei apenas deixar uma lanterna com você, para caso sinta medo ou dúvida se realmente vai conseguir lidar com tudo, quando olhar para a luz da lanterna, irá lembrar de mim e saber que terá alguém para quem conversar.
Eu não tenho medo de fantasmas e sei que você não tem oitenta anos, talvez uns cem? Mas não vou lhe temer, porque já me acostumei com a sua presença, mesmo que ela seja bem chata, mal-humorada e rabugenta. Só irá mandar cartas de volta para mim respondendo cada parágrafo da minha carta anterior? Que chatura. Temos que variar. Começar um assunto novo!
Se você não quer contar muito da sua vida, você tem o direito, mas não é isso que eu quero. Sinceramente, seria interessante e legal ter um amigo de correspondência. O que acha? Vamos ser amigos? Não precisamos falar o nome ou qualquer coisa pessoal que nos entregue. Seremos amigos anônimos que podem desabafar um com o outro.
Ansiosa para a sua resposta, Cerejinha.”
Terminar aquela carta formou um grande sorriso que iluminava o mundo. Era um tanto bobo ter sentimentos tão bons ao terminar aquela carta, mas deixava o seu corpo mais leve e solto, fazendo ela ter certeza que teria uma boa noite de sono.
Ela pegou a carta e colocou no envelope rosa que havia comprado, além de até mesmo ter comprado outras ferramentas para fechar a carta, como uma cera prateada. Sakura estava cansada de fechar com adesivos ou até mesmo uma gota de cola. Ela queria inovar e fechar a carta como acontecia antigamente. Era surreal, mesmo que teve que fazer seu carimbo velho da Hello Kitty para conseguir selar a cera no papel.
Com tudo pronto e organizado, ela guardou as suas coisas para depois a carta, para deixar no correio o mais rápido possível na manhã seguinte. Sakura esperava que tudo desse certo, já que ficaria longe e tinha medo de alguém pegar a resposta do senhor Vilão. Ela cruzava os dedos para isso não acontecer.
-•-
A dor de todo corpo dolorido apenas mostrava o com ruim foi dormir naquele ônibus. A viagem tinha sido um pouco longe, mas, após colocar uma música em seu fone e ficar observando a passagem, acabou caindo no sono e quando acordou, era tarde demais. Ela fazia alguns alongamentos em seu corpo, depois de ter deixado e organizado suas coisas em seu quarto que iria dividir com Ino e com outra companheira de time, Hinata.
A treinadora tinha dado algumas horas de folga, para que todas pudessem descansar, já que, no meio da tarde até o anoitecer, iriam fazer um aquecimento e estarem na cerimônia da abertura do campeonato. Aparentemente, de última hora, eles mudaram a programação e naquele dia apenas teria uma cerimônia de abertura e amanhã, seria a primeira rodada do campeonato.
Quando soube a mudança de horário, Sakura pegou a programação rapidamente apara ver se conseguiria ter um intervalo ou uma janela para poder ir ver o show dos meninos, mas, quando acabasse a cerimônia, o show deles estariam na metade e não sabia qual desculpa usar para fugir das meninas para vê-los.
Bom, parecia que ela não teria a oportunidade de ver um show pela primeira vez, mas sorria com as mensagens que Karin mandava e compartilhava todo o momento de preparação. Talvez, a parte que ela mais riu, foi o vídeo dela filmando Sasuke e Suigetsu fazendo uma limpeza facial, para depois Sui ficar envergonhado ao perceber o que a namorada estava fazendo e começar a correr atrás dela, para tentar apagar o vídeo.
Sakura se sentia um pouco triste por não estar lá com eles, mas esse sentimento estava com um pouco de alegria e pertencimento daquele grupo, por Karin e até mesmo Jūgo, mandarem fotos, mensagens e vídeos sobre o momento deles.
Talvez, mas só talvez, as partes das fotos e dos vídeos que era o ponto mais alto da Haruno, acabavam sendo os momentos de Sasuke. O Deus-Poste era magnífico e fotogênico porque a todo momento que tiravam fotos dele de surpresa, o desgraçado conseguia sair maravilhoso. Como falam, Deus tem os seus preferidos.
Sasuke poderia ser calado, mas toda vez que ele olhava em direção da câmera, para Sakura, parecia que ele estava olhando diretamente para ela e os pequenos sorrisos que ela observava em seu rosto, de alguma forma, faziam o coração dela alterar um pouco as batidas.
O seu coração acelerando os batimentos cardíacos por alguns momentos fazia Sakura perguntar na hora se aquilo era devido à ansiedade para cerimônia, já que toda vez que ela olhava as imagens, acabava vendo a hora ou as meninas apareciam de surpresa e ela dava um jeito de despistá-las da forma mais natural que encontrava. Quando não estava tentando esconder o que estava fazendo das meninas ou não estava olhando as horas, Sakura até achava que poderia estar com arritmia.
Com a finalização dos alongamentos e sentindo o seu corpo um pouco melhor que antes, a Haruno foi em direção do seu telefone para ver as horas e saber quando iria tomar banho. Sua atenção foi fisgada ao ver que alguém — que ela não tinha o número salvo — havia lhe mandado mensagem.
Ela estava intrigada para saber quem havia enviado mensagem e até mesmo, um pedido de amizade, mas no momento que percebeu que era Sasuke, ela engasgou na mesma hora com sua saliva. Não estava esperando aquilo e olhou dez vezes para a foto de perfil para ter certeza que não estava enganando.
Era mesmo Sasuke!
Não esperava aquilo e voltou rapidamente sua atenção para mensagem, que dizia:
Boa sorte, Sakura.
Era uma mensagem curta e combinava com ele, além de que ela desconfiaria, caso tivesse mais palavras. Não esperava que ele fosse mandar uma mensagem no particular e não no grupo da Black Skeleton.
Um sorriso nasceu em seus lábios e mesmo que ela negasse, estava mais animada com aquela mensagem. Mesmo que a mensagem tivesse sido simples, ainda havia conseguido animá-la.
Ouvindo os passos das meninas, e com elas conversando e vindo em direção ao quarto, Sakura aceitou rapidamente a amizade de Sasuke, além de adicionar o seu número. Não demorou mais um segundo para respondê-lo e mandar uma figurinha de um coelhinho com vários corações em sua volta.
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