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História Explosions and Daisies hair - A fada e o ogro se entendem


Escrita por: Sasamochi

Notas do Autor


Antes de vocês poderem iniciar a leitura, gostaria de agradecer quem favoritou e está comentando, vocês me motivam muito 💕
De capa maravilhosa que eu fiz, deixo o desenho deles se beijando na piscina.
Bom, quanto ao Katsuki, agora eu consegui FINALMENTE trazer alguma evolução ao shipp, mas é extremamente difícil fazer a personalidade do Bakugou inclinada a atos gentis, mas eu estou fazendo o meu melhor, e aos poucos vou abrindo a cabecinha dele, e fazendo ele expor os traços que me fazem amar ele, e pra q vocês consigam entendê-lo melhor tb
No mais, é isso. Boa leitura!!!

Capítulo 5 - A fada e o ogro se entendem


Fanfic / Fanfiction Explosions and Daisies hair - A fada e o ogro se entendem

Acordar no dia seguinte foi tão constrangedor quanto pegar no sono. Mitsuko acordou primeiro com os raios do sol, e percebeu que ela e Bakugou estavam perigosamente perto.

Parece que o papo de “Não vamos nem mesmo nos encostar”, só funcionava com pessoas que não se mexiam demais durante da noite. E ao julgar pelo pouco de coberta que faltava em parte do corpo do loiro, ela percebeu que ele também se mexia muito.

Ela levantou meio corpo, e olhou em volta. Realmente, ela tinha topado aquela loucura. Bocejou, e esticou os braços, se espreguiçando. Seu olhar se voltou ao colega.

Os cílios de Bakugou eram loiros também, e um tanto longos. Com os olhos fechados, era mais notável. Suas sobrancelhas permaneciam unidas, enquanto sua bochecha era amassada contra o travesseiro, provocando um pequeno biquinho. Ele parecia bravo até enquanto dormia, mas como um bebê. Um pouco de sua camisa estava dobrada, revelando parte de seu abdômen. Mitsuko riu. Daquele jeito, parecia tão inofensivo e indefeso... E algo dentro dela esquentou. Procurou silenciosamente pelo celular, e o encontrou na cabeceira da cama.

Tirou uma foto daquele momento, para que jamais esquecesse. E assim, desligou o aparelho.

-Você é tão bonitinho enquanto dorme... – Sussurrou, e ousou tocar o rosto do garoto, que suspirou e resmungou algo. – Não reclamaria se você fosse sempre adorável assim, bully boy. – Sorriu.

Se levantou então, e foi até a mochila, encostada perto do closet. Percebeu que o quarto de Katsuki era uma suíte, então pegou sua escova, e sua pasta, e rumou para o banheiro. Tirou da mochila também um elástico especial para prender o cabelo.

Se olhou no espelho, lavou o rosto. Prendeu o cabelo com cuidado para não machucar as margaridas, num rabo de cavalo alto.

-Bom dia, mundo! – Proferiu com um sorriso, mesmo que soubesse que seria um dia puxado. Começou a escovar os dentes.

Katsuki franziu um pouco o rosto antes de acordar. Coçou os olhos, se sentou, e ia xingar um palavrão por ter esquecido de fechar a cortina, quando teve um vislumbre da porta do banheiro aberta, com uma Mitsuko cantarolando enquanto escovava os dentes.

Então ele recordou da idiotice que estavam fazendo. Era a primeira vez que uma garota estava em seu quarto, e usando seu banheiro.

Sendo um garoto, não pode conter seus hormônios, e acabou reparando no corpo colega. Suas pernas estavam cruzadas, enquanto sua mão direita estava na cintura, de uma maneira cômica.

Mitsuko tinha um físico pouco parecido com o de Uraraka, Ashido ou Yaoyorozu. A única diferença, é que ela era um tanto mais “cheia” que as citadas anteriormente. Ela era a literal representação da gíria *“Thicc”.

Ou melhor classificando, o que o pervertido nojento do Mineta chamava de “gostosa”. Por que estava reparando tanto naquilo? Talvez porque aquele pijama neon ridículo fosse muito justo, e reforçasse suas curvas. Tal como os seios um tanto grandes e o quadril mais largo, com... Uma leve abundância no traseiro. Por que ele se sentia atraído por aquilo?!

Por que caralhos de repente começou a reparar no corpo da abominável cabeça de flor?! Era só uma coadjuvante cafona... Mas não conseguia evitar olhar o pouco de sua barriga que estava exposta, revelando o piercing de florzinha em seu umbigo, e... Por que a pele daquela garota era tão estupidamente branca? Não percebeu quando ela terminou de escovar os dentes e limpou a boca, sorrindo para ele.

-Bom dia, bully boy. Tá olhando o que? – Perguntou, caçoando.

Ela nem imaginava que ele reparava seu corpo de maneira tão indecente. Realmente, era muito ingênua. O loiro virou o rosto, vermelho.

-Não te interessa. – Murmurou.

A garota revirou os olhos. É o que ele mais sabia falar para ela. Tinha se deixado levar pela expressão de “bebê bravo”, e esqueceu o quão desagradável Bakugou poderia ser. Resolveu, mesmo assim, ser simpática.

-Como foi sua noite? Dormiu bem? – Questionou, enquanto ia guardar a pasta em sua mochila.

-Considerando que eu dormi na mesma cama que uma planta mal amada, sim, dormi bem. – Resmungou novamente, cruzando os braços.

-Não vai perguntar se eu dormi bem? – Ela perguntou.

-Perguntaria se eu quisesse saber. – Rebateu e Mitsuko respirou fundo.

Sentiu que mais um pouco, e mataria o filho único dos Bakugou. Pegou um travesseiro na beirada da cama, e jogou no jovem com toda a sua força.

-Oe, maldita! – Ele reclamou quando caiu.

-Você merece por ser tão rude, bully babaca. – Torceu o nariz. – Onde tem toalhas? Preciso de um banho.

Bakugou pensou em responder com grosseria, mas só revirou as orbes escarlate.

-No closet também, lado esquerdo, gaveta abaixo dos cobertores. – Disse.

A garota agradeceu, pegou a toalha, separou algumas roupas e foi tomar seu banho. Decidiu não lavar o cabelo, pois tinha lavado no dia anterior. Em cinco minutos, saiu vestindo um vestido esverdeado tomara que caia, justo até a cintura, que alcançava até um pouco abaixo de seus joelhos, e descalça. O vestido não possuía estampa. As bochechas estavam rosadas pela água quente.

Enquanto isso, o garoto se alongava. Mitsuko reparou o seu físico por alguns instantes. Era como a maioria dos garotos da 3-A, tinha músculos, mas tinha lá suas diferenças. Talvez por isso fosse tão bom em luta corpo a corpo.

-Ei idiota, eu já acabei. Pode usar o banheiro. – Ela disse. Ele estava de costas, então se virou.

Era a primeira vez que via a garota sem usar as meias esquisitas, com o cabelão preso. Se tivesse orelhas pontudas (o que não era incomum na sociedade em que viviam), poderia dizer que era uma versão viva da tal Tinker Bell.

Não, ele não gostava daquelas coisas de menininha, mas em sua infância, aquela fadinha foi muito popular entre as garotinhas histéricas de sua sala de aula. Ela era fada de alguma coisa da natureza, o que caía muito bem na garota.

-Tá olhando o quê, idiota? Perdeu a dignidade na minha cara? – Ela franziu as sobrancelhas.

-Nada, ridícula. – Ele desviou o olhar. – Você só parece menos escrota com essa roupa, só isso. – Disse, pegando uma toalha e entrando no banheiro.

A garota piscou diversas vezes. Aquilo foi um elogio?

Katsuki saiu com uma calça de moletom preta, e uma camisa preta, mas com uma estampa de caveira.

Estava começando a desconfiar que ele era emo, já que só o via usar preto. Desceram juntos, e o garoto a mandou sorrir quando segurou sua mão.

-Não gosto de ter que te tocar sem necessidade, na boa. – Mitsuko resmungou.

-Claro, porque pra mim é o paraíso ter que fingir que gosto de estar de mãozinhas dadas com a princesinha. – Rebateu.

-Eu vou te esganar. – Ela sussurrou.

-Cala a boca e começa a sorrir, meus pais nos viram. – Apertou a mão pequena levemente.

Mitsuko respirou fundo e saltitou na frente, fingindo estar feliz em puxar o “namorado”.

-Bom dia Mitsuki-san, Masaru-san! – Sorriu abertamente, e procurou lugar ao lado do garoto, que se sentou primeiro.

Os pais sorriram para ela.

-Bom dia, Mitsuko. – Ambos responderam. – Bom dia também, Katsuki. – A mãe instigou o filho.

-Bom dia. – Ele resmungou, já retirando algumas coisas da mesa farta para comer.

-Dormiram bem? – Masaru perguntou.

-Eu dormi sim, obrigada! – A garota misturou café e leite em um copo, e pegou algumas torradas para comer.

-Você acorda surpreendentemente animada, meu bem. – Mitsuki riu. – Como foi dormir com o Katsuki? Ele rola muito durante a noite, quando era mais novo mal nos deixava dormir.

-A não ser que eles não tenham dormido. – Masaru brincou, e Mitsuko se engasgou.

-Masaru! – A mulher repreendeu. – Eles são novos demais pra isso, nosso filho tem só dezessete anos!

Corou até a ponta do nariz, e tossiu, desesperadamente. Bakugou deu pequenos tapas em suas costas, tentando ampará-la.

-Vocês estão constrangendo ela. – Ele reclamou. – Eu não faria nada disso na minha própria casa! – Se exaltou. “Se possível, em lugar nenhum”. Completou mentalmente.

-Desculpem. Estou um pouco velho pra piadas. – Masaru riu.

Mitsuko finalmente conseguiu tomar um ar. Se recompôs.

-F-foi tranquila, digo, a noite. – Tentou responder. – Katsuki se remexe mesmo, mas eu também faço isso. Nenhum de nós estava no mesmo lugar hoje de manhã. – Riu, sem graça, tentando esconder o rubor.

Ele a olhou pelo canto dos olhos. Por que ela não havia dito isto antes para ele?

-Que bom que passaram uma boa noite. – Mitsuki disse, simpática. – Bom, vamos assar alguns hambúrgueres e carne mais tarde, aproveitando que hoje é sábado e vocês voltam amanhã. Vamos aproveitar a piscina! – Comentou animada.

A azulada engoliu seco. Não sabia nadar. Mesmo com seu treinamento na piscina do dojo, estava sempre segurando nas bordas, para não se afogar e assim poder voltar a superfície.

-M-mas... Eu não trouxe roupa de banho. – A Garota tentou negociar. A mãe de Bakugou sorriu.

-Não se preocupe meu bem, eu lhe emprestarei uma das minhas.

E assim, seguiu o resto da manhã. Enquanto Katsuki ajudava seu pai a montar a churrasqueira e acender o fogo, Mitsuko ajudava Mitsuki a fazer os bifes de hambúrguer pacientemente.

Ambas com luvas plásticas e aventais, adicionavam tempero a carne moída, a moldavam, e logo em seguida a compactavam em um aparelho.

-Sabe, sempre imaginei como seria ter uma nora para me ajudar com diversas coisas. – A mulher comentou animada. – Sei como o comportamento do Katsuki pode ser exagerado, então pensei que isso ia demorar muito. Estou muito contente!

Mitsuko sorriu um tanto triste. Respirou fundo, e tomou coragem para encarar a “sogra” com um de seus sorrisos radiantes.

-A senhora é super gentil, Mitsuki-san. É um prazer estar aqui, vocês me tratam muito bem.

-Eu quero que você veja um lado bom na nossa família. Além do mais, jurei que meu filho iria chegar aqui de mãos dadas com o Kirishima e dizer “é isso, estamos namorando”, porque sinceramente, Katsuki é muito antisocial. – Disse com uma gota da na cabeça, e a azulada começou a rir, sem parar.

Teve uma crise de riso, levando a mulher a rir também. Mitsuko tinha uma risada gostosa, ao menos para aqueles que pudessem escutá-la, era muito contagiante.

Recuperou um pouco do ar para dizer:

-Não vou mentir, eu também jurei que isso aconteceria. – Limpou os olhos com o torso do braço, pelas mãos estarem enluvadas. – Todos nós, da minha turma e da turma do Katsuki. Mas aparentemente o Kirishima-kun é um amor com outras pessoas também.

-Sim, é verdade. – Mitsuki sorriu. – É um garoto muito simpático, o tempo todo. Considero um segundo filho, de tantas vezes que já veio aqui. De vez em quando mando mensagens perguntando como ele e Katsuki estão, já que meu filho idiota não responde meus telefonemas e mensagens há algum tempo. – Comentou brava. Mitsuko suspirou.

-Sei como é. – Ela revirou os olhos. – Ele se importa muito com vocês, mas é um grosso às vezes, sabe? Nem minhas perguntas ele consegue responder sem ironia. Juro, dá vontade de esganá-lo. – Enforcou o ar, e a sogra riu. – Mas ele é gentil, com algumas coisas... E eu... Gosto de poder ver esse lado. Eu acho. – Corou.

-Acho vocês dois muito fofos juntos. São totalmente o oposto, e mesmo assim você ignora ele e continua alegre. É mesmo a nora que pedi a Kami-sama. – A mulher sorriu.

-Eu fico feliz. – Sorriu de volta. – Mas, desviando um pouco do assunto nosso relacionamento, e voltando ao ponto do Kirishima-kun ser mais sociável, sabia que ele namora minha melhor amiga? Eles estudaram juntos no fundamental, e agora são muito fofos juntos. – Comentou.

-É mesmo? Ele não me contou isso. Como ela é? – Perguntou animada.

Katsuki chegava na cozinha para pegar os bifes prontos, e se deparou com a cena de sua mãe e a azulada conversando, como se elas se conhecessem de longa data. Se encostou no batente.

Katsuki amava seus pais. Talvez, fosse a única certeza que tinha na vida, e por um momento, sentiu-se mal por enganá-los. Sua mãe se preocupava com ele, e só por isso queria a terapia, talvez pudesse entender se contasse toda a verdade.

Mas mesmo assim, iria querer uma punição. Vê-la tão a vontade com uma das garotas mais insuportáveis que conhecia era estranho, mas vê-la tão feliz, fazia com que ele se sentisse um pouco mais aliviado.

-O pai disse que queria alguns desses bifes para assar, porque já ligou o fogo. – Se aproximou das duas.

Mitsuki estendeu o prato com alguns prontos para o filho, que pegou sem muita paciência.

-Por que a cara fechada, Katsuki? – A “namorada” provocou. – Não gosta de hambúrgueres?

-Se concentre na sua tarefa, cabeça de flor. – Rebateu e saiu, indo para os fundos.

Ambas as duas na cozinha riram.

Enquanto os garotos já haviam se trocado e conferiam a churrasqueira, Mitsuko acompanhou a sogra até o andar superior. Procurou por entre suas roupas de banho, e deu a menos reveladora que tinha, a pedido da menina.

E ainda assim, era muito reveladora. Era um maiô preto, aberto nas costas, trançado, e aparecia uma parte de sua barriga e costelas. Sem contar o decote imenso. Vestiu-o mesmo assim, para não fazer desfeita.

Deu graças a Deus por pessoas como Mineta e Kaminari não estarem presentes no ambiente. Kaminari era um amor, para ser sincera, mas os garotos pareciam nem mesmo esconder o quanto reparavam no corpo de outras garotas, e isso era constrangedor. Além do quê, nunca estava cem por cento segura de seu corpo, ou de alguma coisa sobre si mesma.

Mitsuki usava um biquíni comum, de fitas, num tom vermelho, com uma saída de praia por cima. Ambas desceram.

Encontrou Masaru concentrado grelhando os bifes, e Katsuki sentado na beira da piscina, no meio exato, com os pés na água. A piscina era enorme, e tinha uma pequena cascata caindo do lado esquerdo. Os azulejos eram azuis escuro, e faziam com que parecesse ainda mais profunda.

-Com licença, Mitsuki-san, Masaru-san, a piscina é muito funda? – Perguntou a garota sem graça.

-Bom, ela tem um metro nas bordas, e a profundidade do meio varia entre um e sessenta e dois e oitenta. – Masaru explicou. – Se não souber nadar, fique nas bordas e vai estar tudo bem. – Sorriu, e a garota suspirou com alívio.

-Obrigada! – Se retirou.

Ao se aproximar do garoto, mantinha as mãos para trás. Ele usava um calção preto para variar, e ela quis rir. Reparou na franja que cobria os olhos vermelhos, e na pele bronzeada. Bakugou era um garoto bonito. Não tirava a razão das garotas de sua sala por quererem sair com ele, via que elas tinham motivo. Se ele fosse ao menos um pouco educado... Talvez, só talvez, fizesse o seu tipo.

-Yo! – Tocou o ombro do garoto que se assustou.

Se preparou para xingá-la, quando novamente a cena da manhã se repetiu, e seus hormônios malditos não conseguiram controlar-se. O corpo da coadjuvante estava muito exposto, e amaldiçoou sua mãe por emprestar aquele maiô tão aberto para ela. Certo, se ele tivesse algum tipo específico, com certeza seria o da esquisita.

Não conseguia parar de olhar para o detalhe da barriga, e bem, pra os seios. Virou o rosto um tanto constrangido.

-O que foi? – Sentou ao lado dele. – Não quer conversar comigo?

-Nossa, como você é inteligente por perceber o óbvio. – Torcia para que ela não reparasse no rubor das suas bochechas.

-Temos que fingir nos darmos bem, né? – Ela suspirou. – Faz um esforço aí, idiota.

-Meus pais devem achar que nos damos bem só por eu não ter te explodido ainda. – Olhou para os próprios pés. – Acredite plantinha, vontade não me falta.

-O que custa você ser legal comigo?! – Se irritou, falando um pouco alto, e o empurrando.

-Ora, sua... – A empurrou de volta.

-Você quer brigar, bully estúpido?! – Levantou, raivosa.

-Você quer?! – Se levantou também. – Você não sabe a vontade que eu estou de te explodir.

-Faça isso e eu juro que te assassino quando formos dormir hoje! – Fechou a cara.

-Ah é?! – Ele respirou fundo, e olhou para piscina e então para ela, sorrindo maldoso. – VAMOS VER! – Avançou contra a garota que estava com a guarda baixa, e a colocou sob os ombros.

-O quê?! Me põe no chão, seu ogro maldito!! – Ela se debateu, e socou suas costas.

Ao longe, os pais do garoto riam, achando que estavam brincando.

-Que tal se você tomar um banho pra deixar de ser tão prepotente? – Ele riu, sádico. Mitsuko arregalou os olhos.

-Katsuki, por favor, não! – Se debateu com mais força, e ele sorriu diante do desespero da colega.

Por fim, reuniu sua força, jogando-a bem no centro da piscina. Mitsuko fechou os olhos com força, quando seu corpo atingiu a água. Bateu os braços, tentando alcançar a superfície, com desespero. Pegava um pouco de ar, voltava para baixo, e se debatia tentando alcançar a margem, um tanto longe.

-Katsuki, por favor! – Gritou, enquanto o garoto ria. Afundou, e voltou novamente a superfície. – Eu não sei... – Afundou novamente. Bateu os braços com mais força. – Eu não sei nadar!

Ele riu mais ainda, sua barriga doía. Não cairia nesse truque. Depois de alguns segundos, sem conseguir sequer se aproximar da margem, os braços de Mitsuko ficaram doloridos.

Afundou de vez, e seus cabelos não conseguiam produzir as sementes no meio daquele cloro que tratava a água. Conseguia prender o fôlego por dois minutos, e fechou os olhos com força quando seu corpo tocou o fundo da piscina.

Estava fria. A sensação era a mesma de abandono. E depois de um minuto e meio, desistiu por cansaço dos membros. Katsuki arregalou os olhos quando percebeu que ela não voltaria.

Pulou dentro da água, buscando pela garota. A puxou pela cintura, e rapidamente a levou até a margem da piscina. Quando ela tossiu, percebeu que estava consciente.

Tossiu com desespero, enquanto o garoto a sentava na beira da piscina novamente. Quando ela abriu os olhos, que começavam a escorrer lágrimas, viu que a pigmentação negra tomava conta da metade de suas escleras.

-Cabeça de flor, olha pra mim! – Ficou entre as pernas da garota, por seu corpo ainda estar na água. Balançou seus ombros com brutalidade.

-E-eu... – Não conseguia formular frase.

Ok, se ela surtasse em sua casa teria muito o que explicar aos pais, além disso, não tinham Aizawa, e até que ele chegasse seria perigoso para eles.

A garota não conseguia respirar.

-Porra, você não pode fazer aquela parada sinistra aqui, Aizawa-sensei está na U.A! – A balançou mais um pouco.

Ela não respondia, e seu olho direito estava totalmente negro. No desespero, ele agarrou a nuca da garota, e a beijou. Não cogitava ter que beijá-la de novo, especialmente estando sóbrio.

Pelo choque, a garota piscou algumas vezes. Fechou os olhos, e agarrou os cabelos loiros com certo medo. Esse beijo não foi exatamente como o primeiro. Não que fosse ruim, mas era talvez a única coisa que a impedisse de surtar no momento.

Entrelaçou suas pernas ao tronco do garoto, tentando mantê-lo próximo. O corpo de Katsuki estava frio como a água, mas mesmo assim, emitia um calor terno.

Se separaram buscando por ar. Não foi como da outra vez, em que se beijaram de novo. Só... Ficaram se encarando, por alguns segundos. Ela assustada, e ele pasmo por se submeter àquela situação. Um dos olhos da garota ainda permanecia com uma mancha negra, e ele saiu da piscina, a puxando pelo braço.

-Vamos. – A encaminhou até a porta dos fundos.

-Por que estão entrando? – Masaru questionou.

-A cabeça de flor não está se sentindo muito bem. – O filho justificou. – Já voltamos.

-Vocês querem que eu pegue algum remédio? – Mitsuki questionou com preocupação. – O que ela está sentindo?

-Mãe, a gente já volta. Deixa que eu cuido da minha namorada, valeu. – Cortou a mulher, que brigou com ele, enquanto puxava a adolescente para dentro.

Fechou a porta que dividia a cozinha do “quintal”, a arrastou até o corredor que ligava à área de serviço da casa, e se virou para a menina trêmula.

-Cabeça de flor, olha pra mim. – Ele falou, sem paciência. A garota continuava mirando os pés descalços. – Olha pra porra da minha cara! – Provocou uma pequena explosão ao bater sua mão na parede, ao lado da cabeça da garota.

Assustada, ela finalmente o fitou.

-Desculpe. – Foi tudo o que conseguiu murmurar.

A mudança brusca entre falante e assustada o incomodou.

-Seus olhos não podem continuar assim. Não temos a velhota pra te sedar, e nem o Aizawa pra te tornar inofensiva. É perigoso pros meus pais se você surtar de novo. – Falou com mais calma, porém ainda firme.

-E-eu... Nesse estado, acho que posso controlar. Eu... Eu posso tentar. – Ela agarrou a própria franja, ainda falando baixo.

Katsuki revirou os olhos. Ainda iria se arrepender de fazer favores para os outros, porém, se havia funcionado uma vez, funcionaria de novo. Se aproximou, beijando-a novamente.

Mitsuko levou as mãos trêmulas até o pescoço do garoto. Mais tarde, consideraria aquilo uma traição à sua devoção para com Hitoshi, mas não se importava. E naquele momento, ela entregou-se de corpo e alma ao seu algoz.

[···]

Quando os olhos de Mitsuko finalmente voltaram ao normal, ambos retornaram para o quintal, constrangidos demais para ficarem próximos um do outro. Ela ajudou os Bakugou no que foi possível, e ficou o mais longe que conseguia da água.

Foi a primeira a pedir licença para subir e tomar um banho, sem saber se teria coragem de encarar os “sogros” no jantar.

Separou seu pijama neon cor de rosa, e desta vez, uma meia de estrelas azuis. Fazia um tempo desde que não as usava, e aquele momento era realmente propício para isso.

Tomou um banho, e lavou os cabelos cuidadosamente com seus produtos especiais, e usando sua individualidade, revitalizou todas as suas margaridas, danificadas pelo cloro. Penteou os cachos com cuidado para não afetar as flores, e secou os cabelos azulados com um difusor.

Devidamente banhada e vestida, guardou seus pertences, e pegou o celular. Algumas mensagens de Mina, Shoto, Kirishima, Hitoshi, Ochako e Izuku. O foco era o mesmo, queriam saber se ela estava bem.

Os olhos azuis safira derramaram lágrimas, e ela se julgava o pior ser humano da face da terra. Teclou algumas vezes para dizer que estava bem, e se sentou na cama, abraçando os joelhos. Era muito para sua cabecinha processar. Assim, cochilou naquela posição.

Próximo do jantar, Bakugou subiu também. Foi uma surpresa encontrar a cabeça de flor dormindo em uma posição tão desconfortável. Deu de ombros, imaginando que logo ela acordaria, então foi tomar seu banho.

Devidamente higienizado e vestido, voltou para o quarto, enxugando o cabelo espetado. Ela ainda dormia, e ele revirou os olhos.

-Oe, Cabeça de flor, acorda. – A empurrou levemente, e ela acordou assustada, coçando os olhos.

-Hm, Bakugou...? Aconteceu alguma coisa? – Questionou sonolenta.

O rosto dela estava inchado, e as pálpebras dos olhos avermelhadas. Possivelmente chorou até dormir.

-Temos que descer e ajudar meus pais com o jantar. – Ele não sentiu muita vontade de caçoá-la.

-Está bem. – Respondeu baixo, e se levantou, descendo na frente do garoto. Sem xingamentos, ou algo do tipo.

Ela apenas desceu as escadas, e se juntou à Mitsuki na cozinha. Ela cozinhava frutos do mar, e a azulada pôs-se a picar alguns legumes, já que não era muito boa na cozinha.

-Sua feição não está tão alegre como hoje de manhã, querida. – A mulher notou. – O que aconteceu? Katsuki brigou com você?

-Hm? Não! Ele... – As bochechas coraram, tendo relances do ocorrido da tarde. – Ele têm sido até muito gentil. Eu só estou sentindo um pouco de mal-estar, só isso. – Tentou sorrir, mas foi mais desastroso que ela tentando fingir para seu padrinho que gostava de suco de morango cinco anos atrás.

-Você precisa de algum medicamento? – Mitsuki perguntou preocupada.

-Não, Mitsuki-san. Eu vou ficar bem. – Negou, gentilmente.

Ficaram em silêncio por alguns minutos após aquilo, e quando Katsuki terminou de ajudar Masaru, foi até a cozinha, ver se a mãe precisava de ajuda.

-Precisam de alguma coisa? – Perguntou.

-Mitsuko-chan não está se sentindo bem, e não quer tomar remédio. – A mãe disse, preocupada.

-A cabeça de flor tem medo de tomar remédio sem prescrição. – Mentiu, e tocou o topo da cabeça da azulada. – Sai fora daqui, eu termino de picar isso. – Ele a empurrou levemente, e a tomou a faca.

Mitsuki deu uma risadinha. Era bom ver Katsuki se importando com outra pessoa daquela forma. Sabia que aquele era o jeito do filho de tentar ajudar a namorada de algum jeito. Ou alguma pessoa que não fosse ele mesmo.

Mitsuko piscou algumas vezes, e sorriu. Tocou o braço do garoto com delicadeza.

-Arigatou. – Falou baixo. – Cuidado pra não matar ninguém com isso. – Riu fraco, e se afastou, enquanto ele a xingava.

Masaru resolvia algo em seu computador na sala, e a garota se sentou no sofá ao lado dele. Ela olhou para o short de pijama rosa fluorescente, então para as pantufas em seus pés. Começou a pensar, no que havia desencadeado tudo aquilo.

Meses antes, ela e Bakugou estavam quase se matando, e agora, ele tinha repentinos atos gentis, e eles até se beijaram algumas vezes. Ela estava tão assustada com tudo aquilo, e não sabia como processar. Passou uma mecha de seu cabelo para frente, e começou a brincar com uma das margaridas.

Queria que o tempo passasse logo, para que ela finalmente pudesse achar algum conforto nos braços de Shoto e Mina. Se sentia tão sozinha ali... Uma pequena criminosa. Não demorou muito até o jantar estar pronto, e ela ser chamada para se juntar.

Se sentou, e como na noite anterior, respondeu às perguntas feitas naturalmente. Todos se juntaram na sala para conversar, e acabaram subindo para dormir às dez horas.

Ambos se deitaram, diferente da noite anterior, de frente um para o outro. Se encararam por alguns segundos, até o loiro questionar:

-Tá me olhando com essa cara por quê?! – Disse curto e grosso.

-Nós fizemos de novo. – Ela murmurou. – A gente... A gente se beijou.

-E daí? – Ele arqueou a sobrancelha. – Você não está levando isso pro lado pessoal, está?

-Claro que eu estou. – Murmurou. – Eu gosto do Hitoshi. Agora nem tenho mais tanta certeza disso. – Se encolheu, triste. – Você fez com que eu expusesse a minha maior fraqueza, e isso me incomoda tanto...

-Por isso eu ODEIO fazer favores – Ele suspirou pesado e se virou para cima, colocando o braço sob os olhos. – Quantas pessoas você beijou durante toda a sua vidinha?

-Quantas você beijou? – Deu ênfase no “você”. – Achei que só o Kirishima fosse doido a esse ponto.

-Mais do que uma criaturinha insignificante como você possa contar. – Rebateu. – Por que está tão incomodada com isso? Você está apaixonada por mim, por acaso?! – Perguntou com irritação.

A garota se indignou.

-Por que eu não estaria incomodada?! As pessoas não são coisas. Você não pode beijá-las e fingir que nunca aconteceu.

-Posso sim, e estou fazendo isso agora. Não morri, morri? – Debochou. – Desencana, plantinha. Foram só alguns beijos, e você deveria me agradecer por ter pensado nisso. Impediu que você destruísse minha casa.

Ela abriu e fechou a boca várias vezes.

-Isso só aconteceu porque você agiu que nem uma criança e me jogou na água! Por que eu deveria agradecer por você consertar algo que você mesmo causou?! – Reclamou, fazendo-o encará-la com raiva.

-Você provocou, e me chamou pra brigar, e está se colocando como vítima?! Inacreditável como você é idiota.

-Eu não sou idiota, você que é!

-Mulheres... Não importa a merda que você faça. Você pode salvar a vida delas, e elas nunca estão satisfeitas. – O loiro se sentou na beirada da cama, e ela se indignou mais, levantando também.

-Cara, eu tentei o tempo inteiro me dar bem com você! – Agarrou os próprios cabelos. – Tudo o que você sabe fazer é ser um babaca cruel comigo, e tudo isso a troco de quê?! – Tentou engolir o próprio choro, enquanto ficava de pé, e andava de um lado para o outro. – É só o que eu tenho tentado, desde que eu te conheci. E isso é tão, urgh, frustrante! Você só sabe ser idiota em níveis astronômicos e me irrita, até que eu chame você pra brigar. O que você ganha com isso, Katsuki?! – O chamou pelo nome.

O loiro arregalou os olhos vermelhos. E rapidamente se levantou também.

-Eu só queria ganhar PAZ. Me incomoda você ser o centro das atenções, especialmente na minha turma, sendo que você nem é assim tão forte. E nem mesmo é do mesmo ano. – Cerrou os punhos. – Eu não quero ser próximo de você, e achei que isso tinha ficado bem claro depois que eu te explodi pela primeira vez. Não tenho interesse em você, ou ter alguma coisa que me ligue a você. Por que é tão difícil pra você entender que nem todos são obrigados a gostar de você?! Você me irrita mais do que o Deku com essa aura boazinha e gentileza excessiva, caralho, como você pode ser tão burra?! Todo mundo ganha em cima de você, e você não está nem aí! – Ele chutou um travesseiro que havia caído no chão, o rompendo e liberando penas.

Os olhos de Mitsuko transbordaram. Mas ela não emitiu nenhum som. Bakugou estava certo em parte, mas ela entendeu que sua “popularidade” entre os seus colegas de classe o incomodava. Não era proposital, ela só queria amigos, depois de ter passado uma vida inteira sem eles. Suas margaridas murcharam. 

Dentro dele, um misto insuportável de sentimentos estranhos batalhava. Não tinha problemas em dirigir palavras tão secas para qualquer um, mas ver Mitsuko chorar o afetou um pouco. Mesmo escuro, podia ver as lágrimas brilhantes.

Ele a achava bonita, ele tinha se sentido minimamente atraído pelo corpo dela, não uma, mas duas vezes, e também havia gostado daqueles beijos. Eram um favor, e por isso ele odiava prestar favores.

-Eu não tinha ideia de como você se sentia. – Secou o rosto. – Eu não quis me vitimizar, em momento algum. Você está certo. Eu não sou forte, não sou da turma de vocês, e as pessoas me passam pra trás quando querem, mas eu não estou forçando pra ser assim. Eu sei que te incomoda, mas é quem eu sou. – Tentou inutilmente parar o fluxo das lágrimas, que aumentavam a cada segundo. – Não tenho que me justificar pra você, só que de toda forma, dói ser assim, okay?! Todo o processo de formação da minha personalidade doeu e ainda dói, e eu penso que se eu fizer com que as pessoas sejam minhas amigas, elas não vão querer me machucar. É só por isso. Não é pra irritar você e nem ninguém. Isso não tem nada a ver com você, na verdade. Estou fazendo o meu melhor, droga. 

Bakugou piscou algumas vezes. Em pouquíssimas situações havia ficado sem palavras daquela forma. Ele não sabia o que dizer, como agir. Não sabia se devia mandá-la calar a boca, ou se devia simplesmente chamá-la para brigar.

-Só cala a boca, você fica feia quando chora. – Ele virou o rosto.

Ela no entanto, não conseguiu parar de chorar, pelos próximos dez minutos. Ele revirou os olhos, e suspirou, dando a volta na grande cama, e levantando o rosto da garota. Óbvio, não estava em seus planos beijá-la novamente, mas acabou acontecendo.

Deram uma pausa para respirar, e beijaram-se novamente. Dessa vez, sem vômitos. E sem tremedeiras.

-Não vamos fazer isso de novo. – O garoto se afastou. – E não vamos falar sobre isso.

-Tá bom. – Ela murmurou, parecendo um tanto mais calma. – Nós não... – Ele a cortou.

-Eu também gostei. Pode ser que eu estivesse mais bêbado que você naquela noite, mas eu também gostei. E eu me lembro perfeitamente bem. – Ele respirou fundo. – Eu quero que entre nessa sua cabeça oca: Beijar uma pessoa, não te liga a ela. Isso não significa que somos próximos, ou que estejamos realmente namorando. E isso não atrapalha seja lá o que você tem com o Shinsou. Gostar de beijar uma pessoa é relativo, se você tentar ter algo com ele, vai ser totalmente diferente do que nós fizemos. Agora por favor, pare de chorar. Você tá enchendo a porra do meu saco com essa atitude de noviça arrependida. Só grita e faz a louca como sempre. – Ele enfiou as mãos no bolso da calça e olhou para o chão.

A garota piscou as orbes azuis, agora ainda mais destacadas pelas escleras estarem vermelhas com o choro. Encarou o Bakugou, e em como ele parecia bravo mas um tanto... Preocupado? Secou o rosto, e começou a rir. 

Katsuki a olhou indignado. Podia-se ver sua típica expressão raivosa, e a veia saltando da testa.

-O que é tão engraçado, cabeça de flor?! – Perguntou no seu tom alto de sempre.

Ela se sentou, e segurou a barriga, secando o rosto. Suspirou, finalmente pronta para falar algo.

-Mesmo quando você não quer, você é gentil. – Disse, e ele se indignou.

-Não tenho a intenção de ser gentil com você, idiota. Morra. – Ele cruzou os braços, dando as costas e voltando para seu lado da cama.

-Eu sei que não teve. Por isso é tão engraçado. – Ela riu de novo, mas rapidamente se recompôs. – Obrigada, Bully boy. Não quero te pedir desculpas porque você é idiota, mas obrigada por isso. – Sorriu. – Você é realmente um bom herói.

Ele piscou, confuso. Suas bochechas coraram, e ele virou o rosto.

-Que seja. – Se deitou, e cobriu-se até a cabeça.

Ela se sentiu um pouco mais livre após aquilo, e se deitou, bem próxima do garoto. O cutucou o pé.

-Ne, ne, o que você acha da gente já marcar uma data pra trabalharmos na sua personalidade? Se continuar sendo grosso assim, não vai arrumar uma namorada... – Se apoiou em cima dele.

-E quem disse que eu quero uma namorada? Mas que caralho, não sabe respeitar espaço pessoal não, plantinha?! – A empurrou e ela riu.

-Ah, está certo. Então sua relação com Kirishima está assim tão profunda? Eu sempre soube que era mais do que amizade. Como vou contar pra sua mãe que ela estava certa? Tsc, tsc, que triste... – Brincou.

-Que porra, vai dormir antes que eu te jogue da cama e você durma no tapete. – Resmungou.

-Não consegue aceitar uma verdade né? Poxa, tudo bem ser gay amigo, a Mina não se importa de dividir o Kirishima-kun com você.

-Não tem nada de errado em ser gay, mas você sabe muito bem que eu não sou, cabeça de flor. – Ele se virou para ela, já sem paciência. – Mais uma piadinha, e eu te sufoco com a merda do travesseiro.

Ela sorriu, e apoiou o rosto na mão.

-É mesmo, é? – Debochou.

-Ora, sua... – Ele avançou para sufocá-la, e ela riu, fugindo dele.

Permanecerem naquela brincadeira, até estarem cansados o bastante para adormecerem.

[···]

Acordaram no dia seguinte com a mãe de Katsuki batendo na porta. Estavam amontoados no meio da cama, e as pernas de Mitsuko estava em cima do abdômen de Bakugou, enquanto o garoto se mantinha esparramado na cama. Era meio cômico.

-Vamos levantar? – Ela questionou, sonolenta.

-Anda logo, daqui a pouco temos que voltar. – A empurrou, levantando-se rapidamente.

-Nem mais cinco minutos? – Perguntou a garota, com a voz um tanto enrolada. Não havia mexido um músculo.

Estava de barriga pra cima, e a blusa rosa neon um tanto levantada. A franja cacheada estava caída para o lado, e se podia ver as sobrancelhas curtinhas e cheias. Acabou por reparar que os cílios da garota apresentavam uma coloração azul turquesa também.

Engoliu seco, e se virou para tomar um banho.

-Se eu sair do banheiro, e você ainda estiver dormindo, vou buscar um balde de água para te acordar. – Reclamou ele, enquanto levava uma muda de roupas, e batia a porta do banheiro.

Ela deu um longo suspiro, se levantando. Se esticou, e foi até a janela, abrindo-a. A luz forte fez seus olhos arderem parcialmente. No entanto, ela bocejou, e sorriu, dizendo sua típica fala:

-Bom dia mundo!!!

O céu estava azul claro, tão bonito... Ela deu as costas, e voltou a sentar-se na cama. Checou o celular, e logo após, separou uma muda de roupa.

Quando Bakugou saiu, ela tomou um banho, e prendeu a parte de cima do cabelo. Vestiu uma blusa branca curta e de mangas longas, e uma jardineira jeans. Calçou suas meias de cachos de uva, e saiu do banheiro, procurando por seus all-stars.

Assim que o encontrou, arrumou sua mochila, e colocou nas costas.

-Eu estou com fome. A gente pode tomar café antes de ir? – Ela perguntou.

-Tanto faz. – Desceu na frente, dessa vez, sem fazer menção de segurar a mão da garota.

Mitsuko cumprimentou os “sogros” com simpatia, e se sentou para tomar café. Como Masaru tinha que trabalhar, Mitsuki os levaria para escola.

Entraram no carro, e fecharam a porta. Bakugou colocou fones de ouvido, enquanto Mitsuko conversava animadamente com sua mãe. Tagarelavam sobre diversas coisas, até o final do percurso.

-Foi realmente um prazer conhecê-la, minha querida. – Mitsuki disse, após parar o carro, frente ao prédio da U.A.

-Igualmente, senhora Mitsuki. – Ela sorriu, afundando os piercings nas bochechas cheias. – A senhora é muito legal.

-Vamos repetir isso qualquer hora. – A mulher retribuiu o sorriso. – Masaru e eu viremos para ver vocês no festival desportivo desse ano. – Falou.

-Estaremos esperando por vocês. – Se curvou, e ambos saíram do veículo.

Regressar ao território da escola foi um tanto turbulento. Levando em conta que cada um seguiu rumo ao seu dormitório, toda a turma 2-A esperava Mitsuko no hall.

A maneira como a olharam a assustou um pouco. Os olhares curiosos a fizeram encolher-se.

-Ah... Eu posso ajudar vocês? – Ela perguntou.

-Gata, como assim você tá namorando o Bakugostoso? – Saori se aproximou dela.

-Eu realmente pensava que vocês se odiassem. – Pôde ouvir Juno ao fundo.

-Meses atrás vocês não estavam tentando se matar? – Noboyuki perguntou.

-Eu estou chocada. Quer dizer que vocês foram ver os pais dele?! – Kikyou colocou as mãos na boca.

-Gente, dá um tempo!! – Ela pediu, um pouco sufocada. – Eu preciso arrumar minhas coisas e colocar a roupa suja pra lavar. Depois disso, eu explico pra vocês, valeu.

Conseguiu fugir da pá de perguntas temporariamente. Depois de organizar tudo, precisou explicar pacientemente para toda sua turma a situação. Inventou uma história sobre o pedido de namoro, e alguns a parabenizaram, outros deram os pêsames, e meninas como Akemi ficaram um tanto descontentes.

Não bastasse isso, precisou dar explicações também à turma 3-A, que estava tão curiosa quanto a 2-A, visto que Bakugou não falou nada, e ignorou todos desde que chegou. Contou a mesma história, e só foi deixada em paz tempos depois. Eles pareciam descrentes, porque afinal, Bakugou era antisocial. Quando ela finalmente pôde ter paz, restaram Mina e Shoto. Os três estavam sentados no jardim do dormitório do segundo ano, apoiados em uma árvore.

-Como foi lá? – Mina perguntou.

-Estou cansada. Mas os pais dele são muito legais. – Ela fechou os olhos, e apoiou a cabeça na árvore. – Eu não sei o motivo de ele ser tão babaca.

-Bom, existe uma teoria... – Shoto começou. – Que diz que nossas individualidades podem interferir em nossas personalidades. – Disse. – Claro que não é desculpa, mas parando para pensar, em algumas pessoas faz muito sentido. – O meio a meio concluiu.

Mitsuko e Mina riram, e consequentemente ele também.

-Você tem razão. De qualquer forma... Ele é muito gentil, lá no fundo. – Se lembrou de todas as coisas que ocorreram nos últimos dois dias. – Não gosta de dizer, mas é muito gentil.

Ambos os amigos a olharam estranho, logo após, deram de ombros. Era estranho ela elogiar algo em Bakugou depois de tanto tempo apenas reclamando dele. Ela apenas deixou que a brisa daquela tarde tocasse seu rosto, da forma mais gentil que conseguia.

Ainda deu uma volta pela propriedade quando anoiteceu, tentando espairecer. Encontrou com o padrinho, que ia em direção ao seu prédio, com uma sacola.

Seu cabelo estava preso, e usava roupas casuais.

-Padrinho Shouta! – Ela acenou, e ele se limitou a sorrir minimamente, enquanto ela corria em sua direção.

Se sentaram num dos bancos que ficavam a caminho do dormitório, enquanto olhavam o céu. Aizawa havia trago comida chinesa, e ambos comiam em silêncio.

Às vezes, tudo que Mitsuko precisava para sentir paz de espírito, era estar com o padrinho, e comendo alguma coisa. Era como um ritual só deles, onde nada mais importava, se  aquela relação paternal que mantinham, e o quanto a presença um do outro era importante.

-Ele fez algo com você lá? – Ele perguntou, não muito contente. Ainda mantinha o pensamento de que a afilhada devia namorar só depois dos trinta.

Ela pensou em contar tudo. A incomodava mentir para Aizawa. Mas não poderia deixar que a turma 3-A fosse, de alguma forma punida. Forçou um sorriso.

-Ele não ousaria. Ou estaria morto. – Riu. – Correu tudo bem. E eu respeitei a dona Mitsuki, tal qual vocês me ensinaram. – Se referiu aos pais e ao padrinho.

-Eu acredito, mas algo em você não soa tão sincero. – Ele pegou um pouco do macarrão com o hashi, e comeu.

Ela suspirou, e comeu também.

-Se eu fizesse algo bem idiota... – Mastigou o macarrão e engoliu. – Isso hipoteticamente falando, é claro. Mas se eu fizesse algo muito idiota, e depois me metesse numa enrascada pra proteger os meus amigos... – Tentou desenrolar o assunto. – Você me perdoaria por isso?

-Se for hipoteticamente falando... – Ele suspirou. – Não há nada que você faça que eu não perdoaria. Claro que você não fugiria das regras da escola, mas supondo uma situação hipotética, eu ficaria bem bravo, mas perdoaria você logo depois de uma punição adequada. De qualquer forma, você teve motivos para se meter nessa enrascada, certo? Proteger seus amigos é um motivo nobre. – Deu de ombros.

Os olhos da garota se encheram d’água, e escorreram. O professor a olhou assustado, e ela riu, secando o rosto.

-O que eu faria sem você? – Ela murmurou, encostando a cabeça em seu braço. – Obrigada por tudo, padrinho Shouta. Eu odeio ser adolescente.

-Eu odeio adolescentes também. – O homem falou, e ambos riram. Não era uma mentira. – Você está num período da vida onde vai descobrir muitas coisas, e como heroína, diversas responsabilidades virão a cair em cima de você. Tem certeza que está pronta pra algo assim? – Perguntou.

-Não. Eu não estou pronta. – Ela murmurou. – Mas é aquilo: se você tem um dom suficientemente bom, por que não usá-lo para proteger o mundo? Meus pais precisam de alguém que possa protegê-los depois que ficarem velhos, e você também. Você tem que parar de entrar em grandes frias, na verdade. Quase perdemos você duas vezes: num confronto com o Nomu, e outro com o Shigaraki. E se eu perder você, não sei realmente o que vou fazer com a minha vida.

Aizawa deixou a comida de lado, para segurar a mão da afilhada com ambas as suas.

-Mitsuko, tem algo que você deve saber, quando se tem parentesco com algum herói. O nosso trabalho, não é brincadeira. Todos os dias em que colocamos o pé fora da cama, sabemos que pode ser o nosso último. É um fardo muito pesado, e por isso uma parcela pequena da população, isso em relação à uma maioria no mercado de trabalho, se oferece para isso. Alguns são apenas forçados à aposentadoria, como o irmão do Iida, outros porém, realmente perdem as próprias vidas, como o Nighteye, a Midnight e os Water Hose. Não é nossa intenção morrer, mas em algum momento, temos que deixar esse mundo.

-Eu sei, só que... Eu não imagino um mundo em que o senhor não faça parte. Quer dizer, te atormentar antes das aulas começarem, treinar junto com você, e fazer coisas que te irritam até você brigar comigo, e apagar minha individualidade... Como eu vou viver sabendo que não vou poder te ligar chorando no meio da madrugada, ou simplesmente ficar com você pra comer comida chinesa, como estamos fazendo agora?

-Sua vida não vai acabar junto com a minha, Mitsuko. Você tem que lutar por seus próprios propósitos. É claro que entendo seus sentimentos, eu vi você nascer, e penso que estou disposto a oferecer minha vida se esse for um mundo mais seguro pra você viver. – A abraçou. – Não pense muito sobre isso agora, mesmo que seja difícil. Ainda há muito tempo para comermos comida chinesa, e eu ainda vou ver você se tornar uma heroína. – Beijou o topo da cabeça da azulada. – Vai ficar tudo bem, okay?

-Okay. – Murmurou triste, deixando a comida de lado, e retribuindo o abraço.

Chorou um pouco, estava emotiva demais. Falar sobre perder Aizawa, ainda era muito difícil. Quanto ao professor, ele tinha família para além de Mitsuko, mas mesmo assim, se seu legado era tudo que podia deixar para garota neste mundo, seguia se esforçando para isto. Porque um dia, ele teria que deixá-la. Sabia que o destino era implacável, e uma hora, o seu se cumpriria, bem como o restante dos professores que lecionavam na U.A.

Antes, isso não o incomodava. Mas pensar em deixar aquela criança, que era tão emocionalmente dependente dele, soava muito doloroso.

Quando terminaram de comer, cada um rumou para seu prédio.

[···]

Ajudar Bakugou com o próprio temperamento era muito difícil. Os dois estavam passando mais tempo que o necessário juntos, nas últimas três semanas, e o progresso era baixo.

Ele permanecia extremamente arrogante e rude, e qualquer melhora, por menor que fosse, era comemorada pela garota com cabelos de margarida. Bakugou tinha um temperamento extremamente intratável, e essas “aulas extras” lhe tomavam tanto tempo, que ela até mesmo se esqueceu de questionar sobre as técnicas de luta que ele deveria ensiná-la.

De qualquer forma, durante aquelas semanas se viu mais próxima do que nunca de Shinsou. Algo estava diferente, ela não entendia muito bem o quê, mas estava feliz por se sentir mais a vontade com ele.

Logo, em uma tarde de quarta feira, a turma 3-B foi fazer um treinamento de rotina, como de costume, enquanto os jovens limpavam o vestiário. Durante a pausa, Mitsuko foi buscar a vitamina de morango como sempre, e se sentou para beber. Dessa vez, tinha comprado duas a mais.

-Are, está se divertindo hoje, Maruyama-san? – Monoma se apressou em atormentá-la novamente.

-Na verdade, eu estou sim, obrigada. – Ela sorriu exibindo as falsas covinhas. – Como está indo no seu treinamento, tudo bem?

O loiro precisou piscar algumas vezes para entender qual era a da bondade da menina. No entanto, nada parecia ter segundas intenções.

-Não que te interesse, mas estou indo bem. – Virou o rosto. Ela sorriu novamente, fazendo com que os olhos sumissem em meio as suas bochechas.

-Que bom! Bem, no outro dia você me pediu um gole da vitamina, e o Bakugou brigou com você, mas para não gerar discussões hoje, eu comprei uma para você! – Esticou o copo para o garoto, que pegou, um tanto se reação. – Você é meu senpai também, e eu admiro seu trabalho duro!

-Por que você tá sendo tão legal?! Quer sair por cima?! Como esperado de um aluno da turma A... – Iria debochar, visto que a garota o deixou na defensiva. Porém, sentiu uma mão em seu ombro.

-Oe, a cabeça de flor só está sendo legal... – Ele falou, com uma voz um tanto grave. – Por que é que você só não aceita algo que ela te deu de boa vontade e vaza antes que eu enfie essa vitamina garganta abaixo sua?

-Katsuki! – A garota o repreendeu, e ele estalou a língua, soltando Monoma.

-Está certo. Ele vai beber sem que eu precise fazer isso. – Deu de ombros, e saiu de perto de Monoma.

O garoto olhou para a bebida, depois para Bakugou e Mitsuko.

-Maruyama, não é? Eu... Fico te devendo essa. – Ele se afastou, desta vez, sem que Kendo viesse buscá-lo.

-Viu? Eu disse que poderíamos resolver coisas sem violência. E você até o soltou... Bom garoto! – Ela brincou.

-Não faça eu me arrepender da decisão.

-Certo, não farei. Bom, eu comprei uma para você também. – Esticou o copo restante para Katsuki. – Para compensar aquela do outro dia.

Ele encarou a bebida rosada por alguns segundos.

-Dá isso aqui. – Pegou sem delicadeza, e deu as costas, ouvindo a risadinha dela.

Não gostava muito de morango, mas era como o cheiro dos cabelos azulados. Bebeu rapidamente, e logo que ela também terminou a sua própria, voltaram a limpar. Quando terminaram, a turma 3-B já havia se retirado, e ela se espreguiçou.

-Waaaa, estou cansada. Nossas aulas extras ficam pra amanhã, bully boy. – Ela se espreguiçou.

-Nem ouse. Cansei de tentar aprender a ser bonzinho com você, hoje vamos ao que realmente interessa: socos e chutes! – Ele socou a palma da mão, provocando uma pequena explosão.

-Eh?! Vai me ensinar a lutar? Mesmo?! – Exclamou, animada.

-Pedi o pátio para o Aizawa-sensei por algumas horas, e ele concordou desde que não usemos nossas individualidades. Novamente, não faça com que eu me arrependa.

Ele deixou o ginásio primeiro, e ela alegremente o seguiu. Que mal faria treinar por mais algumas horas, não é mesmo? Sentiu ali, que estava dando o maior passo possível para ser uma grande heroína.


Notas Finais


*Thicc: É uma gíria americana, que significa literalmente "mulher com curvas". Bom, eu a coloquei no capítulo, porque acho menos lascivo que "Hot", que eles usam pra "gostosa".
Maiô da Mitsuko no capítulo >> https://img.btdmp.com/10056/10056844/products/[email protected]
Gente, eu estou vendo vários amigos perdendo contas por motivos bobos, e estou seguindo seguindo as regras a risca, ao ponto que gostaria de me explicar acerca de algumas coisas desse capítulo: Isso NÃO É, uma sexualização de menores, e eu NÃO ESTOU BUSCANDO romantizar qualquer coisa fora da lei aqui. Mitsuko e Bakugou são adolescentes de dezesseis e dezessete anos, respectivamente, e nessa parte da adolescência, eles estão descobrindo o próprio corpo, e o de outras pessoas. Como adolescente, eu digo que nessa fase eles conseguem distinguir um pouco mais o certo do errado, e estão se descobrindo juntos. Por isso existe aqui a classificação indicativa e as tags, mas mesmo assim, quero que fique claro: A visão que eu quero passar, é a do jovem entendendo a própria sexualidade, e não generalizando que todos são assim.
No mais, eu acho que provocar o Bakugou usando o Kirishima é tão bonitinho, porque ele não nega nada já que eles são amigos, mas também fica bravo porque ele não gosta só de garotos KAKDKKSKSKSKK
Eu amo profundamente o Katsuki, e me alivia finalmente poder dar um início à relação deles. Acho que podemos perceber que a cabecinha dela já não foca mais tanto no Hitoshi jsjdjdj
Bom, eu não sei se vocês acompanham o mangá, mas na parte em que Mitsuko está com Aizawa, eu meio que dei spoilers de um acontecimento recente, e me desculpo por isso. Eu estou levando como se o Aizawa tivesse sobrevivido a suposta luta com o Shigaraki, mas eu não tenho certeza porque não cheguei lá ainda. De qualquer forma, eu amo muito o Shouta e essa relação pai e filha que eles têm 😔
Eu espero que vocês tenha gostado
Nos vemos no próximo!!!
~Ja ne 💕💕


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