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— São dois! dois meninos! — A parteira gritou, puxando o segundo menino. — Esse é tão pequeno e magrinho... precisamos o levar para a incubadora!
— Min Joohan. — Sua jovem esposa o chamou. O homem, que comemorava o nascimento de um grande e saudável herdeiro, de repente virou-se para atendê-la. — Vá com ele... com ele, por favor.
— Mas, e você? E Yoongi?
— O outro precisa mais de você... Ele... por favor...
Joohan assentiu.
— Quero sete aqui com minha esposa. Esses cinco vão comigo guardar meu outro filho.
— Qual será o nome? — A enfermeira perguntou. — Desculpe. Os nomes.
— Yoon, permitir, agraciar. Gi, aquele com coragem e força, aquele que levanta. — Joohan sorriu, olhando para a enfermeira. — Yoongi, aquele que permitirá levantar com sua coragem e força. Kyu, padrão, respeito... Gin, ouro e dinheiro... Ginkyu, aquele que nos trará ouro e respeito.
E o mesmo saiu em direção a incubadora onde deixariam seu filho. E assim, o mais velho foi chamado Yoongi, e o mais novo, Ginkyu. Os dois, apesar de terem a mesma aparência, não poderiam ter personalidades mais diferentes. Yoongi era um bebê curioso, de bochechas gordinhas e muito sorridente, e seu pequeno irmão, choroso e magrelo, sempre estava atrás de si como uma sombra. Ginkyu recebeu menos nutrientes no útero, se desenvolveu tardio, sempre uma ou duas semanas atrás de seu irmão. Precisava de cuidado 24 horas de sua mãe, sempre grudado no colo dos pais e quase nunca soltava. Logo, foi contratada uma babá para Yoongi, pois Bada não conseguia dar conta de cuidar dos dois, com Ginkyu grudado em si o tempo todo.
A personalidade de Yoongi logo mudou de um bebê risonho, para um reservado, que nunca chorava ou dava trabalho algum. Era extremamente inteligente e observador, e conseguia copiar adultos com muita facilidade. Cada dia era uma novidade nova. E Ginkyu, sempre imitava seu irmão. E chorava, como chorava. Enquanto Yoongi começou a ter aulas relacionadas a combate e rapidez, Ginkyu ficava com sua mãe por seu físico inferior. Em vez disso, passava o tempo brincando com sua mãe. Yoongi logo percebeu que teria a atenção de seu pai caso fosse bom em seus treinos, e por isso, havia treinado escondido de seu instrutor para surpreender o pai com novos golpes e agilidade. Joohan prometeu-lhe alguns minutos entre suas reuniões. Yoongi esperou duas horas embaixo do frio e ventos impiedosos antes de perceber que seu pai não viria.
— Eu tenho certeza de que ele estava ocupado, Jovem Mestre. — Seu segurança tentou confortar o pequeno menino de cinco anos. — Ele viria se pudesse.
— Hm. — Yoongi assentiu, o cabelo liso e preto caindo para frente. Sua mãe dizia que ele e seu irmão eram brancos como açúcar, e por isso carinhosamente os apelidou de sugar. Ele também era constantemente chamado de gatinho, por seus olhos felinos e sorriso pequeno. Ele corava toda a vez e sua mãe adorava.
Yoongi pediu espaço para o segurança, e seguiu pelos corredores com a cabeça baixa e mãos tremendo enquanto segurava sua espada de madeira.
— Ah, pare, pare por favor... Ah! para, para! Iss-Ai!Isso não é certo!
O som de tapas e gemidos abafados o levaram até um dos armários da casa. Yoongi não entendia o que estava acontecendo ali, mas sua cabecinha curiosa infantil, cheia de medo, sabia que algo não estava certo e ele deveria ajudar de alguma forma. A porta estava entreaberta. Parecia enorme, era branca com uma maçaneta redonda e dourada.
Yoongi afastou a porta com sua espada, tentando enxergar melhor. A cena a seguir, ficaria para sempre guardada em sua mente, marcada com ferro em brasa em seu subconsciente, moldaria quem ele se tornaria ao crescer. As costas largas e musculosas, com a blusa branca repleta de suor, as calças abaixadas com as pernas peludas e o quadril batendo com força contra duas pernas finas, que o homem segurava com as mãos, abertas.
Apoiada contra uma máquina de lavar, estava uma mulher pequena e magra, com uniforme da casa e mãos amarradas com uma gravata azul marinho de cetim.
— Para, por favor, senhor Min. — A voz soou, clara e claramente carregada de pavor e dor. Yoongi ofegou ao perceber quem ela era. Areum, sua babá, estava sendo massacrada de uma forma que ele só entenderia quando muito mais velho. — Me solta, por favor, tá doendo! P-por fa-ai! Isso dói!
— Porra de buceta apertada... — Ele urrou, pegando um tubo com algo pegajoso para jogar entre eles antes de voltar a empurrar. — Cala a boca e aguenta, porra. — Um tapa, alto e estalado, que tirou um grito de Areum. — Sua puta do caralho. Aguenta meu pau que nem uma boa garota até eu terminar com você, porra.
Ela choramingou, à sua mercê. Yoongi tremeu. Ele não estava entendendo nada. Mas estava doendo, ela pediu para parar. Porque ele não parava? Porque? Com raiva, o menino sentiu a força de dez leões dentro de si quando esmurrou com tudo que tinha a espada de madeira contra os joelhos do homem grande e mal.
— Aí, caralho! Quem foi o merdi- — Como se não fosse nada, o homem agarrou o pedaço de madeira e voou contra sua cabeça cegamente, tentando o acertar. Yoongi caiu no chão, mãozinhas contra o olho e testa doloridos e olhos cheios de lágrimas. Mas ele não soltou um pio. Nem mesmo quando o homem se virou, e viu a camisa amarrotada e pau apontando para cima duro como uma rocha, com olhos assassinos. Sua camisa estava manchada de sangue, esticada nas golas com o peitoral e pescoço arranhados. Era seu pai. — Yoongi! Y-Yoongi! Meu filho! Você... porra, me desculpa, desculpa o papai... porra... — Ele arrotou, cheirando a álcool e fumaça, que fez o nariz do menino queimar. Ele se afastou, amedrontado. — Yoongi! Porra, o que está fazendo aqui, moleque?
— V-você disse que ia vim me ver... — Murmurou. — Poque cê tava machucando, appa?
— Ein? — o homem perguntou, tentando ver o estrago feito. — Machucar? — Tornou-se branco feito papel, tremendo ao ver que seu filho havia entendido. — Não estava machucando não, Yoongi. Era uma brincadeira... de adultos.
— Mas a Aleum disse "aí!" "para, por favor" e "tá doendo". Quando diz aí, não é brincando, appa. Ela pediu pa parar. Cê não ouviu?
Você não ouviu? Ele nunca ouvia. Não ouviu semanas depois, quando sua mãe implorava sem saber, pela vida da babá e pela inocência de seu filho.
— Deixe-me, mulher! Porra! — O homem gritou, estapeando a mão que o segurava. Ginkyu estava chorando. Ele só chorava. Não fazia nada, não prestava pra nada. Porque todos prestavam atenção nele? — Areum nos traiu. Ela deu informações à polícia. Nenhum traidor pode viver.
— Deve ter havido um engano! — Bada exclamou. — Ela não faria isso! Areum é leal, ela cuidou de Yoongi desde seu primeiro ano de vida! Se quisesse te trair, teria feito! Que motivo ela tem? Ela é apenas uma criança, por favor! Vamos investigar isso direito, por favor, Joohan, ela só tem vinte anos.
Slap!
Um tapa no rosto de Bada a calou. A mulher encarou com choque o marido, raiva, muita raiva enraizada dentro de si que não poderia colocar para fora de jeito nenhum.
— Não discuta comigo na frente dos meus filhos, nem se meta em meu trabalho, porra. Se eu disser que ela vai morrer, então assim será.
— Não pode, não pode! — Ginkyu gritou, colocando-se frente a mãe. — Não pode bater na omma! Appa malvado! Tem que fazer carinho! Pede desculpa, appa!
Joohan revirou os olhos, e segurou o pulso de Yoongi, que também se mantinha à frente da mãe. Seus olhos não eram os mesmos a semanas, assim como seu comportamento.
— Yoongi, vamos. Hoje você vai ver o que é preciso para ser o futuro Tigre de Daegu.
Yoongi seguiu seu pai até o assassinato de seu primeiro amor, de sua babá de apenas vinte anos que havia sido abusada, estuprada, humilhada e usada. Estava completamente coberta de hematomas e roupas rasgadas, e claramente outros homens haviam feito consigo o mesmo que Joohan fez.
— Por que ela está machucada, abeoji? — perguntou o Min.
— Porque ela traiu nossa família. Os traidores não merecem viver, Yoongi.
— M-mas... Aleum...
Irritado, Joohan deu a arma na mão do filho, que trêmulo, mal conseguia erguê-la. O homem posicionou o filho, o guiando para apontar a pistola para a jovem.
— Atire.
O menino se negou, os olhos enchendo de lágrimas. Era sua babá, aquela que cuidava dele, que cortava as bordas do pão e descascava tangerinas com perfeição. Areum era boa. Ela nunca faria nada daquilo. Porque tinham machucado ela? Porque aqueles homens haviam a machucado? Foi porque seu pai mandou? Mas... mas Areum... Areum era boca.
— Não, abeoji! Aleum é boa, ela fica comigo quando eu treino, ela me ajuda a lavar o cabelo, cuida do dodói e brinca de cantar comigo! Ela cuidou de eu!
— Atire, porra! Você é meu filho e vai me obedecer! — Ele gritou, envolvendo os dedos do filho com mais força no gatilho. — Está na hora de você saber o que fazemos com os traidores. Será o próximo Tigre de Daegu, afinal.
Yoongi não queria. Nem mesmo conseguia olhar nos olhos de Areum. Eles estavam opacos, sem qualquer resquício da mulher cheia de alegria e bondade que uma vez já foi. Era como se já estivesse morta. Como se sua vida tivesse sido arrancada dela à força, vez após outra, como se continuar ali fosse pior do que a morte. Yoongi pensou diversas vezes sobre aquele olhar durante sua vida. Várias e várias vezes desenhou a cena em seu estúdio, várias e várias vezes teve pesadelos com aquilo até entender que aqueles olhos, aquela feição, formavam a face de uma pessoa que fora irremediavelmente quebrada. Perdida. Seria um ato de misericórdia matá-la.
Mas o Yoongi de 5 anos não entendia nada disso. Ele tremia e negava, olhos embaçados. Tudo que ele queria era sair correndo e abraçar Areum. Ela o olhou, e mesmo envolta naquela sujeira, naquela imundície com cheiro de podridão e corpo tão abatido que mal podia se mover, ela sorriu para ele.
Sorriu.
Uma sombra do sorriso caloroso que lhe era dado todos os dias. Apenas para conforto dele, quando ela estava vivendo um verdadeiro inferno. Areum sorriu, e seus lábios moveram-se levemente para formar uma frase.
"Eu não gosto de ser chamado de Suga, Aleum nonna."
"Porquê?"
"Porquê eu não sou fofinho nem doce. Yoongi é bravo" o menino fez uma careta com os olhinhos felinos pequenos e dentinhos ainda menores. Era como um filhote de gato rosnando. Adorável. "Viu? Yoongi é um guerreiro! Eu sou o tige de Daegu! Vou proteger a cidade toda!"
"Tudo bem, Agust D. Obrigada por proteger sua nonna"
Yoongi atirou.
— Agust D... — Ele sibilou, girando um anel dourado que enfeitava seu dedo. — Daegu Town Suga. Tsc. Eu não protejo essa cidade a muito tempo, Areum-ah. E já estou bem mais velho, mas você pra sempre vai ter vinte anos. Me abençoe mais uma vez, nonna.
Ele beijou o anel, ajeitando sua jaqueta antes de se aproximar do segurança da OKISU. Era uma boate meio capenga com um grande letreiro de e brega no centro perigoso de Daegu. Havia uma grande placa neon com "OKISU" em vermelho e uma animação estilo anos 90 de um beijo cor de rosa. As paredes ao redor estavam cheias de pichações e uma fila enorme de pessoas usando roupas de boate no frio, esperando para entrar. Uma grade de ferro marcava a divisória entre a saída e a entrada, com dois seguranças e um funcionário checando as comandas e ingressos. Yoongi havia estudado rapidamente o mapa do prédio que havia conseguido na prefeitura, e fez um plano simples. Três seguranças iriam consigo, e outros oito espalhados dentro e fora da boate. Iria entrar, avaliar o máximo que conseguisse, matar e sequestrar o resto deles enquanto não percebiam que Twang está morto. Ele sabia que no momento em que matou Twang, havia derrubado uma pecinha, que derrubaria outras e um milhão em seguida até que houvesse uma guerra.
Se havia outra gangue tentando se infiltrar na Coréia, escolheram muito bem a cidade para isso. Daegu era a única cidade do país que ainda não havia caído por completo nas mãos dos Diavolos. Era uma divisão simples entre as três gangues: Da Coreia do Norte, cruzando o Rio Han do lado direito até Andong e Yeongu, era território dos Serpents. Do lado esquerdo do Han, até Jeongeup, Sangju e Gimcheom, era território dos Draghi, incluindo a ilha Jeju. O resto se enquadra em território dos Sharks, gangue dos Jeon de Busan.
Claro que os Diavolos comandavam tudo, de longe, mas a divisão mais clara era essa. Ninguém adentrava o território e negócios de ninguém sem explícito pedido e consentimento. Contudo, os Holang-i de Daegu foram extintos há menos de quinze anos atrás, e a fidelidade com os Min ainda era grande. Era o único ponto fraco, estrategicamente falando.
— Ingresso, por favor. — O garoto estendeu a mão, entediado enquanto mascava um chiclete.
— Eu não tenho um ingresso.
O jovem suspirou, buscando uma lista de papel e uma caneta.
— Seu nome está na lista?
Yoongi sorriu, olhando para o segurança que pareceu reconhecer seus anéis melhor do que o jovem de vinte e poucos anos.
— Ele está liberado. — respondeu, abrindo a porta. — Pode passar, Senhor Min.
Yoongi sorriu, passando com seus seguranças. Passou por um corredor escuro com dançarinas rebolando, somente suas sombras aparecendo. Ele deixou algumas notas para elas e seguiu. A boate estava cheia, lotada, com músicas de sucesso tocando e um DJ animando a festa. O bar também estava lotado, com três bartenders trabalhando incansavelmente para atender os pedidos do público. Yoongi continuou seguindo até a área VIP, onde os seguranças o deixaram passar. Era pequena, apertada, e somente com três caras na porta. Seria fácil.
— Senhor Min! Que prazer! — Junseo o cumprimentou, curvando-se. Um a um, os outros vieram e se curvaram. Yoongi sorriu em retorno. Uma análise rápida lhe disse que apenas dois deles ainda escondiam armas sob as vestes. Yoongi estava em dúvida se eram amadores a esse ponto, ou apenas estavam confortáveis em sua presença. De qualquer jeito, um grande erro foi cometido. — Twang não veio com você?
— Eu vim sem ele. Saí um pouco mais tarde do bar, e ele ainda estava lá. — Disse. O segredo para não captarem a mentira em seus lábios era misturá-la com a verdade. Twang ainda estava no bar, morto, quando Min deixou o local. — Ele disse que tinham uma proposta para mim. Eu gostaria de ouvi-la agora. Estendi minha estadia em Daegu por isso, afinal.
Trocaram olhares entre si, e então assentaram. Sanghun puxou uma cadeira para Yoongi, que sentou-se cruzando uma das pernas. Sentia-se nu sem sua espada, mas chamaria demasiada atenção caso viesse com a mesma. Apenas respirou fundo e tentou controlar sua leve ansiedade.
— Nós não somos só empresários, Senhor Min. Fomos contratados por um grupo. Uma Máfia. — Yoongi assentindo, fazendo expressões de surpresa e leve preocupação para alimentar sua farsa. — Somos membros do Comando. Fomos contratados para estabelecer a gangue na Coreia, e que lugar para começar melhor a não ser Daegu? As outras grandes cidades são visadas demais. Daegu foi arrancada das garras dos Holang-i e abandonada. O trono pertence a você, Tigre de Daegu, por direito. Queremos lhe oferecer Daegu de volta, em troca de nos ajudar a expulsar os Dragui e as outras gangues menores e nos dar homens e armas para estabelecer o Comando. Uma aliança.
Yoongi engoliu em seco, nervoso e enraivecido por dentro. Esses porcos resolveram trair o próprio país por uma porção de grana? Ele odiava traidores, sentia nojo deles, por razões óbvias. Aquele mundo era perigoso e instável, era impossível estar 100% a salvo, mas trair criminosos era uma forma certa de morrer e colocar os seus na mira da pistola. Após a morte de seu pai, houveram várias pequenas revoltas que massacraram os remanescentes Holang-i. Diversos soldados de seu pai tentaram sequestrar ele e seu irmão em tentativas falhas de reviver a gangue. Matteo Ferrero pisou neles até que nada sobrasse. E ainda assim, tinham coragem de tentar novamente? Depois de tudo que ele havia feito para pagar a dívida? Já não bastava o "retardado" de seu irmão, que havia insistido em permanecer nessa vida mesmo após Yoongi quase perder um olho tentando deixar Ginkyu e sua mãe livres.
Yoongi não amava os Draghis. Eram uma gangue normal, como qualquer outra. Muitos dos membros eram lixo—sendo imprestáveis ou detestáveis—com quem ele não tinha amizade alguma nem confiança, contudo, faziam seu papel nos Diavolos e eram a melhor opção para os cidadãos. Não eram extremamente violentos, nem trabalhavam à luz do dia ou perto de crianças, e o mais importante, para si: não estupravam, diferente dos Holang-i. Ele queria comandar Daegu, desejava muito isso.
A guerra, as mortes, e o que aconteceria depois dela, não valeria sentar-se no trono. Ou trair Lalisa. Ele nunca faria isso. Jamais. A Ferrero foi a primeira e única a estender-lhe a mão quando tudo estava perdido. Lalisa foi sua primeira amiga, quem o ensinou, escutou e ajudou. Lalisa o salvou, a si e à sua família. Les deu uma chance de um futuro. Um futuro onde os Min não fossem mais julgados pelos atos de Joohan.
Preferia morrer do que a trair.
— Não esperam que eu confie em vocês sem a mínima prova, certo? — Yoongi ergueu uma sobrancelha, entrelaçando os dedos das mãos. Precisava fingir calma. — Vocês podem muito bem fazer algum tipo de teste. E se for isso, eu vou ficar muito, muito puto.
Junseo deu um sorrisinho, tirando fotos e documentos de uma gaveta.
— Aqui está. São relatórios de nossos meses de construção. Nossos homens, contrabando, clientela e lucro. Pode ver por si mesmo, pessoalmente, se quiser. — Deu de ombros, sorrindo. — O que mais quer saber?
— Quem os contratou? Ninguém conseguiria passar por nosso radar sem que soubéssemos. Não aqui, não na Coreia.
— Quem disse que ele não passou pelo radar de vocês? — Doyun riu, cruzando os braços. Sanghun deu um pequeno soco no amigo, como forma de lembrá-lo de calar a boca. Yoongi percebeu. Confiam nele o suficiente para se descuidar, mas há alguém... mais alguém que não deve ser mencionado. Alguém que o Min conhece, caso contrário, não teriam motivos para calar a boca. — Se procurar mais sobre o comando, achará, Tigre de Daegu. Assim como já achou.
Yoongi respirou fundo, pensando nos próximos passos. Em alguns momentos iriam perceber que Twang não iria vir e sua máscara cairia. Foi um movimento arriscado matar Twang em sua loja, mas ele levaria mais seguranças do que a pequena equipe do Min poderia lidar e sendo ele o único filho vivo do ex subchefe de seu pai, era a única outra opção para reunir as forças remanescentes dos Holang-i. Todo o resto estava morto. Era hora da última jogada.
— São vocês que estão nos atacando em Busan? Roubando nossa clientela, causando problemas em Ulsan? Foram vocês quem sumiram com nossos homens aqui e colocaram Jeon Somin em coma?
Os três sorriram.
— Somin é mais velha, a mais inteligente. Ela percebeu cedo demais o que estava acontecendo. Precisava ser parada. Além de que, não esquecemos o que os Jeon fizeram com Min Joohan. Se não fosse pela armadilha que fizeram, Joohan jamais teria sido pego. Seus agentes estão vivos, ainda não tocamos neles. Estão tentando se infiltrar. O garoto é resistente, mas a vadia é uma Jeon. Ela precisa morrer.
Yoongi assentiu, pensando nas atrocidades que fariam com Soyeon se tivessem a chance. Até parece que Yeonjun trairia os Serpents, depois do que Jeongyeon fez por sua família. Ele queimaria o mundo pela Yoo, e seria capaz de devorar a própria carne antes de trair sua parceira.
— Obrigado pela confiança. — Yoongi levantou-se lentamente, os olhos escuros. Sentia sua cicatriz arder como no dia em que a ganhou. — E é verdade, eu também não esqueci o que os Jeon fizeram. — Ele apertou sua mão na mesa para os distrair. — Como fizeram meu pai acreditar que a polícia e eles estavam do lado dele... como mataram seus homens e mancharam sua honra.
— Vamos afogar todos os tubarões de Busan, não se preocupe. Os Tigres irão ficar para a história, enquanto eles desaparecerão.
Doyun virou-se, pronto para servir uísque para comemorar a nova aliança. Yoongi tirou a arma de sua jaqueta grande e larga sem nenhum problema. Tic tic. O som oco soou, sangue espirrando nas costas do coreano e o som dos corpos caindo no tapete. Seus olhos se arregalaram, e antes que pudesse se virar, Yoongi estava com a arma em sua cabeça.
— Eu serei para sempre grato por terem parado meu pai. — Sorriu, pegando o copo da mão do homem. — Sem os Jeon e os Yoo, não seria possível. É por isso que eu fodo com a vadia Jeon sempre que possível.
— S-se...
Ele colocou o indicador contra a boca, sinalizando o silêncio. Sabia que, Doyun era o mais fraco e mais medroso dos três. Aparentava ser o menos experiente também. Se ele não houvesse baixado a guarda, se houvesse trago uma arma, seria quase impossível matar os três antes que os seguranças da porta notassem. Porra, ele poderia gritar. Tinha um saca-rolhas na mão que poderia cegar Yoongi enquanto ele fugia.
O Min alargou o sorriso, bebendo um pouco do uísque.
— A era de Joohan acabou a muito tempo. Ele está queimando no inferno, junto com seus amigos e Twang. Logo logo, você vai se juntar a eles. Mas antes, deixe-me mostrar-lhe como é o meu inferno.
Lisa engoliu em seco, olhando as provas que Yoongi trouxe. Ela analisou enquanto escutava o que o Min tinha a dizer, e a cada palavra, sua mandíbula se apertou ainda mais.
— Com essas respostas... — Ela respirou fundo, olhando as fotos. — Aqueles filhos da puta se infiltraram dentro de nós. Não há como saber desses fatos de outro jeito. Como disse, com certeza uma nova gangue teria que passar pelo nosso faro. Porra, é impossível. O que quer dizer que um de nós está encobrindo o Comando. Para saber de nossas conexões, tantos detalhes, é um de nós. E é alguém da alta cúpula. Não é um Diavolo... nem nenhum estrangeiro. É alguém que conhece nossas operações na Coreia a fundo, alguém que sofreu com a guerra das gangues, provavelmente. Alguém insatisfeito conosco, ou pelo menos com a pessoa para quem trabalha diretamente. Iremos fazer uma lista. Vou pensar nisso mais a fundo... por enquanto não falem sobre isso com ninguém. Apenas pensem sobre e fiquem atentos a quaisquer sinais na reunião.
Os dois assentiram. Lisa tocou os óculos de leitura, suspirando. Seu olhar vagou até Jennie e Jisoo. Sua garota tinha um olhar chocado e assustado ao olhar o tablet em sua mão. Ela sorriu, escutando Jennie reclamar.
— Então, se eu entendi direito, a Lisa é o rei e eu sou a rainha, certo? — perguntou, analisando o material que a Coniglio preparou para o estudo. — O Cardeal e o Arcebispo são nomenclaturas para Consigliere e Capo...
— Tudo isso é baseado não só no xadrez, mas em códigos. Imagina se a polícia, ou algum rival estivesse nos espionando? Dizer: A Capo Seo vai comandar a tropa de segurança para acabar com os funcionários que estão consumindo produto e vai precisar de faxineiros depois, não é ruim? — Jennie assentiu. — É muito melhor dizer: O Arcebispo moverá bispos e cavalos para H6. Precisamos acionar a lavanderia para cuidar das roupas sujas.
— Então, as posições do tabuleiro indicam lugares?
— Sim. Sinceramente, os códigos são tão complexos e tantos, que ficaria difícil explicar em tão pouco tempo. Vamos nos focar no básico, por enquanto. Continuando, diga-me sobre o Cavalo Corcel e os cavalos.
— O cavalo corcel é o Soldato de maior autoridade. Ele treina e comanda os outros cavalos, e comanda os Bispos. É o único soldato permitido a conhecer os segredos da máfia e a aproximar-se da rainha. Os cavalos fazem o serviço sujo, são os únicos permitidos a portar armas nos esconderijos porque fazem a segurança dos peões, da carga e para algum tipo de correção... hm... eles também podem ser líderes de pequenas equipes de peões. Depois vem as torres, que estão em grande número. É a primeira promoção, a mais difícil de receber porque são responsáveis pela supervisão do produto e cuidam do dinheiro das entregas, então não podem cometer erros. Depois deles, vem os peões. São muitos, e em muitas funções. Eles não tem noção do tamanho dos Diavolos... e tem os brancos, que são contratados para um trabalho só. Além disso, tem os aviões que não estão exatamente em um lugar fixo da hierarquia, pelo o que eu percebi. São espiões para o Rei e podem enviar mensagens ou pacotes urgentes. Devem ser muito bem informados sobre as atividades... a Lisa deve confiar muito nessas pessoas, não é?
— Sim. — Jisoo falou. — Você é muito observadora, isso é bom. Contudo, lá dentro, não se pode falar tudo o que pensa ou perguntar as coisas para qualquer pessoa. Se tiver dúvida de algo, apenas pergunte a Lisa, Soojin ou a mim. Tome sempre cuidado com suas expressões faciais, também. As pessoas se sentem confortáveis de falar as coisas quando pensam que você não está ouvindo... ou em alguns momentos, quando estão falando diretamente com você, lhes dê atenção sem falar muita coisa. Repita alguns pontos da fala da pessoa e eles vão soltar muita informação sem que você peça. Esses pequenos truques, podem ser de grande ajuda na reunião. Você é uma mulher bonita, uma pessoa nova lá dentro... Deve tomar cuidado. As atenções estarão sobre você.
— Eu já estou acostumada com esse tipo de coisa. — Jennie deu de ombros, com um sorrisinho no rosto. — Vou me comportar direitinho. Mais alguma coisa?
Jisoo assentiu.
— Depois, ensinarei mais sobre a etiqueta necessária. Por enquanto, vamos focar nos rostos que estarão presentes na reunião. Eles não a conhecem, mas você precisa os conhecer e lembrar quem são. Além de dar uma boa impressão, saberá como se portar com cada um.
Jennie assentiu, curiosa, mas ao mesmo tempo pensando no sono que poderia estar tirando ou na pegação que poderia estar fazendo com sua charmosa. Suspirou, olhando as fotos separadas por Jisoo. Estudou tanto que sentiu sua cabeça doer e teve que pedir um chá para conseguir relaxar. Foram horas e horas lendo, relendo, decorando, e tendo seus conhecimentos testados. Tinha certeza de que conseguiam escutar seus neurônios fritando e ver a fumaça saindo por suas orelhas, pois em algum momento do voo Lalisa sentou-se ao seu lado novamente, segurando uma barra de chocolate e com um sorriso cheio de orgulho no rosto.
— Saia daqui, você vai atrapalhar. — Jisoo disse, expulsando a mais nova.
— Non essere così cattivo con mia preziosa, Jisoo.
trad: Não seja tão malvada com minha preciosa, Jisoo.
A mafiosa deixou que Jennie encostasse a cabeça em seu peitoral, afagando os fios escuros com os longos dedos. Lisa esticou os quadradinhos do chocolate suíço até a boca de sua garota, sentindo seus lábios contra a ponta de seus dedos. Ela sorriu, e deu um beijo na testa da Kim. Jennie corou tão forte que tossiu, escondendo-se do olhar de Jisoo.
às vezes, o cuidado e carinho de Lalisa a surpreendia.
— Gli stracci vanno sempre all'aria.
trad: expressão italiana que significa "a corda sempre arrebenta para o lado mais fraco".
— Le nostre corde sono intrecciate, sorella. Chiunque osi provare a romperli morirà.
trad: Nossas cordas estão entrelaçadas, irmã. Quem ousar tentar arrebentá-las, morrerá.
— Aigoo, eu não falo italiano. Vocês podem, por favor, falar em uma língua que eu entenda?
— Ainda não ensinou as frases, Jisoo? — Lisa suavizou a expressão imediatamente, um risinho brincando em seus lábios. — Francamente...
— Se acha que vai conseguir, be my guest. A cada frase que eu digo, a ragazza tem cinco perguntas. Ainda não cheguei nem mesmo na etiqueta necessária.
— Descanse um pouco, consigliere. — Lisa a dispensou com a mão que não apoiava sua cabeça, seus dedos correndo para ver o conteúdo preparado no ipad. — Eu vou ensinar você, kitten.
— Hmm... eu vou virar uma nerd, com uma professora dessas...
Jennie lançou um olhar perigoso e brincalhão, com a língua passeando por sua boca perfeita. A Kim escutou o coração da mafiosa disparar com sua proximidade, e a cor subir para as bochechas dela. A franja insistia em cair sobre seus olhos, cujo tom era o mais claro que Jennie já havia visto. Normalmente, misturado entre um castanho mel com o verde-escuro, era como terra e mar se encontrando. Contudo, a um certo tempo, Jennie percebia que quando estavam juntas, assim, sem pretexto nenhum ou correria alguma, as íris tomavam um tom de verde claro com pequenos flashes dourados iluminando o olhar. Mas sempre que seus olhos encontravam os dela, as pupilas de Lalisa dilatam tanto que chega a parar seu coração fraco. Aquela pele bronzeada, os fios loiros avelãs com o sorriso que ela tentava esconder... Jennie Kim sentia seu próprio coração bater mais forte. Lalisa estava ganhando cada vez mais espaço dentro de si, mais espaço do que Jennie planejava dar para alguém. Sua vida amorosa sempre foi um desastre, pequenos casos ali e aqui que nunca se desenrolaram em algo a mais pela constante fuga da Kim. Ela nunca havia se apaixonado, mas conhecia o sentimento de gostar de alguém. Não era isso que sentia por Lisa. Era algo mais forte, mais intenso, tão absurdamente vigoroso, tão veemente profundo e poderoso que a assustava. Era assustador o que aqueles malditos olhos, aqueles lábios doces e voz rouca faziam com ela. Porra, estava num jatinho com uma criminosa, com tudo aquilo que foi ensinada a repudiar, deitada em seu peitoral enquanto estudava como ser a melhor rainha do submundo possível. Aí caralho, minha mãe vai me matar. Pensava. Aquilo tudo poderia colocar toda a sua carreira por água abaixo. Lisa trabalhava nas sombras, mas seus fãs reconheceriam até mesmo sua sombra de costas, numa luz amarelada com uma câmera a 3 km de distância.
Lisa engoliu um punhado de saliva, observando como os olhos felinos estavam escuros com as pupilas dilatadas, sua expressão colhida na mais bela face que alguém já havia presenteado a si. Nunca, em seus quase 24 anos de vida, havia visto alguém lhe olhar daquela forma. Aqueles sintomas estranhos que lhe causavam tanta ansiedade voltaram como um vulcão em erupção.
Queria beijá-la. Desejava os lábios contra os seus mais do que desejava qualquer outra coisa. Precisava beijá-la como precisava respirar, mais do que precisava respirar. Então a beijou. Abaixou a cabeça e deixou que Jennie completasse o caminho, que ela escolhesse. E Jennie escolheu erguer o queixo e a beijar de volta. Foi apenas um encostar de lábios, e foi o suficiente para que ambas percebessem que havia algo, algo de magnitude espantosa no que sentiam uma pela outra.
E o vazio, de repente, preencheu-se pela primeira vez. As vozes se calaram e na escuridão se fez luz.
Jennie gemeu, e Lisa arfou, encaixando melhor para beijá-la mais, e mais, e mais, até que as duas estavam sem fôlego. Mas não ousaram se encarar após isso.
Não, não ousariam, não após suas almas tornarem-se transparentes frente a outra. Lalisa entendeu que aqueles sintomas estranhos eram causados por Jennie. Jennie entendeu que estava sentindo algo por Lisa.
Em sua própria mente, ela proferiu: Meu Deus, eu tô fodida. Minha mãe vai me matar.
— Então... as frases... — Lisa tossiu, mostrando o tablet. — Há algumas que você precisa aprender. Vou te ensinar.
Jennie sorriu, coberta pela vergonha, e assentiu. Passaram uma ou duas horas juntas, com Lalisa quase derretendo em uma poça no chão pelo biquinho que Jennie fazia para pronunciar as frases direito. Lalisa ensinou coisas do dia a dia, bem como algumas gírias muito usadas e cumprimentos da máfia. Jennie se divertiu, a chamando de mia bambolina, maestra e Caramella, pois dizia que sua pele lembrava o doce. Lalisa sorria como nunca antes.
— Essa garota deixa Lalisa radiante. — Yoongi afirmou, sua unha curta coçando a cicatriz em seu olho. — Quanto tempo até que ela perceba...
— Eu não sei. — Soojin deu de ombros, bebericando o café. — Mas, acredito que logo. Eu só espero que a gattina também sinta o mesmo.
— Eu acredito que sente. — Jisoo respondeu. — Porém, a forma que Lalince a amará... Deuses, será demais. Ela é intensa demais com seus sentimentos. Será devota até o último suspiro a essa garota.
— Eu sou ateu, mas porra, que Deus tenha misericórdia daqueles que entrarem no caminho da rainha de copas, porque nosso rei não terá.
— Tem algo a mais que eu gostaria de lhe ensinar antes que você dormisse um pouco. — A Ferrero disse, alheia a discussão de seus amigos.
— Quer dizer que eu vou dormir? — Jennie arqueou uma sobrancelha, sapeca. — Eu não estou com sono. Dormimos um monte antes de vir pra cá.
— Mas você dormirá mais. — Jennie fez uma carranca, pela qual ganhou um selinho. — É um longo voo, Jisoo tem mais coisas para te ensinar e teremos que viajar mais um tempo antes de chegarmos ao local da reunião.
— E você?
— Eu estou...
— Eu estiu acistimidi, não vem com esse blábláblá pra mim. Você precisa dormir também.
— Preziosa, eu preciso trabalhar um pouco. Há algo que precisa da minha atenção. — Jennie revirou os olhos. — Principessa, gattina... Juro que lhe darei atenção mais tarde. Mas, por favor, preste atenção nisso. Primeiro: Se alguém tentar te sequestrar, sufocar ou imobilizar usando uma sacola ou algum tipo de saco plástico você deve pôr sua língua para fora, grudando no plástico e a puxar. Então, sugue até que abra um buraco para você respirar.
Os olhos felinos saltaram, nervosos com o assunto repentino.
— Escute, kitten. No que depender de mim, ninguém jamais irá encostar suas mãos em você. Porém, eu preciso que você saiba o que fazer caso haja alguma falha. Eu preciso que saiba o que fazer, para que eu te ache o mais rápido possível.. Não se preocupe, pois eu a acharei. Não há força na terra ou nos céus, humana ou sobrenatural capaz de me impedir te acha-la.
— Isso me conforta, mas ao mesmo tempo me assusta.
Lisa sorriu.
— Você pertence a mim, Jennie. Pertence a membro de uma das maiores facções criminosas, líderes do mercado negro, a uma mulher que faz parte de uma família fundadora da Cosa Nostra que comanda diretamente todo o Oriente. Você fez um pacto com o diabo, mia bela ragazza. — Lisa sorria de forma cínica e orgulhosa, segurando sua mão. Jennie usava o anel como um anel de noivado, na mão esquerda. Ao tocar a mesma mão da italiana, Jennie percebeu que o bode que antes adornava seu dedo anelar, havia trocado de lugar. Agora, em seu lugar, havia um dragão de ouro com olhos de jade. Descansando em cima dele havia uma bela romã de ouro com sementes de diamantes vermelhos. Era como se fossem noivas. — Eu te disse. Não há escapatória, cara mia.
Jennie puxou a mão de Lalisa para si, segurando os longos dedos com atenção especial no novo anel. A romã das perséfones. A rainha acima do rei. A diaba verde...
— Gostou, kitten?
— É novo.
— Sim.
— Hm. — Lisa sorriu. — Mais alguma dica?
— Se tentarem te por em seus ombros, a menos que seja eu... agarre o pescoço desse jeito. — Indicou, puxando Yoongi. Ela passou o braço como em um mata-leão reverso. — Prenda bem com seu pulso. — Trancou o aperto segurando com sua outra mão, seu pulso. — Aperte com toda a força que conseguir, cruzando suas pernas nas costas do agressor. Em alguns segundos, ele cairá no sono. Esse truque serve nas duas posições.
O capo escorreu, fingindo apagar com o "golpe" de sua chefe.
— E se ele prever isso e me agarrar por trás?
— Tente sempre encarar seu agressor. Desse jeito, não pode te controlar. Caso não seja possível... — Yoongi se levantou para explicar, mas com o olhar mortal de Lalisa, ele parou e deu um passo para trás. — Desculpe, volpe.
Lalisa segurou Jennie, a virando de costas num movimento rápido. Elas estavam grudadas, com a bunda gostosa da Kim se esfregando mais do que o necessário nela. O Min logo entendeu o motivo, sabendo que teria as mãos arrancadas caso fosse outra pessoa. Ele trocou olhares com a Capo e a Consigliere. Os três estavam em simultâneo animados e nervosos com a reunião. Lalisa nunca fora do tipo ciumenta — nunca se importou demasiadamente com aqueles que fodia — mas esse lado seu parecia se revelar com a garota gato.
— Se alguém ousar te segurar assim... e te prender por cima dos seus braços, abra e afaste essas lindas pernas... — Chutou para fora as pernas, e Jennie esticou na posição pedida. — Entrelace seus dedos e use toda sua força para escorregar para baixo. — Virou a garota para si novamente, sorrindo. — Então, caia de costas e chute para ganhar distância. Então, corra. — A puxou de costas de novo. — Mas se te segurarem assim... por baixo dos seus braços, você deve se jogar para baixo. — Com uma mão em suas costas, a inclinou. A maldita aproveitou a posição para se empinar toda, roçando a bunda contra o centro de sua mafiosa com um sorriso safado no rosto. Lisa arfou, a segurando com força na cintura. A esse nível, os três capangas estavam vermelhos, mesmo que não olhassem diretamente para a cena. — Você vai pegar o tornozelo do desgraçado e puxar com toda a força possível. Quando ele cair, quebre o osso e corra. — A puxou pelos fios da nuca de volta, a segurando bem perto de si. — Se ele te puxar junto no chão, sem problemas. Segure o tornozelo, ajuste seu aperto o prendendo com as coxas e quebre o tornozelo no chão. Mas, se ele te prender assim. — A segurou por baixo dos ombros e prendeu com força. Jennie gemeu e arfou, a socando na coxa. — Você não vai conseguir nenhum dos dois. Então, afaste suas pernas e se gire para acertar a parte de trás dos joelhos. Segure forte as duas pernas com suas mãos e assim que ele te soltar, corra.
Jennie se virou calmamente, a olhando com um sorrisinho.
— Você queria me ensinar mesmo, ou só me agarrar por trás? Porque se for isso, a gente pode muito bem ir lá pro quartinho e...
Lisa riu, descendo as mãos até a cintura fina da mulher.
— Eu quero te ensinar. Você não pode praticar aqui no avião, mas vou te ensinar em um local apropriado. Eu prometo.
— Eu posso contratar um instrutor. Ou quem sabe, o Agust ou a Yuqi...
— Jennie Kim... — Lisa quase rosnou. A cantora a empurrou o ombro, selando os lábios antes de arrastar seus dentes pelo inferior de Manoban. — Não me teste, kitten.
— Mas é tão legal...
— Brat.
— Você sabe que ama esse meu jeitinho.
JENNIE
Brincar com Lisa foi legal, mas logo depois fiquei presa novamente com Jisoo unnie conversando sobre coisas chatas. Toda a vez que eu dava uma espiadinha na minha bonequinha, Unnie batia na mesa e me olhava por cima dos óculos com aquele olhar mortal me mandando prestar atenção. Eu tive aula de etiqueta e comportamento quando ainda era trainee, também quando fui para meu primeiro grande show de awards e quando fui convidada ao palácio da Inglaterra e a Casa Branca. Contudo, Jisoo unnie insistia em me ensinar as coisas—e disse que assim que chegássemos a terra firme eu iria treinar de novo—de novo e de novo até que minha cabeça estivesse girando e eu estivesse vendo a posição dos talheres ao modo europeu até de olhos fechados.
"Não enrole o garfo e colher para comer massas longas. Não se toma suco ou refrigerante nas refeições, somente vinho ou água. Não se corta macarrão com faca. Não se fecha refeição com cappuccino. Só espresso ou macchiato. Não se deve atrair muita atenção para si. Na mesa, não fale ou ria muito alto, não é educado repetir, não se deve cochichar muito, não se deve tirar os sapatos na pista de dança, não se deve espreguiçar, blábláblá..."
Quando o piloto avisou que faltavam trinta minutos para o destino, Lisa chamou Jisoo unnie para conversar sobre alguma porra qualquer, e eu quase pulei em seu colo para agradecer. Voltei para o quarto para deitar um pouco, e sentei para ver as mensagens que haviam chego. A maioria era do grupo com meus amigos, com Jimin fazendo drama de ter que voltar para os desfiles da fashion week e bullying com a Sana pelas fotinhos com Tzuyu dormindo em seu peitoral. Zhou parece estar bem melhor, contudo, cancelou alguns desfiles por conta de sua saúde debilitada e todos nós assinamos contratos de sigilo. Eu ouvi a conversa de Yoongi e Yuqi e sabia muito bem que esses contratos foram a alternativa que Lisa arranjou para convencer Nicha a não ameaçar todo mundo. A presença daquela mulher ao meu redor por dias e dias me deixa um tanto apreensiva, mas sei que ela não fará nada comigo. Lalisa estará perto de mim o tempo todo, e querendo ou não, eu vou conhecer mais coisas sobre a família. Acredito que ela sabe muito bem que não é hora de me ameaçar de novo.
Respondi algumas mensagens, enviei algumas para Joohyun unnie e Seulgi unnie e enrolei um pouco até resolver abrir as mensagens da mamãe. Omitir para ela certas coisas tem me deixado um tanto culpada e nervosa. Eu sei que alguma hora minha mãe vai descobrir e não vai gostar nada de Lalisa. Eu nunca deixei que nenhum de meus casos conhecessem Omma, mas ela sempre sabia quem era cada um. Com as especulações da mídia sobre meu novo anel e o foco que caiu em mim novamente por conta da morte de Daniel Jang, sei que ela está lendo cada matéria e prestando bastante atenção. Eu estive a enrolando desde que Jongin a ligou para saber meu paradeiro quando saí de fininho da minha festa.
Omma: Jennie-ah, você foi viajar?
Omma: Tem um vídeo que uma pessoa postou de longe, dizendo que é você... Anda igualzinho e essa cabecinha redonda eu conheço de longe.
Omma: Que amigos são esses do seu lado? Joohyun-sii não está respondendo minhas mensagens. Está tudo bem?
Meu coração disparou como quando era menor e era pega fazendo besteira. Não sei o que vou responder para ela. Por um lado, não quero mentir, mas pelo outro, eu sei que ela não vai apoiar e nem entender e provavelmente vamos brigar. Não quero fazer isso agora, minha vontade é adiar o máximo possível até que não tenha jeito.
Jennie Kim: Ooi omma! Desculpa não ter te respondido antes :/ Não fique preocupada! Está tudo bem comigo.
Jennie Kim: Aff esse povo vê tudo! Estou viajando sim, mas vai ser rápido. Em alguns dias estou de volta. Não se preocupe com isso.
Jennie Kim: Provavelmente é o time de segurança ��. Joohyun unnie está um ocupada, sabe como é. Logo logo ela deve te responder. Mas não precisa ficar nervosa, omma. Tô bem. Assim que conseguir, ligo para a Senhora! Salanghaeyo eomma, chungboghabnida.
trad: Eu te amo mamãe, benção.
Enviei uma foto minha fazendo coração na bochecha com um biquinho, o suficiente para que ela não se sentisse tão nervosa mais. A merda daqueles repórteres e paparazzi a deixaram em um estado de pânico que ao não receber notícias minhas fica aflita e ansiosa, ainda mais preocupada do que o normal com minha privacidade. Ela se culpou muito por não ter escondido direito, ou não ter cuidado de mim o suficiente para que tudo aquilo não acontecesse. Mas não era nem é sua culpa. A gente não escolhe por quem se apaixona, ela percebeu seu erro e saiu daquilo tudo. Eu não a culpo por ter deixado meu pai, ou por ter me levado para Nova Zelândia ou tudo que aconteceu quando descobriram nossa ligação mês passado. Não é como se ele não soubesse de mim. Ele sabia, mas escolheu não estar por perto de jeito nenhum. A única coisa que ele fez foi me trazer dor. Se não tivessem descoberto quem ele é, o que ele fez e que ele é meu pai....
— Babygirl? — Sua voz soou em meio ao escuro. Ela não ligou a luz, deslizando até a cama. Lalisa tem um cheiro tão bom, ao se enrolar em mim por trás, sua mão em minha cintura, me puxando para perto enquanto a outra, começa a acariciar meu cabelo. Ronrono, chegando para trás até encostar-me para que minha cabeça descanse em seu braço. — Tudo bem, cara mia?
Eu não pude segurar o sorriso. Segurei seu pescoço, enfiando meus dedos em suas mechas macias para retribuir. Ela beijou-me o rosto, se enfiando no meu pescoço. Ela adora ficar ali e eu acho isso a coisa mais fofa.
— Estou bem. Só um pouco cansada.. Acho que cansei bastante a minha mente. Estava falando com a minha mãe. — Ela murmurou, enfiando as mãos geladas em minha blusa. Sua respiração estava me deixando arrepiada e suas mãos em mim, esquentam a pele de maneiras que eu nunca me acostumo. — E você? Pensei que não podia vir deitar comigo.
— Dei uma escapada para ficar com você, kitten. — Disse, sua mão em minha barriga, deslizando pela carne, apertando, subindo e descendo a ponto de me deixar totalmente arrepiada e pronta. Mordi meu lábio, segurando o gemido. — Fiquei preocupada. A Jisoo falou demais no seu ouvido, não é, meu bem? — assenti, sem confiar em minha boca para fazer nenhum som além de gemer. — Preziosa?
— Sim.
Droga. Saiu arrastado e necessitado, e ela dá uma risadinha enquanto arrasta as malditas unhas por minha coxa. Arquejo, me empinando sem conseguir me segurar. Ela arrasta uma das mãos por baixo do meu corpo, segurando meu pescoço e mandíbula ao virar-me para si. A posição é meio ruim, mas estou tão quente, excitada e melada lá embaixo que me estico mais para a beijar.
— Nini, sei deliziosa... Non riesco a toglierti le mani di dosso, sborra... — Eu gemi sem controle, seu sotaque é tão sexy e ela sussurra tudo bem pertinho, lambendo meus lábios no processo. — Tu sei mia, dì che sei mia, kitten.
trad: Você é deliciosa... Não consigo tirar minhas mãos de você, porra... Você é minha, diga que é minha, gatinha.
Arfei, a beijando. Ela apertou os dedos em meu pescoço, descendo para me abraçar na volta do busto.
— Je suis à vous, maîtresse, comme vous êtes ma petite poupée.
trad: Eu sou sua, mestra, assim como você é minha bonequinha.
Lisa gemeu, me beijando com mais força, mais intensidade, mais. Ela parece gostar de me ouvir falando em francês tanto quanto eu amo a ouvir falando em italiano, e isso me faz sorrir contra sua boca. Ela está deliciosa em sua calça social preta de cintura alta e a blusa de cetim em um tom verde-azulado, que combina muito com seus olhos. Um cordão de ouro com um pingente de raposa de bronze balança escondido por dentro do tecido, prensando contra mim.
— Volpe... por que eles te chamam assim?
— Meu pai me deu esse apelido quando eu nasci... Parece que naquele tempo, meu cabelo era mais acobreado do que loiro e meus pais resolveram que eu parecia uma raposinha. — Eu rio, a abraçando com mais força, do jeito que posso. Nunca fiquei tão grudada assim, senti tanta necessidade de estar próxima a alguém como sinto com ela. É como se nunca fosse o suficiente, quero estar sob sua pele. — Hmm... minha gatinha manhosa... — Sorri em meu pescoço. — Meu pai usava um pingente igual a esse, e outro de veado. Era para representar eu e Tzuyu, que estávamos longe dele. Com o tempo, foi porque eu sou inteligente e... diziam que eu era um gênio. Meu pai não gostava de dizer nossos nomes em voz alta pela casa, ou nos lugares. Era sempre por apelidos.
Minhas sobrancelhas se encontram com a confusão. Uma das coisas que mais me lembram a infância é quando minha mãe grita Jennie Ruby Kim! ou RUUUUBYYYYY bem alto quando faço alguma bosta.
— Por que?
Lisa fica quieta por alguns segundos, sua respiração arrepiando minha nuca.
— Ele ficou meio paranoico com nossa segurança. Se não fosse pela morte de minha mãe, acho que nunca teria vindo morar com ele. — Meu coração disparou, nervoso. Imaginar uma pequena Lisa, sozinha... dói demais. — Ele me trouxe porque precisou. Mas sempre acreditou que estávamos mais seguros longe dele. Preferia morrer do que nos ver em perigo.
— Isso... Isso é muito triste, Lisa.
— Sim. — Ela sopra, me apertando contra si. — Mas depois de tudo que aconteceu, eu sei que pensaria a mesma coisa.
— Me manteria longe de você?
— Eu mantive Jimin e Roseanne o mais distantes possível de mim durante todo esse tempo. Eles mal me conhecem... E é melhor assim. — Sinto minha boca secar, um sentimento ruim na barriga. É verdade. Prova disso é que só a fui conhecer agora, depois de tantos anos próxima dos gêmeos maravilha. — A resposta é sim, Jennie. Se algum dia eu sentir que você estará mais protegida, estará salva longe da minha presença, sim. Eu te deixaria longe de mim.
Isso me deixa tão triste, revoltada, ansiosa... São essas horas que me fazem repensar tudo. Todos esses segredos, essas decisões impulsivas, essas coisas todas estranhas e complexas que podem acabar me colocando em perigo. Me pego pensando em minha mãe, em meus amigos... Minha proximidade com Lisa pode os colocar em perigo também. Sei que Lisa deve estar cuidando deles mesmo sem eu pedir, mesmo sem eu pensar nisso antes. Mas ainda assim, concordo com ela. Se eu soubesse que minha omma está em perigo por minha culpa, por culpa de meu caso com Lisa e a resposta fosse nos afastarmos, sem pensar duas vezes eu faria. Se eu tivesse a certeza... faria. Omma é tudo para mim.
— Não gosto de falar disso. Podemos voltar a nos agarrar gostosinho?
— Sim. Mas também precisamos falar das coisas difíceis, preziosa. — Ela suspira, com a voz quebrando lentamente. — Mas eu preciso te abraçar agora. Tudo bem? Quero sentir o seu cheiro um pouco e ficar deitada com você.
Sorrio, sem conseguir segurar a sensação gostosa que se espalha pela minha pele.
— Eu am-eu adoro ficar assim com você. — respondo, corando violentamente pelo o que quase falei. Porra, Jennie. Cala a boca, cala a boquinha. — Quer conversar mais?
— Eu também adoro ficar assim contigo, minha preciosa. — Beija-me o rosto, para logo depois voltar a enterrar a face em meu pescoço. — Podemos conversar sobre o que você quiser. Tens perguntas para mim? Ou deseja falar?
Falar parecia tão perigoso agora. Acho que preciso a beijar agora. Minha curiosidade pode ser deixada de lado um pouco.
— Acho que quero te beijar.
Senti seu sorriso contra minha nuca. Sorri também.
— Eu também quero, principessa.
����
Quando aterrissamos, fui até o banheiro do avião só para descobrir que havia esquecido de colocar duas peças de roupa e um sapato extra em minha bolsa de mão. Óbvio, eu poderia fazer com que Lisa trouxesse minha mala de volta, mas Jisoo estava com pressa por conta de uma reunião que elas fariam e o transporte até o local da reunião, que ainda não arranquei da minha bonequinha. Então, coloquei a única coisa disponível, que era um vestido solto com estampa de alças finas com estampa de oncinha, que acabava dois palmos e meio abaixo das coxas. Saí de fininho, com as bochechas coradas de vergonha. Depois de todo esse tempo, ainda me sinto nervosa de expor um pouco de pele, uma vez ou outra. Lisa estava apoiada no carro. Ofeguei ao ver a delícia que ela ficou, trocando a blusa social por um croppet branco da celine, expondo a barriga tonificada gostosa, com aquela pele perfeitamente bronzeada num tom caramelo. Seu cabelo estava preso num rabo de cavalo, com um boné preto e óculos escuros pendurados no rosto. Ela tinha um cigarro nos lábios, pronta para acendê-lo. Ao me ver, ela mordeu os lábios gordinhos e sorriu.
— Você quer me matar do coração? — Me puxou pela cintura, selando-me os lábios. — Está tão gostosa que eu poderia comer você. Tão bonita... Esse vestido combinou muito com você.
— Obrigada. E você pode me comer, ainda mais com essa roupa. — Deslizei os dedos por seu tronco, arranhando levemente a barriga exposta e as tatuagens ali. — Gostosa. Mas guarde esse cigarro. Não quero esse cheiro em mim, muito menos em você.
Ela riu, beijando minha bochecha, e guardou o cigarro na cartela. Lalisa tem vários isqueiros legais, esse é de um Ás preto com as inscrições douradas, quando ela desliza a chama acende e mostra as cartas K, Q, J e 10, com uma chama verde bonita. Do outro lado, há um dragão dourado. Eu gostaria de brincar com eles, se ela não ficasse os usando para fumar.
— Você quer um chinelo? — Perguntou, afastando minhas mechas escuras para trás. — Posso prender seu cabelo? Está calor... E vai ficar ainda mais aonde vamos. Vou ter que passar protetor nessa pele sensível ou você vai ficar doente.
— Não vamos ficar em Melbourne? — Arqueei uma sobrancelha, curiosa. Ela sorriu, negando. — E sim, eu vou querer um chinelo. Esse sapato é quente...
Ela tira um laço do pulso, escovando meus fios com os dedos até se sentir satisfeita. Então, faz um rabo de cavalo e roda algumas vezes, passando o laço preto para prender o coque. Não posso deixar de notar que ela ainda usa os band-aids que eu a dei, grudados na mão de qualquer modo após tirar a bandagem.
— Vamos trocar esses band-aids. — Avisei, puxando os usados de sua mão. Ela parece quase triste, com uma carranca no rosto. Não entendi o porquê, já que vai fazer dois dias que estão ali. — Doeu? Eu tenho outros, vou colocar nas suas mãos depois.
— Uhum... — Ela murmura. — Vamos entrar. O ar condicionado está ligado.
A BMW é alta e preta de vidros escuros. Me afasto até a outra porta, encontrando Yeji no banco do motorista, com suas roupas típicas e cabelo preto em um rabo de cavalo.
— Bom dia, Senhora Ferrero. — Esperei que Lisa respondesse, até que percebi que ela olhava para mim pelo retrovisor.
— Bom dia, Senhorita Hwang.
— Podemos ir. — Ordena, subindo o vidro de privacidade. Aquele tom de ordem dela é excitante. Lisa passa o cinto por meu corpo com cuidado, seus olhos se prendendo ao modo como o cinto se molda em meu busto. Sinto minha pele arrepiar quando ela desliza os longos e elegantes dedos por minha perna, puxando o sapato fora para colocar o chinelo. Ela faz o mesmo com a outra perna, e afasta os sapatos para o chão antes de passar álcool em gel nas mãos. — Você quer passar protetor agora, ou no Iate?
— Vamos para um Iate?
— Sim. A reunião será em uma ilha. — Explica, puxando uma das garrafas de água de dentro do carro e me oferece. — Beba. Você precisa se hidratar.
Aceito porque realmente estou com sede.
— Que ilha é essa?
Lisa puxa um ipad, que desbloqueia com senha numérica e suas digitais. Ela desliza procurando algumas coisas, então me mostra o mapa.
— Escute, cara mia. Você não pode falar de nenhum modo sobre isso com ninguém. — Lhe dou um olhar que a faz sorrir. — Não me olhe assim. Ninguém vai chegar e te perguntar: Qual a ilha secreta que você foi com a mafiosa Lalisa Ferrero? Não. Vão ir devagar, te levando aos poucos, fazendo perguntas que não parecem tão reveladoras até que você lhes dê informação suficiente. Para ti, não aconteceu nada demais... Mas essas pessoas são treinadas para arrancar informação sem que você perceba. Eu sei que você não é ingênua, mas pode comentar com pessoas que você confia, que podem sem querer ou querendo, expor tais informações. Então, para melhor segurança, é melhor que não diga nada a ninguém.
— Você foi treinada para fazer isso? Para guardar segredos e arrancar informação?
Ela assente.
— Foi parte de meu treinamento, sim.
Sorrio ao lembrar das coisas que consegui tirar dela por um beijo, um rebolado, um pedido manhoso... Gosto de saber que tenho esse tipo de poder sobre ela.
— Entendi... Não se preocupe, vou cuidar para não dizer nada.
Ela assentiu, mostrando-me a tela.
— É uma ilha fora do mapa. Seu nome é Oryn. Lá temos infraestrutura e segurança o suficiente para abrigar a alta cúpula dos Diavolos.
— As reuniões são sempre lá? — Olhando pelo mapa, parece ser uma ilha pequena e remota, não tão longe do continente. Mas sei que deve ser bem grande para abrigar todo esse povo. — Quantas pessoas são?
— Não. O local é aleatoriamente escolhido. Não nos reunimos assim sempre... A alta cúpula se reune a cada cinco anos, e os chefes de departamento e os departamentos em si se reúnem com mais facilidade. A diretoria em si, nos reunimos sem que ninguém saiba. Com os serviçais e seguranças... creio que não passe de cem pessoas. Jisoo te explicou quem faz parte da alta cúpula, certo?
Assenti, arrepios seguindo minhas costas só de lembrar da mulher me olhando daquele jeito enquanto me perturba para decorar todas aquelas coisas.
— Sim... São os Reis, os Cardeais, os Arcebispos e os Bispos, e alguns aviões e peões.
Ela sorriu orgulhosa, passando a mão pela minha coxa exposta.
— Molto bene, preziosa.
trad: Muito bem.
Eu sorri de volta, animada.
— As rainhas fazem parte da alta cúpula? Esqueci de a perguntar isso mais cedo.
— Bem, essa é uma boa pergunta, cara mia. — Ela desligou o ipad, me puxando mais perto de si. — Minha... uh...— Ela tossiu. — Kiara é uma das rainhas. Foi a rainha de meu pai durante muito tempo, mas também tinha poder dentro dos Diavolos. Hoje em dia ela é Hades... Mas a mulher de Nicha, por exemplo, não faz parte.
— Entendi... Hm... Jisoo unnie disse que lá dentro, eu devo chamar vocês pelos apelidos, não pelos nomes... Então eu não posso te chamar de Lisa?
— Me chame do que você quiser, preziosa. — Começa com um de seus carinhos torturantes em minha coxa, que me deixam borbulhante, trêmula, pronta. Se ela pedisse me tomar aqui no carro, eu deixaria... Porra, eu deixaria ela meter quando quisesse. — Essas regras se aplicam aos outros, por motivos de segurança. Mas, desde que você não me chame por Lalisa Ferrero, tudo estará bem. Podes chamar meus irmãos pela inicial, caso queira... apenas não diga seus nomes.
Assenti, puxando sua mão. Eu não tenho muita coisa na bolsa agora, mas uso lenços umedecidos para limpar suas mãos e também álcool em gel. Os nós não estão tão inchados agora, mas tem tonalidades roxas e azuis que se espalharam. Coloquei os band-aids, já que não tenho bandagem aqui, mas quando chegar tenho que lembrá-la de enfaixar e colocar um pouco de gelo. Assim que termino, deixo um beijinho em cada mão, a fazendo sorrir daquele jeito adorável.
— Obrigada, kitten. — Ela alisa minha mão, entrelaçando nossos dedos sem muito jeito por conta do band aid. — Tem algo a mais que queira me perguntar?
— Não consigo pensar em nada agora. Sinceramente, minha mente derreteu um pouco com a mudança de fuso horário, com todos os estudos e etc... — Olhei no relógio. Eram oito e vinte e sete da manhã. — Estou meio cansada.
— Quer dormir um pouco? — perguntou, as sobrancelhas se franzindo em preocupação.
Sorrio, negando.
— Meu corpo está bem, só minha cabeça que está cansada.
Lisa pisca alguns momentos. Me pergunto se ela sabe a carinha fofa que faz ao pensar. O pontinho de seu queixo se franze, seus lábios formam um biquinho e seus olhos se apertam, as bochechas levantam com as sobrancelhas franzidas. Adorável. Então, ela me puxa, deixando que minha cabeça deite em seu peitoral. Seu coração está disparado, e eu seguro sua coxa com uma das mãos, enquanto entrelaço nossos dedos com a outra. Me remexo até fazer-me confortável, e fecho os olhos.
— Obrigada, caramella.
Meu estômago se preenche de borboletas, sendo impossível de segurar meu sorriso. Ela me segura, seu polegar fazendo círculos carinhosos em minha mão. O balançar do carro e o sol esquentando minha pele aos poucos me faz adormecer.
— Kitten? — Escuto sua voz me chamando. — Kitten, você precisa acordar. Nós chegamos.
— Hm... — Murmuro, bocejando. Não sei quanto tempo eu dormi, mas foi gostoso o suficiente para estar um pouco tonta e confusa. — Argh! — Bocejo, levantando os braços para me esticar. — Onde estamos? Que horas são?
— Nove e cinquenta. Vamos?
Assenti. Lisa apertou algum botão que fez escadas saírem de baixo do carro, fazendo degraus para que eu pudesse descer sem pular do veículo alto. Ajeitei meu vestido e coloquei meus óculos no rosto. Assim que saímos, o carro volto ao normal e logo Yeji estava dirigindo para longe. Era um porto particular, com diversos barcos e iates caros estacionados. Me perguntei quantos desses pertencem a Lisa. Nós andamos juntas, sua mão em minha cintura.
— É aquele?
Perguntei apontando para um barco enorme, extremamente bonito alguns metros a nossa frente. Preto e branco, com janelas de vidro bonitas e um piso de madeira clara. Ela sorriu.
— É aquele, principessa.
Puta que pariu. Isso não é um iate, isso é a porra de uma casa. Um barco pelo menos duas vezes maior, no fim do cais, enorme e branco, com "Louis" em dourado nas laterais. Em comparação a lancha ao seu lado, parecia um cruzeiro. Tinha janelas escuras até onde meus olhos alcançavam, com a equipe e seu capitão parados no sol em seus uniformes impecáveis, assim como minha equipe de segurança e um Yoongi parecendo entediado e Soojin com um sorriso largo e sua blusa hawaiana vermelha.
— Buongiorno, Signoras! — Exclamou, puxando a corda de delimitação para que pudéssemos passar. — Aproveitaram o passeio?
— Buongiorno, S-, Sim! — Me segurei, pensando em como não deveria os chamar pelo nome. Lisa afagou minhas costas, um sorriso orgulhoso brilhando em seu rosto. Ninguém ousava me encarar, a equipe do barco olhava para o além, e eu não duvido nada que seja por ordens de Lalisa. Apenas Soojin, Yuqi e Yoongi me cumprimentaram com um acenar de cabeça. — Que iate lindo!
— Gostou, meu bem? — Assenti, sorrindo. — Que bom. Já podemos ir, certo? Donde il viola si trova?
trad: Onde está a violeta?
— Lei è lì. Possiamo andare, sì.
trad: Ela está lá dentro. Podemos ir, sim.
Eu entendi um pouco mais dessa vez. Estavam falando de Jisoo. Assim que chegamos mais perto, a equipe de apresentou rapidamente com seus nomes e postos, e o capitão entrou no barco. Logo depois nós entramos, e então a equipe. Por dentro parecia ainda maior, com Lisa me levando até uma sala com abertura a proa, onde Jisoo estava sentada com um ipad na mão e um cigarro eletrônico nos lábios. Este tinha essência de lavanda, o que deixa menos nojento, mas ainda me deixa desconfortável.
— Finalmente. — Disse, acenando para nós. Para minha surpresa, ela não estava trabalhando. Havia um aplicativo de desenho aberto, e ela desenhava uma mulher com os lábios borrados de batom. Ela bloqueou a tela antes que eu pudesse perceber quem era. — Possiamo tornare a scuola?
trad: Podemos voltar aos estudos?
Percebi que nessa viagem me tornarei fluente em italiano pela força do ódio. Eu não estava nem um pouco afim realmente, mas assenti.
— Non essere troppo duro con la mia ragazza, viola.
trad: Não seja muito dura com minha garota.
Jisoo revirou os olhos e me puxou. Ficamos revisando mais coisas até que nos trouxeram café e alguns biscoitos, que eu devorei pra sair da vista daquela maluca. Não quero nunca mais. Toda vez que tiver alguma dúvida vou perguntar pra bonequinha, porque a Jisoo unnie vai me prender uma eternidade. Eu até virei de lado para ela não me encarar e ver que estava só fingindo mastigar para escapar de suas aulas. Porém, um flash de luz atiça minha curiosidade. Jisoo está murmurando algo, com seu expresso, desenhando novamente. O batom roxo borrado em sua boca, a pele levemente bronzeada e com pequenas sardas...
É a Roseanne!
— La curiosité a tué le chat, tu sais, Ruby?
trad: A curiosidade matou o gato, sabia, Ruby?
Me sinto corar, o rosto quente ao ter sido pega. Jisoo colore o cabelo com atenção e não deixo de perceber a roupa que minha amiga usa no desenho. É a mesma da noite de minha festa. A vagabunda deu uns beijos na Jisoo unnie, e não me disse nada?
— Désole, unnie.
trad: Desculpe, unnie.
Ela mexeu a mão como "tanto faz" com aquela cara séria e apoiou o queixo com a mão, detalhando as luzes. Foi em um quarto? A safada da Rosé...
— Demandez ce que vous voulez demander, chaton curieux.
trad: Pergunte o que quer perguntar, gatinha curiosa.
— Toi et elle... Vous...
trad: Você e ela... Vocês...
— Nos beijamos em sua festa? Sim. — Voltou ao coreano, lambendo os lábios como se pudesse reviver a cena. O desenho era tão imensamente repleto de detalhes que fez meu coração errar as batidas. Isso não era normal, era... Era alguém apaixonado. Alguém apaixonado por minha melhor amiga. Para falar a verdade, Rosie e Jimin nunca falaram muito sobre família em geral. Eles citaram seu pai algumas vezes, mas a maioria das vezes era sua mãe, e às vezes, os irmãos. Penso que vou entender mais sobre isso agora, ao conhecer a parte mafiosa dos Park. Mas também me pergunto se Jisoo unnie conhece Rosie a mais tempo do que eu pensava antes. — Consigo ver suas engrenagens trabalhando. Pergunte de uma vez.
— A quanto tempo você conhece a Rosie, unnie?
— Há catorze anos. — Ela escutou meu ofego surpreso, e deu um sorrisinho de lado. — Eu a conheci em janeiro de 2006. Foi em uma viagem para Londres, eu me lembro bem... Era a primeira vez que ela via a neve. Eu tentei chamar sua atenção de todos os jeitos mais errados, jogando bolas de neve em seu rosto e enfiando o meu na neve para fazê-la rir. Ela sempre teve aquela beleza e fofura que esquenta suas bochechas... E eu nunca realmente gostei de ninguém até ela. Mas... naquele dia... — Engoliu em seco. — Não sei o que passou na porra da cabeça dos nossos pais em trazer pessoas que mal conheciam perto da porra dos filhos deles. — Vi sua mandíbula se apertar com ódio. Jisoo unnie sempre foi séria perto de mim, mas Lisa falava sobre ela de uma maneira tão confortável que imaginei alguém engraçado e charmoso fora do trabalho. Não a imaginava sendo dominada por suas emoções assim. — Yoo Seungho e Sayori Hirai haviam acabado de serem assassinados e não passou pela cabeça deles que eram os fodidos da Yakuza eram os responsáveis por isso.
— Mas... eu pensei que a Yakuza fosse uma aliada...
— A Yakuza é enorme. Para comandar um país inteiro, imagina o quão enorme tem que ser? Naquela época ainda não tínhamos o controle de tudo. Não havíamos nem tocado na porra da China direito... E os fodidos não estavam gostando da proximidade de Hirai Shin conosco. Ainda mais que Sayori estava grávida de Seungho... então os mataram. Isso apenas uniu mais os irmãos que sobraram. Shin e Jeonghan tornaram-se unha e carne após isso. É por isso que Jeongyeon e Momo são tão próximas, hoje em dia. Enfim... — Ela balançou a cabeça, os dedos apertados no cabelo escuro. — Eles apareceram de repente em nossas férias. Nicha havia acabado de fazer dezessete anos, e já era a favorita para Hades. Contudo, nada disso importava para eles. Para eles, Nicha era uma garota... uma garota de vestido apertado e corpo de ninfeta.
— Não...
Engoli a vontade de vomitar, sentindo meu corpo tremer. Não. Não é possível...
— Sim. Eles quase conseguiram. Eram cinco, e mesmo bêbados, ainda eram homens enormes e muito mais experientes em luta do que ela era. Mas, por sorte, Santini e ela são grudados como carrapatos. Ele logo sentiu a falta da irmã e estourou a cabeça de dois deles. Nicha conseguiu pegar a arma e se soltar... Mas eu nunca tinha visto nada como aquilo. Ela estava coberta de sangue da cabeça aos pés, seu cabelo loiro estava pegajoso, entranhas por toda sua face e tronco, seu vestido rasgado e as marcas em seus braços e pernas... — Sua face torceu, um incômodo tão grande que realmente pensei que fossemos vomitar juntas. Jisoo parecia reviver aquilo. O pânico preencheu seus olhos ao descrever a cena. Ela tinha o que, treze, catorze anos nessa época? Meu Deus... — Foi tenebroso. Santini espancou um dos caras tanto, mas tanto, que seu rosto ficou irreconhecível. Ele foi o único sobrevivente. Mas todos ouvimos o barulho... e Lisa e Vito estavam lá, quando cheguei. Segurei Chaeyoung com meus braços. — Ela olhava para suas mãos, os olhos cheios de lágrimas. Meu Deus... — Jimin escorregou no sangue, ficou sujo, e eu não sabia se era ele ou ela quem estava gritando. Depois disso... Depois disso ela nunca mais foi em nenhuma viagem e a família deles se afastou das atividades da Máfia. Os Park passaram a ser representados somente pela parte da Rainha de paus permaneceu.
— Você... Você gosta bastante da Rosie, não é, Unnie? — Perguntei após alguns momentos de silêncio. — Você deixou seu cachorro com ela...
— Eu a amo. — Jisoo sorriu, saindo do transe. — Mas não a diga isso, ou a irá assustar. Esperei catorze anos para uma chance... Não irei admitir que você estrague as coisas para mim agora. Não agora que estou tão perto.
— A Rosie é muito difícil de se conquistar. Você sabe disso, né? Ela é uma romântica incurável, mas tem quase nunca vai a encontros porque tem medo de dar seu coração a alguém de novo.
— Eu sei. — Jisoo fazia toques finais em seu desenho, tão concentrada, mas ainda prestava atenção no que eu falo. — Taila Ryder. Foi ela, sim? O primeiro amor de Roseanne. Foi ela quem teve seu primeiro beijo, sua primeira vez, seu coração... E conseguiu estragar tudo. Tsc. Idiota.
— Não deveria estar comemorando? Faria as coisas melhores para você.
Jisoo virou-se para mim, com um sorriso lindo, mas um tanto sinistro.
— Você realmente acha que eu seria parada por uma rival? Ah, cara mia... esqueço-me que és tão ingênua. Você não faz a menor ideia, não é? — Engoli um punhado de saliva. Nunca mais escutamos de Taila depois que ela terminou com Rosé sem pretextos perto de uma apresentação importante na empresa em que éramos trainees. Não demorou muito tempo para os sites de fofoca anunciarem que ela havia sido escolhida para um papel importante em Hollywood. Ela quebrou o coraçãozinho de minha amiga e eu não dei a mínima quando nunca mais vi sua cara por aí, mas agora estou achando um tanto estranho uma atriz que estava crescendo no ramo não envolvida em nenhum escândalo sumir repentinamente. — Eu iria apenas tirá-la do caminho e ganhar o coração de minha fiore. E é o que eu pretendo fazer.
Ela sorriu, percebendo que havia terminado o desenho. Assinou e saiu da aba, mostrando outras dezenas de desenhos de minha melhor amiga. Cara... tipo... ela é meio obcecada pela Rosé... Mano...
— Preziosa, venha aqui um minuto. — Lisa me chamou, saindo de qualquer cômodo que estava antes. Ela estendeu a mão para mim, me puxando até a proa. Parecia conturbada, me segurava com força para me mostrar algo que eu não entendia. — Está vendo?
Perto de algumas ilhas repletas de árvores e algumas casas enormes e chiques, havia uma daquelas enormes boias que eles colocam no oceano com uma placa.
ATENÇÃO! Esse ponto demarca terreno particular com vigilância armada. Se estiver perdido, o porto mais perto fica a uma hora de distância ao Norte. Não siga em frente sob nenhuma hipótese ou será considerado um invasor hostil.
Havia uma tradução em espanhol e mandarim abaixo, e realmente haviam seguranças, pois pequenos barcos a motor chegaram perto de nós, mas apenas se afastaram ao perceber qual era o barco. Ao longe, eu conseguia ver a sombra da ilha, alta e intimidadora. Lisa me apertava, e seu calor era bem vindo mesmo com o sol nos castigando. Ela me abraçou durante alguns momentos, sem dizer nada. A sentia tão vulnerável atrás de mim que o vento parecia que iria a levar longe. Não entendi, mas eu mesma estava tão absorta na conversa com Jisoo unnie que não estava em posição de tentar desvendar seu súbito nervosismo.
— Jisoo unnie me contou sobre o dia em que conheceu Rosie. — Falei, após alguns minutos. Estávamos mais perto agora, e eu conseguia ver outros barcos, jet-ski e duas lanchas estacionadas no cais. — Sobre ela gostar da Rosie... sobre o que aconteceu com Nicha... e as pessoas que morreram...
— Hm. — Ela murmurou. — Contou?
— Sim... — Eu lambi os lábios. — Eu não imaginei que isso... podia acontecer com pessoas como vocês...
— Infelizmente, há abusadores demais em nosso ramo. Eu continuo os matando, mas são como uma praga... Mato dois e nascem três. — Sibilou, perdida. — Todas as mulheres na máfia sofreram com isso pelo menos uma vez.
— Mesmo? Todas? — Ela murmurou uma afirmação. Eu de repente me lembro de sua medusa na coxa. Meu coração aperta e aquele mal estar retorna. — Até você?
Ela me aperta com força. Tanta força que dói um pouco.
— Até eu, Jennie Kim. — Ela suspirou. — Não se preocupe, se Jisoo quebrar o coração de minha prima, eu a farei comer o seu como jantar. Confie em mim... Jisoo nunca a machucaria.
— Mas, machucaria as pessoas ao seu redor?
— Por ela? — Fiz um som de afirmação. Lalisa me puxou, virando-me para si. — Kitten, você não sabe o que eu faria por você? Nós somos implacáveis até mesmo no amor. Qualquer pessoa que somente piscar para você errado, eu mataria. E Jisoo também faria isso por Roseanne. É o único motivo pelo qual eu permiti que a corteje. Ela cuidará bem de minha prima.
Que tipo de demonstração de afeto é essa? Eu deveria me sentir segura? Porra, Deus me ajude, mas eu me sinto segura. Eu só não sei se isso é saudável... Ou bom. As pessoas sentem desejo por mim o tempo todo, é parte da minha carreira. Sempre terei olhos em mim, e às vezes eles irão me fazer desconfortável, mas Lisa não pode matar cada fã ou pessoa que faça isso. Faz parte da minha carreira, infelizmente. Num mundo perfeito, as pessoas respeitariam meu espaço pessoal e vida privada, mas essa indústria de merda adoece cada dia mais. Ainda assim, eu amo o que faço. Controverso, não? Às vezes sinto que não saberia viver sem os palcos. Às vezes não me sinto viva sem eles. Esse tipo de sentimento, essa euforia, sentir-se amado e reconhecido... É tão viciante como os calmantes que vivia tomando. É por isso que eu entendo Tzuyu. A entendo tanto que sinto medo. Pensar em quem essa indústria destruiu, modelou e criou, me congela os ossos.
Quem é Jennie Ruby Kim quando não é Jennie Kim?
A apertei ainda mais, colocando suas mãos no meu tronco como um escudo de proteção. Seu cheiro se mistura ao do Oceano e posso sentir seu calor levar para longe, aos poucos, a ansiedade que me arrepia.
Ficamos assim por minutos, até que estivéssemos perto o suficiente do cais para que o iate diminuísse sua velocidade. Me virei para a cabine do capitão, estudando o máximo que podia com os vidros tão escuros.
— Desculpe, kitten. Eu nem mesmo a mostrei o iate por dentro, não é? — Sua voz rouca no meu ouvido me arrepiou daquele jeito. Sempre passava, mas eu também sempre me lembrava do quanto eu a desejo. Engoli em seco, assentindo. — Assim que tiver tempo, vou te mostrar. Posso te ensinar a pilotar lancha também... O que acha, mia ragazza?
Desgraçada. Não é possível que ela não saiba o que faz comigo quando me segura desse jeito, murmurando com essa voz e esse sotaque. Vagabunda.
— Uhum. — Murmurei.
Logo que estacionamos, Lisa me ajudou a descer junto com os seguranças, Jisoo, Yoongi e Soojin. O iate se afastou para ser estacionado propriamente. Era uma doca larga e alta de madeira, com o barulho das ondas batendo embaixo e musgo nas vigas de sustentação.
— A partir daqui, o jogo começa, Rainha de Copas. — Jisoo sussurrou ao meu lado.
Engoli um punhado de saliva, nervosa, enquanto Lisa apoiava sua mão em minha cintura. Os seguranças andavam ao nosso redor, mas os da frente nem mesmo nos olhavam atentos. Lisa me ajudou a subir as escadas com calma, eram muitas e eu já estava cansada na metade. Ao chegarmos no topo, haviam empregados de blusas pretas e calças brancas nos esperando em carrinhos estilo golfe. Esses se curvaram imediatamente ao que nos viram.
— Buongiorno, Signoras!
— Buongiorno, ragazzi.
trad: Bom dia, rapazes.
Lalisa respondeu. Ela me ajudou a subir—Não que eu precisasse de ajuda para subir na porra de um carrinho de golfe, mas eu gostei da atenção—e sentou-se ao meu lado, Yoongi no banco de trás. Yeji se sentou ao lado do motorista, e os outros foram nos outros dois carrinhos. Seguimos por um caminho asfaltado, com árvores tapando o sol. Olhei para baixo e vi as construções na praia e na montanha, casas que imagino serem para os empregados ou depósitos. Foram alguns minutos rodando até que eu pudesse ver a casa ao longe. "Casa" é um eufemismo. Aquilo é a porra de um castelo. Nós rodamos ao seu redor, passando por uma escada de pedra imensa, dando a volta na fachada do castelo para entrar na lateral com os carrinhos. Na torre imensa à minha frente, era possível ver guardas monitorando a floresta, e nas menores os vitrais eram escuros demais para saber o que ocorria. O carrinho passou rápido, nos parando em frente ao castelo onde os seguranças nos esperavam. Assumi que Jisoo já estivesse lá dentro. Não tive tempo de admirar a estrutura de pedra cor de creme ou os detalhes de bronze, os dragões esculpidos ou o telhado que parecia ter sido reformado recentemente. Lisa me ajudou a sair de novo, e me segurou pela cintura. O vento passava por nós, levantando meu vestido. Eu o segurei, e Lisa também, por instinto. Os arbustos cercando eram tão bonitos quando o pequeno jardim circular na frente do castelo, com flores amarelas formando um bonito sol. Tinham mais janelas do que eu consigo contar, todas em formatos pontiagudos com decorações na pedra.
— Isso é seu?
— Não. — Lisa sorria, fazendo graça de meu espanto. — Faz parte dos imóveis dos Park. Contudo, é administrada por aliados.
Sussurrou em meu ouvido. Eu provavelmente não entenderia quaisquer códigos que ela usasse para explicar. Lisa me auxiliou para dentro. O lobby de entrada era um tanto mais modernizado, uma enorme sala com empregados andando e guardas. Jisoo havia me dito que o pessoal de segurança foi escolhido por Jeongyeon e Momo, por isso eu conhecia alguns dos rostos. Havia também, duas mulheres e um homem atrás de um balcão, como se fosse um hotel.
— Signora Ferrero! — Eles disseram, curvando-se. — Lisa nem mesmo se importou, me levando consigo. A mulher me olhou de cima a baixo, avaliando-me, enquanto o rapaz digitava algo que imagino ser algum tipo de arquivo sobre os quartos. Olharam para o anel em meu dedo, que fiz questão de mostrar de forma discreta, entrelaçando minha mão com a dela. A mulher arregalou os olhos, não tão discretamente avisando seus colegas de quem eu era. — Não sabíamos que... Felicidades!
Eu sorri em retorno. Eles me conheciam também, por seus rostos. Mas não ousaram olhar-me novamente, abaixando suas cabeças.
— As chaves. — Soojin disse, passando por trás do balcão para fazer algo que meus olhos não alcançam. Estou ocupada demais olhando a perfeição de pé direito alto, com escadas imensas e decorações belíssimas. Haviam sofás, tapetes e poltronas, uma lareira e duas televisões enormes passando programas diferentes. O homem deixou três em cima da mesa, mas Lisa não pegou nenhuma. Em vez disso, Soojin deu uma para Jiyong e outra para Yeji e deixou uma consigo. — Obrigada.
— As malas já estão sendo deixadas nos quartos. Mas é preciso que a Senhora abra o quarto para que possam entrar. — O recepcionista disse. — O almoço será servido meio dia. Tenham um bom dia!
Andamos até o elevador panorâmico, passando em por alguns andares até chegarmos ao nosso. A todo momento, Yoongi, Soojin e Yuqi nos acompanham. Seria um pouco incômodo e difícil para mim se já não estivesse acostumada com seguranças atrás de mim o tempo inteiro. De todos os shows, todos os eventos, todos os lugares, acho que o mais perigoso que já estive é esse. Sinto minha pele suar com nervosismo quando Lalisa me puxa pelo corredor extenso, com espelhos grandes e ovais nas pontas. Havia mesas decorativas com plantas e outras coisas, um piso tão limpo que refletia minha pele quando passávamos. No fim do corredor, empregados seguravam as malas em frente ao quarto, mas cadê a minha? Minha bonequinha passou na frente, e os seguranças imediatamente fizeram um domo ao meu redor. Lisa passou sua digital e a porta foi aberta. Eles deixaram as malas na porta e saíram rapidamente. Assim que saíram de minha vista, os seguranças voltaram a me deixar respirar longe de seus ternos pretos e ombros altos. Soojin passou sua digital em seu quarto e entrou com Yoongi ali. Não vi muito, apenas vultos antes que a porta se fechasse. Já imaginava que iria dividir um quarto com ela, mas a ideia ainda esquenta meu estômago.
— A sua também está cadastrada. — Disse, me tirando dos pensamentos. O papel de parede era verde escuro, com detalhes dourados. Na parede direita uma mesinha de madeira com um jarro de vidro em cima, repleto de lírios e um espelho oval com detalhes de cristal ao redor. Tudo parecia muito caro, que se quebraria com muita facilidade. Na parede esquerda havia três portas bonitas e claras. Tínhamos uma varanda grande e diversas janelas de vidro, essas cobertas com cortinas verdes com o acabamento dourado. Em tudo havia detalhes. É informação demais e só consigo olhar para a porra do candelabro que ilumina o cômodo inteiro, no chão com desenhos, nos sofás e poltronas, nas colunas desenhadas com tinta dourada que poderia muito bem ser ouro, no acabamento do teto, na perfeição que era nossa cama imensa e as folhas desenhadas na parede atrás dela. Tudo, tudo era muito, demais, como se eu fosse algum tipo de realeza em um castelo desses, com um quarto desses. — Preziosa? Está bem?
Assenti, piscando um pouco.
— Isso é só...
— Demasiado? — respondi com um som nasal. Ela veio e me abraçou, beijando minhas têmporas. — Está usando essa cabecinha demais hoje, mia bella. Apenas aproveite, sim?
— Não sei como você consegue se acostumar com isso. Tem tantas coisas...
— Quando eu cheguei na casa do meu pai, senti-me mais ou menos assim. Eram diversas coisas... A casa dele na Itália, você... Uau. No primeiro mês sofri de muita enxaqueca pelo bombardeio de informações. Acredito que com o tempo, você se acostuma. Eu até gosto de alguns desses luxos. A privacidade, banheiras de hidromassagem, comida gostosa e não ter que se preocupar com coisas corriqueiras. Mas isso, esse exagero, não. Isso tudo... é um pouco demais. E não é exatamente seguro de se manter sempre. Confio em dormir e te deixar dormir aqui pois pessoas de minha confiança fizeram uma varredura extensa por todo o local antes de trancarem. Somente eu e você podemos abri-lo, e Yoongi no quarto de pânico. Não há escutas, câmeras ou qualquer tipo de vigilância aqui dentro. Lá fora, em outros lugares, é impossível dizer... Porque até mesmo as pessoas podem ser traidores.
— Como você consegue viver assim? — Perguntei, genuinamente chocada. Isso não é nada como nós pensamos nos filmes... — Você... você pode ser traída pelas pessoas que confia. Podem estar te vigiando agora e querendo...
— Bem, há um número bem seleto de pessoas que sabem quem eu sou e que existo. Agora, graças aos Draghi, tive que assumir outra persona porém... É muito, muito difícil me achar. Sobre ser traído por quem eu confio, todos nós estamos sujeitos a isso. Eu estaria bem mais relaxada nessa reunião se não fosse... — Ela lambe os lábios, me puxando mais perto. — Há um traidor entre nós. Essa pessoa não é perigosa a ponto de simplesmente nos matar, não, mas de causar dano a nossos negócios. Eu tenho certeza de que essa pessoa está aqui, Kitten, e por isso Jisoo tem sido tão dura com você. Eles a verão como minha maior fraqueza. Como não te conhecem, irão assumir que você é ingênua e não saberá se defender das técnicas deles. Nem todos farão isso por mal, alguns apenas querem medir se és boa o suficiente e coisas superficiais desse tipo, estarão cuidando de sua própria segurança. O problema é...
— Eu não vou saber quem é o traidor.
Entendi, engolindo um punhado de saliva. Caralho. Caralho, porra. Aonde eu fui amarrar meu bode?
— Isso mesmo, Thī̀rạk. Você é tão esperta. — Deslizou os lábios até os meus, finalmente beijando-me.
Eu acredito que ela tenha feito isso para me fazer relaxar. E funcionou. Sua boca contra a minha me fez esquecer minhas ansiedades e preocupações, focando somente em seus lábios macios contra os meus. Sua boca é tão perfeita. Tão fodidamente perfeita que me derreto inteira, impulsionando meu corpo contra o dela, louca por mais fricção e mais de sua língua lambendo meus lábios e sugando. Arfei, gemendo quando ela arrastou os dentes em meu lábio inferior, arranhando minha cintura. Estive quente e pronta para ela desde ontem e a espera está me matando. Não pode ser saudável, ser tão provocada e excitada assim por tanto tempo. Meu pobre coração irá à falência se não conseguir mais dela.
— Hmm... J-jen. — Ela murmurou quando ataquei seu pescoço, fascinada pelo pomo de adão aparente em sua pele caramelo. — Jen, uh...
Ela gemeu, me puxando mais quando achei aqueles lugares que a faziam tremer. Lisa é muito sensível no pescoço e eu adoro isso. Adoro a fazer derreter também. Caminhamos para trás até que caí na cama, ela por cima com os lábios vermelhos e inchados e aquele olhar escuro de predador. Abri mais as pernas para lhe dar espaço e a puxei, nossas pernas entrelaçadas. Lalisa me beijou de novo. Nós duas gememos ao que nossas línguas se misturaram, o gosto das frutas silvestres que ela come como petisco e o suco de laranja que tomei no iate. Mal consigo pensar quando sua coxa pressiona contra minha boceta e ela começa a moer o quadril contra a minha perna. É tão quente, ela é tão gostosa, me cobre por inteiro com seu corpo. Eu amo isso. Amo sentir sua mão grande em minha cintura, subindo e descendo pela lateral e arrepiando tudo por lá. Ela é toda feita de grunhidos e choros engolidos quando aperto os músculos da coxa, forçando sua cintura contra a minha perna. Lisa se afasta para me olhar com aqueles olhos.
Porra, puta que pariu, caralho.
Ela é linda. O cabelo loiro com um toque acobreado escorrendo pelas costas, a franja cobrindo levemente os olhos verdes e aquela carinha de boneca. Como alguém pode ser tão bonita? Aquele narizinho, a boca inchada por nossos beijos e a pele que parece reluzir com a luz que entra. Lisa parece um anjo. Ela é... Porra. Acho que estou gostando um pouco demais de você. Muito mais do que eu deveria. Ainda mais quando ela me olha assim...
— Minha linda bonequinha — Digo, a puxando para mim. Ela deita sobre mim, colocando seu peso com cuidado enquanto beija meu pescoço e eu arranho sua barriga. — Você é tão linda. Parece um anjo...
— Um anjo caído, então.
Murmura, sua mão subindo, arrastando meu vestido junto. Mordo meu lábio, as pernas tremendo para se abrirem a ela. Estou ensopada. Ela sobe a mão para entrelaçar nossos dedos, beijando cada pedaço de pele que encontra para me torturar com seus lábios e sua mão.
— Sim. — Gemi em seu ouvido. — Meu anjo... Oh. Lis-Oh.
Ela agarrou minha coxa, a puxando o mais longe que conseguia para afagar meu clitóris com um toque de pluma, o suficiente para me deixar hipersensível. Ela me olhou daquele jeito, subindo seus beijos para minha boca novamente enquanto voltava a rebolar. Com ela no meio das minhas pernas, era bom, muito bom, mas eu precisava de mais. Mais contato, mais pressão, mais dela comigo. Seu cheiro era intoxicante, inebriante, não havia espaço para pensar em mais nada. Apague isso. Não havia espaço para pensar, ponto, quando ela me beija assim e segura meu peito com propriedade.
— Kitten, kitten. — Gemeu. — Eu amo seus peitos. Porra, como você consegue ser tão perfeita, sua vagabunda? Ah, Thī̀rạk...
Ela geme em uma língua que eu não conheço, dizendo coisas que eu não sei mas que são tão excitantes que me fazem gemer junto, me esfregar nela ainda mais. Agarrei aquela bunda gostosa, a puxando para mim. Eu quero estar em todos os lugares, tocar todos os lugares ao mesmo tempo. São muitos sentimentos que eu tenho por ela nesse momento e é difícil saber o que acontece por trás da minha mente, mas estar com ela é o suficiente. Quero mais, quero sentir mais, quero mais do seu cheiro, mais da sua pele, mais do seu rosto e corpo perfeito e dos seus beijos. Porra, Lisa. Eu sabia. Sabia que a gente se dar bem demais assim ia ser ruim pra mim...
— Lis... Hon, mais...
— Mais, Thī̀rạk?
— Uhum...
— Você terá tudo, preziosa. Avrà tutto di me.
trad: terá tudo de mim.
Eu não vou aguentar. Eu preciso dela, preciso de alguma coisa, qualquer coisa só...
Toc toc toc.
Não. Lisa continuou rebolando contra mim, seus dedos passeando por minha barriga.
Não. A puxei mais forte, apertando sua bunda.
Toc toc toc.
Porra.
Lalisa saiu de cima de mim, rosnando alguma coisa em italiano.
— Desculpe, cara mia. — Beijou-me a testa antes de ir. Eu queria a prender, brigar com ela e a obrigar a transar comigo, mas não pude. Isso provavelmente é importante ou ela não teria ido. Ela olha por uma câmera e então abre a porta. — Ma che cazzo Santini? Cosa vuoi?
trad: Que porra, Santini? O que você quer?
Santini respondeu alguma coisa que eu não entendi. E então Lisa veio até mim. Com o cabelo bagunçado, a boca inchada e pescoço todo atacado por mim. Delícia. Eu quero a prender nesse colchão e trepar com ela até que esse lençol estar mais molhado do que eu.
— Me diga que não é nada demais. Diga que vai me foder agora... — Fiz um biquinho na esperança de que ela ficasse comigo.
— Infelizmente não, Thī̀rạk. — Ela diz, me puxando. Esse apelido é novo e não faço a menor ideia do que significa. — Temos que ir. Vou te apresentar a minha família antes do almoço.
Engoli em seco. Ai papai é agora o que eu faço. Uma súbita vontade de fingir desmaio ou sair correndo me preenche, mas sei que não há escolha agora. Respirei fundo, e me levantei.
— Eu posso... Posso me ajeitar rapidinho? — Sei que devo estar com uma cara de quem acabou de ser atropelada por um cachorro a 200 km por hora e estou tão grudenta aqui embaixo que é incômodo. Acredito que Lisa deixou algumas marcas vermelhas em meu pescoço que é melhor tapar, também. — Você também deveria. Tá uma delícia toda vermelha e inchada pra mim, mas ninguém mais deve te ver assim.
Ela arqueou uma sobrancelha, sorrindo.
— Vá na frente, preziosa. Se quiser trocar de roupa, a última porta é o closet e a segunda é o toalete. — Ergo uma sobrancelha. Essa roupa não é a mais chique com certeza, mas você tá querendo mandar no que eu visto? — Eu também vou colocar algo mais formal... Acredito que alguns dos convidados já estão aqui também.
Então me lembrei. Sofia Rossi, essa mocreia ridícula.
— Ainda não desfiz a mala. Tem algo para mim ali? — Lisa assente. — Como?
— Yeji, Ryujin e Hyunjin chegaram antes de nós e mandei que comprassem para você e arrumassem nossas coisas no quarto. Já está tudo por aqui.
Assenti.
— O que você me indica a vestir?
— Bom, será uma apresentação breve e almoço... Após isso você terá a tarde livre para explorar a casa como bem sei que quer, enquanto eu faço uma rápida reunião com meus irmãos. Sua equipe ficará com você... e mais tarde teremos a abertura com uma ópera e jantar para comemorar. Enviarei uma maquiadora e cabeleireira para você, mas tudo fica a seu critério, preziosa. Você pode vestir qualquer coisa que quiser.
— Até mesmo um vestido bem curtinho? — Pergunto, para provocar.
Ela virou a cabeça, tocando a bochecha com a língua como sempre fazia ao ser provocada, a maldita. Fica tão atraente fazendo isso...
— O que você quiser. Vou quebrar a mandíbula de qualquer um que olhar para minha garota. E aposto que serão muitas pessoas... Então pense nos que pagarão o preço, cara mia.
— Eu sou linda, Lalisa. É impossível não me olhar quando eu passo.
— Sim, eu concordo. — Me puxou pela nuca, beijando e mordendo meus lábios. — Mas ainda é toda minha. Não irei dividir o que é meu.
— Hmm... É bom que você saiba. Eu também não vou dividir você, Lalisa. Você é a minha bonequinha. Mia bambolina. Ma poupée. Estamos entendidas?
— Ma dame, de ma volonté est reine.
trad: Minha senhora, de minha vontade é rainha.
Sorri. Então é isso que ela sempre diz em italiano? Gosto disso. Lhe dou um beijo como recompensa, e ela sorri, estapeando minha bunda.
— Vá se arrumar, kitten. Ou vamos nos atrasar e será culpa sua.
����
A ideia de fazer uma franja não sai da minha cabeça, mas como sempre, estou perfeita quando me olho no espelho. Tirei uma ou outra foto, sabendo que não poderia postar, mas sai do banheiro após terminar minha maquiagem simples. Pra falar a verdade, eu tô tão nervosa que sinto os joelhos tremerem ao entrar no closet, onde Lalisa está.
Porra de mulher gostosa do caralho.
Acho que nunca senti uma atração tão forte por uma mulher antes, ou qualquer pessoa em geral. Ela é linda, e está tão linda na saia longa preta e rodada, com essa blusa branca— que apesar das mangas longas, parece não esquentar muito— os lindos fios loiros penteados em um jeito rebelde ao mesmo que elegante e uma bolsa presa em sua cintura que me faz perder o ar. Meus divertidamente estão todos coisados ao que ela empina a bunda gostosa para passar um hidratante labial.
ME COME, DEIXA EU COMER VOCÊ POR FAVORRR!
A minha eu interior grita no cérebro.
— Ah, É, Hm... Li-Lisa? — Consigo falar igual uma debilóide. Ela se vira para mim com um sorriso no rosto, ajeitando o relógio da Bulgari em seu braço. A forma como os tecidos se moldam a sua curva me deixa tonta, os músculos na medida certa dançando com o andrógino, o rostinho de boneca enfeitado por argolas de ouro é perfeito. Acho que nunca a vi de saia até hoje, mas fica perfeito nela. Linda. — Eu não sabia qual seria o piso então... o sapato, eu ainda não escolhi.
— Nossa, kitten... Você está tão bonita... — Sinto meu coração disparar quando chego perto o suficiente para ver sua pupila dilatada. Estou usando um vestido azul bem clarinho, quase branco, de corpete apertado moldando a cintura e saia longa rodada. O caimento é perfeito e parece que foi feito para mim. Meu cabelo cai para trás, liso. Minha clavícula está aparente e eu sei que ela ama isso, ama poder olhar para o discreto decote que tenho. Sorrio. — Está perfeita. Você pode ir com um salto ou sapatos mais confortáveis, será em um salão aberto. Desculpe, eu deveria ter lhe dito antes.
— Tudo bem. — Murmuro, minha visão descendo para seu pescoço longo e bonito. Ficou uma pequena marca de meu ataque ao seu pomo de adão. Estamos combinando sem nem termos planejado isso. Percebo sua boca se mexendo. — O que?
— Você estava me despindo com os olhos, kitten. — Ela segura meu queixo, seus dedos acariciando meu rosto. Sorrio, e ela sorri também. — Eu tenho algo para você. Quer ver?
Assenti, a seguindo até as gavetas que abrem com a senha numérica, que ela me deixa olhar sem nenhum problema. Me pergunto o que faria se fosse outra pessoa vendo. Logo me arrependo disso, porque sinto uma raiva imensa ao pensar em outra pessoa na porra desse quarto com ela, usando os presentes dela e sendo chamada de kitten e preziosa.
Respira fundo, não dá uma de louca agora.
— Aqui, Thī̀rạk. — abre a caixa preta, mostrando-me as joias. — O que achou? — Eram brincos e joias de piercing de jade e diamantes. Sorri, a olhando. Ela ficou um pouco vermelha e tratou de explicar. — Por causa dos seus piercings... eu sei que você gosta muito deles, então... e para combinar, a gargantilha.
Abriu ainda outra caixa, mostrando-me a gargantilha de veludo preto que se prendia a pequenas esmeraldas em forma de Octaedro e então a dois dragões de prata de olhos vermelhos que seguravam uma enorme esmeralda em forma de lágrima. Era muito bonito, e parecia ser muito caro. Me pergunto como combinou tudo tão bem. Porra, isso deve ter sido o olho da cara. Mas, para ela... Não faço ideia da extensão de sua riqueza, mas só pela networth de sua empresa, assumo que seja no mínimo bilionária.
— Porra, Lisa! Isso é lindo, mas... — Eu quero muito aceitar, mas tudo isso... Engoli em seco, tocando, com medo de quebrar. — É muito.
— Não é nada. Venha aqui, cara mia. — Me vira de costas e me faz segurar meu cabelo para que coloque a gargantilha em mim. Com cuidado ela põe em mim. Essa coisa é pesada, mas tão, tão bonita... Seria muito fútil de mim gostar disso? Eu amo moda e não é segredo. Essa combinação foi perfeita. Meu reflexo no espelho diz isso, mas não quero que ela me ache uma interesseira. — Mandei que fizessem especialmente para você. Ver-te assim, usando minha cor e meu símbolo... Me enche de orgulho. Está tão bela, minha querida.
— Isso deve ter sido muito caro, charming. Mandou fazer pra mim, mesmo?
Ajeito o cabelo, puxando para um ombro para trocar os piercings.
— É claro, principessa. — Diz, ajeitando meu vestido. — Só não é precioso como você. Niente sarà mai. Você é perfeita, minha preziosa.
trad: Nada nunca será.
Toquei o colar, virando-me para beijá-la nos lábios. Foi apenas um selinho longo e molhado enquanto segurava seu braço, apenas para demonstrar com o gesto aquilo que não conseguia com minhas palavras. Seus olhos brilham ao olhar para mim, um grande e largo sorriso em sua boca gostosa.
— Ah, preziosa... As coisas que você me faz sentir, nunca entenderei. És capaz de moldar minhas emoções com um olhar teu. Me fascina.
Meu coração dispara até a boca, me segurando em seus braços. Não quero dizer pra ela que também é assim comigo. Eu não sei o que vem acontecendo comigo, mas é culpa dela e tudo por ela. Lalisa surgiu na minha vida do nada, e do nada estava tomando tudo como se já fosse seu por direito. Como que eu vou dizer isso para ela? Como que eu devo explicar as coisas que ela fez aqui dentro se nem eu sei? Essa porra parece coisa de destino. Tudo culpa da minha mãe que ficou colocando essas coisas na minha cabeça. Quando eu era pequena, ela sempre contava que existe um ditado que as mulheres Kim achariam ou perderiam seu amor pelo mar ou no verão. Maldita mulher. Agora me pego pensando em como a conheci no verão, na praia.
Cala a boca. Para de pensar nessas merdas agora. Amor porra nenhuma, Jennie Ruby Kim.
— Está pronta?
— Estou. Mas... podemos tirar uma foto juntas? — Pergunto, usando meus olhos do melhor jeito para convencê-la. — Não vou postar em lugar nenhum, eu juro. Só quero tê-la comigo. Vê? Estamos combinando.
Com essa fala, ela assente, e eu pego meu celular animada. No espelho, ela posa com a mão em minha cintura e eu sorrio, faço bico e carão, tirando três fotos. Então, viro a câmera para tirar mais algumas. Vou aproveitar até que ela se canse. Ela dá seu famoso sorriso, então sorrio junto e na última me apoio em seu ombro para fazer um biquinho.
— Satisfeita, Thī̀rạk? — Ela pergunta. Assenti, deslizando para ver as fotos em meu celular. — Mande-as para mim, por favor.
— Ah! Algumas saíram meio borradas... — Faço um biquinho, as enviando para ela.
— Por que?
— Você estava olhando para mim, nelas.
— I miei occhi sono sempre su di te, cara mia.
trad: Meus olhos estão sempre em você, querida.
Lhe dei um beijo no pescoço, meu batom ficou marcado em sua pele.
— Gosto assim. Não tire.
Ela assentiu e me guiou com a mão em minhas costas. Yoongi já nos esperava junto a Soojin. O Min veste calça social preta com uma blusa branca, colete, gravata e terno, o cabelo longo penteado para trás com uma ondinha atrás pelo comprimento. Sua cicatriz fica bem aparente desse jeito. Na realidade, eu nem sei como ele vai aguentar nesse calor. Lisa teve certeza de que em meu banho rápido—sem molhar meu cabelo porque não sou trouxa—que eu passasse protetor solar, mas olhando para ele assim nem parece que está com protetor. Sua pele branca vai fritar nesse sol. Meus cães de guarda estão iguaizinhos em calças sociais, sapatos baixos e blusas sem estampa escuras. O tecido não parece ser muito grosso, mas as mangas vão até o cotovelo, então é a mesma bosta. Já Soojin, como sempre um espetáculo: Em um terno creme e blusa branca com alguns botões abertos. Sua franja está aberta para os lados, o cabelo jogado para trás.
Gostosa.
Eles nos acompanham, seus passos soando como um na perfeita ordem unida dos seguranças de Lalisa até o elevador. Yuqi, Yoongi e Ryujin conosco, Jiyong e Hyunjin descem as escadas. Começo a sentir minhas mãos suarem de nervosismo. Acho que vou me mijar, caralho, porra.
Dessa vez saímos em outro lugar. Lisa segura minha mão, me ajudando a descer os degraus até o nível do pátio e dou um gritinho ao ver quem se encontra lá: Os três, em coleiras de ouro e mochilinhas de couro marrom que imitam golas sociais pequenas, estão os cavalinhos de Lisa sentadinhos com as linguinhas para fora.
— Ah! Bebês! — Sorrio, e os três latem animados ao verem a Lisa, e se meu ego me permite, a mim também. Notei que cada um tem um pingente de ouro diamantado com seu nome: Apilesalgos, Lilith, Love. — Vocês estão lindos!
— Ciao miei belli. — Minha boneca diz, acariciando a cabeça de cada um. Hyunjin e Jiyong apenas ficam atrás de si, sem nem mesmo encostar neles. — Insieme.
trad: Olá, meus lindos. / Juntos.
Ela ordena, e os cães se levantam e seguem ao nosso lado.
— Apilesalgos? — Questiono. — Lilith?
— Apiles é um daemon grego das ameaças. Algos ou Algea seria uma ou um grupo de Daemones que personificavam o sofrimento e a dor, tanto física como emocional, que traziam lamentos e lágrimas. — Explicou, sorrindo. — Os Daemon seriam espíritos semidivinos, representando as emoções humanas. Eles agem como intermediários entre os deuses e os humanos, porém a palavra passou a significar demônios. Combina, não? Meus três cães infernais. — Ela sorri, apertando a mão em minha cintura. — Já Lilith foi uma deusa ou demônio feminino adorada na antiga Mesopotâmia e na Babilônia. Diziam que ela trazia enfermidades e morte por meio dos ventos e tempestades. Ela aparece nas crenças islâmicas e na mitologia judaica como a primeira mulher de Adão, que também foi criada do barro e por isso não lhe era submissa, então foi expulsa do éden por isso. Enfim... eu também escolhi por ser irmã de Louis, meu primeiro cão.
— O que aconteceu com ele?
Um lapso de dor passou pelos olhos de Lisa, que apertou mais seus dedos em minha cintura.
— Ele morreu.
Caminhamos por um caminho de pedras na grama verdinha. O jardim era enorme e majestoso, contava até mesmo com seu próprio labirinto. Eu podia ver pelo caminho que levávamos, que ao centro havia uma estátua enorme. Ao lado, no caminho em que seguimos, havia uma estrutura de mármore branco, já coberta por folhagens e flores, com um pequeno chafariz na frente conectada a uma estufa enorme de vidro. O caminho foi coberto por ramos de lírios da aranha vermelha mps lados e roseiras no teto. Senti-me em um conto de fadas, com minha princess charming ao meu lado. Só ali já haviam pessoas desconhecidas, guardando a porta. Percebi que somente os Capos e nós teríamos permissão de entrar ao ver que os seguranças mudaram a formação subitamente, juntando-se aos outros que guardavam os Ferrero. Alguns dos rostos me vieram à mente de minha conversa com Jisoo unnie.
Flashback on
— Este é Franco Biancci. — Apontou para o homem de terno marrom, com cabelo grisalho e barba grande. Ele tinha a pele branca e olhos tão azuis que pareciam falsos. — Ele é o Bispo de Hades, é italiano e tem cinquenta e três anos. Este. — Mostrou um homem bem mais novo, de pele bronzeada, cabelos e olhos escuros e traços claramente asiáticos. — é Bambam, o bispo do Diavolo d'oro. A única informação que se tem dele é sua idade: trinta e cinco anos. O resto, apenas Nicha sabe. Mas, ele não é o único bispo dela. Há Ten. — Mostrou o outro rapaz, de olhos afiados. — É tailandês, tem trinta e três anos e é sobrinho da falecida bispo de Lalisa.
— Lisa teve outro bispo antes de Soojin?
Perguntei, curiosa. Jisoo assentiu sem me dar muita bola.
— Sim. — Elabore, mulher! Eu quero respostas. Ela me olhou como se soubesse exatamente o que se passa em minha mente. — Ela morreu a muitos anos, protegendo a Lalisa. De volta ao que importa, Kim. — Isso só me deixou mais curiosa, mas me forço a prestar atenção. Posso perguntar a Lisa sobre isso depois. — Este é Lee Wonho. Ele tem trinta anos, é coreano e é o bispo de Santini. Ele é irmão do Arcebispo do Diavolo d'argento. Ela também tem Freen Sarocha, de 31 anos. Freen é Filipina com descendência tailandesa. — A mulher é uma gostosona de pele dourada e cabelo longo. É a primeira bispo que vi, por isso seu rosto se fixa em minha cabeça com facilidade. — Kim Namjoon, de 38 anos. Ele é mongol com descendência coreana, tem trinta e oito anos e é um dos Bispos do diavolo di bronzo, sendo o outro, Cheng Xiaolin. — Mostrou-me um chinês de cabelos longos e cicatriz cortando-lhe a parte esquerda do rosto. — Ele e Agust não se dão bem. É um chinês de quarenta e cinco anos. Então vem Agust D, o bispo de Lalisa. Ele recebeu esse nome por coisas que não importam agora, mas antes que sua mente curiosa venha perturbar-me, a falarei depois. Só o chame por esse nome na frente dos outros. Apenas Agust.
Flashback off.
Todas aquelas pessoas estavam ali, com mais alguns poucos, vestidos de forma parecida a Yoongi.
— Rimanere. In guardia.
Segundo os comandos que Lalisa me ensinou, ela acabou de mandar os cães ficarem em guarda. Eles se sentam à porta, vigilantes.
— Bravi ragazzi. — Adicionei antes de entrar.
Ai cu boceta cu merda.
Penso ao olhar aquelas cabeleiras loiras.
— Mamma, fratelli, buongiorno. — Lisa diz, chamando a atenção deles. Agora não dá mais tempo de correr. Porra. Meu coração vai sair pela boca. — Questa è la mia ragazza, Jennie Kim.
trad: Mamãe, irmãos, bom dia. / Essa é a minha menina, Jennie Kim.
Merda. Um silêncio sepulcral se faz naquela estufa maldita, com todos os rostos virados para mim. Mamãe? Que porra é essa? A mãe dela não está morta? A mulher que eu reconheço como Kiara Park, ao vivo e a cores com essa beleza inabalável dela, vem até nós. Somente seu salto e as ocasionais abelhas zanzando pelas flores soam na sala de jantar. Ela ergue a mão: Um ENORME anel de pedra preta em um formato que parece um caixão, com o símbolo dos diavolos esculpidos adorna seu indicador. É a primeira vez que vejo a pulseira, e é linda. Tudo nessa mulher é tão belo, amedrontador ao mesmo tempo que elegante, me faz tremer por dentro. Por fora tenho certeza de que estou com a cara mais plena do mundo, ainda que agarrando-me a cintura de Lalisa como se fosse o santo graal. Lisa segura a mão e a beija; primeiro o anel e depois as costas.
Não gostei. Tá beijando a mão de outra mulher por quê?
— Benedizioni, mamma.
trad: Benção, mamãe.
— Che Dio ti benedica, figlia mia, e che Buddha ti mostri la sua misericordia.
trad: Que Deus te abençoe, minha filha, e que Buda lhe mostre sua misericórdia.
— Grazie.
trad: Obrigada.
— Lei è bella. — Disse, me olhando. Agradeci com um pequeno sorriso, apertando mais Lalisa contra mim. — Ciao ragazza. Lascia che ti veda.
trad: Ela é linda. Olá, menina. Deixe-me te ver.
— Buongiorno, Signora Hades. — Cumprimentei, curvando-me para ela. Kiara me olhava com olhos curiosos e julgadores. Me lembra dos professores quando eu era trainee. Esforço-me para conseguir soar o mais claro possível em uma língua que não domino. — Mi chiamo Jennie. Sono la Perséfone della Volpe, è un onore conoscerti.
trad: Bom dia, Senhora Hades. Me chamo Jennie. Sou a Perséfone da raposa, é uma honra te conhecer.
Eu pensei que Nicha era aterrorizante, mas Kiara é trinta mil vezes mais intimidante do que ela. Sua expressão facial, sua postura impecável e leveza nos movimentos. Ela me lembra de Joohyun unnie e Omma ao mesmo tempo. Engoli em seco, vendo tudo o que fui ensinada a ser em uma só mulher, e ainda assim, não sinto simpatia ou inspiração a olhando. Sinto-me apavorada e arrepiada sob seu olhar, como se não fosse o suficiente, me sinto amedrontada.
— Preferes que falemos em Coreano? — Perguntou em minha língua materna. — Seria mais fácil, suponho.
Meus olhos crescem antes que possa segurar.
— Use a língua que preferir, Senhora. Posso falar em inglês, francês ou japonês também.
E então seus lábios esticaram na sombra de um sorriso. Percebi agora o ar que estava segurando todo esse tempo, sufocando-me em uma pressão no tórax. Esse sentimento... É um caso de amor e ódio. Goste de mim, me ame, me admire, vamos, goste de mim!
Eu não o sentia tão grande assim a muito tempo. Não desde o debut. Não desde todas as coisas que passei para chegar ao patamar em que estou.
— Não é todos os dias que posso usar minha primeira língua. — Diz, virando-me para os filhos. Lalisa é a única que não é dela? As contas não batem. Quando ela se casou com o pai deles, os outros já eram grandes. Por que a respeitam tanto? Por que a escutam? Eu quero esse poder. — Falemos em coreano.
Foi a deixa para que os outros viessem se apresentar até mim. Eu já os conhecia—quase todos—mas entendi que aquela era a apresentação formal. Lalisa ergueu a mão, esfregando minhas costas. Estou orgulhosa de você, kitten. Podia senti-la dizer. Você foi bem.
Seu calor relaxou meus músculos presos, me fazendo respirar direito.
— Olá, irmã. Bom dia. — Oli irmi disse a escrota da Nicha. Me esforcei para não demonstrar o meu desprezo por ela, segurando minhas mãos juntas. — Jennie Kim, é um prazer. Sou Nicha Ferrero, a mais velha dos Ferrero, e por isso, diavolo d'oro. Infelizmente, minha esposa teve que ausentar-se um momento, porém logo chegará.
Me assustaria ela falar tão abertamente assim seu nome, se não fosse o aviso da minha boneca que o local em que iríamos era tão seguro quanto nosso quarto; isto é; enquanto nós estivéssemos lá. Foi feita uma varredura extensa antes que os Ferrero entrassem, mas de nada adiantaria após nossa saída. Eu mesma fiquei paranoica quando saiu no jornal o caso de uma boyband que teve câmeras colocadas no abajur de seu quarto de hotel por um dos managers. Na época, havia acabado de levar um golpe e fiquei ainda mais nervosa de estar perto dos funcionários. Mandava que fizessem uma busca aleatória, sempre ligando a uma empresa diferente, com medo de terem pagado alguma para fingir não ver. Só depois de muita terapia que consegui esquecer isso. Quase ninguém entra na minha casa.
— Bom dia Lalice . — Era Santini. Ela veste um terno preto fosco, com uma blusa branca sem mangas de tecido fino. Ele, como sempre, está estiloso: O cabelo loiro num topete sexy e óculos redondos, bem como brincos e um colar de ouro descendo em seu pescoço. Santini tem muitas tatuagens, mas são de traço delicado que combina muito com seu jeito andrógino. Ele usa um cinto da versace e vejo os olhos esfumados e batom. — Bom dia, bella donna. É um prazer conhecer a garota que ganhou o coração de minha irmã. Sou Santini Ferrero, o segundo, e por isso, diavolo d'argento.
Vito tinha aquele mesmo olhar sério e meio entediado dele. Porém, uma surpresa: Seu cabelo loiro estava um pouco mais escuro, mais dourado e havia crescido assim como sua barba estava crescendo. Ele parecia mais velho, o olhar mais duro, mas ainda assim muito bonito. Todos eles são lindos, mas Taehyung é o que mais me lembra Lalisa. Não sei porquê.
— Bom dia irmã, bom dia, donna. É um prazer. — Diz, sem nem mesmo sorrir como os outros. Eles não apertam minha mão ou se curvam; apenas me cumprimentam a uma distância amigável. — Sou Vito Ferrero, o terceiro, e por isso, diavolo di bronzo.
Me curvo levemente. Há um tipo de escuridão nos olhos dele que nunca vi antes. Eu reparei quando nos conhecemos — quando ele quase perdeu o controle e matou Daniel bem na minha frente — mas parece de alguma forma, pior. Como se houvesse um buraco negro dentro de si. Vito é enorme, o mais alto de todos eles, deve ter quase dois metros ou isso, com ombros largos e a pele dourada. Uma besta de terno e cabelo loiro. Depois dele, vem Lisa, mas como obviamente ela não vai se apresentar a mim e nem Tzuyu — que ficou na Coréia — espero ver o último e misterioso irmão. Jisoo não falou muito dele e nem Lalisa. Ao vê-lo, percebo o motivo: É apenas um adolescente. Magro, quase do tamanho de Santini e a pele branca da mãe. Seus fios loiros escorrem até as maçãs do rosto destacadas, olhos de bambi puxados, um nariz proeminente e sorriso juvenil. Ele sorri ainda mais ao olhar para mim. É engraçado, todos eles em roupas formais e o garoto em calça jeans e camiseta do ACDC com uma flanela por cima. Ele é lindo, resplandece fofura e inocência de todas as melhores formas.
— Lili! — A abraça apertado, a voz meio grossa adolescente. — Você tá velha! E que tattoo maneira é essa?
— Oi, Pietro. — Lisa o abraça de volta, dando tapinhas em suas costas. — Você cresceu, moleque! Tá mais alto que eu! Tatuagem não é pra você não, criança.
— Eu não sou mais criança, Lisa! Eu sou maior que você. Vou fechar meu braço de tattoo igual o Jungkook hyung.
— Não vai nada. Vou proibir o Jeon de falar com você.
— Você não é nada legal, Lili. Não sei como pegou uma garota bonita dessas. — Virou-se para mim, que estava muito ocupada vendo Lisa interagir de forma feliz e leve com o irmão. Nunca a vi desse jeito antes, tão solta. É... legal. Faz cócegas se espalharem por minha barriga. — E aí, Jennie noona! Eu sou o Pietro Ferrero, sou muito seu fã! Como você tá? Não liga pra eles não, eles são assim mesmo. Espero que esteja tudo bem eu falar assim contigo. Tudo bem?
Ele é como um pequeno raio de sol, alegre e agitado. Seu jeito me lembra muito a Rosie e o Jimin mais novos, e a bola de energia Sana. Pietro logo me deixa animada também, me contagiando com seu jeito descontraído. Não sou amiga de muitos homens mais novos, e é legal ser chamada de noona, ainda que um pouco estranho. Ele é fofo demais e tenho vontade de morder suas bochechas.
— Oi Pietro, estou bem e você? Não precisa se preocupar, você é fofo. Obrigada.
— Nada, noona! Posso te chamar de noona, né? — Arregalou os olhinhos, preocupado. Assenti, sorrindo. — Legal! Cê quer comer alguma coisa?
— Não, comi no avião, mas obrigada. Eu...
A porta se abre atrás de nós de novo. Vejo Nicha junto a uma mulher loira, magra e muito, mas muito bonita. Ela veste um conjunto vintage da chanel, terno e saia preto e branco com botões dourados que se não me engano foi da coleção de 1927, saltos e o cabelo escuro preto jogado para trás e boina preta. Quero gritar e sair disparando moda em cima dela, mas ao mesmo tempo, me contenho com mordidas no lábio perguntando-me quem é ela. Nicha a cobre com tanto carinho, e quando seu corpo se afasta, ouço diversos suspiros chocados, um deles sendo o meu. É um bebê.
Um bebê de cabelinhos castanhos clarinhos, pele vermelhinha e vestidinho branco com um capuz protegendo a cabecinha.
Um bebê.
— Car-
— Shh, sborra, vai acorda-lá! — Nicha murmura, assassinando Pietro com o olhar. Nicha coloca o baby confort em uma mesa de madeira onde bate sombra, olhando atentamente para a criança. Todos os Ferrero se reúnem ao redor para olhar a criança, inclusive, eu.
— Não me diga que...
— Sim, Santini. É a minha filha. — Nicha respondeu. — E você está muito perto dela. Vamos deixá-la respirar...
— Essa menina deve ter uns... uns quatro cinco meses! — Vito olhou a irmã, revoltado. Eita galera... Ótimo dia pra vir conhecer a família né... — Que porra é essa? Como você esconde isso por um ano da sua família?
— Se você acordar a minha filha, eu vou fazer você chorar junto com ela. — Virou-se, irritada. — Vão me escutar ou não?
— Nós vamos, Minnie. Afinal, você nos deve explicações. — Isso tudo é interessante, mas estou focada no bebê e na mulher de Chanel. É claramente a esposa de Nicha, mas como uma mulher tão escrota conseguiu casar com uma garota dessas? Ela tem o rosto e corpo de uma modelo ou idol, poderia muito bem estar nas telas por aí. — Por que você escondeu uma filha de nós?
— Porque eu queria as proteger. — Olhou para a esposa, que velava o sono da bebezinha. — O que acha? Quanto mais pessoas soubessem, mais perigoso seria. Por isso, apenas quatro pessoas sabiam.
— Você, Miyeon e o médico. — Lisa constata rapidamente. — Um de nós sabia. Quem?
O olhar de Nicha passeia em minha direção, e por um momento me sinto nervosa. Eu não sabia de nada não, porra. Isso até perceber que Kiara está atrás de mim. Então, as cabeças loiras se viram em direção a ela. Imbatível, ela dá um leve sorriso ao ver a pequena.
— Mamma? — Pietro a questiona.
— Sim, eu sabia. Minnie veio pedir-me ajuda e conselho, e os dei para ela. As ajudei a esconder a gravidez, o parto e o crescimento da pequena. Nicha estava certa em sua decisão. A melhor forma de protegê-las, seria escondê-las até que a criança estivesse mais velha. Porém, as duas, juntas, escolheram compartilhar com a família nossa mais nova membro agora.
— Nós poderíamos ter ajudado. — Santini diz. — Por quê?
— San... — Nicha suspirou. — Vocês me ajudaram. Cuidaram de tudo para mim e assumiram minhas responsabilidades durante quase um ano. Mas nisso... podemos falar sobre isso depois?
Vaca. Não quer falar sobre isso na minha frente, tudo bem. Eu vou dar meu jeito de descobrir depois.
— É melhor falarmos sobre isso enquanto podemos ficar a sós. — Lisa disse. — A cúpula irá querer respostas. Não podemos parecer desunidos frente a eles. Logo o sindicato saberá e vamos parecer fracos. Diga o que tem para dizer.
Nicha virou-se para a esposa, como se pedindo permissão primeiramente. A mulher sorriu e assentiu, sentada ao lado do bebêzinho que quero muito conhecer direito.
— Vocês sabem de parte da história de Miyeon. — Olhou para mim, e então, para Pietro. — Minha esposa foi encontrada na porta de um orfanato na Alemanha com cinco anos, sem lembrança alguma. Ela foi criada ali até os dez anos, quando foi adotada por um casal de empresários. Mia Bellucci e Stefan Baer. Ela se tornou a princesa da máfia italiana e alemã. Mas quando eu a assumi perante o sindicato, eu sabia que algumas pessoas veriam como fraqueza, mas não isso, não assim. — Ela ficou vermelha, a veia em sua testa piscando. — Um dos arrombados com quem eu estive em guerra no Congo descobriu de alguma forma quem Miyeon era para mim. Alguém do sindicato deu seu nome, foi a primeira coisa que se passou na minha mente. Eu comecei a receber fotos dela. Claramente tiradas de longe, feitas de forma tão profissional que nem mesmo eu conseguia reconhecer de frente. Em uma das fotos, apareceu Miyeon em frente a clínica de fertilização. Eu recebi a cabeça da médica junto, como presente de casamento adiantado. Então, eu e Miyeon sumimos do mapa. Apenas desaparecemos, e ponto. Eu não poderia arriscar. Jamais.
— Eles queriam expulsar Nicha do território. — Kiara diz. — Deixei aqueles acéfalos pensarem que haviam conseguido. Não tinham ideia de que haviam mexido com um cachorro grande. Eu poderia só ter sumido com eles do mapa, mas então aqueles que os ajudaram sumiriam. Foram seis meses cavando discretamente até encontrar todos.
— Você lidou com isso? — Santini questionou.
— São todos fantasmas agora. — Disse, caminhando até a bebê que dormia pacificamente. — O sindicato precisava lembrar que mesmo não participando das imoralidades deles, somos nós que mandamos ali, não é mesmo, Aurora? Isso mesmo, bambolina. Ninguém jamais irá atormentar os seus sonhos, principessa della nonna?
— Ela... Ela se chama Aurora? — Santini questionou, dando alguns passos para frente. A emoção tomava conta de seus olhos, e a essa altura eu já entendo muito pouco do que está acontecendo. Se não me engano, eles dois são irmãos de mesmo pai e mãe. Aurora... esse nome é bonito. A bela adormecida era um dos contos que minha mãe costumava ler para mim quando criança. — Ela é linda, sorella.
— Conte para eles, Thī̀rạk. — Escuto a voz de Miyeon pela primeira vez. É suave e bem feminina. — Conte o nome que você escolheu.
Nicha corou levemente nas bochechas. Fiz uma anotação mental de perguntar discretamente a Miyeon o que aquele apelido significa, já que Lisa passou a usá-lo.
— Hajin. — Nicha disse, olhando para Kiara. — Seu nome asiático é Hajin.
O rosto da mulher se iluminou como uma manhã de natal.
— Hajin... — Sorrindo, deslizou os dedos pelo pezinho da bebê. — Ela é mesmo um tesouro.
A confraternização foi curta depois disso. Graças a Deus toda a atenção saiu de mim, escorrendo para a Hajin que dormiu durante todo esse tempo. Fiquei pescando por uma oportunidade de falar com Miyeon que não surgiu, já que todos estavam em cima dela, mas Pietro ficou ao meu lado o tempo todo conversando comigo. Depois de alguns minutos, Franco Biancci avisa gentilmente que o almoço começaria em alguns minutos, e começamos o processo de ir até o local, este sendo um enorme salão antigo que fora reformado, mas não mudado. Cheio de pinturas no teto, com grandes lustres pendurados, detalhes dourados esculpidos na pedra por toda a parede e azulejos pintados a mão. A decoração era feita por bustos de homens e mulheres, bem como algumas estátuas pequenas de casais abraçando-se. Era tudo muito lindo, lembrando a era vitoriana. Antes de entrarmos, Lalisa pôs a mão em minhas costas e sussurrou em meu ouvido:
— Você foi muito bem cara mia, obrigada. Me faça orgulhosa mais uma vez aqui, e terá a sua recompensa, kitten.
Disfarçou com um beijo em meu rosto, apertando levemente minha cintura. O olhar que ela me deu, era de quem sabia muito bem a recompensa que ela queria. Eu gosto muito de ser uma garota má, provocante, atrevida e manipuladora, mas dessa vez serei boazinha. Assenti, engolindo um punhado de saliva. A vagabunda sorriu, os dentes arrastando naquele lábio gostoso que eu amo maltratar. Então me deu a mão. Lisa entrelaçou nossos dedos, andando junto comigo. Para esquecer o nervosismo de dar a mão pela primeira vez a alguém desse jeito, eu me lembrei mentalmente do que Jisoo me ensinou:
Não usar o nome de ninguém, e se referir como Senhor ou Senhora. Sempre usar o italiano para cumprimentar, mas trocar para a língua de preferência da pessoa. Ser educada, mas não muito simpática pois sou a Rainha, não me apresentar a ninguém e me manter perto de Soojin ou de Jisoo caso Lisa não esteja por perto.
Jisoo unnie está linda em um vestido da Dior branco com um gladiador preto, a maquiagem leve destacando seus belos olhos. Ela é imponente, bonita ao ponto de te deixar nervosa. Ao seu lado reconheço Stefano, o jovem de cabelos castanhos claros com um tom acobreado e terno belíssimo em tons de branco perolado. Ambos usam jóias da Cartier. Em pessoa, Stefano não é tão alto, deve ter a altura de Jimin, ombros largos e corpo de um atleta. Ele é deslumbrante, com seu rosto sério, lábios grossos e pele bronzeada.
— Nero, quanto tempo! Come stai?
trad: Negro/Preto, quanto tempo! Como está?
Não estou me referindo ao Seokjin ou ao personagem como de raça negra. O codinome dele na Máfia é Il Diavolo Nero, ou seja, O Diabo Negro.
Soojin o cumprimenta com um aperto de mãos firme, que ele devolve com um sorriso gentil. Assim, ele parece bem mais novo. Seu olhar cai sobre mim. Ele sorri de um jeito diferente, como se soubesse quem eu sou: não a Jennie Kim, mas a Jennie da Lalisa. É estranho, mas me curvo por educação.
— Buongiorno, caras. È un piacere vederti. Questa bella signora sarebbe quella che penso?
trad: É um prazer revê-las. Essa bela dama seria quem eu penso?
Diz, me olhando. A esse ponto já me perdi no italiano, mas espero que Lisa me apresente como foi ensinada.
— Buongiorno fratello. Questa è la mia regina.
trad: Bom dia, irmão. Esta é minha rainha.
Diz, a mão saindo da minha para descansar em minha cintura. Sorrio e me curvo, surpresa ao que ele se curva de volta.
— Buongiorno, Diavolo Nero. É un piacere di conoscerti
trad: Bom dia, Diabo negro. É um prazer te conhecer.
— Che accento adorabile. È molto bella, congratulazioni, sorella. Dovrei aspettarmi presto gli inviti di nozze?
trad: Que sotaque mais adorável. Ela é muito bonita, meus parabéns, irmã. Devo esperar convites para o casamento logo?
— Sta ancora imparando l'italiano. Parla in coreano.
trad: Ela ainda está aprendendo italiano. Fale em coreano.
Jisoo respondeu.
— Meu coreano está ficando enferrujado, me desculpe por isso, Rainha verde. — Disse, a língua enrolada e com um pouco de sotaque. — Pode me chamar de Seokjin, se for melhor para você. É realmente um prazer conhecê-la.
— Obrigada. Igualmente.
— Irei apresentá-la a mais pessoas...
— Deimos! — Escutei um gritinho animado e feminino. Lisa virou-se lentamente.
— Santa merda. — Jisoo unnie murmurou.
É uma mulher. É jovem, branca e com o cabelo castanho em um corte bonito nos ombros. Ela é bonita, vestindo um short branco e uma blusa da mesma cor. Ela usa óculos escuros e um chapéu na cabeça. Mas ela vem em nossa direção, nesse salão enorme e cheio de pessoas ela vem em nossa direção.
— Quanto tempo, amore mio!
Ela diz, abraçando a Lisa. A minha Lisa. Vejo suas mãos escorrendo para os ombros, cintura, costelas, descendo e subindo enquanto toca os fios dourados da minha Lisa. MINHA Lisa. Ela a abraça com força como se não a visse há anos, sorrindo e a despindo com aqueles olhos. Eu menti, eu menti, ela tem o cabelo feio, cara feia, tudo nela é feio.
Meu sangue esquenta tão rápido que fico tonta, sentindo os batimentos no pé do ouvido. Eu vou puxar os cabelos dessa perua e se ela não soltar a minha Lalisa agora! Ranjo os dentes, apertando a mão da Lalisa com toda a raiva que sinto.
Sai de perto dela agora.
Digo com meu toque.
Sai de perto dela ou vou esfaquear vocês duas.
— Gales, Devo presentarti una persona. — Ela se vira. Não sei quanto tempo passou nesse abraço mas para mim pareceu que essa puta ficou agarrada na porra da Lalisa uns mil anos aproximadamente. Vadia. — Questa è la Regina Verde, la mia Persefone. Mon trésor, c'est un de nos avions.
trad: Eu preciso te apresentar alguém. Esta é a Rainha Verde, minha Perséfone. Meu tesouro, esta é uma de nossos aviões.
É revigorante ver o rosto dessa piranha murchar ao me notar ao lado de Lalisa, de mãos dadas com ela. Lisa passa a mão por minha cintura, e eu puxo mais para entrelaçar nossos dedos e mostrar as alianças. Isso mesmo, vagabunda. Ela é minha. MINHA!
Mordi o interior das bochechas, piscando forte para controlar minha vontade de jogar essa vadia no chão e pisar na cabeça dela. E da Lalisa também. Quem ela pensa que é? Com quem ela pensa que está, para sair abraçando e tocando outras mulheres? Você é minha. Você só toca em mim, só olha para mim, só eu.
— Rainha Verde? — Pergunta, olhando para mim. Lisa assente, buscando em meu rosto o motivo de eu estar com as unhas cravadas em sua cintura por baixo da blusa. Não sei porque porra também eu fui arranhar uma mulher gata e lerda. Essa prostituta olha meu anel, e então o de Lisa, engolindo em seco. Seus olhos buscam os de Lisa que estão focados em mim. Isso mesmo. Olhe para mim. — É... É um prazer te conhecer, minha ra... Eu não... Isso foi uma surpresa. Uau. Logo você, noiva?
Houve uma pausa. Jisoo, Stefano e Soojin alternando olhares entre nós. O imprestável do Yoongi não fez porra nenhuma para impedir essa mocreia de encostar em Lisa, então eles a conhecem. Ela faz parte de Lisa, parte do mundo dela, e pelo modo que a olha e a encosta, ela já esteve com ela. Decidi nesse exato momento que a odeio e a quero falida. Vou usar de todo o poder que esse maldito anel me dá para ferrar com essa garota. Ela é ousada. Ela olha para Lalisa como se ela a devesse algo. Ela é um maldito avião. Ela não deveria nem estar aqui. Quem ela é? Quem ela pensa que é?
— Não entendo o que quer dizer, Diana. — A voz de Lalisa soou firme. — Não sei quando deixei a entender que eu deveria lhe dar alguma satisfação de quem ou quando, pois como falhou a perceber, você trabalha para mim, e não ao contrário. Agora, cumprimente a sua rainha direito antes que ela ou eu tomemos isso como uma ofensa.
Ela ficou pálida, abaixando a cabeça para mim, e se curvou.
— Eu sinto muito, Rainha Verde. Por favor, perdoe minha falta de educação, é um prazer enorme conhecê-la e se precisar, meus serviços estarão à sua disposição.
— Babydoll, você me lembraria quem é essa? — Virei para Lisa, encostando os lábios em sua mandíbula. Sua pele se encheu de arrepios e ela me apertou contra si, virando o rosto para mim. — Não me recordo.
— Diana Flipo, senhora.
— Eu não me dirigi a você. Fiz uma pergunta à minha esposa. — Meus olhos a queimaram, tentando mostrar todo o desprezo que sentia por ela. Sempre fui boa nisso, em deixá-los humilhados apenas com um olhar. — É ela uma de nossas aviões, mesmo? Com esse tipo de cuidado...
— Me desculpe, senhora. — Soojin a puxou pelo pulso. — Acredito que o calor não esteja fazendo muito bem a ela. Com sua licença. Joker, a leve para se hidratar e refresque sua mente antes da reunião.
Jiyong aparece e a leva para longe, enquanto eu pisco o olho nervosa e irritada. Esse dia mal começou e já estou com uma fúria assassina que nem sabia existir em mim. Eu sou ciumenta, sempre soube disso. Quando era criança e minha mãe dava qualquer mínima atenção a outra garota ou garoto da minha idade, eu dava um jeito de empurrar a criança longe ou chamar a atenção da minha mãe fazendo algo. Eu sentia ciúmes de meus livros, minhas bonecas e brinquedos, não gostava de dividir no começo. Omma diz que quando era criança, eu mordia os outros bebês da creche que tentavam pegar meu lanche ou ursinho. Aprendi na marra e muito castigo que não podia ser egoísta com minhas coisas. Nos dias de trainee, tudo era de todo mundo, às vezes até mesmo as coisas que você trouxe consigo, as trainees mais velhas pegavam e você nunca mais via. Lembro até hoje de quando a vaca da Eunhee roubou meu perfume da Chanel e saia que havia ganhado da minha mãe. Eu chorei tanto que passei mal sem fôlego quando não consegui achar. Fui parar no hospital. Já era tarde e não tinha nenhum staff para me levar, então Rosie me pegou nas costas. Ela estava disposta a me levar todos os 10 km a pé até o hospital—nem ela e nem eu tínhamos dinheiro para pegar táxi e não Rosie não confiaria em me enfiar desmaiada num carro com um homem tarde da noite— e aquela hora não passavam mais ônibus. Foi um milagre Sana aparecer. Ela já conhecia Jongin, que me levou em seu carro até o posto. Eunhee foi burra de postar uma foto com a minha saia no instagram em uma festa. Eu a fiz ser expulsa e me pagar um milhão de wons como indenização, além de uma saia e perfume novos. Minha mãe, sendo a advogada que é, fez a empresa nos indenizar pelo prejuízo e estresse, além de pagarem todos os custos hospitalares. Enfim. Eu já senti ciúmes antes, é o que quero dizer. Até hoje sinto, de meus amigos, das minhas coisas, do meu cachorro, da omma e das Unnies. Mas nunca assim, nunca senti ciúmes assim antes. É horrível e me corrói por dentro. Sinto vontade de gritar com Lisa e exigir que nunca mais fale com aquela garota. Quero limpar sua pele do toque dela, quero que ela se lembre que está comigo e nunca pense em outra garota, nunca mais. Ao mesmo tempo, quero chorar de raiva e estresse. Sou apresentada para mais algumas pessoas, que passam totalmente batidas para mim. Todos me olham, me medindo, julgando, tentando me desvendar. Suas línguas tóxicas não passam despercebidas por mim, nem seus comentários sarcásticos e sua falsa simpatia comigo. É um ninho de cobras tão sujo quanto minha indústria. A maioria dos que chegaram cedo são de cargo menor, já que não é nada bonito chegar atrasado num evento como esse. Nenhuma de suas opiniões sobre mim importa e isso me mantém de cabeça erguida o tempo todo. Ficamos menos de uma hora antes de voltarmos ao quarto.
— Preziosa? Você está bem? — Suas sobrancelhas se franzem e ela faz aquele bico, me olhando como uma incógnita, sem conseguir entender nada que se passa na minha cabeça. Quero gritar com ela e bater nela. Essa desgraçada é inteligente para tudo, menos para isso? Será que ela não vê que estou com ciúmes? — Seu rosto está vermelho e está me olhando como se fosse me matar.
— Eu posso muito bem fazer isso agora. — Ranjo os dentes. Lisa arqueia uma das sobrancelhas, confusa. — Quem é aquela piranha? Você se esqueceu do que eu disse, Lalisa? Ou achou que eu estava brincando? Eu te disse que não queria ninguém perto de você. Eu quero você só pra mim, e tudo o que eu quero, eu consigo. Eu não quero, não gosto e nem vou dividir. Você me fez parecer uma palhaça ali, com aquela vadia te tocando, te abraçando...
Ela sorriu. A maldita sorriu como se o mistério da vida fosse desvendado em seus olhos, veio em minha direção e puxou meu queixo, me forçando a olhar em seus olhos.
— É isso, então? Você está com ciúmes, preziosa? — Ela sorri. Porque está sorrindo tanto, sua desgraçada? Sinto vontade de bater na cara dela pra tirar esse sorrisinho escroto de sua face. — Ciúmes de mim, de verdade?
— Você é burra? É claro que sim, caralho! — Grito, a empurrando. — Porque ela estava te abraçando, porra?
Lisa sorria como uma criança na manhã de natal, e eu queria matá-la. Rosnei, a empurrando para obter alguma reação. Ela segurou meus braços, me colando contra a parede.
— Lo ti piaccio! Ti piace davvero!
trad: Você gosta de mim! Você gosta de mim de verdade!
— Eu já te mandei falar uma língua que eu entenda! — Gritei, tentando me soltar de seu aperto, sem sucesso. — Quem é aquela puta, Lalisa Ferrero?! Se você não me responder, eu vou-
No próximo segundo, seus lábios estão contra os meus. Eu a mordo, arranho com meus dentes e tento a chutar, mas ela pressiona seu corpo e me deixa intoxicada com seu cheiro e sua coxa esfregando contra minha boceta. Ela me beija, me morde de volta até que eu esteja gemendo, trêmula, choramingando e miando em sua boca.
— Elle n'est personne pour moi. C'est juste une arme. You're the one using my ring, warming up my bed, my jealous little kitten. Entendeu, agora?
trad: Ela não é ninguém para mim. É apenas uma arma. É você que está usando meu anel, esquentando minha cama, minha gatinha ciumenta.
— Porque ela estava te tocando, então? — Rosnei, suspensa e presa por ela. — Porque deixou que ela te tocasse, com toda essa ousadia, a forma como ela me olhou...
— Diana Flipo é uma modelo filha de um empresário. Eu a recrutei para vigiar os mercados Tailandeses e Britânicos. Durante esses anos, ela começou a sentir algumas... coisas por mim. Nós nunca dormimos juntas. Nunca nos beijamos ou qualquer tipo de coisa que se passe em sua mente, Thī̀rạk.
— Você sabia? Se aproveitou desses sentimentos?
Sem vergonha alguma, ela assente.
— Eu me aproveitei para cumprir meus objetivos. Ela se tornou um avião importante, mesmo que não entenda o quão boas são suas informações. Não a dei esperanças, tampouco as tirei. — Ela sorriu, ao ver o jeito que eu a olhava. — Eu te disse, cara mia. Aqui, você ouvirá coisas horríveis e tenebrosas sobre mim, e a maioria delas são verdade. Ignore tudo isso e olhe para mim: Diana ou qualquer outra mulher não significa porra nenhuma. Nenhuma delas me conhecem de verdade. Nenhuma esteve comigo. Você é a minha rainha. Não elas. Você segura o poder. Não deixe que te façam tremer. Você é a Rainha de Copas. Todas aquelas pessoas no salão e nessa porra de ilha servem a você.
— E você? Você serve a mim? — Ela me olha com aqueles olhos e segura minha cintura. Com suas mãos fortes. Me apoio em seus ombros. A diferença de altura não parece nada agora. — Não vou admitir que traiam minha confiança. Você viu o que eu fiz com Kai só por um mês de brincadeira. As coisas com você são bem mais sérias. Não me importo com quem você é: se olhar para outra garota ou garoto, eu vou fazer da sua vida um inferno.
Ela me beija, sorrindo enquanto me faz carinho nas laterais do corpo. Odeio admitir que mesmo brava, fulminando de ódio, estou pronta para ela. Bem aqui, contra a parede, pendurada em seu corpo delicioso.
— Eu sou devota a você, Jennie Ruby Kim. — Respondeu, me abraçando. — Você pode me odiar, e o vai fazer em algum ponto, vai me xingar e bater e dizer que seria melhor nunca ter me conhecido. Ainda assim, eu serei devota a você. É isso que esse anel é. Estarei para sempre presa aos teus braços. Attraverso universi, per secoli e forze soprannaturali. Per sempre avrai la mia devozione.
trad: Através dos universos, por séculos e forças sobrenaturais. Para sempre, você terá a minha devoção.
— Eu quero você, Lisa. — Sussurro contra sua boca. — Voglio te, caramella.
trad: Eu quero você.
— Anch'io ti voglio, preziosa. Più di quanto possa dire con le parole.
trad: Eu também te quero, preciosa. Mais do que eu posso dizer com palavras.
Ficamos abraçadas por muitos minutos até chamarem Lisa para sua reunião. Nós saímos juntas, andando até o ponto em que precisaríamos nos separar. Ela me beijou e se despediu, prometendo voltar quando pudesse.
— Vocês sabem onde Miyeon está? — Perguntei aos meus cães de guarda. — Eu quero conhecê-la melhor.
— No jardim, minha senhora. — Yeji respondeu. — Está dando de mamar a principessa em um dos jardins. Gostaria que a levássemos até ela?
Assenti.
— Sim, junto aos cães. Será bom deixá-los passear um pouco.
Eles trocaram olhares antes de assentir.
— Iremos buscá-los para a Senhora.
O dia está lindo, apesar de muito quente. Hyunjin surge com uma sombrinha não sei da onde, mas é grande o suficiente para me cobrir e aos cães também. Me pergunto onde eles ficam quando não estamos com eles, mas um local grande como esse deve ter algum tipo de canil. Os bebês seguem ao meu lado animados, encarando sempre que algum empregado passa por nós. É incrível como não precisam de coleiras. Kuma já teria me abandonado para se aventurar entre os arbustos a muito tempo.
— Com licença. — Digo em coreano ao chegar perto de Miyeon. Ela está sozinha com seus muitos seguranças, dando de mamar calmamente a bolinha branquela em seus braços na área de piscina. Graças a Deus está coberta por um grande guarda-sol. — Posso me sentar aqui?
Ela se vira, sorrindo. Percebo que Hajin abre os olhinhos escuros, se virando para mim antes de voltar a mamar.
— È chiaro! Quero dizer... Claro! — Faço um sinal para que nos deem privacidade, mas os cães seguem comigo até me sentar. — Rainha de Copas, certo? — Assenti. — Prazer, Rainha de Ouros. Não conseguimos conversar naquela hora, não é? Mas é muito bom conhecer outra rainha! Finalmente. Pensei que ficaria só até um dos irmãos serem forçados a casarem.
— Sim! É muito bom te conhecer, você não tem ideia. — Digo, animada. — Mas... hm... Na... A esposa do Diavolo bianco não é uma de nós?
Miyeon sorri como se eu tivesse dito algo bobo.
— Não, querida. O que eu quis dizer, é uma Ferrero, você sabe. Fui a única por algum tempo... e a rainha de espadas nem sempre vem a essas reuniões, é um tanto raro. Então eu acabo ficando sozinha. O bom é que agora tenho companhia, não é?
— Bom... Eu não sei se você sabe, mas eu já havia conhecido sua esposa antes... — Disse, como quem não quer nada, fazendo carinho em um Legos um tanto animado. — E sabe, fiquei um tanto espantada com N ter uma esposa como você. Você parece tão... Calma.
Miyeon gargalhou, assustando Aurora, que franziu as sobrancelhas para a mãe.
— Ela pode ser um pouco intensa, às vezes. Thī̀rạk, ela... Pegou para si a segurança de seus irmãos. Os outros se soltaram mais de sua bolha, mas os mais novos... Ela não consegue. Acredito que seja por causa do que aconteceu com Mário.
Engoli um punhado de saliva, pensando. Não faço ideia de quem seja Mário.
— Honey é um pouco reservada sobre algumas coisas. — Digo, procurando a melhor maneira de fazê-la falar sem parecer suspeito. — Ela não fala se eu não perguntar diretamente.
— Você é a primeira dela. Igual eu fui a da minha esposa. — Miyeon deu de ombros. — Demorou um tempo até ela se tocar dos sentimentos por mim. Ela quase me perdeu. — Ela riu, como se lembrasse da cena exata. — Fui prometida a outra pessoa, sabe, e como ela simplesmente não dizia "Estou apaixonada por você" ou "Eu te amo" eu acreditava que ela não sentia nada por mim. Quello stupido... Na cabeça desses idiotas, demonstração com atos é o suficiente. Mas não é. Na minha cabeça, nossa, ela não sentia nada por mim, eu era só mais uma... Então aceitei me casar. Ela apareceu no mesmo dia, no jantar de noivado.
— O que ela fez? — Perguntei, animada. Sempre gostei de romance, seja em livros ou filmes.
— Gritou meia dúzia de coisas em italiano quando tentaram segurá-la e nocauteou alguns homens até chegar a mim. Disse que me amava, e que se eu a amasse também, não haveria força no céu ou no inferno capaz de nos separar. — O sorriso cresceu em seu rosto, enquanto meu coração se revoltava dentro de mim ao perceber o quão parecida Lalisa e Nicha são. — Eu briguei com ela, disse para ir embora... a xinguei de tudo quanto é nome e falei que não me amava. Então, ela me puxou, de vestido de noiva, e me fez dizer a verdade.
— Você disse?
— Quê? Eu a soquei, mordi, empurrei chorando. Olhando para trás, foi um pouco dramático demais, mas eu estava cansada e muito triste. As outras famílias... não são como a nossa. Eu estava com medo e chateada com ela. Havia colocado em minha cabeça que precisava superar e seguir em frente. Mas, quando ela se ajoelhou, praticamente chorando e me disse que era impossível viver sem mim, e que se eu fosse embora iria levar seu coração consigo, eu entendi que aquela idiota me amava de verdade.
— Isso é lindo... Desculpa, você é minha unnie, ou não?
Miyeon sorriu, olhando-me.
— Eu tenho vinte e oito anos.
— Então você é minha unnie! Posso te chamar de unnie? — Ela assentiu, sorrindo. — Legal!
— Eu tenho poucas amigas coreanas... É legal ser chamada de unnie. Não tive muito contato com a minha cultura, como você pode imaginar. — Assenti, soltando as mochilas dos cachorros para que pudessem ficar mais confortáveis. Tá muito calor para usar couro assim. — Mas... então, o que eu queria dizer, é que te entendo. Lince é ainda mais calada do que Thī̀rạk. Eu não entendo como ela conseguiu você tão rápido.
Sorrio, lembrando. Ela apenas me deu o anel e me mandou usar, sem explicar o que significava ou o que era. Ainda não sei o que se passou em sua cabeça naquela hora. Como que ela pensou que isso daria certo? Eu não sei. Mas, aqui estamos.
— Ela tem seus charmes...
— Acredito que sim. — Aurora pediu para trocar de peito, e Miyeon ajeitou a bebê. — Mas será difícil. Não só pela coisa em si, mas por sua profissão. — A olhei, sorrindo. Então ela sabe quem eu sou. — Não me olhe assim, é impossível não te conhecer. Você está em todos os lugares. Mesmo que eu não fosse fã de kpop.... Eu gosto muito de moda. — Eu assenti, feliz. — De qualquer jeito, o que eu quero dizer, é que pode contar comigo. Nós, mulheres, temos que nos unir. Hades me ensinou isso... então, qualquer coisa que precise, eu estou aqui.
— Idem, Perséfone Dourada. — Ela riu, voltando sua atenção para a filha. Eu passei álcool nas mãos para me livrar dos pelos. — Hmm... falando nisso... Quem é Mário?
Miyeon me olhou, suspirando. Mexeu em sua bolsa em cima da mesa, tirando da carteira uma foto plastificada bem antiga. Havia uma mulher linda, loira de olhos azuis e traços delicados, sentada no colo de um homem enorme, musculoso, de cabelos loiro avelã jogado em um topete, pele levemente bronzeada e olhos verdes. O pai de Lisa. pensei. Porra, eles são muito parecidos. Tem que ser ele. Mas essa não é a mãe de Lisa, não. Sentados no sofá, haviam duas crianças. Uma menina de vestido da Minnie, loira, de traços bem asiáticos e olhos verdes, com um lacinho rosa na cabeça. Nicha. Quem diria que uma criança tão bonitinha se tornaria alguém tão ordinária. E um garoto de sorriso tímido, roupas sociais. Ele era a cópia da mãe nos traços, e logo reconheci o rostinho de Santini. Atrás do pai, jogado em cima dele, um sorridente rapaz loiro de olhos castanho azulados e pele morena.
— Esse é Mário. O irmão mais velho deles.
— Eu... eu pensei que N... que ela fosse a mais velha.
Miyeon esboçou um sorriso triste.
— Ele morreu a vinte e cinco anos atrás. — Miyeon falou, pegando a foto de volta para guardá-la. — Tinha dez anos naquela época. Essa foto foi tirada alguns dias antes.
— C-como ele morreu? — perguntei, nervosa. — Você sabe dizer?
— Ele foi assassinado. — respondeu, tapando os ouvidos da filha. — Morreu para que minha esposa pudesse escapar. Ela nunca te falou? Como os Diavolos foram criados?
— Ela me falou... mas não disse tudo. Tem coisas que ela não gosta de falar sobre. Tipo sobre a antiga Arcebispo dela, e sobre algumas tatuagens.
Miyeon sorriu, assentindo.
— Elas têm disso. Nicha demorou quase um ano para me contar o que fez para ganhar aquela tatuagem enorme de dragão que ela tem. Sobre a sua antiga Arcebispo... Eu não sei muito. Sei que se chamava Sorn Sajakul e que morreu defendendo sua Diaba. Acredito que Agust saiba algo sobre isso. A família deles sempre foi parte da Cosa Nostra, desde sua criação. O avô deles era um importante Capo, que ao se casar com uma mestiça, manchou o sangue da família aos olhos dos outros. Ele teve três filhos... Dois meninos e uma menina. Quando ele morreu, o mais velho assumiu seu lugar. Os outros dois renunciaram seus direitos como príncipe e princesa da máfia e viveram vidas normais. A irmã... — Ela sussurrou perto de mim. — Acho que seu nome era Chaeyeon, se casou com alguém da família de Hades e foi morar longe. Já o pai deles, virou confeiteiro, aquela história toda... Ele se casou com a mãe da minha esposa...
— Lisa me disse que ela morreu. O anel... era dela, certo? Ele não superou sua morte, e por isso criou o anel.
Miyeon assentiu.
— Isso mesmo. Depois que o irmão mais velho morreu, era uma época complicada na Itália... eles foram atrás da nossa família e mataram a irmã, sequestraram minha esposa e os irmãos com a mãe. A morte de Mário e de Angelina... mudou o pai deles. Os Diavolos foram criados para buscarem eles vivos. Mas só conseguiram resgatar O d'argento... E ele não estava exatamente são.
Da casa de banho, saiu um Pietro sem camisa e de sunga, correndo para pular na piscina. Espirrou água em nós, e eu dei um gritinho, vindo para trás. Os cães pularam e latiram felizes, choramingando para mim com olhar de quem pedia para ir na água.
— Eros! — Miyeon gritou ao que Aurora pulou do peito, de repente muito atenta ao que o tio fazia na água. O garoto subiu, cuspindo água para fora enquanto nadava até nós. Aurora ria, batendo palminhas e esticando os bracinhos gordinhos para Pietro. — Attenti a lei! Quest'acqua ha il cloro.
trad: Cuidado com ela! Essa água tem cloro.
— Perdão, tesoro. Como a Nix a chama mesmo? Thī̀rạk!
— O que é isso? — Perguntei como quem não quer nada.
— Meu amor ou minha querida, em tailandês. A noona disse que era a única palavra que ela conhecia em Tailandês, mas sempre que dizia isso pra Lince noona, ela chorava. — Pietro deu de ombros. — Cê quer vir nadar, noona?
Nego, apontando para meu vestido. Os cães latiram, como se dissessem "Mas a gente quer!"
— Noona! Eles podem vir nadar comigo?
— Claro que sim. Andare! — Digo, e os cachorros pulam como doidos na piscina, mas Lily fica ao meu lado na sombra, guardando. Os cães afundam e depois voltam, nadando até Pietro para morderem seu rosto de brincadeira. Love parecia um pouco desconfiado perto dele no começo. Percebi que os dois são mais agitados do que Lily, talvez por ser a mais velha do bando. — Olha como eles estão alegres, que fofinhos.
— É que a Lince nunca deixa. — Pietro diz, rindo. Miyeon me olha, sorrindo também.
— Mas agora eles podem. Eu deixei. Meninos, vocês podem me trazer uma água? E um pouco para eles, também.
— Você pega ela para mim por favor? — Miyeon estica a bebê para mim, que entro em pânico. — Eu quero ajeitar esse top... tá me incomodando um pouco.
— C-claro...
Ela empurra a criança no meu colo, que me olha com curiosidade. Não entendo porque acham que porque sou mulher, dou jeito com criança. Eu as odeio, na verdade. São barulhentas, mimadas e têm um cheiro estranho de suor e baba. Mas é claro que eu não ia dizer isso para Miyeon, então segurei o goblinzinho. Aurora não tira os olhos de mim, e pede pra ficar em pé no meu colo. Eu a ajudo, a encarando de volta. Surpreendentemente, ela não vai imediatamente atrás do meu colar, mas sim, das minhas bochechas, as apertando com força antes de me dar o beijo mais babado do universo inteiro. E então ri para mim, batendo palminhas.
Tá, eu admito. Essa criança é fofa.
AUTHOR POV
Somente essa pequena reunião já foi capaz de deixar Lalisa mais estressada do que já estava. Foram algumas horas discutindo com seus irmãos, perguntando sobre Jennie e sobre a filha de Nicha. Lalisa estava se sentindo confusa, pois ao mesmo tempo que brava com a irmã por ter escondido uma sobrinha por mais de um ano, estava brava consigo por ter colocado aquela criança em perigo ao trazer Jennie para seu mundo. Ela entendia muito melhor o surto de Nicha naquele dia, com Jennie. Ainda assim, não conseguia se arrepender de tudo o que fez para ter a Kim ao seu lado, usando sua cor, seu anel, sendo chamada por seu nome. Ela sabia que seria difícil, mas ao ver Nicha falando sobre o nascimento de Aurora, como escolheram os nomes, mostrando pequenos vídeos e fotos tiradas do crescimento de sua primeira sobrinha, Lalisa só conseguia se perguntar a razão de não poder viver tudo isso também. Confusa, estressada e cansada, ela se dirigiu ao seu quarto faltando quarenta e cinco minutos para saírem para a abertura da reunião, que seria na Sydney Ópera House. Invés de pegarem um barco para então irem ao aeroporto — O que gastariam algumas horas— Elas iriam de Helicóptero até o local, em cerca de uma hora e meia estariam em frente a uma das maiores casas de ópera do mundo. A maioria dos membros havia desembarcado em Sydney, porém, haviam alguns negócios que Yuqi tomou conta para ela em Melbourne, forçando a aterrissagem ali.
— Agust? — Yoongi apareceu ao seu lado, olhando a cena de Jiyong e Hyunjin secando Legos e Love com uma toalha felpuda. — Pode me explicar o que aconteceu aqui?
Yoongi mordeu os lábios, preocupado.
— Se me permite, Senhora. — Ryujin curvou-se, esperando a aprovação de Lalisa. — A Senhora Ferrero os permitiu nadar na piscina com Eros. Os meninos os banharam para tirar o cloro dos pelos.
Ela ouviu o resfolgar de Yoongi, que se segurava para não rir. O Min logo manteve a cara séria assim que Lalisa o olhou.
— Entendi. Não deixe que passem frio. — Lisa murmurou antes de entrar na casa
Lisa entrou no quarto após dispensar os seguranças, escutando a bela voz de sua garota cantando no chuveiro. Animada, Manoban tirou os sapatos enquanto abria o zíper da saia e tentava ao mesmo tempo, tirar sua blusa por cima da cabeça. Ela estava quase nua quando Jennie saiu do banho, enrolada em um roupão aberto enquanto secava os fios longos com uma toalha. Soltou um choramingo sofrido, as mãos tremendo para pegar a cantora e fazer coisas devassas com ela até que toda a ilha soubesse seu nome. Jennie sempre era deliciosa, mas com a pele molhada escorrendo, cheirosa do recém tomado banho, o cabelo molhado e sem maquiagem, nada no mundo se comparava a ela. Era como manifestar o nascimento de afrodite a sua frente, enquanto sua garota secava o cabelo despreocupada, pingando pelo chão.
— Sborra, kitten. Se me recepcionar assim todos os dias... — Perdeu-se nas palavras quando a coreana sorriu ao vê-la, sua barriga se mexendo com a risadinha felina. Lisa não conseguiu segurar seu sorriso. — Como pode nascer tão perfeita assim?
— Olá, honey. — Jennie disse, se esticando na ponta dos pés para beijá-la. — Você demorou.
— Sim. Me desculpe. — Jennie entrou novamente para pendurar a toalha no banheiro, saindo com o roupão entreaberto para começar a passar seus hidratantes. — Eu meio que estava esperando conseguir tomar banho com você, Thī̀rạk. — Quase gemeu ao que a provocadorazinha espalhou o creme cheiroso na panturrilha, massageando até as coxas. — Eu poderia fazer isso para você, sabe. — Jennie finalmente a olhou, e logo sorriu ao ver o que Lisa pretendia. — É sério. Sei fazer massagens tailandesas.
— Algum dia, quem sabe, meu bem. — Jennie disse, esfregando o creme na outra perna. — Você não tem que ir tomar seu banho? Vamos nos atrasar.
— Você está sendo muito malvada comigo, cara mia. Ainda está brava por Diana?
Jennie fechou a cara, a expressão brava de um filhote de gato.
— É agora que você não vai conseguir tocar nesse corpinho mesmo. — Rosnou, soltando o roupão no chão para subir uma cinta liga preta na pele branquinha. Lisa imaginou tapas, mordidas e arranhões naquelas coxas... — Continua citando o nome dessas vadias pra você ver.
A Mafiosa sorriu, passando uma chave imaginária nos lábios antes de a lançar longe. Caminhou até Jennie com os olhos mais pedintes do mundo, tentando a abraçar, sem sucesso.
— Lisa, vai tomar seu banho. E é pra você usar branco. Já escolhi meu vestido. — Lisa assentiu, suspirando contra seu pescoço, as mãos descendo para agarrar sua bunda desnuda. — Lalisa Ferrero.
— Eu posso te pedir desculpas... — Sussurrou, a puxando contra si. Jennie a deu um tapa no braço, tentando afastá-la. — Se eu me ajoelhar... você me perdoa, preziosa? — Viu a pupila de Ruby dilatar ainda mais quando desceu os beijos para seu colo, beijos molhados, lambidas e pequenas mordidas, chupando cada pedaço da epiderme imaculada de sua rainha. — Me perdoa, hm?
Jennie assentiu, se segurando em um dos ombros da loira.
— Não me toque. Use somente a sua boca.
— Me perdoe, minha linda. — Sussurrou em português, beijando ao redor de seus seios, usando a ponta da língua para provocar os mamilos róseos. — Forgive me, my love. — Murmurou antes de sugar as aréolas para dentro, uma de cada vez, arranhando levemente com seus dentes. Jennie estava segurando os gemidos, seu rosto vermelho e sobrancelhas franzidas. — Perdóname, mamacita. Prostite menya. — deslizou para sua barriga, lambendo e chupando, deixando pequenas mordidas em suas costelas antes de lamber ao redor de seu umbigo. — Perdonami, cara mia. — Escutou o bufar de sua garota quando pulou o sexo necessitado, beijando sua panturrilha direita. Chupou e mordeu a pele até se sentir satisfeita e pular para a próxima, beijando com gosto. — Pardonne-moi mon petit. — Sussurrou, e a essa hora a garota já estava tremendo. Lambeu suas coxas, ajoelhada, para pedir mais espaço. Jennie concedeu, apoiando uma das pernas no baú da cama. — Ignosce mi, synchóresé me — murmurou entre o beijo de cada coxa. Mordeu, sugou e brincou com a sanidade de Jennie ao chegar perto de sua virilha o suficiente para sentir o sopro quente de sua boca, mas sem encostar de fato. Ela se virou, beijando a parte de trás das coxas até chegar na bunda gostosa. — Watashi o yurushite, darliing, Khxthos, Thirak. — Beijou uma das bochechas e a mordeu, ganhando o primeiro gritinho da noite. Lisa sorriu, lambendo para amenizar a dor. — Duibuqi wo de airen. — Então voltou, olhando Jennie nos olhos. — Yongseo haejwo, Jagiya.
E lambeu a boceta de baixo para cima, parando bem na ponta do clitóris inchado.
— Aah, Lisa! — Jennie gemeu, os dedos passando entre a franja para se prenderem nos fios loiros. — Porra!
Lisa manteve o olhar em si, chupando e lambendo sua boceta encharcada como se fosse a última vez que poderia o fazer, mãos para trás e joelhos no chão, apenas de lingerie. Aqueles olhos presos em seu rosto o tempo todo, a boca afundada em seu sexo com a língua nadando dentro de si. Jennie tremia, os olhos revirando enquanto esfregava-se na outra sem pudor, afundando o rosto para ficarem mais próximas. Esteve tão excitada o dia inteiro, molhada e pronta apenas com um pensamento que mal pode segurar o orgasmo que a rasgou em minutos.
— Estou vindo, jagiya. — Soltou um gemido alto, profundo, os olhos arregalados. — Aí Lisa, oh, porra... Vou gozar esse rostinho lindo todinho.
Lalisa apenas assentiu, os dedos brancos de tanto se segurar para não tocar sua garota. E Jennie veio, gozou por todo seu nariz e queixo, quase caindo ao perder as forças. A mafiosa subiu rapidamente, a segurando contra si.
— Estou perdoada, Jennie Kim?
Ela riu, a abraçando de volta.
— Sim. Vá se banhar. Precisamos sair em vinte minutos.
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Lisa foi retida na entrada durante alguns minutos por Nkosi, um líder africano que queria muito conversar consigo e insistiu até que Lalisa pedisse que Jennie entrasse à sua frente. Foi presa por quase vinte minutos antes de conseguir seguir para o salão. Soojin estava ocupada conversando com Jihyo, então foi Yoongi quem a trouxe seu uísque.
— Aonde ela está? — perguntou, analisando o salão cheio de Diavolos e aliados. — Não a vejo.
Antes que Soojin pudesse respondê-la, escutaram um chamado.
— Jihyo! — Virou-se para encontrar alguém desconhecido vindo em direção ao grupo. Pela tatuagem saindo pela gola, era alguém que servia aos Yakuza. — É um prazer te rever! Como estás?
— Kenzo! — O cumprimentou com um abraço. — Estou bem! E o senhor? Está belíssimo essa noite!
— Muito obrigado, querida. Esse elogio vindo de você, é demais para esse velho. — Ele cumprimentou os outros homens do grupo, parando em Lalisa com um sorriso.
— Me desculpe, Diavolo verde. Este é Kenzo Mitsuki, um colega.
— Olá.
— Muito prazer, Senhora! Estou ao seu dispor.
Ela sorriu em agradecimento, numa pose feminina que não era sua. Já fazia algum tempo desde que havia estado assim, vestido branco e sob medida, assentando suas curvas. A maioria das vezes eram ternos e roupas sociais em suas reuniões. Foi educada ao mínimo, pronta para sair dali no segundo em que achasse Jennie. Se todo mundo só calasse a boca e parasse de falar consigo...
— Sabe, tem uma garota nova. — O japonês murmurou. — Porra, a maior gostosa. Ela tá com um vestidinho branco, com uma flor assim, no meio dos peitos... e que peitos. Não sei se ela é filha de alguém ou se é, sabe, a puta de alguém, mas...
Foi o momento em que Lisa localizou-a, olhando uma das fotografias expostas no salão junto com Miyeon. Ou melhor, tentando, pois havia um homem, um homem que Lisa reconheceu como o Diretor da casa de Ópera, descaradamente dando em cima de sua garota.
Sua.
Que vestia um look da Alta Costura Verão 2007 da Chanel, um vestido branco feito sob medida para si, com um cinto preto e uma camélia no meio, bem como uma presa em sua orelha esquerda. Ela tinha uma choker preta no pescoço, a clavícula exposta de forma linda pelo corte tomara que caia do vestido que nem mesmo era muito decotado, luvas e meia calça preta para complementar. Ela ainda usava seu anel mesmo por cima da luva. Ainda usava o anel, então porque haviam filhos da puta a olhando, falando com ela, tocando nela, porra porque estavam respirando ao lado dela?
Sua.
Sua garota.
Sua e de mais ninguém.
Ela trincou a mandíbula, apertando o copo com tanta força que o vidro rachou em sua mão. Em sua mente, piscava flashes de um taco de beisebol e a cara de todos os homens a olhando com desejo. Piscava seus dedos sendo arrancados e suas línguas mordidas fora por seus cães. Jennie se afastou, dando alguns passos para trás, desconfortável, mas ainda sorrindo educadamente. Sua inocente e perfeita menina não tinha em si para mandá-lo se foder ou fazer um simples sinal para que Yuqi ou Hyunjin arrancassem ele de sua presença.
Lisa respirou fundo, se segurando. Se puxasse sua adaga ali e rasgasse a garganta do garoto ao seu lado, mancharia seu vestido —Jennie especificamente a ordenou que vestisse branco— e provavelmente assustaria sua garota demais. Não podia arriscar nem uma facada no olho. Eu vou respirar fundo e todos eles vão sumir no fim da noite. Tudo bem.
E então o velho fodido beijou sua mão.
Ele beijou a mão dela.
Tocou os lábios na pele dela. Contra a vontade dela.
Ele iria perder aqueles lábios.
Bastou um olhar seu para Yoongi, que entendeu exatamente o que deveria fazer. Ela tocou seu pulso e então, deslizou a língua pelos lábios. Seus homens já sabiam o que fazer no fim da noite.
— Com sua licença. — Educadamente se retirou, o sangue fervendo dentro de si como lava enquanto caminhava pelo salão. Jennie a encontrou com o olhar, sorrindo, mas pedindo ajuda com os olhos. Ela deslizou uma das mãos pela cintura de sua garota, e beijou seu rosto, aspirando seu cheiro na esperança de que isso acalmaria o bicho possessivo e assassino dentro de si. — Cara mia, me perdoe pela demora.
— Tudo bem, Bambolina. — Ela sorriu, adorando o novo apelido. Jennie piscou quando Lisa a selou a testa, tendo o maior dos sorrisos em seu rosto. — Unnie me fez companhia. E também conheci o Senhor Weston. Ele é o diretor da casa e um grande apreciador da Chanel, acredita?
Aquele filho da puta não devia nem mesmo conhecer o criador do vestido. Ele estava usando Armani.
— É mesmo? — Ela sorriu falsamente, os olhos verdes brilhando em divertimento. — Minha noiva é uma fã do trabalho de Lagerfeld. Como pode ver, eu apenas a acompanho. — Mostrou seus looks combinando. — É um prazer te rever, Senhor Weston. Já faz algum tempo. Desde sua nomeação, acredito.
O homem se tornou pálido, mas tentava disfarçar com sorrisos e charme. Não funcionou nada com Lalisa. Já Jennie, esta já o havia perdoado. Estava acostumada. Os homens caiam em cima de si e esses flertes inocentes não significavam nada para si.
Mas Lisa... Lisa estava pensando nos mil jeitos em que poderia tortura-lo por encostar em Jennie, por respirar o mesmo ar que ela, por pensar nela e por existir naquele mesmo segundo.
Ele pararia até mesmo por seu maldito terno da Armani.
— Oh! Eu não sabia que eram noivas. Que mundo pequeno, não é mesmo! — Lisa assentiu, com um sorriso. Sua mão firme na cintura de Jennie, que a segurava de volta. O sinal tocou, os despertando para a entrada. — Bom, já vai começar. Espero que gostem da peça.
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Jennie não achava nada demais na Ópera. Quer dizer, é claro que ela gostava das fantasias, da música e da dança, mas... só não era algo apetitoso para si. Mas ao olhar para o rostinho tão cheio de emoções de sua acompanhante, seu pequeno tédio passou. Lisa acompanhava a peça atentamente. Era La città di Smeraldo, uma peça italiana que estava marcada na pele de sua... namorada (?).
Na peça, conta-se sobre um homem "feio" que mora em um castelo velho, entre 1500 e 1600. Enquanto o protagonista crescia, recebia muito ódio e crueldade por causa de sua aparência que segundo os locais, era feia e repugnante. O homem nunca conseguiu abrir seu coração para ninguém, quando se aproximavam dele, se escondia de raiva e tristeza. Passou a vida inteira vivendo sozinho, abandonado em seu castelo. A sua única alegria era plantar flores em seu jardim.
Mas então, uma mulher pula a cerca do seu jardim e rouba uma flor. Irritado, ele passa a assistir todas as noites o seu jardim, mas sempre cai no sono e a mulher rouba outra flor. Isso acontece noite após noite, até que ele começa a fingir que está dormindo para observá-la. Aos poucos, ele começou a ter curiosidade sobre a mulher, esperava por ela sem perceber. A cada dia parecia que ela estava mais brilhante. Cheio de curiosidade, ele pôs sua máscara e a seguiu, para ver o que fazia com suas flores. Percebeu que ela roubava flores para vender e ajudar sua família pobre. O homem quis desesperadamente ajudar, mas temia que ela fosse ficar apavorada com sua aparência. Achava que era incapaz de ser amado. A única maneira de ajudá-la era deixando que ela roubasse as flores de seu jardim.
Ele decidiu fazer uma flor que não existisse no planeta, assim, ela conseguiria ganhar muito dinheiro. Entediada, Jennie teve uma ideia tirada diretamente de "Como perder um homem em dez dias". Ela só precisava esperar o ápice da ópera.
— Lisa.
— Sim, linda? — Respondeu, sem tirar os olhos da peça.
— Tô com sede.
— Já está acabando, meu bem. Você não bebeu água no intervalo?
— Você pode pegar uma coca diet pra mim?
— Sério preziosa, agora? — Jennie assentiu. Lisa olhou para os lados. — Vou pedir para a Ryun...
— Aigoo, porque você não pode pegar, jagiya?
Disse com um biquinho e sua voz fofa. Lisa suspirou e a beijou, saindo. Jennie sorriu e voltou a prestar atenção na peça.
Finalmente entretida, ela observou as várias tentativas frustradas, até que ele finalmente consegue criar uma flor que não existia em lugar nenhum e que encheu o jardim. Mas, a mulher parou de vir. Ele esperou por muito tempo até criar coragem para colocar sua máscara e sair atrás dela. Cheio de preocupação, mas esperançoso, ele leva um buquê das flores para encontrá-la.
— Aqui, Thī̀rạk.
— Boneca, não tem gelo. — Fez um biquinho. — Pode ir pegar gelo?
Lisa assentiu, meio frustrada, mas saiu correndo para não perder o final. Só que já é tarde demais. O ápice da ópera é quando ele descobre que sua amada havia morrido, doente.
Jennie abriu a boca em choque. Como assim, caralho? Não tem final feliz?
E então ele canta. Uma música triste, melancólica, e o ator soluça em meio às lágrimas. Jennie acompanhou toda a peça pelos olhos de Lisa, vendo suas emoções mudarem conforme o plot, mas não pensou que ficaria tão envolvida assim. Ela começou a fungar quando a música começou.
"Nesse jardim cheio de solidão, coberto de espinhos, eu me amarrei a esse castelo de areia. Qual é o seu nome? Você sequer tem para onde ir? Oh, você poderia me dizer?
Eu vi você se escondendo neste jardim
E eu sei, todo o seu calor é real, eu quero segurar a sua mão que arranca aquela flor azul
Mas esta é a minha maldição: Não sorria para mim, me ilumine, porque eu não consigo chegar até você. Não há nome pelo qual você possa me chamar
Você sabe que eu não consigo me mostrar para você, me entregar à você, eu não posso te mostrar esse meu lado miserável, então coloco uma máscara e vou te encontrar. Mas, eu ainda quero você.
Floresceu no jardim da solidão uma flor que se parece com você. Eu queria dá-la para você depois de me livrar dessa máscara idiota: Mas eu sei que eu nunca vou conseguir, eu preciso me esconder, porque eu sou feio"
A essa altura, Jennie era uma bagunça de lágrimas, tentando secar com o lenço para não borrar a maquiagem. Lisa voltou, segurando o copo com gelo, canudo e limão.
— Ah... eu perdi a primeira parte.
"Tenho medo, sou tão patético, estou com tanto medo. Tenho medo de você também me abandonar no final. Novamente, coloco uma máscara para ir te encontrar
O que eu posso fazer nesse jardim, nesse mundo, é florescer uma flor que se parece com você e respirar como aquele eu que você conheceu mas eu ainda quero você. Eu ainda quero você
Talvez naquela época, só um pouco, apenas um pouco. Se eu tivesse coragem de ficar na sua frente será que tudo teria sido diferente agora?
Estou chorando nesse castelo de areia que está se desfazendo e sendo deixado sozinho
Enquanto olho para esta máscara quebrada e eu ainda quero você, mas eu ainda quero você, mas eu ainda quero você e eu ainda quero você."
As cortinas se fecharam, e as luzes acenderam. Jennie estava apoiada no colo de Lisa, chorando.
— Essa ópera é muito triste. Não gostei. — Fungou, sendo abraçada de lado pela Ferrero. — Porque você me trouxe pra ver isso? É horrível!
— Mas é belo.
— Foda-se! Não tem final feliz, eles não ficam juntos! Aquele cara é um covarde, ela também uma burra pobre, e nada dá certo!
— Sim, mas a moral da história é... ei, você nem tomou sua coca diet. — Jennie deu de ombros, a abraçando. — Está se sentindo bem? Você comeu pouco no almoço.
— Não precisa. Vamos jantar agora, não?
— Tem certeza? Eu posso pegar uma pizza ou algo na lanchonete e...
— Aí está ela! A peça foi incrível, uma ótima abertura como sempre, Diavola Verde. — Jennie olhou para o homem enorme de cabelo grisalho e terno de marca. Giovanni Rossi. O ex Cardeal de Matteo. Jisoo, Kiara e Santini estavam por perto, bebendo champanhe na entrada do restaurante da casa, reservado para eles. — Estávamos te esperando.
— Obrigada. — Lisa sorriu, apertando a mão do homem.
— Himeros, como está linda. — Jennie virou-se para a dona da voz. Era uma mulher na casa dos quarenta, pele bronzeada e olhos esverdeados. Usava um vestido branco de alta costura, com o cabelo escuro envolto em um coque elegante. — Oh, Estamos combinando! Sincronizadas huh?
Sincrinizidis! Jennie decidiu naquele momento que odiava aquela velha. Apertou sua mão na cintura de Lisa, sentindo o carinho em suas costas. Aquela vaca era cega, ou estava ignorando de propósito, uma mulher agarrada em Lalisa? A Ferrero deu um sorriso sem graça, abraçando-a com mais força.
— Acredito que não tenha apresentado vocês ainda. Esta bella donna ao meu lado é minha noiva. Cara mia, estes são amigos de longa data de nossa família.
— Muito prazer. — Jennie disse, um sorriso falso e perfeito que havia mestrado ao longo dos anos.
— Encantado! — Giovanni respondeu, esticando a mão para um cumprimento. — Sou Giovanni Rossi, ao seu dispor. — Santini negou com a cabeça, já cansado do homem não se adequar às medidas de segurança. — Estes são meus filhos, Andrea e Sofia.
Ah. Então é essa, a vadia que acha que vai casar com a minha Lisa.
— Um prazer, Senhora. — Andrea disse. É um homem mais novo que a irmã e mais bonito também, de olhos e cabelos escuros e um charme natural. Contudo, foi muito respeitoso para com Jennie, sem ao menos tocar sua mão, apenas sorrindo em educação. — Estão belíssimas juntas. Meus parabéns, Deimos.
— Obrigada. — As duas disseram. Jennie riu, beijando o queixo de Lisa antes de fuzilar Sofia com o olhar.
— Oh. Está noiva, Lisa? — Sofia questionou, olhando Jennie de cima a baixo. Jennie não perdeu o modo como Lisa a apertou contra si. — É inesperado, mas é um prazer te conhecer, menina.
— Podemos entrar, não? — Jisoo chamou a atenção com um sorriso. — Estou com fome e acredito que vocês também.
— As damas primeiro.
Giovanni insistiu, deixando que as mulheres passassem a sua frente.
— Preziosa, irei ao banheiro rapidamente.
— Eu vou também.
Jisoo a puxou, sussurrando em seu ouvido. Jennie não perdeu o momento em que Sofia seguiu Lalisa.
— Tenha cuidado com Sofia. Ela tem uma obsessão por Lalisa desde que a conheceu. Ela fará de tudo para entrar em seu lugar. — Jennie a olhou, com deboche no ar. — Ela é mais experiente que você, e conhece os contatos a muito mais tempo. Não deixe que ela ganhe de você, ok? Todos estão gostando muito de ti, você foi muito bem hoje. E ela vai tentar destruir isso. Tenha cuidado. Nunca se encontre com ela sozinha. Sempre tenha alguém com você. E por alguém, eu quero dizer alguém além de seus seguranças. A palavra deles não irá servir.
Assentiu, guardando as palavras em sua cabeça. Assim que Jisoo viu que Jennie havia a entendido, a soltou, e a Kim correu em disparada até o banheiro. Lentamente para não ser ouvida, Jennie adentrou o cômodo.
— Eu já disse que não vai acontecer. Não aconteceria antes, e muito menos agora, que eu sou casada. Esqueça essa ideia. Há muitas outras pessoas no mundo.
— Não se esqueça de que você foi prometida à mim, amore mio. — a voz de Sofia soou. Pelo reflexo dos espelho, Jennie conseguia ver o quão desconfortável Lisa parecia. Mas, não era só isso... Lisa parecia... pequena de alguma forma. Como se sentisse algum tipo de intimidação daquela mulher. — Você será minha.
— Um membro da sua família foi prometido a alguém da minha. E eu tenho irmãos, se não percebeu. Já chega. Eu sou casada. Você perdeu. Agora me deixe, pois tenho que voltar a minha garota. E não me chame mais assim.
— Você não se lembra, amore mio? Do que fizemos atrás da casa da piscina? Você era tão novinha mas já sabia...
Em um movimento, a ponta da faca encostava contra o queixo da italiana.
— Não se esqueça de quem eu sou. — Lisa rosnou. — Não importa que coisa distorcida você tenha em sua cabeça, e o qual tolerável eu tenha sido, você nunca deve se esquecer qual é o seu lugar. Não vou admitir esse desrespeito.
Sofia riu. Ela riu. Ela não tem medo de Lisa.... Ou... ela só não acha que Lisa possa machuca-la?
— Gosto quando você fica brava assim.
— Você não me viu brava ainda. Eu não vou te machucar aqui, porque minha gattina me mandou combinar com ela e o vermelho desse seu sangue podre não mancharia meu vestido, além de ser um saco pra limpar e deixar minha garota com medo. Mas não pense que não sou capaz. Porque eu sou.
— Oh, eu sei muito bem do que você é capaz. E aquela menina? Duvido que vá durar. Ela é uma garota. Não tem ideia da onde está de metendo. De certa forma me lembra de você, naquela época...
Jennie engoliu a vontade de vomitar. Aquela mulher devia ser no mínimo, vinte anos mais velha do que elas. Com quantos anos ela conheceu Lisa? Porque Lisa parecia tão nervosa perto dela? Lisa esteva estranha o dia todo, a apertando e abraçando. Seria por isso? Por causa... por causa de Sofia?
— Se você pensar nela, eu mato você. Fiz vista grossa para os outros porque não tinha prova nenhuma de que foi você. Mas estou avisando. Se tocar nela, se ao menos chegar perto dela com um olhar diferente, se pensar em toca-lá, você vai me implorar para te matar. Eu vou fazer você implorar para morrer. Me ouviu bem? Vai implorar para que eu te mate.
Jennie deu alguns passos para trás quando percebeu que Lalisa iria sair, fingindo que havia acabado de chegar na porta do banheiro.
— Ei, amor. Desculpa, a Unnie queria conversar.
Lalisa sorriu, segurando suas mãos, as trouxe para seus lábios e as beijou.
— Tudo bem, kitten. Podemos ir para casa? Não estou me sentindo muito bem. Acho que tomar um pouco da sua coca mexeu com meu estômago. Não costumo tomar muito refrigerante.
— Claro. Eu também estou sem fome, me enchi de amendoim e aqueles pãozinhos de entrada.
— Obrigada, preziosa. — Lisa a abraçou apertado, levando em direção a saída. — Vou mandar que comprem umas pizzas para você comer no helicóptero. O que acha?
— Tudo bem, jagiya. O que você quiser.
Jennie a abraçou de volta, forte. Quando olhou para trás, Sofia estava as observando.
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