“Não sou um estranho no escuro
Se esconda, eles dizem
Porque não queremos
suas partes danificadas
Aprendi a ter vergonha
Das minhas cicatrizes
Fuja, eles dizem
Ninguém vai te amar
Do jeito que você é”
This Is Me - The Greatest Showman
Dois anos atrás…
Cloud 9, 8 de agosto de 2019.
Gangnam-gu, Seul.
O Night Club Cloud 9 costumava ser uma das boates preferidas da elite coreana para as noites mais calorosas em Seul. O prédio oval com capacidade para 8 mil pessoas situava-se no bairro mais nobre da cidade, posicionado entre dois arranha-céus colossais.
A boate destacava-se por sua fachada glamurosa, ambiente agradável e atendimento excepcionalmente elogiado.
De manhã quem passava pela calçada do prédio deslumbrava-se com um portão dourado e muro com grades igualmente douradas. Os portões, parecidos com a entrada de um palácio, eram abertos a partir das 20h00, revelando um corredor extravagante formado por um conjunto de fontes ornamentais de piso. Elas espirravam água para o alto e os painéis de led, embutidos ao seu redor, iluminavam o caminho com luzes coloridas.
Uma equipe de manobristas aguardava em um espaço apropriado para atender os clientes que quisessem deixar seus automóveis de luxo aos seus cuidados. Eles administravam um estacionamento repleto de seguranças e câmeras de monitoramento.
A entrada para pedestres não ficava distante do glamour, a mesma era formada por uma trilha de palmeiras exóticas não nativas com grandes dimensões de altura e ao redor dos troncos encontravam-se painéis de led.
O portal principal de entrada do clube possuía um pergolado em formato de túnel coberto por policarbonato fume. No final do corredor avistava-se uma escadaria com exatos nove degraus para quem quisesse contar e confirmar.
Em noites de eventos os seguranças eram instruídos a posicionarem-se próximos de um púlpito de vidro na área de Check-in. Ao lado do púlpito havia um conjunto de pedestais dourados separados por um cordão vermelho trançado que bloqueia a passagem para as escadarias. O caminho só era liberado para aqueles que possuíam o nome escrito na lista de convidados da hostess.
Não era comum o Cloud 9 reservar seu espaço para casamentos ou eventos corporativos particulares, os administradores habitualmente promoviam seus próprios eventos. No entanto, alugar o clube para uma festa exclusiva não era algo impossível para aqueles que possuíam os contatos certos. E o que dizer dos contatos da família Byun? Eles tinham as melhores relações, empresários do país inteiro comendo em suas mãos. Não houve sequer um obstáculo para conseguirem o Cloud 9 reservado especialmente para uma festa comemorativa da Privé Alliance no dia 08 de agosto de 2019.
A empresa fechou um contrato milionário que só foi possível graças às intervenções de Baekhyun no acordo. Embora ainda não houvesse assumido a empresa, ele se envolvia em grandes negociações como aquela. Em menos de quatro meses iriam inaugurar duas lojas colossais em Tokyo no Japão e uma em Londres na Inglaterra. Tratava-se de uma conquista que merecia um evento memorável.
Baekhyun queria que o namorado vibrasse junto e fizesse parte daquela ocasião tão crucial para o crescimento da Privé Alliance. Não foi fácil convencê-lo, mas depois de muita insistência, um carinho ali e outro aqui, Sehun aceitou o convite.
Oh Sehun não compreendia o significado do contrato que Baekhyun conseguiu para Privé, contudo sabia que ele era a razão de uma explosão de gritos e sorrisos de seu namorado e qualquer coisa que fizesse Baekhyun ficar tão elétrico devia ser muito importante e digno de comemoração.
Essa era a única razão para o mecânico encontrar-se acomodado no banco de trás do carro de um motorista de aplicativo ao invés de estar se deslocando pela cidade montado na garupa confortável de sua moto. Estranhava estar no banco de passageiro, preferia mil vezes estar pilotando a belezinha que parcelou muitas vezes com juros monstruosos. Mas seria um pecado amassar a roupa engomadinha que estava vestindo e ainda tinha uma carona para volta garantida no carro esportivo do namorado.
Sehun suspirou pelo o que deveria ser a décima vez, maltratava o lábio inferior entre os dentes e a todo instante passava a mão na testa conferindo se não estava suando.
Os segundos daquele dia pareciam ter passado como horas. Sehun estava tão ansioso que Oh Hyunjin o dispensou mais cedo do serviço, o menino estava atrapalhando mais do que ajudando os outros mecânicos.
Assim que foi dispensado ele tomou um banho de quase quarenta minutos. Era um tal de esfrega, esfrega daqui e esfrega, esfrega de lá. A pele do mais novo chegou a ficar um pouco irritada ao passo que ele tentava a todo custo tirar qualquer vestígio de óleo ou graxa do corpo.
Sehun cheirou debaixo do braço diversas vezes. Passou desodorante, creme e empesteou a casa todinha com cheiro de colônia forte, o que rendeu alguns resmungos de Hyunjin. Estava paranoico com cheiros desde que ouviu Byun Yerin pedir para uma empregada jogar no lixo um conjunto de almofadas nas quais se deitou em cima para ver filmes com Baekhyun na mansão dos Byun. Alguns dias depois o namorado o presenteou com perfumes caros e sabonetes diferentes. Sehun ficou se perguntando se havia sido uma indireta, talvez devesse demorar mais tempo no chuveiro.
Para sua sorte, a namorada do melhor amigo trabalhava em um salão de beleza e quando ficou sabendo que ele foi convidado para um evento no Cloud 9 fez questão de ir até a oficina ajudá-lo. Kim Jisoo o fez tomar um segundo banho para tirar o cheiro forte de colônia, hidratou seus cabelos negros e cacheou os fios rebeldes. Ela fez uma maquiagem quase imperceptível, somente realçou seus olhos com rímel incolor e lápis de olho sem brilho.
Jisoo ficou fascinada com o conjunto de perfumes que Sehun ganhou do namorado. Ela escolheu um deles e borrifou discretamente nele, o proibindo de borrifar mais vezes.
Uns meses atrás Kim Jongin precisou comprar um terno para o casamento da irmã mais velha, ele usou o traje uma única vez na vida e por conveniência tinha o mesmo tamanho que Sehun. Ou seja, era perfeito para ser emprestado naquela noite. A peça estava impecável, parecia novinha. Ainda mais quando Jisoo buscou em uma lavanderia passado e levado por profissionais.
O caimento do terno se adequou perfeitamente ao corpo esguio do mecânico mais novo. A calça modelava suas coxas e marcava a bunda arrebitada sem o deixar vulgar. Podia se dizer que a camisa por baixo era a única peça de grife que vestia, considerando que foi um presente do namorado e tratava-se de uma camisa branca da Privé com botões perolados na frente.
O clima estava abafado, o céu dizia que em breve choveria e Sehun sentia-se sufocado dentro daquela roupa social. Perdeu a conta de quantas vezes coçou o pescoço e mexeu na gravata estilo clássica na cor preta que Jisoo arrumou com afinco.
O motorista do aplicativo parou no acostamento em frente ao portão dourado do clube, o fazendo se arrepiar da cabeça aos pés. Nunca pensou que um dia atravessaria aquele portal tão elegante, parecia algo tão distante de sua realidade.
Sehun costumava sair uma vez ou outra para baladas e bares acompanhado por Kim Jongin. Às vezes também saia sozinho quando se sentia carente e desejava conhecer alguém. Porém, o Cloud 9 definitivamente estava muito distante do tipo de lugar que costumava ir. Os clubes que frequentava não ficavam na zona nobre, não eram tão grandes, não tinham tantas pessoas elegantes, não tinham tantos enfeites atrativos ou metade da segurança que aquele night club com certeza possuía.
Ele esfregou as laterais das coxas ao descer do carro e encarar o prédio iluminado. Logo na descida ele cobriu os lábios chocado ao ver ninguém mais e ninguém menos que a cantora BoA sendo acompanhada por um grupo de amigas no corredor de entrada.
Aquilo parecia surreal demais para ser verdade. Não conseguia sentir-se parte daquele coquetel de pessoas indo e vindo. O rapaz andou de um lado para o outro pensando se deveria mesmo entrar, não imaginou que a família do namorado fosse tão bem relacionada ao ponto de terem celebridades na festa deles. Sehun ainda estava longe demais de entender a posição do namorado na elite coreana.
— Onde eu fui me meter? — perguntou para si mesmo, incrédulo. O pensamento de fugir e inventar uma desculpa, como ter se perdido ou passado mal, cruzou sua mente como uma tentadora saída. Então sua consciência o relembrou do sorriso bobo do namorado ao comentar empolgadamente sobre o evento e o quanto queria compartilhar aquela ocasião com ele. Ah, pronto! Agora não podia mais ir embora. Não podia desapontar o namorado numa noite tão especial, ele fez uma promessa e precisava cumpri-la, não podia se acovardar naquela altura do campeonato.
Sehun atravessou a trilha das palmeiras, surpreendendo-se cada vez mais com a quantidade de famosos no evento. Ele colocou a mão no peito ao ver o cantor Lee Taemin no final do corredor posando para fotos.
O mecânico pensou que cairia estirado no chão naquele exato momento. Precisava urgentemente de uma ambulância, podia jurar que algo muito estranho estava acontecendo com seu coração. Estava batendo rápido demais. As pernas também não queriam obedecer a suas vontades, elas simplesmente congelaram no meio do caminho.
Sehun sentiu como se houvesse zerado a vida só de vê-lo tão pertinho. Não queria se tornar alguém inconveniente ou incomodar as pessoas, só queria poder se aproximar do cantor que admirava e pedir uma fotinho. Talvez rolasse um abraço se ele tivesse muita sorte, e aí sim teriam que chamar uma ambulância. Se ele abraçasse o cantor teria um treco, certeza!
— Não posso estragar tudo. Preciso me controlar, preciso me controlar... o Taemin tá na festa do meu namorado. Puta que pariu, quem é meu namorado? — perguntou para si mesmo. A riqueza do namorado nunca foi um objeto de seu interesse, por isso nunca se atreveu a buscar mais informações sobre os negócios dele e da família. Mas sentiu-se tentado a fazer uma pesquisa aprofundada para entender melhor a profundidade do abismo onde se jogou de olhos fechados. Até o momento só sabia que não podia causar constrangimentos para o namorado, precisava se comportar na festa da empresa dele.
Ele continuou andando tentando passar despercebido e não causar problemas. Sentiu uma irritação nos olhos devido ao brilho constante do flash de câmeras. Acabou parando em uma fila com homens e mulheres impecavelmente bem-vestidos. Reparou que os mais famosos estavam entrando com seguranças por uma porta especial enquanto os outros convidados aguardavam naquela fila protegida por um pergolado em forma de túnel.
Um por um, os convidados eram brevemente barrados atrás de um cordão vermelho e falavam com a hostess. A mulher ostentava um vestido azul modelo sereia com uma fenda discreta na coxa, calçava um par de saltos altos com brilho e segurava um tablet com uma capa azul que combinava com todo o conjunto. A funcionária conferia algo na tela do aparelho e em seguida acenava para os seguranças liberarem o caminho para as pessoas autorizadas passarem.
Sehun assistiu essa mesma cena se repetir diversas vezes até sua vez finalmente chegar.
— Boa noite! Seja bem-vindo ao Cloud 9, qual seu nome? — ela repetiu a mesma fala ensaiada, sorrindo falsamente, enquanto preparava o tablet para uma nova consulta.
— Boa noite! Eu me chamo Oh Sehun.
A moça rolou a tela após digitar seu nome. Ela franziu o cenho, questionou como escrevia seu nome e depois de mais duas tentativas o encarou com desdém.
— Seu nome não está na lista — afirmou secamente. O rosto do mais novo se converteu em uma expressão confusa.
— Pode olhar de novo, por favor? Meu nome é O-h S-e-h-u-n — ele falou devagar e soletrou novamente como se escrevia seu nome. A hostess olhou uma última vez no visor e revirou os olhos, entediada.
— Seu nome não está aqui, sem nome não entra.
O mecânico passou a mão pelos cabelos sem conseguir entender a situação. Ele tinha certeza que Baekhyun disse que a festa era no Cloud 9, ele marcou o endereço certo e a data certa. Precisava encontrá-lo lá dentro.
— Espera! Eu tenho um convite — ele exclamou animado, tirando de dentro do bolso da calça uma folha com o anúncio do evento. A recepcionista analisou a folha com descrença. Ela riu antes de amassá-la e jogá-la em uma lata de lixo atrás do púlpito de vidro.
— Isso é um panfleto, não é um convite. Qualquer pessoa da cidade poderia ter um desses em mãos, garoto.
Sehun encarou a lata de lixo onde a folha foi jogada, indignado. A própria Byun Yerin entregou aquele convite em suas mãos na última vez em que foi na mansão dos Byun passar um tempo com seu namorado.
— A senhora Byun me entregou esse convite pessoalmente. Eu sou o namorado do filho dela e preciso entrar nessa festa, o meu namorado está me esperando lá dentro.
Sehun tentou explicar, sentindo-se constrangido pela quantidade de pessoas resmungando atrás dele na fila. Aquilo jamais aconteceria em seu bairro, quando era convidado para qualquer evento bastava apenas bater palma no portão, em menos de um minuto estaria com uma garrafa de cerveja na mão e um espetinho de carne na outra, batendo um papo acalorado e se divertindo ao som de boa música.
— O senhor está bloqueando a passagem dos convidados. Vou ter que pedir que se retire, por gentileza.
A hostess advertiu ao perceber que a fila estava aumentando consideravelmente, as pessoas não pareciam contentes com a demora.
— Eu não posso ir embora. Será que você pode pedir para alguém chamar Byun Baekhyun aqui? Ele está me esperando lá dentro, eu sou o namorado dele.
Ela suspirou tentando disfarçar um sorriso presunçoso.
— Garoto, o senhor Byun teria pedido para colocar seu nome na lista se fosse namorado dele. Aliás, por que viriam separados se estivessem juntos? — Questionou impaciente.
— Porque ele é o anfitrião da festa. Ele precisava chegar mais cedo e cuidar dos preparativos e eu estava trabalhando, por isso combinamos de nos encontrar lá dentro. Eu sou o namorado do Baekhyun, ele é um dos organizadores do evento, moça. Por favor, eu posso provar, é só chamar ele aqui e ele mesmo pode confirmar.
Sehun implorou choroso. Baekhyun disse que pediria para colocarem o nome dele na lista e sua sogra havia entregado aquele panfleto que Sehun jurava ser um convite. Em todos os seus pesadelos onde algo dava errado naquela noite jamais pensou que sequer chegaria a entrar na festa. Em suas ilusões mais pessimistas ele quebrava algo importante, derramava bebida em alguém ou simplesmente falaria alguma bobagem que faria Baekhyun ficar com vergonha.
— O senhor Byun não gosta de ser incomodado-
— Eu sou a porra do namorado dele, eu garanto que não vai ser um incomodo chamar ele aqui pra me buscar — Sehun gritou, perdendo a paciência com a recepcionista. Só queria sair daquele impasse e entrar logo na maldita boate.
— Olha como fala com a moça! — um dos homens na fila berrou para o mais novo e em seguida encarou os seguranças, indignado por ainda não terem feito algo. — Alguém tira esse infeliz daqui ele está travando a fila.
Outros convidados começaram a reclamar, pedindo que Sehun fosse retirado pelos seguranças.
— Se você não sair por vontade própria, eu serei obrigada a pedir que os seguranças o retirem — a recepcionista ameaçou, o fazendo dar alguns passos para trás. Sentia-se desconfortável com todo transtorno gerado ao seu redor.
— O Baekhyun me disse que eu era o principal convidado dele, ele quase me implorou pra vir hoje, ele vai ficar muito chateado quando souber o que fizeram comigo. Eu espero que você não se arrependa por isso, não custava nada ter chamado meu namorado aqui.
Ele se afastou olhando fixamente para o chão, sem coragem de ver o rosto das pessoas. Sehun já tinha passado por muitos apuros na vida e nunca se sentiu tão envergonhado quanto naquele momento. Alguns jovens o vaiaram enquanto caminhava para o lado oposto da entrada. Ele avistou alguns banquinhos de madeira com grades pretas nas laterais, fixados em um jardim aparentemente voltado para fumantes.
O rapaz chutou o chão irritado antes de sentar-se em um dos banquinhos com os braços cruzados na frente do peito.
— Que droga! — xingou antes de prender a cabeça entre as mãos e repassar todo vexame dentro de sua mente. Ele era o namorado do Baekhyun, porque foi tão difícil para aquela mulher e todos os outros convidados acreditarem? O que ele ganharia mentindo?
Acabou se perguntando como teria sido se estivesse vestindo um terno composto somente por peças de grife, se usasse um relógio de ouro e tivesse chegado em um carro esportivo. Todos teriam agido da mesma forma ou teriam ido chamar o anfitrião da festa para confirmar sua versão da história?
Sehun tirou o celular do bolso da calça e tentou ligar para o namorado. Pediria para Baekhyun buscá-lo pessoalmente lá fora e faria questão de enchê-lo de beijos e abraços na entrada daquele clube. Sem querer começou a imaginar quais seriam as reações dos funcionários quando atravessasse aquele cordão acompanhado pelo futuro presidente da Privé. Seria uma doce reviravolta se o cara que ele chamava de namorado atendesse a droga do celular.
Ele ligou, uma, duas, três... vinte e quatro vezes. As ligações ficavam registradas uma atrás da outra e ele também enviava mensagens que não eram visualizadas. Ficou tão nervoso que entrou no aplicativo de conversas e iniciou um áudio.
— “Pra que você tem uma porra de celular de última geração se não atende quando eu preciso falar com você? Pega essa merda e enfia no cu”.
Sehun gravou o áudio em um lapso de fúria, sem pensar. Estava tão ansioso com tudo dando errado que não media mais o que falava, precisava descontar toda aquela frustração que o consumia.
— “E vai se foder, Baekhyun! Não ouse me procurar amanhã, porque sou eu quem não vai te atender. Se você não atender essa droga de celular agora não adianta querer me ligar depois”.
Sehun desistiu de esperar, ele levantou-se do banco com o intuito de ir embora para chorar no colo do pai. Quando estava saindo o barulho de aplausos chamou sua atenção, o fazendo virar-se para ver o motivo.
Lá estava ela, Byun Yerin, trajando um vestido vermelho longo com as costas peladas e um decote em “V” na frente. Ao vê-la subir os degraus de entrada, Sehun viu uma oportunidade de finalmente conseguir entrar. Ele correu o mais rápido que podia, completamente afobado, cortando a frente das pessoas na fila e ouvindo diversas reclamações em resposta.
— Senhora Byun! Senhora Byun! — ele gritou até ser barrado pela mesma recepcionista de antes.
— Senhora Byun! — ele continuou tentando chamar a atenção da mãe do namorado.
— A mãe do Baekhyun pode confirmar quem sou eu, moça — Sehun falou esperançoso para a recepcionista. Quando Yerin estava quase no final da escadaria, um dos seguranças chamou seu nome educadamente.
— Senhora Byun, esse rapaz está alegando que é namorado do seu filho, mas o nome dele não está na lista de convidados da festa.
Do sexto degrau ela olhou por cima do ombro sem se dar ao trabalho de virar de frente para o rapaz. Yerin o olhou dos pés à cabeça por poucos segundos. Sehun suspirou aliviado, finalmente toda aquela situação seria esclarecida e ele poderia entrar e fazer as pazes com o namorado. Talvez desse tempo de apagar os áudios do celular dele antes que ouvisse as bobagens que disse. Pelo menos foi o que ele pensou antes de ver Yerin sorrir estranhamente maldosa.
— Acha mesmo que o namorado do meu filho viria assim para um evento como esse?
Yerin riu o esnobando. Mesmo estando distante podia ouvi-la com clareza o suficiente para assustar-se.
— Você ainda vem me atrasar com isso? Eu mesma coloquei o nome do namorado do meu filho na lista de convidados, esse aí deve ser um impostor. Tirem esse verme do caminho, ele está causando transtorno aos meus convidados e eu não quero um penetra morto de fome na minha noite de comemoração.
Lágrimas transbordaram dos olhos de Sehun diante de sua declaração. Ele encarou a sogra em choque, não conseguia pronunciar sequer uma palavra para defender-se, estava sufocando dentro de sua própria humilhação.
Os convidados mais próximos da entrada riram do comentário de Yerin e contagiaram a recepcionista e os seguranças. As risadas ao redor misturadas ao tom debochado de Yerin o deixaram tonto e desnorteado.
“Ele era a piada”
Dois seguranças musculosos cercaram Sehun como se ele fosse um criminoso. Cada um segurou um de seus braços e ambos começaram a puxá-lo na direção da saída, amarrotando as mangas do terno que pagou caro para lavarem e passarem. Sehun olhou abismado uma última vez na direção da sogra. Como ela foi capaz de dizer aquilo? Chamá-lo de impostor e morto de fome?
O corpo até então petrificado do mecânico ganhou forças. Ele se viu tomado por pura fúria e indignação. Prometeu que estaria com Baekhyun naquela noite e iria cumprir aquela promessa mesmo que o universo estivesse contra ele.
— Me solta! Eu quero falar com o Baekhyun e ninguém vai me tirar daqui até eu ver o meu namorado — ele começou a berrar fazendo um escândalo que chamou a atenção dos fotógrafos e outros convidados que acabaram de chegar.
Um homem que estava na sacada da boate olhou para baixo surpreso com o que pareciam gritos no andar de baixo. Ele imediatamente puxou outro homem que estava bebericando uma taça de dry martini.
— Minseok, aquele parece o novo namorado do Baekhyun. Estão expulsando o namorado do Baekhyun da festa!
Kim Jongdae constatou horrorizado, fazendo o namorado olhar na mesma direção. Eles não conheciam Sehun pessoalmente, mas estavam cansados de ver as fotos onde Baekhyun se gabava da beleza do namorado.
— É ele mesmo, amor. O Baekhyun vai enlouquecer quando souber disso, temos que chamá-lo.
Os dois foram procurar pelo melhor amigo enquanto Sehun continuava se debatendo na entrada. Mais seguranças se aproximaram para tentar contê-lo, mas Sehun jogava as pernas para cima, acertando alguns deles.
— Tirem esse louco daqui!
Byun Yerin colocou a mão na testa transtornada. Jamais passou pela cabeça dela que o garoto iria insistir e causar todo aquele caos na entrada do Cloud 9. Depois do que disse esperava que ele fosse embora chorando e nunca mais ousasse procurar por seu filho.
Lágrimas grossas escorriam pelas bochechas de Sehun conforme perdia as forças. Diversos celulares foram apontados em sua direção. As pessoas começaram a se aglomerar ao seu redor, tirar fotos e filmar vídeos com flashs reluzentes. As luzes faziam seus olhos arderem e bagunçava sua mente.
Sehun achou que fosse desmaiar a qualquer instante, sentia-se cada vez mais encurralado e sem saída. Aquelas pessoas, os gritos, as risadas, os flashs, a luz... aqueles rostos ficavam cada vez mais embaçados e tudo que ele conseguia lembrar era o som de sirenes de polícia, pessoas berrando horrorizadas, sangue, dor e tristeza. Seu coração batia tão forte contra o peito que podia senti-lo pulsar no ouvido, sua visão ficou embaçada e o ar se tornou tão pesado que chegava a machucá-lo por dentro cada vez que tentava respirar.
Sehun levou a mão até a cabeça. Estava à beira de um colapso quando a única voz que queria ouvir soou mais alto que a de todos os outros presentes.
— Se afastem dele! Saiam de perto dele — Byun Baekhyun vociferou, se tornando o centro da atenção de todos. O herdeiro bilionário estava trajando um smoking azul cintilante, um relógio de prata cravejado com diamantes e uma corrente de brilhantes no formato de uma gravata.
— Eu mandei todos se afastarem dele — ele repetiu autoritário e evidentemente furioso. Os seguranças particulares do herdeiro dos Byun que até então estavam cuidando de sua segurança dentro do clube, cercaram o rapaz fazendo as pessoas finalmente se distanciarem. Sehun não tinha coragem de olhar para cima, continuou encarando os próprios sapatos, chorando completamente humilhado e intimidado diante de todos.
Queria que um buraco se abrisse no chão e o engolisse, mas o que o engoliu foi um abraço apertado do namorado. Baekhyun envolveu sua cintura protetoramente e depositou um beijo estalado em seu ombro, chocando os funcionários com seu ato carinhoso.
— Você está bem, Sehun? — perguntou preocupado, sem receber uma resposta verbal do namorado. — Calma amor, eu vou resolver isso.
Ele garantiu ao perceber que o namorado estava transtornado demais para respondê-lo. Era um milagre que Sehun não tenha tido um ataque de pânico com tantas pessoas ao seu redor, precisava ser muito cuidadoso para não desencadear algo que não poderia controlar.
Baekhyun dirigiu sua atenção para os funcionários, procurando respostas para aquela confusão envolvendo seu namorado. O herdeiro estava entretido em uma conversa acalorada sobre uma nova coleção praiana quando seus melhores amigos o interromperam dizendo que seu namorado estava sendo arrastado para fora.
— Por que o meu namorado estava sendo impedido de entrar? — interpelou com tom impetuoso. Os seguranças se entreolharam hesitantes e a recepcionista arregalou os olhos pasma.
— Senhor Byun, tudo começou porque o nome dele não estava na lista de convidados. Eu revisei a lista várias vezes e ele não estava presente nela, não podemos deixar que pessoas entrem se não estiverem na lista — a recepcionista explicou calmamente, ela olhou de relance para a mãe do rapaz, tendo uma ideia engenhosa.
— E a senhora Byun Yerin confirmou que ele não era o seu namorado. A sua mãe disse que ele era um impostor e pediu para os seguranças retirá-lo da entrada, nós apenas cumprimos ordens.
Baekhyun virou-se para a mãe surpreso. Yerin imediatamente segurou seu vestido e desceu os degraus para se aproximar do púlpito.
— Acontece que estava tão escuro que eu acabei não reconhecendo o seu namorado. Eu não o vi tantas vezes e como coloquei o nome dele na lista pensei que fosse um farsante — ela se defendeu colocando a mão no peito, fingindo uma expressão de arrependimento.
— Eu não posso acreditar que tenha feito isso. Eu sinto tanto por não ter me lembrando de você, Seung — a mais velha pediu desculpas, olhando na direção do rapaz que tinha a cintura envolvido pelo braço do filho.
— É Sehun, mãe! O nome do meu namorado é Oh Sehun.
O filho corrigiu a mãe na frente dos convidados, deixando-a envergonhada. A situação fugiu completamente dos planos de Yerin, a noite toda estava arruinada, não queria sequer pensar no que falariam nos jornais e revistas de fofocas no dia seguinte. Ela tentou manter a compostura cobrindo os lábios com a mão parecendo estar consternada.
— Nossa, eu jurava que era Oh Seung. Então foi isso que aconteceu, já descobri onde está o erro. Quando fiz a lista de convidados, salvei o nome do seu namorado como Oh Seung e por isso a recepcionista não deve ter encontrado o nome dele durante o check-in. Eu nem sei como me redimir por essa falha, foi tudo culpa minha.
Os convidados sorriram compreensivos para a socialite. Ela agradeceu mentalmente por ao menos ter conseguido controlar a situação com os conhecidos.
— Mãe, eu não acredito que você errou o nome do meu namorado.
— A Yerin sempre foi extremamente cuidadosa com os preparativos das festas dela, todos sabemos que ela é a melhor no que faz e errar é humano. Já percebemos que tudo não passou de um terrível mal entendido, essa é uma noite muito importante para vocês e nós não queremos que o clima se desmanche por um imprevisto — um homem que estava no início na fila de entrada comentou, recebendo acenos positivos dos outros convidados. Ele fazia parte do departamento de marketing da empresa, obviamente estava tentando apaziguar as notícias que poderiam se espalhar.
— Obrigado, Yeonsung. Eu peço desculpas a todos por esse incidente, peço que ignorem isso e se sintam muito bem-vindos para festejar conosco nessa noite tão especial.
Ela fez sinal para que os seguranças continuassem o processo padrão de conferência na entrada dos convidados. Baekhyun permitiu que a mãe contornasse o ocorrido interagindo com os conhecidos dela, mas encarou a recepcionista com tom de advertência.
— Dá próxima vez me chamem ao invés de tirarem conclusões precipitadas, teriam evitado todo esse transtorno. Como pode ver, esse é realmente meu namorado e poderíamos ter resolvido esse problema muito antes se tivessem me chamado aqui para confirmar a identidade dele.
Ela se curvou desculpando-se antes de retornar para sua posição na frente do púlpito de vidro com tablet em mãos.
Sehun não conseguiu prestar atenção em tudo que falaram. Ele entendeu o contexto, compreendeu porque seu nome não estava na lista, porém toda vontade que sentiu de entrar agarrado ao namorado se converteu em um desejo imprescindível de sair correndo para longe daquele lugar e daquelas pessoas.
Os convidados esqueceram rapidamente a confusão para entrarem no clube, era mais fácil para eles, afinal Sehun foi o único humilhado e rebaixado.
— Vamos, Sehun… — Baekhyun tentou guiá-lo para dentro, recebendo como resposta um olhar indignado. Estava tão irritado com os funcionários e o erro da mãe que não percebeu que Sehun não estava nenhum pouco feliz com o desfecho.
— E-eu... eu vou embora — ele murmurou choroso.
— Me perdoa por toda essa confusão, Sehun. Eu sei que deve estar chateado, mas agora que tudo foi resolvido podemos entrar e esquecer tudo isso.
— Resolvido? — Sehun perguntou indignado. — Resolvido pra quem? Só se for pra vocês.
Declarou finalmente o encarando com os olhos marejados.
— Acha mesmo que é só me levar lá dentro que eu vou esquecer o que fizeram comigo aqui fora? Eu perdi a vontade de entrar nesse lugar. Se você quiser ficar com essa gente mesquinha pode ficar, eu não vou desperdiçar nem mais um segundo da minha noite de sábado nesse ambiente tóxico.
Sehun não hesitou em virar as costas para o namorado e seguir na direção da saída. Devia ter ido embora na primeira chance que teve, estava tão arrependido por não ter tomado aquela atitude antes.
Baekhyun foi contagiado por uma lembrança terrível ao vê-lo ir, lembrou-se da noite em que acabou ajoelhado na calçada de Myeongdong enquanto Sehun desaparecia entre o coquetel de desconhecidos. Olhou desesperado para o manobrista mais próximo.
— Traga o meu carro! Rápido, por favor… — ele pediu e o rapaz imediatamente foi buscá-lo. Os convidados voltaram a seguir o fluxo de passagem guiados pelos seguranças e pela recepcionista que continuou o serviço, sentindo-se arrependida e sem graça.
— Onde pensa que vai? — Yerin perguntou aflita ao filho.
— Vou atrás do meu namorado.
Baekhyun confirmou o que ela temia.
— Você não pode sair assim. Esse evento é muito importante para a Privé e você é o futuro presidente da empresa.
— Eu já marquei minha presença no evento e o papai pode se virar muito bem sem mim. A minha falta não vai fazer diferença agora que os contratos já estão assassinados e todas as partes saíram felizes. O Sehun é mais importante que essa festa.
— Vocês não nasceram grudados, o Sehun pode sobreviver uma noite sem você. Você é o presidente da Privé-
— O papai é o presidente da Privé, eu só vou assumir o posto quando terminar minha segunda graduação — interrompeu a mãe para corrigi-la.
— Não importa, os convidados vão ficar perguntando por que você sumiu e o que eu vou dizer?
— Devia ter pensando nisso quando estava elaborando a lista de convidados, se o nome do meu namorado estivesse lá como eu pedi isso não estaria acontecendo — retrucou chateado.
— Eu já assumi o meu erro, não pode me repreender o tempo todo por ter esquecido o nome do seu namoradinho. Você também está sempre trocando os seus parceiros, como pode esperar que me lembre o nome de todos?
— Eu não namorei ninguém desde que rompi meu noivado com o Chanyeol. Talvez se a senhora me desse mais chances de falar sobre o Sehun teria lembrado o nome dele, mas prefere se afastar toda vez que tento conversar sobre meu namorado.
Ela revirou os olhos.
— Filho, podemos falar sobre isso em casa. A culpa disso tudo foi da sua ideia incabível de chamar aquele garoto para esse evento.
— Ideia incabível? — repetiu revoltado.
— Sim! Incabível, absurda! Nós convidamos nossos amigos mais próximos e importantes para esse evento. Já parou para pensar o que eles iriam falar se descobrissem que você está namorando um ninguém, um mero mecânico interesseiro — sussurrou o final com medo que alguém escutasse.
— Você errou o nome dele de propósito? — interpelou, perplexo.
— Claro que não! Eu só estou dizendo que o lugar dele não é aqui, foi melhor assim.
— Se esse não é o lugar dele, também não é o meu lugar.
Baekhyun estava virando-se para sair, porém acabou olhando para a matriarca novamente.
— E o Sehun é alguém! Um alguém que tem um coração imenso, nunca mais diga que ele é um ninguém. Ele é bom demais para estar nesse ninho de cobras que você chama de amigos e dá tanta importância.
O manobrista entregou para Baekhyun um Audi R8 azul marinho. O Byun entrou no carro sem trocar sequer mais uma palavra com a progenitora, ele estava mais preocupado em acelerar moderadamente na direção que o namorado saiu.
Baekhyun tirou o celular do bolso conferindo o aplicativo de mensagens. Ele xingou-se ao ver a quantidade de vezes que o namorado tentou ligar, também ouviu os áudios que ele mandou.
Algumas gotas de água começaram a cair anunciando uma possível chuva de verão. Sehun abraçava o próprio corpo, andando pela calçada, se xingando mentalmente por ter aceitado ir naquele evento idiota de gente granfina.
— Sehun!
Baekhyun abriu a janela do carona do carro, andando rente ao caminho que o namorado fazia. Sehun o olhou de relance, mas tentou andar mais rápido na direção do ponto de ônibus mais próximo.
— Volta pra sua festinha, Byun. Vai lá com a sua gente — ele resmungou encarando os próprios pés pelo o que deveria ser a décima vez naquela noite.
— Eu não quero ficar lá sem você, amor.
— Não é o que parecia — gritou lembrando a si mesmo a quantidade de vezes que tentou ligar para o namorado e não foi atendido.
— Não diga isso. Eu não tinha como saber que a minha mãe erraria o seu nome na lista de convidados — defendeu-se.
— Talvez não tivesse controle sobre isso, mas poderia ter atendido a merda do seu celular — Sehun rebateu enfurecido.
— Eu estava recepcionando os convidados e não podia ficar olhando o celular o tempo todo, seria falta de educação.
— Então por que não vai lá continuar recepcionando seus convidados, também deve ser falta de educação deixar sua própria festa.
Baekhyun estacionou o carro no acostamento assim que conseguiu avistar uma vaga. Ele correu até o namorado, segurou seu pulso e o virou de frente para si.
— Eu admito que fui descuidado. Eu devia ter prestado mais atenção na hora, no meu celular e até mesmo na lista de convidados. A minha cabeça estava cheia de coisas com a assinatura dos contratos e eu acabei delegando a tarefa de montar a lista de convidados pra minha mãe e acreditei que tudo daria certo. Nunca pensei que isso poderia ter acontecido, achei que essa noite seria perfeita pra nós dois — explicou, impedindo que o mais novo continuasse se afastando.
— Eu também achei que essa noite seria perfeita. Eu saí mais cedo do trabalho, fiquei um tempão no chuveiro, peguei esse terno emprestado com o Jongin e gastei uma nota numa lavanderia bacana — disse apontando para o terno que vestia. — A Jisoo foi na minha casa só pra me maquiar e mexer no meu cabelo.
Sehun sentiu-se um idiota pelo tempo que perdeu se preparando.
— Eu estava com medo de fazer você passar vergonha, fiquei ensaiando frases de filmes na frente do espelho como um otário. Só não desisti de vir porque achei que você precisava de mim, porque você disse que era algo importante e que me queria do seu lado. Mas se realmente precisasse de mim, teria se preocupado ao menos um pouco com a minha demora, teria pegado a porra do seu celular e teria tentando ligar pra mim. Você teria pelo menos visto as mensagens que eu mandei. — Sehun dizia enquanto apontava o dedo indicador em sua direção.
— Eu fui humilhado na frente de todas aquelas pessoas. Faz ideia do que eu senti? — Sehun riu sem humor. — Claro que você nem pode imaginar, ninguém ousaria barrar Byun Baekhyun na entrada de um clube de luxo como fizeram comigo.
Os olhos do mais novo se encheram de lágrimas novamente. Ele tinha razão, Baekhyun nunca foi humilhado daquela forma em toda sua vida, a noite em que foi expulso do Shazam no bairro de Sehun havia sido totalmente diferente daquilo.
— Eu só quero ir pra minha casa, tirar essa roupa, comer alguma coisa e esquecer que essa noite existiu.
Baekhyun suspirou sentindo-se culpado pelas lágrimas presentes nos olhos do namorado. Odiava vê-lo daquela forma.
— Não existem palavras pra dizer o quanto eu lamento por tudo, Hunnie. Desde que comecei o planejamento do evento fiquei pensando em como seria ter você do meu lado, eu não menti sobre a importância da sua presença. Eu conferia o portal o tempo todo e só pensava em como você estaria quando entrasse. Eu fiquei mostrando várias fotos que tirei de você para os meus melhores amigos, queria muito que você conhecesse o Jongdae e o Minseok pessoalmente na festa.
Mencioná-los fez Baekhyun lembrar que precisava agradecê-los por irem chamá-lo quando viram Sehun sendo barrado.
— Eu fiz tantos planos, mas na hora que a festa começou os convidados vieram falar comigo e eu não vi o tempo passar lá dentro. Também estava me sentindo tão seguro que nem me preocupei em prestar atenção no celular. Me desculpa, por favor.
Sehun olhou para cima tentando evitar se perder na profundeza dos olhos do outro. Não queria fraquejar quando estava nervoso e com razão.
— Talvez isso tenha sido um sinal de que água e óleo não podem se misturar. Eu fui um imbecil por achar que poderia frequentar os mesmos lugares que você, é melhor que você continue participando desse tipo de eventos sem mim. Se eu não tivesse sido barrado na porta só teria te atrapalhado e feito você passar vergonha na frente dos seus convidados.
Ele analisou com cuidado a roupa elegante e chamativa do namorado, Baekhyun estava fodidamente lindo.
— Você está parecendo um modelo. Na verdade, todos os seus convidados pareciam elegantes e bem-vestidos. O Lee Taemin estava na sua festa! A BoA também estava lá! — declarou ainda chocado. — Bastava qualquer um olhar para o meu terno para saber que eu não estou no mesmo patamar que vocês. As pessoas sempre vão olhar a gente com a mesma cara de espanto, elas não vão entender o que alguém como você está fazendo com um cara como eu. Provavelmente vão dizer que sou um oportunista e que você é muita areia pro meu caminhãozinho, sempre vão ter comentários maldosos.
Sehun falava muito rápido quase sem respirar entre uma frase e outra, fugindo em alguns momentos do que realmente queria dizer.
— Nós conversamos tanto sobre nossas diferenças e eu fantasiei que poderia lidar com tudo isso. Eu achei de verdade que isso não me abalaria até ser barrado na porta do Cloud 9. Quando o Jongin e a Jisoo me ajudaram hoje, pensei que eles fossem tipo a fada madrinha da Cinderela. Eu acreditei que estava estiloso, mas a minha carruagem virou uma abóbora antes mesmo da meia noite e eu nem tive a chance de dançar com o príncipe.
Sehun riu anasalado ao falar.
— Eu fico me perguntando: e se eu tivesse grana? Teria sido diferente? Mesmo se o meu nome não estivesse na lista, eu tenho certeza que não teriam me tratado como se eu fosse um cachorro com sarna.
— Sehun, você está perfeito. Poderia estar vestindo seu macacão de trabalho e ainda sim seria o homem mais lindo da festa pra mim. Não me importo com a marca das roupas que você usa, estilo é muito mais do que uma peça cara e eu amo o seu estilo. Eu te apresentaria como meu namorado cheio de orgulho, jamais sentiria vergonha de você.
Baekhyun enxergava Sehun como seu maior tesouro, ele queria apresentá-lo para elite como seu namorado independente do que fossem pensar.
— Eu estou morrendo de vergonha da atitude da equipe de funcionários que contratei, do comportamento dos outros convidados e da confusão que a minha mãe fez com o seu nome. Eu irei demitir todos os funcionários que te humilharam, o comportamento deles não vai ficar impune.
Sehun arregalou os olhos, espantado.
— Escuta o que você mesmo está falando, Baekhyun. Não quero que demita ninguém por mim. Você não pode sair por aí tirando a fonte de renda das pessoas só porque tem poder para isso, seria cruel demais.
— Eles foram ruins com você.
— Nem por isso eu preciso ser vingativo. Por favor, não demita ninguém por minha causa. Eu fiquei puto com a recepcionista e com os seguranças, mas eles só estavam fazendo o trabalho deles. Eles poderiam ter agido de outras formas e buscado resolver o problema sem violência, mas isso não significa que mereçam perder os empregos. Na verdade, ninguém tem culpa. Eu também exagerei gritando e fazendo todo aquele escândalo — Sehun assumiu ao se colocar no lugar dos funcionários.
— Você só fez aquilo porque não te deixaram entrar.
— E eles não me deixaram entrar porque o meu nome não estava na lista de convidados. Uma lista que eles são obrigados a seguir, não é mesmo? Eles só fizeram o trabalho que são pagos para fazer — retrucou o fazendo abaixar os ombros amuado.
— A culpa foi toda minha… — Baekhyun murmurou desanimado. — Eu fiquei tão ansioso, queria tanto que você participasse desse momento comigo e no fim só cometi um erro atrás de outro. Nem olhei a droga do meu celular, tudo poderia ter sido diferente.
Sehun fechou os olhos e respirou profundamente.
— Não adianta a gente ficar pensando em como a noite teria sido se isso não tivesse acontecido, já aconteceu e não podemos apagar com uma borracha.
— Você está muito puto comigo? — Baekhyun questionou baixinho.
— Se desejar poder pegar seu celular e jogar ele na sua cara até ele quebrar significa estar puto? Sim, eu estou muito puto com você. Se não te amasse tanto, poderia facilmente mandá-lo ir a merda. Por isso, eu prefiro ir pra minha casa e esfriar a cabeça antes que estrague algo entre a gente.
Um relâmpago coloriu o céu, deixando ambos surpresos.
— Vai chover forte… — Baekhyun comentou olhando para cima. — Eu não quero terminar essa noite com você puto comigo. Ainda não são nem onze horas, se você entrar no meu carro temos tempo de consertar essa noite, nem tudo está perdido.
— Acho melhor eu voltar pra casa e você voltar pra sua festa. Você falou sobre isso o mês todo, eu sei que é muito importante.
— Sehun, você é minha prioridade. Você é mais valioso que qualquer contrato, festa ou expansão global da marca. Não me importo com o que as pessoas podem pensar quando nos olham, ninguém pode mudar o que eu sinto por você. Eu não sou água e você não é óleo, nós somos apenas duas pessoas que se amam e isso é tudo que importa. Por favor, não vamos deixar nada destruir nossa noite — Baekhyun pediu acariciando sua bochecha e Sehun mordeu o lábio, pensativo.
— Por que você sempre fala a coisa certa? Às vezes tenho vontade de te socar por ser tão perfeitinho.
— São as vantagens de ser mais velho e mais experiente.
Ele piscou um olho, o fazendo sorrir.
— Eu acho que acabei dizendo muita coisa sem pensar direito.
— Tipo me mandar enfiar o celular no cu?
Sehun escondeu o rosto com as mãos.
— Eu disse isso?
Baekhyun assentiu arregalando os olhos propositalmente.
— Também disse pra eu ir me foder e nem pensar em te ligar amanhã, porque você não ia me atender.
— Que barbaridade! — Sehun falou fingindo estar chocado. Ele apertou a mão do namorado e o encarou seriamente.
— Eu não vou fingir que essa noite não me deixou abalado, o que aconteceu me fez reviver vários medos e incertezas sobre o nosso futuro juntos. Não podemos ignorar que viemos de polos tão distantes que às vezes parece que não existe um ponto onde nossos mundos possam se misturar, mas aí eu me lembro que nós somos esse ponto de encontro.
Ele apertou as mãos do namorado e se inclinou unindo suas testas.
— Eu fui infeliz no que disse antes. Talvez as pessoas realmente nunca compreendam por que você está comigo, nem eu entendo isso direito, imagina os outros? Eu sei que vou ser chamado de golpista entre muitos outros nomes, mas eu vou aprender a lidar com isso, vou trabalhar nas minhas inseguranças e na minha impulsividade desde que você me faça uma promessa aqui e agora.
— Que promessa? — Baekhyun sussurrou.
— Me prometa que não importa o que as pessoas digam sobre mim, você sempre terá em mente que eu me apaixonei por você por tudo que você é, e não por tudo que você tem ou deixa de ter.
Baekhyun fechou os olhos extasiado.
— Foi a coisa mais linda que alguém já me disse estando puto comigo.
Ele acariciou a lateral do pescoço do mais novo e depositou um selar inocente em seus lábios.
— Eu prometo que nunca vou desconfiar do seu amor. Eu sei que você me amaria mesmo se eu fosse um motorista de filhinho mimado de papai.
Sehun riu lembrando-se de como tudo começou entre eles.
— Não consigo ficar puto com você por muito tempo.
— Eu sei, eu tenho esse efeito mágico em garotos bonitos. Ouvi dizer que aqui perto tem uma barraca de cachorro-quente de procedência duvidosa muito gostoso — comentou risonho, resgatando lembranças de seus primeiros encontros quando ainda estavam se conhecendo melhor.
— É mesmo? — questionou, erguendo uma sobrancelha desconfiadamente.
— Você toparia entrar no meu carro, pedir um cachorro-quente desses e correr o risco de sofrer uma intoxicação alimentar comigo, Oh Sehun?
Sehun puxou o ar entre os dentes, pensativo.
— Só se você comer dois primeiro. Se nada acontecer com você, eu aceito um também.
As gotas de chuva começaram a ficar mais grossas e o som delas batendo na calçada ecoava.
— Com essa chuvinha a gente bem que podia pular o cachorro-quente e ir naquele lugarzinho…
Baekhyun sugeriu e piscou um olho, sorrindo safado ao puxá-lo na direção do carro esportivo.
— Que lugarzinho? — Sehun perguntou fingindo desentendimento.
— Você sabe... aquele drive motel na zona Oeste. Quando casais brigam eles precisam obrigatoriamente fazer as pazes com sexo de reconciliação, eu li isso em um livro de ciências.
— Por acaso o nome do livro era Kama Sutra?
— Não lembro, mas o autor era genial. Ele provou que casais que transam depois de resolver problemas costumam ser mais felizes
— Se quer terminar essa noite no motel como planejamos, primeiro vai ter que me levar para jantar e eu não quero nada daqueles restaurantes chiques com frescura. Eu quero um lanche do Burguer King, um daqueles bem gordurosos que engordam só de olhar. Também quero acompanhamentos e você vai pagar a conta, porque eu torrei uma nota no uber até aqui e na lavagem desse terno. Ainda por cima, passei o dia todo sem conseguir comer e todo esse estresse me deixou com tanta fome que poderia comer dois combos sozinho.
Baekhyun riu incrédulo.
— Vamos, eu pago quantos lanches você quiser — prometeu enquanto abria a porta do carona para o mais novo entrar. Sehun acomodou-se no banco de couro e colocou o cinto.
— Cuidado com o que você promete. Eu estou com muita, muita, muita fome e a minha barriga está resmungando.
— Sem problemas, se eu tenho um cartão black é pra alimentar meu namorado faminto.
— Então eu vou querer provar o lanche mais caro do BK, vou querer dois com aquele balde de batata frita grandão e um milk-shake de chocolate — pediu assim que o namorado ocupou o banco do motorista.
— Acho que é humanamente impossível você conseguir comer dois Mega Stacker sozinho. Você tem noção que são cinco hambúrgueres de carne, 20 fatias de bacon, queijo e molho especial? — questionou arqueando uma sobrancelha.
— Não duvide da capacidade de um homem faminto, puto e frustrado. Eu só comi bolacha de sal o dia todinho — resmungou alisando a barriga.
— Então vamos rumo ao BK mais perto daqui.
O celular de Baekhyun vibrou, ele tirou do bolso para olhar o visor e visualizou o nome de Yerin. Ele desligou o aparelho e guardou novamente.
— Tomara que o molho do seu lanche esteja estragado e você passe o dia todo no banheiro amanhã.
— Que horror, Sehun! Pensei que tinha me desculpado
— É que ver seu celular me fez relembrar que não me atendeu.
— Eu vou escolher um toque de celular bem barulhento e chamativo pra você, assim isso nunca mais irá se repetir… — a mão do Byun furtivamente pousou na coxa do namorado. — E você pode pensar em outras formas de me ensinar uma lição, não me importaria de andar torto amanhã.
Ele riu ao ver as bochechas do mais novo ficarem coradas. Sehun olhou seu sorriso de relance, pensando no desperdício que teria sido aquela noite se tivesse continuado remoendo o vexame que passou no Cloud 9.
Aquele foi somente um primeiro desafio dos muitos que viriam, a cada evento se tornava mais claro para o mais novo que nem tudo era coincidência ou erro, ele estava sendo sabotado pela própria sogra.
{...}
Dias atuais...
Propriedade privada, 16 de julho de 2021.
Ilha Solar, Incheon
Byun Yerin guiou os convidados na direção de uma Van da Mercedes-Benz Sprinter, o transporte os aguardava no final do píer. A van possuía um interior elegante e acentos disponíveis para doze passageiros. Os lugares seriam ocupados pelos familiares que haviam acabado de chegar na ilha e pelos irmãos Choi que os acompanhavam.
Ao invés de assentos convencionais no modelo de ônibus, a van comportava um banco de couro preto no formato de um “L”, lembrando o interior de limousines de luxo. Ela contava com um frigobar e um carpete cinza que deixavam o transporte mais sofisticado.
Quando o motorista abriu a porta da van, Sehun e Baekhyun eram os primeiros na fila para entrarem. O jovem Oh mirou desde o início um lugar em especial, queria sentar no cantinho. Parecia extremamente acolhedor a ideia de ficar entre o namorado e a divisória que os separavam do motorista.
Bastou Sehun atravessar a porta para tudo começar a desandar. Primeiro porque Choi Mingi entrou ao mesmo tempo na van, cortando a frente de Baekhyun e sentou-se exatamente no lugar que Sehun planejava ficar.
— Desculpa, eu prefiro o canto — o homem disse e piscou um olhou para si. Sehun sorriu minimamente sem graça, segurando-se para não o mandar ir a merda. Ele foi obrigado a sentar do lado do rapaz, pois seria muito rude ir para outra ponta sendo que foi o segundo a embarcar na van.
Em segundo, Sehun se arrependeu pela escolha assim que viu Yerin impedir o filho de entrar para ajudá-la a subir primeiro na van. Ela estava com um salto alto e deu a desculpa que poderia perder o equilíbrio e cair. Engraçado, porque na ida Sehun tinha certeza que a sogra subiu sozinha sem problemas.
Byun Yerin quase correu para sentar-se no banco ao lado direito do genro, despertando um olhar surpreso em Sehun. Ao entrar na van, Baekhyun encarou a mãe com um olhar confuso. Afinal queria sentar ao lado do namorado, contudo foi obrigado a ficar do lado dela. Não parecia algo ruim até ver quem era o próximo na fila para entrar.
Para o desesperado de Oh Sehun e a felicidade de sua sogra, quem acabou ocupando o assento do lado de Baekhyun foi Choi Yunho, a porra do ex-namorado. Karina e os tios do Byun acabaram sentados nos fundos da van.
O mecânico deveria saber que a sogra jamais faria um ponto sem nó, ela não sentaria ao lado dele se não estivesse aprontando algo. Devia ser o único sentando ao lado do namorado e não um maldito ex-namorado que sequer deveria estar na ilha.
Sehun não era ingênuo, não acreditava em coincidência quando se tratava de Yiren. Aquilo estava cheirando a podridão, parecia armação. Ele olhou para a sogra de relance, extremamente desconfiado. Por fim ergueu uma sobrancelha, sorrindo desafiador.
A mãe do namorado poderia montar quantas armadilhas quisesse, Sehun sabia andar em território hostil sem acabar pendurado de cabeça para baixo. Pelo menos era o que pensava.
{...}
Três anos atrás
Oficina Oh, 22 de agosto de 2018.
Meosjin Jeonmang, Seul.
O bairro Meosjin Jeonmang era composto por prédios antigos, residências simples, lanchonetes, bares medíocres e pequenos comércios do tipo que ainda usavam convênio por ficha de papel.
A oficina mecânica Oh situava-se em uma das laterais de uma avenida principal, a via arterial cortava o subúrbio ligando as extremidades da cidade e o centro.
Não se tratava de um bairro popular, definitivamente não fazia parte da lista de lugares que estrangeiros gostariam de conhecer. Só estava inconvenientemente no caminho da maior parte da população que precisava cruzar a avenida Han.
Byun Baekhyun não era muito diferente da maioria das pessoas que atravessavam o bairro sem notá-lo de fato. Costumava rolar o dedo pela tela de seu celular de última geração, muito bem acomodado no banco de trás de um SUV luxuoso com blindagem especial, enquanto ouvia música e aproveitava o ar-condicionado potente.
Até mesmo a mídia jornalística fazia vista grossa para existência do bairro, deixando de noticiar os eventos cada dia mais frequentes na região. Não era incomum que viaturas da polícia rondassem o quarteirão onde funcionava o Shazam, o bar mais movimentado de Meosjin Jeonmang. O qual toda noite abria suas portas para os frequentadores divertirem-se dançando, bebendo, comendo porções ou jogando algumas partidas de bilhar. Até aí nada fora do normal, exceto que por baixo dos panos ali funcionava um esquema de venda ilegal de drogas.
Apesar das brigas de bar, os arruaceiros que costumavam pichar muros na penumbra da noite e as visitas quase constantes da polícia, o bairro em si era um ambiente agradável para os moradores. A regra para uma boa convivência era simples, eles não se envolviam nos negócios da Shazam e a Shazam não tornava suas vidas impossíveis.
A organização criminosa protegia a comunidade e para-los era um serviço que cabia somente às autoridades oficiais. Enquanto a justiça não os punia, a lei que predominava no bairro era a lei dos membros da Shazam. Naquele território forasteiro não pisava de noite, ladrão não roubava, não se tocava em um único fio de cabelo de quem morava lá e aí se um espertinho de fora quisesse se engraçar com uma das meninas de família que estudava no colégio local.
Muito antes da Shazam existir naquele mesmo quarteirão foi erguido um prédio com base em um antigo sistema de alvenaria construtiva, em que tijolos de barro maciço eram os principais elementos utilizados.
Aquela construção sobreviveu aos anos e foi passada de geração em geração da família Oh. Os tijolos aparentes tinham tons escuros e sua estética fazia Baekhyun sentir-se de volta às ruas do Brooklin. Ele visitou o bairro americano, por fins de curiosidade, na última vez que viajou para Nova York com um ex-namorado. Até mesmo a saída de incêndio com escadas externas reforçava suas lembranças.
A estrutura comportava dois andares. O primeiro andar contava com duas portas de enrolar de aço, ambas estavam um pouco enferrujadas e precisavam de óleo.
Um vão entre a oficina e uma pensão formava um beco sem saída no lado esquerdo do prédio. Lá concentrava-se duas caçambas de lixo e uma porta lateral para entrada de funcionários.
Uma placa enorme na fachada da oficina chamava a atenção de possíveis clientes. A mesma dizia “Auto Mecânica Oh: Consertos, lavagem, troca de óleo, troca de peças e revisões”. Foi através daquela placa que Byun Baekhyun e Zhang Yixing encontraram socorro após andarem exaustivamente no sol escaldante à procura de alguém que pudesse ajudá-los.
Naquela manhã quente de agosto, uma fumaça cinzenta começou a escapar pelos vãos do capô do carro, obrigando o motorista a estacioná-lo no acostamento de uma avenida movimentada. Ele não reconhecia o bairro, ainda sim sabia que se tratava de um trecho perigoso.
Os celulares estavam fora da área de cobertura, eles não tinham como fazer ligações ou acessar a internet. O herdeiro dos Byun pensou que o universo só podia estar contra ele, não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo justamente em um dia de prova na universidade.
— Droga!
Ele chutou o pneu do carro furioso.
— Sua bosta ambulante! Justo hoje! Eu tenho uma prova importante.
Ele depositou mais três chutes antes de sentir uma mão apertar seu ombro com firmeza. Zhang Yixing tentou afastá-lo do carro.
— Ficar xingando não vai fazer o carro pegar.
— Mas serve pra aliviar meu ódio — resmungou emburrado ao dar um último chute no pneu do carro parado.
— Precisamos de ajuda. Todo bairro tem uma auto mecânica, só temos que encontrar uma e pedir um guincho.
— Você quer mesmo deixar o carro e andar por aqui? — Baekhyun perguntou cético. Gesticulou ao redor mostrando os prédios com aparência antiquada e a forma como as pessoas que passavam os olhavam como se estivessem julgando ambos.
— E você quer mesmo ficar parado aqui?
O chinês devolveu a pergunta também apontando ao redor, o fazendo engolir em seco.
— Tudo bem... talvez seja melhor procurar uma oficina nas proximidades — Baekhyun admitiu ofegante por sentir o efeito do sol. A temperatura fria deixada pelo ar-condicionado do carro se dissipou, sendo substituído por um calor insuportável.
— Se vamos ter que andar nesse sol quente, você vai ter que trocar de roupa — Baekhyun preocupou-se com o amigo. Seria muito desconfortável para Yixing andar com a camisa branca de manga comprida, o paletó cinza e a calça de alfaiataria preta que formavam seu uniforme de trabalho.
— Não tenho outra roupa no carro, só o uniforme.
O Byun abriu a porta do carro e tirou de dentro de uma bolsa uma camiseta confortável da Privé. Ele pretendia colocá-la quando chegasse na universidade.
— Vesti isso aqui.
Jogou a peça que foi agarrada pelo motorista.
— Se troca aí dentro, ninguém vai ver.
Seguindo sua orientação, Yixing trocou de roupa e deixou o crachá dentro de uma mochila. Baekhyun sorriu ao vê-lo descer do carro vestindo a camiseta da Privé, ela combinava com a calça de alfaiataria que usava e nem parecia parte de um uniforme.
— Caramba, Yixing! Preciso admitir que ficou melhor em você do que em mim.
Baekhyun tirou o par de óculos Ray-Ban dos próprios olhos e colocou nos olhos do chinês antes de bagunçar seus cabelos.
— Minha nossa! Você poderia ser meu próximo projeto, acho que o seu lugar devia ser nas passarelas.
O chinês riu tentando tirar os óculos.
— Nem pense em tirar, ficou incrível em você.
— Não posso ficar com isso, eles são seus, Bakkie.
— Se eles são meus eu posso fazer o que quiser, inclusive dar para você.
O chinês agradeceu sabendo que não adiantaria bater boca com o amigo. O Byun tirou o blazer preto que vestia e jogou no banco traseiro do carro. Estava trajando uma camisa branca de manga curta com botões amarelos por baixo de um colete social preto.
— Tomara que não esquente muito, não posso tirar o colete.
— Por que não tira isso? — Yixing perguntou encarando a peça sofisticada.
— Derramei café na camisa, por isso coloquei o colete antes de sair e separei a camiseta reserva para trocar na faculdade. Eu não vou sair na rua com uma camisa manchada de café, imagina se isso vai parar em uma revista?
Ele cobriu a boca horrorizado somente por imaginar.
— Já não basta o carro ter parado no caminho, se vou ter que andar de pé, eu vou andar belo e com estilo.
Yixing riu incrédulo. Eles trancaram todas as portas do carro e pegaram o essencial como celular e carteira.
— Vamos achar uma oficina nesse fim de mundo. — Baekhyun declarou. Ao virarem na direção de uma vidraçaria espelhada, Yixing não pode conter um riso fraco ao ver o reflexo de ambos.
— Qual a graça? — inquiriu tentando descobrir o motivo de sua crise de risos.
— Eu estou parecendo o patrão e você o motorista com esse colete aí — brincou com o amigo, recebendo uma gargalhada gostosa como resposta.
— É verdade, está mesmo! — concordou com ele. Baekhyun transmitia uma aparência formal enquanto Yixing parecia um riquinho despojado, os óculos eram apenas a cereja no topo do bolo.
— Em que direção devemos andar, patrão? — o Byun perguntou brincando o fazendo rir por chamá-lo daquela forma.
— Vamos seguir em frente e pedir algumas informações.
— Pedir informações?
Baekhyun indagou tarde demais. Quando percebeu Yixing já havia chamado a atenção de uma moça que andava na calçada. Ela usava uma calça legging preta, tão transparente que os dois conseguiam ver perfeitamente a marca de uma calcinha vermelha rendada, e um top esportivo indicando que estava indo ou voltando de uma academia.
— Moça! Você sabe se tem alguma oficina mecânica por aqui?
Ela os encarou um pouco desconfiada antes de sorrir simpaticamente.
— Tem a oficina dos Oh!
— Onde fica?
— Se vocês seguirem reto na principal uma hora vão chegar em uma sorveteria com uma floricultura do lado. Chegando lá, vocês continuam seguindo reto, podem contar cinco laterais, entrem na sexta lateral depois da sorveteria. Vai ter uma academia na esquina, é uma rua bem extensa e no final dela vai ter uma escola. Se vocês chegarem na escola vão saber que andaram demais, a oficina fica antes da escola e depois da academia, bem do lado de uma pensão. Perto da academia tem uma lanchonete também, os mecânicos costumam buscar marmita lá, se virem alguém de macacão azul ou bege podem pedir ajuda ou perguntar pelo senhor Oh, todo mundo conhece o dono da oficina por aqui.
A moça falava tão rápido que o Byun só registrou uma parte: Se chegassem em uma escola teriam andando mais do que deveriam. Yixing agradeceu a moça, em seguida caminhou com Baekhyun na direção indicada por ela.
— Tem certeza que devemos seguir o que ela disse? — perguntou apreensivo.
— Confie em mim. Quem tem boca chega em Roma.
— Eu só queria chegar na universidade. Já vi que vou ter que pegar segunda chamada, mais que droga!
— Olha pelo lado bom…
— Qual lado bom? — o interrompeu, pois não existiam vantagens naquilo.
— Você não vai ter que ver a cara do imbecil do Park na prova da matéria optativa.
Yixing argumentou muito bem. Contra fatos não se discutia.
— Você tem razão. Eu estou aqui reclamando, mas vai que o universo só quis me poupar de ver aquele encosto. Nem acredito que ele e o Kyungsoo vão se mudar, é um favor que os dois me fazem — esbravejou. — Eu nunca mais quero namorar.
— Nunca é uma palavra muito forte. Você não pode se enfiar numa caverna só por causa de um babaca.
— Não foi um babaca, foram vários. Acredita que o Chanyeol teve a cara de pau de me dizer que os pais dele fizeram pressão no nosso relacionamento pela minha herança? — perguntou retoricamente com tom indignado — “Juntos nós podíamos criar um império”, eu já ouvi essa frase tantas vezes de tantas bocas diferentes. É sempre a mesma merda! Eu sou visto como um negócio, uma conta bancária ambulante, um bom partido para um casamento arranjado. O Jongdae me contou que estão especulando quem será meu próximo pretendente.
Ele desabafou, ofegante pela caminhada.
— Eu não quero me casar sem amor, não quero ser uma barganha em um casamento arranjado. Mas quanto mais me aproximo da presidência da Privé, mais sinto que vou acabar em um casamento infeliz ou sozinho.
— Credo, Baekhyun. Você não pode pensar assim, uma hora vai aparecer alguém especial.
— Seja sincero comigo, acha mesmo que posso encontrar alguém que goste de mim e não tenha segundas intenções? Todos só querem um pedaço da minha herança.
— Claro que pode. Toda panela tem uma tampa, você só não encontrou a sua ainda, mas vai encontrar. Nem todo mundo é interesseiro.
— Eu odeio os seus ditados de tio do pavê — Baekhyun resmungou.
— Eu queria só uma vez na minha vida ficar com alguém que não soubesse sobre a minha herança e que não se importasse com dinheiro. Seria incrível poder viver ao menos um dia como se fosse um cara normal. Desculpa despejar meus problemas em você, estou um pouco falante hoje.
Disse ao dar conta que estava indo um pouco longe demais. Yixing sorriu gentilmente sem parar de andar ao seu lado.
— Não tem que me pedir desculpas por isso, nós somos amigos acima de tudo e amigos fazem essas coisas. Eu acho que a pessoa certa pra você ainda vai aparecer, nem tudo acontece no nosso tempo, às vezes só temos que deixar o cupido trabalhar no ritmo dele.
— O problema é que o meu cupido não trabalha, ele dorme no serviço o tempo todo. Aliás, eu acho que ele tirou férias e deixou um estagiário preguiçoso, ruim de mira e incompetente, responsável pelos meus romances.
O chinês gargalhou incrédulo.
— Você não tem jeito, Baekhyun.
— Quem não tem jeito é esse cupido infeliz. É pedir muito uma pessoa que me ame, seja boa de cama e não me faça de corno pelas costas? O universo podia colaborar comigo um pouquinho.
{...}
Dias atuais...
Propriedade privada, 16 de julho de 2021.
Ilha Solar, Incheon
Uma risada rouca rompeu o silêncio constrangedor que havia se estabelecido na van. Choi Yunho sorriu amplamente demonstrando uma fileira de dentes branquinhos e bem cuidados.
— Isso me lembra nossa viagem para Bangkok, andamos em uma van muito parecida com essa — ele comentou animadamente.
— Verdade! Aquela viagem em família foi incrível — Karina expressou empolgada.
Sehun fechou os olhos projetando-se em um mundo imaginário onde ele poderia mandá-la calar a boca, jogar Yunho pela janela da Van e quem sabe colocar a sogra no porta-las. Acabou assustando-se com a própria imaginação, mas não conseguia controlar o mini Sehun do mal que ficava resmungando em seu ombro todas aquelas ideias.
— Foi mesmo. Eu adoraria repetir algum dia. Será que seus pais aceitariam lembrar os velhos tempos, querido? — Yerin indagou alegremente. Até sua postura normalmente séria foi substituída por uma totalmente descontraída. Sehun arregalou os olhos um pouco espantado, não sabia que a sogra podia ser tão simpática e sorridente. Ela parecia outra pessoa, completamente diferente da senhora Byun de nariz empinado que costumava ofendê-lo e encará-lo com desdém.
— Eles com certeza aceitariam o convite. Os meus pais sentem muita falta dos Byun, vivem falando daquela época em que vivíamos grudados.
— Foram tempos maravilhosos. Nós fizemos tantas viagens juntos quando você e o Baekhyun namoravam, mas essa na Tailândia foi memorável. Por falar nela, vocês nos deram um susto e tanto naquela viagem — comentou, nostálgica. O mecânico prestava atenção em tudo calado. O mini Sehun do bem estava em seu outro ombro pedindo para ter paciência: “Se controla, vai dar tudo certo, o Baekhyun te ama” enquanto o mini Sehun do mal gritava: “Faz barraco! Mostra que é o atual! Briga! Briga!”.
Baekhyun não estava em uma guerra interna tão diferente do namorado. Ele parecia estar preso em outra dimensão, olhando de um lado para o outro. Pensava seriamente em se beliscar para conferir se não passava de um pesadelo de mal gosto.
— A gente fazia cada loucura. Você se lembra, Baekhyun? Enquanto todos passeavam por Bangkok, a gente simplesmente viajou para a praia de Maya Bay sem falar nada e nos hospedamos por lá — ele perguntou com tom malicioso como se houvesse um segredo nas entrelinhas, algo que somente os dois sabiam e isso perturbava Sehun. Como um relâmpago ele lembrou que o namorado dizia que o sexo com Yunho era maravilhoso.
— Lembro… — Baekhyun respondeu. Finalmente encarou que aquilo estava de fato acontecendo. — Aquilo foi uma prova do quanto éramos imaturos e irresponsáveis. Os nossos pais ficaram preocupados, eles pensaram que tinha acontecido algo de ruim com a gente. Ainda mais que estávamos na Tailândia, um lugar que pode se tornar um perigo para turistas desinformados — ele continuou com tom seco. Baekhyun ainda estava irritado pelo fato de Yunho estar sentado ao seu lado após tantos anos sem vê-lo, mal conseguia processar sua presença desagradavel.
— Nossa… você parece diferente. A gente costumava rir dessa aventura, foram bons momentos. Eu lembro de você dizendo que foi uma das melhores loucuras que já fez na vida.
Ele comentou sentindo-se desmotivado pela resposta crua que recebeu do ex-namorado. Seu tom beirando a desistência fez Yerin interferir imediatamente na conversa.
— Vocês avisaram a gente de noite, não foi tão grave assim. O importante é que vocês sabiam se divertir juntos e eu amava vê-los tão felizes.
Sehun mordiscou o lábio inferior, se perguntando quantas viagens eles haviam feito juntos? Quantas vezes a família dos dois se reuniram como se eles já fossem casados?
— A gente viajava sem planejar, visitamos tantos lugares paradisíacos… — Yunho tentou novamente, mas não recebeu nenhuma resposta de Baekhyun.
— O Baekhyun vivia empolgado por essas viagens, ele sempre amou descobrir o mundo. Quando meu filho saiu da marinha pensei que o veria mais em casa, mas ele preferia ficar viajando com você.
Yerin respondia como se estivesse representando o filho.
— A gente queria conhecer o mundo juntos, viajamos para Macau, Buenos Aires, Moscou, Roma, Paris, Miami, Orlando...
O rapaz expressava olhando para cima, tentando resgatar em sua memória os nomes dos lugares que conheceram juntos. A lista parecia não ter fim, poderia ficar horas relembrando as viagens.
— O Baekhyun amava a Flórida pelos parques temáticos. Nós fomos tantas vezes no castelo de Hogwarts que ele até enjoou daquele lugar. A última vez que fomos no “três vassouras” ele disse que só beberia cerveja amanteigada numa próxima vida. Depois daquilo começamos a mirar em outros parques, ele sempre foi viciado em parques e aqueles da Flórida já estavam ficando chatos e batidos.
Sehun crispou os lábios, experimentando um aperto frustrante no coração. Sentiu-se traído pelo namorado diante daquela revelação. Seus ombros caíram um pouco para frente, demonstrando seu desânimo.
O mecânico achava que visitar parques temáticos fosse algo único deles. Pelo visto havia se enganado e agora não conseguia parar de se perguntar quantas pessoas Baekhyun levou no Lotte World, entre os outros milhares de parques que existiam espalhados pelo mundo. Lugares que só poderia visitar em sonhos, lugares que só viu em fotos pela internet. Ele apertou os punhos pensando intensamente na noite em que compartilhou um de seus maiores sonhos para Baekhyun.
Sehun confessou que queria muito viajar para Orlando apenas para conhecer o castelo de Hogwarts, comprar uma varinha no “Olivaras” e tomar uma cerveja amanteigada no “três vassouras”. Embora não suportasse a autora da obra, o universo do Harry Potter foi o primeiro que viu no cinema e tornou-se uma espécie de obsessão para o mecânico. Baekhyun disse que um dia eles iriam juntos, porém esqueceu de mencionar que foi várias vezes com outro homem, também não disse que estava enjoado do lugar, muito menos que não aguentava mais cerveja amanteigada. Talvez fosse uma doce mentira, mas doeu descobrir daquele jeito.
Baekhyun engoliu em seco ao ver a expressão do namorado. Sabia o quanto aquele lugar era especial para Sehun e o quanto ele queria conhecê-lo. Quis socar Yunho por mencionar justamente a visita ao “três vassouras”, principalmente por seu comentário infeliz que poderia ser muito mal interpretado por seu atual namorado. Não omitiu suas viagens para o parque por maldade, só não queria machucar os sentimentos do mais novo que demonstrou ficar muito empolgado com a ideia de conhecerem o lugar juntos.
— As viagens foram incríveis, mas isso faz muito tempo e não tem mais importância.
Baekhyun tentou encerrar o assunto. Já era desconfortável o suficiente estar em uma van com seu noivo e seu ex-namorado, não queria falar sobre o passado.
— Foram tempos maravilhosos. Eu sinto saudades daquela época, você também sente falta?
— O Baekhyun com certeza sente falta. Ele viajava com frequência, não podia ver um feriado ou umas férias que estava arrumando as malas. Mas nos últimos dois anos ele parou com essa paixão.
Yerin respondeu no lugar do filho deixando o rapaz boquiaberto. O Choi encarou o ex-namorado como se ele tivesse virado um alienígena.
— Byun Baekhyun passou dois anos sem viajar? — ele berrou incrédulo. — Você não parava quieto, quase reprovou em duas matérias de moda pelas faltas. O que aconteceu? E os seus planos de conhecer todos os cantos do mundo?
Sehun se encolheu no assento, sentindo-se culpado, pois devia ser o motivo. Ele era a gaiola que prendia Baekhyun em Seul, ele era a tesoura que cortava suas asas. O mecânico só queria sair daquela van, o caminho parecia cada vez mais longo.
— Isso foi antes, Yunho. As pessoas mudam com o tempo, elas amadurecem e descobrem novas paixões.
Baekhyun começou a ficar preocupado com a insegurança do namorado. Queria mostrar que não existia motivos para ficar acanhado diante dos comentários da mãe e do Choi.
— Naquela época eu estava em busca de aventuras e emoções que pudessem preencher o vazio que sentia por dentro. Eu não sabia o que faltava na minha vida até conhecer o Sehun.
Ele passou a mão pelo colo da mãe para alcançar a mão do namorado, o fazendo olhar para si. Sehun sorriu apaixonado odiando a forma como o outro sempre encontrava um jeito de fazê-lo sorrir.
— Eu acabei encontrando a minha fonte infinita de felicidade em Seul, não precisei ir tão longe para achá-lo. Agora eu prefiro gastar meu tempo livre passeando ou vendo filmes com o meu garoto.
— Se você diz... — Yunho deu de ombros. — Mas ainda acho difícil acreditar que não sinta saudades de viajar, poderia levar seu namoradinho com você.
Yerin tossiu fazendo as mãos de Baekhyun e Sehun se soltarem.
— Existe o “eu” de antes e depois do Sehun, você não me conhece mais, Yunho. Esqueça tudo que acreditava saber sobre mim, eu me tornei alguém melhor. Se eu estivesse com saudades de sair do país, simplesmente viajaria em um final de semana qualquer, mas não é o caso. Eu só quero curtir o meu namorado aqui mesmo.
Apesar das palavras de Baekhyun parecessem sinceras, ouvi-los falar sobre sua paixão por viagens deixou Sehun reflexivo. Era claro que Yunho e Yerin o viam como uma pedra no caminho de Baekhyun. Pelas fotos do namorado em redes sociais era possível concluir o quanto amava viajar. Fosse sozinho ou acompanhado, haviam várias fotografias em pontos turísticos que Sehun só viu na internet. Baekhyun só parou de postar aquele tipo de conteúdo quando começaram a namorar sério. Provavelmente porque o mecânico não tinha como acompanhá-lo e jamais aceitaria que o outro pagasse tudo. O máximo que fizeram juntos foi passar uma semana em Jeju em uma casa de praia bacana.
Sehun não conseguiu evitar acabou comparando-se com o ex-namorado do noivo. Choi Yunho era alguns centímetros mais alto que ele, era mais velho e consequentemente mais experiente. Também vestia roupas estilosas, parecia educado e andava de forma elegante. Para completar vinha de uma família poderosa e tinha todo apoio de Byun Yerin, ele era o genro dos sonhos dela.
“E daí? Ele pode ter tudo isso, mas não conseguiu ter o amor do Baekhyun”, o mini Sehun do bem e o mini Sehun do mal finalmente haviam concordado com um fato. Se até eles concordavam, por que Sehun discordaria? Choi Yunho nunca conseguiu chegar ao coração do Byun e não seria agora que conseguiria.
{...}
Três anos atrás…
Oficina Oh, 24 de agosto de 2018.
Meosjin Jeonmang, Seul
O interior do primeiro andar da oficina Oh esbanjava um espaço amplo para três elevadores automotivos hidráulicos, mesas de ferro repletas de adereços e carrinhos vermelhos com gavetas para ferramentas.
Nos fundos havia uma cabine com divisórias navais, formando o escritório do dono e o material impedia que visualizassem seu interior.
A oficina parecia ter em média oito funcionários. Eles usavam como uniforme um macacão azul marinho com bolso no peitoral, onde encontrava-se um crachá com identificação de cada um.
A equipe começou a guardar as ferramentas e limpar as mãos em um lavatório com cuba metálica. Aos poucos eles se despediam de um rapaz alto que se encontrava embaixo de uma Land Rover. Somente suas pernas ficavam visíveis.
“E que belas pernas!” pensou Byun Baekhyun. Elas ficariam ainda mais belas abraçando sua cintura, quando ficasse entre elas.
Ele observou o movimento de todos ao redor, tentando ao máximo não ter ideias indecentes. Os mecânicos mais velhos pareciam respeitar o rapaz mais novo como se ele fosse o chefe deles. O Byun ficou se perguntando se ele era dono, o sobrenome Oh no crachá dele parecia uma dica considerando o nome da oficina.
Sehun, que até então estava embaixo do carro, empurrou o carrinho que o sustentava para frente. Os fios negros grudavam em sua testa pelo suor, sua pele chegava a brilhar pela oleosidade e sua bochecha estava suja de graxa.
Baekhyun mordiscou o lábio inferior, desejoso. Ele encarava com atenção cada movimento do mecânico desde a primeira vez que o viu. Se fechasse os olhos poderia lembrar com clareza o exato momento em que ele e Zhang Yixing entraram na oficina. O jovem alto, vestindo um macacão azul escuro, desceu um lance de escadas de ferro e caminhou na direção deles. Estava sorrindo amplamente como se houvesse acabado de ouvir uma piada muito engraçada e seus olhos formavam um par de meias luas com ruguinhas ao redor. Algumas risadas escandalosas e gritos comemorativos ecoavam no andar de cima, provavelmente estava se divertindo com algo antes de descer para atendê-los.
Baekhyun já esteve na presença dos modelos mais requisitados da indústria da moda, costumava estar na companhia dos homens e mulheres mais admirados do segmento por suas características marcantes e invejáveis, contudo nenhum deles o deixou tão impressionado quanto aquele mecânico.
Ele era milimetricamente perfeito, poderia roubar a cena em qualquer desfile de moda e se tornar a atração mesmo não sendo um dos modelos. O sorriso do rapaz se converteu em uma expressão séria ao ficar frente a frente com Baekhyun.
Ele não foi o único afetado naquela primeira troca de olhares. Oh Sehun pensou nunca ter visto um homem tão bonito. Ao sentir o olhar ambicioso dele sobre si não pode deixar de retribuir, mordendo o lábio inferior desejoso diante daquela tentação. Nunca tinha sentido uma atração tão instantânea, podia jurar que mais nada importava ao redor. De repente só conseguia admirar aquele homem, o fitando igualmente fascinado.
Sehun estendeu a mão para Baekhyun. Assim que suas mãos se tocaram, o loiro sentiu uma vibração percorrer cada centímetro de seu corpo até chegar em seu coração.
— Olá, eu sou Oh Sehun, como posso ajudá-lo?
Os lábios do mecânico se curvaram em um sorriso cheio de terceiras intenções. Sua pergunta soou tão maliciosa quanto o sorriso atrevido e galanteador que Baekhyun usou para retribuir. O herdeiro dos Byun quis aquele garoto no exato momento em que seus olhares se cruzaram, não foi um simples querer, foi uma sensação de necessidade. Ele soube naquele momento que não descansaria até levar aquele garoto para cama e fode-lo em todas as posições que conhecia e desconhecia.
— O prazer é todo meu e você pode me ajudar de várias formas, você nem imagina.
Yixing pigarrou, sentindo uma certa malícia na fala do chefe, algo que também não passou despercebido pelo mecânico.
— O nosso carro ficou parado perto daqui, vamos precisar de um guincho e provavelmente de um reparo.
Enquanto Yixing explicava, os dois não conseguiam cortar o contato visual. Sehun sentiu um friozinho estranho na barriga.
— Podemos dar um jeito nisso, sem problemas. Vocês não são daqui, né? Não me lembro de vê-los pelas redondezas — perguntou curioso. Dois homens como eles não passariam despercebidos pelo bairro e um deles parecia usar roupas de grife. Os óculos do mais alto era um Ray-ban, um amigo tinha um falsificado e ele sabia que um original custava muito caro.
— Nós não somos desse bairro — Yixing respondeu brevemente.
— Como devo chamá-los?
Antes que Yixing se apresentasse, Baekhyun o interpelou vendo uma chance única na vida. A chance que ele pediu alguns minutos atrás para o universo e poderia finalmente agarrar.
— Eu me chamo Zhang Baekhyun e esse é o meu patrão Byun Yixing.
O chinês arregalou os olhos, o encarando completamente perplexo.
— Que mistura diferente, um de vocês é chinês? — Sehun perguntou achando estranho.
— O meu pai é chinês e a minha mãe coreana, por isso o sobrenome chinês com o nome coreano. E os pais do Yixing só gostaram muito do nome chinês, a mãe dele sempre fala que por ela o filho teria nascido na China. — Baekhyun explicou com a primeira desculpa que surgiu em sua mente e sorriu envergonhado para o amigo. Zhang Yixing ergueu uma sobrancelha, indignado.
— Como o motorista do senhor Byun irei cuidar do conserto do carro. Então você pode falar diretamente comigo, o meu chefinho está atrasado para faculdade, ele já vai embora.
Baekhyun olhou para Yixing com uma expressão suplicante.
— Não é, patrão? O senhor vai pedir um táxi e me deixar cuidar de tudo por aqui?
O chinês assentiu com a cabeça, desconfortável com a situação.
— Claro, eu vou pedir um uber. Cuida bem do meu carro, Zhang Baekhyun.
A sorte do Byun verdadeiro era que Zhang Yixing falava coreano impecavelmente e gostava muito dele.
Já haviam se passado dois dias desde que se apresentou como motorista dos Byun para Sehun. Estava interessado no rapaz e queria saber até onde poderiam chegar com os pequenos flertes que estavam trocando.
Em seus vinte e seis verões vividos, jamais ficou com alguém fora de seu ciclo social elevado. Pela primeira vez tinha a oportunidade de agir como um cara normal e poder provar para si mesmo se era capaz de fazer alguém se apaixonar por ele sem saber sobre o império que herdaria. Eventualmente contaria a verdade, mas primeiro precisava testar os sentimentos de Sehun.
A Land Rover ainda estava na oficina e ele podia jurar que Sehun parecia estar enrolando com o conserto dela
— Você é o dono da oficina? — perguntou curioso. Quando Sehun abriu os lábios para responder, um rapaz o interrompeu.
— O Sehun é o gerente da oficina e filho do dono — respondeu ao caminhar na direção de Sehun. O rapaz trajava roupas casuais e seus cabelos estavam molhados como se houvesse acabado de tomar um banho.
— Sehunnie, estou indo também. Você vai ficar bem sozinho?
Ele assentiu positivamente.
— Vou sim! Só estou terminando uma revisão — respondeu limpando as mãos em um pano. Seu nariz se contraiu ao sentir um cheiro amadeirado característico do perfume que usava. — Isso é meu perfume? E esse cinto por acaso também é o meu? — questionou intrigado ao reconhecer além da fragrância o acessório de couro no quadril do outro.
— O seu pai me deixou tomar banho lá em cima. Eu usei o seu shampoo, seus cremes e seu perfume-
— E ainda pegou meu cinto — murmurou cruzando os braços no peitoral.
— Em minha defesa você pediu minha camisa xadrez emprestada e nunca mais me devolveu — argumentou fazendo o melhor amigo rir ao ponto de criar pequenas ruguinhas em torno de seus olhos.
Baekhyun sentiu uma fagulha de inveja, também queria causar aqueles sorrisos no jovem bonito. Sehun parecia ser bem próximo daquele rapaz, principalmente por compartilharem roupas. Já estava ficando incomodado.
— Vai sair com a maquiadora de novo? Kim Jisoo, né?
Os olhos do moreno brilharam somente por ouvir o nome dela, ele sorriu mais rápido do que um miojo demora para ficar pronto na água fervente.
— Você tá mesmo na dela, hein?! Boa sorte no encontro. Seja legal com ela e vê se toma coragem para pedi-la logo em namoro. Não se deixa um mulherão daqueles escapar, se ela fosse meu tipo eu casava.
Baekhyun quase engasgou com o coração saindo pela boca. Aquilo significava que Sehun gostava de mulheres? Mas, ele o encarou com tanto desejo no olhar. Talvez gostasse dos dois, o próprio Baekhyun não se apegava em gêneros.
— Então torça pra ela me aceitar, amigão — Jongin pediu ansioso.
— Se ela não estivesse interessada, tinha te dispensado no fiasco do primeiro encontro de vocês. Até hoje não acredito que você me ligou dizendo que seu carro morreu no meio do nada. Muitas garotas no lugar dela teriam ficado putas, pedido um uber e te largado lá sozinho.
— Tem razão, vou tomar coragem e pedir logo. Não esqueça de fechar as portas e ficar atento no seu celular, porque se o meu carro morrer de novo você vai ter que me socorrer.
Ele gritou caminhando na direção da saída, deixando Baekhyun e Sehun sozinhos na oficina.
— Se quiser eu posso vir buscar o carro amanhã.
Baekhyun sugeriu torcendo para Sehun dizer que ainda não estava pronto e ele poderia buscá-lo no outro dia.
— Não precisa, eu já terminei. O motor não está mais superaquecendo, eu troquei o reservatório e dei uma conferida no radiador. Eu imagino que seus patrões devem querer esse carro pronto logo. Nós raramente atendemos gente assim tão rica, é bom ter boas recomendações.
Sehun explicou preparando-se para entregar a chave de volta para o motorista dos Byun. Um dos mecânicos pesquisou sobre a família e contou para Sehun que eles eram donos de uma marca de carros chamada Hyun e também de um império colossal de artigos de grife. Ele e o pai ficaram empolgados com a ideia de serem indicados para conhecidos dos Byun.
— Eles têm uma garagem cheia de carros, nem vão notar a falta deste em especial — Baekhyun retrucou tentando ganhar mais tempo com o rapaz. — Você nem testou, é melhor testar primeiro por garantia.
— Eu fiz você vir aqui de noite buscar o carro, seria muita irresponsabilidade não o entregar hoje como prometido — contestou desconfiado.
— Eu insisto em um último teste, posso voltar amanhã sem problemas.
Sehun acabou concordando, sendo sincero consigo mesmo queria ver o motorista dos Byun mais uma vez.
— Tudo bem, eu vou testá-lo amanhã.
— Eu posso testar com você, Sehun?
Sehun arqueou uma sobrancelha.
— Quer testar comigo?
— Eu quero conferir o estado do carro. O meu patrão vai pegar no meu pé se não fizer tudo certinho.
— O seu patrão não parece muito preocupado com esse carro, ele tem vários outros na garagem, não foi o que disse antes?
Sehun o provocou sorrindo atrevido.
— Eu esqueci de dizer que esse carro tem um valor sentimental. Que cabeça a minha, né? — falou colocando a mão na testa para enfatizar.
— O seu patrão não vai ligar se a gente der uma volta com ele pela cidade? Só pra testar?
— Ele nem precisa saber.
Baekhyun se sentia estranho falando daquela forma sobre um de seus próprios carros.
— Você não vai ficar encrencado se ele descobrir?
— Não é como se a gente fosse fazer uma loucura no banco traseiro, não é?
Sehun engoliu a seco, ele enrijeceu no lugar como se vestisse uma armadura
— É! Vai ser só um teste e nada mais. Você pode vir de tarde, lá pelas 15h00?
— Seria perfeito, temos um combinado?
— Ficou combinado! Agora eu te acompanho até a saída.
Os dois caminharam juntos na direção da saída. Sehun abriu a porta de enrolar de aço, abrindo espaço para Baekhyun passar primeiro. Algumas meninas com uniforme escolar que estudavam no período noturno estavam passando pela rua. Elas admiravam Sehun risonhas e com as bochechas coradas.
— Pelo visto você tem um fã clube. Deve fazer muito sucesso com as mulheres por aqui.
Baekhyun comentou um pouco desanimado.
— Eu? — Sehun indagou atordoado. Ele reparou no grupo de garotas do outro lado da rua, elas ainda estavam olhando na direção deles.
— Esse é o fã clube do Jongin, ele faz muito sucesso com as garotas por aqui — explicou coçando a nuca sem jeito.
— O Jongin não está aqui e elas estão olhando fixamente pra você.
Sehun olhou novamente para o outro lado da rua, percebendo que elas não paravam de encarar. Não era um comportamento comum delas, as garotas pareciam curiosas. Baekhyun estava vestindo uma calça jeans preta que realçava suas coxas, uma camiseta vermelha e uma jaqueta jeans escura. Ele parecia um pecado ambulante, principalmente quando sorria malicioso. A forma como ele falava, se vestia e andava era muito diferente dos rapazes que Sehun costumava ver no bairro e imaginou que as garotas estavam pensando o mesmo.
— Elas estão de olho em você — Sehun concluiu em voz alta.
— Tenho certeza que estão admirando sua beleza. Eu sou um bonito comum, mas você? Nossa! Você é fora de série. Se as revistas de moda descobrissem sua existência já estaria desfilando em passarelas.
O próprio Byun gostaria de patrociná-lo, ele podia imaginar uma linha completa dedicada ao rapaz. As bochechas de Sehun ficaram coradas, nunca tinha recebido um elogio daqueles, sequer sabia como responder.
— Quem elas estão secando não faz muita diferença na minha vida, eu não tenho interesse em mulheres mesmo.
Os olhos do Byun brilharam perigosamente e seus lábios se curvaram em um sorriso incontrolável.
— Não tem interesse em mulheres?
— Por que você parece tão empolgado com isso? — Sehun perguntou curioso.
— Porque agora posso alimentar esperanças... que sei lá... talvez você possa ter interesse em homens? Mais precisamente em mim — confessou ambiciosamente. O mecânico olhou os próprios pés, sentindo uma repentina vergonha de olhá-lo nos olhos como estava fazendo antes.
— Olha… — Sehun começou um pouco hesitante — Eu sinto que rolou um clima entre a gente, nós trocamos uns olhares e eu posso ser culpado por ter correspondido alguns flertes, mas isso precisa parar por aqui.
Baekhyun franziu o cenho, esperava outro tipo de reação.
— Por que não podemos continuar? Eu disse ou fiz algo errado? — questionou sem entender aquele fora. Sehun parecia igualmente interessado até o momento.
— Não, não! O problema não é você. Na verdade, meio que é você...
Sehun tentou explicar-se gesticulando com as mãos, sua fala era um pouco apressada e demonstrava o quanto estava ansioso.
— É que você parece perfeito demais. Olha só você? Caras tão bonitos e decentes não costumam flertar comigo.
Ele apontou para seu corpo como se fosse óbvio.
— Eu não vou dizer que não senti um lance diferente quando nos conhecemos. Para ser bem sincero, parecia mágica. Eu nunca senti uma atração tão forte antes, mas você chegou em um momento ruim.
— Que bobagem, por que eu não olharia pra você? — indagou indignado. — Eu também senti como se fosse mágica. Não é todo dia que esse tipo de lance acontece e quando acontece temos que agarrar a oportunidade. Você quer mesmo dizer não sem sequer me dar uma chance? Eu nem cheguei a te chamar para um encontro, estava quase chegando nessa parte, não destruí minhas esperanças tão cedo.
Ele segurou a mão do mecânico, o fazendo sentir a mesma vibração gostosa da primeira vez.
— A gente só se conhece há dois dias, não é como se fosse uma vida. Você vai me esquecer rapidinho, Baekhyun.
— Foram só dois dias e mesmo assim você não sai da minha cabeça. Eu não consigo parar de pensar em você e algo me diz que você sentiu o mesmo. Vocês têm oito funcionários aqui, não demora muito para trocar um reservatório e você poderia ter me chamado de manhã, mas escolheu me chamar para vir de noite quando a oficina estava quase fechando.
Sehun crispou os lábios, sabendo que o outro tinha razão. Mesmo que inconscientemente, ele estava arranjando pretextos para não devolver o carro rapidamente.
— Eu já dei a partida sem o carro esquentar muitas vezes seguidas, o meu motor já se afogou demais.
Ele tentou puxar a mão, mas Baekhyun continuou segurando-a.
— Não entendo muito de motores, mas acho que se o seu está afogado, ele só precisa de um conserto. O carro não pode ficar parado pra sempre, ele foi feito pra andar.
Sehun finalmente o olhou novamente nos olhos.
— Pode ser que o meu carro tenha andado todos os quilômetros que tinha para andar.
— Ele ainda não andou na minha pista. Não posso prometer uma estrada reta e sem curvas, mas garanto que vai ser melhor do que uma montanha-russa, é só você aceitar sair comigo.
Sehun riu incrédulo. Sem sombra de dúvidas estava sendo o pedido de encontro mais excêntrico que recebeu na vida, não conseguia sequer acreditar que eles estavam realmente tendo aquele diálogo.
— Eu nem te conheço direito.
— Podemos resolver esse problema com um encontro, é isso que as pessoas fazem nos encontros, não é? Elas se conhecem melhor — Baekhyun argumentou erguendo uma sobrancelha. Sehun não se lembrava de ter sido chamado para um encontro daquela forma, seus antigos relacionamentos começavam com beijos depois de algumas cervejas.
— Você não vai desistir, né?
Sehun mordiscou o lábio inferior, nunca tinha se relacionado com um homem tão bonito, sedutor e educado. Parecia mentira que aquele rapaz diante dele estivesse realmente interessado em si.
— Nunquinha, eu só estou pedindo uma chance.
Sehun ponderou por alguns instantes. Tinha acabado de ser largado por seu último namorado e seu histórico era degradante. Não sabia se estava pronto para começar tudo de novo, contudo o motorista dos Byun parecia tão diferente do tipo de cara que ficou antes. Para começar, não o conheceu em uma boate ou bar de esquina, ele não estava bêbado ou chapado quando o viu pela primeira vez, não chegou o agarrando e dizendo palavras chulas em seu ouvido.
Baekhyun estava sóbrio, tinha um trabalho fixo, parecia ser mais velho e exalava confiança. O rapaz receberia de longe a aprovação de Oh Hyunjin para genro. Seu pai sempre dizia que deveria se valorizar mais e ficar com caras decentes. O homem diante dele parecia ser muito respeitável.
Sehun havia prometido que não seria mais uma conquista fácil, precisava acabar com sua mania de acreditar em promessas falsas e servir de capacho para homens que não prestavam. Ele jurou de pé junto para Hyunjin que nunca mais transaria com cafajestes ou se meteria em relacionamentos tóxicos. Mas por que não se permitir sair com um cara legal uma vez na vida? A promessa não dizia nada sobre celibato eterno, às vezes a carne era fraca e Hyunjin sempre o incentivava a procurar um relacionamento saudável.
— Só uma chance, Baekhyun. E nós vamos com calma, se pisar no acelerador, eu pulo fora do carro — advertiu erguendo o indicador em sua direção.
— Como você quiser. E se achar que estou acelerando demais, sempre podemos pisar no freio e engatar a ré.
Baekhyun depositou um beijo estalado em sua bochecha, o pegando totalmente desprevenido.
— Te vejo amanhã, boa noite.
Ele se afastou sorrindo amplamente, Baekhyun sentia como se estivesse andando em nuvens e tudo que fez foi chamar o garoto para sair e depositar um beijinho na bochecha dele. Se pegou pensando em como se sentiria quando beijasse aqueles lábios fininhos? E eles iriam querer repetir? E se repetissem viraria um vício?
Embora não pudesse ver o amanhã, algo lá no fundo dizia que aquele garoto de alguma forma estaria com ele em um futuro distante. Mesmo sem conhecê-lo direito podia se imaginar dividindo uma vida com ele.
Era engraçado porque Byun Daehyun disse uma vez que você descobre que escolheu a pessoa certa quando pode se imaginar envelhecendo ao lado dela. E ele poderia facilmente envelhecer ao lado daquele rapaz.
{...}
Dias atuais...
Propriedade privada, 16 de julho de 2021.
Ilha Solar, Incheon
No dia 18 de julho acontecia o baile anual dos Byun, na ilha privativa da família. Seria um evento exclusivo para os mais próximos da família, contando com a presença ilustres de atores, modelos e socialites.
Naquele ano, o herdeiro dos Byun pretendia apresentar uma prévia da primeira linha da Privé criada exclusivamente por ele mesmo. Seria a primeira vez que um CEO da empresa atuaria também como estilista e todos estavam curiosos para apreciar o resultado.
Byun Yerin fez questão de contratar um serviço de vans luxuosas para proporcionar maior conforto e comodismo para os convidados. Ela era famosa por organizar os melhores bailes e jantares da alta sociedade e não estava disposta a perder o título.
No domingo já haviam funcionários da equipe de decoração trabalhando na instalação de luzes de led na fachada da mansão. Eles transitavam entre a entrada e o enorme salão de festas da família.
O motorista da Mercedes-benz desviou-se dos decoradores e estacionou a van de frente ao portal de entrada do casarão, facilitando o desembarque dos passageiros.
Quando o motorista abriu a porta Oh Sehun foi o primeiro a descer do automóvel.
Não suportava mais ouvir a voz irritante de Yunho relembrando momentos que viveu com Baekhyun ou chamando Yerin de “sogrinha” no final de cada frase. Desde que desceu no píer era um tal de “sogrinha” para lá e meu “filho querido” para cá. Tanta bajulação fazia o estômago do mais novo embrulhar, começou a perder a paciência com os dois.
O mecânico ficou se perguntando se algum dia se tornaria um daqueles genros que compartilham piadas de sogras em redes sociais. Somente o pensamento fez seu rosto se contrair em uma careta, não queria viver em um futuro onde ele e a mãe do marido continuassem em pé de guerra. Depois de tudo que superou na vida, só queria fazer parte de uma família grande e feliz, seria pedir muito?
Não conhecia o amor de uma mãe e lá no fundinho, bem escondidinho em seu coração, existia um desejo de saber como é ter tal afeto. Esperava genuinamente receber ao menos um terço do carinho que Yerin demonstrava sentir por Yunho, talvez fosse o suficiente para experimentar o amor maternal. Yerin sorria orgulhosamente para o ex-namorado do filho, e não economizava elogios para falar unicamente do herdeiro dos Choi.
“O tiro saiu pela culatra”
De repente, o coração puro do mais novo foi preenchido por sentimentos desagradáveis de inveja e ciúmes. E não foi de Byun Baekhyun como esperavam, Sehun estava morrendo de ciúmes de Yerin. Ela podia ser uma sogra malvada, mas era a sogra malvada dele, somente dele e de mais ninguém. Muito menos daquele riquinho de cabelo lambido de vaca.
Quem ele pensava que era? Ser um herdeiro bilionário não lhe dava o direito de sair por aí roubando as sogras alheias. Sem chances! Ele tinha que arrumar outra sogra, porque aquela mulher chata do caralho já tinha um genro e esse genro se chamava Oh Sehun. Ela querendo ou não.
Choi Yunho perdeu o direito de chamá-la de “sogrinha” quando Baekhyun colocou um enorme ponto final no relacionamento que tiveram um dia. Yerin e Yunho podiam continuar sendo amigos, mesmo que isso não agradasse ninguém além dos dois, porém aquela ladainha de se tratarem como sogra e genro precisava acabar.
— Eu estou impressionado. Esse lugar não mudou em nada, continua do mesmo jeito que me lembrava, sogrinha.
Yunho constatou ao descer da van, fazendo Sehun revirar os olhos e encarar o namorado de relance. Ainda tinha esperança que o Byun fizesse algo a respeito daquela falta de consideração.
Além de humilhante, também era torturante ver outro homem ser tratado como genro pela própria sogra. Para ajudar o namorado não tentava corrigir.
Por mais doloroso que fosse, Sehun conseguia entender o lado de Byun Yerin. Ela colocou o Choi em um pedestal e sonhava em tê-lo como genro. Se a escolha fosse dela com certeza o filho estava comemorando anos de casamento com o rapaz, não era estranho ela aceitar que ele continuasse se referindo a ela como “sogrinha”. O estranho era o filho dela não fazer nada para mudar aquela situação constrangedora.
O fato de o noivo não ter pedido sequer uma vez para o outro parar de chamar a mãe dele daquela forma deixava Sehun frustrado, bravo e principalmente magoado.
— Queridos, chegamos quase na hora do almoço. Vocês vão amar o cardápio de hoje.
Yerin anunciou enquanto os outros desciam do automóvel com ajuda do motorista.
— Filho, pensando especialmente em você pedi que separassem os ingredientes para um kkotgetang. Eu acordei mais cedo e fiz questão de preparar com muito amor o seu prato predileto. Também pedi que cozinhassem samgyeopal bem picante do jeitinho que você gosta, um fricassé de frango e de sobremesa pedi que servissem hotteok só porque você ama.
Ela contou entusiasmada, acariciando a bochecha do rapaz com afeição.
— Não acredito que se lembrou de tudo isso.
Ele expressou chocado e comovido. Baekhyun, por outro lado, olhou a mãe com desconfiança. Para preparar o prato preferido de Yunho com tanta antecedência ela tinha no mínimo que saber sobre a ida dele para ilha. O filho dela não foi o único a chegar nessa mesma conclusão, Sehun rapidamente uniu os pontos também.
— Como poderia esquecer, querido? Eu cozinhava todas as vezes que você nos visitava em casa.
Yunho abraçou Yerin, agradecido. Sehun jamais viu a sogra em uma cozinha, não sabia que ela cozinhava.
— Nem sei como agradecer por tudo isso. Eu senti tanta falta da senhora e da sua comida, sogrinha.
Presenciar aquele abraço fez Sehun sentir-se completamente deslocado. Não tinha o que fazer ali, estava sobrando no meio daquelas pessoas. Ele virou-se de costas para todos e seguiu na direção do portal de entrada, sem anunciar sua saída. Embora não quisesse ser afetado, não tinha controle sobre os próprios sentimentos. Aquela interação o incomodava e não podia esconder o quanto.
Não queria demonstrar fraqueza, mas era sincero demais para continuar parado, somente assistindo sua sogra tratar Yunho como se ele fosse um segundo filho.
Será que algum dia ela o veria da mesma forma? Algum dia teria chance de ser cuidado como o outro? Algum dia ela cozinharia algo especialmente para ele? Algum dia seria chamado de filho e receberia um abraço quentinho? Podia parecer bobagem para qualquer um que visse de fora, pois ninguém além do próprio Sehun poderia entender a importância daquela aprovação.
Ver o garoto prodígio receber toda atenção da sogra o fez sentir-se novamente na pele de um garotinho de oito anos, lutando para ser notado. Era como retornar aos tempos em que vivia mudando de orfanato.
Toda vez que um casal visitava as crianças com intenção de adotar, Sehun se arrumava impecavelmente, fazia de tudo para impressionar e no final eles escolhiam outro coleguinha. Seus esforços eram inúteis quando a concorrência o esmagava como se fosse uma formiguinha insignificante.
As outras crianças destacavam-se mais do que ele, eram mais bonitas, mais inteligentes, mais educadas, não tinham marcas como as dele, não assustavam as outras crianças, não faziam xixi na cama, não tomavam medicamentos como gente grande e não atraiam tantos problemas quanto ele. Sehun não conseguia encontrar outra explicação, parecia tão óbvio o motivo dos colegas deixarem o orfanato com seus novos pais enquanto ele era jogado de um lado para o outro como um objeto que ninguém queria.
Ele se sentia como parte de uma linha com defeito de fabricação, um lote que perdeu o valor. Ele era o conjunto de taças com imperfeições que a loja tentava vender a preço de banana e mesmo assim ninguém queria comprar. Enquanto Yunho era a taça de cristal top de linha mais disputada pelos compradores.
Baekhyun ficou preocupado ao ver o namorado entrando no casarão cabisbaixo. Quis segui-lo no mesmo instante e teria o alcançado se Yerin não tivesse segurado seu braço.
— Filho, me ajude a instalar nossos convidados nos quartos de hóspedes.
Ele puxou o braço, afastando-se da mais velha que o olhou constrangida.
— A senhora pode fazer isso sozinha, o que não falta são empregados para ajudá-la e tenho certeza que vai amar mostrar o quarto para o Yunho — ele respondeu sarcasticamente. O loiro curvou-se para os convidados e seguiu os mesmos passos que Sehun fez anteriormente, na direção das escadarias.
{...}
Três anos atrás…
Shazam, 24 de agosto de 2018.
Meosjin Jeonmang, Seul.
Baekhyun abraçou o próprio corpo, um pouco inseguro, conforme caminhava sozinho pelas ruas do bairro desconhecido. Ele conferiu o visor do celular novamente, esperando que um motorista de uber aceitasse a corrida. O aplicativo indicava que estava buscando um motorista, dois já haviam aceitado e cancelado em menos de quatro minutos.
No final da rua havia um bar com uma placa em neon escrito “Shazam”. Decidiu beber um drink enquanto esperava Yixing ir buscá-lo com outro carro, já que não deu certo utilizar o aplicativo de transporte teria que ligar para o motorista.
Oh Hyunjin conferiu se todas as portas da oficina estavam trancadas, tratava-se de um ritual que se repetia todas as noites. Ele estranhou quando encontrou a Land Rover dos Byun parada no mesmo lugar onde ficou por dois dias. Ainda mais porque Sehun garantiu que o motorista da família iria buscá-la de noite.
Ele subiu as escadas de ferro para o segundo andar e ao entrar em casa deparou-se com o filho saindo do banho.
— Sehun, o que aquele carro está fazendo aqui ainda?
O garoto estava enrolado em uma toalha enquanto secava o cabelo com outra. Ele sabia exatamente de qual carro o pai estava falando.
— O motorista dos Byun quer testar o carro amanhã antes de levar — explicou, deixando o pai desconfiado.
— Esse carro está pronto desde o primeiro dia, porque vocês não testaram ontem?
As bochechas do mais novo coraram.
— Sehun? — ele o chamou com tom de advertência. Sehun não conseguia mentir para o pai.
— Eu meio que estou interessado no motorista dos Byun e acabei atrasando a entrega de propósito para vê-lo mais vezes, me desculpa por ter feito isso.
Hyunjin arrastou a mão pelo rosto frustrado.
— Sério, Sehun? Você está querendo bater um recorde ou algo do tipo?
O filho suspirou envergonhado.
— Já faz um tempo desde o último.
— Não faz tanto tempo assim. Sehun, você me prometeu que iria tomar jeito.
— Eu sei o que prometi, mas você o viu, papai? Eu pensei em resistir de todas as formas possíveis, mas ao mesmo tempo eu pensei que poderia ser diferente dessa vez. Ele foi tão legal comigo-
— Você dizia o mesmo dos outros e acabou sendo um pior do que o outro. Você já se esqueceu de tudo que aconteceu? O Donghae quase te matou, aquele desgraçado está na cadeia e o Haneul também foi preso.
Sehun abaixou a cabeça envergonhado.
— Pode ter certeza que ninguém se arrepende mais por esses erros do que eu mesmo, papai. Eu falei sério quando disse que nunca mais me envolveria com homens como eles — Sehun garantiu, tomando coragem para erguer a cabeça.
— O Baekhyun não é como os outros, ele me chamou para um encontro do jeito que você disse que homens decentes fariam. Você está sempre me dizendo que devo me valorizar e sair com um bom moço, eu acho que o Baekhyun pode ser esse cara.
Hyunjin assentiu com a cabeça, esperando que o filho não estivesse se iludindo novamente.
— Eu não vou mais me meter nisso, faça o que quiser. Só tome cuidado dessa vez, eu não quero ter que socar mais um dos seus namorados, depor em uma delegacia ou te buscar em um motel.
— Eu prometo que dessa vez vai ser diferente, vou ser bem cauteloso e ir com muita calma.
— E por favor… use camisinha.
Implorou preocupado. Sehun riu anasalado, sentindo as bochechas esquentarem.
— Pode deixar, eu sempre me cuido. E o Baekhyun só me chamou para um encontro, você fala como se eu fosse transar com ele logo de cara.
— Por que é o que você costuma fazer.
— O antigo Sehun costumava fazer. Eu sou um novo Sehun e vou me controlar com o Baekhyun por mais que ele seja sedutor e gostoso. Eu fiz uma promessa e vou cumprir dessa vez.
Hyunjin franziu o cenho ao pensar sobre Zhang Baekhyun.
— Sehun... o Baekhyun não vinha aqui só buscar o carro?
— Sim.
— Se o carro ainda está aqui, como ele vai voltar?
Os olhos de Sehun se arregalaram. Ele olhou pela janela confirmando que já estava escuro. Depois que o Shazam abria a maioria dos motoristas de aplicativo não entravam no bairro, significava que o motorista dos Byun estava por lá ainda.
— Caralho! Pai, nós temos que encontrar o Baekhyun!
Sehun vestiu uma calça jeans rapidamente, uma camiseta simples e uma jaqueta. Pai e filho desceram as escadas desesperado, Sehun tentou ir na mesma direção que viu Baekhyun seguir quando saiu. Ele se xingava mentalmente por ter cometido aquele descuido.
— Como eu fui fazer uma burrada dessa? — falou para si mesmo. Ele ficou tão aéreo com o beijo que ganhou na bochecha que até esqueceu o horário.
Byun Baekhyun viu a vida passar como um filme diante dos próprios olhos ao sentir o cano de um revólver ser pressionado contra sua têmpora.
Ao pedir um uísque duplo no balcão do bar, ele foi abordado por um grupo de quatro homens que o guiaram agressivamente até um beco escuro. O líder deles o empurrou contra a parede de concreto enquanto os outros espreitavam.
O herdeiro dos Byun tentou lutar, porém tudo que conseguiu foi um lábio cortado e uma dor intensa no queixo.
— Eu não vou perguntar mais uma vez, o que você quer com a Shazam, maluco? — o homem interrogou, autoritário.
— Eu só queria beber um drink e esperar um uber, nunca pensei que isso seria um problema.
Ele tentou explicar novamente. No princípio pensou que eles quisessem assaltá-lo, mas os quatro sequer olharam sua carteira ou celular.
— Eu nem sei o que é Shazam, achei que fosse só um bar como qualquer outro. Por favor, me deixem ir em paz.
Ele continuou argumentando com o portador do revólver.
— Você quer mesmo que eu acredite nessa historinha? Você aparece aqui do nada, sem um grupo de amigos, alegando que só queria pedir um uber. Acha que me engana? — o homem riu sarcástico. — Pra quem você trabalha? É oficial da narcóticos?
Os olhos do Byun quase duplicaram de tamanho.
— Da narcóticos? Cara, eu não sou policial, eu juro. Eu só vim buscar meu carro na oficina.
— Agora você mudou a história? Você veio buscar seu carro, mas estava no Shazam pedindo um uber? Tá me achando com cara de palhaço?
Baekhyun olhou em volta, notando que o homem era o único no poder de uma arma de fogo. Os outros tinham somente facas, o fato o fez mordiscar o lábio indeciso.
— Eu só quero ir embora, ninguém precisa se machucar. Vocês pegaram o cara errado, se quiserem uma prova podemos ir todos juntos até a oficina e os donos podem confirmar tudo que eu estou dizendo.
Ele pediu uma última vez. Ao notar que o homem estava disposto a pressionar o gatilho, Baekhyun ergueu o joelho, golpeando o abdômen dele. Ele agarrou o braço do homem e pressionou o gatilho por cima de seu dedo, fazendo a arma disparar na parede até descarregar toda munição. Em seguida torceu o pulso do homem para a arma cair e quando ela colidiu com o chão, ele a chutou para longe.
Usando a parede como apoio Baekhyun chutou o rosto do homem e o empurrou para longe. Outros três rapazes o cercaram segurando facas, ele os encarava atento e ofegante.
Baekhyun era faixa preta em hapkido e atuou ativamente na marinha em missões oficiais no período em que serviu. Ele não tinha tanta força, contudo possuía habilidade e prática em luta corpo a corpo.
— E você diz que não é policial?
Um deles gritou preparando-se para atacá-lo, porém um gritou os paralisou no lugar.
— O que vocês estão fazendo aqui?
A voz de Oh Hyunjin chamou a atenção dos quatro. Ele e o filho escutaram o som de tiros e imaginaram o pior, os dois seguiram o barulho que os levou até aquele beco. Sehun correu até Baekhyun, ele conferiu seu rosto preocupado com o corte em seus lábios.
— Você está bem, Baekhyun? — indagou conferindo se havia algum ferimento grave, ficando surpreso ao não encontrar. Sehun olhou em volta reconhecendo Kim Doyun caído no chão. O homem levantou-se e os encarou irritado.
— Vocês conhecem esse maluco? — Doyun perguntou para Sehun e Hyunjin.
— Ele é um cliente novo da oficina, é motorista de gente importante — Hyunjin explicou alarmado.
— Ele não parece ser um simples motorista. Esse cara só pode ser policial! Ele veio aqui xeretar os negócios da Shazam, basta ver a forma como ele sabe lutar e mexer com armas.
Baekhyun engoliu a seco. Não queria revelar que aprendeu muito servindo na marinha, eles não pareciam gostar de oficiais.
— Eu sou treinado para proteger o meu chefe em situações de risco, não é tão simples ser motorista de alguém tão importante no mundo dos negócios — mentiu tão convicto que quase acreditou na própria mentira.
— Se ele é só um cliente, por que está andando por aqui de noite sozinho?
— Ele não é só um cliente, ele tá comigo. — Sehun disse para proteger Baekhyun, sua declaração significava um passaporte livre para entrar e sair do bairro sem correr riscos.
— Se vocês incomodarem o rapaz, serei obrigado a dizer ao Minjun que estão mexendo com gente da comunidade. — Hyunjin ameaçou, fazendo os homens recuarem.
— Por favor, não conta ao Minjun. A gente pensou que ele era policial, senhor Oh — um dos rapazes, armado com uma faca, pediu suplicante.
— Então gravem bem o rosto dele. Se isso se repetir com um dos meus clientes, serei forçado a ir falar com o Minjun e ele não vai gostar nada disso.
Eles se curvaram agradecendo ao mais velho. Todos seguiram para fora do beco, mas Doyun esbarrou no ombro de Sehun na saída.
— Cuida melhor dos teus machos, “bichinha” — ele sussurrou no ouvido do mais novo antes de seguir os outros deixando os três sozinhos.
— Você está bem? — Sehun perguntou novamente tocando o lábio rachado do outro com o polegar.
— Eu estou bem... acho, pelo menos. O que foi isso tudo? — questionou, atordoado.
— São os caras da Shazam, o bar no final da rua. Eles tomam conta da comunidade e não gostam de forasteiros de noite. Eu devia ter sido mais cuidadoso com você, estou tão acostumado que acabei esquecendo disso e quando o meu pai me lembrou nós saímos correndo atrás de você. Me desculpa por tudo isso.
Baekhyun fechou os olhos, sentindo-se perplexo. Ele sabia da existência de pequenas facções na cidade, mas nunca pensou que se depararia com uma.
— Vocês não têm nenhum envolvimento com isso, né? — perguntou apreensivo. Os quatro rapazes aparentavam respeitar o pai de Sehun e eles falavam como se fossem conhecidos. A pergunta fez pai e filho se entreolharem antes de rirem descrentes.
— Não temos envolvimento com a Shazam, só moramos no mesmo bairro que eles. É meio difícil você não conhecer todo mundo da comunidade por aqui. — Sehun disse risonho.
— Então por que aqueles caras ficaram assustados?
— Eu cresci brincando nessas ruas com o filho do chefe deles e quando o chefe morreu o meu amigo assumiu o lugar do pai. O Minjun não é mais meu amigo, mas ele sente muito respeito por mim e pelas pessoas que moram aqui. Ninguém mexe com a gente e a gente também não procura encrenca com eles, convivemos em paz na medida do possível — Hyunjin explicou resumidamente para o rapaz. — Você tem um machucado feio aí, é melhor vir com a gente.
Baekhyun acabou seguindo Hyunjin e Sehun de volta para a oficina Oh.
— Pai, onde está o kit de primeiros socorros?
Sehun pediu conforme guiava Baekhyun para sentar-se sobre um balcão de mármore.
— Vou buscá-lo, só um minuto.
O dono da oficina entregou para o filho uma maleta branca. Ele olhou discretamente a forma como Baekhyun encarava Sehun com uma certa admiração no olhar, Hyunjin quase riu.
— Eu acho melhor deixar vocês sozinhos, não tenho mais idade pra tanta emoção — ele brincou com a intenção de se retirar.
— Muito obrigado por me ajudar, senhor Oh.
Ele levantou-se somente para curvar-se, recebendo um olhar quase chocado do homem. Oh Hyunjin sentiu uma vibração muito boa vindo do rapaz, poderia dormir uma noite com tranquilidade, pois daquela vez seu filho não havia arrumado um cafajeste.
— Pode me chamar de Hyunjin, rapaz — comentou sorridente. — Vou te deixar aos cuidados do meu filho, espero que fique bem logo.
Internamente Hyunjin estava torcendo para Baekhyun sair com seu filho. Sehun precisava se relacionar com pessoas melhores e aquele homem parecia uma boa companhia. Para alguém de fora poderia parecer um exagero, mas ninguém conhecia o histórico terrível de namorados de Sehun como ele.
— Boa noite, garotos! E Sehun, quando terminar acho melhor levá-lo para casa em segurança.
O mais novo abriu a maleta de primeiros socorros em busca de uma gaze e um anticéptico enquanto prestava atenção nas palavras do pai.
— Pode deixar, pai.
— Tome cuidado quando sair — Hyunjin pediu ao se despedir de ambos novamente. Ele subiu as escadas de ferro para o segundo andar, deixando o filho sozinho na oficina com o rapaz que despertou seu interesse.
— Posso?
Sehun mostrou para Baekhyun uma gaze embebida em anticéptico
— Aí! — resmungou ao sentir a gaze contra o ferimento. Sehun nem esperou uma confirmação.
— Você tem muita sorte por se meter com os caras da Shazam e sair somente com um corte no lábio.
O loiro sorriu convencido.
— Acho que eles que estavam com sorte, eu teria acabado com todos se vocês não tivessem aparecido
Sehun arqueou uma sobrancelha. A imagem de Doyun caído no chão voltou para sua mente, não se lembrava de ninguém que houvesse derrubado o cara.
— Você não é mesmo policial, né? — perguntou o fazendo rir.
— Depende, você não é mesmo um gangster, né?
— Eu sou só um mecânico, posso garantir.
— E eu sou só um motorista bem treinad-aí! — reclamou ao sentir a gaze ser pressionada uma última vez sobre o machucado.
— Prontinho. O corte está limpo.
Sehun jogou as coisas que usou dentro da caixa.
— Onde você mora, Baekhyun? — questionou conforme abriu um armário, procurava por algo dentro dele.
— Eu?
O mais novo olhou em sua direção rindo anasalado.
— Sim, quem mais seria?
— Eu... eu...eu moro na área de empregados da mansão dos Byun.
Ele mentiu após pensar alguns segundos. Sehun retirou de dentro do armário um capacete vermelho e entregou para o Byun.
— Acho que esse vai servir em você.
Baekhyun olhou a quantidade de capacetes no armário e o encarou desconfiado.
— Você compra um capacete para cada namorado?
Sehun riu negando com a cabeça.
— São do meu pai.
Ele respondeu movendo uma motocicleta da Hyosung. Baekhyun finalmente havia processado o que Hyunjin havia pedido para o filho, ele queria que Sehun o levasse até em casa com segurança.
— Não precisa me levar, eu posso pegar um uber.
— Depois desse susto não vou conseguir dormir se não tiver certeza que te deixei em segurança. Você também não vai conseguir um uber aqui uma hora dessas.
Sehun vestiu um capacete preto para proteção. Também substituiu a jaqueta por uma de couro pesada.
— Você ficou preocupado comigo? — Baekhyun inquiriu sorrindo presunçosamente antes mesmo de ouvir a resposta do outro.
— Se algo tivesse acontecido nunca teria me perdoado. Eu fui muito irresponsável em deixá-lo sair daquele jeito, não sei onde estava minha cabeça.
— Acho que em mim — sugeriu imodesto.
— Não seja tão presunçoso, não se esqueça que ainda não saímos juntos.
— Ainda não, mas vamos.
Ele gemeu desgostoso ao sentir uma fisgada no lábio inferior.
— Me desculpe novamente por isso.
— A culpa não foi sua. E eu até que me virei bem lá
Ele piscou um olho, gabando-se.
— Você é louco! Ainda não acredito que brigou com os caras da Shazam, ninguém aqui tem coragem de se meter com eles.
— Espero não ter metido você e o seu pai em problemas com aqueles caras. E que eles não fiquem na minha cola, eu já assisti filmes em que o cara que apanhou faz de tudo para se vingar, aqueles caras não vão ficar me perseguindo, né?
Sehun riu inclinando a cabeça para trás.
— Não era você que estava contando vantagem até agora? — brincou recebendo em resposta um biquinho involuntário do loiro. — Pode ficar relaxado, isso não é o Crepúsculo e o Doyun não é o James. Agora que eles sabem que você não é policial, que supostamente está comigo e é cliente da oficina, nada de ruim vai acontecer. O negócio daqueles caras é com a polícia e com membros de outras facções, eles não mexem com gente do bairro.
— Eu não sou do bairro — sussurrou.
— Depois do que eu disse você tem passe livre por aqui, está totalmente intocável.
— Eu gosto disso… não vou querer me meter em problemas todas as vezes que vier te visitar.
— Todas as vezes? — Sehun perguntou surpreso.
— Claro! Se eu me sair bem no primeiro encontro pretendo repetir mais e mais vezes.
— Você é muito convencido, ainda nem tivemos um primeiro encontro e já está pensando nos próximos?
Ele comentou ao subir na moto, posicionando-se de forma confortável.
— Assim você fica ainda mais atraente — O Byun disse admirando o rapaz montado na motocicleta.
— É a jaqueta, né?
Sehun se permitiu brincar mesmo não estando acostumado com tantos elogios em uma noite só.
— Vem! Eu preciso te deixar em casa.
O chamou para sentar-se na garupa da moto.
— Posso te admirar por mais dois minutinhos?
— Não faz assim, desse jeito eu fico envergonhado — murmurou baixinho. Baekyun rendeu-se, vestindo o capacete que Sehun entregou anteriormente. O mais velho acomodou-se na garupa e suas mãos sapecas abraçaram a cintura do mecânico com destreza, o deixando um pouco desconcertado.
— Isso tudo é medo de cair? Eu sou um excelente piloto — Sehun comentou risonho. Ele sentiu um calor subir pelo corpo ao tê-lo tão próximo de si.
— E quem disse que estou com medo de cair?
— O aperto dos seus braços — brincou ao sentir suas mãos apertarem sem sutileza as laterais de sua cintura.
— Só estou querendo aproveitar a viagem, algo me diz que vou gostar muito desse passeio.
Sehun se arrepiou ao ouvir a voz do outro acompanhada das mãos que fizeram de sua cintura uma morada.
{...}
Seul nunca pareceu tão bela e iluminada para Baekhyun quanto naquela noite em que cruzou pela primeira vez a avenida principal sentado na garupa da moto de Oh Sehun. O herdeiro dos Byun aproveitou cada momento, sentindo o calor do corpo do outro conforme ele pilotava na direção da zona mais nobre da cidade.
Na metade do caminho o mais velho não resistiu a oportunidade que surgiu diante de seus olhos no formato de um carrinho de sorvete e um parque inocente. Fugindo de todos os planos, os dois foram parar sentados em um banco de cimento em uma praça pequena. Assistindo um grupo de crianças brincarem em um circuito enquanto eles tomavam um picolé.
— Se sente melhor agora? — Sehun perguntou observando o loiro arrastar o picolé de creme sobre o lábio rachado.
— Bem melhor! Mas ficaria ainda melhor com um beijinho — brincou o fazendo rir incrédulo.
— Marcha ré, Zhang.
Pediu dando a entender que estavam acelerando demais. Era estranho ser chamado por outro nome, porém precisava se acostumar com a mentira que ele próprio criou.
— Foi só uma brincadeira
— Sei… — falou desconfiado.
— O seu sorvete está bom?
Ele assentiu lambendo novamente o picolé de chocolate.
— Delicioso. E o seu também está bom?
Ele concordou gemendo deliciado pelo picolé sabor creme.
— Esse sorvete era tudo que eu precisava, Sehun. Acredita que eu não me lembro a última vez que fiz isso?
— Isso o quê?
— Tomar sorvete de noite em uma praça. A minha vida geralmente é tão corrida, eu não costumo fazer esse tipo de coisa.
— Sempre que precisar sair um pouco da rotina podemos tomar sorvete juntos — Sehun sugeriu hesitante.
— Não brinca comigo desse jeito, eu me iludo fácil — confessou, provocando uma queimação em sua bochecha. Baekhyun achava engraçado a facilidade de Sehun em corar, ele parecia tão diferente do mecânico concentrado que assistiu na oficina. Sehun olhava interessado as crianças brincando pelo circuito do parque.
— Eu sempre quis fazer um circuito como esse — ele comentou ao ouvir a risada da criançada.
— Eu amava circuitos quando era mais novo, principalmente aqueles de shopping com cordas, troncos e rappel.
— Você já brincou em um daqueles? Era legal? — Sehun perguntou impressionado.
— Era emocionante, eu me sentia o próprio Indiana Jones. Você nunca ficou no playground de shoppings e mercados grandes?
Ele negou com a cabeça.
— Eu via as outras crianças brincando e lembro de sentir muita vontade de brincar também, mas nunca pude ir nesses lugares. Queria ter tido a chance de ir em um lugar assim quando era mais novo, agora não tenho mais idade pra isso.
Baekhyun mordeu o lábio inferior pensando em algo secretamente. Sabia exatamente onde levaria Sehun para o primeiro encontro deles. Seu comentário também despertou uma curiosidade essencial, não sabia quantos anos o mecânico tinha.
— Quantos anos você tem, Sehun? — perguntou repentinamente.
— Idade suficiente pra entrar em um motel.
O loiro riu de sua resposta ousada.
— Bom saber disso, mas eu sou um homem que trabalha com números.
Sehun lambeu o picolé de chocolate, mantendo o mistério por mais alguns segundos.
— Eu tenho dezenove.
Baekhyun abriu os lábios surpreso com sua idade. Não imaginou que Sehun fosse tão novo, eram sete anos de diferença entre eles.
— Estou me sentindo um pouco velho agora.
Sehun franziu o cenho confuso com sua brincadeira.
— Você não deve ser mais do que três ou quatro anos mais velho do que eu.
Baekhyun riu sentindo-se lisonjeado.
— Eu fiz vinte e seis anos esse ano.
Respondeu antes de morder o último pedaço do picolé de creme.
— Mentira! — Sehun exclamou alto.
— É sério.
— E você faz alguma faculdade?
Aquela pergunta o pegou totalmente desprevenido. O que deveria responder? Byun Baekhyun serviu dois anos na marinha, era formado em designer de moda, tinha cursos extracurriculares, uma pós-graduação a caminho e estava atualmente cursando administração de empresas.
— Por enquanto não. Eu só fiz alguns cursos de segurança e o necessário para me tornar motorista dos Byun.
O mais velho se arrependeu logo em seguida, poderia ter ao menos dito que estava cursando o ensino superior.
— E você faz alguma faculdade?
Devolveu a pergunta observando Sehun terminar seu picolé de chocolate.
— Eu só consegui meu diploma em março do ano passado. Eu fiz alguns cursos de mecânica, mas acho que está um pouco cedo para pensar em uma faculdade. Não tenho condição de bancar um curso superior, mesmo que tenha muita vontade de fazer.
Baekhyun estranhou sua resposta. Ele concluiu o ensino médio com dezessete anos como a maioria dos jovens.
— Você reprovou algum ano?
Acanhado, Sehun olhou os próprios pés. Não queria dizer que demorou para ser alfabetizado, muito menos que seu diploma foi através de atalhos.
— Eu entrei um pouco atrasado na escola.
Dizer um pouco era um absurdo. Sehun só frequentou uma escola a partir dos oito anos de idade.
— Eu não conseguia frequentar a mesma escola por muito tempo, sempre acabava me mudando e isso me prejudicou muito nos estudos. Eu era sempre o aluno novo, toda vez despencava de paraquedas em uma sala onde estavam aprendendo um assunto diferente. Era impossível pra mim acompanhar a linha de raciocínio das outras crianças. Só consegui me concentrar de verdade quando fiz dezesseis anos e o meu pai me matriculou num curso extensivo.
Baekhyun assentiu compreensivo. Sehun pensou em contar sobre sua adoção, contudo queria conhecê-lo primeiro antes de tocar naquele assunto.
— Eu já fui aluno novo algumas vezes e não é muito legal chegar no meio do semestre. A maioria dos grupinhos já estava formada naquela altura do ano e eu tentava de tudo para me enturmar em alguma panelinha. No começo era meio complicado, mas eu sempre tive sorte de me adaptar.
— Você tem jeito de quem foi muito popular na escola, Baekhyun.
— Não vou mentir, eu era um dos mais populares. Aposto que você não devia ficar muito atrás, tenho certeza que recebeu muitas cartinhas de amor.
Sehun riu sem humor.
— Você se decepcionaria se soubesse como foi.
— Foi tão ruim assim?
— Pior. Eu não tinha amigos e ninguém queria fazer dupla comigo nos trabalhos de escola.
— Eu teria sido seu amigo se tivesse te conhecido, adoraria fazer dupla com você.
O mais novo sorriu genuinamente agradecido pela fala do loiro.
— Tenho certeza que você seria um amigo incrível.
— Mas só seria seu amigo até o baile do ensino médio.
— Por que só até o baile?
Baekhyun sorriu atrevidamente.
— Porque no baile eu sairia da zona de amizade e viraria seu namorado.
— Você não perde uma chance — Sehun o interrompeu risonho.
— No próximo sábado você vai estar livre? — Baekhyun perguntou o fazendo assentir positivamente.
— Posso te buscar na oficina às 20h00?
— Onde você vai me levar?
A pergunta de Sehun fez Baekhyun compreender aquilo como um sim.
— Não se importa se eu escolher o lugar e for uma surpresa?
— Você fez o convite, eu vou confiar em você.
— Eu agradeço a confiança, mas só por precaução você poderia me dar algumas dicas?
Sehun franziu o cenho sem compreender o que ele queria.
— Dicas do quê?
— Do que você gosta em um encontro.
Sehun esfregou as coxas nervoso. Ele nunca teve um encontro decente, ele não sabia exatamente do que gostava e do que não gostava.
— Não sei — respondeu sincero.
— Onde você costumava ir com seus antigos namorados?
— Não sei... em lanchonetes, bares, coisas assim.
Baekhyun o olhou incrédulo.
— Ninguém te levou em um parque de diversões? No cinema? Em um restaurante temático?
Ele negou com a cabeça, deixando o loiro inconformado.
— Sehun, você tem um calendário em casa, certo?
Ele assentiu um pouco confuso. Todo mundo tinha um calendário em casa, ao menos deveria ter.
— Eu quero que reserve todos os sábados do próximo mês no seu calendário.
— Por quê?
— Porque em cada sábado eu vou te levar em um lugar diferente.
{...}
Dias atuais...
Propriedade privada, 16 de julho de 2021.
Ilha Solar, Incheon
Não havia muitos lugares para onde Sehun poderia ir na mansão além da suíte que estava dividindo com o namorado. Ao chegar na porta Baekhyun girou a maçaneta imaginando que o noivo estaria lá.
Ele encontrava-se andando de um lado para o outro em um espaço limitado. Os comentários maldosos da família do namorado, o noivado surpresa, o pesadelo na noite passada, o encontro com Alice e Alex somados a chegada de Yunho na ilha intensificaram seus medos e incertezas para níveis mais altos do que podia lidar em um curto espaço de tempo.
Ele quase não percebeu quando Baekhyun entrou no quarto e trancou a porta atrás de si.
— Hunnie, por que você saiu daquele jeito? — Baekhyun perguntou acanhado deixando sua presença evidente no quarto.
— Por que você acha? — interpelou, sarcástico.
Baekhyun refletiu cautelosamente sobre tudo que foi dito dentro da van, tentando encontrar em sua memória algo de errado que tenha feito para irritá-lo. Ao seu ver tentou ser o mais frio possível com o ex-namorado e esperava que Sehun tivesse percebido suas tentativas de cortar o assunto. Não queria que recordações de um passado muito distante gerassem discórdias entre ele e o atual parceiro.
— Quando a Karina disse que traria um amigo eu nunca pensei que esse amigo fosse o Yunho, eu juro! Se eu soubesse teria feito algo para impedir. Eu sei o que você deve estar pensando e-
— Não! Você não sabe no que eu estou pensando, eu duvido até mesmo que você tenha percebido o que aconteceu de verdade — Sehun o interrompeu. Seus olhos estavam marejados e a voz um pouco embargada, isso o fazia se sentir de certa forma patético e infantil. Odiava chorar quando estava nervoso.
— Eu notei que ele tentou te provocar falando sobre o nosso passado, mas em nem um momento eu dei corda pra conversa dele, gostaria que você também o ignorasse. Não sei o que o Yunho veio fazer aqui, não faço nem questão de saber, porque ele não significa nada pra mim.
O mecânico riu descrente.
— O problema não é você, Baekhyun.
— Não? — ele perguntou confuso.
— Eu sei que você não sente mais nada por ele e que não deu corda para o papinho dele.
— Então por que você saiu daquele jeito? Por que você está chorando, Hunnie?
— Você realmente não percebeu, não é? — Sehun indagou desanimado.
— O que eu deveria ter percebido?
— Que a sua mãe deve estar por trás disso. Ela não ficou surpresa com a chegada dele, inclusive ela deixou bem claro que sabia sobre a vinda dele quando admitiu ter cozinhado de manhã os pratos preferidos dele.
Baekhyun abriu a boca perplexo.
— Eu saí de lá porque não aguentei ver a minha sogra tratar outro homem como se fosse a porra do namorado do filho dela. Eu sou o seu namorado, eu sou o genro dela e não o Yunho — Sehun bateu no peito três vezes para enfatizar. — Eu sou um idiota! Eu não devia estar chorando por alguém que não merece, mas eu tinha esperanças que talvez nessa viagem a sua mãe começasse a gostar um pouquinho de mim.
As palavras do mais novo o atingiram como um soco. Apesar de tudo, Sehun nunca expressou tão explicitamente o que sentia sobre Yerin.
— A sua mãe me odeia e quer acabar comigo. Ela sempre arranja uma forma de me fazer mal e dessa vez ela foi longe demais. Está na cara que a Yerin convidou o seu ex-namorado para as férias da sua família só pra esfregar na minha cara o quanto ele é melhor do que eu e o quanto ela gosta dele e não gosta de mim. Tudo que ela faz desde que entrei na sua vida é me machucar, me humilhar e tentar me fazer sentir insuficiente. Por que ela faz isso comigo? Eu já tentei de tudo para agradá-la, não entendo qual o problema dela comigo — esbravejou passando as mãos pelos cabelos bagunçados. — Até quando isso vai durar? Já se passaram dois anos e ela continua me desprezando.
Baekhyun não se sentia preparado para aquela conversa. Tinha se armado para enfrentar uma briga boba de ciúmes, afinal seu ex-namorado estava na ilha! Pensou que lidaria com um namorado ciumento e ao invés disso se deparou com uma conversa séria que eles evitaram ao máximo.
— Toda vez que ela me humilhava em algum evento você dizia que não tinha sido por mal, que ela iria mudar e que o tempo resolveria tudo. Está cada vez mais difícil acreditar que um dia ela vai aceitar nosso relacionamento e se arrepender de tudo que fez comigo. Não vejo ela nos aceitando nem tão cedo e nós nunca vamos progredir enquanto você não assumir que a sua mãe me odeia. O nosso carro só está patinando na lama sem nunca sair do lugar, estamos estagnados na mesma porra de buraco — falou com tom alterado e carregado de mágoa. — Vai ficar parado aí me olhando com essa cara? Ou você nem sabe mais o que falar? Você já inventou desculpas demais para me confortar, sua criatividade já deve ter esgotado. Sinceramente não estou afim de ouvir mais uma mentira bem elaborada, se estiver tentando bolar uma agora é melhor me deixar sozinho.
Sehun suspirou cansado. Ele sentou-se na beirada lateral da cama e apertou o tecido da bermuda que vestia com raiva.
— Às vezes eu acho que a sua mãe só vai parar com esses joguinhos se ela conseguir nos separar. Você viu a forma como ela tratou ele como se fosse um segundo filho? Ela até cozinhou por ele! A Yerin nunca vai me tratar como trata o Yunho e deixou isso bem claro fazendo toda aquela cena na minha frente.
Sehun continuou deixando o outro ainda mais sem palavras. Nem em um milhão de hipóteses que criou na própria mente pensou que o namorado havia saído irritado pela forma como Yerin tratou o ex-genro na frente de todos. O mais velho respirou profundamente, ponderando com cuidado quais seriam seus próximos passos.
— Sehun... eu sei que a minha mãe pegou muito pesado, eu entendo que seja difícil acreditar quando eu digo que ela não odeia você-
— Ela me odeia, Baekhyun! Ignorar isso é ignorar um tiranossauro rex na sala — rebateu recebendo um olhar de advertência do outro.
— Eu posso expor meu ponto de vista também? Você não está me deixando falar.
Sehun assentiu, cruzando os braços.
— Eu sou o único filho dela. A minha mãe quer que eu me torne um homem bem-sucedido, saudável e muito bem casado. Ela faz de tudo pra me proteger e cuidar do meu patrimônio. Nessa tentativa de me proteger ela acaba exagerando, principalmente quando pensa estar fazendo algo pelo meu bem. A minha mãe tem muitos e muitos defeitos, mas ela não tem um coração ruim — afirmou com tom de voz calmo. — Não estou defendendo as atitudes dela. A minha mãe realmente errou muito com você, ela extrapolou muitas vezes. E em todas as vezes que ela fez isso, eu apontei o erro dela e fiz tudo que estava ao meu alcance para reparar. Da forma que falou antes fez parecer que eu faço vista grossa, mas sabe muito bem que sou o primeiro a brigar por você, inclusive já briguei várias vezes com a minha mãe e quebrei laços com muito amigos da família por você.
As atitudes do Byun sempre iam de acordo com o que falava, ele sempre colocou o namorado como prioridade.
— Eu conheço a mãe que tenho e exatamente por conhecê-la tão bem, sei que ela não faz isso por maldade, ela não é uma pessoa cruel e manipuladora. Não acho que ela tenha chamado o Yunho aqui de propósito e tratado ele tão bem na sua frente para te machucar. Provavelmente a Karina deve ter contato ontem que traria o Yunho e a minha mãe ficou tão empolgada em vê-lo que nem pensou direito em como isso poderia ser inconveniente. Não te julgo por pensar que ela armou isso, até eu fiquei um pouco desconfiado, porém seria ridículo demais e a minha mãe não seria tão infantil.
Sehun negou com a cabeça. Ele tinha certeza que a sogra sabia que o rapaz iria para a ilha muito antes.
— A minha mãe tem medo que você esteja interessado só no meu dinheiro, ela é muito desconfiada e cautelosa. Ela vive na defensiva porque acha que você é uma ameaça da qual ela precisa me proteger, ela não sente ódio por você, ela sente receio. Quando a minha mãe perceber o quanto está enganada nada vai impedi-la de gostar de você. Tenho certeza que se a minha mãe deixar os pré-julgamentos dela e te conhecer de verdade vai descobrir porque te amo tanto e vai apoiar nossa relação.
Tentou explicar o fazendo bufar inconformado. O namorado sempre arrumava uma desculpa para defender a mãe, mesmo que dissesse que não fazia vista grossa. Ele entendia o lado da sogra, sabia que era difícil para ela acreditar que ele estava com Baekhyun por amor, no entanto, como poderia provar o contrário se nunca tivesse a chance de se aproximar dela?
— Olha, eu posso até concordar que ela pense que eu sou um golpista e tudo que ela faz seja com intenção de te proteger, mas nada do que me diga vai tirar da minha cabeça que ela tenha chamado o Yunho aqui de propósito. Ela sabia muito bem que ele veria e fez questão de falar sobre o passado de vocês na minha frente só pra me irritar.
Sehun reforçou não se dando por vencido.
— Sehun, os dois sempre foram assim. Quando eu era noivo do Chanyeol às vezes a gente participava de jantares beneficentes que os Choi também frequentavam e a minha mãe fazia questão de unir as mesas das famílias pra ficar conversando com o Yunho e os pais dele. Os dois nem percebem o quanto são inconvenientes, eles são bons amigos.
Sehun ergueu uma sobrancelha, permanecendo em silêncio. Apostava que o tal Chanyeol não se importava, porque também era um dos queridinhos da Yerin.
— Antes do Yunho chegar a gente estava indo tão bem, falta tão pouco para o baile e o anúncio do nosso casamento. Não vamos deixar a presença do meu ex-namorado atrapalhar nosso momento especial, é só ignorá-lo. Deixa a minha mãe curtir a presença dele, eles são bons amigos e eu não posso interferir na amizade dos dois. Só posso garantir que o Yunho estar aqui não muda absolutamente nada entre a gente.
Sehun apertou os punhos com força. O fato de serem amigos não dava o direito do outro chamá-la de sogra e se comportar como se ainda fosse namorado do filho dela.
— Não é com o Yunho que vou me casar. Você é o meu noivo, você é o homem que eu amo e é com você que vou me casar em alguns meses — afirmou.
— Eu sei disso! Eu já falei que não é com você que eu estou preocupado, Baekhyun.
— Eu estou confuso. Então, o que está te preocupando tanto?
— Você vai rir se eu falar — murmurou baixinho.
— Prometo que não vou rir.
Ele ergueu o mindinho, o fazendo sorrir minimamente.
— Eu sei que a presença dele não vai mudar nada entre a gente, mas ele muda todas as minhas chances de conseguir me aproximar da minha sogra. Eu não quero aquele cara perto da sua mãe, Baekhyun! Eles serem amigos me deixa puto, não quero aquele ladrão de sogra aqui — resmungou chateado. — Ele parece ser podre de rico, é super educado, bonitão, chique e ainda tem todo o apoio da sua família. Poderia fazer uma lista de itens que o tornam melhor do que eu. Como posso competir com isso? Ele é o genro que toda mulher como a sua mãe deseja ter. Ela nunca vai me achar um bom partido para o filho dela se lembrar dos caras importantes que você namorou antes de mim.
Baekhyun ajoelhou-se de frente para o mais novo e apoiou as mãos em seus joelhos. Estava tentando processar tudo que Sehun disse, nunca pensou que se veria em uma situação como aquela. Era inédito demais até mesmo para o Byun que namorou mais gente do que conseguia contar nos dedos. O namorado dele estava com ciúmes da mãe dele com o ex-namorado dele. Se eles estivessem em um drama os dois estariam disputando por ele e não pela sogra.
— Não sou o genro dos sonhos da sua mãe, nunca vou ser como o Yunho. Você mesmo me disse que o sonho dela era te ver casado com ele.
— Não é com a minha mãe que você vai casar, é comigo! Você não tem que ser o genro dos sonhos dela, tem que ser o marido dos meus sonhos e isso você já é. O Yunho ser rico não o torna melhor do que ninguém, não vou aceitar que você fique se diminuindo desse jeito. A minha mãe eventualmente irá aceitar o nosso relacionamento, eu acredito que depois do baile de terça-feira a opinião dela sobre você vai mudar, confie em mim mais uma vez.
— Como pode ter tanta certeza? Você fala com tanta convicção que nesse baile a sua mãe vai mudar de opinião, eu acho bem capaz dela me odiar mais ainda se souber que aceitei casar com você.
Baekhyun prendeu seu queixo entre o indicador e o polegar, sorrindo carinhosamente.
— Está com anel que eu te dei? — perguntou ganhando um aceno positivo.
— Pode me dar ele?
Sehun esticou o braço para abrir a gaveta da mesa de cabeceira. Ele tirou de dentro dela uma correntinha de prata com um anel de noivado pendurado no centro como se fosse um pingente.
— Eu guardei do jeitinho que pediu, não deixei ninguém ver para não atrapalhar a surpresa — explicou observando Baekhyun tirar o anel da corrente. Ele girou a jóia fazendo o namorado olhá-la com atenção.
— Esse anel é uma herança de família muito importante, ele simboliza amor verdadeiro. Quando eu te pedi em casamento eu disse que um Byun só entrega essa joia para pessoa com quem decide passar o resto da vida. Os Byun do passado precisavam amar muito uma mulher para presenteá-la com essa joia.
Baekhyun acariciou a pedra do anel com carinho.
— Apesar de ser uma herança de família ele pulou muitas gerações, porque existe uma regra para herdá-lo. Não é qualquer membro da família que pode tê-lo — falou erguendo o dedo como uma advertência. — Ele só pode ser entregue ao Byun que sentir amor verdadeiro pela noiva. Todos que casaram por outros motivos como negócios ou fogo de palha nunca viram esse anel. Quando o meu avô viu a forma como o meu pai olhava a minha mãe, ele decidiu torná-lo o próximo portador do anel. A minha avó explicou para a minha mãe como funcionava a passagem do anel e disse que um dia seria a vez dela passá-lo para uma nora... bom, no nosso caso para um genro.
Ele sorriu de canto enquanto explicava.
— A minha mãe me deu esse anel quando eu saí da marinha e me contou toda história por trás dele. Ela me disse que eu deveria pensar muito bem antes de dar esse anel para alguém, não podia ser algo impulsivo ou por fogo de palha. Eu tinha que ter certeza que era o amor da minha vida, ela me fez prometer que só colocaria no dedo da pessoa certa, aquela com quem decidisse dividir tudo, minhas conquistas, tristezas e alegrias. O anel não significa só amor verdadeiro, quem usa ele tem que ser mais do que um amante, tem que ser um amigo, confidente e um parceiro para todas as horas. A gente dá esse anel pra alguém de confiança que vai estar lá nas horas boas ou ruins.
Baekhyun deixou o anel sobre a mesinha de cabeceira e acariciou a bochecha do namorado que o olhava admirado.
— Mesmo estando de casamento marcado com o Chanyeol, eu sequer pensei em dar esse anel pra ele. Nunca pensei em colocá-lo no dedo de ninguém além do seu, você é o meu alguém especial e todos vão ter certeza disso no baile de terça-feira. Quando apresentar minha primeira coleção vou pedir a atenção de todos. Quando estiverem olhando, eu vou caminhar até você, vou me ajoelhar na sua frente e te mostrar esse anel. Eu vou perguntar se você quer me tornar o homem mais feliz do mundo todos os dias da minha vida aceitando se casar comigo.
As bochechas de Sehun esquentaram ao imaginar a cena. Ele com certeza diria “sim” várias vezes e deixaria o outro colocar o anel novamente em seu dedo.
— Tenho certeza que minha mãe vai entender o quanto eu te amo quando me ver colocar esse anel no seu dedo. Pode ser que não aconteça de um dia para o outro, mas não diga que ela nunca vai te tratar como trata o Yunho. A minha mãe não é essa pessoa má que aparenta ser quando tenta te afastar. Ela é uma mulher incrível e vai se arrepender quando perceber que se enganou sobre você, não é mentira ou desculpa esfarrapada.
Sehun não acreditava que uma joia fosse mudar a forma como Yerin o via, não era tão ingênuo e otimista quanto o noivo. O que ele não sabia era que o próprio Byun não esperava que a mãe mudasse de atitude somente pela entrega de um anel. A confiança do mais velho tinha outra explicação, uma surpresa que preparou para o namorado e mudaria a visão de todos sobre Sehun. A prévia da primeira linha que criou para Privé tinha um enorme valor sentimental para Baekhyun, a coleção foi totalmente inspirada no noivo e Sehun sequer imaginava.
— Tomara que você esteja certo — Sehun sussurrou.
— Eu sempre estou certo — respondeu com tom convencido.
— Agora... eu preciso te fazer uma pergunta. Você só sentiu ciúmes da minha mãe? Não sentiu sequer um pouquinho de ciúmes de mim?
Baekhyun estava um pouco chateado, o que não passou despercebido pelo namorado.
— Você quer a verdade ou a mentira?
— A verdade, por favor.
— Eu não fiquei com ciúmes de você.
— Nadinha de ciúmes? Nós ficamos em uma van com meu ex-namorado! Ele sentou bem do meu lado. Isso não te incomodou?
Sehun riu anasalado.
— Me incomodou o fato de eu não estar sentado do seu lado. Eu confio em você, não aceitaria me casar se não confiasse de olhos fechados e mãos amarradas nas costas. Se você quisesse algo com o Yunho teria casado com ele quando estavam juntos. Você está comigo agora e nunca me deu motivos para desconfiar dos seus sentimentos.
Baekhyun sorriu agradecido.
— Obrigado por confiar em mim, eu nunca te dei motivos e nunca vou dar. Eu fiquei tão preocupado quando você saiu daquele jeito sem falar nada, pensei que lidaria com uma crise de ciúmes por minha causa. Mas você estava com ciúmes da minha mãe, me enganei feio.
— Está chateado por que eu não fiquei com ciúmes de você? — Sehun perguntou brincalhão, estranhando a expressão do outro.
— Confesso que não me importaria se você ao menos fingisse um pouco. Não reclamaria se você me jogasse contra a parede e falasse algo tipo: “eu vou te mostrar porque você está comigo e não com ele”... — falou imitando uma voz rouca que o fez rir descontrolado. — Nossa, seria muito quente! Se você estivesse com seu uniforme de trabalho ficaria ainda mais picante.
— Eu acho que você anda vendo pornô de baixa qualidade escondido, mas se quiser posso fazer o papel de namorado ciumento na cama.
— Vem cá, amor — Baekhyun pediu ao levantar-se lentamente. Ele posicionou o joelho entre as pernas do namorado e inclinou-se para beijá-lo.
— Quem disse que você já pode me beijar? — Sehun interpelou, colocando o dedo indicador sobre seus lábios o impedindo de concretizar o ato.
— Pensei que a discussão tivesse terminado e a gente fosse protagonizar uma cena de reconciliação muito quente, onde você faria o personagem do namorado ciumento e me pegaria de jeito até eu sair daqui andando torto.
— Ah! Então você acha que isso foi uma discussão? — Sehun questionou com um tom falsamente inconformado, o fazendo mordiscar o lábio indeciso sobre o que responder.
— Não foi? — questionou hesitante.
— Não foi, mas já que você quer tanto ter uma discussão, você finalmente vai conseguir uma agora, nesse exato momento. Porque eu acabei de me lembrar de algo muito importante, estava quase esquecendo e por sorte você me fez lembrar.
O Byun engoliu a seco amaldiçoando sua língua comprida.
— Que eu me lembre não fiz nada, sou inocente até que se prove o contrário.
— Tem certeza, Byun Baekhyun? Porque eu descobri que você não foi totalmente sincero comigo e isso me deixou bem incomodado. Não tem nada que você queira confessar?
— O que eu poderia confessar?
Ele se afastou franzindo o cenho.
— Que tal falarmos sobre Hogwarts, seu mentiroso de uma figa?
Baekhyun mordeu o lábio inferior ao ouvir aquele nome.
— Por que não me disse que foi com o Yunho no castelo de Hogwarts em Orlando? Que já tomou cerveja amanteigada no “três vassouras”? Que estava enjoado do parque da Universal? Quando você pretendia me contar? No ano que vem, quando já estivéssemos lá?
Sehun o interrogava mostrando os dedos da mão simbolizando o número de fatos que ele estava omitindo. Baekhyun passou a mão pelo rosto. Devia ter ficado quieto, eles poderiam estar fazendo uma rapidinha ao invés de discutir justamente sobre aquilo.
— Por que você me fez pensar que nunca tinha ido lá? Por que me escondeu todas as vezes que visitou o parque com o seu ex-namorado? — perguntou genuinamente magoado, sentindo novamente uma pontada de traição no peito.
— Minha intenção nunca foi esconder nada. Nós combinamos de falar sobre nosso passado eventualmente, assim sempre teríamos algo novo para descobrirmos um sobre o outro.
Tentou argumentar falhando terrivelmente.
— Meu caralho, Baekhyun! Isso é totalmente diferente. Você sabe o quanto essa viagem é importante pra mim e hoje eu descobri que você está enjoado de ir lá. Não precisava ter fingido esse tempo todo que queria essa viagem tanto quanto eu.
— Hunnie, eu não estava enjoado do parque, eu estava enjoado de ir lá com o Yunho. As viagens começaram a perder a graça conforme eu me sentia sufocado com o nosso relacionamento. Eu te contei que empurrei aquele namoro com a barriga porque a minha mãe gostava muito dele — defendeu-se lembrando com exatidão da noite em que falaram sobre uma possível viagem para Orlando. — E a primeira vez que você falou sobre o seu sonho eu ainda estava fingindo ser o motorista dos Byun.
Baekhyun suspirou.
— Eu não podia contar que era rico e tinha ido lá várias vezes. Como iria explicar uma viagem dessas naquela época? Você ficaria desconfiado se eu mencionasse viagens pelo mundo-
— Isso foi há três anos atrás — Sehun interrompeu irritado.
— Acontece que depois eu não tive coragem de contar sobre as minhas antigas idas ao parque. Você falava sobre essa viagem de um jeito tão empolgado, os seus olhos brilhavam e eu não queria estragar sua animação, mas eu nunca menti sobre querer conhecer o parque com você.
— Não vai ser algo novo pra você — resmungou emburrado.
— Como não? Eu vou visitar o lugar mais mágico do mundo com o amor da minha vida pela primeira vez. Eles com certeza fizeram reformas no parque durante todos esses anos e vão ter atrações que também serão inéditas pra mim, mas isso tudo é o de menos. O mais mágico vai ser ver o meu namorado realizar um dos maiores desejos dele. Só por estar participando de algo que você sonhou por tanto tempo, eu vou compartilhar da sua alegria e vou ir às alturas por você e com você.
Sehun suspirou.
— Eu queria poder fazer algo novo com você, algo que não tenha feito com um dos seus antigos namorados. Você já foi em tantos lugares e visitou parques temáticos pelo mundo todo, o Lotte World nem deve ter a mesma graça para alguém que já esteve em todos os parques da Disney. Não é que eu esteja tendo um ataque de ciúmes ou coisa do tipo, sei que seus ex-namorados estão lá no passado e eu estou aqui no seu presente. Mas me deixa chateado saber que perdi todas as suas primeiras vezes, que tudo que a gente fizer você já vai ter feito com outra pessoa. E pra piorar eu estou te impedindo de viajar e fazer as coisas que você gostava de fazer, porque não tenho como te acompanhar nessas atividades.
— Que bobagem, Sehun! — contestou inconformado. — Olha, eu não vou dizer que não gosto de viajar, porque seria uma mentira. Eu realmente viajava muito, fazia compras extravagantes, frequentava os mesmos lugares que celebridades e quase reprovei por faltas nos meus primeiros anos de faculdade de moda por causa dessas escapadas.
Admitiu ao recordar das várias viagens que costumava fazer sozinho ou com amigos e namorados.
— Só que naquela época eu tinha uns vinte anos, havia acabado de sair da marinha e minha mentalidade era totalmente diferente da que tenho hoje em dia. A minha adolescência toda precisei lidar com o fato de que um dia me tornaria alguém com muitas responsabilidades, administrar uma empresa como a Privé não é uma brincadeira e um dia meu pai vai me deixar as ações dele da Hyun também. Eu vou ter duas empresas nas minhas mãos, mesmo que o Junmyeon seja o presidente da Hyun, eu também terei meus deveres como acionista. Quando fui dispensado da marinha pensei que era minha chance de viver cada dia como se fosse o último, minha ideia era fazer tudo que tinha vontade antes de assumir minha herança.
Os Byun atribuíam muitas responsabilidades ao filho, ele estudava nos melhores colégios com os regimes mais rígidos, fazia cursos extracurriculares desde pequeno e quando fez dezoito anos se alistou na marinha. Era rotina regrada atrás de rotina regrada, ele precisava dar uma pausa e fazer uma bagunça para variar.
— As minhas prioridades mudaram conforme fui amadurecendo. Ter te conhecido é algo que contribuiu para essa mudança, mas não foi o principal motivo. Eu teria parado as viagens frequentes mesmo se a gente não estivesse namorando. Não tem cabimento você dizer que está me impedindo de viajar ou fazer as coisas que eu gosto. Se isso fosse verdade nós não estaríamos mais juntos, porque eu jamais ficaria em um relacionamento com alguém abusivo que me impedisse de fazer as coisas que gosto. Você é meu noivo, não é meu dono. Se por alguma razão eu quisesse viajar e você não aceitasse ir comigo mesmo se me oferecesse pra pagar tudo, eu sinto muito! Mas eu compraria a minha passagem e iria mesmo sem você. Aliás, eu já fiz isso!
Sehun abaixou a cabeça timidamente. Seria mentira dizer que Baekhyun não tinha viajado durante aqueles anos, ele fez algumas viagens internacionais breves com amigos e com a família. Sehun lembrou-se que em todas as vezes que Baekhyun ficou fora por alguns dias, ele voltou com presentes e lembrancinhas. O mecânico tinha até um globo de neve com a torre Eiffel dentro e uma caneca comprada na primeira loja da história da Starbucks que ficava em Seattle.
— Qualquer lugar do mundo se torna mágico quando eu estou com você, essa é a verdade. Você não perdeu todas as minhas primeiras vezes, seria impossível, considerando que existem milhões e milhões de atividades diferentes para se fazer na terra. Ninguém me levou para passear no parque Yeoeuido antes de você, eu nunca andei na garupa da moto de alguém além da sua, você foi o primeiro que me levou para comer cachorro-quente barato, e eu amei! Você também foi o primeiro namorado que eu levei em um circuito de gente grande, foi o primeiro com quem fiz coisas como tomar picolé caminhando pela praia ou tentar andar de bicicleta. Sehun, você foi o único que me deu um urso de pelúcia que fala quando eu aperto! Você não precisa ficar se comparando com os meus ex-namorados, até porque se você fosse como eles não estaria aqui comigo agora, existe uma razão pela qual decidi me casar com você e não com eles.
Sehun o encarou admirado.
— Quando você fala assim me faz parecer uma criança estúpida, eu não tenho nem argumentos para manter uma discussão com você
Baekhyun riu anasalado.
— Você ainda é novo nesse lance de amor. Entendo que nós temos idades diferentes e a minha lista de relacionamentos é um pouco mais extensa que a sua, mas preciso que você compreenda algo muito importante — pediu segurando as mãos do mais novo. — Quando decidimos esquecer a minha mentira e ficar juntos de novo, eu não tentei esconder minha vida amorosa. Eu não era nem um moleque quando te conheci e deixei isso bem claro.
Sehun assentiu concordando com o loiro.
— Eu costumava ser muito namorador, fiquei com tanta gente que até esqueci o nome de alguns, mas a quantidade não vem ao caso agora. A questão é que eu levava eles e elas em muitas viagens, dava presentes caros e os tratava como se fossem parte da realeza. Esse sou eu, Sehun... eu sou o tipo de homem que quando está com alguém tenta valorizar essa pessoa de todas as formas possíveis, eu me entrego totalmente sem esperar nada em troca. Você mesmo disse que se apaixonou pela minha forma de ser, por estar sempre querendo cuidar de você, te mimar, te dar carinho, te tratar bem e com respeito. Não sou assim só com você, fui assim a vida toda, com todo mundo que já fiquei e me orgulho disso. Os meus relacionamentos tiveram altos e baixos, cheguei a falar sobre alguns deles, inclusive sobre minha relação com o Yunho. Independente da história ou momentos lindos que tenha vivido com cada um deles, todos sem exceção ficaram no pas-sa-do — ele falou o final pausadamente para enfatizar. — Agora você é meu presente e meu futuro, isso é tudo que importa.
Sehun sorriu minimamente.
— Eu sei que não devia me importar com isso, mas ver o Yunho me fez pensar nesses homens e mulheres que namorou antes de mim. Eles não te faziam passar vergonha em eventos de gente rica, podiam retribuir seus presentes com coisas da mesma altura e com certeza te levavam a lugares bacanas aqui na Coreia ou do outro lado do mundo. Enquanto eu só posso te levar pra comer cachorro-quente barato numa pracinha. Eu precisei juntar por seis meses pra fazer aquela viagem que você queria em Jeju, imagina uma viagem para Tailândia ou qualquer outro lugar do mundo? Eu sinto que estou te limitando, não quero ser uma pedra na sua vida ou cortar suas asas.
Falou expressando o que sentiu com os comentários que ouviu de Karina, Yerin e Yunho.
— Me limitando? — Baekhyun soou incrédulo. — Sehun, a última coisa que você faz na minha vida é me limitar. Eu trocaria todas as viagens do mundo só pra comer um cachorro-quente barato com você, mesmo que ainda duvide da procedência daquela salsicha.
Brincou relembrando um de seus primeiros encontros. A procedência da salsicha havia se tornado uma piada interna entre eles.
— O que eu faço com você, Sehun? — perguntou pensativo. Ele tirou uma mecha de cabelo de Sehun que havia caído na frente de seu olho.
— Eu odeio pessoas que ficam falando sobre o quanto são ricas, isso não é do meu feitio, mas acho que precisamos falar sobre isso pra matar esse assunto de uma vez por todas.
Baekhyun chegou naquela conclusão, precisava fazer o namorado entendê-lo.
— Sehun, você é o noivo de um dos jovens mais ricos da Coreia. Eu precisaria viver mais de um milhão de vidas de luxo para acabar com a minha fortuna, eu sou herdeiro de empresas, de ações, de terras e de imóveis. Sendo assim, eu não preciso de alguém que banque as minhas viagens, que me dê presentes caros ou que me leve em restaurantes renomados.
O mais novo crispou os lábios, prestando atenção em cada uma de suas palavras.
— Eu tenho um cartão sem limites e posso usá-lo para comprar muitas coisas, amor. Posso comprar um complexo de prédios, pagar viagens, frequentar os restaurantes mais badalados da zona nobre de Seul. Eu não preciso nem olhar o preço ou etiqueta das coisas que compro. Eu tenho tudo que quero, na hora que eu quero, só preciso passar meu cartão ou fazer uma ligação pra isso. Eu comprei uma cama só porque queria fazer uma surpresa pra você em um dos meus iates, eu aluguei o Cloud 9 por uma noite só pra gente e seus amigos porque eles te barraram uma vez na entrada. Posso pagar por muita futilidade, mas nem se tivesse todo dinheiro do mundo poderia comprar um amor como o nosso. Isso que a gente tem é o meu maior tesouro. Quantas vezes vou ter que repetir que se tivesse que escolher entre você e minha herança eu não pensaria duas vezes antes de escolher ficar com você?
Baekhyun questionou retoricamente.
— Você é minha fonte de inspiração. Sempre que penso em desistir, quando me sinto incapaz ou sob muita pressão, começo a pensar em você e digo pra mim mesmo: “O Sehun não desistiria”. Você é a pessoa que eu mais admiro no mundo e eu sinto tanto orgulho por ser seu noivo, jamais sentiria vergonha de estar com você. Não tenho dúvidas que você vai chegar muito longe e quando chegar no topo eu quero estar do seu lado, porque eu te amo. O que os outros pensam, o que a minha mãe pensa, o que eu vivi ou deixei de viver com meus antigos namorados, as nossas diferenças sejam elas físicas ou materiais, tudo isso não tem significância.
Os olhos de Sehun marejaram novamente. Ele finalmente encarou o namorado nos olhos.
— Eu te amo pra caralho, Baekhyun! Queria saber falar tão bonito quanto você. Eu amo e odeio o quanto você é malditamente perfeito e sabe exatamente o que dizer.
— A coisa mais linda que você poderia me dizer, você já disse, Sehun.
— E o que foi? — perguntou o fazendo sorrir largamente.
— Que você me ama pra caralho. Amo ouvir você dizer que me ama, é tudo que eu preciso no dia.
— Isso foi tãaaaaaaaao meloso, acho que vou vomitar um arco-íris.
Sehun brincou sentindo suas orelhas esquentarem.
— Estou tentando ser romântico aqui, não estraga meu momento.
— Tem uma diferença entre ser romântico e tentar matar o namorado com uma overdose de açúcar e mel. Os meus níveis de glicose triplicaram nos últimos minutos, Baekhyun.
— Eu tenho mais uma dose mortal de mel com açúcar pra você, posso falar?
— Vai em frente, eu aguento.
— Você disse que queria ter a chance de fazer algo comigo que ninguém mais fez, nós tivemos muitas primeiras vezes juntos, mas sabe qual vai ser a melhor coisa na qual você vai ser meu primeiro?
Sehun o encarou desconfiado.
— Posso pedir ajuda aos universitários?
Baekhyun negou com a cabeça.
— Então não sei, me fala.
— Você vai ser o primeiro a mudar o status de meu namorado para meu marido.
Sehun jogou a cabeça para trás como se fosse desmaiar.
— É muito açúcar, acho que não vou aguentar. O golpe foi muito, muito baixo.
Ele deitou as costas na cama e o mais velho aproveitou para inclinar-se sobre ele, entrelaçando suas mãos sobre sua cabeça.
— O que acha disso, futuro senhor Byun Oh Sehun?
Sehun lambeu o lábio inferior.
— Acho que vou gostar muito disso, senhor Oh Byun Baekhyun.
— Na nossa noite de núpcias você vai gemer meu nome assim? — questionou roucamente.
— Depende...
— Do quê?
— Do seu desempenho na cama.
Baekhyun sorriu presunçoso.
— Se depender disso, você vai ficar sem voz no outro dia — Baekhyun garantiu piscando um olho.
— Sempre se garantindo, mas não aguenta mais que três rodadas sem fazer uma longa pausa.
— Eu vou fazer trinta, você ainda tem vinte e dois — defendeu-se.
— Não vem pôr a culpa na idade, isso é o resultado do seu sedentarismo.
— Você que é insaciável. Posso ser safado, mas você não fica muito atrás.
— Você fala demais, Byun. Pra que esperar a noite de núpcias se você pode me fazer gemer agora mesmo?
— Você tem razão. Não vamos deixar nada estragar nossa felicidade, foda-se o que o Yunho veio fazer aqui — declarou recebendo um aceno positivo do mais novo.
— Nem sei como pedir desculpas por tudo isso, não devia ter saído daquele jeito.
Havia se arrependido pela forma como deixou a entrada da casa dando um gostinho de vitória para Yunho e Yerin.
— Você sempre pode me pedir desculpas usando sua boquinha p-
— Não estrague a declaração que você fez minutos atrás sendo um pervertido — Sehun o interrompeu imediatamente.
— Credo que absurdo! Eu ia dizer pra me beijar — defendeu-se, aproximando a boca a poucos centímetros da dele. — Então chegamos na parte da reconciliação? — Baekhyun sussurrou ao roçar levemente seus lábios, sem concretizar um beijo de fato.
— Agora sim.
— Então, me beije, por favor.
Ele não precisou pedir novamente para Sehun unir os lábios em um beijo afobado. Os dentes do Byun deslizaram por seu lábio inferior, em seguida foi distribuindo chupões por seu pescoço, arrancando-lhe suspiros. As mãos que estavam comportadamente entrelaçadas às suas foram descendo pelas laterais de seu corpo, o deixando ansioso para mais.
— A propósito... eu não disse onde queria ser beijado — o mais velho confidenciou entre o beijo.
— Eu devia saber que você mandaria uma dessas — Sehun resmungou entre um gemido manhoso.
— Você disse que quando a gente casasse sempre transaria depois de brigar, por que não começamos a treinar? — sugeriu rebolando no colo do mais novo, as mãos de Sehun viajaram para sua bunda farta.
— Foi a melhor ideia que você teve hoje.
— Hey! E o nosso piquenique na cachoeira?
— Sua segunda melhor ideia de hoje.
Ele deu um tapa estalado na bunda do mais velho, provocando um gemido em resposta.
— Você vai me pegar de jeito agora?
— Vou te fazer andar torto, By-porra! — o mais novo gemeu ao sentir a pressão da bunda do namorado contra seu membro semidesperto.
— Baekhyun, Sehun! O almoço está sendo servido!
Os dois resmungaram ao ouvirem a voz de Yerin através da porta.
— Venham almoçar! — ela gritou batendo na porta três vezes, além disso tentou girar a maçaneta. — Por que a porta está trancada?
— Já estamos indo, mãe!
Baekhyun gritou inclinando a cabeça para trás.
— Porque a gente queria transar — Sehun resmungou baixinho.
— Pelo visto nossa transa de reconciliação vai ter que esperar, baby.
Sehun suspirou irritado ao perder o peso do namorado sobre seu colo, Baekhyun levantou-se igualmente frustrado.
— Baekhyun, abre essa porta agora! — Yerin berrou girando a maçaneta como se mágicamente a porta fosse se abrir apenas por sua insistência.
— Que saco! A sua mãe vai berrar pra casa toda que a gente tá trancado no quarto? — Sehun esbravejou.
— Já estou indo, mãe. Pode ir na frente que a gente já te alcança.
— Eu espero aqui fora — ela respondeu. Sehun encarou o namorado seriamente.
— A sua mãe te contou se doeu muito?
— Doeu o quê?
— A noite que ela caiu da vassoura de bruxa dela.
Baekhyun não conseguiu segurar uma risada escandalosa.
— Você não disse isso. Não, não e não! Me recuso que meu namorado vire um genro revoltado de facebook.
— É isso que vou virar se ela não mudar.
Advertiu cruzando os braços. Caminharam na direção da porta, ambos frustrados por serem interrompidos na melhor parte de uma boa comunicação assertiva.
— Nós vamos resolver esse problema com a minha mãe do mesmo jeito que resolvemos tudo até agora — prometeu puxando o mais novo para mais perto, Baekhyun ergueu os pés para beijá-lo antes de saírem.
— Baekhyun!
Os dois fecharam os olhos ao ouvir o grito de Yerin. Estavam tão próximos, os lábios quase se tocaram.
— É muito errado eu querer empurrar sua mãe pela escada e dizer que foi um acidente?
Baekhyun deu um soco no ombro do mais novo.
— Não seja assim...
— Ela empatou nossa foda — disse fazendo um biquinho. O Byun deu um selinho estalado em seus lábios e aproximou a boca de sua orelha.
— Prometo que vou te recompensar de noite.
— Vai mesmo?
O mais novo ergueu uma sobrancelha duvidando.
— Nem guindaste me tira de cima de você essa noite, se prepara, porque o sedentário aqui vai te dar uma canseira.
{...}
Três anos atrás
Oficina Oh, 6 de janeiro de 2019.
Meosjin Jeonmang, Seul.
Oh Hyunjin conferiu se todas as portas da oficina estavam bem trancadas, apagou todas as luzes e voltou para sua aconchegante casa no andar de cima. Ao abrir a porta chamou a atenção do filho e de seu atual ficante. Hyunjin considerava Baekhyun como genro mesmo que Sehun dissesse que ainda estavam se conhecendo.
A sala da casa era modesta, porém acolhedora e bem arrumada. Era ocupada por um sofá na cor mostarda com três assentos largos, uma poltrona preta de couro reclinável e uma rack marrom com painel para comportar a televisão de 42 polegadas.
A luz estava apagada, a única iluminação provinha das imagens passando na televisão. Sehun encontrava-se deitado no sofá com as pernas abertas para acomodar o namorado entre elas. As costas de Baekhyun pousavam em seu peitoral e sua cabeça descansava em seu ombro.
Baekhyun enrijeceu ao notar a presença repentina de Hyunjin. O mais velho deixou os sapatos na entrada e atravessou a frente da televisão bloqueando brevemente a visão dos dois.
— O que estão vendo? — perguntou curioso.
— Ninja Assassino com o Rain. Quer ver com a gente? — Sehun perguntou fazendo o mais velho encarar Baekhyun.
— Posso ficar se o seu namorado não se mijar nas calças com a minha presença.
O pai do garoto brincou tentando descontrair o clima. Baekhyun tossiu engasgado com a própria saliva e se encolheu nos braços do mais novo.
— Pai! Você está deixando-o com vergonha.
Sehun comentou igualmente debochado.
— Os dois não tiveram vergonha na hora de aprontar na minha oficina.
Baekhyun acabou o olhando de relance, ainda extremamente envergonhado.
— Senhor Oh, eu peço mil perdões por aquilo. Eu nem sei como me redimir, não é o tipo de visão que gostaria de passar.
O mais velho gargalhou inclinando a cabeça para trás. O rosto do Byun estava pálido e as orelhas absurdamente vermelhas.
— Relaxa, rapaz! Eu não faço o tipo rancoroso, também já tive a idade de vocês, sei como são os hormônios. O Sehun já cumpriu o castigo dele lavando a oficina todinha e ele vai continuar fazendo a faxina sozinho por um bom tempo.
Baekhyun assentiu aliviado, mas ainda sentia vergonha. Como não sentiria? O mais velho flagrou ambos em um momento extremamente comprometedor e nada decente.
— Se vamos ver esse filme, vou fazer pipoca. Não precisa ficar com medo de mim, não vou te condenar por seduzir meu filho ou coisa do tipo, Baekhyun.
Hyunjin piscou para o ficante do filho antes de deixá-los sozinhos.
A cozinha dos Oh era pequena, possuía alguns armários de madeira com as pontas gastas, um fogão de quatro bocas onde somente três funcionavam, uma geladeira com as laterais enferrujadas e uma mesa com quatro lugares. Um muro baixo separava a cozinha da sala, então era possível ver o pai do mecânico mais novo mexendo em algumas panelas. Sehun riu da expressão de desespero do namorado.
— Eu disse que meu pai era de boa, fica tranquilo.
Ele beijou a nuca do mais velho fazendo um som estalado ecoar em seu ouvido.
— Não diminuí minha vergonha. Eu poderia viver séculos sem olhar na cara do seu pai depois do que ele viu. — Rebateu puxando uma manta para cobrir seus corpos e fazê-lo se sentir menos transparente.
— Ele nem lembra mais disso, a memória do meu velho não é tão boa assim. A última coisa que ele vai querer lembrar é da sua cara enfiada na minha bunda-
— Não me lembra disso! A minha memória é ótima e eu me lembro muito bem dele acendendo a luz e perguntando que a porra a gente estava fazendo.
— Você precisa admitir que foi engraçado.
— Você quis dizer constrangedor. Ele não ficou chateado mesmo? — Questionou baixinho com medo do pai de Sehun ouvir.
— Sexo nunca foi um tabu entre a gente, costumamos dialogar bastante e temos um acordo de confiança. É claro que ele ficou puto por termos aprontado na oficina, afinal tem lugares mais certos para esses momentos íntimos, ele deixou isso bem claro quando conversou comigo outra noite. Mas ele também disse que não ficou bravo com a gente, sabe?
Baekhyun assentiu compreensivo.
— O seu pai é muito legal.
— Ele é o melhor pai do mundo — Sehun disse orgulhoso.
Baekhyun sorriu ao ver o pai do garoto voltar com dois baldes de pipoca. Hyunjin entregou um para o casal e sentou-se em sua poltrona reclinável com o outro pote sobre o colo.
Durante o desenrolar do filme Baekhyun nem lembrava mais por que estava com vergonha. Era tão diferente estar na presença de Sehun e Hyunjin, ele não lembrava a última vez que viu um filme em família. O sofá mesmo não sendo enorme como o de sua casa, de certa forma, parecia mil vezes mais confortável. Assim como todo ambiente. Quando o filme terminou os olhos do Byun estavam quase se fechando sozinhos, parecia um sacrifício mantê-los abertos.
— Eu acho que está na hora de ir embora — Baekhyun comentou sonolento
— É perigoso sair uma hora dessas sozinho — Hyunjin disse preocupado. — É melhor você dormir aqui hoje.
— Eu não quero incomodar, Hyunjin.
— Bobagem! Você pode dormir com o Sehun, dormir no quarto dele no caso — advertiu sério.
— Se eu pegar vocês dois na oficina de novo pode se despedir das suas bolas, Oh Sehun, está me ouvindo?
O mais velho informou ao filho com tom ameaçador o fazendo erguer as mãos em sinal de rendição.
— Eu juro que vamos nos comportar, a oficina é área proibida.
— É bom mesmo, não se esqueçam que esse… — ele tateou duas vezes a pele embaixo do olho direito. — É irmão desse, seus pervertidos.
Apontou para o olho esquerdo repetindo o mesmo gesto.
— Boa noite, rapazes.
Hyunjin depositou um beijo na testa do filho antes de se retirar. O ato deixou Baekhyun totalmente surpreso. Por mais mimado que fosse nunca recebeu beijos de boa noite na testa depois de grande, a última vez que ganhou um devia ter uns dez ou onze anos, talvez até menos.
— Não está um pouco grandinho pra essas coisas? — Perguntou risonho. Sehun mordeu o lábio inferior sentindo as bochechas queimarem.
— Nenhum pouco. Nunca se é tarde demais para recuperar o tempo perdido.
Sehun respondeu com a mesma frase que Hyunjin usou quando comentou que nunca havia recebido um beijo de boa noite e estava velho demais para receber. De certa forma o Byun entendeu o que ele quis dizer, às vezes ele esquecia que a infância de Sehun foi totalmente diferente da dele.
{...}
Desde que se conheceram Baekhyun ainda não havia entrado no quarto do mais novo. Aquela seria a primeira vez, e ele estava entusiasmado para saber o que encontraria.
Sehun ficou um pouco receoso antes de abrir a porta, permitindo que entrasse em seu pequeno mundo particular.
Era realmente pequeno, não havia muito espaço livre. O cômodo se resumia em um guarda-roupa com três portas, uma penteadeira com espelho oval, uma cama de solteiro um pouco maior que o habitual, uma escrivaninha antiga com algumas gavetas e uma cadeira de madeira simples.
Haviam livros do ensino médio espalhados pela escrivaninha e diversos manuais sobre carros esportivos. Na parede em que ficava encostada, havia um varal de polaroides com fotos de Sehun entre os mecânicos, com Jongin e principalmente com Hyunjin. Dentre todas as fotos houve uma que chamou mais a atenção do Byun.
Nela Sehun aparentava ser extremamente magro. Seus lábios estavam rachados e ele tinha olheiras profundas. Atrás dele estava Hyunjin, o homem vestia um terno marrom de segunda mão e sorria como se tivesse acabado de realizar um sonho.
— Quando foi isso?
Os lábios do mais novo curvaram-se em um sorriso singelo.
— Foi o dia em que o Hyunjin conseguiu minha guarda provisória. Isso foi bem antes dele entrar com processo de adoção e conseguir ficar com minha custódia definitiva.
— Você era tão magrinho.
— Você fala isso porque não me viu antes dessa foto, estava bem pior. Lembra que eu te contei que estava em situação de rua quando o Hyunjin me acolheu?
Baekhyun assentiu lembrando-se de um dos encontros onde o mais novo se abriu sobre a história de sua adoção.
— Eu me lembro, não deve ter sido nada fácil.
— Não foi, mas eu já enfrentei lutas piores que a rua.
Ele continuou analisando o quarto percebendo que o edredom sobre sua cama possuía os símbolos das quatro casas de Hogwarts do universo mágico do Harry Potter. Baekhyun também reparou que ele tinha todos os livros da saga distribuídos em quatro nichos embutidos na parede, assim como alguns pôsteres dos filmes, bonecos em miniatura e um calendário com a imagem do expresso de Hogwarts. Na folha constava uma sequência de “X” marcados com uma caneta vermelha, talvez fosse algo significativo.
— Devo presumir que você é fã de Harry Potter?
— Sou um grande fã da obra. Fiquei menos interessante por isso? — perguntou hesitante.
— Pelo contrário, ficou ainda mais interessante.
Sehun fingiu suspirar aliviado ao sentar-se na beirada da cama.
— Você também gosta?
— Eu nunca li os livros, mas eu sou apaixonado pelos filmes.
Sehun abriu a boca incrédulo.
— Pelo menos você gosta dos filmes. Não é um caso totalmente perdido.
Baekhyun olhou o calendário intrigado.
— O que o “X” representa? São vários.
Apontou para o calendário ao questionar.
— Eu sempre quis conhecer o parque temático em Orlando, aquele que tem o expresso para Hogwarts. Eu e o Jongin fechamos um pacote para conhecermos o parque juntos. Todo mês vamos pagar uma parcela e em junho de 2022 vamos fazer nossa viagem. O “X” marca os dias que estão passando.
Baekhyun sequer conseguia imaginar como deveria ser ter que ficar juntando por tanto tempo para fazer uma viagem que para ele era muito fácil.
— É tipo um sonho?
— Um dos meus maiores sonhos. Pode parecer meio bobo, mas eu me apaixonei pelo universo desde que vi um dos filmes. Eu gostava de imaginar como seria minha vida se eu tivesse poderes como o Harry, sabe? Ele era um garoto órfão, amaldiçoado e desprezado pelos únicos familiares que tinha e isso não o impediu de se tornar um dos maiores bruxos do mundo da magia.
O personagem do livro se tornou um refúgio para o mais novo, ele o enxergava como um herói e adoraria viver ao menos um dia no mundo mágico dele. O parque temático em Orlando poderia possibilitar uma experiência única que Sehun cobiçava ter um dia.
— Será que tem vaga para mais um nessa viagem?
O mais novo o olhou surpreso, pois raramente falavam sobre algo no futuro e aquela viagem não aconteceria tão cedo.
— Seria incrível se você também fosse, é claro que teria mais uma vaga.
Baekhyun sorriu desejando poder levar Sehun para o parque, pretendia fazer uma surpresa futuramente quando ele soubesse quem ele realmente era. Naquela época não imaginava que seu ficante era um homem tão orgulhoso.
— Vai ser mágico fazer essa viagem com você, também vou começar a me preparar — ele comentou se sentindo um pouco mal pela mentira.
— Lá tem cerveja amanteigada, será que é tão gostoso quanto parece nos filmes?
Baekhyun mordeu o lábio inferior, não queria dizer que sim. Era uma delícia e ele já tinha tomado várias vezes, não poderia contar.
— Podemos descobrir juntos.
— Seria demais, eu quero tanto ir no “três vassouras”. Nós temos que comprar varinhas no “Olivaras”, comer aqueles sapos de chocolate, passear pelo castelo de Hogwarts e andar pelo beco diagonal. Nossa! Tem tantas coisas que eu quero fazer lá — Sehun falava empolgadamente o fazendo imaginar cada cena.
— Vai ser uma viagem incrível.
{...}
Dias atuais...
Propriedade privada, 16 de julho de 2021.
Ilha Solar, Incheon
Uma mesa extensa foi organizada pela equipe de buffet na área da piscina e o almoço foi servido às 13h30 em ponto. O tilintar de pratos e copos ecoou pelo espaço conforme os Byun e seus convidados eram servidos pela equipe de garçons.
Entre uma taça e outra de vinho, não demorou muito para surgirem conversas paralelas e risadas escandalosas. Sehun não pode deixar de reparar nos irmãos Choi, os dois pareciam muito entrosados com a família Byun. Eles falavam animadamente sobre negócios e eventos que ele nunca tinha ouvido falar na vida.
Doía ver como Yunho se encaixava perfeitamente naquele quadro enquanto ele parecia uma sujeirinha na tela. O rapaz estava a menos de três horas na ilha e já tinha conquistado todo mundo. Parecia que o Choi ainda era o namorado do herdeiro dos Byun e a existência de Sehun não fazia sentido ali.
Sehun brincava desanimado com o fricassê de frango no prato. Saber que aquilo só estava sendo servido porque Yunho gostava o deixava sem apetite.
As primas do namorado sentaram-se próximas de Yunho e Mingi, elas admiravam os dois como se fossem deuses.
— O seu kkotgetang está uma delícia, sogrinha.
Sehun mastigou uma garfada de fricassê, irritado. Não podia acreditar que o outro chamou Yerin de sogrinha na frente de toda família Byun. Daehyun e Dongwan se entreolharam parecendo igualmente incomodados com a ousadia do rapaz.
— Que bom que você gostou, meu filho. Fazia muito tempo que não preparava esse prato, estava preocupada em errar algo.
— A sua comida é divina, sogrinha.
Yunho limpou a boca com um guardanapo.
— Eu gostaria de pedir um momento de atenção a todos — ele solicitou educadamente levantando-se da cadeira. — Eu e meu irmão ficamos muito gratos por sermos convidados para mais um baile da família, é uma honra estar novamente com todos vocês.
Sorrisos espalharam-se pela mesa diante de sua declaração.
— E nós nos sentimos honrados por vocês aceitarem o convite, sentimos muita falta de vocês em nossas reuniões — Yoona respondeu o fazendo assentir agradecido.
— Como agradecimento eu gostaria de presentear a Yerin com uma joia a altura dela.
Yunho acenou para um dos garçons, ele trouxe uma caixa de veludo preta quadrada que cativou a atenção de todos
— Essa joia foi feita especialmente para você, é uma peça única.
O garçom abriu a caixa revelando um colar de brilhantes deslumbrante com um par de brincos e uma gargantilha.
— São para usar no baile, Yerin.
Yerin colocou a mão na boca surpresa. Ela tocou a joia impressionada com o trabalho do designer da peça que com certeza usaria no baile.
— Eu nem sei como te agradecer, meu querido. É uma das joias mais lindas que já ganhei.
Sehun apertou o garfo com força, se fosse de madeira já teria quebrado em pedaços. Ele jamais poderia dar um presente como aquele para a sogra, sequer pensou em comprar algo para presenteá-la. O Choi estava jogando muito sujo, aquilo não era justo.
— Nossa! Que lindo!
As mulheres da família se reuniram em volta de Yerin admirando o conjunto que ela ganhou. Baekhyun piscou os olhos, incrédulo. Ele não estava esperando uma atitude como aquela do ex-namorado, não estava entendendo onde Yunho pretendia chegar com tudo aquilo.
— Yunho, você tem um bom gosto incrível — Yoona comentou, provocando um sorriso nele.
— Eu não esqueci de você, Yoona. A Karina me disse que estaria aqui então vai encontrar um presente especial no seu quarto também.
Ela abriu os lábios cética.
— É sério?
— Você já me viu brincar, Yoona?
Ela negou com a cabeça.
— E eu? Também quero presente — a irmã mais nova resmungou fazendo um bico.
— Pra você também, Sunny. Eu lembrei das duas, vocês são minhas primas de coração preferidas.
— Baekhyun, como você deixou esse homem escapar?
Sunny gritou escandalosa sendo ignorada pelo primo. Sehun encarou o prato envergonhado. Aquilo estava ficando cada vez mais humilhante, ele sentia como se fosse um intruso.
“Ele um intruso?”
O mais novo ergueu a cabeça e encarou Sunny com um olhar mortal e sorriso atrevido nos lábios. Ele não era o intruso e não devia se sentir daquela forma, o único intruso era Choi Yunho.
Sehun se sentiu insuficiente por muito tempo, porém Oh Hyunjin e Byun Baekhyun viram algo especial nele quando nem mesmo ele podia enxergar. Se permitisse que os familiares do namorado destruíssem toda confiança que demorou anos para construir, estaria decepcionando não somente o pai e o namorado, mas principalmente a si mesmo.
Não podia se trair mais uma vez, ninguém tinha o direito de rotular o quanto ele valia, eles teriam que engoli-lo.
Baekhyun surpreende-se ao sentir o braço do namorado no encosto de sua cadeira. Sehun apoiou o braço nela e olhou o namorado com uma expressão pidona
— Amor, o seu samgyeopal está muito apimentado? — perguntou recebendo um sinal negativo em resposta.
— Não está tão apimentado, acho que você vai gostar. Quer provar?
Sehun assentiu abrindo a boca demonstrando que queria ser alimentado por ele. Baekhyun sorriu bobo ao levar um pedaço até sua boca.
— Então? Está gostoso, baby?
Sehun confirmou com a cabeça.
— Está uma delícia. Só não está mais gostoso que o daquele restaurante que seu pai levou a gente uma vez.
Sehun olhou para Daehyun.
— Qual o nome daquele restaurante na beira da praia, sogrão?
Daehyun sorriu para o genro.
— Jeongdanghan Chwihyang, aquele lugar é ótimo. Vamos marcar um dia de ir de novo com o seu pai e aquele seu amigo Jongin e a namorada dele.
— Quando vocês forem eu e o Junmyeon também queremos ser convidados. — Dongwan pediu recebendo um sorriso largo do mais novo.
— Claro! Depois podemos beber umas cervejas naquela barraquinha perto da praia — Sehun expressou animadamente.
— Da última vez tivemos que carregar o papai — Baekhyun contou para o tio segurando-se para não gargalhar.
— O Daehyun sempre foi fraco pra bebida, aposto que ele tomou dois copos.
— Que nada, tio! Ele quis acompanhar o pai do Sehun, mas não tinha a mesma resistência. Na terceira garrafa de Soju o papai já estava falando enrolado.
— Eu não sabia que você fazia esse tipo de coisa, tio Daehyun — Yoona comentou descrente. Yerin ficou irritada com o marido, ele estava atrapalhando os planos dela.
— Que tipo de coisa? Se divertir? — Sehun perguntou erguendo uma sobrancelha. — O meu sogrão sabe se divertir, ele leva a gente aos melhores lugares.
— Só falta o seu pai aceitar ir pescar comigo — Daehyun brincou o fazendo rir.
— Já disse que vai ser difícil fazer ele sair de terra firme, meu pai só pesca se for em um pesque-pague.
— Tá aí um lugar que a gente ainda não foi, vamos num pesque-pague, Hunnie? — Baekhyun pediu manhoso.
— O Jongin ama ir nesses lugares, ele conhece um bem legal, podemos ir um dia.
— Vamos fazer um passeio de casais. Você chama o Jongin e a Jisoo e eu convido o Minseok e o Jongdae.
— Eu inspirei a ideia e vocês vão me excluir assim?
Daehyun questionou, fingindo estar magoado. Sehun levantou e abraçou o sogro por trás.
— Ainda não sabemos a data, mas você é nosso convidado de honra para um dia de pesca no pesque-pague, sogrão.
— Eu também quero ir, amo pescar — Junmyeon pediu também.
— Você e sua namorada também estão convidados, Myeon — Baekhyun falou para o primo enquanto Sehun voltava para seu lugar.
— Vocês são tão bregas, o tio Dongwan tem um estaleiro e vocês querem ir pescar num pesque-pague? Coisa de gente pobre e cafona — Sunny reclamou causando algumas risadas na mesa.
— Alguém já te disse que você fica mais bonita quando não está falando merda? — Sehun perguntou fazendo o namorado cobrir a boca para não rir. — Os seus pais devem ter gastado muito dinheiro na sua educação escolar, não desperdice o investimento deles fazendo comentários tão ignorantes e arrogantes.
— Ela só estava brincando — Minnie defendeu a sobrinha.
— Quando a brincadeira ofende alguém deixa de ser uma brincadeira. Ao invés de defender sua sobrinha, a senhora deveria educá-la com os princípios básicos de valores e respeito.
— Sehun está certo. A Sunny e a Yoona estão precisando de algumas lições de valores, acho que os pais delas estão deixando as duas muito jogadas no mundo — Dongwan falou concordando com Sehun e seu argumento.
— Por favor, titio. Nossos pais cuidam muito bem da nossa educação, foi só uma brincadeira — Yoona também intercedeu pela irmã.
— Será que podemos almoçar em paz? Vocês não vão começar tudo isso de novo? — Yerin perguntou nervosa.
— Por mim podemos voltar a almoçar em paz, tia. Yunho, por que você não fala mais sobre o designer do conjunto de joias que criou especialmente para minha tia?
Sehun revirou os olhos voltando sua atenção para comida no prato. Ele sequer percebeu o olhar de Mingi sobre si, o rapaz o encarava fascinado.
— Baekhyun, depois do almoço quero que me acompanhe até o salão de baile — Yerin informou o filho.
— Por quê? — perguntou franzindo o cenho.
— Quero que me ajude com os preparativos da apresentação. Se vai usar o palco precisa ver como vai querer o planejamento com o pessoal da decoração.
Ele assentiu concordando com a mãe, queria que tudo ficasse perfeito para o pedido de casamento.
— Você vai ficar bem sozinho? — ele perguntou baixinho para Sehun.
— Eu vou tomar um sol lá na praia, quando você terminar pode ir ficar comigo. É só procurar minha moto que vai saber onde me encontrar.
Depois do almoço Baekhyun acompanhou a mãe até o salão de festa da mansão. Por outro lado, Sehun organizou tudo que precisava em uma mochila e saiu de moto.
{...}
Três anos atrás
Oficina Oh, 25 de agosto de 2018.
Meosjin Jeonmang, Seul.
Às 15h00 em ponto Baekhyun chegou na oficina Oh, estava ansioso para testar o Land Rover com o filho do dono. Sehun o deixou no portão de casa na noite passada depois de tomarem sorvete juntos na praça. O mais novo pareceu muito impressionado com o tamanho da mansão dos Byun, ficou preocupado por ter atrasado a entrega do carro, porém Baekhyun o acalmou.
— Posso ajudar com algo? — Kim Jongin perguntou ao se aproximar, Baekhyun reconheceu que ele era o mecânico amigo de Sehun.
— Eu estou esperando o Sehun, ele vai testar o carro comigo.
O rapaz não conseguiu disfarçar uma risadinha.
— Algum problema?
— Nenhum, é só que agora eu entendi porque o Sehun tá meia hora tomando banho.
As bochechas de Baekhyun esquentaram diante de seu comentário.
— Ele está tomando banho?
— Tá sim! Daqui a pouco ele desce, eu vou lá dizer que você chegou.
O rapaz disse amigavelmente antes de deixá-lo sozinho. Baekhyun sentia-se um pouco acanhado sem saber onde ficar, então acabou encarando um mural repleto de fotografias pregadas com alfinetes coloridos.
Elas estampam grupos de mecânicos que trabalharam na oficina em cada ano desde sua inauguração. Alguns rostos eram familiares, Baekhyun os viu perambulando pelo espaço. Nas imagens eles pareciam mais do que colegas de trabalho, pareciam uma família. Registravam os churrascos que faziam juntos, os jogos que assistiam comendo frango e tomando cerveja, as tardes que jogavam em um campo ou na praia.
Ele foi distribuindo sua atenção pelas fotos até ser cativado pela foto de uma mulher muito bonita. Ela trajava um vestido florido e sua barriga elevada evidenciava que estava grávida. Hyunjin estava atrás dela abraçando a moça com as mãos posicionadas em sua barriga. Baekhyun sorriu imaginando que Sehun devia estar acomodado na barriga dela, provavelmente era a esposa de Hyunjin.
Em outra foto a moça estava dando banho em um bebê. Na próxima imagem o bebê já devia estar com uns dois anos, ele vestia um pijama amarelo e a moça sorria amplamente para quem estava registrando o momento.
Ele tocou uma foto onde estava a moça, Hyunjin e um menino com uniforme escolar. Baekhyun estranhou o olhar do menino, não parecia muito com o de Sehun.
Perguntou-se onde estava a mãe de Sehun. Olhando bem o mural, percebeu que não haviam fotos recentes dela. A moça bonita não estava presente nas fotos em que Sehun estava maior.
— Gostou das fotos, rapaz?
Ele pulou assustado ao ouvir a voz de Hyunjin.
— Desculpa, eu não quis te assustar — o mais velho expressou risonho.
— A culpa foi minha, não devia estar tão distraído. Fiquei encantado com suas fotos, você tem uma família muito linda, senhor Oh.
Hyunjin reparou que ele estava prestando atenção na foto de seu filho com uniforme escolar.
— Quantos anos o Sehun tinha quando tirou essa foto? Ele está tão diferente — perguntou curioso fazendo os lábios de Hyunjin curvarem-se em um sorriso carregado de melancolia.
— Bom, está diferente porque o Sehun não é o garotinho da foto.
Os lábios de Baekhyun se separaram em surpresa.
— Então quem é na foto?
— A minha esposa Nari e o meu filho Jae, eu perdi os dois em um acidente de carro.
— Eu sinto muito, não queria ser inconveniente — Baekhyun curvou-se respeitosamente.
— Não foi inconveniente, eu amo falar sobre os dois. Essa foto foi tirada no primeiro dia de aula do Jae, eu me lembro como se fosse ontem.
— Eu perdi o meu avô preferido quando era muito novo e o meu pai sempre dizia para me apegar às boas lembranças.
— O seu pai parece ser um homem que dá bons conselhos. Eu gosto de pensar que a Nari e o Jae estão no céu olhando por mim e pelo Sehun.
Baekhyun sorriu para o mais velho, era um pensamento bonito.
— Você não tem fotos do Sehun na infância? — questionou ao notar que só tinham fotos de infância de Jae.
— Eu não tive a oportunidade de acompanhar o crescimento do Sehun, só me tornei pai dele quando ele já tinha uns quinze anos. Não faz muito tempo que adotei o Sehun, mas sinto como se tivesse sido o pai dele a vida inteira.
Baekhyun o olhou surpreso. Ele pensava que Hyunjin era pai biológico do mais novo, não imaginou que Sehun tinha sido adotado. De repente fazia mais sentido o que mecânico quis dizer na noite passada quando mencionou que estava sempre se mudando e que nunca tinha tido a chance de ir em playgrounds de shopping ou de mercados grandes.
— O Sehun te olha com muita admiração, você deve ser um pai incrível pra ele.
— Isso é a melhor coisa que poderia ouvir.
Hyunjin o encarou um pouco mais sério.
— Então... você está interessado no meu filho?
Baekhyun foi pego de surpresa pela pergunta.
— Eu vou apanhar se falar que sim?
Hyunjin riu cruzando os braços na frente do peitoral.
— Depende… quais são suas intenções com meu filho?
— As melhores possíveis, senhor Oh.
Ele se sentiu um pouco culpado, afinal não conseguia parar de fantasiar com o filho do dono da oficina gemendo em sua cama. O que podia fazer? O rapaz era uma tentação, as pernas compridas, a cintura fina, a boquinha rosa e a bunda… Porra! Aquela bunda toda perfeitinha, faria um estrago nela se tivesse a chance.
— Ótimo, porque você é o primeiro pretendente do Sehun que tem minha aprovação. Vou ficar tranquilo sabendo que meu filho vai estar com você.
— Obrigado pela confiança, eu prometo que vou cuidar muito bem do seu filho.
Baekyun se sentiu um pouco estranho, nunca tinha conversado com o pai de alguém com quem pretendia sair antes mesmo de levar a pessoa em alguns encontros. No entanto, era a primeira vez que se interessava por um rapaz mais novo que ele. Costumava sair com pessoas uns quatro anos mais velhas ou dois anos mais novas que ele. Era incrível pensar como Sehun, tendo dezenove anos, parecia muito mais maduro que a maioria de seus antigos namorados.
Baekhyun não pensou que talvez a vida tenha feito Sehun amadurecer cedo demais. Ele conheceu a maldade do mundo muito novo e precisou assumir responsabilidades desde pequeno para sobreviver.
{...}
Dias atuais…
Oficina Oh, 16 de julho de 2021.
Meosjin Jeonmang, Seul.
Oh Hyunjin parecia inquieto, o mesmo andava de um lado para o outro deixando Jongin e os outros funcionários preocupados
— O que está te incomodando?
Changmin, um dos mecânicos mais próximos de Hyunjin, perguntou apreensivo.
— Estou preocupado com o Sehun. Ontem eu senti uma sensação muito ruim antes de dormir — explicou colocando a mão no peito.
— Você só está com saudades dele, vocês nunca ficaram tantos dias um longe do outro — Changmin sugeriu.
— Não sei… eu devia ter ido com ele. Terça-feira eles vão anunciar o noivado pra família do Baekhyun e eu fico preocupado com a reação da mãe dele — o mais velho disse desanimado. — O Sehun diz que está tudo sob controle, mas eu acho muito estranho o jeito que ele fica toda vez que eu pergunto porque a mãe do namorado não vem jantar com a gente. O pai do Baekhyun nunca leva a esposa nos nossos encontros e todos ficam estranhos e desviam de assunto quando eu pergunto sobre ela.
— É como dizem, se sogra fosse boa a gente não tinha só uma, né? O Sehun não é o primeiro homem a sofrer com o mal das sogras. Ele vai ficar bem nessa viagem, não fica pensando nisso.
Um dos mecânicos brincou fazendo os outros rirem.
— Nem me fala, a minha sogra usou preto no dia do meu casamento com a filha dela, mas quando a gente teve gêmeos a mulher mudou da água para o vinho, só faltava me abraçar e agradecer.
Youngnam contou, conseguindo arrancar um riso do dono da oficina.
— Vocês têm razão, eu devo estar me preocupando à toa.
{...}
Dias atuais...
Propriedade privada, 16 de julho de 2021.
Ilha Solar, Incheon
O sol não estava tão forte quanto de manhã, algumas nuvens cobriam seus raios e um vento fraco causava pequenas ondulações no oceano.
O clima na orla da praia estava muito agradável para Sehun. Ele esticou uma toalha na areia da praia a alguns centímetros de distância de onde as ondas alcançavam, deixando marcas de curvas na areia.
Gostava de apreciar as ondas indo e voltando, e o som tranquilizante do agito do mar. Sehun fechou os olhos respirando profundamente o ar puro da ilha enquanto tentava reorganizar seus pensamentos bagunçados pela chegada de Yunho.
A vida havia mudado tanto nos últimos anos, jamais pensou que um dia estaria em um lugar como aquele ou namorando alguém como Baekhyun. E com alguém como Baekhyun, Sehun não estava pensando na riqueza dele, mas sim na forma como o mais velho o tratou desde que se conheceram.
{...}
Três anos atrás…
Parque Yeouido Hangang, 20 de setembro de 2018.
Yeoeuido-dong, Seul.
O rio Han cruzava a capital do país criando uma exuberante paisagem urbana. A captura de sua beleza estampava alguns dos mais famosos cartões postais da Coreia do Sul.
Ao longo da trajetória do rio situavam-se diversas atrações, o parque Yeouido Hangang com certeza estava no topo da lista de locais para se visitar em Seul. Após atravessarem a ponte de Mapo, os moradores e turistas em Yeouido-dong podiam desfrutar do ambiente acolhedor e agradável.
Todo turista queria uma foto no famoso letreiro “I Seoul U”, pessoas de todas as partes do mundo podiam ser vistas diariamente pousando na frente dele. O esplendor das cerejeiras também fascinava os visitantes. As árvores tornavam-se mais um cenário para fotos postadas em redes sociais e na primavera atraía um grande público no festival de flores anual.
Sehun e Baekhyun passaram quase despercebidos entre o coquetel de turistas caminhando ao longo da ponte Mapo. Os dedos de ambos se tocavam timidamente como um convite para se entrelaçar, mas nenhum dos dois tomava a atitude para concretizar o ato. Não é como se ainda não tivessem trocado alguns beijos ou toques um pouco mais íntimos, eles só sentiam que andar de mãos dadas tornava aquele lance em algo mais... éeee… sério.
Eles se entreolharam de relance, ambos pensando o que aconteceria se andassem de mãos dadas como se fossem um casal. A ideia de serem um casal trazia uma sensação muito parecida com aquele friozinho na barriga quando o carro subia um morro alto e depois descia com tudo. O morro que estavam subindo não tinha visão para o outro lado e ambos tinham medo do que aconteceria caso acelerassem demais. E se ao invés de uma descida tivesse uma vala gigantesca? Eles não queriam afogar o motor.
Quando Sehun aceitou um primeiro encontro o Byun esperava que tudo fluísse com mais facilidade, ele estava soltando-se aos poucos, mas se esquivava toda vez que começavam a chegar nos finalmentes.
Na oficina ele parecia decidido, centrado e muito atraente, porém fora dela o mais novo parecia um pouco inseguro e principalmente desconfiado.
Nas laterais do caminho em linha reta haviam enormes cerejeiras repletas de folhas amareladas, as folhas caiam no caminho tornando quase impossível ver o chão. O sol já havia descansado e a lua roubou seu lugar no céu escuro. Aquela noite não estava estrelada, as luzes do parque iluminavam ao invés das estrelas.
Podia se dizer que aquela era uma noite bonita. Haviam carrinhos de comida nos cantos da trilha, todos com luzes de led chamativas e quadros verdes com especificações de cardápio e valores.
Na primavera as flores das cerejeiras floresciam ostentando uma beleza exuberante em cada pétala cor-de-rosa com brilho primaveril. Sehun pensou que seria romântico caminhar com Baekhyun naquela mesma trilha em outra estação do ano, logo em seguida assustou-se com o próprio pensamento. Ainda faltavam seis meses para as flores voltarem a florescer, faltavam duas estações para as cerejeiras renovarem suas flores cor-de-rosa, abrindo portas para o festival. Ou seja, a primavera seria somente no próximo ano, ainda estariam juntos? Ele queria que eles estivessem juntos?
A resposta era um “sim” bem grande, isso o apavorava. E se Baekhyun não pensasse da mesma forma? E se ele só estivesse querendo transar e quando conseguisse sumisse como os outros? O mais novo tentou evitar esses pensamentos ao avistar um carrinho de cachorro-quente parado no início da trilha. A placa prometia o melhor cachorro-quente de Yeouido e ele sabia por experiência própria que realmente era o melhor de todos.
— Você gosta? — perguntou apontando para a placa, Baekhyun demorou alguns instantes para processar.
— De cachorro-quente? — questionou recebendo um aceno positivo do mais novo.
— Eu gosto — respondeu hesitante.
— Vamos comer então!
As bochechas de Baekhyun ficaram rubras ao sentir a mão do mais novo envolver a dele para puxá-lo na direção do carinho. Eles finalmente estavam de mãos dadas, o próprio Sehun corou ao perceber. Particularmente não queria soltar a mão do outro.
— Eu amo o cachorro quente daqui! Você vai amar também.
O mais novo soltou sua mão ao pararem na frente de uma barraquinha pequena com vidros transparentes. Baekhyun olhou a placa na frente desconfiado. Um cachorro-quente de 1.045 Won não parecia confiável. Ele observou um senhor de cabelos grisalhos, vestido com um avental branco, sorrir na direção do mecânico.
— Sehun, você está bem? — o senhor perguntou, ele parecia preocupado com o mais novo.
— Eu estou bem e o senhor?
— Estou ótimo! Virei vovó, a minha netinha finalmente nasceu.
Sehun se curvou o parabenizando.
— Eu fico muito feliz, a oficina está um pouco movimentada nos últimos dias, mas meu pai com certeza vai visitá-los assim que eu contar a novidade.
— Eu pensei que você estava bravo comigo, porque nunca mais veio aqui — o senhor confessou recebendo um aceno negativo do rapaz.
— Você só fez o que achou certo. Eu não fiquei bravo, na verdade ainda estou envergonhado pelo o que aconteceu.
O senhor percebeu que Sehun estava acompanhado e imaginou que ele não queria que o rapaz soubesse o que havia acontecido. Sehun havia discutido com um namorado no parque, o rapaz avançou em Sehun e eles acabaram rolando no chão no meio de uma briga.
— Águas passadas, menino. O que vai querer hoje, o mesmo de sempre? — Sehun assentiu animadamente.
— Isso mesmo! Pode caprichar na maionese, quero o dobro daquela sua maionese verde especial.
Sehun virou-se para o loiro.
— O que você prefere, Baekhyun?
O rapaz olhou novamente as opções ficando perdido, ele nunca tinha pedido um cachorro-quente daquele jeito.
— O que são essas coisas?
Ele apontou para as cubas metálicas com recheios que estavam dentro do carrinho.
— Eu coloco a salsicha e você escolhe os adicionais que quer no seu pão — o senhor explicou como se fosse óbvio.
— Adicionais?
— Sim! Por exemplo, o Sehun aqui gosta de muita maionese, duas salsichas, milho, ketchup, batata palha, molho especial do chefe e cheddar.
Baekhyun arregalou os olhos imaginando uma bomba dentro de um pão, nunca tinha comido um lanche com tanta mistura estava acostumado com cachorro-quente gourmet.
— Acho que vou querer o mesmo que ele só que sem maionese e com uma só salsicha. No meu pode pôr um pouquinho de pimenta.
O senhor preparou os lanches e Sehun pagou por ambos, pois era a vez dele bancar o encontro. Os dois caminharam na direção de um banco de madeira segurando os lanches com relevo, o de Sehun bem mais recheado que o do mais velho.
— Você conhece muita gente — Baekhyun comentou.
— Ele morava perto de casa — explicou sabendo que estava falando sobre o vendedor.
— Vocês pareciam ter um assunto pendente, por que ele pensou que você estava bravo?
Sehun suspirou.
— Ele me viu aprontando, ficou preocupado e contou tudo para o meu pai. Eu levei uma puta bronca e fiquei de castigo por semanas.
— O que você estava aprontando? — indagou interessado.
— Eu sai escondido de madrugada pra conversar com um cara que meu pai não queria que eu visse mais.
— Por que seu pai não gostava dele?
O pai de Sehun parecia um homem sensato, se ele não gostava de alguém devia existir um motivo muito forte.
— Se importa se não falarmos do meu ex-namorado? Ele me fez muito mal e meu pai tinha razão em querer me proteger dele — Sehun pediu receoso.
Havia sido um relacionamento abusivo que deixou somente marcas ruins. Seu antigo namorado o agredia fisicamente com a mesma frequência que o degradava e o humilhava sem explicações. O mais novo tinha vergonha de falar sobre o que viveu, ainda não estava preparado para aquela conversa.
— Sei que não quer falar disso, mas posso perguntar se foi ele que afogou seu motor? Esse cara é razão para andarmos com rodinhas? — perguntou hesitante, não queria pressioná-lo.
— Por mais que me digam que eu não sou culpado, eu sinto que a culpa é principalmente minha. Tudo era sobre o outro, eu deixava as coisas acontecerem no tempo das outras pessoas ao invés de respeitar meu próprio tempo e limites. Eu costumava ser muito fácil, os caras não precisavam se esforçar muito pra me iludir e me ter nas mãos. O meu pai vivia me alertando que os caras com quem eu me envolvia não prestavam, ele também dizia que eu não me valorizava e deixava que pisassem em mim, ele tinha razão sobre tudo. Mas você é completamente diferente dos meus antigos namorados, eu estou gostando dos nossos encontros e não quero estragar tudo acelerando como fazia antes.
— Obrigada por confiar em mim, eu vou fazer de tudo para não te decepcionar. Não vou dizer que não sinto vontade de atravessar alguns sinais vermelhos, principalmente quando estamos um pouco animados, mas eu também prefiro conduzir dessa forma, ao nosso tempo.
“Nosso tempo”, Sehun gostava de como aquilo soava.
— Vamos seguir o ritmo do nosso próprio tempo.
Sehun concluiu satisfeito. Ele apreciava a paciência do outro e a forma como o respeitava.
— O nosso lanche vai esfriar — o mais novo comentou apertando o lanche nas mãos.
— Tem certeza que isso é confiável? — Baekhyun questionou ao encarar a pontinha da salsicha escapando do pão.
— Por que não seria?
— Foi muito barato. Vai saber do que essa salsicha foi feita.
— Não sei com o que ela foi feita, mas está uma delícia.
Sehun mordeu o lanche sorrindo satisfeito logo em seguida.
— Nunca decepciona. Pode provar, é muito bom.
Baekhyun mordiscou hesitante. A primeira mordida foi uma surpresa, o sabor revelava qualidade. Não parecia ter sido fabricado de qualquer jeito, no entanto, ainda tinha um certo receio como se não fosse bom o suficiente. O valor ainda ecoava em sua mente dizendo que nada tão barato poderia ser melhor do que os hotdog que comprava em marcas gigantescas de fast food.
— Não gosto? — Sehun perguntou preocupado.
— Parece bom, mas você não acha nenhum pouco suspeito?
O mecânico riu negando com a cabeça.
— Não fica fissurado no preço, só senti o sabor. É gostoso, eu comi vários, ainda estou vivo e saudável.
O mais velho deu mais uma mordida fazendo o molho deslizar e cair na camiseta que não era dele. Havia pedido algumas roupas emprestadas de Yixing
— Ai! Não acredito, que droga!
Sehun deu uma risada gostosa. Ele pegou um guardanapo da sacolinha do lanche e tentou limpar a camiseta fazendo o molho se espalhar um pouco mais.
— Relaxa, não é o tipo de molho que mancha. Uma lavada e ela se recupera — comentou ao terminar de tirar o molho da camiseta. Mentalmente Baekhyun só estava preocupada com Yixing o matando por sujar a camiseta.
— Essa camiseta não é minha, peguei emprestada.
— Você pegou uma camiseta emprestada só pra sair comigo? — perguntou presunçoso.
— Eu tô vendo esse sorrisinho convencido.
— Eu me sinto honrado agora.
— Se eu não aparecer no nosso próximo encontro, manda a polícia procurar pelo dono da camiseta.
Sehun gargalhou antes de morder o lanche novamente. Baekhyun acabou perdendo a desconfiança e comendo o lanche com gosto, porque estava muito bom. Era mais gostoso que os hotdog que vinham só com uma salsicha e molho.
— Isso aqui estava muito bom — acabou admitindo ao dar a última mordida.
— Quer mais um? Sendo sincero, só um não matou minha vontade.
O mais velho assentiu.
— Eu vou querer mais adicionais dessa vez.
Os dois acabaram comendo mais um cachorro-quente e Sehun pediu mais um para viagem, queria levar para Hyunjin. Eles continuaram andando pelo parque até encontrarem um carrinho de sorvete. Baekhyun pediu um picolé de morango e Sehun pediu um de chocolate.
— Isso me lembra a noite em que me levou até em casa.
— Aquele lugar é enorme. Eu me perderia se morasse numa mansão daquele tamanho.
Baekhyun riu de seu comentário. A mansão realmente era gigantesca por dentro. Quando era pequeno quase se perdia brincando de esconde-esconde com os primos.
— Você não sente medo? — questionou repentinamente.
— Medo de assalto?
Sehun negou com a cabeça.
— Medo do vazio. Nunca precisou beber um copo de água no meio da madrugada e teve que atravessar aquele lugar enorme de noite sozinho?
— Eu tenho um frigobar no meu quarto e um banheiro, então nunca precisei sair de noite — falou distraidamente.
— Caramba, eles devem ser muito ricos mesmo, dão até frigobar pros funcionários.
Baekhyun engoliu a seco, lembrando-se que estava mentindo sobre quem era, quase deixou escapar informações sobre sua suíte na mansão.
— Eles sabem valorizar os funcionários.
Não era uma mentira. Os Byun recompensavam muito bem quem trabalhava na mansão. A área de empregados era tão luxuosa quanto cada canto da casa e os funcionários almoçavam o mesmo cardápio que os donos.
Sehun sorriu ao ver um casal andando de bicicleta pelo parque.
— A gente podia andar de bicicleta por aqui um dia.
Baekhyun negou com a cabeça.
— Eu não sei andar de bicicleta.
Sehun o olhou chocado.
— Eu vou ter que te ensinar a andar de bicicleta.
Os dois riram com a ideia do mais novo ensinar um motorista profissional a andar de bicicleta.
— O meu pai não vai acreditar quando eu contar que o motorista dos Byun não sabe andar de bicicleta.
Baekhyun mordeu o lábio curioso sobre algo.
— Posso te fazer uma pergunta bem pessoal? Se não se sentir confortável não precisa falar sobre isso.
— O que você quer saber? — Sehun perguntou pensando que o outro traria novamente à tona a conversa sobre seu ex-namorado.
— Como o Hyunjin virou seu pai? Como vocês se conheceram?
Esperava que em algum momento ele perguntasse, só não achou que seria tão cedo. Apesar de seu passado ser um assunto muito delicado, Sehun sentiu vontade de compartilhar a história por trás de sua adoção com Baekhyun.
— Eu te conto se você prometer que não vai me tratar diferente depois do que escutar.
— Nada que me diga vai me fazer mudar a forma como te trato, eu prometo.
Sehun mordeu o lábio inferior pensando por qual parte deveria começar.
— Eu fiz parte de um programa experimental de lares temporários de um orfanato em Seul. Eles tinham uma lista de famílias que se inscreviam no programa para cuidar temporariamente de uma ou mais crianças do orfanato, essas famílias ganhavam um salário mensal para isso — explicou resumidamente como funcionava o programa — Em um desses lares temporários eu acabei me envolvendo com o filho do cara que estava me acolhendo e quando ele descobriu não me quis mais na casa dele ou perto do filho dele. O orfanato precisou me direcionar para outro lar, então eles acabaram me mandando pra casa de um cara que já abrigava mais de dez meninos, aproximadamente da mesma idade que a minha.
Sehun fez uma pausa para lamber o picolé antes que derretesse em sua mão.
— O Collins enganou o sistema por muito tempo, ele acolhia garotos como eu e os forçava a prostituição.
Incrédulo, Baekhyun cobriu a boca. Tinha medo do que Sehun contaria a seguir.
— Quando cheguei lá, achei ele e os outros garotos muito estranhos. Eles me receberam muito bem, mas pareciam estar armando algo pelas minhas costas, sempre ficavam cochichando e paravam quando eu chegava. Depois de algumas noites eu ouvi uma conversa entre o Collins e um homem esquisito, eles estavam falando sobre mim e algo sobre o valor da minha virgindade. Eu nem era mais virgem naquela época, mas eles não faziam ideia e acho que não se importariam com isso — Sehun riu sem humor. — Aquilo me deixou muito assustado. Me lembro que naquela noite estava chovendo muito e era quase impossível enxergar a rua, mas eu não pensei duas vezes antes de arrumar minha mochila e fugir. Eu pulei a janela do banheiro e corri o mais rápido que podia, corri até não sentir mais meus pés, corri até não reconhecer mais onde estava. Eu fiquei apavorado, tinha medo que me encontrassem e me levassem de volta para casa daquele homem que queria me vender.
Baekhyun abraçou a cintura do mais novo demonstrando que estava do lado dele.
— Eu sinto muito que tenha passado por isso, sinto mais ainda pelos garotos que esse homem machucou. Você sabe o que aconteceu com ele? Se esse desgraçado foi preso?
Baekhyun ficou indignado por pensar que um orfanato entregou tantas crianças para um monstro.
— Eu já chego nessa parte… — Sehun prometeu sentindo-se confortável com o aperto do outro em sua cintura. — Eu fiquei perdido, como não tinha pra onde ir, acabei vagando pelas ruas até perder a noção das horas, dos dias, dos meses…
— Você ficou em situação de rua?
Ele confirmou com a cabeça.
— Não era uma vida fácil, tinham brigas por território, eu não aceitava esmolas e tinha medo de voltar para o orfanato. No começo eu ainda conseguia trabalhar um dia ou outro lavando pratos, carros ou levando compras de algumas senhoras até em casa, mas conforme eu ficava mais sujo e as minhas roupas mais gastas tornava-se mais difícil alguém se aproximar de mim.
Na época, Sehun imaginou que a única saída seria voltar para Guryong Village, lá ele poderia voltar a trabalhar como catador de lixo reciclável, ter um teto e o que comer. O mais novo pensou em falar, mas se contasse que trabalhava catando lixo quando era criança Baekhyun iria questionar por que ele fazia aquilo e isso os levaria a um assunto que ele definitivamente não queria desenterrar.
— Eu acabei morando por um tempo entre duas caçambas de lixo num beco do lado de uma oficina. Alguns mecânicos começaram a me dar marmita e água limpa, só que eu fiquei doente depois de um tempo. Pensei que fosse morrer jogado no meio daquele monte de lixo, eu me sentia tão insignificante.
Quando Sehun percebeu já estava chorando, doía demais lembrar daquele tempo. Os olhos de Baekhyun também marejaram, ninguém merecia passar por aquilo.
— Eu lembro que choveu muito forte e eu fiquei encharcado. Naquela noite eu estava tão cansado e com tanto frio, parecia que a vida estava me deixando, mas um homem me encontrou. Ele começou a fazer um monte de perguntas e ficou tentando me levar para dentro da oficina dele. Eu fiquei com medo dele chamar o juizado de menores e eles me entregarem de volta para o Collins, o cara que queria me prostituir. Eu tinha tanta coisa na cabeça, só que não conseguia nem me mexer direito.
Sehun sorriu agradecido.
— O homem era o Hyunjin. Ele foi muito paciente comigo e me convenceu a aceitar a ajuda que estava me oferecendo.
Baekhyun entendeu porque Sehun era tão apegado ao pai.
— O Hyunjin cuidou de mim quando estava doente e quando me recuperei fui muito mal-agradecido. Eu tinha tanto medo de me apegar e me acostumar com todo aquele carinho pra depois acabar abandonado e machucado de novo. Mas o Hyunjin soube conquistar minha confiança aos poucos, ele não se abalou com as minhas pirraças ou meu jeito defensivo. Quando eu contei que era órfão e não tinha um lar para onde voltar, o Hyunjin ficou muito pensativo, ele ficou isolado por uma semana todinha e depois veio conversar comigo.
Sehun jogou o palito do picolé no lixo, assim como o mais velho.
— Ele me perguntou se eu gostaria de ser adotado por ele. Aquilo me deixou muito ansioso, porque eu nunca tinha dado certo em nenhuma família. Eu contei que era gay, achei que aquilo iria mudar tudo, mas não mudou nada. Então, decidi confiar no Hyunjin e contei tudo, tudo mesmo.
Baekhyun o guiou para sentarem em outro banco de madeira.
— O meu pai acionou as autoridades, ele denunciou o Collins e me acompanhou no julgamento dele, onde eu fui testemunha. O Hyunjin conseguiu abrir uma ação contra o programa de lares temporários ao mesmo tempo em que iniciou um pedido de adoção. Depois de tudo que me fizeram passar o advogado amigo do Hyunjin conseguiu minha guarda, o Collins foi preso e o programa de lares temporários passou por uma revisão. O processo de adaptação também não foi simples, eu estava em uma idade complicada e já tinha ficado com marcas demais. Com quinze anos eu mal sabia ler e escrever direito, mudei tanto de instituições de ensino que nunca conseguia fixar nada direito. O meu pai me colocou em vários cursos, eu fiz supletivos e por isso terminei o ensino médio tão recentemente.
Baekhyun segurou as mãos do mais novo.
— Obrigado por confiar em mim e ter compartilhado sua história comigo. Eu fico muito feliz em saber que o Collins foi preso e que o Hyunjin te encontrou e te acolheu. Eu sempre achei linda a relação de pai e filho de vocês, mas agora eu acho mais linda ainda.
Baekhyun limpou uma lágrima do mais novo com o polegar.
— Eu sei que prometi que nada mudaria depois disso, mas uma coisa mudou.
— O quê? — Sehun interpelou ansioso.
— A minha admiração por você aumentou, não sei se teria a mesma garra que você se estivesse no seu lugar. Você é o tipo de pessoa que meu avô chamava de lutador, você venceu muitos rounds pra estar aqui hoje.
O mais novo o encarou ofegante.
— Sabe o que eu disse sobre ir devagar?
Ele assentiu preocupado sobre estar acelerando demais.
— Podemos esquecer isso essa noite e ultrapassar alguns sinais vermelhos?
— Você tem certeza, Sehun? Não quero que faça nada que vá se arrepender.
— Se eu não ficar com você hoje, tenho certeza que vou me arrepender amanhã.
Sehun queria saber como era se entregar para alguém que o olhava daquele jeito que Baekhyun estava olhando naquele exato momento: como se ele fosse precioso. Precisava dele naquela noite e Baekhyun estava esperando por aquele momento desde sua primeira troca de olhares.
— Então temos que tornar essa noite memorável.
Baekhyun quebrou o espaço entre eles unindo seus lábios em uma promessa de que aquela noite seria muito longa.
{...}
Dias atuais...
Propriedade privada, 16 de julho de 2021.
Ilha Solar, Incheon
Sehun lembrou-se com carinho da primeira noite em que se entregou para o noivo. Estava com os olhos fechados viajando naquela memória, quando sentiu seu corpo ser abraçado por trás, o fazendo se arrepiar. O mais novo sorriu ao sentir um beijo molhado em seu pescoço.
— Hmm, Baekhyun… — murmurou virando o rosto para beijá-lo. No entanto, paralisou assustado quando abriu os olhos e chocou-se com um homem mais alto que sorria maliciosamente.
— O que pensa que está fazendo? — Sehun gritou furioso levantando-se afobadamente. Ele reconheceu o rapaz, era Choi Mingi, o irmão do tal Yunho.
— Desculpa... eu te vi aqui tomando sol e você parecia tão lindo que eu não pude resistir — ele disse sorrindo cinicamente.
— Eu sou comprometido! E mesmo se não fosse, você não tem o direito de chegar assim em alguém — vociferou indignado.
— Você não parecia incomodado alguns segundos atrás, até gemeu, e que gemido gostoso, hein? — provocou o deixando ainda mais irritado.
— Eu pensei que fosse o meu namorado.
— O Baekhyun está ocupado falando com o meu irmãozinho, mas eu tenho todo tempo do mundo para aproveitar essa vista com você.
Sehun passou a mão pelo rosto cético.
— Não importa onde o Baekhyun está, ele continua sendo o meu namorado. Será que você pode me deixar em paz? Eu quero ficar sozinho.
— Eu não me importo se o seu namorado está na ilha — sugeriu sem vergonha.
— Eu me importo, então fique longe de mim.
— Ele nem precisa saber sobre nós.
Sehun jogou a cabeça para trás rindo de nervoso.
— Não existe nós, mauricinho.
Ele caminhou na direção do mais novo o olhando desinibido.
— Eu vou fazer existir, adoro um desafio.
— Eu não sou um desafio, se manda daqui — Sehun mendou autoritário.
— Ou o quê? — perguntou erguendo uma sobrancelha.
— Não brinca comigo, você não sabe com quem está se metendo — Sehun o advertiu.
— Com quem estou me metendo?
— Eu quero respeitar a casa dos meus sogros, mas se você tentar mais uma gracinha comigo ninguém vai me impedir de socar a tua fuça de mauricinho.
Mingi lambeu o lábio inferior sorrindo safado.
— Eu amo garotos bravinhos como você, são os melhores de domar na cama e eu vou tê-lo na minha, você vai até implorar por isso, Sehun. Aposto que é um furacão na cama, estou doido pra comprovar minha teoria.
Sehun riu debochado.
— Em primeiro lugar eu não sou um cavalo pra ser domado por ninguém e em segundo lugar eu posso ser um furacão na cama, mas você nunca vai descobrir. Então tira o seu cavalinho da chuva e pare de contar vantagem, mauricinho. Eu tenho um homem de verdade, não preciso de um filhinho de papai mimado que precisa dar em cima de alguém comprometido pra acariciar o próprio ego fraco.
Sehun puxou a toalha do chão com força fazendo o rapaz cair de costas na areia. Ele pegou a mochila e se afastou deixando para trás o rapaz incrédulo e completamente indignado.
{...}
Três anos atrás…
Oficina Oh, 27 de janeiro de 2019.
Meosjin Jeonmang, Seul.
Baekhyun despertou ao sentir um cheirinho gostoso de café sendo passado. Ele se remexeu na cama preguiçosamente até seus olhos se abrirem aos poucos e ele se dar conta que não estava na própria cama. Resmungou ao perceber que estava sozinho na cama de solteiro do namorado, ele sentou-se nela e se esticou tentando diminuir a tensão nas costas.
Na noite passada foi convidado para dormir novamente na casa do namorado e não pode resistir ao pedido. Sehun estava abalado com o aniversário do assassinato da mãe, então Baekhyun e Hyunjin passaram a noite vendo filmes com ele.
O Byun vestiu uma camiseta do namorado e caminhou na direção da cozinha encontrando pai e filho tomando café.
— Bom dia, Baekhyun — Sehun falou alegremente.
— Bom dia! — respondeu sonolento.
— Bom dia! Vem tomar café com a gente, Baekhyun.
Hyunjin o convidou apontando para uma das cadeiras vagas. Havia um pacote de pão francês, um pote de margarina, uma tigela com arroz e bolachas de água e sal.
Sehun estava molhando o pão com margarina no café com leite enquanto o pai passava margarina na bolacha com sal. Era um pouco decepcionante para o herdeiro dos Byun que estava acostumado com opções como bolo, sucos, café, cereal, arroz, pães diferentes, manteiga, geléia, torrada, ovos mexidos, frios, bacon e muito mais.
Ele analisou o pote na mesa, não comia margarina. Acabou enchendo um copo com café puro, ele tinha certeza que aquele copo um dia foi um pote de requeijão.
— Você não está atrasado?
Baekhyun franziu o cenho confuso para a pergunta de Hyunjin.
— Atrasado?
— Para o trabalho!?
Os lábios de Baekhyun se separaram em choque.
— O senhor Byun está de férias da faculdade, ele não vai precisar dos meus serviços tão cedo — mentiu.
— Que bom. Eu estava preocupado, não quero que o Sehun te cause problemas no trabalho, ele não queria te acordar.
— Eu ainda tenho algumas horinhas livres pela manhã, não vou ter problemas.
Na verdade, ele tinha o dia, a semana e o mês todo livre. Estava de férias da universidade e só voltaria no início de março.
— Faz muito tempo que você é motorista dos Byun? — Hyunjin perguntou curioso.
— Faz alguns anos.
Baekhyun inventou sentindo-se cada vez mais culpado com aquela bola de mentiras que estava criando.
— Como eles são? Ouvi dizer que são bem ricos, esse tipo de gente costuma ser difícil de lidar.
— Eles são bem legais e eu sou amigo do filho deles.
— O Sehun me disse que eles têm uma mansão enorme e que você mora na área de empregados, por isso não pode receber visitas. Deve ser complicado viver assim, não tem interesse em alugar um canto só seu? — perguntou enquanto passava a manteiga em mais uma bolacha.
— É complicado não poder levar visitantes, mas é mais confortável não ter que me preocupar com aluguel e despesas como café da manhã, almoço e jantar. Os Byun precisam de alguém que esteja sempre disponível e não se importam de pagar muito bem por isso.
— Parece um emprego muito bom.
— É ótimo. Eu tenho casa, comida, ganho bem e dirigi carros que só poderia ter em sonhos.
Baekhyun tentou parecer o mais convincente possível.
— E você pretende fazer uma faculdade um dia?
Baekhyun não podia falar sobre sua graduação.
— Eu pretendo começar em algum momento, queria fazer administração.
— O Sehun disse que você tem vinte e seis anos.
— Isso te incomoda? — perguntou apreensivo.
— Na verdade, não. Acho que é uma boa medida, não é muito experiente, mas também não é muito jovem. Você me parece um homem bem responsável, o Sehun precisava disso.
— Pai! Eu estou aqui — Sehun resmungou.
— E o que você ainda está fazendo aqui? Vai lá abrir as portas e arrumar as coisas pra abrir a oficina.
— E deixar você sozinho com o Baekhyun?
— Está querendo mais uma semana de castigo, Sehun? Eu posso providenciar — ameaçou o fazendo levantar-se desgostoso.
— Isso é chantagem.
— Vai logo! Daqui a pouco os rapazes chegam e a porta está trancada.
Sehun depositou um beijo estalado na bochecha do motorista dos Byun.
— Eu preciso ir, pode terminar seu café e ficar à vontade, sinta-se em casa.
O Byun engoliu em seco ao se ver sozinho na cozinha com seu futuro sogro que o viu certa noite com a cara enfiada na bunda do filho dele. Suas orelhas ficaram vermelhas automaticamente ao lembrar daquela fatídica noite em que aprontaram na oficina.
— Então… Zhang Baekhyun... estamos sozinhos agora — Hyunjin cantarolou entrelaçando as mãos sobre a mesa.
— O senhor quer falar algo comigo?
O mais velho assentiu positivamente.
— Quando te perguntei quais eram suas intenções com o meu filho, você me disse que eram as melhores possíveis. No entanto, ontem ficou evidente pra mim que você quer algo sério com o Sehun. Eu estou certo ou me enganei?
Baekhyun não tinha motivos para mentir sobre suas intenções. Ele olhou na direção da porta para ter certeza que o mais novo não estava mais ali.
— Eu pretendo pedir ele em namoro no dia dos namorados.
Hyunjin sorriu imaginando que seria algo muito romântico.
— Ontem fez alguns anos do assassinato da mãe do Sehun, geralmente esse período é muito difícil para o meu filho, mas você fez a semana dele ser mais leve. Obrigado por ter conseguido tirar ele de casa ontem, por ter devolvido ele em segurança e por ter ficado aqui até agora para distraí-lo.
— O senhor não precisa me agradecer por isso, eu amo o seu filho e me importo muito com ele.
Hyunjin estava muito feliz pelo filho ter encontrado o motorista dos Byun, contudo eles precisavam ter uma conversa séria que não podia ser adiada, principalmente se Baekhyun pretendia pedir Sehun em namoro.
— O Sehun te contou sobre o padrasto dele?
— O Sehun dificilmente conta detalhes sobre a vida dele antes da adoção, mas ele me contou que as cicatrizes foram causadas pelo padrasto e ontem eu acabei descobrindo o que ele fez com a mãe do Sehun.
— Não cabe a mim te contar a história do Sehun. Ele vai se abrir eventualmente, mas tem algo sério que quero conversar com você.
Baekhyun respirou fundo se preparando para o que viria, Hyunjin nunca pareceu tão sério quanto naquele momento.
— Você já deve ter percebido que o Sehun tem muitas bagagens e o conteúdo delas é imprevisível, ele mostra o que consegue e quando se sente confortável. Então tenha cuidado com a forma como vai reagir se ele te contar algo muito íntimo.
Baekhyun já tomava muito cuidado, contudo, tomaria ainda mais diante daquele aviso.
— O Sehun passou por muitos momentos difíceis. Ele foi abandonado diversas vezes, magoaram e machucaram demais o meu menino. Eu sei que por ser muito resiliente às vezes o Sehun parece ser invencível, mas todo lutador beija a lona em algum momento… — Hyujin suspirou. — Se quer namorar o Sehun precisa saber que nem sempre as coisas com ele serão fáceis. Eu o ensinei como receber o amor de um pai, você terá que ensiná-lo como receber o amor de um namorado. Ele nunca teve um bom exemplo de relacionamento para se basear e eu espero que você não se aproveite das fragilidades dele. Meu filho faz acompanhamentos com psicólogos e psiquiatras, eventos estressantes podem desencadear ataques de pânico, ele ainda sofre com pesadelos de noite e você já deve ter reparado nos problemas que ele tem de autoestima.
Hyunjin tentou ajudar o filho até mesmo levando ele em médicos cirurgiões, nutricionista, esteticistas e dermatologistas, mas o principal motivo de sua baixa autoestima não tinha solução. Nem mesmo laser ou preenchimento de pele poderiam apagar suas cicatrizes.
— Poderia ser bem pior, é isso que todos dizem quando olham o histórico dele. O passado do meu filho não é algo que pode ser apagado, os traumas dele não vão desaparecer da noite para o dia, ele só pode aprender como lidar com eles, mas o processo é longo e demorado. Não pense que eu estou tentando te assustar falando sobre isso, a minha intenção é apenas prepará-lo para os obstáculos que vai encontrar com o tempo. Eu sinto que você não vai desistir do meu filho, estou certo em pensar dessa forma?
Baekhyun confirmou com a cabeça.
— Você está certo, eu estou completamente apaixonado pelo seu filho. Eu já sabia sobre os pesadelos, os medicamentos e o acompanhamento que ele faz de tempos em tempos. Eu soube que não seria fácil a partir do momento que o Sehun me contou sobre o Collins e o tempo que ele viveu nas ruas, mas eu estou disposto a enfrentar tudo isso com ele. Se depender de mim eu vou ser o cara que vai casar com o seu filho um dia, senhor Oh.
{...}
Dias atuais...
Propriedade privada, 16 de julho de 2021.
Ilha Solar, Incheon
Ao estacionar a moto em um pergolado, Sehun avistou Alice na entrada da mansão conversando com um dos decoradores. Depois de entregar uma pasta para o decorador a garota aproximou-se de Sehun, ela notou que tinha algo de errado em sua expressão.
— Aconteceu algo Sehunnie? Você está com uma cara de quem comeu e não gostou — perguntou temerosa.
— Eu estou puto, Alice! Se eu te contar você não vai acreditar no que aconteceu.
Ele olhou em volta para ter certeza que estavam realmente sozinhos no jardim, o que não passou despercebido pela moça.
— Sehun, você está me deixando preocupada. O que tá pegando?
— Tá pegando que aquele tal de Choi Mingi tentou me beijar e deu em cima de mim
Ela tapou a boca incrédula.
— Mentira!
— Eu queria que fosse mentira, mas aquele mauricinho metido teve a audácia de dizer que me queria na cama dele. Dá pra acreditar nisso?
Ela puxou o amigo para um canto mais afastado entre os carros da família Byun, onde ninguém poderia vê-los juntos.
— Eu preciso te contar um negócio sério — ela sussurrou baixinho.
— O quê?
— Eu escutei a Yerin falar algo sobre um plano. Eu acho que ela quer separar você e o Baekhyun. Algo me diz que a visita do Yunho e do Mingi tem relação com o plano dela — Alice afirmou.
— Tem certeza disso? — Perguntou embora já soubesse a resposta.
— Eu nunca mentiria pra você peregrino. Eu desconfio que estão tentando aprontar alguma coisa, então fique atento e tome cuidado.
Sehun não tinha dúvidas que a mãe do namorado queria separá-los, só nunca cogitou que ela desceria tão baixo.
— Eu não entendo, Alice. Não consigo entender por que ela me odeia tanto ao ponto de ser capaz de criar um plano para me separar do Baekhyun.
— Vai contar para o seu namorado?
Ele negou com a cabeça.
— Eu estava suspeitando dessa visita do Yunho na ilha, falei sobre isso com o Baekhyun, só que não deu certo. O meu namorado não vai acreditar nisso, ele está crente que a mãe dele vai mudar e aceitar nosso relacionamento. Eu também não quero que o Baekhyun brigue com a mãe por minha causa, eu sei como é difícil não ter uma família e não quero que ele perca a família dele por mim.
— O que pretende fazer?
— Não sabemos o que ela está armando, então eu vou deixar rolar e tomar cuidado. A Yerin estava conseguindo me irritar com a presença do Yunho, mas eu cansei de ser idiota e ficar emburrado por bobagens. Eu vou mostrar quem é o namorado do Baekhyun para aquele idiota e vou manter o Mingi longe de mim.
— E eu vou conversar com o Alex, nós vamos ficar de olho em tudo. Se descobrirmos algo, você será o primeiro a saber — ela prometeu enquanto caminhavam juntos até o portão. — Eu preciso ir no píer cuidar de algumas entregas, mas depois vou dar um jeito de falar com o Alex.
Sehun abraçou a amiga agradecido.
— Obrigado, eu sou tão grato por vocês estarem aqui.
— Nem tudo é por acaso, às vezes a vida coloca a gente no lugar certo e na hora certa. Eu nunca vou esquecer o dia que você fez aquele casal achar que meu irmão tinha matado o cachorro do orfanato só pra ficarem com medo e desistirem de adotar ele.
O cachorrinho era muito apegado ao mais novo e obediente. Sehun mandou ele fingir de morto, sujou ele com molho de tomate e fez parecer que Alex o tinha matado.
— Eu não podia deixar que separassem vocês dois.
— E eu vou te apoiar nessa luta, não vou deixar sua sogra te separar do seu namorado.
Eles se afastaram sorrindo cúmplices.
{...}
Ao terminar os preparativos com a mãe, Baekhyun esbarrou com Yunho na sacada do salão de festas.
— O que você veio fazer aqui na ilha, Yunho? — indagou impaciente.
— A Karina me convidou, fazia tempo que eu não participava dos eventos da sua família por causa do Chanyeol e como vocês não estão mais juntos pensei que poderia aceitar o convite.
— Pois pensou errado. Eu não estou mais com o Chanyeol, mas eu tenho um namorado e a sua presença aqui é muito inconveniente.
— Está com medo de ter uma recaída ou o seu namorado não se garante comigo?
Baekhyun revirou os olhos.
— Eu não vou perder meu tempo aqui com você, o meu namorado está me esperando.
Yunho sorriu maldoso.
— O seu namorado não parece estar sentindo sua falta.
Ele apontou na direção do jardim, onde Sehun estava abraçando uma moça carinhosamente. Mesmo de longe Baekhyun reconheceu que se tratava de Alice.
— O seu namorado não tem vergonha, você não vai fazer nada?
— Não tenho com o que me preocupar, ela é só uma amiga do Sehun.
— E você acreditou nisso? — perguntou debochado.
— O Sehun é gay, Yunho. E mesmo se fosse outro homem não faria diferença, porque eu confio no meu namorado.
— Do mesmo jeito que você confiava no Chanyeol?
Furioso, Baekhyun apertou os punhos.
— Não me faça bater em você, Yunho.
— Você vai precisar de um banquinho se quiser me acertar.
O loiro respirou profundamente tentando colocar na cabeça a ideia que não valia a pena bater em Yunho.
— Eu não vou mais perder tempo com você, me dá licença.
Baekhyun esbarrou em seu ombro antes de sair. Ele não estava preocupado com Sehun, conhecia o mais novo e sabia como ele era apegado com os amigos. Ele não tinha ciúmes nem do Jongin, imagina de uma mulher? Yunho definitivamente não sabia nada sobre seu atual namorado, Sehun não era nenhum pouco parecido com Chanyeol. Não existia pessoa mais leal no mundo que seu garoto.
{...}
Dias atuais...
Propriedade privada, 16 de julho de 2021.
Ilha Solar, Incheon
Ao subir o lance de escadas, Sehun decidiu não contar para o noivo o que tinha acontecido na praia, ele queria resolver aquele problema sozinho.
Ele apertava o corrimão da escada com certa força, estava encolerizado ao ponto de querer voltar no tempo e arrancar o maldito sorriso descarado de Choi Mingi numa bofetada só. Bastava lembrar do jeitinho arrogante e da abordagem detestável do outro para ficar vermelho de raiva.
Não pode deixar de comparar com o dia em que o Byun o chamou para sair pela primeira vez. Ele conseguia ser presunçoso e sem vergonha de um jeito que se tornava um charme e fazia o coração do mecânico palpitar mais rápido. O mais velho nunca invadiu o espaço dele ou o deixou desconfortável com seu jeito atrevido de ser.
E Sehun tinha certeza que Baekhyun jamais teria sido tão ousado se ele não tivesse correspondido cada flerte e aberto um certo espaço para ele se aproximar e ser bem... ser o Byun Baekhyun que no mais clichê dos romances roubou o coração do garoto. E de quebra o viciou em sexo, não que o mecânico reclame, longe dele reclamar desse detalhe.
Era incrível como só o fato de pensar no namorado fez a expressão zangada do Oh suavizar até virar o sorriso mais bobo do mundo. Devia estar no livro de recordes do ano, Oh Sehun o cara mais apaixonado do mundo.
Aquele sorriso só aumentou ao encontrar o namorado no corredor das suítes. Alguns minutos atrás Baekhyun não estava muito diferente do namorado.
Ele contou até cem para não voltar no salão de festas, pegar seu ex-namorado pelo colarinho, arrastá-lo até o píer e jogá-lo dentro da próxima balsa. Mal sabia ele que Sehun adoraria se isso acontecesse e gostaria mais ainda de ajudar jogando o Mingi junto.
Algo era certo. Ambos estavam fervendo por dentro.
— Você voltou cedo da praia, nem deu tempo de ir te encontrar — Baekhyun comentou o fazendo sorrir minimamente.
— Não é a mesma coisa sem você, achei melhor voltar e deitar um pouco antes do jantar. Você fez tudo que precisava com a sua mãe?
Ele assentiu aproximando-se dele.
— Estou livre agora, sou todinho seu — comentou com um sorriso lascivo. — E estão todos na piscina, sabia?
— Você quer ir na piscina também? — Sehun perguntou inocentemente recebendo um aceno negativo do namorado.
— O andar é só nosso, ninguém vai ouvir se a gente fizer um pouco de barulho, se é que você me entende? — questionou erguendo uma sobrancelha.
— Você quer aprontar? — Sehun perguntou lembrando que o outro prometeu que de noite o recompensaria.
— Eu me pergunto por que você ainda está aí parado ao invés de me levar para o quarto.
Sehun riu incrédulo.
— Sempre direto, Baekhyun.
— É um dom.
O mais velho deu de ombros ao afirmar.
— O dom de ser safado — o mais novo brincou.
— Não, o dom de te levar pra cama.
O Byun pulou no colo do mais novo sem aviso prévio, mesmo assim foi pego com segurança. Sehun agarrou as coxas do namorado que circulou seu pescoço com os braços curtos.
— Onde paramos mesmo? — Sehun perguntou fazendo-se de desentendido.
— Você ia me deixar andando torto, grandão.
O mais novo o calou com um beijo abrasador do tipo que faz você esquecer o próprio nome e esquenta o corpo todo como um shot de tequila. Inclusive, assim como o destilado, aquele beijo podia deixar Baekhyun embriagado.
Os dois se agarraram desesperadamente, precisavam chegar no quarto ou corriam o risco de transar no corredor mesmo. Eles tinham que descontar o estresse do dia em uma atividade mais saudável do que socar os irmãos Choi.
No caminho eles foram derrubando alguns quadros no corredor, batendo em algumas portas e Sehun esbarrou sem querer em um vaso que se espatifou no chão.
— Porra, era muito caro?
O Byun mordeu o lábio com força o fazendo entender que a resposta era sim, um sim bem grande. Lá se foram 16 mil dólares.
— Eu compro outro no próximo leilão.
Falou antes de voltar a beijá-lo de forma afobada. Estavam tão sedentos que nem parecia que tinham aprontado no dia anterior. Sehun trancou a porta enquanto prensava o namorado contra ela, acabou tirando a camisa do mais velho com selvageria.
— Eu amava essa camisa — o Byun reclamou ao ver a peça rasgada.
— Você compra outra no próximo leilão.
Sehun provocou o fazendo rir entre um novo beijo. Suas mãos sapecas apertavam a bunda do mais velho arrancando-lhe um suspiro necessitado.
— Era assim que você imaginou? — Sehun perguntou o fazendo assentir.
— Eu odeio quebrar o clima, mas vou precisar de uns minutinhos — Baekhyun comentou com um biquinho nos lábios.
— Eu preciso, você sabe... primeiro. E também me preparar, porque o seu pau não é brincadeira.
Sehun não pode deixar de rir. Agradeceu por já ter tomado um banho no andar de baixo para tirar a areia da praia do corpo.
— Vai lá, eu te espero aqui.
— Bate uma por mim enquanto isso.
— Você não presta! — Sehun resmungou, o soltando.
— Não demora muito — pediu necessitado. Baekhyun olhou o centro da bermuda do namorado reparando na marca do pau duro.
— Vou ser rápido.
Eles trocaram mais um beijo antes do outro correr para o banheiro da suíte.
{...}
Havia muitas coisas que Byun Baekhyun e Oh Sehun amavam fazer juntos, uma delas era a transa de reconciliação. Nem precisavam brigar seriamente para tê-la.
Tudo ficou em modo avião, o dia estressante simplesmente não tinha mais importância. Os dois nem lembravam por que estavam putos enquanto as costas do Byun deslizavam para cima e para baixo na parede do quarto. Poderia até doer depois, mas naquele momento não se importava.
Baekhyun apertava seus ombros largos, arrastando as unhas curtas por sua pele sensível. Em contrapartida, Sehun agarrava suas coxas fartas vigorosamente, mantendo suas pernas afastadas conforme se arremetia contra sua entrada apertada.
Baekhyun gemia rouco sempre que o mais novo metia naquele ponto que o fazia revirar os olhos e puxar seus cabelos rebeldes.
— Aí, Hunnie! Puta que pariu, bem aí!
Seus gemidos funcionavam como combustível para Sehun ir cada vez mais rápido, mais forte e mais fundo dentro de si.
— Porra, Sehun... aham — Baekhyun choramingou em deleite.
— Você é tão apertado, amor.
Sehun grunhiu ao sentir seu calor envolver seu membro em um aperto alucinante. Ele afundou o rosto na curvatura de seu pescoço, o cheiro forte de frutas cítricas provenientes do perfume Ambre Topkapi que usava o enlouquecia. O Byun sabia muito bem o quanto o noivo gostava daquele perfume, só por isso o reservou para usá-lo somente com ele.
— Eu esperei tanto por isso — Sehun declarou ao chupar seu pescoço até deixar uma marca roxa bem evidente.
O mais novo estava metendo tão gostoso que o Byun quase esqueceu o que havia prometido antes do almoço. Queria sentar no colo dele e rebolar naquele pau delicioso até andar torto de tanto dar.
— E-eu quero sentar em você.
Baekhyun só precisou falar uma vez para Sehun sentar-se na beirada da cama o carregando no colo. O Byun agarrava o cabelo do namorado sem dó, ao passo que sua entradinha engolia centímetro por centímetro de seu tesão.
Ele fechou os olhos com força sentindo-se incrivelmente preenchido pela circunferência avantajada. Não que o Byun queira causar inveja ou esfregar fatos na cara de todos, mas seu namorado era muito bem dotado. Diga-se de passagem: chegava a arder um pouquinho no começo da intrusão. Nada que um tempinho de espera para se acostumar não resolvesse, em menos de dois minutinhos Baekhyun enlouquecia subindo e descendo no colo gostoso do Oh.
A sensação dos anéis de músculos sugando para dentro do mais velho era depois para Sehun suportar às vezes. Ele descontou o prazer apertando a cintura do noivo o ajudando a rebolar em seu colo. Baekhyun torcia os quadris toda vez que sentia os testículos do mais novo colidirem em sua bunda antes de subir novamente e tomá-lo de novo, de novo e de novo.
As mãos do mecânico começaram a tatear o corpo do outro, elas passeavam apertando, arranhando e deixando marcas rosadas por onde passavam. Ele acabou por encher as palmas da mão com a bunda farta do mais velho. Ainda não satisfeito, Sehun apertou com vontade e separou os globos fartos o deixando abertinho e exposto para que o fode-se mais livremente. Daquela forma Baekhyun o sentia mais fundo. Mas ainda faltava algo, ele sabia o que queria e não teve vergonha de segurar o queixo do noivo entre o indicador e o polegar para ordenar autoritário.
— Me bate!
Ele mandou sacana, assumindo a liderança. Sehun gostava quando ele mandava e gostava mais ainda de obedecer. Por isso, em questão de segundos ecoou no quarto o som do estalo de sua mão pesada colidindo com a carne gordinha da bunda do Byun. O som veio acompanhado de um gemido escandaloso.
As mãos do mecânico eram ríspidas e calejadas, ele tinha muita força nelas. Eram mãos de quem trabalhou duro por muito tempo, mãos que sustentaram um lar desestruturado, mãos que ganhavam mais calos e ficavam mais ásperas com o passar dos anos.
Baekhyun gostava da certa brutalidade que o aperto das mãos de Sehun tinha em seu corpo. Eram diferentes das mãos suaves dos antigos namorados que só trabalhavam batendo nas teclas de um computador. Ou as mãos delicadas e bem cuidadas das antigas namoradas que a cada cinco dias faziam um retorno na manicure.
Sehun repetiu os tapas uma, duas, três... dez vezes. Ele bateu naquela bunda até que os cinco dedos de sua mão ficassem estampados nos globos gordinhos. A cada palmada que recebia o Byun sentia o pau do noivo ir mais fundo dentro de si, explorando sua entradinha faminta, provocando um calor crescente em seu baixo ventre. Calor este que também se espalhava pelo corpo de Sehun, o arrastando para a beira de um penhasco que conheciam como orgasmo.
— Me toca, Hunnie — o mais velho pediu pegando a mão do outro que estava agarrando sua bunda e a guiou para masturbar seu tesão. Sehun envolveu a ereção do namorado em um vai e vem tão gostoso quanto as reboladas que dava em seu pau.
Os gemidos dos dois foram abafados por um beijo desesperado. A temperatura na suíte estava subindo, eles esqueceram de ligar o ar-condicionado no meio da afobação. Agora o quarto parecia uma sauna, a pele de ambos estava quente como se estivesse fervendo. Gotículas de suor escorriam e se misturavam em seus corpos. O cabelo do mais novo chegava a grudar na testa e ele sentia como se fosse explodir a qualquer momento.
As coxas do loiro doíam e ele sentia os dedinhos do pé repuxarem, ameaçando o início de uma câimbra. Ele se contraiu todo em torno do mais novo, o aperto foi tão sufocante que Sehun quebrou o beijo com um gemido arrastado.
— E-eu vou-
Ele não teve tempo de expressar, o ápice do prazer o alcançou antes que pudesse concluir. Baekhyun sentiu seu interior ser preenchido pelo deleite do mais novo que continuou se arremetendo no canal apertado que o ordenhava. Sehun o masturbou com mais afinco desejando fazê-lo alcançar o próprio pico, porém foi impedido.
— Me faça gozar com a sua boca.
Baekhyun pediu encarando os lábios rosados e tentadoramente gostosos demais para sua sanidade. Sehun imediatamente cedeu ao pedido, bastava sentir seu pau pulsar em sua mão para desejar ter aquele peso em sua língua. Ele ergueu Baekhyun com facilidade o tirando de seu colo para deitá-lo na cama espaçosa.
Baekhyun abriu as pernas e deu um sorrisinho sem vergonha. O mais novo engatinho sobre a cama encarando com desejo seu pau inchado e um pouco avermelhado. O loiro mordeu o lábio inferior reprimindo um gemido ao sentir sua mão calejada envolvê-lo novamente. Sehun mostrou a língua rosada e lambeu a fenda sentindo um gostinho salgado de pré-gozo.
— Eu vou te fazer gozar tão gostoso que você nunca mais vai se satisfazer com tuas punhetas — Sehun prometeu confiante antes de engolir o membro do namorado sem dificuldade. Ele apreciava o gostinho de camisinhas de sabor, no entanto, precisava confessar que tinha muito mais tesão em sentir a pele sensível e as veias pulsantes raspando em sua língua sem o látex entre eles.
O Byun apertava os lençóis da cama entre os dedos, tão sensível que poderia gozar só com a quentura da boca aveludada o abrigando.
A cabeça de Sehun subia e descia o tomando, às vezes no fundo da garganta, enquanto uma de suas mãos massageava os testículos rosinhas e depilados do namorado. O mais novo gostava de chupar o Byun, principalmente quando o olhava por cima dos cílios e o via revirar os olhos. Ele tentava de todas as formas conter os gemidos roucos, mordendo o lábio inferior ou tapando a boca com as costas da mão como estava naquele exato momento.
— Eu não aguento mais, Hunnie — Baekhyun confessou sentindo seu corpo todo estremecer. Só conseguia se concentrar no ritmo da boca de Sehun e nos lábios rosados lutando para tomá-lo por inteiro.
— Então goza pra mim, Baekhyun — Sehun mandou, ao tirá-lo da boca. Ele masturbou o noivo e posicionou a língua na glande vermelhinha. Só precisou suga-lo uma última vez e aumentar a velocidade da punheta para o mais velho enfim pular naquele penhasco e gozar como nunca, esguichando em sua boca e rosto.
Sehun lambeu os lábios antes de se inclinar para beijá-lo, assim compartilhando seu gostinho salgado. Ao quebrar o beijo o mais alto jogou-se do lado do outro na cama.
— A gente fez uma bela bagunça.
Baekhyun concluiu ofegante, sorrindo largamente. Seu peito subia e descia agitado, não muito diferente do mais novo.
— Precisamos de um banho — Sehun falou sentindo-se grudento, porém satisfeito ou devo dizer imensamente satisfeito? É, ele se sentia imensamente satisfeito, seria uma ótima definição.
— Que tal você me carregar até a banheira e preparar um banho pra gente?
Baekhyun sugeriu ao se ajeitar na cama.
— Por que eu tenho que te carregar? — Sehun questionou brincalhão, claro que ele o carregaria.
— Por que graças a você amanhã vou andar torto — falou extremamente satisfeito com essa fala.
— Parece justo nesse caso, só me dá cinco minutinhos que eu te carrego.
— Não era você o atleta, jovenzinho que aguenta mais que três rodadas de sexo selvagem? — o provocou ficando de lado na cama para admirar o namorado todo bagunçado. Sehun era muito gostoso, ficava ainda mais gostoso depois do sexo.
— Você fica lindo assim.
— Com a cara toda gozada, suado e grudento? Caramba, o amor cega as pessoas mesmo.
Baekhyun chutou a canela do mais novo o fazendo resmungar e se remexer na cama.
— Não seja assim e vai lá preparar nosso banho. Eu tenho uns sais que fazem espuma rosa com cheirinho bem gostoso.
Sehun aproveitou que o Byun virou de costas para esfregar o rosto nas costas dele o fazendo resmungar.
— Você que vai me lavar! Saí daqui, Sehun.
Ele começou a chutar o mais novo com os pés.
— É assim que você me trata depois de te foder gostoso e chupar seu pau? Faz ideia de como é difícil tirar porra do cabelo? — perguntou fingindo estar ofendido recebendo em resposta uma travesseirada na cara e uma risada gostosa.
— Meu docinho, quer abraço?
Baekhyun abriu os braços e engatinhou na cama na direção do namorado.
— Não começa com essa porra de docinho de novo, sabe que odeio esses negócios de sugar baby — Sehun reclamou ao ser preso em um abraçou forte. Baekhyun começou a distribuir beijos por seu rosto e fazer cócegas em seu abdômen. Sehun caiu no chão do quarto puxando Baekhyun junto, rindo descontrolado pelas cócegas que não paravam.
— Isso é covardia — Sehun murmurou o fazendo parar e encará-lo risonho.
— Nós somos um casal estranho — Baekhyun afirmou risonho.
— Eu vi numa pesquisa que casais estranhos ficam juntos pra sempre — Sehun contou animadamente.
— Que pesquisa foi essa? — Baekhyun perguntou intrigado.
— A mesma onde você viu que casais que transam depois de resolverem problemas costumam ser mais felizes.
— Então deve ser verdade mesmo, por isso somos tão felizes.
Os dois riram juntos, mas depois ajudaram-se a se levantar. Sehun carregou o mais velho até o banheiro e preparou um banho muito gostoso com aquela espuma rosa que havia comentado.
A banheira era realmente grande e os dois cabiam perfeitamente nela. Relaxando, Baekhyun deitou a cabeça no ombro do mais novo, ele se acomodou entre suas pernas enquanto esfregava seu peito com uma esponja suave.
— Eu fico pensando como vai ser nossa vida de casados, será que sempre vamos ser assim, Hunnie?
Diante daquela questão, Sehun o envolveu em um abraço apertado, a esponja até acabou caindo na água.
— Não sei se vamos ser sempre assim, mas sei que sempre vamos nos amar muito.
Eles não tinham como prever o futuro, porém tinham certeza que o amor que compartilhavam só cresceria com o tempo.
{...}
Dias atuais...
Propriedade privada, 17 de julho de 2021.
Ilha Solar, Incheon
O ar-condicionado refrigerava a suíte fazendo um friozinho gostoso arrepiar a pele de Baekhyun que aos poucos foi despertando. Mesmo com os olhos fechados foi procurando o calor do corpo de Sehun, debaixo das cobertas, até seu peitoral colidir com suas costas largas. Ele o abraçou em uma conchinha gostosa.
Sehun resmungou ao sentir dedinhos gelados passearem por seu abdômen e um nariz enxerido cheirar seu pescoço. Ele foi abrindo os olhos aos poucos, percebendo estar envolvido pelos braços do namorado.
— Bom dia, amor.
Sehun sorriu ao ouvir sua voz rouca pertinho de seu ouvido. Os dois haviam dormido um pouco mais naquela manhã, o quarto ainda estava escuro pelas cortinas fechadas e o ar-condicionado que ficou ligado a noite toda deixou o cômodo fresquinho e gosto para ficarem agarradinhos debaixo do coberto.
— Bom dia, amor — Sehun respondeu meio letárgico.
— Hmm… hoje está tão gostoso pra ficar assistindo filme — comentou aconchegando-se ainda mais nos braços do mais velho. Baekhyun depositou mais uns beijinhos em seu ombro, sua mão acariciou o abdômen de Sehun ameaçando descer mais ainda.
— Você está tão cheiroso, o banho de ontem foi tão gostoso. — Baekhyun disse afundando o nariz na nuca do mais novo. Os fios de cabelo rebeldes de Sehun estavam cacheando e um perfume de shampoo se desprendia dos fios negros.
— Você acordou um pouco assanhado — Sehun constatou risonho ao sentir uma certa dureza próxima demais de sua bunda. Os dois dormiram sem roupas, bem abraçadinhos até começarem a se remexer e cada um ir parar de um lado da cama.
— É que você está tão gostoso, não devia estar se escondendo.
Baekhyun puxou o cobertor do mais novo revelando as costas largas cobertas por cicatrizes, a bunda pálida, as pernas torneadas... ele era como uma obra de artes. Sehun o olhou por cima do ombro, um pouco surpreso, encontrando um sorriso arteiro em seus lábios.
— Fica muito melhor assim — o loiro declarou satisfeito ao passo que sua mão envolvia a cintura do namorado novamente e seus dedinhos gélidos passeavam mais uma vez no abdômen trabalhado. Sehun só se deixou levar aproveitando a mão sapeca que continuava descendo até alcançar sua ereção matinal.
Ele reprimiu um gemidinho manhoso ao sentir a mão do outro subir e descer tão lentamente por seu membro que parecia uma tortura muito doce. Sehun empurrou a bunda contra o pau do namorado, esfregando-se nele com movimentos tão vagarosos quanto a masturbação que recebia.
Ao sentir o falo do mais novo crescer e ficar duro Baekhyun o deixou, recebendo resmungos protestantes que vinham do fundo da garganta de Sehun. Ele levou seus dedos aos lábios rosados do mais novo, sentiu o próprio pau pulsar ao sentir a quentura da língua atrevida molhar seus dedos para o que viria a seguir.
Sehun apertou a fronha do travesseiro ao sentir dois dedos provocarem sua entradinha antes de finalmente penetrá-los na fenda. O mais novo se abria facilmente para suas investidas, ele movia a bunda contra seus dedos tentando senti-los mais fundo.
— Baekhyun... anham — soltou um gemido um tanto alto e tentou afundar o rosto no travesseiro para abafar.
— Você ama quando a gente faz amor assim — esboçou convencido no ouvidinho do mecânico. Sehun não poderia discordar, pois de fato amava ser fodido de ladinho logo depois de acordar. Ainda mais quando Baekhyun sabia exatamente onde tocá-lo para vê-lo tremer e implorar. Não demorou para seus dedos roçarem sua próstata, o suficiente para fazê-lo querer mais, porém não o bastante para satisfazê-lo.
— Por favor… — Sehun implorou tentando se empurrar novamente contra seus dígitos.
— Por favor, o quê? — questionou lascivo.
— Me come, Baekhyun — o pedido saiu quase como uma súplica na voz rouquinha de um Sehun que havia acordado preguiçoso. O mais velho puxou os dedos de seu aperto gostoso com dificuldade e depositou um tapa estalado em sua bunda pálida.
— É meu pau que você quer, amor? — Baekhyun questionou malicioso. Queria provocá-lo com sua língua, mas Sehun já estava necessitado demais, ele não aceitaria menos que o pau do namorado.
— Uhum… bem aqui — pediu erguendo a nádega marcada pelo tapa do namorado, abrindo-se para ele. Baekhyun posicionou-se contra a entradinha que se contraiu em expectativa.
Sehun mordeu o lábio inferior ao sentir a cabecinha abrir o caminho para todo falo do namorado alojar-se em seu interior quente. Baekhyun abraçou sua cintura para moverem-se juntos em um ritmo viciante que fazia seus corpos se arrepiarem. A cada estocada a sensação de deleite aumentava, os deixando embriagados de amor.
— Eu te amo muito — Baekhyun declarou à medida que suas mãos apalpavam o corpo curvilíneo. Ele passou a brincar com seus mamilos, o fazendo gemer um pouco mais alto, num tom entre manhoso e devasso.
Eles estavam no limite. Era muito cedo e não precisavam de muitos estímulos para gozarem. Baekhyun sabia que só precisava de mais umas investidas no cuzinho apertado do namorado para vir dentro dele.
A mão delicada fez menção de abandonar os mamilos para masturbá-lo, mas Sehun o impediu. Ele guiou seus dedos para beliscar com força os botões rosados e puxá-los ao ponto de arder.
— Eu quero gozar só com seu pau.
O pedido de Sehun o fez segurá-lo com mais força e aumentar a velocidade das estocadas.
— Tá gostoso assim? — Baekhyun indagou rindo sem vergonha. Ele deferiu um tapa na bunda farta, fazendo ela chacoalhar e seu membro ir mais fundo nele.
— Cassete! — Sehun revirou os olhos quando Baekhyun encontrou o ponto dentro dele que o fazia perder todo controle. — Tá perfeito, me faz gozar assim, amor.
Em algum momento entre a entrada e saída de seu membro, o mais novo esqueceu de se controlar e passou a gemer mais alto. A cama também começou a chocar-se contra a parede, provocando sons de batidas e rangidos.
— Mmmh, Baekhyun.... caralho.
Ele gemia ao sentir uma queimação surgir em seu baixo ventre, seu pau doía para ser tocado. Mas tratava-se de uma ardência tão prazerosa que Sehun apertava a fronha do travesseiro e se arremetia contra o nada enquanto seu corpo tentava lidar com a pressão que Baekhyun fazia em seu ponto de prazer. Haviam também os dedos do loiro beliscando seus mamilos do jeitinho que gostava.
Sehun não conseguia mais se segurar. Quando o mais velho torceu seus botões rosados até eles ficarem vermelhos, seu pau latejou tão forte que linhas grossas de gozo esguicharam pela fenda sensível fazendo todo seu corpo estremecer com o clímax. Contraiu-se todinho apertando o noivo de um jeito tão gostoso que ele não pode se controlar, terminando por encontrar seu próprio clímax. Eles trocaram um beijo afoito e apaixonado antes que Baekhyun se retirasse de dentro dele.
Baekhyun ficou assistindo o buraquinho pequeno com as bordinhas avermelhadas se contrair. Sehun mordeu o lábio ao sentir o líquido quente do namorado transbordar, escorrendo para fora. As listras brancas deslizavam por suas nádegas, testículos e coxas.
Baekhyun pensou que teria um ataque cardíaco, ele poderia foder o namorado de novo só por ele ser tão gostoso.
— Deveria ser um crime ser tão gostoso — ele deu mais um tapa em sua bunda, ficando fascinado ao vê-la chacoalhar.
— Você tem uns fetiches estranhos com a minha bunda — Sehun expressou virando-se para deitar a cabeça em seu peito e abraçá-lo como se ele fosse seu ursinho.
— Falou o cara que tem fetiche em foder minhas coxas.
— Você já viu suas coxas? — perguntou indignado.
— E você já viu sua bunda? — devolveu a pergunta o fazendo rir corado. — Ela é totalmente palpável, beijável e fodível.
— Você não tem um pingo de vergonha na cara? — Sehun indagou risonho.
— A vergonha eu perdi em algum lugar da sua bunda.
— Com certeza foi no mesmo dia que você perdeu uma camisinha nela — Sehun resmungou fazendo namorado gargalhar.
— Toda vez que me lembro daquela noite sou grato por ainda ter um pau, eu me senti castrado só pelo jeito mortal que você me olhou quando eu disse que a camisinha tinha sumido.
Em uma das noites que foram ao drive motel que gostavam, Baekhyun acabou comprando o tamanho errado de camisinhas. No final acabou fazendo uma bagunça muito maior no banco do carro do que se não tivesse usado nenhuma.
— Na época eu quis te matar, mas agora não consigo lembrar daquilo sem rir — Sehun admitiu ao entregar-se a gargalhadas com o namorado.
Ao longo dos anos eles construíram uma história repleta de altos, baixos, lágrimas e risadas. Eles sabiam aproveitar a vida juntos e esperavam aproveitar muito mais quando estivessem casados.
— Vamos ter que tomar mais um banho, desse jeito até o final da viagem não vamos conseguir sentar — Sehun falou horrorizado com o próprio pensamento.
— Nós ficamos muito tempo afastados pelas minhas provas, eu estava com muitas saudades dos nossos momentos íntimos.
Sehun assentiu concordando. Eles estavam se falando somente por mensagens e quando se encontravam em alguma cafeteria ou restaurante era tudo tão corrido.
— Ainda bem que você vai se formar esse ano, falta tão pouco agora — o mais novo falou com olhar orgulhoso.
Ao mesmo tempo que tinha orgulho, se sentia um pouco mal porque o namorado estava terminando a segunda graduação enquanto ele sequer tinha previsão para começar um curso superior.
— Qual o motivo dessa carinha triste? — Baekhyun perguntou ao perceber.
— Não é nada.
— Ninguém fica triste por nada, baby.
Sehun depositou um beijo no peitoral do mais velho.
— Eu também queria estudar numa faculdade igual a sua.
Aquela declaração partiu o coração de Baekhyun em dois.
— Eu poderia pagar pelos seus estudos.
— Não vamos começar essa discussão de novo. Eu já aceitei que você pague pelo casamento, pela lua de mel e pelo lugar onde vamos morar, mas não posso aceitar que pague pelos meus estudos — Sehun falou cabisbaixo. Não era uma questão de orgulho, era uma questão de dignidade. Aquela era uma conquista que desejava alcançar sozinho. — Não fique chateado comigo por não aceitar.
— Não estou chateado com você. É que às vezes eu me sinto impotente por ter tantos recursos e você não me deixar realizar seus sonhos.
Sehun esticou o braço para alcançar o controle da televisão.
— O sonho do seu noivo agora é assistir um filminho agarradinho com você, por que não realiza esse sonho?
Baekhyun não pode conter um riso.
— E o banho, Oh Sehun?
— O banho pode esperar, amor.
— Porquinho, precisamos tomar banho antes de ver filmes.
Baekhyun beliscou o nariz do mais novo levemente.
— Mas tá tão gostoso aqui — murmurou manhoso puxando o cobertor para cobri-los mais.
— Só uns minutinhos e depois nós vamos tomar banho.
Baekhyun observou o mais novo mexer em uma plataforma de filmes com o controle. Sehun escolheu uma animação e deixou o primeiro episódio rodando enquanto curtia o abraço do namorado.
{...}
Baekhyun ficou deitado na cama depois do banho enquanto Sehun saiu do quarto para buscar uma cesta de café da manhã para ambos. O noivo queria pedir para um empregado levar no quarto, mas Sehun insistiu que gostaria de ir buscar.
Ele quase se arrependeu daquela escolha quando fechou a porta da suíte e viu a porta do quarto ao lado ser aberta. Quem saiu de lá foi justamente a última pessoa que queria ver pela manhã, o mauricinho Choi Mingi.
Era claro que Byun Yerin colocaria os irmãos Choi próximos da suíte do filho, só podia ter sido proposital. O rapaz sorriu descaradamente ao vê-lo.
— A sua intenção era provar que é um furacão na cama? — Mingi perguntou debochado fazendo Sehun franzir o cenho. — Porque o seu objetivo foi atingido. Os seus gemidos parecem uma música viciante, mas acho que o seu namoradinho não alcançou todo o seu potencial. Eu poderia te fazer gemer bem mais alto que ele, você nunca mais iria querer outro pau.
Choi Mingi prometeu sem o mínimo de decência, demonstrando ter ouvido um pouco da conversa do casal enquanto transavam. A expressão alegre de Sehun converteu-se em uma careta zangada.
— Esse é o seu método de conquista? — Sehun perguntou com tom crítico. — É perceptível o motivo por trás de você ainda ser solteiro. Você não chega perto sequer da sombra do Baekhyun, o meu namorado é único, ele é como o oceano e você está mais para um esgoto a céu aberto.
Pela primeira vez Sehun viu os olhos de Choi Mingi perderem o brilho, ele pareceu chocado com sua comparação.
— Quer saber? Meu namorado me deixou muito feliz hoje e você não vai estragar meu dia.
Sehun tentou seguir em frente, mas o mais velho segurou seu pulso e o puxou para trás.
— Eu não queria te estressar, só estava brincando, Sehun. Por que você tem que ser tão esquentadinho? Nós podemos apenas começar do zero e descer juntos?
Mingi sorriu gentilmente mostrando uma fileira de dentes tão branquinhos e bem cuidados que até brilhavam.
— Você tem um sorriso tão lindo… — Sehun disse o pegando de surpresa. — Se quiser manter todos esses dentinhos bonitinhos na boca é melhor me soltar agora.
Mingi soltou seu braço ao ser ameaçado. Algo no olhar de Sehun dizia que ele não estava blefando.
— Já se perguntou por que está tentando fugir de mim? Talvez esteja com medo de cair na tentação, eu sei que não vai me resistir por muito tempo.
Sehun olhou em volta como se estivesse buscando de onde vinha algum som.
— Está ouvindo isso, Mingi?
— Isso o quê? — ele perguntou confuso.
— Acho que a sua noção está te chamando, você esqueceu ela em Seul. Se eu fosse você correria pra buscá-la — sugeriu sorrindo debochado. O mais novo virou-se de costas para Mingi, finalmente seguiu com seus planos de buscar um café da manhã maravilhoso para o homem que amava.
{...}
Três anos atrás…
Lanchonete, 28 de junho de 2018.
Meosjin Jeonmang, Seul.
Oh Sehun estava escorado no balcão de uma lanchonete próxima da oficina do pai, ele estava assinando uma ficha de convênio enquanto a atendente preparava quatro marmitas. A moça guardou o convênio assinado e entregou ao mecânico as marmitas em embalagens de isopor dentro de uma sacolinha branca reforçada.
Ao sair da lanchonete Sehun caminhou pela calçada, pouco movimentada para o horário. Ele comprou uma marmita para ele, uma para o pai, uma para Jongin e outra para Changmin, eles estavam sozinhos naquele dia.
Estavam com pouco movimento naquela semana, Hyunjin havia brigado com um dos homens da Shazam e isso acarretou o afastamento de alguns clientes que ficaram com medo. Seu pai negou-se a mexer em um carro por não ter documentos, porque com certeza era roubado e Hyunjin não aceitava carro roubado na oficina.
O mais velho não estava preocupado, ele fez uma ligação para um velho amigo e recebeu uma promessa que os membros da Shazam nunca mais colocariam sequer um pé na oficina dele, muito menos causariam problemas aos seus negócios.
Sehun estava tão distraído que foi surpreendido ao sentir seu braço ser puxado bruscamente. Ele se viu forçado a virar-se deparando-se com um peitoral forte de um homem um pouco mais alto e mais musculoso que ele.
— Sehun, você não estava me ouvindo? — ele perguntou enraivecido. O corpo de Sehun estremeceu ao ouvir aquela voz. Uma sensação horrível formigou em seu estômago como se fosse vomitar a qualquer momento.
— Eu preciso falar com você.
Sehun olhou para cima, deparando-se com os olhos escuros do dono daquela voz. Lá estava ele, Park Haneul, vinte e oito anos, membro da Shazam, 1,87 cm de altura e um egoísmo maior que ele próprio.
— Eu não tenho nada pra falar com você — comunicou ao recuperar a consciência. Doía até mesmo olhar para o rosto daquele desgraçado. Ele tentou afastar-se, mas foi arrastado para um pequeno vão entre uma lojinha de álbuns de kpop e um bar pequeno.
— Eu disse que preciso falar com você — o rapaz repetiu com tom autoritário. As costas de Sehun colidiram contra a parede e a sacola com as marmitas caíram no chão.
— O que você quer comigo, Haneul? — Sehun indagou amedrontado.
— Eu quero voltar com você, eu senti sua falta.
Uma risada sem humor escapou por seus lábios.
— Como você tem coragem de me dizer isso depois do que fez comigo?
— Sehun, eu não sabia o que fazer. Você me deixou assustado, eu achei que você estava morrendo.
— E ao invés de chamar uma ambulância você achou que era uma ótima ideia me largar sozinho para morrer em um quarto de motel de quinta, vestindo uma droga de camisola sexy? — perguntou ainda mais indignado. A lembrança daquela noite ainda o deixava com vontade de chorar, entretanto ele não se permitiria cair aos prantos na frente daquele filho da puta.
— O que você queria que eu fizesse? Eu fiquei com medo de envolverem a polícia — Haneul acariciou a bochecha do mais novo. — Eu sinto muito, Sehun. Nós podemos esquecer isso, eu realmente senti sua falta nesse tempo, acredita em mim.
— Você desapareceu por semanas e agora vem me dizer que sentiu minha falta?
— Eu estava com vergonha do que fiz.
Sehun podia detectar a falsidade em seu tom. Era tudo encenação, sempre foi uma encenação.
— Você me largou sozinho em um motel no meio de um ataque de pânico, nada do que faça ou diga vai me fazer te perdoar.
— Mas você está bem agora-
— Mas não foi graças a você. Tem noção da humilhação que eu passei quando chamaram uma ambulância no motel? Eu não sabia nem como encarar o meu pai depois que ele me viu vestindo a roupa que você me obrigou a usar. O Hyunjin precisou ir me buscar lá e ainda por cima teve que pagar a conta — Sehun berrou enfurecido.
— Me desculpa por isso, vamos virar essa página. Só me diz o que eu posso fazer por você pra me perdoar?
— Desaparece da minha vida, porque eu nunca mais quero te ver na minha frente.
Sehun praticamente suplicou no tom empregado.
— Isso não! Você não vai terminar comigo.
— Você terminou nosso relacionamento quando me largou na pior das situações.
Sehun o empurrou com intenção de sair, porém foi puxado novamente com emprego de força bruta.
— Eu não sou como o otário do Donghae. Você não vai virar as costas pra mim, Sehun — gritou referindo-se a um dos antigos namorados do mais novo.
— Me larga! Por que você está fazendo isso comigo? — interpelou retoricamente. — Você nem gosta de mim, Hanuel. Você não sentiu minha falta, você sentiu saudades de ter um capacho pra pisar e humilhar. Aposto que voltou aqui porque não encontrou outra pessoa que aceitasse tudo que você fazia comigo, ninguém mais deve ter caído no seu joguinho de poder e eu também não vou mais cair nessa. Saiba que você nunca mais vai se aproveitar das minhas inseguranças, Hanuel. Eu nunca mais vou deixar você ou qualquer outro homem me usar ou me machucar.
A afirmação do mais novo o deixou desconcertado, pois Sehun nunca tinha erguido a voz ou tentando se defender com tanto afinco.
— Se você me procurar de novo, eu vou pedir para o meu pai falar com o Minjun. Caso ainda não esteja sabendo, agora ninguém da Shazam pode colocar sequer um pé na oficina Oh.
O olhar assustado de Haneul demonstrava que já estava ciente do aviso sobre a oficina. Ele sabia muito bem o que aconteceria se não deixasse Sehun em paz.
— Se terminar comigo acha que mais alguém vai te querer? A sua sorte é que você tem um rostinho bonito, pode até atrair outros homens, mas acha que alguém aguentaria ficar com uma aberração como você? — Haneul falou rindo sadicamente. — Você sabe muito bem disso, por isso se agarra em qualquer um que te dá um pouquinho de atenção, por isso usava tudo que eu mandava e fazia tudo que eu queria. Você é como uma cadelinha domesticada, fiquei sabendo que foi o Donghae que te adestrou e devo admitir que ele fez um excelente trabalho, nunca vi alguém se rebaixar tanto por um pau. Eu já bebi com o Donghae muitas vezes, ele me contou todos os seus podres, tudo que você fazia pra ele… você é nojento, Sehun. Eu só queria comprovar se era tudo verdade, mas eu nem conseguia sentir tesão com você sem apagar as luzes ou te enfiar naquelas roupas, quem sentiria? Você é uma aberração, é uma cadela igual sua mãe, quem sabe acaba igual aquela vagabunda-
— Cala a boca! Cala a boca! Cala a boca!
Ele tapou os ouvidos berrando descontrolado. Suas costas deslizaram pela parede até sentar no chão. Um sorriso maldoso se formou nos lábios do membro da Shazam.
— Eu vou esquecer de você, Sehun. Mas você sempre vai se lembrar de mim, principalmente quando estiver sozinho porque ninguém te quis. Você vai lembrar desse dia e vai se arrepender por ter me perdido.
As mãos do mais novo deslizaram pelos próprios braços, ele se encolheu naquele cantinho desejando poder desaparecer.
Estava tão exausto daquele ciclo sem fim de cair e levantar, cair de novo e levantar de novo. Sentia-se como o próprio Sísifo, condenado a empurrar uma pedra até o topo de uma montanha todos os dias para todos os dias a mesma pedra rolar para o outro lado. Ele tinha que empurrá-la até o topo infinitamente.
Sehun fechou os olhos e implorou por misericórdia ao universo. Até mesmo o mais forte dos guerreiros precisava de uma sombra e água fresca. Seu coração precisava de um descanso.
{...}
Dias atuais...
Propriedade privada, 17 de julho de 2021.
Ilha Solar, Incheon
Sehun ficou um tempo na cozinha preparando alguns lanches, frutas e sucos. Queria fazer um piquenique no quarto do mais velho enquanto assistiam filmes.
Estava atravessando a área da piscina quando se deparou com Choi Yunho, ele vestia somente uma sunga preta e carregava uma toalha no ombro. Só podia ser sacanagem, encontrar os irmãos insuportáveis de manhã.
— Bom dia, Sejun! — expressou cinicamente.
— É Oh Sehun — o corrigiu. Estava de saco cheio dos irmãos Choi.
— O Baekhyun não está com você?
— Ele está descansando no nosso quarto… — Expressou sorrindo atrevido. Sehun percebeu que seu tom deixou Yunho incomodado.
— Eu sei como ele é, o Baekhyun tem muito fogo, né? Quando a gente viajava juntos ele me prendia no quarto do hotel e não me deixava sair. Era uma loucura, quando a gente namorava tudo era maravilhoso.
— Pelo visto só era maravilhoso pra você, porque pelo o que o Baekhyun me contou não era tão incrível assim pra ele.
Yunho riu.
— Isso foi um ataque? Não precisa se sentir intimidado com a minha presença, garoto.
Sehun gargalhou escandalosamente como se houvesse acabado de ouvir a piada mais engraçada do mundo.
— Por que eu ficaria intimidado com a sua presença, Yunho?
— Porque eu e o Baekhyun namoramos por dois anos e meio, a família dele me adora e nós vivemos momentos inesquecíveis viajando juntos pelo mundo.
Os olhos de Sehun brilharam perigosamente. Ele não abaixou a cabeça sequer por um segundo.
— Você deve ter muitas lembranças, não é mesmo?
O Yunho assentiu positivamente com um sorriso vitorioso tremendo nos lábios.
— Guarde bem essas lembranças, porque tudo que você vai ter do Baekhyun são memórias do passado enquanto eu posso tê-lo todos os dias da minha vida. Eu não me importo com nada que vocês tenham vivido juntos, quem vive de passado é museu.
Sehun arregalou os olhos e ergueu o dedo indicador encenando ter lembrando de algo importante.
— Ah! E tem mais… se eu fosse sentir ciúmes de um dos antigos namorados do Baekhyun pode ter certeza que não seria do cara que levou um pé na bunda porque fazia ele se sentir infeliz e sufocado. Ele nunca te amou, ele só te aturava, mas agora ele sabe como é estar com um homem que o faz feliz de verdade. O Baekhyun jamais trocaria o que temos por alguém como você.
— Um homem? Você é só um moleque que está se garantindo demais, porém não passa de um parasita que deseja usufruir da fortuna dele. O Baekhyun só está se divertindo com você, garoto. Homens como nós nunca vão levar a sério vermes como você, assim que perder a graça o Baekhyun vai te jogar fora e arrumar um novo brinquedinho, aproveita o luxo enquanto pode.
O sorriso nos lábios do mais novo não morreu com aquelas palavras, ele somente cresceu.
— Ainda bem que o Baekhyun não é um homem como você e eu não me importo com o dinheiro dele. Não vou perder meu tempo explicando o que eu e o Baekhyun temos, porque você é ignorante demais para entender que amor não se compra, o amor se conquista.
Choi Yunho ficou sem palavras, assistindo o mais novo seguir na direção da entrada da casa.
{...}
Dias atuais...
Propriedade privada, 17 de julho de 2021.
Ilha Solar, Incheon
A mesa extensa na área da piscina foi organizada pela equipe do buffet para o jantar dos Byun. Todos estavam reunidos mais uma vez conversando e rindo como de costume, apreciando um bom vinho e um ceviche de linguado como prato de entrada.
— Como estão seus pais Yunho? — perguntou Seo Minnie, uma das irmãs de Yerin.
— Eles estão ótimos, os dois estão aproveitando a aposentadoria agora que eu e meu irmão assumimos o negócio da família.
— Com o que vocês trabalham mesmo?
A pergunta surgiu de uma prima distante dos Byun. Baekhyun estranhou considerando o fato que ela usava diversas joias da Aurora.
— Eles são donos da Aurora, uma das maiores marcas de joias de luxo da Ásia. O Yunho e o Mingi estão administrando os negócios da família muito bem, estão elevando a Aurora para outro patamar — Byun Yerin respondeu no lugar do rapaz.
— Os seus pais devem estar muito orgulhosos.
A avó de Baekhyun comentou.
— Os meus pais sentem muito orgulho. Nós estamos planejando dominar o mercado na Europa e o meu irmão vai comandar as filiais que vamos abrir lá.
Mingi sorriu ao ser mencionado pelo irmão.
— Eu tenho certeza que vão conseguir, ainda mais com vocês dois no comando — Yerin falou fazendo Minnie concordar com a cabeça.
— Se você e o nosso Baekhyun casassem seriam o casal mais poderoso do ramo. Você foi o melhor parceiro do meu sobrinho, vocês formavam um casal tão lindo — Minnie assegurou sorrindo cinicamente.
— Mas o Yunho não é mais meu namorado, titia. Eu estou com o Sehun agora. Tudo isso ficou no passado e nunca mais vai voltar — Baekhyun intercedeu na conversa, não aguentava mais ouvir insinuações por parte de alguns familiares.
— Nunca diga nunca, não sabemos como pode ser o amanhã.
A avó de Baekhyun interrompeu sabendo que o neto não responderia por respeitá-la e ela estava certa. Mesmo que estivesse incomodado, não tentou discutir com a mais velha.
— E o que o Sehun faz? — Karina inquiriu encarando o mais novo.
— Eu sou mecânico na oficina do meu pai — falou rapidamente, pois não permitiria que Yerin tentasse cortá-lo novamente.
— Você é engenheiro mecânico, Sehun? Qual o nome da rede de oficinas do seu pai? Talvez eu conheça — Karina perguntou fingindo estar interessada na vida dele.
— Ele não é um engenheiro. O Sehun não é formado em nada e nem faz faculdade.
Yerin respondeu no lugar do genro, mas Sehun não se deixou abalar pelo tom de desdém dela.
— Na verdade, eu sou formado em cursos técnicos e pretendo me especializar na área na medida do possível. O meu pai não tem uma rede de oficinas, ele só tem uma oficina que fica em um bairro pequeno.
— Que pena! Poderia ser muito vantajoso se vocês tivessem uma rede de oficinas para agregar na empresa automobilística da família Byun — Minnie disse com tom de decepção.
— Eles não precisam ter uma rede para agregar nos negócios da família — Dongwan intercedeu pelo namorado do sobrinho.
— Sogrinha, essa é a pulseira que eu te dei naquela viagem para Pequim?
Yunho desviou o assunto ao perceber uma pulseira de esmeraldas no pulso de Yerin. Ela acariciou a pulseira sorridente.
— É ela mesma. Eu guardei com muito carinho todos os presentes que me deu e o Baekhyun também guardou todos eles. Principalmente aquele relógio raríssimo que você deu no aniversário de namoro de vocês.
— Eu vou ao banheiro, licença...
Sehun afastou-se tentando disfarçar a raiva e o incômodo que sentia. Prometeu que não deixaria aquilo afetá-lo, contudo não imaginou que as coisas poderiam piorar.
A mesa de jantar parecia ter virado um campo de batalha e ele tinha mais inimigos do que aliados. O fato de Yunho continuar chamando Yerin de sogra na frente de todos os familiares do noivo o tirava do sério, não esperava que ele continuasse sendo tão inoportuno.
Além dos comentários desagradáveis e a impertinência dos irmãos Choi, ainda tinha que lidar com o descaso do noivo. Baekhyun não pediu sequer uma vez para o ex-namorado parar de chamar a mãe dele de sogra. Baekhyun também não se posicionou como deveria diante das vezes em que insinuaram que ele deveria voltar a namorar com Yunho. Se antes não estava bravo com Baekhyun, agora estava muito puto com ele.
Ele podia ter feito muito mais desde que Yunho chegou na ilha, nem parecia o mesmo homem que brigou com os caras da Shazam.
Os banheiros na área da piscina lembravam os de shopping. Havia uma porta com indicação para homens e outra para as mulheres.
Ao atravessar uma das portas, Sehun deparou-se com um espaço amplo. Havia quatro cabines com duchas para banho, alguns armários com diversas toalhas limpinhas, seis cabines sanitárias e um balcão extenso de mármore com quatro pias.
Ele escorou as mãos na pia mais próxima do centro do balcão implorando mentalmente para não chorar de novo. Não daria aquele gostinho para sogra, era aquilo que ela queria.
Sehun lavou o rosto, secou as mãos e respirou profundamente como se aquilo fosse amenizar a raiva que estava sentindo.
Ao olhar novamente para o espelho assustou-se ao ver o irmão de Yunho parado atrás de si. Ele nem havia percebido a presença indesejada do outro.
“Era só o que faltava”
— O que está fazendo aqui?
A pergunta zangada não impediu que o rapaz se aproximasse mantendo um sorriso descarado nos lábios.
— Para um mecânico você é um rapaz muito bonito, diria que um dos homens mais lindos que já vi. O Baekhyun é um homem de sorte mesmo.
Sehun engoliu a seco odiando seu tom provocativo. Mingi estava sempre o encarando com desejo, entretanto naquele momento seu olhar o fez sentir um mal pressentimento.
— Eu já disse pra ficar longe de mim — advertiu sendo ignorado pelo rapaz.
Mingi analisou suas costas largas, sua cintura fina e parou seu olhar em sua bunda arrebitada. Ele lambeu os lábios como se estivesse com sede e Sehun fosse a única fonte de água por perto.
— Você sabe usar toda essa beleza ao seu favor, não é? Eu estou um pouco curioso, você também se fez de difícil quando conheceu o Baekhyun? — perguntou com um sorriso perverso.
— Do que está falando? — Sehun retrucou confuso.
— Não finja que não sabe.
Sehun sentiu-se intimidado quando o outro cortou toda distância entre eles. Seu corpo paralisou e seus músculos pararam de responder seus comandos quando foi surpreendido pelas mãos de Mingi. Em um piscar de olhos, ele agarrou seu quadril com uma força bruta.
— Se você é um putinho pra ele, por que não pode ser pra mim?
Aquela palavra desencadeou lembranças que passavam como um filme pela mente de Sehun. Sentiu-se tão pequeno e indefeso, seu coração disparou conforme outra voz predominava em sua mente, uma voz grossa e cruel. Uma voz que fazia suas pernas amolecerem e suas cicatrizes queimarem como se voltasse ao dia 26 de janeiro de 2006.
Ele ficou sem reação ao sentir os lábios do outro próximos demais de seu ouvido.
— Eu não consigo parar de pensar nos seus gemidos, eu preciso ter você — Mingi declarou fascinado. O mais velho o fez virar-se de frente para si e o prensou contra o balcão de mármore. — Me diz qual seu preço? Quanto o Baekhyun paga para transar com você? Eu posso te dar muito mais do que ele, eu posso fazer de você um modelo famoso. Com esse corpo e esse rostinho bonito você pode ter tudo que quiser.
Ele apertou a cintura de Sehun com uma mão e com a outra acariciou sua bochecha pálida. Sua respiração estava ofegante e o rapaz sequer percebeu que seus olhos estavam marejando.
— Eu não disse que iria te domar? Você vai ser meu.
Sentir os lábios do rapaz pressionados contra os seus foi como uma corda o puxando para realidade, Sehun arregalou os olhos. A língua de Mingi tentou pedir passagem entre seus lábios crispados. Mas o corpo de Sehun foi tomado por uma repulsa tão forte que o fez recobrar os sentidos para reagir.
Ao sentir o mais novo lutando, Mingi o segurou com mais força e o obrigou a sentar sobre o balcão de mármore. Ele enfiou-se entre suas pernas e suas mãos apertavam os pulsos de Sehun ao ponto de machucá-lo.
Nojo, ódio e medo borbulhavam dentro de si. A variação de sentimentos que sentia foram se intensificando até explodirem em forma de força.
Sehun conseguiu empurrá-lo com brutalidade, o fazendo tropeçar para trás. Logo em seguida, seu punho chocou-se contra o rosto do rapaz que havia feito por merecer aquela dor.
— Não se aproxime de mim nunca mais, eu nunca vou ser seu. Eu não estou à venda! Eu não sou um objeto que você pode comprar com o seu maldito dinheiro.
Mingi cambaleou para trás totalmente perplexo. Baekhyun entrou no banheiro chocando-se ao ver Sehun ofegante com olhar desnorteado e o irmão de Yunho machucado.
Ele estava estranhando a demora do namorado e Karina comentou que ele deveria ir atrás de Sehun, pois ele poderia ter se magoado com a conversa de Yunho e Yerin.
— O que está acontecendo aqui? — Baekhyun perguntou apreensivo. Choi Mingi olhou em sua direção o fazendo cobrir os lábios em choque. Havia sangue escorrendo por suas narinas.
— Céus! Mingi, você está bem?
Ele aproximou-se do rapaz que estava com o nariz inchado devido ao soco que recebeu.
— Sehun, você fez isso com ele? — Baekhyun perguntou afobado sem entender o que estava acontecendo. Os olhos do mais novo cintilavam em um misto imensurável de sentimentos.
— Quer saber? Fodam-se todos vocês! Fica aí cuidando desse monte de bosta — Sehun vociferou exausto.
O namorado preferiu correr na direção de Choi Mingi ao invés de ver como ele estava. Aquilo foi a faísca de fogo que faltava para seu pavio de pólvora ser totalmente consumido e simplesmente estourar. Sehun saiu do banheiro tão rápido quanto um vulto. Baekhyun encarou o irmão do ex-namorado.
— O que aconteceu aqui, Mingi? — Baekhyun perguntou sentindo-se perdido.
— O seu namoradinho deu em cima de mim. Eu o rejeitei, ele ficou bravo e me bateu por isso.
Baekhyun se afastou de Mingi como se houvesse acabado de levar um choque elétrico por tocá-lo. Ele desistiu de ajudá-lo imediatamente.
— O Sehun nunca faria isso — defendeu o namorado com convicção. Nada que aquele rapaz dissesse poderia fazê-lo pensar o contrário de seu namorado. Algo muito sério havia acontecido naquele banheiro e ele precisava ouvir a versão da única pessoa em quem confiava.
— Mas ele fez! O seu namorado não presta... aí... aí... acho que ele quebrou meu nariz — choramingou sendo ignorado pelo loiro.
Baekhyun o deixou sozinho no banheiro, ele saiu de lá sem falar mais nada. A movimentação do casal alarmou os convidados que ainda estavam jantando.
{...}
Ao entrar na suíte que compartilhavam, Baekhyun encontrou o noivo arrumando algumas roupas em sua mala e na mochila que levou para viagem.
— Sehun, o que está fazendo? — perguntou desesperado, ganhando em resposta um olhar furioso do namorado.
— O que parece que eu estou fazendo? Eu vou embora, Baekhyun — explicou jogando a última roupa na mala.
— Eu posso engolir sua mãe me humilhando, posso suportar os olhares tortos de alguns dos seus familiares, posso até relevar os comentários maldosos das suas primas cobras, mas o Yunho e o irmão dele? Isso já passou de todos os limites.
— Eu pensei que a gente tivesse concordado que a presença dele não mudaria nada entre nós.
Sehun passou a mão pelo cabelo, puxando os fios com força.
— Isso foi antes! Eu não achei que ele fosse ficar chamando a sua mãe de sogrinha na frente de toda sua família e que as suas primas ficariam lembrando toda hora que ele foi seu melhor namorado. E sabe o que me deixa mais chateado? — questionou encarando Baekhyun com os olhos cheios de lágrimas. — Você não faz porra nenhuma! Você não tentou corrigir o Yunho sequer uma vez. Faz ideia de como doí ver outro cara chamar minha sogra de sogrinha na frente de tudo mundo e a porra do meu namorado simplesmente deixar? Sabe como foi humilhante? Você só ficava assistindo-os engrandecendo o Yunho e dizendo o quanto vocês eram um casal perfeito enquanto eu sou só um mecânico sem nada para oferecer. Até o Dongwan me defendeu e você só tentava amenizar as coisas sem tomar uma atitude de fato. Eu não tenho sangue de barata, Baekhyun.
A voz do mais novo estava embargada e lágrimas grossas passaram a escorrer por suas bochechas rosadas.
— Você foi um babaca! — gritou ao lembrar o que Baekhyun disse antes da viagem, o fazendo se sentir pior do que já estava se sentindo. — Você foi um puta de um babaca comigo. Enquanto você ficava surfando na onda da sua mãe, aquele nojento do Mingi ficava me atormentando e me perseguindo. E lá no banheiro foi horrível! Eu nunca me senti tão sujo.
A expressão de Baekhyun mudou completamente.
— Sehun, o que aconteceu lá?
— Não importa, porque não vai lá fazer sala para o seu ex-namorado. Quem sabe a sua mãe realiza o sonho dela de ver vocês dois casados.
— Não diga bobagens. Eu jamais casaria com o Yunho, eu quero casar com você e tudo sobre você me importa. Eu quero saber o que aconteceu. Se você bateu nele foi por um motivo, o que ele fez pra merecer o soco, Sehun? — Baekhyun questionou impaciente. No mesmo instante seus olhos notaram as marcas de dedos nos pulsos de Sehun.
— Desde que chegou aqui ele ficou me encarando, dando em cima de mim e ontem eu voltei mais cedo da praia porque ele tentou me beijar fingindo ser você. Hoje lá no banheiro ele me ofereceu dinheiro pra transar com ele, ele me ofendeu, insinuou que você paga pra ter sexo comigo e que ele poderia me dar muito mais se fosse pra cama com ele. Ele me agarrou à força, me beijou, me chamou de uma das palavras proibidas. Então eu o soquei e teria socado de novo…
Os olhos do Byun acenderam como um par de vulcões prestes a entrarem em erupção. Não esperou o mais novo falar sequer mais uma palavra antes de sair do quarto numa velocidade assustadora. Ele desceu os degraus da escada, pulando alguns, quase caindo de tanta raiva.
Baekhyun só parou quando visualizou Choi Mingi sentado no sofá da sala de estar. Yerin estava cuidando do nariz dele enquanto outros familiares o cercavam ouvindo as mentiras que o rapaz continuou contando sobre seu namorado.
O herdeiro dos Byun atravessou a frente da mãe como um vulto. Choi Mingi só teve tempo de ver um brilho mortal em seus olhos antes de ser agarrado pelo colarinho. Foi tão rápido que não teve tempo de se defender ou processar o que estava acontecendo. Baekhyun surpreendeu todos na sala, inclusive o próprio Mingi que recebeu um novo soco, dessa vez no olho. Logo em seguida ele recebeu outro, outro e mais outro que o fez cair deitado no sofá.
— Eu vou acabar com você, seu filho da puta, fodido! — Baekhyun prometeu, distribuindo socos nele. Daehyun e Dongwan correram para afastá-lo de Mingi que se encontrava extremamente chocado para revidar.
— Esse desgraçado tentou agarrar meu namorado à força — ele berrava contorcendo-se, tentando livrar-se do aperto do pai e do tio para avançar no rapaz novamente.
— Nem pense em fugir seu maldito covarde. Você nunca mais vai ter coragem de assediar alguém na sua vida, seu lixo — ele gritava queimando de raiva. Só de lembrar das marcas nos pulsos do namorado sentia vontade de quebrar todos os dedos de Choi Mingi.
— Foi o que ele te disse? O Sehun está mentindo, o Mingi me contou que seu namorado ficou dando em cima dele — Yunho intercedeu pelo irmão e acabou rindo em escárnio — Foi por isso que você me trocou, Baekhyun? Por um alpinista social? Um putinho mentiroso.
Baekhyun tirou forças de onde não tinha para pular no ex-namorado. Dongwan e Daehyun não foram capazes de segurá-lo.
— Eu vou te quebrar, Yunho! Eu juro que vou quebrar todos os seus dentes, seu mentiroso, desgraçado.
Os dois rolaram no chão da sala trocando socos enquanto alguns membros da família tentavam separar a briga e outros gritavam horrorizados.
— Nunca mais abre a sua boca imunda pra falar do Sehun, ele é tudo que você jamais seria.
Sehun desceu preocupado ao ouvir tantos gritos. Ele assustou-se ao ver o namorado sentado em cima de Yunho desferindo socos nele enquanto o rapaz tentava se defender socando seu abdômen.
Existia tanta raiva queimando em Baekhyun que ele sequer sentia a dor dos golpes que recebia. Tudo que importava era fazê-los pagar, ele esqueceu tudo que aprendeu com o avô sobre não usar violência para resolver conflitos, ele esqueceu todos os seus princípios, ele só queria que eles também sentissem algum tipo de dor. Não era justo deixá-los sair impunes depois do que fizeram com Sehun.
— Baekhyun, por favor, para!
Ao ser chamado por Sehun, Baekhyun permitiu que Dongwan finalmente o tirasse de cima de Choi Yunho. Yerin estava chorando desesperada, não era para aquilo acontecer.
— Baekhyun! Para com isso, por favor. Não se trata convidados assim-
— Eles não são convidados. São dois parasitas que não deviam estar aqui. O Yunho não faz mais parte dessa família, ele jamais deveria ter vindo para nossa ilha.
Baekhyun sentia-se arrependido por não ter feito aquilo desde o começo, teria evitado muita dor de cabeça.
— Você vai embora na próxima balsa, eu não quero você e seu irmão assediador na minha casa — esbravejou para Yunho.
— A casa é minha e o Yunho é meu convidado, você não pode expulsá-lo, Baekhyun — Yerin declarou entre lágrimas de nervosismo. Ela nunca tinha visto o filho agir de forma tão agressiva, aquilo só poderia ser influência de Sehun sobre seu menino. Baekhyun estava enlouquecido, os olhos dele chegavam a brilhar e seus punhos permaneciam fechados como se ainda não tivesse brigado o suficiente.
— Se ele ficar eu vou embora, é ele ou eu — Baekhyun deu um ultimato na mãe.
Yunho puxou os braços afastando-se dos tios de Baekhyun que estavam o segurando. O rosto do rapaz estava inchado, ele tinha alguns cortes no lábio e na bochecha.
— Está tudo bem, sogrinha-
— Para de chamar a minha mãe de sogrinha, Yunho. Ela não é sua sogra! Eu só aguentei namorar com você por dois anos e meio porque a minha mãe te adorava. Nosso relacionamento foi o namoro mais torturante de toda minha vida, eu não sou mais obrigado a te aguentar.
Yunho riu sem humor diante de sua fala.
— Eu vou, mas espero que você não se arrependa por isso.
Baekhyun encarou Mingi enquanto ele se levantava para sair com o irmão. Ele parecia zonzo, o olho direito estava tão inchado que mal conseguia mantê-lo aberto. Yerin chegava a tremer apavorada pelos ferimentos que o filho dela causou nos irmãos.
— Mingi, nunca mais ouse procurar pelo meu namorado. Se eu souber que você chegou perto dele, eu vou atrás de você e esse olho roxo vai ser o último dos seus problemas, seu covarde maldito.
Sehun pegou a maleta de primeiros socorros de cima da mesa central da sala e puxou Baekhyun na direção das escadarias, ignorando todos que estavam transtornados pela briga que se desenrolou diante de seus olhos na sala de estar. Byun Yerin acompanhou Choi Mingi e Choi Yunho para fora da mansão igualmente transtornada.
{...}
Ao chegarem no píer, Mingi olhou seriamente para Yerin. O rapaz estava apoiado em um dos empregados que os acompanhou para ajudar com as malas.
Eles estavam aguardando uma balsa para levá-los de volta para a costa de Incheon.
— Garotos, eu não sei como pedir perdão por tudo isso. Nada saiu como o esperado. Eu nunca imaginei que o Baekhyun faria isso com vocês. Eu pensei que o meu filho veria o Sehun beijando o Mingi e que iria terminar tudo com ele. Era para o Sehun estar nessa balsa e não vocês — descrente, ela explicou passando a mão pelos cabelos.
— Não é como se a gente nunca tivesse se metido em uma briga, não precisa ficar preocupada — Yunho comentou rindo contido pela dor no queixo.
— Yerin, você disse que o Sehun não prestava. Nós concordamos com isso porque acreditamos em você, mas ele não é nada do que você disse — Choi Mingi falou inconformado. — Aquele garoto não merecia nada disso, ele não caiu na minha lábia, ele sequer se interessou por mim ou pelo meu dinheiro. Eu mereci essa surra, nunca devia ter aceitado participar desse plano para separá-los. O seu plano não deu certo porque o Sehun ama o seu filho e o Baekhyun também o ama, tudo seria melhor se você aceitasse a relação dos dois.
Ela negou com a cabeça ser acreditar no rapaz.
— Você deve ter feito tudo errado. Eu deveria imaginar que aquele garoto é mais esperto. É claro que ele sacou que com o Baekhyun teria mais dinheiro e privilégios, só por isso não deu certo.
Yunho sorriu entristecido.
— Eu preciso concordar com o Mingi, o Baekhyun está em boas mãos. O garoto é corajoso e ganhou meu respeito. Se quer um conselho de amigo, eu diria para conhecer melhor o namorado do seu filho antes de julgá-lo.
Yerin ficou pensativa conforme a balsa se afastava levando os irmãos Choi embora da ilha. Ela não percebeu que alguns empregados estavam descarregando outra balsa.
{...}
Baekhyun gemia desgostoso ao sentir o namorado limpar seus lábios com anticéptico.
— Não devia ter brigado com os dois por mim — Sehun advertiu preocupado com alguns roxos que ficaram espalhados por seu abdômen. Ele estava sem camisa sentado na cama enquanto o namorado verificava os hematomas que Yunho deixou nele.
— Eu só me arrependo de não ter batido mais naquele filho da puta. Só de pensar no que ele te chamou, eu tenho vontade de descer e bater mais ainda nos dois — esbravejou conforme Sehun terminava de limpar cortes pequenos. — Eu não acredito que aquele desgraçado tenha beijado você à força. Sehun, eu quero voltar lá e acabar com a raça daquele infeliz. Você não tem noção da raiva que eu estou sentindo deles, da minha mãe, de mim mesmo. Eu fui tão babaca! Como eu não percebi o jeito que aquele maldito te olhava?
Baekhyun fez menção de levantar-se, mas Sehun o manteve sentado na beirada da cama.
— Você vai ficar paradinho aqui. Já passou! Eu estou mais calmo e agora você precisava se acalmar também — pediu jogando as gazes sujas de sangue dentro de uma sacola. Sehun depositou um beijo carinhoso em sua testa.
— Eu não consigo me acalmar.
As mãos do mais velho ainda tremiam.
— Isso me lembra a noite que os caras da Shazam te pegaram no beco — Sehun relembrou tentando distraí-lo.
— Desde aquela época nunca perdi uma briga — comentou um pouco orgulhoso.
— Pra um baixinho você é muito atentado. Me lembre de nunca sair no soco com você.
— Eu servi na marinha esqueceu? Eu tive treinamento intensivo em combate corpo a corpo.
Sehun riu assentindo positivamente para o namorado.
— Verdade, meu namorado foi marinheiro e faixa preta em hapkido.
Baekhyun acariciou a bochecha do mais novo. Sentia-se tão culpado por tudo que tinha acontecido, ele não foi firme o suficiente com a família.
— Me perdoa por tudo. Eu queria que essa viagem fosse incrível, queria anunciar nosso noivado no baile e que tudo fosse perfeito, mas acabei te decepcionando mais uma vez. Me perdoa se a minha família às vezes não é tão acolhedora quanto o seu pai e os rapazes na oficina.
— Eu estava nervoso pelo o que tinha acontecido com o Mingi e você sabe que eu falo impulsivamente quando estou puto. Você não tem culpa pelas coisas que a sua família faz, não vamos deixar que isso estrague nosso momento. Você tinha razão, tudo que importa é o nosso amor. Nós vamos superar isso como superamos tudo até agora. Só promete que nunca mais vai brigar desse jeito por mim ou por qualquer outro motivo? Eu não gosto quando você responde violência com violência, já conversamos sobre isso.
Baekhyun assentiu acalmando-se ao perceber que sua atitude poderia piorar as coisas com Sehun.
— Eu sei que prometi nunca mais brigar, mas eu não consegui me controlar dessa vez, me perdoa.
— Só não faça mais isso.
Ele assentiu positivamente com a cabeça.
— Eu te amo tanto, eu nunca trocaria você por um casamento arranjado. Eu só quero você hoje, amanhã e sempre — Baekhyun disse olhando profundamente em seus olhos.
— Eu sei, eu também só quero você.
Sehun brincou com os fios de cabelo do namorado.
— Não entendo por que minha mãe tentou defender o Yunho e o Mingi, não sei por que ela faz essas coisas. Eu só queria que ela ficasse feliz por mim. Se continuar assim vou ser obrigado a me afastar dela.
— Não pode fazer isso, apesar de tudo ela é sua mãe e te ama muito.
— Às vezes a forma dela demonstrar esse amor me machuca — confessou magoado.
— Você mesmo disse que tudo mudaria amanhã, o nosso dia finalmente vai chegar.
Baekhyun sorriu lembrando tudo que planejou para aquele dia tão especial, Sehun nem poderia imaginar a surpresa.
— Eu espero de verdade que ela aceite nossa relação, porque eu vou me casar com você e ela vai ter que se acostumar com essa ideia ou não poderá mais fazer parte da minha vida.
Sehun suspirou puxando o namorado para tomarem um novo banho juntos, eles precisavam renovar as energias em uma banheira com muita espuma e sais de banho cheirosos.
{...}
Dias atuais...
Propriedade privada, 18 de julho de 2021.
Ilha Solar, Incheon
Sehun amanheceu manhoso que só ele, esfregando o rosto no peitoral do namorado e aproximando o nariz de seu pescoço para sentir seu cheirinho gostoso. Ele ficava feliz toda vez que se sentia acolhido naqueles braços tão calorosos. Era um amor que Sehun demorou para conseguir na vida, ele via Baekhyun em todas as versões de seu futuro, queria envelhecer ao seu lado.
Ele levantou, espreguiçando-se, tomou um banho rápido e vestiu uma calça de moletom com uma camiseta cinza. Conferiu se Baekhyun ainda estava dormindo e decidiu servir um café na cama para ele. Afinal, depois de brigar com Yunho e Mingi ficou um pouco machucado e merecia um mimo.
Sehun sorriu ao descer as escadas do casarão, parecia que nada poderia estragar aquele dia.
“Seria pedido em casamento”
Ao chegar na porta da cozinha percebeu que a mãe do namorado já estava acordada e estava falando com a avó do Byun e Minnie. Ele parou de repente ao ouvir seu nome ser mencionado no meio da conversa delas.
— Mãe, você me disse que o Sehun era só um capricho do Baekhyun. Eu tentei fingir que aceitava a relação deles porque você me disse que ele iria cansar daquele pobretão e terminar logo com ele. Mas agora já se passaram dois anos e eles ainda estão juntos.
— Você não soube fingir direito. Lá no fundo o Baekhyun sabe muito bem que você é contra a relação deles — Seo Soojin retrucou.
— Como eu poderia fingir por muito tempo se aquele garoto estava sempre me irritando? Eu precisava fazer algo pelo meu filho, não posso deixar o Baekhyun ficar com um oportunista.
Yerin bebericou um gole do chá calmante que a mãe havia preparado para ela.
— Mãe, o que eu vou fazer quando os convidados começarem a chegar e o Baekhyun apresentar o Sehun como namorado? Não é um evento como os outros, é uma prévia da nova coleção da Privé, a primeira do meu filho. Você viu como o Sehun chegou aqui todo sujo de graxa e suado? Os nossos familiares já estranharam, imagina as outras pessoas? Nós nunca tivemos discussões nas nossas viagens de férias, sempre foram dias divertidos, mas só a presença dele na mesa causou brigas. E ontem? Nunca pensei que veria meu filho brigando daquele jeito.
Os olhos de Yerin marejaram. Ela falava daquela forma, no entanto Baekhyun já havia se envolvido em algumas brigas na escola muito antes de conhecer Sehun.
— O Baekhyun nunca foi agressivo, ele sempre resolveu os problemas dele de forma civilizada. Eu não consegui reconhecer meu filho ontem, parecia que ele estava possuído por um monstro enquanto brigava com o Yunho e o Mingi.
— Aquela confusão foi culpa sua. Você é muito burra, nem parece ser minha filha quando faz essas bobagens, Yerin. O que pensou que aconteceria? Você chamou o ex-namorado do Baekhyun e o irmão dele aqui, pediu para o Mingi dar em cima do namorado do seu filho e beijar ele para o Baekhyun ver e pensar que o Sehun estava o traindo. Esse plano foi ridículo, infantil e muito amador, digno de uma novela mexicana mal escrita. Se quer tanto separá-los, tenha ideias melhores e originais.
Sehun cobriu os lábios em choque. Suspeitava que Yerin tivesse convidado Yunho e Mingi, mas jamais pensou que ela mandou o rapaz beijá-lo à força e que o plano dela era o Baekhyun ver os dois se beijando. Era tão absurdo, tão sujo e irresponsável.
— Eu sei que foi um plano idiota, só que eu estava desesperada O que minhas irmãs vão pensar quando chegarem hoje de tarde? Mãe, esse baile é um evento muito importante, eu convidei artistas, modelos, jornalistas e estilistas. Eu não quero nem imaginar o meu filho apresentando aquele pilantra para todos os nossos convidados, envolvendo-o no nosso ciclo. Esse garoto não passa de um alpinista social, um vagabundo sem futuro que vai sugar tudo que puder do meu filho. Não sei como o Baekhyun e meu marido podem ser tão idiotas e caírem na lábia daquele morto de fome.
Ela apoiou os cotovelos na mesa e acolheu a cabeça entre as mãos.
— Eu subestimei aquele oportunista, ele é muito mais inteligente do que eu pensava, porém eu não vou mais subestimá-lo. Eu vou dar um jeito de me livrar daquele encosto, eu só não sei como fazer isso.
A mãe da mulher massageou seus ombros que estavam muito tensos.
— Você já tentou separá-los e não deu certo, por que não tenta transformar o namorado dele em um rapaz decente? Se o Baekhyun ama tanto o garoto, por que vocês não oferecem um cargo alto na empresa automobilística? Se ele é mecânico talvez goste de trabalhar lá e vocês também podem pagar os estudos dele.
— O meu marido já ofereceu um emprego na Hyun e ele não aceitou. É um vagabundo mesmo! O Baekhyun se ofereceu até para pagar os estudos dele e ele não quis estudar. O Sehun não quer crescer em uma grande empresa e estudar, ele quer se escorar na riqueza do meu filho — ela elevou a voz. — O Baekhyun está tão cego que é capaz de fazer tudo que esse garoto quiser, não sei que feitiço ele lançou no meu filho. Ele não consegue ver que o namorado nunca vai estar no nível da nossa família. Nós construímos um império, fazemos parte de uma elite na qual ele não se encaixa e nunca vai se encaixar. Imagina aquele rapaz em um dos maiores eventos de moda em Paris? Como ele poderia acompanhar o meu filho? O Baekhyun precisa de alguém elegante como ele, não me importa se for um garoto ou uma garota desde que tenha classe e que realmente ame o meu filho.
Os olhos de Sehun se encheram de lágrimas. Suas mãos chegavam a tremer, ele só queria que um buraco se abrisse e o sugasse.
— O Sehun não ama o Baekhyun, ele ama tudo que meu filho tem e se eu não fizer algo agora para separá-los pode ser que os dois inventem de casar. Eu nunca vou aceitar que o Baekhyun case com aquele golpista, interesseiro — Yerin disse assustada somente com a ideia do filho casar com aquele rapaz. — Vocês acreditam que o Baekhyun fica comprando presentes caros pra ele? Relógios, perfumes, camisas de grife e jaquetas. O meu filho não poupa dinheiro para agradar aquele pé rapado e sabe como ele retribui?
— Como? — Minnie indagou envolvendo-se mais na conversa.
— Ursos, chocolates baratos, CDs e até um carrinho da Hot Wheels ele deu. O Baekhyun sempre recebeu presentes feitos por designers, sob medida. A última namorada dele mandou um designer fazer uma caixinha de música toda cravejada com safiras, especialmente para o meu filho. O Baekhyun namorou tanta gente importante que sabia agradá-lo e valorizá-lo como ele merece. Lembram aquele garoto que era CEO de uma transportadora?
— Ah! Sim. O Park Chanyeol.
— Ele comprou um iate para o Baekhyun. E o que esse garoto pode oferecer? Chocolates ruins e um urso barato? Sabe, o meu filho merece muito mais, ele foi criado em um ambiente totalmente diferente do Sehun, esse garoto vai destruir o meu filho se casar com ele.
— E ele é órfão, não é? Eu fiquei chocada quando ele disse no jantar — Minnie perguntou.
— Até onde o Baekhyun me contou ele cresceu em lares adotivos ou algo do tipo. Eu não me interesso por nada que tenha relação com esse parasita, então nunca prestei atenção.
— Aposto que a mãe dele devia ser uma prostituta e o sangue ruim deve correr pela família. Se a mãe era uma cadela com defeito de caráter, a tendência é os filhotes nascerem com problemas também. O meu quarto fica perto do quarto do seu filho e eu posso jurar que escutei uns ruídos estranhos, sabemos como ele prende seu filho. Esse é o feitiço que esse garoto lançou. Imagino que deve fazer tudo que seu filho pede para garantir o dinheiro da nossa família. Quando vi ele chegando aqui soube na mesma hora que não prestava, vai saber os antecedentes dele, a origem diz tudo.
Yerin engoliu a seco, ela não gostou das palavras da irmã. Achava que Sehun não estava à altura do filho e que só queria estar com Baekhyun pela fortuna da família, mas falar de algo tão sério quanto as origens do rapaz, parecia tão cruel e desumano.
Ela não teve tempo de rebater o comentário desprezível da irmã, pois Sehun entrou na cozinha com os olhos vermelhos do tanto que chorava, fazendo as três mulheres o olharem chocadas. Principalmente Yerin, jamais imaginou que ele estava ali.
Sehun finalmente se deu conta que aquilo nunca teria um final feliz. Se casasse com Baekhyun a mãe do rapaz faria de suas vidas um inferno para sempre.
— Sehun-
— Pode aguardar as suas explicações, não precisa gastar saliva tentando reverter algo que já está feito. Eu ouvi tudo, Yerin.
Ele suspirou sôfrego.
— E-eu posso ser pobre, mas nunca fui vagabundo ou interesseiro. Se eu vivo sujo de graxa é porque eu pego pesado trabalhando na oficina do meu pai. Eu não tenho papai e mamãe ricos que me bancam que nem o Baekhyun e os ex-namorados dele. Se eu quero algo preciso trabalhar muito para conseguir pagar. Eu já fui catador de lixo, já lavei carro, ajudei em construções e sou mecânico com muita honra. Eu nunca fugi do trabalho duro e não me importo de trabalhar.
Sehun bateu no peito com orgulho.
— Se eu nunca aceitei o emprego que me ofereceram na empresa é porque eu não quero ocupar uma vaga simplesmente por ser namorado do seu filho. Eu não faço faculdade porque não tenho dinheiro pra pagar a mensalidade e jamais vou aceitar que o Baekhyun pague pelos meus estudos. Eu nunca quis o dinheiro de vocês, eu não ligo se vocês são podres de ricos ou se o Baekhyun é seu único herdeiro. Até chegar aqui eu não tinha ideia do quão ricos vocês eram, porque nunca me importei em pesquisar sobre isso, a quantidade de zeros na conta bancária do seu filho nunca me atraiu. Eu me apaixonei por cada pequeno detalhe que faz dele o homem mais incrível do mundo, o seu filho é muito especial, ele deixa uma marca por onde passa e essa marca não tem relação nenhuma com o dinheiro. Eu até preferia que o Baekhyun fosse pobre como eu, talvez assim a mãe dele poderia me aceitar sem me humilhar a cada segundo... isso machuca, sabia? — perguntou retoricamente a encarando. — Doeu demais cada vez que você me humilhou. Eu engoli cada pisada que você me deu porque eu amo demais o seu filho, eu achava de verdade que conseguiria ganhar o seu carinho um dia, mas agora eu vejo que nunca vou ser o suficiente para senhora. Você nunca vai me respeitar, sempre vai tentar me machucar de alguma forma.
Em algum momento os olhos de Yerin também se encheram de lágrimas.
— Eu estou cansado disso, a senhora tem razão quando diz que esse não é o meu lugar. Eu jamais poderia viver em um ninho de cobras e pessoas que só se importam com aparência e dinheiro. A senhora ganhou, parabéns! Eu vou deixar a vida de vocês em paz... mas eu quero que saiba…
Ele fez uma pausa pois não conseguiu conter um soluço dolorido.
— Quando o Baekhyun casar com um playboyzinho rico ou uma patricinha fútil para agradá-la, quando ele estiver preso em um casamento arranjado infeliz e amargurado, quando a senhora se esquecer de como era o sorriso do seu filho, se lembre desse dia — ele falou com convicção. — O dia que a senhora expulsou o homem que mais amou o seu filho da vida dele só porque ele não nasceu em um berço de ouro cercado de privilégios. Sabe, se o Baekhyun encontrar outra pessoa, se ele se apaixonar de novo, seja melhor com o próximo que vier depois de mim ou a senhora vai se arrepender por tornar seu filho só mais um cara cheio de arrependimentos no mundo.
Sehun estava quase se virando, não queria mais ficar ali, no entanto lembrou-se de mais um detalhe: não podia ir embora sem desatar primeiro o nó que ficou muito tempo preso em sua garganta.
— E não precisa se preocupar com os presentes que o Baekhyun me deu, eu vou devolver todos. Eu nunca pedi por aquelas coisas caras, ele me deu porque quis. O seu filho tem um coração enorme e gosta muito de mimar as pessoas que são especiais para ele.
Acabou sorrindo ao falar do mais velho.
— No começo eu era bem orgulhoso e não aceitava os presentes. Eu só comecei a aceitar quando percebi que ele não estava tentando me comprar e que na verdade aquela era a maneira dele de cuidar de mim. Desculpe se eu presenteei o seu filho com um simples urso que fala, porque eu não sou rico como ele e não tenho condições de comprar perfumes e roupas de grife. Mas pode ter certeza que o urso e os chocolates foram presentes de todo o meu coração e ele gostou muito mais do meu presente barato do que o iate glamuroso que o tal Park deu pra ele — afirmou debochado. — A senhora deve ter se esquecido que seu segundo candidato preferido a vaga de marido do Baekhyun traiu ele e o deixou quebrado e desiludido. Fui eu quem juntou os caquinhos que o Chanyeol deixou. Eu concordo quando a senhora diz que seu filho merecia muito mais, é claro que ele merece! Eu daria o universo se eu pudesse.
Sehun suspirou pensando na conversa que teve com o mais velho quando Yunho chegou na ilha.
— Eu via todas as coisas que o Baekhyun ganhava nos aniversários dele, depois olhava o meu presente e me sentia tão envergonhado. Eu não me sinto mais assim, porque o seu filho me fez ver que meu presente foi muito mais importante pra ele do que qualquer outra coisa, porque foi eu quem deu. Até o seu filho com vinte e nove anos sabe que o que importa não é o valor do presente e sim a intenção. Deveria aprender mais com seu filho.
Sugeriu deixando a sogra envergonhada.
— Eu sinto muito se minha vida não é um mar de rosas. Eu não posso mudar o meu passado ou minhas origens só pra ficar com o seu filho. O Baekhyun foi a melhor coisa que aconteceu comigo depois de ter sido adotado e a senhora está tirando ele de mim.
Yerin viu uma dor presente nos olhos do mais novo que fazia o próprio coração dela doer. Sehun deixou a cozinha desolado.
Ele voltou para o quarto sem fazer barulho. Bem devagar pegou a mochila e a mala que havia arrumado na noite passada. Sehun escreveu um bilhete para namorado, deixou o anel de noivado sobre o papel e depositou um último beijo em sua testa antes de partir com o coração em pedaços.
{...}
Sehun aguardou a primeira balsa no píer, ele entregou os pertences para um dos responsáveis pela condução e guiou a moto para dentro dela.
No entanto, surpreendeu-se ao visualizar Yerin correndo em sua direção, ela parou na rampa de acesso para balsa.
— Sehun, eu não queria que tivesse ouvido tudo aquilo. Eu não podia deixar você ir embora pensando que eu concordo com as coisas que a minha irmã falou sobre sua mãe e a sua origem — ela tentou explicar-se.
— Você pode não concordar com aquilo, mas você pensa que eu estou com o seu filho só pelo dinheiro dele. A senhora disse coisas tão ruins quanto as que a sua irmã falou, são iguais — Sehun a acusou fazendo Yerin suspirar cansada.
— Que futuro você e o Baekhyun poderiam ter juntos? Você é um mecânico medíocre e ele vai se tornar um dos homens mais poderosos do ramo da moda. Esse relacionamento não teria futuro, o Baekhyun só está se iludindo, se ele continuasse com essa loucura acabaria machucado. Desculpe, mas eu não posso acreditar que você esteja com o meu filho por amor, não existe amor entre pessoas de classes tão diferentes, da sua parte só pode ter interesse. Eu sei que você esconde alguma coisa, posso ver nos seus olhos, não sinto sinceridade em você. Tem algo ruim dentro de você, algo que me faz querer vê-lo bem longe do meu filho e da minha família. Você me dá calafrios às vezes, eu só estou tentando proteger o meu filho de você, eu preciso fazer isso ou nunca vou me perdoar.
Yerin abriu seu coração, sendo sincera em cada palavra. Não tinha motivos para continuar encenando depois de tudo que Sehun escutou na cozinha. A verdade era que ele despertava lembranças ruins de seu passado.
— O que você vê nos meus olhos é dor, o que tem dentro de mim são milhares de fantasmas e o que eu escondo são lembranças tão monstruosas que não posso compartilhar com ninguém além de mim mesmo. O meu passado foi um pesadelo, mas nada que tenha acontecido comigo me faria fazer algum mal ao Baekhyun. Eu amo o seu filho, mesmo que a senhora nunca acredite.
— Se o ama tanto fique longe da gente.
Sehun sorriu triste.
— É isso que eu estou fazendo, Yerin. Se tivesse que fazer uma escolha, o Baekhyun iria me escolher e você perderia o seu filho. Mas eu o amo demais para fazê-lo escolher entre mim e a família dele, eu vou poupá-lo dessa escolha.
A balsa começou a se afastar. Ele fechou os olhos fazendo algumas lágrimas deslizarem por suas bochechas pálidas.
Olhando a ilha de longe lembrou-se do momento em que chegou nela com o namorado. Tinha tantas expectativas para aquela viagem, estava tão feliz, tudo parecia um paraíso. Aguardou ansiosamente pelo baile, mas agora que o grande dia finalmente havia chegado tudo estava desmoronando sobre ele. O pedido de casamento dos sonhos ficaria apenas em sua imaginação.
No entanto, Sehun se lembraria para sempre daquela noite no carrossel do Lotte World, quando o mundo parecia girar junto ao brinquedo e tudo que importava era o Byun ajoelhado, o pedindo em casamento.
Byun Yerin sempre achou que festejaria quando Sehun partisse de suas vidas, mas lá estava ela chorando. No final não estava se sentindo como uma mãe heroína e sim como a pior de todas as vilãs.
{...}
Baekhyun acordou estranhando a falta de calor do corpo de Sehun. Ele sentou-se na cama e avistou o anel de noivado sobre uma folha.
“Eu sinto muito ter que fazer as coisas dessa forma, essa viagem me fez perceber que esse não é o meu lugar, não posso me casar com você. Eu deveria dizer isso olhando nos seus olhos, mas não conseguiria dizer adeus se você me abraçasse e me pedisse pra ficar com suas palavras certas. Se você me ama tanto quanto diz não tente me procurar, eu disse uma vez que se o carro acelerasse demais eu pularia fora e você prometeu que respeitaria minha marcha ré. Não vou dizer que me arrependo de ter andado na sua pista, foi a melhor viagem que já fiz na vida, valeu a pena andar esses quilômetros, mas o meu combustível acabou e agora você precisa continuar sem mim. Eu permanecerei no mesmo lugar de sempre, trabalhando de segunda a sábado na oficina Oh, vou envelhecer fazendo isso e você vai cumprir seu papel como CEO da Privé, consigo imaginá-lo em várias matérias para revistas de moda. Você vai dominar esse ramo e orgulhar sua família.
Eu nunca vou esquecer a viagem que fizemos juntos, sinto muito não poder fazer parte do seu mundo.
De seu eterno, Oh Sehun.
PS: Obrigado por ser meu guarda-chuva"
“Quando as palavras mais afiadas
Quiserem me cortar
Eu vou enviar um dilúvio,
Vou afogá-los.
Eu sou corajoso,
Eu tenho feridas
Eu sou quem deveria ser
Não tenho medo de ser visto
Eu não peço desculpas, esse sou eu”
This Is Me - The Greatest Showman
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