Capítulo 4: Eu mereço tudo isso
A cela que San permaneceu desde o dia que chegou era úmida, escura, vazia. Cansou de pensar em planos inúteis. Pouco poderia se fazer com algemas grossas e muitos marujos que passavam ali só para tratá-lo mal.
Além disso, tinha fome e muita sede. Pouco lhe ofereciam.
E quando ofereciam, deixavam no chão, do lado de fora das grades enferrujadas e grossas que os separavam. O príncipe tinha que esticar as mãos atadas com muito esforço, e se tivesse sorte, conseguiria um pedaço de pão.
Neste instante era isso o que tentava fazer. San estava de joelhos tentando alcançar uma caneca com água limpa, passando os braços entre as grades e assim se machucando a cada esforço.
Poderia ter desistido, quando uma figura escura adentrou o porão onde estava e marchou em sua direção. Não estava claro quem era, mas reconheceu o belo par de botas e coxas.
Ela empurrou o caneco com a ponta dos pés até muito próximo do rosto do garoto ajoelhado, mas então proferiu um pouco mais de força e a caneca caiu no chão derramando todo o líquido.
- Opsss… Me desculpe, Príncipe. Minha culpa.
O garoto suspirou fatigado e irritado.
- Ok, uau. Você é realmente muito má, S/N… Parabéns…!
- É Capitã pra você, estúpido! - A mulher disse alto enquanto cravava sua espada na parede com muita força, simulando o que poderia fazer caso não houvesse respeito.
San arregalou os olhos e afastou-se um pouco da borda da cela.
Finalmente percebeu que não poderia dizer o que bem entendesse, como estava acostumado.
- Muito bom. É assim que você fica mais atraente… De olhos apavorados pra mim.
O príncipe se arrepiou e logo percebeu que tinha perdido a coroa. Aquilo era estranho, mas talvez pudesse ser positivo para ele.
Limpou a garganta e tentou se recompor no próximo minuto que parecia mais arrastado do que o normal.
- Capitã… - Disse mais humilde. - Você não deu chances para me ouvir. Por favor, peço agora que me ouça. Uma única vez.
A mulher o encarou em silêncio.
Ninguém poderia mentir que o garoto tinha uma aparência um tanto irresistível. A Capitã não tinha coração, mas tinha lembranças… Era San o seu primeiro amor, suas melhores lembranças antes do incidente.
- Faça meu tempo valer a pena, Príncipe. Ou não comerá hoje.
- Certo… - Então o garoto se levantou devagar e suspirou. - Estou feliz em ver você viva, e sabe que não estou mentindo. Senti sua falta. Eu sei o que eu fiz, mas saiba que fui buscar ajuda pra resgatar você naquele dia! Eu não iria conseguir sozinho…! Mas quando cheguei era tarde e você… já tinha…
A mulher engoliu seca ao repetir mentalmente aquela cena horrível de seu afogamento e última vez que o olhou nos olhos.
- Você sabe que eu a amava muito. Eu senti sua falta, S/N, digo, Capitã! - Se corrigiu imediatamente com pressa.
San caminhou mais perto do limite da cela, ficando mais próximo da figura feminina.
Se olharam como das primeiras vezes e poderiam ver a alma um do outro se isso fosse possível. Foi intenso. Ambos sentiram.
Em um único golpe a Capitã agarrou o pescoço de San entre as grades, não fazendo muita força, mas o suficiente para que ele pudesse sentir uma pressão.
- Sim… Eu mereço tudo isso. - Riu San sentindo os dedos da mulher um a um. - Faça o que quiser, ok? - Por que parecia estar gostando?
- Calado.
San sorriu malicioso e colou seus lábios um no outro. Parecia debochado. Então derreteu um pouco seu corpo, se entregando para ela.
O príncipe pousou suas mãos atadas em cima da mão da mulher e indicou que fizesse mais força contra seu pescoço.
- Eu mereço… - Cochichou.
A Capitã então ficou um pouco atingida.
Tremeu as pernas.
Estaria sendo um plano de tortura psicológica, ou aquelas palavras eram sinceras?
A mulher puxou o príncipe entre as grades trazendo seu rosto mais próximo ainda. San lambeu os próprios lábios enquanto encarava a boca bem desenhada da Capitã que exalava pesado um ar misturado de raiva e tensão.
- Se você pudesse me dar um último beijo antes de sair… Seria a pior tortura que poderia fazer comigo nesse momento, você sabe disso.
O hálito de San era fresco e quente, fazendo-a lembrar claramente que o beijo entre eles tinha um encaixe perfeito, como se fossem feitos um para o outro.
Mas a Capitã sentiu seu sangue entrar em ebulição, e em um gesto muito preciso retirou sua espada da parede para então apontar para a barriga do garoto.
A ponta da espada percorreu a camisa de San, rasgando-a da base até a gola, enquanto ainda apertava seu pescoço.
O garoto se arrepiou soltando um gemido de medo entre os lábios ao ouvir seu tecido sendo rasgado centímetro por centímetro, deixando seu tronco amostra. San pode sentir a umidade do ar tocar sua região.
- Absolutamente inútil. Isso é o que você é. - Empurrou o príncipe com força para trás, fazendo com que o mesmo despencasse de costas no chão. - Não consegue nem mesmo me excitar apropriadamente.
A mulher marchou para longe da cela em direção para deixar o porão.
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Antes de deixar a prisão, a Capitã se escorou no corredor do navio se sentindo um pouco fraca. Verificou rapidamente ao seu redor certificando-se que estava sozinha. Assim que percebeu que estava, começou a chorar intensamente…
- Porque ainda amo você, San, seu imbecil…?! - Proferiu com ar pesado e raivoso.
Pensava estar sozinha.
Mas um olhar caloroso a acompanhava longe o suficiente para não ser percebido, perto suficiente para acompanhar toda aquela cena: Seonghwa.
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